Betão fresco
O betão fresco é caracterizado por uma série de especificidades e propriedades que lhe vão
desde uma mais imediata facilidade de aplicação até ao comprometimento da sua própria
resistência e/ou durabilidade.
Consistência e coesão
Ao ser pedido betão exige-se deste uma série de condições segundo o tipo de obra em que se
vai empregar.
Se para determinada obra o betão resulta trabalhável, transportável e de fácil colocação, sem
perder a sua homogeneidade, diremos que o betão é dócil (obediente, flexível).
Para que um betão tenha a docilidade requerida deve apresentar uma consistência e
coesão, adequadas.
Consistência
A consistência é uma propriedade apresentada pelo betão fresco que pode ser especificada de
projecto e medida pelo ensaio de abaixamento do cone de Abrams ou pelo ensaio de vibração
e compactação Vêbê.
A maior ou menor deformação do betão varia de acordo com o seu grau de consistência.A
norma NP 87 indica que a consistência do betão seja medida pelo assentamento no cone
Abrams.
A consistência pode ser seca, plástica, branda ou fluida, correspondendo cada um destes
estados a intervalos de abaixamento do cone de Abrams e a meios de compactação a utilizar
para a compactação do betão.
Assim, para uma consistência seca, que corresponde a um intervalo de abaixamento no cone de
Abrams de 0 a 4 cm, deverão ser utilizados meios de vibração potentes.
Para a consistência plástica , com um intervalo de abaixamento entre 4 a 14 cm, deverá ser
utilizado vibração normal.
Na branda ou fluída, com um abaixamento superior a 15 cm, o betão espalha-se e
compacta-se pelo peso próprio (tipo auto-compactável).
Coesão
A coesão é uma propriedade física apresentada pelo betão fresco que pode ser medida através
dos ensaios de determinação da resistência ao corte, de tracção directa e outros.
A facilidade com que o betão é capaz de segregar dá-nos a ideia da sua coesão.
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As misturas muito coesivas, a que chamaremos viscosas, não segregam facilmente. As
amassaduras pouco coesivas apresentam uma grande tendência para segregar.
— Trabalhabilidade
Esta propriedade é avaliada através da coesão e consistência que o betão apresenta, tendo em
conta os meios disponíveis para o transporte, colocação, compactação e acabamento do mesmo.
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c) Retirada do Cone de Abrams d) Medição do Abaixamento
Este ensaio é realizado se o betão for seco e não se verificar abaixamento do cone de Abrams.
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b) Moldagem do cone c) Colocação da placa d) Assentamento do betão
Esta trabalhabilidade é medida em segundos – graus Vêbê – que representa o tempo necessário
para que a placa de vidro, ou de outro material transparente, ocupe toda a superfície superior do
betão.
Com as adições, com módulos de finura semelhantes aos do cimento reduz-se o atrito
entre as partículas grossas (agregados) facilitando a compactação.
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O tipo de betoneira da central de fabrico de betão tem influência no tempo de amassadura.
Consolidando o betão de acordo com a sua consistência e o tipo de obra. Compactação por
apiloamento, em estruturas de pequena espessura, com consistência branda ou plástica.
A compactação far-se-á por camadas de 15 a 20 cm se for armado e inferior a 60 cm em betão
em massa.
Compactação por bateria de vibradores (Figura ) para betões secos ou plásticos.
Seca 0a2 0
Plástica 3a5 ±1
Branda 6a9 ±1
Fluida 10 a 15 ±1
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1. Regando as cofragens antes de verter o betão para que não absorvam água;
2. Vigiando a estanquidade das cofragens para impedir a saída das leitadas de argamassa;
3. Impedindo que o betão, uma vez vertido, perda a água necessária para a hidratação do
cimento e posterior endurecimento;
4. Mantendo a cura durante um período de tempo mínimo de sete dias;
5. Não regar a superfície antes da sua presa.
Espalhamento e compactação de betões com consistência seca ou plástica com equipamento pesado
Betão endurecido
Um betão endurecido será bom se for durável. A durabilidade expressa a resistência ao meio
ambiente e a estabilidade química e física interna.
O ensaio da resistência é o mais importante dos aplicados ao betão e constitui a base para a
determinação da qualidade do produto. Em geral, um betão de resistência elevada é um bom
betão.
— Resistência Mecânica
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A resistência do betão pode ser avaliada em termos de esforços de compressão, tracção, flexão,
corte, etc., sendo que, fundamentalmente, o controlo do comportamento mecânico deste material
seja feito através de ensaios de rotura à compressão e nalguns casos também de flexão (pontes,
estradas, etc.).
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Prensa
hidráulica
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Provete cilíndrico na rotura
Ensaio de resistência à tracção/flexão
O ensaio de avaliação da resistência à tracção do betão por via experimental reveste-se de
alguma complexidade devido à fragilidade do material.
Assim, a tensão resistente de tracção, ftk, é determinada por via indirecta, através de
ensaios de compressão diametral, ou através de ensaios de flexão.
O primeiro consiste na compressão de um cilindro de betão, ao longo do seu diâmetro,
induzindo neste um estado de tensão de tracção aproximadamente constante.
Através de expressões conhecidas da teoria da elasticidade, pode-se relacionar a força
aplicada ao provete com a tensão resultante induzida. Obtém-se assim o valor da tensão de
tracção instalada no momento da rotura.
