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Substâncias Químicas e seus Impactos

Brasília-DF.
Elaboração

Fernanda Vasconcelos de Almeida

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 6
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8
UNIDADE I
O QUE É POLUIÇÃO?........................................................................................................................... 11

CAPÍTULO 1
SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS POLUENTES E SUAS FONTES................................................................ 11

UNIDADE II
O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL................................................... 17

CAPÍTULO 1
PARÂMETROS DE QUALIDADE DAS ÁGUAS............................................................................... 18

UNIDADE III
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE.................................................................... 30

CAPÍTULO 1
ATMOSFERA E POLUENTES ASSOCIADOS À EMISSÃO VEICULAR................................................ 30

CAPÍTULO 2
EFEITO ESTUFA E AQUECIMENTO GLOBAL................................................................................. 42

CAPÍTULO 3
CHUVA ÁCIDA........................................................................................................................ 50

CAPÍTULO 4
CFCS E A DESTRUIÇÃO DO OZÔNIO ESTRATOSFÉRICO............................................................ 54

UNIDADE IV
SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO............................... 60

CAPÍTULO 1
CARACTERÍSTICAS DAS SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES................................................... 60

CAPÍTULO 2
CLASSES DE STP...................................................................................................................... 65

UNIDADE V
POLUIÇÃO POR METAIS PESADOS......................................................................................................... 76

CAPÍTULO 1
O CASO DO MERCÚRIO......................................................................................................... 76

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 80
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas


em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados
por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos
editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas,
também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas
complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

6
Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

7
Introdução
Esta disciplina apresenta os principais temas relacionados com Poluição Ambiental. São
cinco Unidade (O que é Poluição?, O Impacto das Substâncias Químicas na Qualidade
Ambiental, Poluentes Gasosos e seus Efeitos, Substâncias Tóxicas Persistentes e
Poluição por Metais Pesados: O caso do Mercúrio) que abordam assuntos de grande
importância mundial e que fazem parte das agendas ambientais de todos os países.
A maneira como a nossa sociedade lida ou lidará com essas questões irá determinar a
qualidade do nosso futuro como habitantes de um planeta único, finito e frágil.

As discussões acerca dos problemas ambientais ganharam importância política nas


últimas décadas, no entanto, é importante mencionar que as primeiras preocupacões
com a qualidade do ar surgiram já na era pré-cristã devido ao uso do carvão como
combustivel. As cidades dessa época já apresentam problemas de baixa qualidade do ar
e, devido ao agravamento dessa situação, os primeiros atos de controle de emissão de
fumaça foram baixados na Inglaterra do final do século XIII.

Um clássico evento de poluição ambiental foi o ocorrido em Londres, durante o


inverno de 1952. Um episódio de inversão térmica impediu a dispersao de poluentes,
gerados pelas indústrias e pelos aquecedores domiciliares que utilizavam carvão como
combustível, e uma nuvem composta de altos teores de enxofre e material particulado
permaneceu sobre a cidade por aproximadamente 3 dias levando a um aumento de
4000 mortes em relação a média de óbitos em períodos semelhantes (BRAGA, 2008).

A década de 60 foi de grandes mudanças para a área ambiental. Nos Estados


Unidos foi criado um programa federal de poluição atmosférica e mais tarde
estabeleceram-se padrões de qualidade do ar, especificando os seis poluentes
atmosféricos que seriam controlados, quais sejam: partículas totais, dióxido de
enxofre (SO2), monóxido de carbono (CO), dióxido de nitrogênio (NO2), ozônio
(O3) e chumbo (Pb). A fim de efetivar esse controle, criou-se a Agência de Proteção
Ambiental norte-americana (EPA). Em 1976, uma comissão de países europeus
(Comission of the European Communities-CEC), estabeleceu padrões de qualidade
do ar para SO2, CO, NO2, material particulado e oxidantes foto-químicos. Esses
padrões foram sendo aprimorados ao longo dos anos, subsidiando as legislações
dos diversos países europeus de uma maneira uniforme (BRAGA, 2008).

Ainda na década de 60 descobriu-se que o uso indiscriminado de pesticidas estava


colocando em risco a nossa saúde ao contaminar os alimentos e as águas, que o lixo

8
urbano e industrial estavam sendo descartados inadequadamente e que o nosso ar estava
se tornando irrespirável (JARDIM, 2001).

À medida que os países desenvolvidos foram aperfeiçoando formas de controle


ambiental, várias indústrias passaram a migrar para países onde a legislação e o
controle fossem mais amenos ou mesmo inexistentes. Entre as décadas de 60 e 70,
inúmeros países periféricos economicamente (incluindo o Brasil) receberam indústrias
multinacionais de produtos de base, principalmente na área petroquímica. Muitas
dessas indústrias tinham como sede países onde a legislação ambiental determinava que
altos investimentos em tecnologia fossem efetivados, principalmente para a prevenção
de possíveis acidentes ambientais.

A partir dos anos 80, e até os dias de hoje, abraçada pela mídia, a questão ambiental
passa a ser um tema de discussão em todos os segmentos da sociedade. Muito embora a
democratização da discussão sobre as questões ambientais tenha sido um dos principais
fatores para um maior conhecimento dos processos de degradação da nossa qualidade
de vida e para o aprimoramento de uma legislação pertinente, os problemas de poluição
ambiental ainda são cercados de muita desinformação (ou contra-informação), o que
muitas vezes dificulta a escolha da melhor opção preventiva ou mesmo paliativa para o
problema (JARDIM, 2001).

Um dos casos de contaminação ambiental que obteve maior destaque na mídia brasileira
foi o da antiga fábrica da Shell em Paulínia, SP. O problema começou na década de
90, quando foi descoberto que o solo da fábrica que produzia pesticidas apresentava
altas concentrações de Drins (aldrin, dieldrin e endrin) levando a contaminação ao
lençol freático que abastece chácaras do bairro Recanto dos Pássaros. Em 2002, por
determinação da Justiça, a Shell começou a comprar os imóveis da área contaminada
para que os moradores deixassem o local.

Certamente, dentro de um assunto tão complexo, inúmeras perguntas ainda estão sem
resposta. Por exemplo, ainda não conhecemos com exatidão a magnitude do efeito
estufa e, por conseguinte, todas as suas consequências. Também não podemos prever
em detalhes a toxicidade ou o poder mutagênico de todas as novas moléculas que são
produzidas. No entanto, é importante que, como gestores ambientais, em qualquer que
seja a situação, devemos sempre agir baseados no maior número de fatos e evidências
científicas.
Objetivos
»» Conhecer os poluentes ambientais e avaliar suas interações com o meio
ambiente.

»» Avaliar os principais destinos dos poluentes no meio ambiente com base


nas suas características físico-químicas.

»» Identificar os efeitos dos poluentes no meio ambiente e nos seres vivos.

»» Identificar as principais fontes de poluentes para o meio ambiente.

»» Estudar as vias de exposição humana a metais pesados e compostos


orgânicos.

»» Compreender as reações química e fotoquímicas da atmosfera.

»» Identificar os locais de maior potencial de contaminação com base nas


características de transporte do poluente no meio ambiente.

»» Interpretar e analisar a Legislação brasileira e mundial referente à


poluição ambiental.
O QUE É UNIDADE I
POLUIÇÃO?

CAPÍTULO 1
Substâncias químicas poluentes e suas
fontes

Pode-se encarar a poluição como um caso de ‘matéria no lugar errado’: a poluição


ocorre quando há excesso de uma substância, gerada pela atividade humana, no sítio
ambiental errado. Esse tipo de definição, embora não seja adequada para uma análise
científica rigorosa, é extremamente útil por nos permitir a discussão de uma série de
pontos de vital importância.

