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Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 6
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8
UNIDADE I
O QUE É POLUIÇÃO?........................................................................................................................... 11
CAPÍTULO 1
SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS POLUENTES E SUAS FONTES................................................................ 11
UNIDADE II
O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL................................................... 17
CAPÍTULO 1
PARÂMETROS DE QUALIDADE DAS ÁGUAS............................................................................... 18
UNIDADE III
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE.................................................................... 30
CAPÍTULO 1
ATMOSFERA E POLUENTES ASSOCIADOS À EMISSÃO VEICULAR................................................ 30
CAPÍTULO 2
EFEITO ESTUFA E AQUECIMENTO GLOBAL................................................................................. 42
CAPÍTULO 3
CHUVA ÁCIDA........................................................................................................................ 50
CAPÍTULO 4
CFCS E A DESTRUIÇÃO DO OZÔNIO ESTRATOSFÉRICO............................................................ 54
UNIDADE IV
SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO............................... 60
CAPÍTULO 1
CARACTERÍSTICAS DAS SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES................................................... 60
CAPÍTULO 2
CLASSES DE STP...................................................................................................................... 65
UNIDADE V
POLUIÇÃO POR METAIS PESADOS......................................................................................................... 76
CAPÍTULO 1
O CASO DO MERCÚRIO......................................................................................................... 76
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 80
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
6
Atenção
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
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Introdução
Esta disciplina apresenta os principais temas relacionados com Poluição Ambiental. São
cinco Unidade (O que é Poluição?, O Impacto das Substâncias Químicas na Qualidade
Ambiental, Poluentes Gasosos e seus Efeitos, Substâncias Tóxicas Persistentes e
Poluição por Metais Pesados: O caso do Mercúrio) que abordam assuntos de grande
importância mundial e que fazem parte das agendas ambientais de todos os países.
A maneira como a nossa sociedade lida ou lidará com essas questões irá determinar a
qualidade do nosso futuro como habitantes de um planeta único, finito e frágil.
8
urbano e industrial estavam sendo descartados inadequadamente e que o nosso ar estava
se tornando irrespirável (JARDIM, 2001).
A partir dos anos 80, e até os dias de hoje, abraçada pela mídia, a questão ambiental
passa a ser um tema de discussão em todos os segmentos da sociedade. Muito embora a
democratização da discussão sobre as questões ambientais tenha sido um dos principais
fatores para um maior conhecimento dos processos de degradação da nossa qualidade
de vida e para o aprimoramento de uma legislação pertinente, os problemas de poluição
ambiental ainda são cercados de muita desinformação (ou contra-informação), o que
muitas vezes dificulta a escolha da melhor opção preventiva ou mesmo paliativa para o
problema (JARDIM, 2001).
Um dos casos de contaminação ambiental que obteve maior destaque na mídia brasileira
foi o da antiga fábrica da Shell em Paulínia, SP. O problema começou na década de
90, quando foi descoberto que o solo da fábrica que produzia pesticidas apresentava
altas concentrações de Drins (aldrin, dieldrin e endrin) levando a contaminação ao
lençol freático que abastece chácaras do bairro Recanto dos Pássaros. Em 2002, por
determinação da Justiça, a Shell começou a comprar os imóveis da área contaminada
para que os moradores deixassem o local.
Certamente, dentro de um assunto tão complexo, inúmeras perguntas ainda estão sem
resposta. Por exemplo, ainda não conhecemos com exatidão a magnitude do efeito
estufa e, por conseguinte, todas as suas consequências. Também não podemos prever
em detalhes a toxicidade ou o poder mutagênico de todas as novas moléculas que são
produzidas. No entanto, é importante que, como gestores ambientais, em qualquer que
seja a situação, devemos sempre agir baseados no maior número de fatos e evidências
científicas.
Objetivos
»» Conhecer os poluentes ambientais e avaliar suas interações com o meio
ambiente.
CAPÍTULO 1
Substâncias químicas poluentes e suas
fontes
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UNIDADE I │ O QUE É POLUIÇÃO?
Seguindo o mesmo raciocínio, não existe “ar puro”. Além do fato de a atmosfera ser uma
mistura de vários gases, ela se encontra, frequentemente, ‘contaminada’ com ozônio
(produzido pelos relâmpagos e outros fenômenos naturais) e por compostos orgânicos
voláteis produzidos pelos animais e pelas plantas. Assim, quando falamos de pureza
ambiental estamos nos referindo ao ar ou à água que sejam agradáveis de consumir
e que estejam livres de produtos químicos ou micro-organismos que possam causar
doenças.
Fontes de poluição
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O QUE É POLUIÇÃO? │ UNIDADE I
Manter a qualidade das nossas parcas reservas de água (além de não desperdiçá-las) é
uma questão urgente, se quisermos garantir a nossa sobrevivência neste Planeta. Em
contrapartida, ao nos utilizarmos da água, sempre introduzimos nela algum tipo de
poluente, algumas vezes em pequenas quantidades, outras em quantidades enormes.
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UNIDADE I │ O QUE É POLUIÇÃO?
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O QUE É POLUIÇÃO? │ UNIDADE I
Conclusões
Como quer que definamos poluição, encarando-a como proveniente das atividades
humanas ou da própria natureza, sempre haverá fontes de poluição ambiental.
Fonte: Azevedo, 1999. Química Nova na Escola. Poluição e Tratamento de Água no 10.
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O IMPACTO DAS
SUBSTÂNCIAS
QUÍMICAS NA UNIDADE II
QUALIDADE
AMBIENTAL
A efetiva poluição da água possui um histórico recente e de grande impacto sobre o
meio ambiente. Foi a partir de 1800 que os países europeus começaram a se utilizar de
sistemas de esgotos. Poucos anos após, devido ao consumo de água sem o tratamento
adequado, ocorreram graves epidemias como a cólera e a febre tifoide – algo realmente
catastrófico. A Revolução Industrial, que teve seu início na segunda metade do Século
XIX, propiciou, em muito, o aumento da poluição das águas. De lá para cá, as atitudes
humanas não mudaram muito. Até hoje, indústrias, bem como nossas residências,
continuam lançando, nas águas e no ar, seus rejeitos.
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CAPÍTULO 1
Parâmetros de qualidade das águas
A concentração mínima necessária para manter a vida aquática varia entre as espécies.
Existem criaturas aquáticas, como os peixes, que necessitam de maiores quantidades
de oxigênio dissolvido para sua sobrevivência, por exemplo, algumas espécies de peixes
não sobrevivem numa concentração de oxigênio dissolvido inferior a 0,004g por 1000
g de solução (4 ppm).
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O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL │ UNIDADE II
A DBO média para uma água não poluída é de 0,7mg de O2/ L de água (menos que a
solubilidade do O2 de 8,7 mg/L a 25oC)
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UNIDADE II │ O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL
Uma determinação mais rápida da DEMANDA DE OXIGÊNIO pode ser feita pela
medida da DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO – DQO. Nesse método o íon dicromato
(Cr2O72–) é um agente oxidante forte. É esse agente e não o O2 que é usado para oxidar
a matéria orgânica, por meio da reação mostrada a seguir:
Alumínio
Em áreas urbanas, a concentração de alumínio na poeira das ruas varia de 3,7 a 11,6
µg/kg. No ar, a concentração varia de 0,5 ng/m³ sobre a Antártica a mais de 1000 ng/
m³ em áreas industrializadas. A principal via de exposição humana não ocupacional
é pela ingestão de alimentos e água. A toxicidade aguda por alumínio metálico e seus
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O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL │ UNIDADE II
Bário
O bário pode ocorrer naturalmente na água, na forma de carbonatos em algumas fontes
minerais. Decorre, principalmente, das atividades industriais e da extração da bauxita.
Não possui efeito cumulativo, sendo que a dose fatal para o homem é considerada de
550 a 600 mg. Provoca efeitos no coração, constrição dos vasos sanguíneos, elevando a
pressão arterial e efeitos sobre o sistema nervoso. O padrão de potabilidade é 1,0 mg/L
(Portaria no 1469). Os sais de bário são utilizados, industrialmente, na elaboração de
cores, fogos de artifício, fabricação de vidro, inseticidas etc. Em geral, ocorre nas águas
naturais em concentrações muito baixas, de 0,7 a 900 µg/L.
Cádmio
O cádmio se apresenta nas águas naturais devido às descargas de efluentes industriais
(galvanoplastias, produção de pigmentos, soldas, equipamentos eletrônicos,
lubrificantes e acessórios fotográficos), do seu uso como inseticidas e da queima de
combustíveis fósseis. Ele apresenta efeito crônico, pois concentra-se nos rins, no
fígado, no pâncreas e na tireoide, e efeito agudo, sendo que uma única dose de 9,0
gramas pode levar à morte. O cádmio não apresenta nenhuma qualidade, pelo menos
conhecida até o presente, que o torne benéfico ou essencial para os seres vivos. Estudos
feitos com animais demonstram a possibilidade de causar anemia, retardamento de
crescimento e morte. O padrão de potabilidade é fixado pela Portaria no1469 em 0,005
mg/L. Está presente em águas doces em concentrações traços, geralmente inferiores a
1 µg/L e, através da bioacumulação, pode entrar na cadeia alimentar. O cádmio pode
causar disfunção renal, hipertensão, arteriosclerose, inibição no crescimento, doenças
crônicas em idosos e câncer.
Chumbo
O chumbo está presente no ar, no tabaco, nas bebidas e nos alimentos, nestes últimos,
naturalmente, por contaminação e na embalagem. Está presente na água devido às
descargas de efluentes industriais (efluentes das indústrias de baterias, uso indevido
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UNIDADE II │ O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL
Cloreto
O cloreto é o ânion Cl – que se apresenta nas águas subterrâneas através de solos e
rochas. Nas águas superficiais são fontes importantes as descargas de esgotos sanitários,
sendo que cada pessoa expele através da urina cerca 6 g de cloreto por dia, o que faz
com que os esgotos apresentem concentrações de cloreto que ultrapassam a 15 mg/L.
Diversos são os efluentes industriais que apresentam concentrações de cloreto elevadas
como os da indústria do petróleo, farmacêuticas, curtumes etc. Nas águas tratadas, a
adição de cloro puro ou em solução eleva o nível de cloreto, resultante das reações de
dissociação do cloro na água. Para as águas de abastecimento público, a concentração
de cloreto constitui-se em padrão de potabilidade, segundo a Portaria no 1469 do
Ministério da Saúde. O cloreto provoca sabor “salgado” na água, sendo o cloreto de
sódio o mais restritivo por provocar sabor em concentrações da ordem de 250 mg/L,
valor este que é tomado como padrão de potabilidade. No caso do cloreto de cálcio, o
sabor só é perceptível em concentrações de cloreto superior a 1000 mg/L. Embora haja
populações árabes adaptadas no uso de águas, contendo 2.000 mg/L de cloreto, são
conhecidos também seus efeitos laxativos.
Cobre
O cobre ocorre, geralmente, nas águas, naturalmente, em concentrações inferiores a
20 µg/L. Quando em concentrações elevadas, é prejudicial à saúde e confere sabor às
águas. É necessária uma concentração de 20 mg/L de cobre ou um teor total de 100
mg/L por dia na água para se produzirem intoxicações humanas com lesões no fígado.
No entanto, concentrações de 5 mg/L tornam a água absolutamente impalatável, devido
ao gosto produzido. Alguns cereais apresentam concentrações variáveis de cobre,
é o caso do trigo (190-800 mg/kg), da aveia (40-200 mg/kg) e outros. O cobre, em
pequenas quantidades, é benéfico ao organismo humano, catalisando a assimilação do
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O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL │ UNIDADE II
Cromo
As concentrações de cromo em água doce são muito baixas, normalmente, inferiores a 1
µg/L. É comumente utilizado em aplicações industriais e domésticas, como na produção
de alumínio anodizado, aço inoxidável, tintas, pigmentos, explosivos, papel, fotografia.
Na forma trivalente, o cromo é essencial ao metabolismo humano e sua carência
causa doenças. Na forma hexavalente é tóxico e cancerígeno. Os limites máximos são
estabelecidos, basicamente, em função do cromo hexavalente.
Fenóis
Os fenóis e seus derivados aparecem nas águas naturais através das descargas de
efluentes industriais. Indústrias de processamento da borracha, de colas e adesivos,
de resinas impregnantes, de componentes elétricos (plásticos) e as siderúrgicas, entre
outras, são responsáveis pela presença de fenóis nas águas naturais. Os fenóis são
tóxicos ao homem, aos organismos aquáticos e aos microrganismos que tomam parte
dos sistemas de tratamento de esgotos sanitários e de efluentes industriais. No Estado
de São Paulo, existem muitas indústrias contendo efluentes fenólicos ligados à rede
pública de coleta de esgotos. Para isso, devem sofrer tratamento na própria unidade
industrial de modo a reduzir o índice de fenóis para abaixo de 5,0 mg/L (Artigo 19 – A
do Decreto Estadual n.º 8468/76). Nas águas naturais, os padrões para os compostos
fenólicos são bastante restritivos na Legislação Federal. Nas águas tratadas, os fenóis
reagem com o cloro livre formando os clorofenóis que produzem sabor e odor na água.
Por esse motivo, os fenóis constituem-se em padrão de potabilidade, sendo imposto o
limite máximo bastante restritivo de 0,001 mg/L pela Portaria no 1469 do Ministério da
Saúde.
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UNIDADE II │ O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL
Ferro total
O ferro aparece principalmente em águas subterrâneas devido à dissolução do minério
pelo gás carbônico da água, conforme a reação:
Fe + CO2 + ½ O2 FeCO3
Fluoreto
O flúor é tão reativo que nunca é encontrado em sua forma elementar na natureza,
sendo, normalmente, encontrado na sua forma combinada como fluoreto. Traços de
fluoreto são encontrados em águas naturais e concentrações elevadas e geralmente,
estão associadas com fontes subterrâneas. A maior concentração de flúor registrada
em águas naturais é de 2.800 mg/L, no Quênia. Alguns efluentes industriais também
descarregam fluoreto nas águas naturais. São os casos das indústrias de vidro e de
fios condutores de eletricidade. No ar, a presença de fluoreto deve-se principalmente
a emissões industriais e sua concentração varia com o tipo de atividade. Estima-se
um valor de exposição abaixo de 1µg/L, pouco significativo em relação à quantidade
ingerida através da água e de alimentos. Todos os alimentos possuem ao menos traços
de fluoreto. Os vegetais possuem concentrações maiores principalmente devido à
absorção da água e do solo. Alguns alimentos tais como peixes, certos vegetais e chá,
possuem altas concentrações de fluoreto. O uso da água fluoretada na preparação de
alimentos pode dobrar a quantidade de fluoreto presente. Estima-se uma quantidade
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O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL │ UNIDADE II
diária ingerida de 0,2 a 3,1 mg para adultos e 0,5 mg para crianças de 1 a 3 anos. Outras
fontes de fluoreto são pastas de dente, gomas de mascar, vitaminas e remédios. O
fluoreto ingerido através da água é quase completamente absorvido pelo corpo humano,
enquanto que o flúor presente nos alimentos não é; em alguns casos, como através de
peixes e outras carnes, chega apenas a 25%. Uma vez absorvido, o fluoreto é distribuído
rapidamente pelo corpo humano, grande parte é retida nos ossos, enquanto que uma
pequena parte é retida nos dentes. O fluoreto pode ser excretado pela urina, dependendo
de fatores como a saúde da pessoa e seu grau de exposição. O fluoreto é adicionado às
águas de abastecimento público para lhes conferir proteção à cárie dentária. O fluoreto
reduz a solubilidade da parte mineralizada do dente, tornando-a mais resistente à
ação de bactérias, e inibe processos enzimáticos que dissolvem a substância orgânica
protéica e o material calcificante do dente. Por outro lado, acima de certas dosagens
o fluoreto provoca mosqueamento do esmalte dos dentes (fluorose dentária). Alguns
odontólogos sanitaristas, contrários à fluoretação em águas de abastecimento, alertam
para a possibilidade de ocorrência de descalcificação de ossos de idosos, a chamada
fluorose óssea.
Fósforo total
O fósforo aparece em águas naturais devido, principalmente, às descargas de esgotos
sanitários. Nesses, os detergentes superfosfatados, empregados em larga escala
domesticamente, constituem a principal fonte, além da própria matéria fecal, que é
rica em proteínas. Alguns efluentes industriais, como os de indústrias de fertilizantes,
pesticidas, químicas em geral, conservas alimentícias, abatedouros, frigoríficos e
laticínios, apresentam fósforo em quantidades excessivas. As águas drenadas em
áreas agrícolas e urbanas também podem provocar a presença excessiva de fósforo em
águas naturais. O fósforo pode se apresentar nas águas sob três formas diferentes. Os
fosfatos orgânicos são a forma em que o fósforo compõe moléculas orgânicas, como
a de um detergente, por exemplo. Os ortofosfatos, por outro lado, são representados
pelos radicais, que se combinam com cátions formando sais inorgânicos nas águas.
Os polifosfatos ou fosfatos condensados são polímeros de ortofosfatos. No entanto,
essa terceira forma não é muito importante nos estudos de controle de qualidade
das águas, porque os polifosfatos sofrem hidrólise, convertendo-se rapidamente em
ortofosfatos nas águas naturais. Assim como o nitrogênio, o fósforo constitui-se em
um dos principais nutrientes para os processos biológicos, ou seja, é um dos chamados
macronutrientes, por ser exigido também em grandes quantidades pelas células.
Nessa qualidade, torna-se parâmetro imprescindível em programas de caracterização
de efluentes industriais que se pretendem tratar por processo biológico. Os esgotos
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UNIDADE II │ O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL
Manganês
O comportamento do manganês nas águas é muito semelhante ao do ferro em seus
aspectos os mais diversos, sendo que a sua ocorrência é mais rara. A concentração
de manganês menor que 0,05 mg/L, geralmente, é aceitável em mananciais, devido
ao fato de não ocorrerem, nessa faixa de concentração, manifestações de manchas
negras ou depósitos de seu óxido nos sistemas de abastecimento de água. Raramente
atinge concentrações de 1,0 mg/L em águas superficiais naturais e, normalmente, está
presente em quantidades de 0,2 mg/L ou menos. É muito usado na indústria do aço, na
fabricação de ligas metálicas e baterias e na indústria química em tintas, vernizes, fogos
de artifícios e fertilizantes, entre outros.
Níquel
O níquel causa morte em peixes por asfixia. Concentrações de níquel em águas superficiais
naturais podem chegar a aproximadamente 0,1 mg/L, embora concentrações de mais
de 11,0 mg/L possam ser encontradas, principalmente em áreas de mineração. A maior
contribuição para o meio ambiente, pela atividade humana, é a queima de combustíveis
fósseis. Como contribuintes principais temos também os processos de mineração
e fundição do metal, fusão e modelagem de ligas, indústrias de eletrodeposição e,
como fontes secundárias, temos fabricação de alimentos, artigos de panificadoras,
refrigerantes e sorvetes aromatizados. Doses elevadas de níquel podem causar
dermatites nos indivíduos mais sensíveis e afetar nervos cardíacos e respiratórios.
Óleos e graxas
Os óleos e as graxas são substâncias orgânicas de origem mineral, vegetal ou animal,
solúveis em hexano. Essas substâncias, geralmente, são hidrocarbonetos, gorduras,
ésteres, entre outros. São raramente encontrados em águas naturais, normalmente,
oriundos de despejos e resíduos industriais, esgotos domésticos, efluentes de oficinas
mecânicas, postos de gasolina, estradas e vias públicas. Os despejos de origem industrial
são os que mais contribuem para o aumento de matérias graxas nos corpos d’água.
Entre os despejos podemos citar os de refinarias, frigoríficos, saboarias etc. A presença
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O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL │ UNIDADE II
de material graxo nos corpos d’água, além de acarretar problemas de origem estética,
diminui a área de contato entre a superfície da água e o ar atmosférico, impedindo,
dessa maneira, a transferência do oxigênio da atmosfera para a água. Os óleos e as
graxas em seu processo de decomposição reduzem o oxigênio dissolvido, elevando a
DBO5,20 e a DQO, causando alteração no ecossistema aquático. Na legislação brasileira,
não existe limite estabelecido para esse parâmetro; a recomendação é de que os óleos e
as graxas sejam virtualmente ausentes.
Potencial Hidrogeniônico – pH
Por influir em diversos equilíbrios químicos que ocorrem naturalmente ou em processos
unitários de tratamento de águas, o pH é um parâmetro importante em muitos estudos
no campo do saneamento ambiental. A influência do pH sobre os ecossistemas aquáticos
naturais se dá diretamente, devido a seus efeitos sobre a fisiologia das diversas espécies.
Também o efeito indireto é muito importante, podendo determinadas condições de pH
contribuírem para a precipitação de elementos químicos tóxicos como metais pesados;
outras condições podem exercer efeitos sobre as solubilidades de nutrientes. Dessa
forma, as restrições de faixas de pH são estabelecidas para as diversas classes de águas
naturais de acordo com a Legislação Federal. Os critérios de proteção à vida aquática
fixam o pH entre 6 e 9.
Potássio
Potássio é encontrado em concentrações baixas nas águas naturais, já que rochas que
contenham são relativamente resistentes à ações do tempo. Entretanto, sais de potássio
são largamente usados na indústria e em fertilizantes para agricultura e entram nas
águas doces com descargas industriais e lixiviação das terras agrícolas. Potássio é
usualmente encontrado na forma iônica e os sais são altamente solúveis. Ele é pronto
para ser incorporado em estruturas minerais e acumulado pela biota aquática, pois é
um elemento nutricional essencial. Concentrações em águas naturais são usualmente
menores que 10 mg/L. Concentrações elevadas, da ordem de grandeza de 100 e 25.000
mg/L, podem indicar a ocorrência de fontes quentes e salmouras, respectivamente.
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UNIDADE II │ O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL
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O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL │ UNIDADE II
A amônia é um tóxico bastante restritivo à vida dos peixes, sendo que muitas espécies
não suportam concentrações acima de 5 mg/L. Além disso, como visto anteriormente,
a amônia provoca consumo de oxigênio dissolvido das águas naturais ao ser oxidada
biologicamente, a chamada DBO de segundo estágio. Por esses motivos, a concentração
de nitrogênio amoniacal é importante parâmetro de classificação das águas naturais e,
normalmente, utilizado na constituição de índices de qualidade das águas. Os nitratos
são tóxicos, causando uma doença chamada metahemoglobinemia infantil, que é letal
para crianças (o nitrato reduz-se a nitrito na corrente sanguínea, competindo com o
oxigênio livre, tornando o sangue azul). Por isso, o nitrato é padrão de potabilidade,
sendo 10 mg/L o valor máximo permitido pela Portaria no 2.914.
Zinco
A presença de zinco é comum nas águas naturais, excedendo em um levantamento
efetuado nos EUA a 20 mg/L em 95 dos 135 mananciais pesquisados. O zinco é um
elemento essencial para o crescimento, porém, em concentrações acima de 5,0 mg/L,
confere sabor à água e uma certa opalescência a águas alcalinas. Os efeitos tóxicos
do zinco sobre os peixes são muito conhecidos, assim como sobre as algas. A ação
desse íon metálico sobre o sistema respiratório dos peixes é semelhante à do níquel,
anteriormente citada. Em águas superficiais, normalmente, as concentrações estão na
faixa de <0,001 a 0,10 mg/L. É largamente utilizado na indústria e pode entrar no meio
ambiente através de processos naturais e antropogênicos, entre os quais se destacam a
produção de zinco primário, combustão de madeira, incineração de resíduos, produção
de ferro e aço, efluentes domésticos. A água com alta concentração de zinco tem uma
aparência leitosa e produz um sabor metálico ou adstringente quando aquecida. O
zinco, por ser um elemento essencial para o ser humano, só se torna prejudicial à saúde
quando ingerido em concentrações muito altas, o que é extremamente raro. Nesse caso,
pode acumular-se em outros tecidos do organismo humano; isso só ocorre quando as
taxas de ingestão diária são elevadas.
