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1º semestre 2021/2022
Aula Prática 2
Cultura de células
Introdução
A fisiologia celular dedica-se a estudar o funcionamento das células, desde os processos sub-celulares
que as mantêm os seus processos à forma como interagem com outras células e com o seu ambiente.
Nesta aula iremos abordar conceitos fundamentais para a utilização de culturas celulares no estudo
da fisiologia das células. Esta é uma das técnicas laboratoriais mais usadas em áreas como a
investigação biomédica, indústria farmacêutica ou análise clínicas.
Bactérias e outros organismos simples podem ser cultivados em laboratório fora do seu ambiente
natural. O mesmo se aplica a células e tecidos de organismo mais complexos como o ser humano.
Culturas celulares são técnicas fundamentais para a investigação biomédica uma vez que
providenciam quantidades virtualmente ilimitadas de material para estudo, com recurso mínimo ao
organismo completo. Estas técnicas permitem também controlar as condições experimentais e
diminuir ao mínimo as variáveis fora de controlo do experimentador. As técnicas de cultura variam
com a complexidade do ambiente natural das células.
Culturas celulares podem ser feitas a partir de células retiradas diretamente de um organismo,
chamadas de culturas primárias, ou usar células provenientes de uma linha celular, como são
exemplo as linha celulares de células cancerígenas. No caso das culturas primárias a divisão celular
ocorre apenas um número limitado de vezes. As linha celulares podem dividir-se um número de vezes
virtualmente ilimitado.
Protocolo
Para utilização de culturas celulares é essencial seguir regras laboratoriais apropriadas. Caso
contrário, as características das células poderão variar devido a fatores indesejados, comprometendo
totalmente a sua utilização.
Boas práticas de laboratório de culturas celulares
Células para cultura podem ser obtidas através de protocolos de isolamento, no caso das culturas
primárias obtidas a partir de tecido de organismos, ou a partir de bancos células, onde podem ser
armazenadas diversas linhas celulares.
Células em bancos de células encontram-se congeladas. Para serem utilizadas devem ser primeiro
descongeladas (“thawing”) e plaqueadas (“cell seeding”).
Para isolamento de células para culturas primárias a partir de tecidos, podem ser usados 2 tipos de
procedimentos para remover tecido indesejado. Um é o explante, em que parte do tecido é removido
do organismo e cultivado “em si” ou minimamente desfeito. Esta técnica é usada, por exemplo, para
cultivo de retinas e estudo do seu funcionamento mantendo a sua estrutura praticamente intacta
(1). Outra tipo de procedimento para isolamento é o método enzimático, em que são usadas enzimas
proteolíticas para eliminar tecido em excesso mantendo as células que darão origem à cultura.
Descongelamento
A câmara de Neubauer consiste numa lamela de vidro com 2 regiões quadradas de contagem
graduadas (Fig. 3). Estas regiões de contagem têm uma área de 3 mm2 e estão divididas em 9
quadrados grandes de 1 mm2 de área. O quadrado grande central está dividido em 25 quadrados
intermédio por linhas duplas e triplas, e pode ser observado por completo com uma magnificação de
10x. Cada um dos 25 quadrados está dividido em 16 quadrados pequenos por linhas simples, cada
um com uma área de 1/400 mm2. A câmara contém ainda uma lamela de cobertura quadrada com
22 mm de lado. Esta lamela cobre a região central da câmara e cria uma distância de 0.1 mm entre a
lamela e a região graduada da câmara (Fig. 3).
Contagem é feita com quadrado central ou quadrados nos cantos conforme o tamanho dos objetos
a contar. Os passos gerais para contagem são:
1. Amostra deverá ter uma concentração células dentro da gama compatível com a câmara,
geralmente entre 250000-2.5x106 células / ml. Diluir ou concentrar suspensão de forma
a obedecer a este intervalo
2. Limpar câmara e lamela com EtOH 70%
3. Colocar lamela na zona central da câmara e colocar câmara numa superfície plana
4. Com uma micropipeta, recolher 20 µL de suspensão, encostar pipeta à borda da lamela
e expelir suspensão lentamente até toda a câmara estar preenchida. Capilaridade leva
suspensão a preencher a câmara. Não encher câmara excessivamente!
5. Colocar câmara na platina do microscópio ótico. Usando magnificação apropriada, focar
linhas e células simultaneamente
6. Contar células na área de uma divisão da câmara apropriada ao seu tamanho. Contar
células que estão dentro da área e que tocam nas linhas limites da área à esquerda e
cima. Não contar as que tocam na linhas limites da área à direita e baixo (Fig. 4)
Concentração de células na amostra é calculada pelo número de células contadas numa determinada
área da câmara, uma vez que as áreas graduadas correspondem a um volume exato de suspensão
(sabemos altura da câmara e dimensões das divisórias).
Eq. 1 – Fórmula para concentração de células dada número de células contadas, dimensões da
câmara e fator de diluição da suspensão
Fator de diluição (Dil.) é contabilizado se a suspensão foi diluída ou concentrada antes de aplicar na
câmara. Relembrar que 1 mm3=1 µL
Plaqueamento
Cultivo começa com uma concentração de células específica. Deve calcular-se a quantidade de meio
necessária para atingir concentração alvo. Para tal deve ter-se em conta concentração medida do
stock, volume do recipiente em que será feita a cultura, concentração alvo para iniciar cultura. Após
este cálculo, diluir suspensão de células stock e plaquear no recipiente de cultura.
Observar Células
Após células serem plaqueadas no recipiente, usar microscópio ótico para confirmar os seguintes
parâmetros das células:
Após esta confirmação, colocar recipiente de cultura numa incubador de CO 2 humidificada e a 37 °C,
por forma a manter condições de humidade, pH e temperatura ideais para a viabilidade e
crescimento da cultura. Dá-se início à cultura celular.
Troca de Meio
Com o crescimento da cultura celular ocorre também o consumo dos nutriente e aumento de
metabolitos celulares no meio de cultura. Este meio terá de ser trocado com regularidade para
manter condições ótima de cultura. Para troca de meio:
1. Retirara cultura da incubadora
2. Verificar visualmente se cultura está normal
3. Pre-aquecer novo meio a 37 °C
4. Retirar meio velho do recipiente de cultura e deixar uma pequena quantidade para que
células continuem imersas
5. Adicionar novo meio
6. Novamente verificar visualmente se cultura está normal
7. Voltar a colocar cultura na incubadora
Passagem
Com a proliferação de células na cultura estas terão de ser divididas e colocadas num novo recipiente
antes que o recipiente original fique cheio. A este processo chama-se passagem. O grau de
preenchimento do recipiente de cultura chama-se grau de confluência (Fig. 5), de um recipiente
totalmente preenchido por uma cultura diz-se confluente. Deve realizar-se uma passagem quando o
grau de confluência chega aos 70-80%. Quando um cultura se torna confluente, o contacto entre
células pode levar a que parem de se dividir, processo chamado de inibição por contacto. Células
poderão até deixar de proliferar após a passagem. No caso de células cancerígenas a proliferação
continua após confluência mas nutrientes no meio começarão a escassear. Métodos de passagem
variam conforme a cultura seja de células suspensas no meio ou aderidas à superfície do recipiente
de cultura.
Fig. 5. Vários graus de confluência de uma cultura celular. Adaptado de:
https://www.mirusbio.com/transfectopedia/methods
1. Recolher suspensão para outro recipiente e centrifugar para separar células do meio
2. Remover sobrenadante, deixar pellet de células e re-suspender em meio fresco
3. Recolher parte desta suspensão, adicionar trypan blue e contar número de células
4. Calcular concentração de células e efetuar diluição para concentração desejada numa
nova suspensão
5. Colocar suspensão em novo recipiente de cultura
Stocks de culturas celulares são amostras da cultura crio-preservadas, disponíveis para mais tarde
voltarem a produzir novas culturas. É importante manter stocks pois as características das células em
cultura poderão diferir das células originais ao longo do tempo e com a realização de várias passagens
sucessivas. Passos gerais do procedimento são:
Quando necessário começar experiências, descongelar stocks preparados e realizar culturas. Após
um certo período de cultura, as células devem ser descartadas e novo stock utilizado. A confluência
desejada varia com a experiência a realizar.
Dimensões dos recipientes de culturas mais comuns (Adaptado de:
https://www.corning.com/catalog/cls/documents/application-notes/CLS-AN-209.pdf)
35 mm 9 9 x 105 1.8-2.7
Nesta aula iremos realizar uma passagem de células que permite preparar culturas celulares com
confluência menor a partir de culturas com confluência já relativamente maior. As culturas
preparadas podem ser usadas para qualquer outro procedimento experimental.
Equipamentos e soluções
Antes de passar este tipo de cultura, as células têm de ser destacadas da superfície. Para tal aplicam-
se protéases como colagenase, dispase ou tripsina. No caso da tripsina, esta enzima é inibida por iões
de cálcio e magnésio. É portanto necessário substituir o meio de cultura que contenha estes iões.
Bibliografia
1. Caffé AR, Ahuja P, Holmqvist B, Azadi S, Forsell J, Holmqvist I, Söderpalm AK, van Veen T.
Mouse retina explants after long-term culture in serum free medium. J Chem Neuroanat.
2001 Nov;22(4):263-73. doi: 10.1016/s0891-0618(01)00140-5. PMID: 11719023.
2. Alberts B., Johnson A., Lewis J., Raff, Roberts K., and Walter P. (2002) Molecular Biology of
the Cell. Taylor & Francis Group, New York. 4th edition. pp. 624-625.
3. Lodish H., Berk A., Matsudaira P., Kaiser C.A., Krieger M., Scott M.P., Zipursky S.L., and
Darnell J. (2004) Molecular Cell Biology. W.H. Freeman and Company, New York. 5th edition.
pp 256-257.
4. Nelson D.L., and Cox M.M. (2005). Lehninger Principles of Biochemistry. W.H. Freeman and
Company, New York. 4th edition. pp 398-400.
Introdução
A mitocôndria é um grande organelo onde ocorre o processo de oxidação fosforilativa nas células
eucarióticas. A maioria das células eucarióticas contem uma grande quantidade de mitocôndrias.
Estes organelos têm a capacidade de se fundir e dividir e ocupam cerca de 25 % do volume do
citoplasma. O número de mitocôndrias numa célula é regulado pela necessidade de produção de
ATP. É o caso de células na mucosa do estômago que necessitam de uma grande quantidade de ATP
para produzir secreções ácidas. A mitocôndria é também responsável pela biossíntese de vários
metabolitos. Ocorre transporte ativo de metabolitos e seus percursores para dentro e fora da
mitocôndria. Um deste metabolitos é o grupo heme, essencial para a função da hemoglobina. Outras
moléculas produzidas pela mitocôndria são pequenas moléculas orgânicas, como citrato, isocitrato,
malato ou ácido alfacetoglutárico, que são usadas pela célula para sintetizar NADPH e acetil CoA, ou
outros percursores para biossíntese extra mitocondrial de moléculas como glutationa, purinas,
ácidos gordos ou colesterol.
A mitocôndria tem a capacidade de se fundir com outras mitocôndrias ou de se dividir e dar origem
a novas mitocôndrias individuais. Podem também ramificar-se, extender-se ou retrair-se. Foi
demonstrado que estes fenómenos estão associados à manutenção da função mitocondrial,
adaptação às necessidades energéticas da célula e à morte celular. A mitocôndria está também ligada
ao citoesqueleto da célula e pode ser transportada para regiões da célula com maior necessidade
energética. Por fim, a célula tem a capacidade de eliminar mitocôndria através de processos de
autofagia, também chamados de mitofagia. Nesta aula iremos observar mitocôndria dentro de
células modelo usando um corante fluorescente que marca especificamente mitocôndrias.
Fig. 1 - Exemplo de mitocôndrias marcadas com Mitotracker (a vermelho) numa célula endotelial da
artéria coronária. Núcleo celular marcado a azul. Magnificação de 63 x.
PBS 1x
PFA 37% para diluir
Meio de cultura
Acetona
Meio de montagem Vectashield Headset
Protocolo Experimental
1. Cultivar células em lamelas dentro de uma placa de 24 poços usando os meios apropriados
2. Quando as células tiverem atingido a confluência desejada (50-80%), remover o meio de cada
poço e adicionar a solução de coloração de sonda pré-aquecida (37°C): 200 nM Mitotracker
em DMEM sem FBS (de um stock de 200 µM).
4. Após a coloração estar completa, substituir a solução de coloração por meio fresco pré-
aquecido ou tampão e proceder à sua fixação.
5. Fixação das células. Remover cuidadosamente o meio/ tampão que cobre as células, e
substituí-lo por tampão ou meio de crescimento pré-aquecido, recentemente preparado,
contendo 4% PFA em meio de crescimento completo a 37°C durante 15 minutos.
6. Lavagem das células. Após a fixação, lavar a lamela com as células 3 vezes em tampão PBS.
8. Cuidado para saber em que lado estão as células! Remover a lamela e montar numa lâmina
para observar ao microscópio. Para montar a lamela, deve ser colocado 25 uL de Vectashield
Headset sobre a lamina e com cuidado, baixar a lamela sobre a gota.
1. Alberts B., Johnson A., Lewis J., Raff, Roberts K., and Walter P. (2002) Molecular Biology of
the Cell. Taylor & Francis Group, New York. 4th edition. pp. 624-625.
2. Lodish H., Berk A., Matsudaira P., Kaiser C.A., Krieger M., Scott M.P., Zipursky S.L., and
Darnell J. (2004) Molecular Cell Biology. W.H. Freeman and Company, New York. 5th edition.
pp 256-257.
3. Nelson D.L., and Cox M.M. (2005). Lehninger Principles of Biochemistry. W.H. Freeman and
Company, New York. 4th edition. pp 398-400.
4. Galloway CA, Lee H, Yoon Y. Mitochondrial morphology-emerging role in bioenergetics. Free
Radic Biol Med. 2012;53(12):2218-2228. doi:10.1016/j.freeradbiomed.2012.09.035
Fisiologia Celular
1º semestre 2021/2022
Neste trabalho introduz-se a técnica eletrométrica utilizada com a finalidade de estudar a actividade
A Na+,K+-ATPase
+ +
O exemplo mais clássico de transporte activo primário é a bomba de sódio e potássio (ou Na ,K -
ATPase), existente na membrana plasmática de todas as células animais. Esta ATPase transporta três
iões sódio para fora da célula ao mesmo tempo que transporta dois iões potássio para dentro da
célula (sistema antiporta Na+/K+) contra os respectivos gradientes iónicos. A enzima contém um sítio
com a capacidade para catalisar a clivagem de ATP (actividade de ATPase) voltado para o lado interno
da membrana.
Fig 1. A Na+,K+-ATPase funciona como um sistema antiporta e é electrogénica uma vez que
transporta 3 Na+ para o exterior e 2 K+ para o interior, contribuindo com cerca de 10% do potencial
eléctrico membranar evidenciado pelas células em repouso (Alberts, 2002).
igual sinal para dentro). Por esta razão, a Na+,K+-ATPase diz-se funcionar como uma bomba de iões
electrogénica, o que significa que contribui directamente para a separação de carga através da
membrana.
transmissão dos impulsos nervosos. O gradiente de Na+ mantido pela bomba constitui, por sua vez,
uma importante fonte de energia para outros transportes activos, tais como o transporte de glicose,
aminoácidos e outros nutrientes, para o interior da célula. A manutenção do equilíbrio osmótico
existem cerca de 800 000 a 30 000000 unidades da Na+,K+-ATPase na superfície celular. Anomalias
+ +
no número ou no funcionamento da Na ,K -ATPase estão envolvidas em vários estados patológicos,
particularmente na doença cardíaca e na hipertensão.
3 locais de ligação para Na+ de alta afinidade e 2 locais de ligação para K+ de baixa afinidade acessíveis
à superfície citosólica da proteína. Após a ligação do Na+ a enzima é fosforilada por ATP e sofre uma
libertação no lado de fora. De seguida, o K+ liga-se na face exterior da enzima o que promove a sua
desfosforilação. Por sua vez, a desfosforilação promove o retorno à conformação original da enzima
A Na+,K+-ATPase é composta de duas importantes subunidades proteicas “α” e “β”, ligadas não
covalentemente e inseridas nas membrana. A subunidade α (≈ 113 kD) contém os locais importantes
para para a actividade enzimática como o de fosforilação, de ligação de ATP e de ligação da uabaína.
A subunidade β é mais pequena (glicoproteína de ≈ 35 kD) e absolutamente necessária para a
actividade da enzima; parece ser critica para facilitar a localização na membrana plasmática e para a
activação da subunidade α.
da bomba. Neste esquema simplificado mostra-se apenas um local de ligação para o Na+ e para o K+
(Alberts, 2002).
A Na+,K+-ATPase é inibida especificamente pela uabaína, um fármaco da classe especial dos
glicosídeos cardíacos, que impede a desfosforilação de E2-P ao ligar-se na face exterior da
membrana. A uabaína é um cardiotónico que consta de um açúcar e um esteróide unidos por uma
ligação glicosídica. Os glicosídeos cardíacos são largamente utilizados para aumentar a força de
intracelular da concentração de Na+ que, por sua vez, leva ao aumento da concentração intracelular
de Ca++ devido à diminuição da saída do Ca++ pelo trocador Na+/Ca++. O aumento da concentração
Procedimento Experimental
Este facto pode ser vantajosamente aproveitado para avaliar cineticamente as reacções de hidrólise
de ATP usando um eléctrodo de pH e registando continuamente as variações de pH do meio de
ensaio.
Para quantificar devidamente os resultados obtidos por esta técnica é, obviamente, necessário
+ +
conhecer a estequiometria H /ATP. A quantidade de H que se produz é função do sistema. A pH
EQUIPAMENTO E SOLUÇÕES
Ubaína 20 mM
ENSAIOI. Determinação da actividade enzimática da Na+,K+-ATPase
actividade da (Na+,K+)-ATPase.
A Fig. 4 representa um registo típico de uma experiência em que se mediu a actividade enzimática
BIBLIOGRAFIA
5. Alberts B., Johnson A., Lewis J., Raff, Roberts K., and Walter P. (2002) Molecular Biology of
the Cell. Taylor & Francis Group, New York. 4th edition. pp. 624-625.
6. Lodish H., Berk A., Matsudaira P., Kaiser C.A., Krieger M., Scott M.P., Zipursky S.L., and
Darnell J. (2004) Molecular Cell Biology. W.H. Freeman and Company, New York. 5th edition.
pp 256-257.
7. Nelson D.L., and Cox M.M. (2005). Lehninger Principles of Biochemistry. W.H. Freeman and