Critério de pureza ambiental


O primeiro desses pontos é o questionamento do que entendemos por “pureza” do meio
ambiente. Se, quando pensamos em pureza, imaginamos algo que não está ‘contaminado
por nenhuma outra substância’, então não existe uma única gota d’água pura em nosso
ambiente. As águas de poços, fontes, lagos, rios, mares e oceanos contêm quantidades
extremamente variáveis de uma série de sais dissolvidos. Mesmo a água da chuva chega
ao solo já “contaminada” pelo gás carbônico presente na atmosfera (entre outros). A água
mais pura que se conhece é aquela encontrada nos laboratórios, após ter sido passada,
várias vezes, por resinas trocadoras de íons ou destilada repetidamente. Ainda assim,
ela não será totalmente livre de outras substâncias. Aliás, o próprio conceito de pureza é
muito relativo. No caso da água, ele depende fundamentalmente de dois fatores: o uso a
que ela se destina e a aparelhagem utilizada para medir o grau de pureza. Uma água que
se considere adequada para fins recreativos, por exemplo, muito provavelmente não se
encaixará nos padrões de potabilidade exigidos para a ingestão humana. Além disso, se
temos hipoteticamente água com 99,9988% de pureza e utilizamos um instrumento de
medição que não apresenta casas decimais, a leitura do instrumento irá nos informar
de que a água é 100% pura (0% de impurezas). Por outro lado, se dispomos de um
instrumento capaz de nos fornecer um resultado com precisão de quatro casas decimais,
ele pode nos indicar que a água possui 0,0012% de impurezas.

11
UNIDADE I │ O QUE É POLUIÇÃO?

Seguindo o mesmo raciocínio, não existe “ar puro”. Além do fato de a atmosfera ser uma
mistura de vários gases, ela se encontra, frequentemente, ‘contaminada’ com ozônio
(produzido pelos relâmpagos e outros fenômenos naturais) e por compostos orgânicos
voláteis produzidos pelos animais e pelas plantas. Assim, quando falamos de pureza
ambiental estamos nos referindo ao ar ou à água que sejam agradáveis de consumir
e que estejam livres de produtos químicos ou micro-organismos que possam causar
doenças.

Poluente: substância + localização

O segundo ponto importante é que não podemos rotular um determinado produto


químico (ou uma mistura deles) como poluente, a menos que especifiquemos onde ele
está. O que conta em termos de poluição ambiental é a combinação de substâncias e
localização. Um bom exemplo desse fato nos é dado pelo ozônio e pelos clorofluorcarbonos
(CFCs). O ozônio é um gás irritante e tóxico. Na troposfera (a camada da atmosfera que
toca o solo), ele é claramente um poluente. Já os CFCs, por outro lado, são gases não
inflamáveis, de baixa toxicidade, baixa reatividade química e quase sem odor. Portanto,
na troposfera, são praticamente inofensivos. O panorama é completamente invertido
na estratosfera (de 30 a 35km acima da superfície terrestre). O ozônio torna-se um gás
fundamental à manutenção da vida, por proteger os seres vivos dos efeitos devastadores
da radiação ultravioleta vinda do Sol, ao passo que os CFCs se tornam poluentes por
destruir o ozônio localizado nesta região da atmosfera.

Fontes de poluição

O terceiro e último ponto a discutir é a sugestão de usarmos o termo ‘poluição’ para a


degradação do meio ambiente causada pelas atividades humanas, sobretudo, a partir
de meados do Século XX — resultado do intenso desenvolvimento industrial desses
últimos 50 anos. Essa ideia é importante porque a própria natureza ‘polui’ o meio
ambiente. Para entendermos melhor o conceito, comparemos as emissões de dióxido
e de trióxido de enxofre resultantes das erupções vulcânicas com as resultantes das
atividades humanas. Em junho de 1991, o vulcão do monte Pinatubo, nas Filipinas,
entrou em erupção. Estima-se que cerca de 15 a 20 milhões de toneladas de dióxido
de enxofre tenham sido lançadas na atmosfera. Embora dramáticas e com severas
consequências, erupções dessa magnitude são raras. Por outro lado, somente os Estados
Unidos têm lançado cerca de 20 milhões de toneladas de óxidos de enxofre por ano no
ar, desde 1950.

12
O QUE É POLUIÇÃO? │ UNIDADE I

Poluição das águas


A poluição e o seu controle costumam ser tratados em três categorias naturais: poluição
das águas, poluição do ar e poluição do solo. Dessas três, a poluição das águas talvez
seja a mais preocupante, devido basicamente a três fatores. O primeiro é a necessidade
imperiosa que nós, seres vivos, temos de água. Ela representa cerca de 70% da massa
do corpo humano. Um ser humano com aproximadamente 70kg de massa corporal
precisa ingerir, diariamente, cerca de dois a quatro litros de água. Podemos sobreviver
50 dias sem comer, mas, em média, morremos após quatro dias sem água. O segundo
fator é que os lençóis subterrâneos, os lagos, os rios, os mares e os oceanos são o destino
final de todo poluente solúvel em água que tenha sido lançado no ar ou no solo. Assim,
além dos poluentes já lançados nos corpos receptores, as águas ainda sofrem o aporte
de outros poluentes vindos da atmosfera e da litosfera. Por último, vem o fato de que,
excluindo-se as águas salinas usadas para recreação, a água disponível para o uso do
nosso dia a dia é escassa.

Manter a qualidade das nossas parcas reservas de água (além de não desperdiçá-las) é
uma questão urgente, se quisermos garantir a nossa sobrevivência neste Planeta. Em
contrapartida, ao nos utilizarmos da água, sempre introduzimos nela algum tipo de
poluente, algumas vezes em pequenas quantidades, outras em quantidades enormes.

Formas de poluição aquática


Várias formas de poluição afetam as nossas reservas d’água, podendo estas serem
classificadas em biológica, térmica, sedimentar e química.
»» A contaminação biológica resulta da presença de micro-organismos
patogênicos, especialmente na água potável.

»» A poluição térmica ocorre, frequentemente, pelo descarte, nos corpos


receptores, de grandes volumes de água aquecida usada no arrefecimento
de uma série de processos industriais. O aumento da temperatura da água
causa três efeitos deletérios:

›› A solubilidade dos gases em água diminui com o aumento da


temperatura. Assim, há um decréscimo na quantidade de oxigênio
dissolvido na água, prejudicando a respiração dos peixes e de outros
animais aquáticos.

›› Há uma diminuição do tempo de vida de algumas espécies aquáticas,


afetando os ciclos de reprodução.

13
UNIDADE I │ O QUE É POLUIÇÃO?

›› Potencializa-se a ação dos poluentes já presentes na água, pelo aumento


na velocidade das reações.

»» A poluição sedimentar resulta do acúmulo de partículas em suspensão


(por exemplo, partículas de solo ou de produtos químicos insolúveis,
orgânicos ou inorgânicos). Esses sedimentos poluem de várias maneiras:

›› Os sedimentos bloqueiam a entrada dos raios solares na lâmina de


água, interferindo na fotossíntese das plantas aquáticas e diminuindo
a capacidade dos animais aquáticos de ver e encontrar comida.

›› Os sedimentos também carreiam poluentes químicos e biológicos neles


adsorvidos. Mundialmente, os sedimentos constituem a maior massa
de poluentes e geram a maior quantidade de poluição nas águas.

Talvez a mais problemática de todas as formas seja a poluição química, causada


pela presença de produtos químicos nocivos ou indesejáveis. A poluição química é um
pouco diferente e um pouco mais sutil que as outras formas de poluição. A poluição
térmica tem pouco efeito sobre a potabilidade da água. A poluição sedimentar é
normalmente muito visível e facilmente removível. Mesmo a poluição biológica parece
em alguns casos menos perigosa do que a poluição química, uma vez que a maioria dos
microrganismos podem ser destruídos pela fervura da água que eles estejam infectando,
ou pelo tratamento com substâncias químicas, como o hiploclorito de sódio e a cal viva.
Já a poluição química não é assim tão simples. Os efeitos nocivos podem ser sutis e
levar muito tempo para serem sentidos.

As substâncias químicas mais comuns como Poluentes das águas são:

»» Fertilizantes agrícolas. Usados em grandes quantidades para


aumentar as colheitas, são arrastados pela irrigação e pelas chuvas para
os lençóis subterrâneos, lagos e rios. Eles contêm principalmente os íons
NO3– e PO43–. Quando os fertilizantes e outros nutrientes vegetais entram
nas águas paradas de um lago ou em um rio de águas lentas, causam um
rápido crescimento de plantas superficiais, especialmente das algas. À
medida que essas plantas crescem, formam um tapete que pode cobrir a
superfície, isolando a água do oxigênio do ar. Sem o oxigênio, os peixes e
outros animais aquáticos, virtualmente, desaparecem dessas águas (é o
fenômeno chamado de eutrofização).

»» Compostos orgânicos sintéticos. Principalmente após a Segunda


Guerra Mundial, aumentou muito a produção industrial de compostos

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O QUE É POLUIÇÃO? │ UNIDADE I

orgânicos sintéticos: plásticos, detergentes, solventes, tintas, inseticidas,


herbicidas, produtos farmacêuticos, aditivos alimentares etc. Muitos
desses produtos dão cor ou sabor à água, e alguns são tóxicos.

»» Petróleo. A existência de poços de petróleo no fundo do mar e o uso


de superpetroleiros para o transporte desse produto têm dado origem a
acidentes que espalham grandes quantidades de petróleo pelo mar; isso
acaba causando a morte de grandes quantidades de plantas, peixes e aves
marinhas.

»» Compostos inorgânicos e minerais. O descarte desses compostos


pode acarretar variações danosas na acidez, na alcalinidade, na salinidade
e na toxicidade das águas. Uma classe particularmente perigosa de
compostos são os metais pesados (Cu, Zn, Pb, Cd, Hg, Ni, Sn etc.). Além
de muitos deles estarem ligados a alterações degenerativas do sistema
nervoso central, uma vez que não são metabolizados pelos organismos,
produzem o fenômeno da bioacumulação: quanto mais se ingere água
contaminada com metais pesados, maior o acúmulo destes nos tecidos
do organismo.

Conclusões

Como quer que definamos poluição, encarando-a como proveniente das atividades
humanas ou da própria natureza, sempre haverá fontes de poluição ambiental.

Mesmo que minimizemos ao máximo nossos rejeitos — domésticos, da agricultura ou


industriais —, que os reciclemos e os tratemos com tecnologias destrutivas, ainda assim
algum tipo de poluente será sempre gerado (lembremos que um dos produtos finais
dos processos oxidativos é o CO2, que, emitido para a atmosfera, contribui para o efeito
estufa — Tolentino e Rocha-Filho, 1998). Muito longe dessa hipótese ‘ideal’ estão as
presentes estatísticas.

»» São conhecidas 5 milhões de substâncias químicas.

»» Existem somente dados ecotoxicológicos para cerca de mil substâncias.

»» São comercializados aproximadamente 66 mil produtos químicos, hoje,


somente nos EUA, como fármacos, pesticidas, cosméticos e outros.

»» São comercializadas internacionalmente cerca de 45 mil substâncias.


15
UNIDADE I │ O QUE É POLUIÇÃO?

»» É estimada em 300 milhões de toneladas a produção de substâncias


orgânicas sintéticas; 150 produtos químicos são produzidos em taxas
superiores a 50 mil toneladas por ano.

»» Estima-se que mil novos produtos químicos são lançados anualmente no


mercado.

Fonte: Azevedo, 1999. Química Nova na Escola. Poluição e Tratamento de Água no 10.

Praticando 1: Pesquise na Internet um artigo sobre poluição das águas


na região onde você vive (sua cidade ou estado). Escreva um resumo
(mínimo de 15 linhas) sobre esse artigo, destacando quais as substâncias
poluentes encontradas e os impactos que elas causaram para o local.

Praticando 2: As centrais térmicas utilizam água para refrigeração e


descartam água quente no meio ambiente. Descreva, em pelo menos 100
palavras, quais as consequências ao meio ambiente (incluindo fauna e
flora) aquático do descarte de água aquecida, baseando nas informações
apresentadas no documento “O que é Poluição Térmica?” (artigo a ser
disponibilizado na plataforma).

16
O IMPACTO DAS
SUBSTÂNCIAS
QUÍMICAS NA UNIDADE II
QUALIDADE
AMBIENTAL
A efetiva poluição da água possui um histórico recente e de grande impacto sobre o
meio ambiente. Foi a partir de 1800 que os países europeus começaram a se utilizar de
sistemas de esgotos. Poucos anos após, devido ao consumo de água sem o tratamento
adequado, ocorreram graves epidemias como a cólera e a febre tifoide – algo realmente
catastrófico. A Revolução Industrial, que teve seu início na segunda metade do Século
XIX, propiciou, em muito, o aumento da poluição das águas. De lá para cá, as atitudes
humanas não mudaram muito. Até hoje, indústrias, bem como nossas residências,
continuam lançando, nas águas e no ar, seus rejeitos.

As substâncias químicas podem alcançar os ambientes aquáticos por meio de várias


formas. Dependendo das características dessas substâncias, o destino final no meio
ambiente pode ser distinto, isto é, elas podem ficar solubilizadas na água, podem se
acumular nos organismos aquáticos, se depositar nos sedimentos ou até evaporar para
a atmosfera, conforme exemplificado na figura a seguir.

Figura 1. Transporte de uma substância Tóxica no Meio Ambiente.

17
CAPÍTULO 1
Parâmetros de qualidade das águas

Oxigênio dissolvido em água


Todos os animais necessitam de oxigênio para sobreviver e apesar de o oxigênio fazer
parte das moléculas de água, os animais não podem extrair esse oxigênio dessas
moléculas. Esses organismos aquáticos necessitam de uma fonte contínua desse gás
dissolvido na água em que eles vivem. Se um rio está com pouco oxigênio dissolvido em
água, os peixes e as plantas poderão não sobreviver nele.

Parte do oxigênio dissolve-se diretamente do ar acima da água. Parte desse gás é


misturado à água através da aeração (correntezas, barragens etc). Ele também é
adicionado às águas naturais através da fotossíntese, processo no qual plantas verdes e
plânctons marinhos sintetizam açúcares a partir de CO2 (dióxido de carbono) e água na
presença de luz solar:

6CO2 + 6H2O → C6H12O6 + 6O2 + Energia

As bactérias que consomem oxigênio (bactérias aeróbias) se alimentam de resíduos


sólidos de animais maiores e dos restos mortais. Elas também se alimentam de substâncias
geradas pelos homens encontradas nas águas. Essas substâncias biodegradáveis são
decompostas (quebradas) em substâncias mais simples pelas bactérias aeróbias. Se
a água contém quantidades maiores dessas substâncias, as bactérias multiplicam-se,
resultando numa explosão de populações que consumirão mais oxigênio dissolvido.

