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BOAS PRÁTICAS

DE MANEJO PARA
O EXTRATIVISMO
SUSTENTÁVEL DA

Fava d’Anta

1
BOAS PRÁTICAS
DE MANEJO PARA
O EXTRATIVISMO
SUSTENTÁVEL DA

Fava d’Anta
2 3
BOAS PRÁTICAS
DE MANEJO PARA
O EXTRATIVISMO
SUSTENTÁVEL DA

Fava d’Anta

Filizola, Bruno de Carvalho.

Boas práticas de manejo para o extrativismo


sustentável da fava d'anta / Bruno de Carvalho
Filizola. – Brasília: Instituto Sociedade, População e
Natureza, 2013.
76 p.

ISBN 978-85-63288-12-7

1. Fava d'anta. 2. Extrativismo sustentável. 3. Autor


Manejo. 4. Boas práticas. I. Título. II. Filizola, Bruno Bruno de Carvalho Filizola
de Carvalho.
Revisão do texto
CDD 630 Renato Araújo, Isabel Figueiredo e Aldicir Scariot

Ilustração, arte e diagramação


Esta publicação é uma realização do Instituto Sociedade, Popula- Zoltar Design
ção e Natureza - ISPN e Embrapa - Recursos Genéticos e Biotec- www.zoltardesign.com.br
nologia com apoio financeiro do Fundo Brasileiro para a Biodiver-
sidade - FUNBIO. Este documento é de responsabilidade dos seus Fotografias
autores e não reflete a posição dos doadores. Bruno de Carvalho Filizola e Denis A. C. Conrado

4 5
Apresentação, 6

O Cerrado, 10

História Natural da Fava d’Anta, 14

Importância Ecológica da Espécie, 20

Importância Social e Econômica, 22

O Extrativismo da Fava d’Anta, 28

Recomendações para o Plantio da Fava d'Anta, 48

Recomendações de Boas Práticas de Manejo, 54

Grupos de Referência, 60

Ficha Técnica da Fava d'Anta, 68

Para Saber Mais..., 70

Bibliografia, 72

6 7
Apresentação
Esta cartilha é destinada a do conhecimento acumulado por extrativistas e
agricultores familiares e po- pesquisadores visando garantir a manutenção do
vos tradicionais que desejam equilíbrio ambiental e a conservação da espécie,
coletar de maneira sustentá- mas também contribuir para a melhoria da quali-
vel os frutos da fava d’anta, dade e do volume da produção e tornar a atividade
assim como, proporcionar mais segura para os extrativistas.
informações a estudantes,
técnicos e instituições de Essa cartilha trata de todas as fases do manejo da
pesquisa e assessoria. fava d’anta, não apenas a coleta, mas também as
fases pré e pós-coleta e os cuidados com os ecos-
Com esse material espera- sistemas e as plantas.
mos difundir conhecimen-
tos e orientar sobre as boas Aqui você também vai encontrar informações
práticas para o extrativis- sobre o bioma Cerrado, o ciclo de vida da fava
mo da fava d’anta. As boas d’anta (como ela nasce, cresce e se reproduz), as
práticas de manejo são um características do ambiente em que vivem e o mer-
conjunto de orientações que cado para o fruto.
tem como objetivo padroni-
zar os procedimentos para Esse material é destinado ao uso prático dos extra-
promover a sustentabilidade tivistas, líderes comunitários, técnicos das organi-
ambiental, sociocultural e zações produtivas e da rede de instituições públicas
econômica da atividade. e privadas de assessoria. Esperamos que este mate-
rial seja aprimorado à medida que novos conheci-
As orientações para o ma- mentos são gerados. Caso você tenha informações
nejo da fava d’anta re- sobre o manejo da faveira e queira compartilhar
presentam uma síntese conosco, entre em contato com a equipe do ISPN.

8 Apresentação Apresentação 9
Estas informações são úteis para as pessoas que:

• Possuem faveiras em suas propriedades, porém não coletam os


frutos e querem informações para iniciar a coleta;

• Já coletam os frutos da faveira e desejam melhorar a explora-


ção de seus frutos;

• Exploraram a fava d’anta em excesso e desejam restaurar a ca-


pacidade produtiva das plantas ou aumentar a quantidade de
plantas na área;

• Conhecem propriedades rurais que possuem fava d’anta e de-


sejam fazer uma parceria com seus proprietários para a coleta
de frutos;

• Desejam fazer o manejo sustentável, mas ainda não dispõem de


informações.

10 Apresentação 11
O Cerrado
O Brasil apresenta cerca e comunidades como os po-
de metade de seu território vos indígenas, quilombolas,
coberto por vegetação na- ribeirinhos, quebradeiras
tiva, onde vivem cerca de de coco babaçu, geraizeiros,
20% da diversidade de seres sertanejos, vazanteiros, ciga-
vivos existentes no planeta. nos e diversas comunidades
O Cerrado, segundo maior de agricultura camponesa.
bioma da América do Sul,
ocupa um quarto do terri- Estes grupos culturalmen-
tório nacional e é a savana te distintos fazem uso dos
mais rica em espécies do recursos para sua sobrevi-
mundo. vência e geração de renda
há muito tempo. O po-
Os tipos mais comuns de tencial do extrativismo e
vegetação no Cerrado são uso comercial de produtos
campo limpo, campo sujo, do Cerrado é enorme. São
cerrado típico, cerradão, sementes, flores, frutas,
mata ciliar e vereda sendo a folhas, raízes, cascas, látex, se destacam além da fava d’anta, uma grande di-
ocorrência de cada tipo de óleos e resinas que possuem versidade de frutas como o pequi, o baru, o jatobá,
vegetação bastante influen- inúmeras utilidades para as o buriti, a cagaita, o araticum, o coquinho-azedo,
ciada pelas características do pessoas, como alimentação, a mangaba, o cajuí, dentre outros.
ambiente. remédios, utensílios, ferra-
mentas e artesanatos. Apesar de toda essa riqueza ser fundamental para
O Cerrado possui uma enor- o desenvolvimento sustentável do país, ainda exis-
me diversidade de plantas, Dentre os produtos da so- tem muitas limitações para viabilizar o uso susten-
animais e também de povos ciobiodiversidade do Cerrado tável dos recursos da biodiversidade do Cerrado.

12 O Cerrado O Cerrado 13
A principal delas é o desma- sociobiodiversidade do Brasil para a conservação do Cerrado, protegendo sua
tamento. Infelizmente, nos é usada para subsistência e diversidade de plantas e animais, as nascentes, os
últimos 40 anos, aproxima- comercializada em mercados cursos d’água e a riqueza cultural de seus povos.
damente metade da vegeta- locais com baixo impacto,
ção do Cerrado foi desma- por outro, a exploração de
tada principalmente para algumas espécies de forma
a implantação de grandes desordenada vem colocan-
áreas de pastagem e agricul- do em risco as populações
tura. Estas atividades podem destas espécies e também
comprometer as nascentes e a subsistência de grupos
cursos d’água, que além de sociais que dependem destes
serem vitais para as comuni- recursos.
dades locais, são importan-
tes para todo o país e para o Além disso, no caso de pro-
equilíbrio climático global. dutos como a fava d’anta,
Você sabia que os rios do em que o extrativismo vem
Cerrado formam alguns sendo realizado em alguns
dos principais rios do Bra- locais em larga escala, pode-
sil, como o São Francisco, o -se verificar que o manejo
Tocantins e o Paraná? adequado não é conhecido
por todos os extrativistas, o
Outra dificuldade para que pode gerar problemas
viabilizar a comercialização ambientais e escassez dos
de produtos de alto valor recursos.
agregado e a melhoria da
qualidade de vida dos ex- O extrativismo praticado de
trativistas, está no manejo forma sustentável é impor-
adequado dos recursos natu- tante, pois pode gerar renda
rais. Se por um lado a gran- para muitas pessoas e, ao
de maioria dos produtos da mesmo tempo, contribuir

14 O Cerrado 15
História Natural da
Fava d’Anta

A fava d’anta é uma árvore de casca grossa e caule


retorcido comum no Cerrado brasileiro. As árvores
têm porte médio, podendo atingir até 20 metros
de altura, mas normalmente tem bem menos que
isso.

Essa planta da família das leguminosas tem duas


espécies popularmente conhecidas como fava
d’anta, favela, fava de arara, falso-barbatimão ou
faveira. Pela ciência elas são conhecidas como Di-
morphandra mollis e Dimorphandra gardneriana.
As duas espécies são muito semelhantes em ter-
mos botânicos, ecológicos e também em seus usos
comerciais e medicinais. Os procedimentos para o
manejo também são os mesmos. Dessa forma, ire-
mos nos referir a estas duas espécies nesta cartilha
como fava d’anta.

A fava d’anta ocorre nos estados do Goiás, Minas


Gerais, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Gros-
so do Sul, São Paulo, Maranhão, Tocantins, Piauí,
Bahia, Pernambuco e Ceará.

16 HIstória Natural da Fava d'Anta HIstória Natural da Fava d'Anta 17


As flores pequenas e de cor
amarelo-clara, são polini-
zadas por pequenos insetos,
como abelhas e vespas.

Inflorescência
da fava d’anta

O fruto é um legume achatado, verde e fino quan-


do imaturo, que vai encorpando e amarelando à
Mapa de ocorrência de fava d’anta. Fonte: SILVA (1986). medida que amadurece, tornando-se amarelo e
por fim marrom-escuro a quase negro, quando
Ela é encontrada preferen- sistema. Como as sementes totalmente maduro. Os frutos da fava d’anta têm
cialmente no cerrado típico são dispersas por animais, odor forte e adocicado e contém uma média de 15
(ou cerrado sentido restri- em algumas áreas elas estão sementes
to), e também nos campos agrupadas. Em alguns casos
limpos e campos sujos, encontra-se mais de 70 indi- Frutos verdes da fava d’anta no ponto ideal de coleta
no cerradão e nas matas víduos por hectare.
de encostas, próximo de
elevações, em solos pobres, A fava d’anta perde as folhas
argilosos ou arenosos. em um curto período no
final da estação seca. As fo-
A densidade de plantas em lhas são formadas por folío-
uma área pode ser relativa- los pequenos e as flores são
mente alta, mas varia muito compostas (inflorescências),
em função da região e ecos- em forma de espigas.

18 HIstória Natural da Fava d'Anta 19


A floração da fava d’anta ocorre no início das Os meses em que estas fases ocorrem variam em
chuvas e se estende por até três meses em geral. função do clima de cada região. O calendário
A frutificação se inicia na estação chuvosa e se apresentado abaixo inclui essas fases nas diferen-
desenrola por alguns meses, até atingirem a ma- tes regiões de ocorrência da fava d’anta, de forma
turidade na estação seca. Os frutos são coletados que não representa a realidade de uma única loca-
ainda imaturos normalmente a partir do final das lidade, mas o conjunto destas regiões .
chuvas ou início da seca.

Cerrado ço osto zembro


Janeiro Fevereiro Mar Abril Maio Junho Julho Ag SetembroOutubroNovembro
De

Flores

Frutificação

Extração
frutos verdes no ponto
ideal de coleta

Produção
de sementes
frutos maduros

20 HIstória Natural da Fava d'Anta HIstória Natural da Fava d'Anta 21


Importância Ecológica
da Espécie
A fava d’anta, assim como exigentes se estabelecerem
outras árvores da família das em seguida.
leguminosas, é de grande
importância para a fertili- Os frutos da fava d’anta são
dade dos ecossistemas, pois importantes recursos para a
suas raízes têm a capacidade fauna. Os frutos e sementes
de fixar nitrogênio no solo. das favas são consumidos
por diversos animais como a
Trata-se de uma espécie anta, as araras, os tucanos,
muito resistente que conse- o veado, a cotia, assim como
gue se desenvolver em con- outros roedores, outros ma-
dições ambientais adversas míferos e diversos insetos.
onde muitas plantas não
conseguem se estabelecer. A Por conta desses fatores, a
fava d’anta tem a capacida- árvore deve ser protegida e
de de se desenvolver em so- os extrativistas devem consi-
los pobres, secos, pedregosos derar sua importância eco-
e ácidos, atuando como uma lógica para os ecossistemas e
planta pioneira na sucessão para a alimentação da fauna
ecológica, pois criam con- no momento de fazerem o
dições para as espécies mais manejo.

22 Importância Ecológica da Espécie Importância Ecológica da Espécie 23


Importância Social e Econômica
A fava d’anta é usada há Na medicina caseira os
muito tempo pelos extrati- extrativistas do Cerrado
vistas na medicina caseira fazem uso das espécies da
e também na alimentação fava d'anta para tratamento
humana e animal. Os frutos de diversas enfermidades. A
são adocicados e nutritivos infusão do fruto verde é usa-
e são comumente oferecidos da como anti-hemorrágico,
para alimentação do gado. e para o tratamento de he-
Alguns extrativistas fazem morroidas, varizes e hema-
uso de uma bebida produ- tomas. Da entrecasca, cur-
zida a partir das favas ver- tida em água fria, produz-se
des colocadas de molho na chá usado externamente
água. O “suco de favela” é como cicatrizante e outras
considerado saboroso, nutri- finalidades.
tivo e medicinal.

24 Importância Social e Econômica Importância Social e Econômica 25


Entretanto, o uso industrial das favas é que vem
colocando a árvore em evidência. Há mais de
trinta anos, as propriedades das favas têm sido
procuradas pelas empresas do mercado mundial de
produtos cosméticos e farmacêuticos.

O interesse se dá pela presença de princípios ativos


nas favas, especialmente bioflavonóides, dos quais
se destacam a rutina e a quercetina. A fava d’anta
também é utilizada na indústria alimentícia como
aromatizante, espessante, estabilizante e algumas
novas perspectivas de aplicação industrial têm sido
descobertas.

A rutina desponta como uma das substâncias mais


promissoras na produção de medicamentos para
os diversos fins, existindo hoje no mercado mun-
dial inúmeros cosméticos e fármacos registrados
com a presença deste flavonóide, que também é Medicamentos a base de
sintetizado por outras plantas, mas que na fava rutina atuam no tratamen-
d’anta ocorre em quantidades muito elevadas. to de varizes, hemorroidas,
problemas de circulação,
acne e tantas outras en-
fermidades, além de atuar
como antioxidante, no
combate a radicais livres, ao
envelhecimento e às doenças
degenerativas, demanda que
cresce com o contínuo au-
mento da população idosa.

26 Importância Social e Econômica 27


Apesar de haver uma demanda grande e constante, pode conduzir à redução no número de indivíduos
não existem plantios comerciais e as favas comer- e ao estreitamento da diversidade genética.
cializadas são coletadas nas áreas de vegetação
nativa do Cerrado. Em muitos casos a extração A diversidade genética inclui o conjunto de varia-
está ocorrendo de forma predatória ou desorde- ções das características de uma mesma espécie,
nada, não havendo o cuidado com a manutenção sendo de grande relevância para a perpetuação dos
e a reprodução das populações, o desenvolvimen- seres vivos na natureza ao longo do tempo.
to dos indivíduos manejados e a alimentação da
fauna associada, nem quaisquer outros cuidados Em alguns locais do Cerrado como nas regiões do
ecológicos. Vale do Corda (Maranhão) e no Norte de Minas
Gerais, a fava d’anta vem sendo explorada desde
Algumas experiências recentes têm buscado im- os anos 1970. Grande quantidade de frutos são
plantar algum tipo de manejo sustentável, espe- coletados regularmente por comunidades rurais
cialmente no âmbito de atuação do CEDAC e Co- para a venda a intermediários ou cooperativas, que
opCerrado, nos estados de Goiás, Bahia e Minas revendem para as indústrias.
Gerais, de cooperativas no Norte de Minas Gerais
(Cooperativa Sertão Veredas, Cooperativa Grande A espécie vem sendo apontada por pesquisadores
Sertão e Cooperjap) e dos grupos produtivos da e extrativistas como ameaçada de extinção em
Chapada do Araripe, no Ceará, apoiados pela Fun- alguns locais onde há intensa exploração. Vem
dação Mussambê. sendo verificada a diminuição do número de indi-
víduos na natureza, a diminuição da produção dos
As experiências dessas organizações são de grande indivíduos e a perda da diversidade genética.
relevância e, juntamente com estudos científicos,
foram utilizadas para a elaboração desta cartilha. No curto prazo, estes impactos geram um aumen-
to do tempo de trabalho para os extrativistas, já
Com o extrativismo predatório, as populações que eles precisam se deslocar para áreas mais dis-
naturais de fava d’anta estão sendo reduzidas, e tantes para coletar favas. Em longo prazo, a perda
em situações extremas podem vir a ser extintas da diversidade genética pode colocar a espécie em
localmente, pois a falta de cuidados com o manejo sério risco de extinção.

28 Importância Social e Econômica Importância Social e Econômica 29


O Extrativismo da Fava d’Anta

Por conta da importância O sistema de manejo da fava d’anta inclui dife-


do bioma Cerrado e da fava rentes etapas.
d’anta discutidas anterior-
mente, é muito relevante Diagnóstico e Planejamento
que os extrativistas adotem (etapa pré-coleta)
as boas práticas de manejo,
pois assim estarão garan- A etapa inicial do manejo da fava d’anta é o diag-
tindo a sustentabilidade da nóstico dos recursos disponíveis e o planejamento
atividade extrativista. das atividades.

Manejo de produtos florestais não madeireiros ou da sociobio- A primeira coisa a ser feita é verificar a demanda
diversidade é um conjunto de procedimentos que garantem a ex- dos compradores para que possam ser planejadas
ploração sustentável das espécies, ou seja, que contribuem com a as demais fases do manejo. Deve-se checar as con-
manutenção das populações naturais e do equilíbrio ecológico, dições e o tamanho da demanda junto às coopera-
e também gera a melhoria da produtividade e da qualidade da tivas, empresas, instituições de apoio, intermediá-
produção. rios e pessoas de referência na localidade. Definida
a quantidade que se tem de comércio garantido e
os prazos para o recolhimento do material, será
possível fazer um planejamento apropriado das
atividades da coleta e de pós-coleta.

30 O Extrativismo da Fava d'Anta O Extrativismo da Fava d'Anta 31


Feito isso, serão planejadas as atividades, incluin- Coleta
do a escolha dos locais a serem visitados, o nú-
mero de dias a serem reservados para a atividade, Nessa etapa, devem ser realizadas ações que resul-
os melhores caminhos para o acesso a essas áreas, tem em evitar acidentes para o extrativista e mini-
decidir se será contratada mão de obra para a mizar os impactos no ambiente natural, incluindo
atividade, preparar o local de secagem e armaze- o uso dos caminhos e acessos mais favoráveis, a
namento, adquirir alguns insumos, dentre outras seleção dos indivíduos produtivos e daqueles que
atividades. não serão coletados, a preparação dos objetos
necessários e a realização da extração de forma
Nos casos das áreas coletivas, é recomendável fazer correta.
um acordo de coleta com a comunidade, definin-
do quais as práticas de manejo que serão adotadas Antes de sair a campo para a coleta, o extrativis-
e como será feito o acesso às áreas produtivas. ta deve se preparar e providenciar todos os itens
Dessa forma podem-se prevenir conflitos e evitar a necessários. Um kit de campo adequado deverá
disputa pelos recursos. conter pelo menos: o instrumento de coleta, pano
para limpeza da ferramenta, botas ou perneiras,
Para as coletas em áreas particulares de terceiros, chapéu, calças grossas, alimentos, recipiente com
deve-se verificar se há autorização do proprietário água, facão, lima para afiar, e outros objetos para
ou posseiro e as condições. as necessidades do extrativista ir ao campo com
segurança.
Em Unidades de Conservação de Uso Sustentável,
a coleta deverá seguir as orientações do Plano de
Manejo da unidade!

32 33
A extração: quando, quanto e como? Lembre-se: as favas não devem estar nem muito verdes e nem muito
Para se ter uma produção com melhor qualidade, maduras. Caso elas ainda estejam verdes e finas, elas ainda não
que será mais valorizada pelos compradores, deve- estão no ponto ideal e devem ser deixadas para amadurecerem. Se
-se estar atento em realizar a extração somente estiverem nos estágios de semi-maturação (amarelas) ou já madu-
quando os frutos estiverem no ponto ideal de ras (marrom a quase negras), elas também não devem ser coletas,
coleta. O ponto ideal de coleta é um estágio de e devem ser deixadas no ambiente para produzirem sementes e ali-
amadurecimento intermediário onde os mesmos mentarem os animais!
apresentam uma maior quantidade de princípios
ativos que serão utilizados para a produção indus-
trial.
A coleta da fava d’anta deverá ser feita com o uso
No ponto ideal de coleta, as Nesse ponto, as favas ainda de uma ferramenta de corte ou quebra dos ramos.
favas ainda estão “de vez”, estão verdes, mas já estão Utilizar a ferramenta mais adequada é essencial
isto é, ainda estão verdes, encorpadas, o que normal- para o sucesso do manejo!
mas não finas como nos mente começa a acontecer
primeiros estágios da frutifi- no final das chuvas e no Recomenda-se utilizar um podão para realizar a
cação. início da seca. extração. Essa ferramenta permite a extração com
menos danos para as árvores e segurança para o
frutos verdes finos Frutos verdes no ponto extrativista. A ferramenta deve estar bem afiada e
ainda imaturos. ideal de coleta.. ser limpa com pano umedecido com álcool 70%
pelo menos uma vez por dia. Dessa forma, é di-
minuído o risco de passar doenças de uma planta
para as outras.

Caso não se tenha um podão disponível, deverá


ser usado um gancho de ferro acoplado a uma
vara de madeira ou bambu que possibilite ao
extrativista atingir a copa das árvores. Nesse caso,
procure ser certeiro para quebrar os ramos e não
os galhos!

34 O Extrativismo da Fava d'Anta 35


Podão utilizado para Gancho utilizado para
extração de favas extração de favas.

Tanto na utilização do
gancho, como do podão, a
extração deverá ser realizada
com destreza e cuidado para
machucar a árvore o míni-
mo possível.

O corte dos ramos deverá


ser realizado na sua parte
mais basal. Realizando a
extração dos ramos em sua
base, logo acima do local
onde estes ramificam do
galho, a rebrota será mais
eficiente.

36 O Extrativismo da Fava d'Anta O Extrativismo da Fava d'Anta 37


O facão deverá ser usado apenas para a extração dos ramos que
estiverem ao alcance do extrativista no chão. Lembre-se: não suba
na árvore para a extração de favas, pois os galhos são fracos e se
quebram facilmente!

A extração com varas de madeira ou com quebra manual dos


galhos para a obtenção dos frutos não são recomendadas, pois
geram maiores danos as árvores!

Seriam necessárias pesquisas em cada localidade Em casos extremos, como


para que se possa calcular a proporção de frutos locais onde tenha sido veri-
que podem ser coletados sem causar impactos para ficada historicamente uma
a natureza e a quantidade de frutos que devem ser coleta excessiva e em casos
mantidos nas árvores (sem coleta) para permitir de impactos como desma-
que os animais se alimentem e que a planta possa tamento e queimadas, por
continuar se reproduzindo. exemplo, a extração deve ser
interrompida até que a área
Sugere-se que pelo menos 20% (ou um quinto) esteja recuperada. Nesses ca-
dos frutos permaneçam intactos em cada área de sos, recomenda-se que sejam
coleta para alimentar os animais e permitir o nas- intensificados os plantios
cimento de novas mudas. É recomendável que os para que no futuro a área se
frutos deixados no ambiente sejam de diferentes torne novamente produtiva
árvores para garantir a diversidade genética. e apta ao manejo.

38 O Extrativismo da Fava d'Anta O Extrativismo da Fava d'Anta 39


Pós-coleta

A etapa da pós-coleta se inicia ainda no campo,


logo após a coleta das favas. Essa etapa inclui um
conjunto de procedimentos que são realizados
para garantir que o produto chegue à indústria
com boa qualidade incluindo a seleção, a limpeza,
o transporte, a secagem, o pré-armazenamento e o
armazenamento dos frutos.

Seleção e limpeza dos frutos


A seleção e a limpeza dos frutos deverão acontecer
ainda na área de coleta. Deverão ser selecionados
apenas os frutos no ponto ideal de coleta, sendo
descartados os frutos estragados (mal formados e
atacados por insetos e fungos), os ainda verdes e
os muito maduros (amarelos ou escuros).

Os frutos não utilizados deverão ser devolvidos ao


ambiente, para servirem de alimento aos animais,
para a ciclagem de nutrientes e para que possam
gerar novas plantas.

Os frutos em bom estado serão selecionados e de-


verão ter os talos retirados ainda em campo, antes
de serem transportados para o local de secagem.

40 O Extrativismo da Fava d'Anta O Extrativismo da Fava d'Anta 41


Secagem

Esta atividade deverá ser realizada em áreas enso- Em todos os casos, os frutos em secagem deverão
laradas, limpas, e sem o acesso de animais domés- ser cobertos com lonas em caso de chuvas!
ticos. É necessário que os frutos sejam remexidos
algumas vezes por dia, para que a secagem seja Evite usar lonas de plástico fino, porque elas nor-
uniforme. malmente não resistem ao tempo mais que uma
safra, e acabam por gerar poluição ao meio am-
É recomendável que a secagem seja feita sobre piso biente. Além disso, a lona fina sai mais cara, pois
de cimento com bom caimento (para não empo- na próxima safra será necessário comprar outra.
çar água). Também pode-se colocar os frutos sobre
uma lona, para que estes se mantenham livres de Os frutos deverão ser mantidos ao sol até perde-
impurezas e da umidade do solo, tendo o cuidado rem toda a umidade, quando adquirem coloração
de evitar o acúmulo de água quando chove. escura, o que demora em média entre 8 a 12 dias,
dependendo das características do local e das con-
Outra opção é secar os frutos diretamente no solo, dições do processo de secagem.
desde que sejam preparados terreiros em chão
duro, bem drenado, limpo, sem pedras, areia e
contato com animais.

42 43
Armazenamento
Toda a fava seca deverá ser armazenada da melhor
forma possível visando chegar à etapa do processa-
mento industrial com melhor qualidade. O arma-
zenamento da fava seca é realizado em sacos de
ráfia ou outro material que permita o arejamento.

Inicialmente, o extrativista deve armazenar a sua


produção em sua casa em varandas ou galpões
protegidos de sereno e chuva. Na sequência o
material é adquirido junto aos extrativistas por
cooperativas ou intermediários que realizam a
segunda etapa de armazenamento, até a comer-
cialização das favas até seu destino final - as fábri-
cas de processamento. Nas fábricas, as favas são Ao longo de todas estas etapas de armazenamento,
novamente armazenadas em galpões até que sejam deve-se ter em mente que a qualidade e o ren-
processadas. dimento do material a ser processado depende
diretamente da realização das boas práticas, que
incluem a manutenção das favas em condições
limpas, arejadas e sem umidade.

Na propriedade rural, as favas ensacadas devem


ser armazenadas em local coberto, protegido de
chuva e umidade, bem ventilado e sem a presença
de animais.

No armazenamento de maior escala, os sacos


empilhados devem ser mantidos sem contato com
o chão ou qualquer tipo de umidade, sobre estrado
de madeira, em galpões cobertos e bem ventilados

44 O Extrativismo da Fava d'Anta 45


Proteção, enriquecimento e monitoramento das áreas
de coleta da fava d’anta

Essa fase do manejo visa incêndios, organizações de


garantir a oferta de matéria apoio e a comunidade local.
prima para uma produção
satisfatória de fava d’anta e Os tratos com as árvores ou,
de outras espécies do Cerra- na linguagem dos cientis-
do nos anos seguintes e para tas, os tratos silviculturais,
as próximas gerações. são boas práticas que visam
o aumento da produção e
As atividades desta etapa garantir a conservação da
incluem a conservação do espécie.
Cerrado, o cuidado com
as áreas de extrativismo, a No caso da fava d’anta, os
realização de tratos com as tratos com as árvores re-
árvores e o monitoramento. comendados são a poda, o
desbaste e o adensamento.
Os principais cuidados que
deverão ser realizados con- A realização de podas pode- Desbaste ou raleamento
sistem em evitar o desma- rá ser útil nos casos onde se O desbaste ou raleamento deverá ser realizado
tamento e as queimadas, o verifica a presença de galhos em casos onde são observadas muitas mudas ou
que deve ser feito por meio mortos que possam preju- plantas jovens em estágio semelhante na mesma
de articulações com os ór- dicar o desenvolvimento da área, competindo por espaço e por recursos. O
gãos ambientais, brigada de árvore. desbaste consiste na remoção de algumas mudas,
proporcionando mais espaço para as árvores o que
melhora seu desenvolvimento e aumenta a sua
produção.

46 O Extrativismo da Fava d'Anta O Extrativismo da Fava d'Anta 47


Adensamento
O adensamento é o trato com a fava d’anta mais
relevante. Visa aumentar o número de plantas nos
locais de manejo por meio do plantio de mudas ou
a semeadura de sementes.

A mortalidade de mudas, plantas juvenis e adul-


tas de fava d’anta na natureza é alta e ainda não
se sabe os impactos que o extrativismo dos frutos
poderá gerar para as populações naturais em longo
prazo. Por isso, o adensamento é uma medida
importante para garantir a produtividade futura, a
manutenção da diversidade genética e a perpetua-
ção das populações naturais da árvore.

O percentual de germinação das sementes em vi-


veiros é maior que 30%. A germinação tem início
cerca de sete dias após a semeadura. As mudas po-
dem ser plantadas no campo a partir de 08 meses
de idade.

48 O Extrativismo da Fava d'Anta O Extrativismo da Fava d'Anta 49


Recomendações para o
Plantio da Fava d'Anta
As sementes devem ser coletadas, preferencial-
mente em árvores robustas e com boa produti- LIXA
vidade (árvores matrizes), no momento em que
começam a abertura espontânea. Os frutos coleta-
dos devem ser levados ao sol para completarem a
abertura.

M E N TE
SE
Para o plantio de fava d’anta, devem ser usadas
sementes em boas condições. As sementes deverão
ser escarificadas (raspadas) com uma lixa, para
aumentar a taxa e a velocidade de germinação.
Além disso, para facilitar a germinação, as semen-
tes deverão ser colocadas em recipientes com água,
por um período de 8 a 12 horas.

O plantio de sementes deverá ser feito diretamente


no solo, em canteiros ou em saquinhos.

50 Recomendações para o Recomendações para o 51


Plantio da Fava d'Anta Plantio da Fava d'Anta
Para o plantio em canteiros, as mudas devem ser
removidas para saquinhos ou outros recipientes
quando estiverem com a altura de 4 cm. As mudas
deverão ser transplantadas para o solo de prefe-
rência no início da estação chuvosa, após 8 a 10
meses.

Monitoramento
Para o plantio direto no campo, as sementes de- O monitoramento é um conjunto de atividades
vem ser enterradas com profundidade de 2 a 3 cm, importantes para o sucesso do manejo. As infor-
realizando afofamento do solo e mistura de mate- mações monitoradas em uma safra poderão ser
rial orgânico. O plantio deve ser feito no início das comparadas com as das safras anteriores, permi-
chuvas, mantendo distância de cerca de 5 metros tindo fazer adequações nas diferentes atividades
entre as plantas. Pode ser consorciada com outras com base na observação e aprendizagem.
espécies nativas e em sistemas agroflorestais, dessa
forma sofrerão menos ataques de doenças e pra- A etapa de monitoramento é trabalhosa e requer
gas. atenção na coleta de dados, mas possibilitará a
melhoria da produção e da qualidade do produto.
Para o plantio em canteiros ou recipientes, enterre
as sementes a 2 cm de profundidade, em substrato É recomendável a articulação de parcerias com
com terra orgânica e areia. A irrigação deverá ser organizações de pesquisa e desenvolvimento para
feita pelo menos uma vez ao dia, e em locais secos, dar suporte aos extrativistas no monitoramento,
mais de uma vez por dia. quando possível.

52 Recomendações para o Recomendações para o 53


Plantio da Fava d'Anta Plantio da Fava d'Anta
Fique atento e crie uma estratégia para monitorar Recomendamos que todos os extrativistas regis-
o volume e a qualidade da produção, o desenvol- trem pelo menos a produtividade das áreas de co-
vimento das plantas coletadas, a regeneração dos leta com o uso de uma ficha de campo, conforme
ramos que sofreram poda e coleta, o nascimento a planilha a seguir.
de novos indivíduos, o crescimento das mudas e o
impacto da coleta na alimentação da fauna.

Extrativista: ______________________________________________
Local(is) de coleta: _______________________________________
Ano
Informações registradas
Volume de frutos coletados
em toda a safra
(Número de sacos ou de
quilos de favas secas)

Período da coleta (dia de


início e dia do final)

Tempo de trabalho na fase de


coleta e o número de pessoas
(Número de dias ou horas
de trabalho/ número de
pessoas)

Valor comercializado por


Kilo

54 Recomendações para o Recomendações para o 55


Plantio da Fava d'Anta Plantio da Fava d'Anta
Recomendações de Boas
Práticas de Manejo
1. Lembre-se de deixar uma 3. Esteja atento para o
parte dos frutos em cada ponto ideal para a coleta
árvore para os animais e das favas! Não colete os
a reprodução da planta. frutos verdes finos e nem
Nunca colete todos os amarelos ou escuros (mui-
frutos da faveira! to maduros). No ponto
ideal de amadurecimento,
as favas ainda estão ver-
des, mas já estão encorpa-
das!

2. Tenha cuidado ao an- 4. Utilize a ferramen-


dar no Cerrado. Evite o ta mais adequada para a
pisoteio das mudas e plan- extração! Nunca quebre
tas jovens existentes nas galhos para a extração
áreas de coleta! dos frutos.

56 Recomendações de Recomendações de 57
Boas Práticas de Manejo Boas Práticas de Manejo
5. Para a extração dos
frutos, realize o corte
na parte basal dos ramos,
rente ao galho.

7. Mantenha sua produ-


ção limpa de impurezas de
animais, do solo, areia ou
folhas e protegida da chu-
va durante a secagem.

6. Deixe os frutos secarem


completamente ao sol,
remexendo-os algumas
vezes ao dia para que a
secagem seja uniforme.

58 Recomendações de 59
Boas Práticas de Manejo
9. Ajude a cuidar do Cer-
rado e das áreas de coleta
de fava d’anta.

8. Tenha cuidado para


que não haja umidade nos
frutos secos durante o
armazenamento.

10. Plante mudas de fava


d’anta nas áreas onde há
poucas árvores, ajude na
regeneração do Cerrado.

60 Recomendações de Recomendações de 61
Boas Práticas de Manejo Boas Práticas de Manejo
Grupos de Referência
Cooperativa Os cooperados da Cooperativa Sertão Veredas são
Sertão Veredas comunidades tradicionais, assentados de reforma
agrária e quilombolas.
A Cooperativa Regional de
Produtores Agrissilviextrati- A cooperativa atua em Chapada Gaúcha, onde
vista Sertão Veredas (Coop. localiza-se sua sede e agroindústria, mas também
Sertão Veredas) foi criada processa a produção de agricultores de Arinos e
em 2006 para representar os Januária (MG) e Côcos (BA), agregando cerca de
interesses dos agricultores 500 famílias que têm no extrativismo uma im-
familiares da região de Cha- portante fonte de renda. É filiada a Rede de Co-
pada Gaúcha, MG e organi- mercialização Central do Cerrado que distribui os
zar a produção agroextrati- produtos por todo o país.
vista sustentável de produtos
do Cerrado, gerar incremen- Endereço:
to de renda para os coopera- Rua Idearte Alves de Souza, 500, Centro
dos e valorizar o Cerrado e CEP 39314–000. Chapada Gaúcha, MG.
seus produtos. Nasceu como
fruto de uma ação conjunta Telefone: (38) 3634-1462
do Sindicato dos Trabalha-
dores Rurais e de associações Email: coopsertaoveredas@hotmail.com
comunitárias, com apoio da
Prefeitura local. coopsertaoveredas.blogspot.com.br

62 Grupos de Referência Grupos de Referência 63


Cooperativa dos de 148 comunidades rurais, em 19 municípios da
Agricultores Familiares e região.
Agroextrativistas Grande
Sertão Os produtos comercializados pela cooperativa são,
além da fava d’anta: polpas de frutas congeladas
A Cooperativa Grande Ser- (araçá, cajá, coquinho azedo, mangaba, maracu-
tão foi fundada em 2003 já nativo, panã/araticum, serigüela, tamarindo,
para apoiar extrativistas e acerola, abacaxi, manga e maracujá), pequi con-
agricultores familiares no gelado, óleo de pequi, polpa de pequi em conserva,
acesso a mercados cada vez rapadurinha, açúcar mascavo, mel, arroz, cachaça
mais exigentes e profissio- e farinha de mandioca.
nalizados. Sua história está
ligada a uma longa luta dos A Cooperjap e a Cooperativa Grande Sertão atuam
movimentos sociais e con- em parceira na comercialização da fava d’anta nos
tou com o apoio do Centro municípios de Japonvar, Montes Claros, Grã-Mo-
de Agricultura Alternativa gol, Ibiracatu, Januária e Rio Pardo de Minas.
do Norte de Minas (CAA),
entidade que desde 1986 Endereço:
presta assessoria em agroe- Rua Handerson, 400, Distrito Industrial,
cologia e desenvolvimento CEP 39400–000. Montes Claros, MG
sustentável às organizações
de agricultores daquela Telefones: (38) 3221-9465 e 4009-1513
região.
E-mail:
A cooperativa apoia a or- cooperativagrandesertao@gmail.com
ganização da produção e grandesertao@caa.org.br
oferece infraestrutura de
transporte, beneficiamento www.cooperativagrandesertao.com.br
e comercialização, envolven-
do mais de 1.500 famílias,

64 Grupos de Referência Grupos de Referência 65


Rede de Comercialização que comercializam a fava d’anta são São Do-
Solidária de Agricultores mingos, Mambaí, São João da Aliança, Formo-
Familiares e Extrativistas sa, Guarani de Goiás, Posse e Goiás Velho, no
do Cerrado — Empório estado de Goiás; além de Lassance, Santa Fé
do Cerrado de Minas, Jequitaí, Augusto de Lima, Corinto,
Buenopólis, Paracatu, Ibiaí e Olhos D’Água, em
Minas Gerais e Cocos e Jaborandi na Bahia.

A Rede conta com apoio da ONG CEDAC – Cen-


tro de Desenvolvimento Agroecológico do Cerrado.
O Empório do Cerrado é A rede tem trabalho pio-
uma articulação de mais de neiro de estudos e articu- Endereço:
1.400 famílias de pescado- lações para fortalecimento Rodovia BR 153, Km 4, Qd. GMA,
res, extrativistas, agriculto- da cadeia da fava d’anta e Chácara Retiro.
res familiares, assentados, agregação de valor, gerando CEP 74675–090, Goiânia, GO.
vazanteiros e guias turísticos um aumento significati-
organizados em 33 municí- vo da renda bruta com o Telefones:
pios dos estados de Goiás, extrativismo da faveira. (062) 3202-6041, 3202-7515, 3202-7552
Minas Gerais e Bahia, que
buscam desenvolver uma A COOPCERRADO (Coo- E-mail:
maior autonomia e susten- perativa Mista de agriculto- rede@emporiodocerrado.org.br
tabilidade em relação aos res familiares, extrativistas, comercial@emporiodocerrado.org.br
meios de produção, crédito, pescadores, vazanteiros e
agroindustrialização, co- guias turísticos do Cerrado) www.emporiodocerrado.org.br/pt-br/tesouros-do-
mercialização e assistência foi criada em 2001 como cerrado/faveira.asp
técnica, por meio da estru- instrumento principal de
turação de processos sociais, comercialização da rede.
produtivos e ecológicos
baseados na solidariedade e Os principais municí-
na valorização do Cerrado. pios de atuação da Rede

66 Grupos de Referência Grupos de Referência 67


Cooperativa dos
Produtores Rurais e
Catadores de Pequi de
Japonvar - COOPERJAP

A COOPERJAP foi criada


em 1998, envolvendo diver-
sas Associações de extrativistas e agricultores familiares de
Japonvar, no norte de Minas Gerais, município conhecido
como a “capital do pequi”.

Além da fava d’anta, a cooperativa comercializa os seguin-


tes produtos: pequi em conserva, óleo de pequi, farinha de
pequi, castanha de pequi e polpas de frutas nativas conge-
ladas.

A COOPERJAP envolve 30 organizações comunitárias, 250


famílias de extrativistas, contando com 210 cooperados, é
filiada a Rede de Comercialização Central do Cerrado, que
distribui os produtos por todo o país.

Endereço:
Rua Brasília, n° 257,
CEP 39335–000, Japonvar, MG.

Telefones: (38) 3231-9347, 3231- 9310, 3634-1462

E-mail: cooperjap@ig.com.br

www.cooperjap.com.br

68 Grupos de Referência Grupos de Referência 69


Ficha Técnica da Fava d'Anta

Família botânica: Fabaceae (leguminosas), sub- Sementes por fruto: 10 a 21


-família Caesalpinioideae
Usos: Na medicina caseira para trata-
Nome científico: Dimorpvhandra mollis e Dimor- mento de diversas enfermidades.
phandra gardneriana A infusão do fruto verde é usada
como anti-hemorrágico, e para
Nomes comuns: Favela, faveira, fava de arara, o tratamento de hemorroidas,
falso barbatimão varizes e hematomas. Da en-
trecasca, curtida em água fria,
Porte da árvore: Mediano (máximo 20 metros, produz-se chá usado externa-
normalmente menos) mente como cicatrizante e ou-
tras finalidades. O uso industrial
Áreas de ocorrência: Cerrado sentido restrito (cerra- se dá pela presença de princípios
do típico), campos sujos, cam- ativos nas favas, especialmente
pos limpos, cerradão e matas de bioflavonóides, dos quais se des-
encostas tacam a rutina e a quercetina.
A fava d’anta também é utili-
Distribuição da planta: ba, ce, df, go, ma, mg, mt, ms, pa, zada na indústria alimentícia
pe, pi, sp, to como aromatizante, espessante
e estabilizante. É usada também
Floração: Setembro a janeiro no paisagismo, na confecção de
caixas, de forros, de brinquedos,
Cor da flor: Amarelo-claro de compensados, de painéis, de
postes de cerca, assim como para
Frutificação Janeiro a agosto lenha e carvão

70 Ficha Técnica da Fava d'Anta Ficha Técnica da Fava d'Anta 71


Para Saber Mais...
http://www.naturezadosertao.com.br/natureza-medicinal/61-
fava-danta

Sobre o manejo, uso do podão para coleta e outros


http://www.youtube.com/watch?v=4dg-WCxtxig

A fava d’anta na Chapada do Araripe (Ceará)


www.youtube.com/watch?v=dfmb8VPCvzg

A fava d’anta em São Domingos (Goiás)


http://www.youtube.com/watch?v=pFRmsHCAers

72 Para Saber Mais... 73


Bibliografia
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74 Bibliografia Bibliografia 75
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Agricultores Familiares e Extrativistas do Cerrado: um novo protagonis- tação de Mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais. Programa de
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76 Bibliografia 77
BOAS PRÁTICAS
DE MANEJO PARA
O EXTRATIVISMO
SUSTENTÁVEL DA

Fava d’Anta
78 79
I

80

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