Compressão diametral
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Ensaios não destrutivos
Há situações em obra que nos poderão obrigar a avaliar a resistência dum betão já
colocado e sobre o qual temos dúvidas, ou porque não se recolheram amostras para o ensaio
destrutivo, ou até porque os resultados obtidos nestes nos possam parecer suspeitos.
Esclerómetro
Esclerómetro mecânico
O utilizador destes métodos de ensaio tem que saber que, com a sua aplicação,
unicamente obtém uma medida da dureza relativa ou superficial do betão, e que a relação com
outras propriedades do betão é puramente empírica. As circunstâncias que justificam o uso de
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métodos esclerométricos são:
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Por ondas Sonoras
O objectivo deste método é medir a velocidade dos impulsos das vibrações longitudinais que
passam através do betão.
A homogeneidade do betão;
A presença de fissuras e vazios;
A comparação de um betão com outro de referência;
A qualidade do betão em comparação com os ensaios normalizados.
Os ensaios sobre o betão, realizados com ultra-sons, não são considerados substitutivos dos
ensaios normalizados, sendo unicamente ensaios complementares ou adicionais.
a) Constituintes;
b) Trabalhabilidade;
c) Característica dos moldes;
d) Compactação;
e) Cura;
f) Idade;
g) Métodos de ensaio.
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— Durabilidade
Quase todos os factores que influem na resistência mecânica serão igualmente determinantes na
durabilidade de um betão.
Lembrar que a resistência mecânica aos esforços e a impermeabilidade são dois aspectos
fundamentais que condicionam a desejada durabilidade deste material de construção.
É importante reconhecer, que o betão, se bem que melhore o seu comportamento à medida que a
idade evolui, está sujeito a fenómenos que podem provocar insucessos ou deficiências
inesperados, comprometendo assim a boa qualidade dos elementos betonados e a respectivas
estruturas em que se integram.
Alguns dos mais importantes referidos fenómenos que condicionam o comportamento do betão
endurecido são a seguir abordados:
— Retracção
O betão como muitos outros materiais sofre variações dimensionais, pois encolhe quando seca ou
perde água, e aumenta de aumenta de volume quando conservado em água.
O responsável por este tipo de situação é o cimento, cuja natureza e quantidade influem
decisivamente no fenómeno.
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O fenómeno da retracção inicia a partir do momento da colocação do betão nos moldes e, é
originado pela saída de água e pela aproximação das partículas, sendo a diminuição do volume
praticamente igual a água perdida.
A retracção do betão fresco é mais acentuada quanto mais seco esteja o ar e mais seja a
velocidade da sua circulação (vento).
No betão, o papel dos inertes é fundamental, já que opondo-se à diminuição de volume, são
responsáveis por a retracção ser menor do que numa pasta de cimento ou argamassa, nas quais
também a dosagem relativa do ligante é mais elevada.
Após a presa, continua a verificar-se uma retracção, desde que o processo de evaporação de água
prossiga, se bem que o esqueleto do cimento hidratado entretanto formado se oponha à
aproximação dos grãos e a amplitude do fenómeno diminua.
Depois de um betão ter endurecido e sofrido os efeitos da contracção por secagem, se for
submetido a ambiente húmido, pode absorver água e expandir, e assim sucessivamente cada vez
que seca e é molhado, podendo dizer-se que está sempre em movimento sob a influência das
variações higrotérmicas.
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O tempo de fissuração, depois de conservada 24 horas em água é um excelente indicativo da
qualidade de cimento, dado que não deve fissurar antes de 20 horas.
Concluindo, para reduzir a retracção total é necessário escolher o cimento e não exagerar a sua
dosagem, limitar a quantidade de água de amassadura, seleccionar inertes duros, evitar produtos
de adição desconhecidos e proteger as superfícies betonadas contra a evaporação da água.
— Deformação e Fluência
O betão, como qualquer outro sólido, deforma-se quando suporta uma carga. Esta deformação
aumenta com o tempo de actuação da solicitação e o fenómeno é designado por Fluência.
Há no entanto a considerar que as deformações podem ser instantâneas, por conseguinte elásticas
e reversíveis, que se assemelham às produzidas numa mola, ou plásticas e irreversíveis que se
sobrepõem às primeiras.
A deformação elástica varia com o estado higrotérmico do ar constatando-se que é menor num
estado saturado do que num meio seco, e depende do estado de endurecimento do betão no
momento da aplicação da carga, diminuindo quando aumenta a idade que o betão tem no instante
de aplicação de carga.
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Deformação plástica e o instante da aplicação da carga
A relação entre a deformação transversal e longitudinal é dada pelo coeficiente de “Poisson”, que
é sempre inferior a 0,5 e correntemente igual a 0,2.
F Δl σ
σ= ε= E=
A e L , então: ε [MPa]
Quanto maior é o módulo de elasticidade, então menos deformável será o betão. Nos betões
correntemente utilizados, o E varia entre 2,7x105 a 4,0x105 MPa.
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Resistência à variação de volume
— Fissuração do betão
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Fissuração do betão pelos esforços: compressão, tracção, flexão, corte e torção, respectivamente.
— Rotura
A rotura do betão surge quando este material se torna incapaz de suportar e resistir às cargas
aplicadas. Então pode romper, fissurar e desagregar-se.
O betão é um material pouco deformável, portanto “frágil”, e a sua rotura será considerada
doravante, sob aspecto de fissuração e separação devidas a perda de coesão.
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