A concentração mínima necessária para manter a vida aquática varia entre as espécies.
Existem criaturas aquáticas, como os peixes, que necessitam de maiores quantidades
de oxigênio dissolvido para sua sobrevivência, por exemplo, algumas espécies de peixes
não sobrevivem numa concentração de oxigênio dissolvido inferior a 0,004g por 1000
g de solução (4 ppm).

As águas poluídas são aquelas que apresentam baixa concentração de oxigênio


dissolvido (devido ao seu consumo na decomposição de compostos orgânicos). Águas
limpas apresentam concentrações elevadas de oxigênio dissolvido, chegando até
um pouco abaixo da concentração de saturação. No entanto, em lagos eutrofizados,
pode-se chegar a uma concentração de oxigênio bem superior a 10 mg/L, mesmo em
temperaturas superiores a 20 ºC, caracterizando uma situação de supersaturação.

18
O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL │ UNIDADE II

A dissolução do oxigênio em água depende, entre outros fatores, da temperatura em


que a água se encontra. O gráfico abaixo apresenta a variação da concentração de O2 em
relação à temperatura.

Gráfico 1: Variação da solubilidade de O2 com a temperatura.

A substância oxidada pelo oxigênio dissolvido em água é a matéria orgânica com


origem biológica (como plantas mortas) e restos animais. A matéria orgânica pode ser
representada por um carboidrato polimerizado, de fórmula genérica CH2O

CH2O(aq) + O2(aq) → CO2(g) + H20(aq)

A capacidade da matéria orgânica numa amostra de água natural de consumir o


oxigênio é chamada DEMANDA BIOLÓGICA DE OXIGÊNIO – DBO. A DBO nas águas
é avaliada, experimentalmente, pela determinação da concentração de 02 dissolvido
no início e no final de 5 dias da amostra incubada a 20oC (DBO5,20), em reações de
oxidação catalizadas no laboratório pela adição de micro-organismos à amostra. A DBO
é igual ao oxigênio dissolvido consumido nesse período como resultado da oxidação da
matéria orgânica dissolvida na amostra.

A DBO média para uma água não poluída é de 0,7mg de O2/ L de água (menos que a
solubilidade do O2 de 8,7 mg/L a 25oC)

Tabela 1. Concentrações e contribuições unitárias típicas de DBO5,20 de efluentes industriais

Concentração DBO5,20 Contribuição Unitária de DBO5,20


Tipo de Efluente (mg/L) (kg/dia)
Faixa Valor Típico Faixa Valor Típico
Esgoto sanitário 110 – 400 220 --- 54 g/hab.dia
Celulose branqueada
300 29,2 a 42,7 kg/t
(processo Kraft)
Têxtil 250 – 600
Laticínio 1.000 – 1.500 1,5 – 1,8 kg/m3 leite

19
UNIDADE II │ O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL

Concentração DBO5,20 Contribuição Unitária de DBO5,20


Tipo de Efluente (mg/L) (kg/dia)
Faixa Valor Típico Faixa Valor Típico
Abatedouro bovino 1.125 6,3 kg/1.000 kg Peso vivo
Curtume (ao cromo) 2.500 88 kg/t pele salgada
Cervejaria 1.718 10,4 kg/m3 cerveja
Refrigerante 1.188 4,8 kg/m3 refrigerante
Suco cítrico concentrado 2,0 kg/1000 kg laranja
Petroquímica
Açúcar e álcool 25.000
Fontes: CETESB

Uma determinação mais rápida da DEMANDA DE OXIGÊNIO pode ser feita pela
medida da DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO – DQO. Nesse método o íon dicromato
(Cr2O72–) é um agente oxidante forte. É esse agente e não o O2 que é usado para oxidar
a matéria orgânica, por meio da reação mostrada a seguir:

CaHbOc + Cr2O72 - + H+ CO2 + H2O + Cr3+ + Cr2O72 -

A dificuldade com o índice de DQO como medida da demanda de oxigênio é que o


dicromato acidificado é um oxidante mais forte que o O2, levando a oxidação de
substâncias que não seriam oxidadas pelo O2, isto é, não consumiriam O2. Por esse
motivo, a medida de DQO é geralmente mais alta que o DBO, isto é, gera um resultado
superestimado.

Os maiores aumentos em termos de DBO5,20, num corpo d’água, são


provocados por despejos de origem, predominantemente, orgânica. A
presença de um alto teor de matéria orgânica pode induzir à completa
extinção do oxigênio na água, provocando o desaparecimento de peixes
e outras formas de vida aquática.

Pesquise na internet sobre a relação entre a variação de oxigênio dissolvido


nas águas e o grau de eutrofização de um corpo hídrico.

Alumínio
Em áreas urbanas, a concentração de alumínio na poeira das ruas varia de 3,7 a 11,6
µg/kg. No ar, a concentração varia de 0,5 ng/m³ sobre a Antártica a mais de 1000 ng/
m³ em áreas industrializadas. A principal via de exposição humana não ocupacional
é pela ingestão de alimentos e água. A toxicidade aguda por alumínio metálico e seus

20
O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL │ UNIDADE II

compostos é baixa, variando o LD50 oral de algumas centenas a 1.000 mg de alumínio,


1 kg peso corpóreo por dia. A osteomalacia é observada em humanos expostos ao
alumínio. Há considerável evidência que o alumínio é neurotóxico. Em experimentos
com animais, porém, há uma grande variação desse efeito, dependendo da espécie
analisada. O acúmulo de alumínio no homem tem sido associado ao aumento de casos
de demência senil do tipo Alzheimer. Não há indicação de carcinogenicidade para o
alumínio.

Bário
O bário pode ocorrer naturalmente na água, na forma de carbonatos em algumas fontes
minerais. Decorre, principalmente, das atividades industriais e da extração da bauxita.
Não possui efeito cumulativo, sendo que a dose fatal para o homem é considerada de
550 a 600 mg. Provoca efeitos no coração, constrição dos vasos sanguíneos, elevando a
pressão arterial e efeitos sobre o sistema nervoso. O padrão de potabilidade é 1,0 mg/L
(Portaria no 1469). Os sais de bário são utilizados, industrialmente, na elaboração de
cores, fogos de artifício, fabricação de vidro, inseticidas etc. Em geral, ocorre nas águas
naturais em concentrações muito baixas, de 0,7 a 900 µg/L.

Cádmio
O cádmio se apresenta nas águas naturais devido às descargas de efluentes industriais
(galvanoplastias, produção de pigmentos, soldas, equipamentos eletrônicos,
lubrificantes e acessórios fotográficos), do seu uso como inseticidas e da queima de
combustíveis fósseis. Ele apresenta efeito crônico, pois concentra-se nos rins, no
fígado, no pâncreas e na tireoide, e efeito agudo, sendo que uma única dose de 9,0
gramas pode levar à morte. O cádmio não apresenta nenhuma qualidade, pelo menos
conhecida até o presente, que o torne benéfico ou essencial para os seres vivos. Estudos
feitos com animais demonstram a possibilidade de causar anemia, retardamento de
crescimento e morte. O padrão de potabilidade é fixado pela Portaria no1469 em 0,005
mg/L. Está presente em águas doces em concentrações traços, geralmente inferiores a
1 µg/L e, através da bioacumulação, pode entrar na cadeia alimentar. O cádmio pode
causar disfunção renal, hipertensão, arteriosclerose, inibição no crescimento, doenças
crônicas em idosos e câncer.

Chumbo
O chumbo está presente no ar, no tabaco, nas bebidas e nos alimentos, nestes últimos,
naturalmente, por contaminação e na embalagem. Está presente na água devido às
descargas de efluentes industriais (efluentes das indústrias de baterias, uso indevido

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UNIDADE II │ O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL

de tintas e tubulações e materiais de construção). É veneno cumulativo, provocando


um envenenamento crônico denominado saturnismo, que consiste em efeito sobre o
sistema nervoso central com consequências bastante sérias. Outros sintomas de uma
exposição crônica ao chumbo, quando o efeito ocorre no sistema nervoso central, são:
tontura, irritabilidade, dor de cabeça, perda de memória, entre outros. A toxicidade do
chumbo, quando aguda, é caracterizada pela sede intensa, sabor metálico, inflamação
gastrointestinal, vômitos e diarreias. O chumbo é padrão de potabilidade, sendo fixado
o valor máximo permissível de 0,03 mg/L pela Portaria no 1469 do Ministério da Saúde.
Aos peixes, as doses fatais, no geral, variam de 0,1 a 0,4 mg/L, embora, em condições
experimentais, alguns resistam até 10 mg/L.

Cloreto
O cloreto é o ânion Cl – que se apresenta nas águas subterrâneas através de solos e
rochas. Nas águas superficiais são fontes importantes as descargas de esgotos sanitários,
sendo que cada pessoa expele através da urina cerca 6 g de cloreto por dia, o que faz
com que os esgotos apresentem concentrações de cloreto que ultrapassam a 15 mg/L.
Diversos são os efluentes industriais que apresentam concentrações de cloreto elevadas
como os da indústria do petróleo, farmacêuticas, curtumes etc. Nas águas tratadas, a
adição de cloro puro ou em solução eleva o nível de cloreto, resultante das reações de
dissociação do cloro na água. Para as águas de abastecimento público, a concentração
de cloreto constitui-se em padrão de potabilidade, segundo a Portaria no 1469 do
Ministério da Saúde. O cloreto provoca sabor “salgado” na água, sendo o cloreto de
sódio o mais restritivo por provocar sabor em concentrações da ordem de 250 mg/L,
valor este que é tomado como padrão de potabilidade. No caso do cloreto de cálcio, o
sabor só é perceptível em concentrações de cloreto superior a 1000 mg/L. Embora haja
populações árabes adaptadas no uso de águas, contendo 2.000 mg/L de cloreto, são
conhecidos também seus efeitos laxativos.

Cobre
O cobre ocorre, geralmente, nas águas, naturalmente, em concentrações inferiores a
20 µg/L. Quando em concentrações elevadas, é prejudicial à saúde e confere sabor às
águas. É necessária uma concentração de 20 mg/L de cobre ou um teor total de 100
mg/L por dia na água para se produzirem intoxicações humanas com lesões no fígado.
No entanto, concentrações de 5 mg/L tornam a água absolutamente impalatável, devido
ao gosto produzido. Alguns cereais apresentam concentrações variáveis de cobre,
é o caso do trigo (190-800 mg/kg), da aveia (40-200 mg/kg) e outros. O cobre, em
pequenas quantidades, é benéfico ao organismo humano, catalisando a assimilação do

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O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL │ UNIDADE II

ferro e seu aproveitamento na síntese da hemoglobina do sangue humano, facilitando a


cura de anemias. Para os peixes, as doses elevadas de cobre são extremamente nocivas.
Assim, trutas, carpas, bagres e outros, morrem em dosagens de 0,5 mg/L. O cobre
aplicado em sua forma de sulfato de cobre, CuSO45H2O, em dosagens de 0,5 mg/L
é um poderoso algicida. As fontes de cobre para o meio ambiente incluem corrosão
de tubulações de latão por águas ácidas, efluentes de estações de tratamento de
esgotos, uso de compostos de cobre como algicidas aquáticos, escoamento superficial e
contaminação da água subterrânea a partir de usos agrícolas do cobre como fungicida
e pesticida no tratamento de solos e efluentes, e precipitação atmosférica de fontes
industriais. As principais fontes industriais incluem indústrias de mineração, fundição
e refinação.

Cromo
As concentrações de cromo em água doce são muito baixas, normalmente, inferiores a 1
µg/L. É comumente utilizado em aplicações industriais e domésticas, como na produção
de alumínio anodizado, aço inoxidável, tintas, pigmentos, explosivos, papel, fotografia.
Na forma trivalente, o cromo é essencial ao metabolismo humano e sua carência
causa doenças. Na forma hexavalente é tóxico e cancerígeno. Os limites máximos são
estabelecidos, basicamente, em função do cromo hexavalente.

Fenóis
Os fenóis e seus derivados aparecem nas águas naturais através das descargas de
efluentes industriais. Indústrias de processamento da borracha, de colas e adesivos,
de resinas impregnantes, de componentes elétricos (plásticos) e as siderúrgicas, entre
outras, são responsáveis pela presença de fenóis nas águas naturais. Os fenóis são
tóxicos ao homem, aos organismos aquáticos e aos microrganismos que tomam parte
dos sistemas de tratamento de esgotos sanitários e de efluentes industriais. No Estado
de São Paulo, existem muitas indústrias contendo efluentes fenólicos ligados à rede
pública de coleta de esgotos. Para isso, devem sofrer tratamento na própria unidade
industrial de modo a reduzir o índice de fenóis para abaixo de 5,0 mg/L (Artigo 19 – A
do Decreto Estadual n.º 8468/76). Nas águas naturais, os padrões para os compostos
fenólicos são bastante restritivos na Legislação Federal. Nas águas tratadas, os fenóis
reagem com o cloro livre formando os clorofenóis que produzem sabor e odor na água.
Por esse motivo, os fenóis constituem-se em padrão de potabilidade, sendo imposto o
limite máximo bastante restritivo de 0,001 mg/L pela Portaria no 1469 do Ministério da
Saúde.

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UNIDADE II │ O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL

Ferro total
O ferro aparece principalmente em águas subterrâneas devido à dissolução do minério
pelo gás carbônico da água, conforme a reação:

Fe + CO2 + ½ O2 FeCO3

O carbonato ferroso é solúvel e, frequentemente, é encontrado em águas de poços


contendo elevados níveis de concentração de ferro. Nas águas superficiais, o nível de
ferro aumenta nas estações chuvosas devido ao carreamento de solos e a ocorrência de
processos de erosão das margens. Também poderá ser importante a contribuição devida
a efluentes industriais, pois muitas indústrias metalúrgicas desenvolvem atividades de
remoção da camada oxidada (ferrugem) das peças antes de seu uso, processo conhecido
por decapagem, que, normalmente, é procedida através da passagem da peça em banho
ácido. Nas águas tratadas para abastecimento público, o emprego de coagulantes a base
de ferro provoca elevação em seu teor. O ferro, apesar de não se constituir em um tóxico,
traz diversos problemas para o abastecimento público de água. Confere cor e sabor à
água, provocando manchas em roupas e utensílios sanitários. Também traz o problema
do desenvolvimento de depósitos em canalizações e de ferro-bactérias, provocando a
contaminação biológica da água na própria rede de distribuição. Por esses motivos, o
ferro constitui-se em padrão de potabilidade, tendo sido estabelecida a concentração
limite de 0,3 mg/L na Portaria no 1469 do Ministério da Saúde.

Fluoreto
O flúor é tão reativo que nunca é encontrado em sua forma elementar na natureza,
sendo, normalmente, encontrado na sua forma combinada como fluoreto. Traços de
fluoreto são encontrados em águas naturais e concentrações elevadas e geralmente,
estão associadas com fontes subterrâneas. A maior concentração de flúor registrada
em águas naturais é de 2.800 mg/L, no Quênia. Alguns efluentes industriais também
descarregam fluoreto nas águas naturais. São os casos das indústrias de vidro e de
fios condutores de eletricidade. No ar, a presença de fluoreto deve-se principalmente
a emissões industriais e sua concentração varia com o tipo de atividade. Estima-se
um valor de exposição abaixo de 1µg/L, pouco significativo em relação à quantidade
ingerida através da água e de alimentos. Todos os alimentos possuem ao menos traços
de fluoreto. Os vegetais possuem concentrações maiores principalmente devido à
absorção da água e do solo. Alguns alimentos tais como peixes, certos vegetais e chá,
possuem altas concentrações de fluoreto. O uso da água fluoretada na preparação de
alimentos pode dobrar a quantidade de fluoreto presente. Estima-se uma quantidade

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O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL │ UNIDADE II

diária ingerida de 0,2 a 3,1 mg para adultos e 0,5 mg para crianças de 1 a 3 anos. Outras
fontes de fluoreto são pastas de dente, gomas de mascar, vitaminas e remédios. O
fluoreto ingerido através da água é quase completamente absorvido pelo corpo humano,
enquanto que o flúor presente nos alimentos não é; em alguns casos, como através de
peixes e outras carnes, chega apenas a 25%. Uma vez absorvido, o fluoreto é distribuído
rapidamente pelo corpo humano, grande parte é retida nos ossos, enquanto que uma
pequena parte é retida nos dentes. O fluoreto pode ser excretado pela urina, dependendo
de fatores como a saúde da pessoa e seu grau de exposição. O fluoreto é adicionado às
águas de abastecimento público para lhes conferir proteção à cárie dentária. O fluoreto
reduz a solubilidade da parte mineralizada do dente, tornando-a mais resistente à
ação de bactérias, e inibe processos enzimáticos que dissolvem a substância orgânica
protéica e o material calcificante do dente. Por outro lado, acima de certas dosagens
o fluoreto provoca mosqueamento do esmalte dos dentes (fluorose dentária). Alguns
odontólogos sanitaristas, contrários à fluoretação em águas de abastecimento, alertam
para a possibilidade de ocorrência de descalcificação de ossos de idosos, a chamada
fluorose óssea.

Fósforo total
O fósforo aparece em águas naturais devido, principalmente, às descargas de esgotos
sanitários. Nesses, os detergentes superfosfatados, empregados em larga escala
domesticamente, constituem a principal fonte, além da própria matéria fecal, que é
rica em proteínas. Alguns efluentes industriais, como os de indústrias de fertilizantes,
pesticidas, químicas em geral, conservas alimentícias, abatedouros, frigoríficos e
laticínios, apresentam fósforo em quantidades excessivas. As águas drenadas em
áreas agrícolas e urbanas também podem provocar a presença excessiva de fósforo em
águas naturais. O fósforo pode se apresentar nas águas sob três formas diferentes. Os
fosfatos orgânicos são a forma em que o fósforo compõe moléculas orgânicas, como
a de um detergente, por exemplo. Os ortofosfatos, por outro lado, são representados
pelos radicais, que se combinam com cátions formando sais inorgânicos nas águas.
Os polifosfatos ou fosfatos condensados são polímeros de ortofosfatos. No entanto,
essa terceira forma não é muito importante nos estudos de controle de qualidade
das águas, porque os polifosfatos sofrem hidrólise, convertendo-se rapidamente em
ortofosfatos nas águas naturais. Assim como o nitrogênio, o fósforo constitui-se em
um dos principais nutrientes para os processos biológicos, ou seja, é um dos chamados
macronutrientes, por ser exigido também em grandes quantidades pelas células.
Nessa qualidade, torna-se parâmetro imprescindível em programas de caracterização
de efluentes industriais que se pretendem tratar por processo biológico. Os esgotos

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UNIDADE II │ O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL

sanitários no Brasil apresentam, tipicamente, concentração de fósforo total na faixa de


6 a 10 mgP/L. Ainda por ser nutriente para processos biológicos, o excesso de fósforo
em esgotos sanitários e efluentes industriais, por outro lado, conduz a processos de
eutrofização das águas naturais.

Manganês
O comportamento do manganês nas águas é muito semelhante ao do ferro em seus
aspectos os mais diversos, sendo que a sua ocorrência é mais rara. A concentração
de manganês menor que 0,05 mg/L, geralmente, é aceitável em mananciais, devido
ao fato de não ocorrerem, nessa faixa de concentração, manifestações de manchas
negras ou depósitos de seu óxido nos sistemas de abastecimento de água. Raramente
atinge concentrações de 1,0 mg/L em águas superficiais naturais e, normalmente, está
presente em quantidades de 0,2 mg/L ou menos. É muito usado na indústria do aço, na
fabricação de ligas metálicas e baterias e na indústria química em tintas, vernizes, fogos
de artifícios e fertilizantes, entre outros.

Níquel
O níquel causa morte em peixes por asfixia. Concentrações de níquel em águas superficiais
naturais podem chegar a aproximadamente 0,1 mg/L, embora concentrações de mais
de 11,0 mg/L possam ser encontradas, principalmente em áreas de mineração. A maior
contribuição para o meio ambiente, pela atividade humana, é a queima de combustíveis
fósseis. Como contribuintes principais temos também os processos de mineração
e fundição do metal, fusão e modelagem de ligas, indústrias de eletrodeposição e,
como fontes secundárias, temos fabricação de alimentos, artigos de panificadoras,
refrigerantes e sorvetes aromatizados. Doses elevadas de níquel podem causar
dermatites nos indivíduos mais sensíveis e afetar nervos cardíacos e respiratórios.

Óleos e graxas
Os óleos e as graxas são substâncias orgânicas de origem mineral, vegetal ou animal,
solúveis em hexano. Essas substâncias, geralmente, são hidrocarbonetos, gorduras,
ésteres, entre outros. São raramente encontrados em águas naturais, normalmente,
oriundos de despejos e resíduos industriais, esgotos domésticos, efluentes de oficinas
mecânicas, postos de gasolina, estradas e vias públicas. Os despejos de origem industrial
são os que mais contribuem para o aumento de matérias graxas nos corpos d’água.
Entre os despejos podemos citar os de refinarias, frigoríficos, saboarias etc. A presença

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O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL │ UNIDADE II

de material graxo nos corpos d’água, além de acarretar problemas de origem estética,
diminui a área de contato entre a superfície da água e o ar atmosférico, impedindo,
dessa maneira, a transferência do oxigênio da atmosfera para a água. Os óleos e as
graxas em seu processo de decomposição reduzem o oxigênio dissolvido, elevando a
DBO5,20 e a DQO, causando alteração no ecossistema aquático. Na legislação brasileira,
não existe limite estabelecido para esse parâmetro; a recomendação é de que os óleos e
as graxas sejam virtualmente ausentes.

Potencial Hidrogeniônico – pH
Por influir em diversos equilíbrios químicos que ocorrem naturalmente ou em processos
unitários de tratamento de águas, o pH é um parâmetro importante em muitos estudos
no campo do saneamento ambiental. A influência do pH sobre os ecossistemas aquáticos
naturais se dá diretamente, devido a seus efeitos sobre a fisiologia das diversas espécies.
Também o efeito indireto é muito importante, podendo determinadas condições de pH
contribuírem para a precipitação de elementos químicos tóxicos como metais pesados;
outras condições podem exercer efeitos sobre as solubilidades de nutrientes. Dessa
forma, as restrições de faixas de pH são estabelecidas para as diversas classes de águas
naturais de acordo com a Legislação Federal. Os critérios de proteção à vida aquática
fixam o pH entre 6 e 9.

Potássio
Potássio é encontrado em concentrações baixas nas águas naturais, já que rochas que
contenham são relativamente resistentes à ações do tempo. Entretanto, sais de potássio
são largamente usados na indústria e em fertilizantes para agricultura e entram nas
águas doces com descargas industriais e lixiviação das terras agrícolas. Potássio é
usualmente encontrado na forma iônica e os sais são altamente solúveis. Ele é pronto
para ser incorporado em estruturas minerais e acumulado pela biota aquática, pois é
um elemento nutricional essencial. Concentrações em águas naturais são usualmente
menores que 10 mg/L. Concentrações elevadas, da ordem de grandeza de 100 e 25.000
mg/L, podem indicar a ocorrência de fontes quentes e salmouras, respectivamente.

Série de nitrogênio – (amônia, nitrato, nitrito e


nitrogênio orgânico)
São diversas as fontes de nitrogênio nas águas naturais. Os esgotos sanitários
constituem em geral a principal fonte, lançando nas águas nitrogênio orgânico devido

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UNIDADE II │ O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL

à presença de proteínas e nitrogênio amoniacal, devido à hidrólise sofrida pela ureia na


água. Alguns efluentes industriais também concorrem para as descargas de nitrogênio
orgânico e amoniacal nas águas, como algumas indústrias químicas, petroquímicas,
siderúrgicas, farmacêuticas, de conservas alimentícias, matadouros, frigoríficos e
curtumes. A atmosfera é outra fonte importante devido a diversos mecanismos: fixação
biológica desempenhada por bactérias e algas, que incorporam o nitrogênio atmosférico
em seus tecidos, contribuindo para a presença de nitrogênio orgânico nas águas; a
fixação química, reação que depende da presença de luz, concorre para as presenças
de amônia e nitratos nas águas; as lavagens da atmosfera poluída pelas águas pluviais
concorrem para as presenças de partículas, contendo nitrogênio orgânico, bem como
para a dissolução de amônia e nitratos. Nas áreas agrícolas, o escoamento das águas
pluviais pelos solos fertilizados também contribui para a presença de diversas formas de
nitrogênio. Nas áreas urbanas, as drenagens de águas pluviais, associadas às deficiências
do sistema de limpeza pública, constituem fonte difusa de difícil caracterização. Como
visto, o nitrogênio pode ser encontrado nas águas nas formas de nitrogênio orgânico,
amoniacal, nitrito e nitrato. As duas primeiras chamam-se formas reduzidas e as duas
últimas, formas oxidadas. Pode-se associar a idade da poluição com a relação entre as
formas de nitrogênio, ou seja, se for coletada uma amostra de água de um rio poluído e
as análises demonstrarem predominância das formas reduzidas significa que o foco de
poluição se encontra próximo. Se prevalecer nitrito e nitrato, ao contrário, significa que
as descargas de esgotos se encontram distantes. Nas zonas de autodepuração natural
em rios, distinguem-se as presenças de nitrogênio orgânico na zona de degradação,
amoniacal na zona de decomposição ativa, nitrito na zona de recuperação e nitrato
na zona de águas limpas. Os compostos de nitrogênio são nutrientes para processos
biológicos. São tidos como macronutrientes, pois, depois do carbono, o nitrogênio é
o elemento exigido em maior quantidade pelas células vivas. Quando descarregados
nas águas naturais conjuntamente com o fósforo e outros nutrientes presentes nos
despejos, provocam o enriquecimento do meio, tornando-o mais fértil, e possibilitam o
crescimento em maior extensão dos seres vivos que os utilizam, especialmente as algas,
o que é chamado de eutrofização. Quando as descargas de nutrientes são muito fortes,
dá-se o florescimento muito intenso de gêneros que predominam em cada situação em
particular. Essas grandes concentrações de algas podem trazer prejuízos aos usos que
se possam fazer dessas águas, prejudicando seriamente o abastecimento público ou
causando poluição por morte e decomposição. O controle da eutrofização, por meio
da redução do aporte de nitrogênio, é comprometida pela multiplicidade de fontes,
algumas muito difíceis de serem controladas como a fixação do nitrogênio atmosférico,
por parte de alguns gêneros de algas. Por isso, deve-se investir, preferencialmente,
no controle das fontes de fósforo. Pela Legislação Federal em vigor, o nitrogênio
amoniacal é padrão de classificação das águas naturais e padrão de emissão de esgotos.

28
O IMPACTO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS NA QUALIDADE AMBIENTAL │ UNIDADE II

A amônia é um tóxico bastante restritivo à vida dos peixes, sendo que muitas espécies
não suportam concentrações acima de 5 mg/L. Além disso, como visto anteriormente,
a amônia provoca consumo de oxigênio dissolvido das águas naturais ao ser oxidada
biologicamente, a chamada DBO de segundo estágio. Por esses motivos, a concentração
de nitrogênio amoniacal é importante parâmetro de classificação das águas naturais e,
normalmente, utilizado na constituição de índices de qualidade das águas. Os nitratos
são tóxicos, causando uma doença chamada metahemoglobinemia infantil, que é letal
para crianças (o nitrato reduz-se a nitrito na corrente sanguínea, competindo com o
oxigênio livre, tornando o sangue azul). Por isso, o nitrato é padrão de potabilidade,
sendo 10 mg/L o valor máximo permitido pela Portaria no 2.914.

Zinco
A presença de zinco é comum nas águas naturais, excedendo em um levantamento
efetuado nos EUA a 20 mg/L em 95 dos 135 mananciais pesquisados. O zinco é um
elemento essencial para o crescimento, porém, em concentrações acima de 5,0 mg/L,
confere sabor à água e uma certa opalescência a águas alcalinas. Os efeitos tóxicos
do zinco sobre os peixes são muito conhecidos, assim como sobre as algas. A ação
desse íon metálico sobre o sistema respiratório dos peixes é semelhante à do níquel,
anteriormente citada. Em águas superficiais, normalmente, as concentrações estão na
faixa de <0,001 a 0,10 mg/L. É largamente utilizado na indústria e pode entrar no meio
ambiente através de processos naturais e antropogênicos, entre os quais se destacam a
produção de zinco primário, combustão de madeira, incineração de resíduos, produção
de ferro e aço, efluentes domésticos. A água com alta concentração de zinco tem uma
aparência leitosa e produz um sabor metálico ou adstringente quando aquecida. O
zinco, por ser um elemento essencial para o ser humano, só se torna prejudicial à saúde
quando ingerido em concentrações muito altas, o que é extremamente raro. Nesse caso,
pode acumular-se em outros tecidos do organismo humano; isso só ocorre quando as
taxas de ingestão diária são elevadas.

Fonte: Girard, J.E. Princípios de Química Ambiental. Tradução da segunda edição norte-americana.
Editora LTC, 2013

29
POLUENTES
GASOSOS E UNIDADE III
SEUS EFEITOS NO
MEIO AMBIENTE

CAPÍTULO 1
Atmosfera e poluentes associados à
emissão veicular

Fonte: Girard, J.E. Princípios de Química Ambiental. Tradução da segunda edição


norte-americana. Editora LTC, 2013

A atmosfera consiste em uma camada fina de mistura de gases que cobrem a superfície
da Terra. Excluindo os vapores de água, o ar atmosférico é composto de 78,10% (em
volume) de nitrogênio (N2), 21,0% de oxigênio (O2), 0,9% de argônio (Ar) e 0,03%,
de dióxido de carbono (CO2). Normalmente, o ar contém 1,0-3,0% de vapor de água
em volume. Adicionalmente, contém uma larga variedade de gases ao nível de traços
(abaixo de 0,002%), que inclui o neônio (Ne), hélio (He), metano (CH2), criptônio (Kr),
óxido nitroso (N2O), xenônio (Xe), dióxido de enxofre (SO2), ozônio (O3), dióxido de
nitrogênio (NO2), amônia (NH2) e monóxido de carbono (CO).

A atmosfera é dividida em algumas camadas (troposfera, estratosfera, mesosfera,


termosfera e exosfera) tendo como base a temperatura. Dessas, as mais significantes
são a troposfera que se estende a partir da superfície terrestre até uma altitude de
aproximadamente 11 Km, e a estratosfera de 11 Km até aproximadamente 50 Km. A
temperatura da troposfera varia de uma média de 15 ºC ao nível do mar a uma média
de -56ºC no limite superior.

30
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III

Figura 2: Distintas camadas da atmosfera terrestre.

Destaque para a Camada de Ozônio que é uma fina faixa gasosa, de 15 a 45 km de altitude (estratosfera).

Uma das principais características da atmosfera terrestre é que ela é um ambiente


oxidante, fenômeno que se explica pela alta concentração de oxigênio diatômico, O2.
Quase todos os gases liberados no ar, sejam eles substâncias “naturais” ou “poluentes”,
são totalmente oxidados e seus produtos finais ao longo do tempo, depositados na
superfície da Terra. Desse modo, as reações de oxidação são vitais para a remoção dos
poluentes do ar (BAIRD; CANN, 2011).

Poluentes atmosféricos
Um poluente atmosférico pode ser qualquer forma de matéria ou energia com
intensidade e em quantidade, concentração, tempo ou características que tornem ou
possam tornar o ar impróprio ou nocivo à saúde; inconveniente ao bem-estar público;
danoso aos materiais, à fauna e à flora; e prejudicial à segurança, ao uso e ao gozo da
propriedade e às atividades normais da comunidade (CONAMA no 3/1990).

Com relação a sua origem, os poluentes podem ser classificados em Poluentes Primários
e Poluentes Secundários. Os Primários são aqueles emitidos diretamente pelas fontes de
emissão, enquanto os secundários são aqueles formados na atmosfera como o resultado
de reações químicas (como hidrólise, oxidação ou reações fotoquímicas) envolvendo os
poluentes primários.

As fontes podem ser de origem natural e antropogênica (estacionárias e móveis).

O receptor é tudo que pode ser adversamente afetado pela poluição do ar (pessoas,
animais, plantas e materiais).

31
UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE

Os dois principais mecanismos de dispersão dos poluentes estão relacionados aos


processos de transporte e difusão. A difusão ocorre devido à diferença de concentração
do poluente em diversos pontos. Já o transporte é devido ao arraste do poluente
pelo vento médio e pela turbulência atmosférica. A capacidade de dispersão está
intimamente relacionada à intensidade da turbulência atmosférica.

Quando se determina a concentração de um poluente na atmosfera, mede-se o grau


de exposição dos receptores, como resultado final do processo de lançamento desse
poluente na atmosfera por suas fontes de emissão e suas interações, do ponto de vista
físico (diluição) e químico (reações químicas).

Poluentes associados à emissão veicular


As emissões de origem veicular são resultado da queima do combustível ou de sua
evaporação. Os tipos mais comuns de combustíveis para utilização em transporte
são: gasolina para os veículos leves (automóveis) e o diesel para os veículos pesados
(ônibus e caminhões). Outros combustíveis são utilizados em veículos leves, como o
álcool (etanol e metanol), mistura de gasolina e álcool, gás natural veicular – GNV e gás
liquefeito de petróleo – GLP.

Os poluentes primários emitidos pelos veículos automotores incluem o dióxido de


carbono (CO2), o monóxido de carbono (CO), os hidrocarbonetos (HC), o dióxido de
enxofre (SO2), os óxidos de nitrogênio (NOx) e os materiais particulados (MP). E os
poluentes secundários, associados às emissões dos veículos automotores, incluem
o dióxido de nitrogênio (NO2), os oxidantes fotoquímicos (por exemplo, o ozônio), o
ácido sulfúrico, o ácido nítrico e seus sais (como os aerossóis de sulfatos e nitratos). O
NO2 é formado através da oxidação no ar do óxido nítrico (NO), é um poluente gasoso
formado a altas temperaturas de combustão e emitido pelos veículos automotores. O
ozônio (O3) é formado a partir da reação do NOx e o HC em presença de luz solar. O
SO2 e o NOx podem reagir com a umidade atmosférica, o oxigênio e o MP para formar
o ácido sulfúrico e o ácido nítrico ou seus sais (GIRARD, 2013).

Monóxido de Carbono – CO
Gás incolor e inodoro que é emitido por fontes naturais e antropogênicas. As fontes
antropogênicas formam CO a partir de combustão incompleta de combustíveis com
carbono em: veículos automotores, instalações industriais, plantas termelétricas
e incineradores. O tempo de residência, a turbulência na câmara de combustão, a
temperatura da chama e o excesso de oxigênio afetam a formação de CO. A conversão de

32
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III

CO para CO2 na atmosfera é lenta e leva de dois a cinco meses. Os veículos automotores
são os principais contribuidores para as emissões antropogênicas de CO, sendo que os
carros com motores mais modernos tiveram os níveis de emissão bastante diminuídos
devido às modificações nos sistemas de operação e à utilização de sistemas catalíticos.

Os níveis atmosféricos de CO nas áreas urbanas mostram uma correlação positiva com
a densidade de tráfego veicular e uma correlação negativa com a velocidade dos ventos.
Áreas urbanas podem apresentar níveis médios de CO, em ordem de ppm, muitas vezes
maior do que em áreas remotas (GIRARD, 2013).

Óxidos de Nitrogênio – NOx


Os óxidos de nitrogênio incluem oxido nítrico (NO), dióxido de nitrogênio (NO2), óxido
nitroso (N2O), trióxido de dinitrogênio (N2O3) e pentóxido de nitrogênio (N2O5). Os
óxidos de nitrogênio são produzidos por fenômenos naturais como os relâmpagos,
erupções vulcânicas e ações bacteriológicas no solo. Como fontes antropogênicas, têm-
se a combustão em unidades termelétricas, máquinas de combustão interna, instalações
industriais e incineradores. Os óxidos de nitrogênio gasosos são produzidos sempre
que um combustível é queimado em presença de ar com chama a altas temperaturas,
quando as colisões moleculares entre as moléculas de nitrogênio e oxigênio tornam-se
suficientemente vigorosas para quebrar a ligação covalente N—N.

Com isso, parte do nitrogênio e do oxigênio gasosos no ar combinam-se para formar


óxido nítrico, NO. Devido à reação entre N2 e O2 apresentar alta energia de ativação,
essa ocorre muito lentamente a ponto de ser desprezível, exceto a temperaturas muito
elevadas, como as que ocorrem nos motores à combustão em veículos modernos,
principalmente quando estão viajando a altas velocidades, e em plantas geradoras de
energia (LOUREIRO, 2005).

CHAMA
N2 + O 2 2 NO

Em torno de 90% das emissões de óxidos de nitrogênio são na forma de NO. Esse
óxido no ar é, gradualmente, oxidado para formar dióxido de nitrogênio, NO2, em um
período de minutos ou horas, dependendo da concentração dos gases poluentes. É
mais comum, coletivamente, NO e NO2 serem denominados de NOx. