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TEMA VII.

Propriedades do betão fresco e do betão endurecido

As características que o betão deve apresentar podem-se dividir em dois grupos:

1. Características do betão fresco, enquanto no estado plástico;


2. Características do betão endurecido.

Betão fresco

O betão fresco é caracterizado por uma série de especificidades e propriedades que lhe vão
desde uma mais imediata facilidade de aplicação até ao comprometimento da sua própria
resistência e/ou durabilidade.

Consistência e coesão

Ao ser pedido betão exige-se deste uma série de condições segundo o tipo de obra em que se
vai empregar.
Se para determinada obra o betão resulta trabalhável, transportável e de fácil colocação, sem
perder a sua homogeneidade, diremos que o betão é dócil (obediente, flexível).
Para que um betão tenha a docilidade requerida deve apresentar uma consistência e
coesão, adequadas.

Consistência
A consistência é uma propriedade apresentada pelo betão fresco que pode ser especificada de
projecto e medida pelo ensaio de abaixamento do cone de Abrams ou pelo ensaio de vibração
e compactação Vêbê.
A maior ou menor deformação do betão varia de acordo com o seu grau de consistência.A
norma NP 87 indica que a consistência do betão seja medida pelo assentamento no cone
Abrams.

A consistência pode ser seca, plástica, branda ou fluida, correspondendo cada um destes
estados a intervalos de abaixamento do cone de Abrams e a meios de compactação a utilizar
para a compactação do betão.

Assim, para uma consistência seca, que corresponde a um intervalo de abaixamento no cone de
Abrams de 0 a 4 cm, deverão ser utilizados meios de vibração potentes.
Para a consistência plástica , com um intervalo de abaixamento entre 4 a 14 cm, deverá ser
utilizado vibração normal.
Na branda ou fluída, com um abaixamento superior a 15 cm, o betão espalha-se e
compacta-se pelo peso próprio (tipo auto-compactável).

Coesão
A coesão é uma propriedade física apresentada pelo betão fresco que pode ser medida através
dos ensaios de determinação da resistência ao corte, de tracção directa e outros.

A facilidade com que o betão é capaz de segregar dá-nos a ideia da sua coesão.

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As misturas muito coesivas, a que chamaremos viscosas, não segregam facilmente. As
amassaduras pouco coesivas apresentam uma grande tendência para segregar.

Como se disse, a segregação consta da separação dos componentes de uma mistura


heterogénea, com uma distribuição uniforme, devido ás partículas de maiores dimensões
tenderem a separar-se (por maior rolamento ou a sedimentação maior que as partículas mais
finas). Também ocorre em misturas com muita água pela suspensão aquosa do cimento
da mistura.

De um modo geral exigir-se-á que factores como a trabalhabilidade, a resistência mecânica e a


durabilidade sejam características essenciais a garantir num bom Betão, às quais estão
intimamente ligadas outras propriedades como a homogeneidade, compacidade,
impermeabilidade, etc.

7.1. Ensaios que avaliam as Propriedades do betão fresco

— Trabalhabilidade

É a maior ou menor facilidade com que um betão é manipulado, transportado, colocado,


adensado e acabado sem que o mesmo perca a sua homogeneidade e uniformidade (ou seja, sem
que haja segregação ou separação dos componentes), durante estas operações.

Esta propriedade é avaliada através da coesão e consistência que o betão apresenta, tendo em
conta os meios disponíveis para o transporte, colocação, compactação e acabamento do mesmo.

As características físicas, geométricas e qualidades dos componentes de um betão (Inertes,


Cimentos, Água e Adjuvantes), são os factores mais influentes na sua trabalhabilidade. No
entanto, há um objectivo básico: procurar uma mistura que possua a melhor
trabalhabilidade, com o mínimo atrito interno e o mínimo possível de água.

De entre os diversos métodos para medição da trabalhabilidade destacam-se dois:

 Ensaio de Abaixamento do Cone de Abrams (Slump test)

a) Dimensões do cone de Abrams b) Apiloamento do betão colocado

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c) Retirada do Cone de Abrams d) Medição do Abaixamento

 Ensaio de Vibração de Compactação Vêbê

Este ensaio é realizado se o betão for seco e não se verificar abaixamento do cone de Abrams.

a) Esquema do Aparelho de Vêbê b) Aparelho de Vêbê

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b) Moldagem do cone c) Colocação da placa d) Assentamento do betão

Esta trabalhabilidade é medida em segundos – graus Vêbê – que representa o tempo necessário
para que a placa de vidro, ou de outro material transparente, ocupe toda a superfície superior do
betão.

Factores que afectam a trabalhabilidade dum betão

 Os agregados de formas alargadas e com arestas produzem um betão pouco trabalhável.


Se não se puder dispor de outro tipo de agregados, recomenda-se o uso de misturas mais
ricas em cimentos e areia, ou uso de adjuvantes fluidificantes ou superfluidificantes.

 Os betões fabricados com agregados britados são menos trabalháveis do que os


fabricados com agregados naturais. A trabalhabilidade é muito afectada pela forma
dos agregados, o que acontece especialmente com a areia.

 A quantidade de argamassa (areia e cimento) influi na trabalhabilidade do betão,


aumentando esta com o incremento daquela.

 O uso adequado de componentes adicionais, adjuvantes e adições, o tempo


de amassadura e a central de fabrico, são factores a ter em conta para melhorar a
trabalhabilidade do betão.

 Com os adjuvantes pode obter-se, por exemplo, a aceleração e retardamento da presa,


tornando possível a aplicação do betão com intervalos de tempo mais ampliado entre o
fabrico e a aplicação, em condições de temperatura extremas.

 Com as adições, com módulos de finura semelhantes aos do cimento reduz-se o atrito
entre as partículas grossas (agregados) facilitando a compactação.

 O tempo de amassadura influência o envolvimento do agregado com a pasta de cimento

 A relaҫão A/C (cimento e água), adjuvantes e adições.

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 O tipo de betoneira da central de fabrico de betão tem influência no tempo de amassadura.

Colocação do betão em obra

O betão uma vez colocado, deve ser:

 H o m o g é n e o , isto é, uma fracção do mesmo deve ter a mesma granulometria do todo;


 C o m p a c t o , através da aplicação de equipamento que lhe confira uma
massa volúmica a mais aproximada da massa volúmica dos seus componentes;
 U n i f o r m e , isto é, as superfícies à vista temporárias ou definitiva devem apresentar
uma textura constante.

Como conseguir uma betonagem homogénea ?

Betonando verticalmente, sem movimentos horizontais e evitando que o betão caia


livremente de grande altura.
A espessura das camadas horizontais deverá ser inferior a 60 cm, compactando cada camada
sem deixar transcorrer muito tempo entre o recobrimento das camadas para evitar juntas
frias.

Como conseguir um betão compacto?

Consolidando o betão de acordo com a sua consistência e o tipo de obra. Compactação por
apiloamento, em estruturas de pequena espessura, com consistência branda ou plástica.
A compactação far-se-á por camadas de 15 a 20 cm se for armado e inferior a 60 cm em betão
em massa.
Compactação por bateria de vibradores (Figura ) para betões secos ou plásticos.

No Quadro são indicados para os diversos tipos de consistência os correspondentes valores


medidos pelo ensaio de cone de Abrams segundo a norma Portuguesa NP 87.

Betões por tipos de consistência


Consistência Assentamento Cone Abrams (cm) Tolerância (cm)

Seca 0a2 0

Plástica 3a5 ±1

Branda 6a9 ±1

Fluida 10 a 15 ±1

Como conseguir um betão uniforme?

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1. Regando as cofragens antes de verter o betão para que não absorvam água;
2. Vigiando a estanquidade das cofragens para impedir a saída das leitadas de argamassa;
3. Impedindo que o betão, uma vez vertido, perda a água necessária para a hidratação do
cimento e posterior endurecimento;
4. Mantendo a cura durante um período de tempo mínimo de sete dias;
5. Não regar a superfície antes da sua presa.

Espalhamento e compactação de betões com consistência seca ou plástica com equipamento pesado

Betão endurecido

Um betão endurecido será bom se for durável. A durabilidade expressa a resistência ao meio
ambiente e a estabilidade química e física interna.

A impermeabilidade, directamente relacionada com a durabilidade, consegue-se com a


compactação, relação água/cimento adequada e cura cuidada, segundo o lugar onde a obra se
implanta.

O ensaio da resistência é o mais importante dos aplicados ao betão e constitui a base para a
determinação da qualidade do produto. Em geral, um betão de resistência elevada é um bom
betão.

— Resistência Mecânica

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A resistência do betão pode ser avaliada em termos de esforços de compressão, tracção, flexão,
corte, etc., sendo que, fundamentalmente, o controlo do comportamento mecânico deste material
seja feito através de ensaios de rotura à compressão e nalguns casos também de flexão (pontes,
estradas, etc.).

Ensaio de resistência à compressão


Os cubos colocados numa prensa são submetidos a uma força de compressão, estando
sempre a face que não encostou às faces do molde metálico que lhe serviu de cofragem
virada para o observador. Após o rebentamento, a razão entre força exercida e a área da
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face do cubo (400 cm ) dá a tensão de rotura por compressão.
O Ensaio de avaliação da resistência à compressão permite a quantificação da tensão de rotura
em compressão de provetes (amostras) de betão endurecido.
As amostras a ensaiar possuem geometria cúbica ou cilíndrica, obtendo-se valores
superiores da resistência nos cubos em virtude do efeito de cintagem gerado pelos pratos da
prensa.

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Prensa
hidráulica

Os provetes cilíndricos possuem um diâmetro de 15 cm e uma altura de 30cm. No


ensaio com os provetes cúbicos podem ser utilizados cubos com 15 ou 20 cm de aresta.

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Provete cilíndrico na rotura
Ensaio de resistência à tracção/flexão
O ensaio de avaliação da resistência à tracção do betão por via experimental reveste-se de
alguma complexidade devido à fragilidade do material.
Assim, a tensão resistente de tracção, ftk, é determinada por via indirecta, através de
ensaios de compressão diametral, ou através de ensaios de flexão.
O primeiro consiste na compressão de um cilindro de betão, ao longo do seu diâmetro,
induzindo neste um estado de tensão de tracção aproximadamente constante.
Através de expressões conhecidas da teoria da elasticidade, pode-se relacionar a força
aplicada ao provete com a tensão resultante induzida. Obtém-se assim o valor da tensão de
tracção instalada no momento da rotura.

Compressão diametral

O ensaio de flexão realiza-se conduzindo um provete de betão simples à rotura por


flexão através da aplicação de uma força concentrada no meio vão.
Correlacionando a força aplicada ao provete com a tensão máxima tracção resultante dos
esforços internos de flexão, obtemos o valor da resistência à tracção do betão associado à força
de rotura.
Ensaio de flexão

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Ensaios não destrutivos

Há situações em obra que nos poderão obrigar a avaliar a resistência dum betão já
colocado e sobre o qual temos dúvidas, ou porque não se recolheram amostras para o ensaio
destrutivo, ou até porque os resultados obtidos nestes nos possam parecer suspeitos.

Para estes casos indicam-se dois aparelhos:


Os equipamentos utilizados para a realização do ensaio são martelos esclarométricos que
medem o recuo de uma massa que golpeia sobre um «pivot» em contacto com uma
superfície de betão a ensaiar. A massa a recuar arrasta um índice que se desloca sobre uma
escala graduada, o número indicado em escala pelo índice esclerométrico.

 Esclerómetro

Esclerómetro mecânico

Os ensaios oferecem, exclusivamente, informação sobre a qualidade da capa superficial do


betão (aproximadamente 30mm).

O utilizador destes métodos de ensaio tem que saber que, com a sua aplicação,
unicamente obtém uma medida da dureza relativa ou superficial do betão, e que a relação com
outras propriedades do betão é puramente empírica. As circunstâncias que justificam o uso de
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métodos esclerométricos são:

1) A comprovação da uniformidade da qualidade do betão em relação com a qualidade


padrão e em termos de índice esclerométrico;
2) A comparação de um betão com outro de referência;
3) A estimativa da resistência do betão em provetes, correlacionando com o seu índice
esclerométrico. O uso desta estimativa depende, na sua precisão, da eliminação cabal das
influências que não se tiveram em conta na calibração do esclerómetro.

– Martelo de Schmidt mecânico Bigorna de calibração de martelo de Schmidt

Trata-se de um equipamento ligeiro, com um peso aproximado de 2 Kg, possuindo igualmente


dimensões reduzidas (comprimento de cerca de 30 cm).

Mais recentemente surgiram equipamentos mais sofisticados, nomeadamente pequenas centrais


digitais para aquisição e tratamento da informação fornecida pelo esclerómetro mecânico.

Martelo de Schmit digital


Embora este seja um equipamento de funcionamento simples, permite obter bons
resultados da resistência à compressão.

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 Por ondas Sonoras

O objectivo deste método é medir a velocidade dos impulsos das vibrações longitudinais que
passam através do betão.

Estas medições podem utilizar-se para estabelecer:

 A homogeneidade do betão;
 A presença de fissuras e vazios;
 A comparação de um betão com outro de referência;
 A qualidade do betão em comparação com os ensaios normalizados.

Medição da resistência do betão por ondas

Os ensaios sobre o betão, realizados com ultra-sons, não são considerados substitutivos dos
ensaios normalizados, sendo unicamente ensaios complementares ou adicionais.

A relação entre a velocidade do impulso ultra-sónico e a resistência do betão, tal como se


obtém por aplicação de ensaios normalizados, não é a única para todos os tipos de betão, já que
está influenciada por um grande número de factores, como a idade, condições de
endurecimento, grau de humidade, tipo e conteúdo de cimento e tipo de inerte.

Quando se necessita duma correlação entre a velocidade do impulso e a resistência, é


necessário estabelecê-la para o tipo determinado de betão empregado.

Os factores principais que influenciam na resistência do betão são:

a) Constituintes;
b) Trabalhabilidade;
c) Característica dos moldes;
d) Compactação;
e) Cura;
f) Idade;
g) Métodos de ensaio.

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— Durabilidade

É a capacidade que um betão tem em comportar-se de modo satisfatório frente às acções


ambientais agressivas de carácter físico ou químico que o solicitem, e de proteger
adequadamente as armaduras e restantes elementos metálicos incorporados na sua massa, durante
o tempo de vida de serviço previsto para a estrutura.

São factores essenciais para uma boa durabilidade:


a) Relação Água/Cimento;
b) Compactação e Cura;
c) Espessura de Recobrimento.

Quase todos os factores que influem na resistência mecânica serão igualmente determinantes na
durabilidade de um betão.

De todos os condicionalismos mencionados, a obtenção de um baixo coeficiente de


permeabilidade será o mais decisivo.

7.2. Fenómenos condicionantes do comportamento do betão endurecido

O betão depois de doseado, fabricado, transportado e colocado em obra, inicia imediatamente um


processo de endurecimento progressivo que o vai converter num material sólido com
propriedades específicas e determinantes da sua utilização.

Lembrar que a resistência mecânica aos esforços e a impermeabilidade são dois aspectos
fundamentais que condicionam a desejada durabilidade deste material de construção.

É importante reconhecer, que o betão, se bem que melhore o seu comportamento à medida que a
idade evolui, está sujeito a fenómenos que podem provocar insucessos ou deficiências
inesperados, comprometendo assim a boa qualidade dos elementos betonados e a respectivas
estruturas em que se integram.

Alguns dos mais importantes referidos fenómenos que condicionam o comportamento do betão
endurecido são a seguir abordados:

— Retracção

O betão como muitos outros materiais sofre variações dimensionais, pois encolhe quando seca ou
perde água, e aumenta de aumenta de volume quando conservado em água.

Nos casos correntes de aplicação do betão em obra, verifica-se um fenómeno de diminuição de


volume que acompanha a presa e o endurecimento, e que pode originar uma microfissuração
superficial e em profundidade, ou fissurações externas visíveis – É a retracção.

O responsável por este tipo de situação é o cimento, cuja natureza e quantidade influem
decisivamente no fenómeno.

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O fenómeno da retracção inicia a partir do momento da colocação do betão nos moldes e, é
originado pela saída de água e pela aproximação das partículas, sendo a diminuição do volume
praticamente igual a água perdida.

A retracção do betão fresco é mais acentuada quanto mais seco esteja o ar e mais seja a
velocidade da sua circulação (vento).

No betão, o papel dos inertes é fundamental, já que opondo-se à diminuição de volume, são
responsáveis por a retracção ser menor do que numa pasta de cimento ou argamassa, nas quais
também a dosagem relativa do ligante é mais elevada.

Impedimento da retracção do betão pelos inertes

Como principais factores da retracção de um betão temos:

 Água da amassadura – a retracção aumenta com o valor de A/C, e portanto com a


quantidade de água.
 Grau de Humidade – a retracção aumenta com o ar mais seco.
 Temperatura – a retracção aumenta com a elevação da temperatura.
 Cimento – a retracção aumenta em função da finura num mesmo tipo de cimento, e do
aumento da dosagem.
 Inertes – a retracção aumenta com a natureza dos inertes desde o menos permeável.
 Quantidade de finos – a retracção aumenta com o aumento de areia fina.

Após a presa, continua a verificar-se uma retracção, desde que o processo de evaporação de água
prossiga, se bem que o esqueleto do cimento hidratado entretanto formado se oponha à
aproximação dos grãos e a amplitude do fenómeno diminua.

Depois de um betão ter endurecido e sofrido os efeitos da contracção por secagem, se for
submetido a ambiente húmido, pode absorver água e expandir, e assim sucessivamente cada vez
que seca e é molhado, podendo dizer-se que está sempre em movimento sob a influência das
variações higrotérmicas.

A avaliação da sensibilidade do cimento à retracção é avaliada por meio do ensaio de anel, no


qual uma coroa de pasta de comento se coloca ao redor de um disco de aço e se conserva ao ar
com 50% de humidade relativa.

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O tempo de fissuração, depois de conservada 24 horas em água é um excelente indicativo da
qualidade de cimento, dado que não deve fissurar antes de 20 horas.

Concluindo, para reduzir a retracção total é necessário escolher o cimento e não exagerar a sua
dosagem, limitar a quantidade de água de amassadura, seleccionar inertes duros, evitar produtos
de adição desconhecidos e proteger as superfícies betonadas contra a evaporação da água.

Exemplo de ensaio de anel para avaliar a


retracção da pasta de cimento

— Deformação e Fluência

O betão, como qualquer outro sólido, deforma-se quando suporta uma carga. Esta deformação
aumenta com o tempo de actuação da solicitação e o fenómeno é designado por Fluência.

Há no entanto a considerar que as deformações podem ser instantâneas, por conseguinte elásticas
e reversíveis, que se assemelham às produzidas numa mola, ou plásticas e irreversíveis que se
sobrepõem às primeiras.

A deformação elástica varia com o estado higrotérmico do ar constatando-se que é menor num
estado saturado do que num meio seco, e depende do estado de endurecimento do betão no
momento da aplicação da carga, diminuindo quando aumenta a idade que o betão tem no instante
de aplicação de carga.

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Deformação plástica e o instante da aplicação da carga

A extensão ou deformação plástica do betão é condicionada por factores como a dosagem do


cimento, água da amassadura, granulometria do inerte, dimensão da peça e temperatura.

Para estados de tracção as deformações plásticas contrariam as contracções.

Para as solicitações de compressão ou tracção, a deformação do betão é acompanhada por uma


deformação transversal de dilatação ou contracção como se a matéria elástica quisesse resistir à
variação de volume.

A relação entre a deformação transversal e longitudinal é dada pelo coeficiente de “Poisson”, que
é sempre inferior a 0,5 e correntemente igual a 0,2.

A determinação da elasticidade do betão é indispensável para o cálculo da deformação sofrida


pelos elementos estruturais nas obras. Para tal é necessário conhecer o conceito de módulo de
elasticidade, E, que exprime a relação entre tensão unitária e a deformação elástica
correspondente.

F Δl σ
σ= ε= E=
A e L , então: ε [MPa]

Quanto maior é o módulo de elasticidade, então menos deformável será o betão. Nos betões
correntemente utilizados, o E varia entre 2,7x105 a 4,0x105 MPa.

O módulo de elasticidade varia consoante diferentes tios de betões, e a natureza do inerte,


aumentando com a resistência e a compacidade daqueles, com a diminuição da água de
amassadura, e também com a idade, tanto mais rapidamente quanto maior for a humidade
ambiente.

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Resistência à variação de volume
— Fissuração do betão

Consoante a origem das variações de dimensões do elemento do betão, sejam deformações


resultantes directamente das forças aplicadas, sejam aquelas que advém das tensões
provocadas internamente por variações espontâneas podem surgir fissuras no betão.

As fissuras consistem em micro roturas que aparecem como consequência de tensões


superiores à capacidade resistente.

As fissuras resultantes de esforços actuantes variam em função da sua tipologia:

 Esforços de compressão: fissuras na direcção da força, frequentes em pilares.


 Esforços de tracção: fissuras em direcção perpendicular à direcção do esforço.
 Esforços de flexão: são mais frequentes em vigas e aparecem nas zonas de esforços
máximos e possuem orientação vertical.
 Esforços de corte: fissuras inclinadas e por vezes com tramos quase horizontais.
 Esforços de torção: fissuras cujo o traçado rodeia o perímetro do elemento estrutural,
desenvolvendo-se em direcção oposta num e noutro paramento.

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Fissuração do betão pelos esforços: compressão, tracção, flexão, corte e torção, respectivamente.

— Rotura

A rotura do betão surge quando este material se torna incapaz de suportar e resistir às cargas
aplicadas. Então pode romper, fissurar e desagregar-se.

Sob ponto de vista de Engenharia, a rotura, fenómeno inerente ao domínio do conhecimento da


resistência do betão, é correntemente encarado sob três aspectos principais:

 Separação de um sólido contínuo em dois ou mais pedaços distintos.


 Carga máxima suportada por uma peça solicitada de maneira geometricamente fixa.
 Estado de deformação e de fissuração de tal modo excessiva que o material já não é
utilizável.

Exemplo de rotura de uma viga solicitada à flexão

O betão é um material pouco deformável, portanto “frágil”, e a sua rotura será considerada
doravante, sob aspecto de fissuração e separação devidas a perda de coesão.

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