Fonte: Girard, J.E. Princípios de Química Ambiental. Tradução da segunda edição norte-americana.
Editora LTC, 2013
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POLUENTES
GASOSOS E UNIDADE III
SEUS EFEITOS NO
MEIO AMBIENTE
CAPÍTULO 1
Atmosfera e poluentes associados à
emissão veicular
A atmosfera consiste em uma camada fina de mistura de gases que cobrem a superfície
da Terra. Excluindo os vapores de água, o ar atmosférico é composto de 78,10% (em
volume) de nitrogênio (N2), 21,0% de oxigênio (O2), 0,9% de argônio (Ar) e 0,03%,
de dióxido de carbono (CO2). Normalmente, o ar contém 1,0-3,0% de vapor de água
em volume. Adicionalmente, contém uma larga variedade de gases ao nível de traços
(abaixo de 0,002%), que inclui o neônio (Ne), hélio (He), metano (CH2), criptônio (Kr),
óxido nitroso (N2O), xenônio (Xe), dióxido de enxofre (SO2), ozônio (O3), dióxido de
nitrogênio (NO2), amônia (NH2) e monóxido de carbono (CO).
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POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III
Destaque para a Camada de Ozônio que é uma fina faixa gasosa, de 15 a 45 km de altitude (estratosfera).
Poluentes atmosféricos
Um poluente atmosférico pode ser qualquer forma de matéria ou energia com
intensidade e em quantidade, concentração, tempo ou características que tornem ou
possam tornar o ar impróprio ou nocivo à saúde; inconveniente ao bem-estar público;
danoso aos materiais, à fauna e à flora; e prejudicial à segurança, ao uso e ao gozo da
propriedade e às atividades normais da comunidade (CONAMA no 3/1990).
Com relação a sua origem, os poluentes podem ser classificados em Poluentes Primários
e Poluentes Secundários. Os Primários são aqueles emitidos diretamente pelas fontes de
emissão, enquanto os secundários são aqueles formados na atmosfera como o resultado
de reações químicas (como hidrólise, oxidação ou reações fotoquímicas) envolvendo os
poluentes primários.
O receptor é tudo que pode ser adversamente afetado pela poluição do ar (pessoas,
animais, plantas e materiais).
31
UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE
Monóxido de Carbono – CO
Gás incolor e inodoro que é emitido por fontes naturais e antropogênicas. As fontes
antropogênicas formam CO a partir de combustão incompleta de combustíveis com
carbono em: veículos automotores, instalações industriais, plantas termelétricas
e incineradores. O tempo de residência, a turbulência na câmara de combustão, a
temperatura da chama e o excesso de oxigênio afetam a formação de CO. A conversão de
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POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III
CO para CO2 na atmosfera é lenta e leva de dois a cinco meses. Os veículos automotores
são os principais contribuidores para as emissões antropogênicas de CO, sendo que os
carros com motores mais modernos tiveram os níveis de emissão bastante diminuídos
devido às modificações nos sistemas de operação e à utilização de sistemas catalíticos.
Os níveis atmosféricos de CO nas áreas urbanas mostram uma correlação positiva com
a densidade de tráfego veicular e uma correlação negativa com a velocidade dos ventos.
Áreas urbanas podem apresentar níveis médios de CO, em ordem de ppm, muitas vezes
maior do que em áreas remotas (GIRARD, 2013).
CHAMA
N2 + O 2 2 NO
Em torno de 90% das emissões de óxidos de nitrogênio são na forma de NO. Esse
óxido no ar é, gradualmente, oxidado para formar dióxido de nitrogênio, NO2, em um
período de minutos ou horas, dependendo da concentração dos gases poluentes. É
mais comum, coletivamente, NO e NO2 serem denominados de NOx. Na atmosfera,
esses óxidos podem estar envolvidos em uma série de reações (na presença de radiação
ultravioleta) que produz smog fotoquímico, reduzindo a visibilidade. A cor amarela
na atmosfera de uma cidade envolvida pelo smog deve-se à presença do dióxido de
nitrogênio, uma vez que esse gás absorve um pouco de luz visível próximo do limite do
violeta e, consequentemente, a luz solar transmitida através da névoa, parece amarela.
33
UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE
Na camada mais baixa da atmosfera (troposfera) NO2 forma ozônio ao reagir com os
HC (hidrocarbonetos) (BAIRD; CANN, 2002).
Hidrocarbonetos – HC
Os hidrocarbonetos são definidos quimicamente como compostos constituídos de
carbono e hidrogênio. Nos estudos de qualidade do ar, contudo, o termo hidrocarboneto
costuma ser estendido para incluir uma variedade de outros compostos orgânicos
voláteis (COV ou em inglês VOC) como os álcoois e os aldeídos. Os COV mais reativos no
ar urbano são os hidrocarbonetos que contêm ligação dupla, C=C, dado que eles podem
se adicionar aos radicais livres. Outros hidrocarbonetos também estão presentes e
podem reagir, mas sua velocidade de reação é lenta. A maioria dos HC não é diretamente
prejudicial à saúde nas concentrações encontradas no ar ambiente. Contudo, em reações
químicas na troposfera participam da formação do NO2 e do ozônio, que são perigosos
para o meio ambiente e para a saúde. Entre os vários HC, o metano (CH4) não participa
dessas reações. Os hidrocarbonetos restantes, ditos hidrocarbonetos não metânicos
(HCNM), são reativos e formam poluentes secundários.
O metano constitui 5 – 15% das emissões de HC dos veículos não equipados com
conversores catalíticos, e sobe para 40% das emissões nos veículos equipados com
conversor catalítico. Isso ocorre porque os catalisadores são menos efetivos na
oxidação do metano do que os outros HC. Na presença de radiação ultravioleta, os HC
(não metânicos) e os NOx reagem com o oxigênio para formar ozônio na troposfera. O
tempo de reação varia de mais ou menos uma hora até diversos dias, dependendo da
reatividade do HC (não metânicos) (ONURSAL et al. 1997).
34
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III
Os aldeídos e o 1,3 butadieno não estão presentes na gasolina, diesel ou etanol, mas
estão presentes nas emissões do escapamento como produtos de combustão parcial.
Os aldeídos são também formados na atmosfera a partir de outras fontes móveis de
poluentes e têm uma alta reatividade fotoquímica para formação de ozônio. Os principais
tipos de aldeídos formados incluem o formaldeído e o acetaldeído. A combustão do
etanol favorece as emissões de acetaldeído. Já a combustão do metanol favorece as
emissões de formaldeído. Os poliaromáticos são emitidos a altas velocidades e os
veículos a diesel emitem mais do que os a gasolina (ONURSAL et al. 1997).
Ozônio – O3
O ozônio (O3) é uma molécula formada por três átomos de oxigênio. É um gás
incolor que ocorre em duas camadas distintas da atmosfera. A maioria do oxigênio
estratosférico existe como diatômico (O2) em vez de atômico (O). Como a concentração
de moléculas de O2 é relativamente grande, e a concentração de oxigênio atômico é
pequena, o destino mais provável dos átomos de oxigênio estratosférico, criados pela
decomposição fotoquímica do O2 e sua colisão com moléculas de oxigênio diatômico
intactas e não dissociadas, resultando, assim, na produção de ozônio:
0 + 02 03 + calor
oxigênio atômico oxigênio diatômico ozônio
35
UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE
Na camada mais interna (troposfera), o ozônio ao nível do solo é formado pela reação
dos COV e NOx com oxigênio ambiente em presença de luz solar e altas temperaturas.
O ozônio ao nível do solo é o maior constituinte do smog nas áreas urbanas e os
veículos automotores são as principais fontes antropogênicas de seus precursores.
Suas concentrações dependem da concentração relativa e absoluta de seus percussores
e da intensidade da radiação solar, que exibe variações diurnas e sasonais. As
inversões térmicas aumentam a concentração desse ozônio (ONURSAL et al. 1997).
O SO2 e o SO3 reagem com a umidade do ar para formar ácido sulfuroso (H2SO3) e
ácido sulfúrico (H2SO4), que podem ser transportados pelos ventos por centenas de
quilômetros antes de caírem na terra na forma de chuva ácida. Sulfatos também podem
ser produzidos através da reação desses compostos de enxofre com metais presentes
nos materiais particulados (ONURSAL et al. 1997).
Material Particulado – MP
São partículas finas de sólidos ou líquidos que se encontram suspensas em uma dada
massa de ar e que não são todas do mesmo tamanho, forma ou composição química
(BAIRD; CANN, 2011).
36
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III
apresentasse essa forma. De fato, o diâmetro das partículas é sua propriedade mais
relevante. Qualitativamente, partículas individuais são classificadas como grossas
e finas, dependendo de seu diâmetro ser maior ou menor que 2,5 μm3 (cerca de 100
milhões de partículas de 2,5 μm seriam necessárias para recobrir a superfície de uma
pequena moeda) (BAIRD; CANN, 2011).
37
UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE
38
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III
Como esperado, os principais efeitos dos poluentes do ar sobre a saúde humana ocorrem
nos pulmões. Por exemplo, embora a poluição do ar possa não causar asma, os asmáticos
sofrem as piores crises quando aumentam as concentrações de SO2 , O3 e MP no ar que
respiram (BAIRD; CANN, 2011).
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UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE
Padrões de qualidade do ar
São padrões de qualidade do ar as concentrações de poluentes atmosféricos que, se
ultrapassadas, poderão afetar a saúde, a segurança e o bem-estar da população, bem
40
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III
como ocasionar danos à flora e à fauna, aos materiais e ao meio ambiente em geral
(CONAMA no 3/1990).
41
CAPÍTULO 2
Efeito estufa e aquecimento global
As estufas agrícolas são caracterizadas por estruturas recobertas por painéis de vidro
transparente muito utilizadas nos países de inverno rigoroso para que, durante os
períodos de baixas temperaturas, a luz e o calor do sol possam penetrar no interior
e aquecer o ar das plantações de legumes e plantas ornamentais. Essa energia fica
aprisionada e a temperatura da estufa pode ser regulada através de aberturas adequadas.
Portanto, as chamadas estufas funcionam, basicamente, evitando que a circulação do ar
resfrie o ambiente. Nessas estufas, a retenção do calor e, consequente, o aquecimento
do ambiente é resultado de um bloqueio físico, que impede o escape do ar quente.
42
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III
Dióxido de carbono
O dióxido de carbono tem sido apontado como o grande vilão da exacerbação do efeito
estufa, já que sua presença na atmosfera decorre, em grande parte, de atividades
humanas. Na atmosfera atual, o teor de CO2 oscila em torno de 381 mL/m3, com uma
tendência de crescimento que teve seu início no final do século XVIII, em decorrência
do aumento no uso de combustíveis fósseis.
43
UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE
Metano
Este hidrocarboneto, o gás-estufa mais importante depois do CO2, pode advir de processos
naturais ou antrópicos. Geralmente tem origem em depósitos ou em processos de extração
e utilização de combustíveis fósseis ou na decomposição anaeróbica de substâncias
orgânicas, principalmente celulose. Seu teor atmosférico atual é superior a 1,7 mL/m3.
Há cento e dez anos, ele era de 0,9 mL/m3. Como o tempo médio de residência do CH4 na
atmosfera é razoavelmente curto (cerca de dez anos), a estabilização do seu teor requer
diminuição de somente 5% na sua emissão. Estima-se que essa emissão atinja um total de
pelo menos 515 milhões de toneladas por ano. A absorção de radiação infravermelha pelo
metano ocorre em uma banda de comprimento de onda ao redor de 7 mm.
44
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III
Todos os países serão afetados, mas os mais vulneráveis são os países em desenvolvimento
e suas populações, pois sofrerão os impactos antes e em maior intensidade. A seguir,
apresenta-se um mapa mundial com destaque para os eventos globais já provavelmente
relacionados com as mudanças climáticas.
45
UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE
Sugestão de filme:
O Protocolo de Kyoto
O protocolo é o primeiro Tratado Global sobre ambiente que tem o poder legal
de estabelecer um limite diferenciado para a emissão de gases-estufa por países
industrializados. É um documento político com esqueleto científico, mas os cientistas
dizem que o efeito obtido pela redução total é insuficiente para estabilizar o clima.
Como surgiu?
46
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III
As medições são geralmente feitas a partir de 1990. Cada país tem de informar,
anualmente, ao secretariado da convenção quais são as emissões e como caminha seu
plano.
Além das medidas tomadas domesticamente, existem outras formas. As duas primeiras
envolvem trabalhar com outros países para reduzir suas emissões. O raciocínio por trás
disso é que a atmosfera não se importa em que país essas reduções se originam.
Como um tratado legal, há penalidades. Os governos que não atingirem sua meta
terão de comparecer perante uma conferência das partes e prestar contas. Vistos como
descuidados, podem ser excluídos dos acordos comerciais ligados ao Protocolo. Outra
penalidade é assumir uma meta multiplicada por 1,3 no segundo período.
A primeira grande questão é o futuro sem os EUA. Mesmo que todas as metas sejam
atingidas, a redução será inferior à taxa necessária, dizem os cientistas. Mas Kyoto sempre
esperou ser apenas um primeiro passo. Oferece um plano e um método para reduções
posteriores (Fonte: <http://www.gabeira.com.br/noticias/noticia.asp?id=462>).
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UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE
A iniciativa, para ser aceita, tem de ser aprovada pelo comitê executivo do MDL. As
propostas deverão ter como principal objetivo a substituição do uso de energia mais
poluente (principalmente combustíveis fósseis) ou a diminuição da emissão do carbono
da atmosfera por meio de plantação de árvores.
Em busca do ar limpo
Seis passos para entender como funciona o mercado de carbono
O tratado de Kyoto obriga os países desenvolvidos a reduzir as emissões de gás carbônico. Liberado nos processos de produção
1
industrial e na queima de combustíveis fósseis, o gás é um dos causadores do aquecimento do planeta.
Entretanto, para reduzir as emissões de carbono, os países desenvolvidos teriam de abrir mão de sua atividade indústrial – com
2
prejuízos para a economia e para a geração de empregos.
Para evitar um colapso econômico, o acordo de kyoto permite que os países desenvolvidos continuem poluindo, desde que
3
compensem essa poluição. Isso é possível por meio da aquisição de “créditos de carbono”.
Quem vende os créditos de carbono são empresas de países em desenvolvimento – em tese, os que poluem menos. Elas ganham
4
esses créditos a partir de iniciativas que retiram carbono da atmosfera.
Na contabilidade de Kyoto, quem compra esses créditos está automaticamente reduzindo as emissões de gás carbônico. O tamanho
5
da redução é equivalente à quantidade de carbono adquirida.
No final, ganham todos. Os países desenvolvidos, que seguem funcionando normalmente. Os países em desenvolvimento, que
6 ganham dinheiro com os projetos ambientais.
E o meio ambiente.
Um projeto ambiental precisa atender a diversas exigências até receber o aval para
comercializar títulos de carbono. Uma dessas exigências é a da “mensurabilidade”:
para ter créditos na mão, uma empresa precisa ser capaz de medir o volume de gás que
é capaz de reduzir, evitar ou absorver. Isso deve ser feito por metodologia aprovada
pelo Conselho Executivo de MDL da Organização das Nações Unidas – ONU.;
48
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III
pelo menos 80% de suas áreas. Comprar um pedaço da maior floresta tropical do mundo
e preservá-la não rende nada, pois é algo que teria de ser feito de qualquer maneira.
O mesmo vale para as hidrelétricas brasileiras, que sempre cultivam matas à beira das
zonas alagadas por barragens. Há leis no país que exigem esse tipo de compensação
ambiental. Por isso, essas matas não podem ser consideradas fonte de créditos de
carbono sob as leis de Kyoto.
49
CAPÍTULO 3
Chuva Ácida
Ao atingirem a superfície terrestre sob a forma de chuva, geada, neve ou neblina, esses
ácidos alteram a composição do solo e das águas, comprometendo as lavouras, as
florestas e a vida aquática. Também podem corroer edifícios, estátuas e monumentos
históricos, como, por exemplo, o famoso Coliseu de Roma, na Itália.
50
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III
Dióxido de Nitrogênio
O nitrogênio gasoso (N2) e o oxigênio molecular (O2) da atmosfera podem reagir
formando o monóxido de nitrogênio (NO). No entanto, essa reação não é espontânea,
necessitando de muita energia para ocorrer. Por exemplo, durante a queima de
combustível no motor do carro ou em fornos industriais a temperatura é muito elevada,
fornecendo a energia necessária para que ocorra a formação do monóxido de nitrogênio
de forma eficiente.
O monóxido de nitrogênio pode ser oxidado na atmosfera (que contém O2) e formar
o dióxido de nitrogênio (NO2) que tem cor marrom. Muitas vezes, o fato de o céu ter
um tom marrom em cidades com tantos veículos como São Paulo, deve-se à formação
do NO2 na atmosfera, somado à grande emissão de material particulado (incluindo a
fuligem) que também escurece a atmosfera. O dióxido de nitrogênio pode sofrer novas
reações e formar o ácido nítrico (HNO3), que contribui para aumentar a acidez na água
da chuva.
Um carro construído em 1995 produz até 10 vezes mais NO que um carro produzido
hoje. Isso porque os carros modernos possuem um conversor catalítico que reduz
muito a formação do NO. O conversor catalítico (ou catalisador) contém metais como
paládio, platina e ródio, que transformam grande parte dos gases prejudiciais à saúde
e ao meio ambiente, em gases inertes como N2 e CO2. Devemos lembrar que o CO2 é
um gás que não prejudica diretamente a saúde humana, mas colabora para aumentar
o efeito estufa.
É importante salientar que com ou sem catalisador o carro continua emitindo imensas
quantidades de CO2 para a atmosfera. O catalisador tem um papel importantíssimo,
mas atua de forma a minimizar apenas as emissões de CO e NO.
51
UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE
Dióxido de Enxofre
O dióxido de enxofre (SO2), responsável pelo maior aumento na acidez da chuva, é
produzido diretamente como subproduto da queima de combustíveis fósseis, como a
gasolina, o carvão e o óleo diesel. O óleo diesel e o carvão são muito impuros e contêm
grandes quantidades de enxofre em sua composição, sendo responsáveis por uma
grande parcela da emissão de SO2 para a atmosfera. Atualmente no Brasil, a Petrobras
tem investido muito na purificação do diesel a fim de diminuir, drasticamente, as
impurezas que contêm enxofre.
De forma equivalente a outros óxidos, o SO2 reage com a água formando o ácido
sulfuroso:
»» O
excesso de acidez pode causar a acidificação de lagos, principalmente
os pequenos, provocando alterações na fauna local. O pH em torno de
5,5 já pode matar larvas, pequenas algas e insetos, prejudicando também
os animais que se alimentam deles. No caso do pH chegar a 4,0 – 4,5, já
pode ocorrer a intoxicação da maioria das espécies de peixes e levá-los à
morte.
52
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III
»» O
utro fator muito importante sobre a emissão de SO2 é a formação de
ácidos no corpo humano, à medida que respiramos. Este ácido pode
provocar problemas como coriza, irritação na garganta e olhos e até afetar
o pulmão de forma irreversível.
»» A
emissão de NO2, que provém principalmente da queima de combustíveis
pelos carros, também pode provocar problemas respiratórios e diminuir
a resistências do organismo a vários tipos de infecções.
(FONTE: http://www.usp.br/qambiental/chuva_acidafront.html)
(FONTE: http://www.iq.ufrgs.br/aeq/modelage.htm)
53
CAPÍTULO 4
CFCs e a destruição do ozônio
estratosférico
54
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III
do oxigênio triatômico O3, o ozônio (pico de absorção entre 250 – 260 nm), que se
distribui na parte média e baixa da estratosfera.
O + O2 O3 + calor
55
UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE
Alguns desses catalisadores têm origem natural em processos bióticos, como é o caso
do óxido nitroso (N2O) em áreas alagáveis (no processo da desnitrificação, conforme
será mostrado adiante). O N2O, quando é transportado da troposfera à estratosfera,
colide com átomos excitados de oxigênio e produz parcialmente radicais NO (embora
•
NO2 + O •
NO + O2
•
NO + O3
•
NO2 + O2 •
reação total: O3 + O 2 O2
56
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III
O Cloro liberado, altamente reativo, reage com o O3, formando Monóxido de Cloro e
Oxigênio Molecular :
Cl + O3 ClO + O2
Ultravioleta + O3 O2 + O
O2 + O O3
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UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE
Na presença de Cloro, o (O), ao invés de reagir com o O2 para formar Ozônio, reage com
o Óxido de Cloro:
O + ClO O2 + Cl
»» D
estruição em larga escala do fitoplâncton marinho, o que pode provocar
danos imprevisíveis às cadeias alimentares do mar.
»» A
lterações imprevisíveis no clima do Planeta, uma vez que a morte de
algas, se persistir na escala que está se processando nos dias de hoje,
diminuirá a produção de Dimetil-Sulfeto, substância produzida pelas
algas e que auxilia na formação das nuvens.
Protocolo de Montreal
O Protocolo de Montreal, um acordo firmado em 1987, permitiu a eliminação gradual
dos CFCs. Considerado um dos melhores exemplos de como a cooperação entre países
pode melhorar a vida de pessoas. Os 191 países que assinaram o acordo eliminaram
mais de 95% dessas substâncias. Com isso, a expectativa é que até 2075 a camada de
ozônio volte ao nível que tinha antes de 1980.
Os HCFCs estão sendo utilizados temporariamente como substitutos dos CFCs, porque
os HCFCs não possuem grande potencial de degradação da camada de ozônio. A ligação
carbono-hidrogênio nos HCFCs faz com que estes sejam muito mais reativos que os
CFCs e a maioria das moléculas de HCFC são destruídas na troposfera. Isso evita
que a maior parte do HCFC suba até a estratosfera, onde ele também poderia agir na
destruição da camada de ozônio.
58
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III
Os nomes e as fórmulas de alguns dos mais comuns CFCs e HCFCs estão mostrados na
tabela a seguir.
CFCs HCFCs
CCl 3F CHF2Cl
triclorofluorometano monoclorodifluorometano
CCl 2F2 C2HF3Cl 2
diclorodifluorometano diclorotrifluoretano
1 de Julho de 1999 Congelamento do consumo dos CFCs do Anexo a1 no valor médio dos anos 1995-1997
1 de Janeiro de 2002 Congelamento do consumo dos halons2 no valor médio dos anos 1995-1997.
Congelamento do consumo de brometo de metila no valor médio dos anos 1995-1998.
1 de Janeiro de 2003 Redução do consumo em 20% dos CFCs do Anexo B3 a partir do consumo médio dos anos 1998-2000.
Congelamento do consumo de metil clorofórmio no valor médio dos anos 1998-2000.
1 de Janeiro de 2005 Redução de 50% dos CFCs do Anexo A a partir do valor médio dos anos 1995-1997.
Redução de 50% dos halons a partir do valor médio dos anos 1995-1997.
Redução de 85% do tetracloreto de carbono a partir do valor médio dos anos 1998-2000.
Redução de 30% do metil clorofórmio a partir do valor médio dos anos 1998-2000.
1 de Janeiro de 2007 Redução de 85% dos CFCs do Anexo A a partir do valor médio dos anos 1995-1997
Redução de 85% dos CFCs do Anexo B a partir do consumo médio dos anos 1998-2000
1 de Janeiro de 2010 Eliminação de 100% dos CFCs, halons e tetracloreto de carbono.
Redução de 70% do metil clorofórmio a partir do valor médio dos anos 1998-2000
1 de Janeiro de 2015 Eliminação de 100% do metil clorofórmio.
1 de Janeiro de 2016 Congelamento do consumo dos HCFCs no valor dos anos 2015
1 de Janeiro de 2040 Eliminação de 100% dos HCFCs
FONTE: MOZETO, Quimica Atmosférica: A química sobre nossas cabeças. Cadernos Temáticos de Química Nova na Escola,
maio de 2001.
Leituras Adicionais:
Link: <http://www.protocolodemontreal.org.
br/005/00502001.asp?tt CD_CHAVE=17525>.
59
SUBSTÂNCIAS
TÓXICAS
PERSISTENTES – STP: UNIDADE IV
CARACTERÍSTICAS,
ORIGEM E DESTINO
CAPÍTULO 1
Características das Substâncias Tóxicas
Persistentes
As STPs são poluentes globais, pois contaminam as áreas onde são liberadas e também
são transportadas para áreas distantes através das correntes de rios, dos oceanos e do
ar. Elas viajam das regiões mais quentes do globo para as mais frias, onde se condensam
e são depositadas na superfície da Terra. As STPs já contaminaram as regiões mais
remotas do globo, como o Ártico, com baixa atividade industrial.
60
SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO │ UNIDADE IV
61
UNIDADE IV │ SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO
62
SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO │ UNIDADE IV
A sorção das STPs aos solos e sedimentos também afeta o transporte, pois as moléculas
sorvidas são menos móveis no meio ambiente e não estão disponíveis para processos de
transferência de fases (exemplo troca ar-água etc.)
Bioacumulação
A bioacumulação só ocorre quando os processos envolvidos na assimilação são superiores
àqueles envolvidos na eliminação. O Fator de Bioconcentração – FB, representa a razão
no equilíbrio entre a concentração do composto no peixe e a concentração dissolvida na
água adjacente, considerando o mecanismo de difusão nas guelras como a única fonte
desse composto. A bioacumulação é máxima quando o peso molecular está cerca de
350, o Log de Kow ~ 6,0 e a solubilidade na água a 0,001 ppm.
Assimilação
pela comida
Diluição devido
ao crescimento
63
UNIDADE IV │ SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO
Fenômeno de Biomagnificação
STPs associadas aos lipídeos de presas (ex.: crustáceo) estão em estado
estacionário com a água ao redor. Quando o tecido da presa é digerido no
intestino do predador (peixe), os lipídeos são quebrados em moléculas
menores, reduzindo a capacidade de solubilizar ou reter a STP. Essa alta
fugacidade (gradiente de fugacidade) dos contaminantes lipofílicos apolares
nos materiais digeridos resulta numa transferência desses compostos para os
tecidos lipídicos dos predadores. (ALMEIDA, 2003)
64
CAPÍTULO 2
Classes de STP
Recentemente, por meio do projeto das Nações Unidas denominado “Avaliação Regional
das Substâncias Tóxicas Persistentes” (Regionally Based Assessment off Persistent Toxic
Substances), o histórico das STPs, incluindo os POPs, foi avaliado em todo o mundo. O
projeto dividiu o globo em 12 regiões geográficas com o objetivo de gerar uma avaliação
em cada região dos danos e das ameaças causadas por essas substâncias, identificando
aquelas preocupantes em cada região e as prioridades de ações de intervenção nos ítens
prioritários. As STPs, definidas pelo grupo da América do Sul, foram separadas em três
grupos: pesticidas, compostos industriais e subprodutos não intencionais, publicados
no documento “Regionally Based Assessment of Persistent Toxic Substances – Eastern
and Western South America Regional Report” (UNEP, 2003). Entre os compostos
industriais estão as bifenilas policloradas, dioxinas e furanos. Os subprodutos não
intencionais são os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, além do hexaclorobenzeno
(HCB) que também está incluído no grupo dos pesticidas. Finalmente, no grupo dos
pesticidas clorados, os compostos, fontes de maiores preocupação por parte do grupo
da América do Sul, são: aldrin, dieldrin, endrin, p,p’-DDT, p,p’-DDE, p,p’-DDD,
hexaclorocicloexanos (-HCH, - HCH, - HCH e - HCH), endossulfan, heptacloro e
clordano.
Fontes de STP
As fontes naturais são a síntese por bactérias, plantas e fungos e as combustões
(incêndios florestais ou emissões vulcânicas).
»» Efluentes industriais
65
UNIDADE IV │ SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO
»» Esgotos domésticos
»» Produção de alumínio
»» G
eração e composição de produtos agrícolas: um grande número de
herbicidas, inseticidas e fungicidas
»» Queimadas florestais
O grupo dos PAHs consiste de compostos com dois ou mais anéis aromáticos fundidos e
que podem ser divididos em dois subgrupos: compostos de baixa massa molar, formados
por dois ou três anéis aromáticos fundidos (antraceno, acenafteno, acenaftaleno,
fluoreno, naftaleno e fenantreno), e os de alta massa molar com quatro, cinco e seis
66
SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO │ UNIDADE IV
Os compostos que contêm regiões vazias (bay regions) em suas estruturas, como
o benzo(a)pireno e o fenantreno, são os que mostram as mais altas reatividades
bioquímicas.
A persistência dos PAHs no meio ambiente varia com a massa molar. Os PAHs de
baixas massas molares são degradados mais facilmente. Enquanto os tempos de meia
vida para o naftaleno e antraceno no sedimento são de 9 e 43 horas, respectivamente,
os PAHs de massas molares mais altas apresentam tempos de meia vida em solos e
sedimentos de alguns anos.
67
UNIDADE IV │ SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO
Vários compostos do grupo dos PAHs podem ser associados com uma fonte de emissão
específica. Fluoranteno, por exemplo, é um constituinte do xisto betuminoso e asfalto
derivado de petróleo. É também um produto universal da combustão de matéria
orgânica e de combustíveis fósseis. Fenantreno, frequentemente, resulta da combustão
incompleta de uma variedade de compostos orgânicos, incluindo madeira e combustíveis
fósseis. Dibenzo(a,h)antraceno também é um produto da combustão incompleta.
Acenaftaleno é um componente do óleo cru e xisto betuminoso e também um produto
de combustão que pode ser produzido e liberado ao meio ambiente através de incêndios
naturais. Pireno, criseno e dibenzo(a,h)antraceno são produtos de qualquer combustão
incompleta.
Tabela 5: Compostos PAH prioritários e a subclasse (7 compostos) dos cancerígenos animais (em negrito)
Compostos Clorados
Os compostos organoclorados que serão abordados compreendem duas classes diferentes
de STP: pesticidas e compostos industriais. Eles têm como principal característica a
alta persistência no meio ambiente, sendo considerados compostos trans-fronteiriços,
isto é, sem limites para seu transporte atmosférico. A extensão da poluição global por
esses compostos tornou-se evidente após eles terem sido encontrados em áreas onde
nunca foram utilizados ou produzidos, como o Ártico, e por esse motivo são objetos de
estudos em todo o mundo.
68
SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO │ UNIDADE IV
As misturas de PCB mais utilizadas nos Estados Unidos foram os Arocloros 1242,
1248, 1254 e 1260, que devem ser também os mais utilizados no Brasil, uma vez que
a maioria da importação era oriunda da indústria americana Monsanto. As principais
características de algumas misturas de Arocloro estão descritas na Tabela a seguir.
69
UNIDADE IV │ SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO
A estimativa da produção mundial de PCB é de 1200 kt, dos quais 15% foram utilizados
pelos países em desenvolvimento. A estimativa do estoque brasileiro, segundo o
Ministério do Meio Ambiente, é de 80 kt (UNEP, 2003), representando 6,6% de todo
PCB utilizado pelos países em desenvolvimento. Apesar de a utilização do produto ter
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SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO │ UNIDADE IV
sido proibida no início dos anos 80, ainda há no Brasil entre 250 e 300 kt de ascarel
em uso, segundo estimativas da gerência da Siemens, empresa que lidera a exploração
dos serviços de troca do produto (COSTA, 2000). Há também um mercado clandestino
não contabilizado. Enquanto cerca de 120 kt de Ascarel é usada em equipamentos
de indústrias petroquímicas e siderúrgicas, aproximadamente cerca de 100 kt está
concentrada em indústrias de pequeno porte e a mesma quantidade em concessionárias
de energia (COSTA, 2000). Essas informações são bastante conflitantes devido à falta
de um inventário nacional.
O setor elétrico é uma fonte ativa de PCB para o ambiente através de seus
transformadores antigos. No estado de São Paulo, as subestações inativas de energia
elétrica já apresentaram diversos casos de vazamentos do óleo. A empresa Furnas
Centrais Elétricas, uma líder no setor de energia elétrica, gerando 66% da demanda
energética brasileira, divulga em seu site um estoque de 140 t de PCB em processo de
incineração com o prazo para ser concluído, em 1999, sendo que em 2003 a página
ainda não foi atualizada (Furnas, 2003). Por outro lado, em 1997, a Eletropaulo, maior
distribuidora de energia elétrica na América Latina, responsável pela distribuição a 14
milhões de pessoas no estado de São Paulo, assumiu possuir um passivo de 562 t de
PCB. A siderúrgica CSN, no Rio de Janeiro, planeja eliminar 800 t de Ascarel, contido
em transformadores até o ano de 2004, incinerando 80 t/ano (COSTA, 2000).
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UNIDADE IV │ SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO
Pesticidas Clorados
Os pesticidas surgiram na década de 1930 com o objetivo de garantir o suprimento
de alimentos à crescente população por meio do controle ou da erradicação de
pragas. Dentre eles, os pesticidas organoclorados são caracterizados como compostos
refratários, ou seja, de baixa reatividade no meio ambiente. Eles têm, como principal
característica, um grande número de átomos de cloro na molécula, onde cada cloro
eletronegativo retira elétrons do anel ou da estrutura em cadeia, tornando o composto
resistente a reações eletrofílicas, como a oxidação. Cada átomo de cloro adicional
diminui a volatilidade do composto, aumenta sua lipofilicidade e torna-o mais estável
quimicamente.
Os pesticidas definidos como prioritários pelo grupo da América do Sul do projeto UNEP
foram: aldrin, dieldrin, endrin, DDT, HCH (especificamente o lindano), heptacloro
e endossulfan. Eles, de uma forma ou de outra, tiveram grande uso no Brasil tanto
mediante importações, assim como pela síntese e formulação a partir dos princípios
ativos importados. Os únicos produtos da lista dos POPs que ainda estavam em uso
no Brasil há alguns anos são aqueles utilizados para a preservação de madeira, isto é,
Heptacloro e Lindano. Atualmente, esses dois produtos também já foram proibidos.
Dieldrin (1,2,3,4,10,10-Hexacloro-6,7-epoxi-1,4,4a,5,6,7,8,8a-octaidroexo-1,4-
endo-5,8-dimetanonaftaleno). É altamente persistente no solo, com um tempo de
vida de 3 a 4 anos em climas temperados e possui alta tendência à bioconcentração
(UNEP, 2003).
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SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO │ UNIDADE IV
Endrin (3,4,5,6,9,9-Hexacloro-1a,2,2a,3,6,6a,7,7a-octaidro-2,7:3,6-
dimetanonaft[2,3-b]oxireno). É altamente persistente no solo (em alguns casos
já foram relatados t1/2 de até 12 anos). Em peixes, já foram relatados fatores de
bioconcentração de 14 a 18000 (UNEP, 2003).
Heptacloro (1,4,5,6,7,8,8-Heptacloro-3a,4,7,7a-tetraidro-4,7-metanoindeno). É
metabolizado em solos, plantas e animais para heptacloro epóxido, que é mais estável
em sistemas biológicos, além de cancerígeno. O t1/2 no solo em regiões temperadas é
de 0,75 a 2 anos (UNEP, 2003).
Hexaclorocicloexanos (HCH) –
(1,2,3,4,5,6-Hexaclorocicloexano, isômeros mistos). O “HCH
técnico” é uma mistura de vários isômeros, incluindo -HCH
(60-70 %), -HCH (5-12 %) e -HCH (10-15 %). Lindano (-HCH)
é utilizado como pesticida e também preservante de madeira.
Apresenta t1/2 no solo superior a 1 ano e atua como desregulador
endócrino (UNEP, 2003). Os HCHs são menos bioacumulativos
que outros organoclorados por causa de suas baixas lipofilicidades.
As pressões de vapor, relativamente altas, facilitam o transporte
para longas distâncias na atmosfera.
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UNIDADE IV │ SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO
Endossulfan (6,7,8,9,10,10-Hexacloro-
1,5,5a,6,9,9a-hexaidro-6, 9-metano-2,
4,3-benzodioxathiepin-3-oxide). O produto
técnico contém pelo menos 94 % dos isômeros
puros, α- e β- endossulfan. Ele é moderadamente
persistente no solo com t1/2 de 50 dias.
Os dois isômeros têm diferentes tempos de degradação no solo (t1/2 de 35 e 150 dias para
α- e β- isômeros, respectivamente, em condições neutras). Nas plantas, o endossulfan
é, rapidamente, degradado para seu sulfato correspondente. Há evidências de sua
atuação como desregulador endócrino (UNEP, 2003).
Legislação
A Portaria no 329/MA de 2/9/1985 proíbe em todo o território nacional, a
comercialização, o uso e a distribuição dos produtos agrotóxicos organoclorados,
destinados à agropecuária, dentre outros: aldrin, BHC, toxafeno, DDT, dodecacloro,
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SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO │ UNIDADE IV
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POLUIÇÃO POR UNIDADE V
METAIS PESADOS
CAPÍTULO 1
O Caso do Mercúrio
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POLUIÇÃO POR METAIS PESADOS │ UNIDADE V
Toxicologia
Os efeitos tóxicos causados pelo mercúrio metálico são produzidos depois de sua
oxidação no organismo e por causa de sua grande afinidade pelos grupos sulfidrilas
das proteínas e, em menor grau, por grupos fosforilas, carboxílicos, amidas e aminas.
Nas células, o mercúrio é um potente desnaturador de proteínas e inibidor de
aminoácidos, interferindo nas funções metabólicas celulares. Ele causa, também, sérios
danos à membrana celular ao interferir em suas funções e no transporte por meio da
membrana, especialmente nos neurotransmissores cerebrais. Por outro Iado, estudos
citogenéticos já realizados em pessoas contaminadas por Hg, em níveis considerados
toleráveis pela Organização Mundial de Saúde – OMS, revelaram aumento significativo
de quebras cromatídicas, com a possível interferência nos mecanismos de reparo do
DNA. Esse efeito pode resultar em quebras cromossômicas e em morte celular, o que
justificaria o quadro progressivo de deterioração mental nos indivíduos mais altamente
contaminados.
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UNIDADE V │ POLUIÇÃO POR METAIS PESADOS
A contaminação ambiental, por sua vez, é provocada pela dieta alimentar, comumente
pela ingestão de peixes de água doce ou salgada, e afeta, diretamente, a corrente
sanguínea, provocando problemas no sistema nervoso central. Sua comprovação é feita
facilmente pela determinação do mercúrio no cabelo ou no sangue.
O mercúrio e os peixes
A cadeia trófica, isto é, a cadeia alimentar, é formada em sua base inferior por
microrganismos e peixes de espécies mais simples (de nível trófico baixo), terminando
por peixes predadores (de nível trófico elevado) e, finalmente, o homem, que se alimenta
de peixes. As populações ribeirinhas da Bacia Amazônica são dependentes do consumo
de peixe para o seu sustento, chegando a consumir em média 200 gramas por dia.
Hoje, sabe-se que a velocidade de metilação realizada pelas bactérias é função de vários
fatores, como o baixo pH da água, alta concentração de matéria orgânica dissolvida e
baixo teor de material particulado, situação fácil de ser encontrada nos rios amazônicos.
O pH do Rio Negro, por exemplo, é particularmente baixo, chegando a 3,8.
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Referências
ALMEIDA, F. V. Bases técnico-científicas para o desenvolvimento de critérios
de qualidade de sedimentos referentes a compostos Orgânicos persistentes.
Tese de Doutorado, Unicamp, São Paulo, 2003.
COSTA, C. Dias contados para o ascarel. Brasil Energia 240, 2000. Furnas
Centrais Elétricas SA. Disponível em: <http://www.cebds.com/praticas-empresariais/
empresas/furnas.htm>. Acessado em: jan. 2003.
ONURSAL, B.; GAUTAM. S. P. Vehicular Air Pollution: Experiences from Seven Latin
American. World Bank Technical Paper, n. 373. 1997.
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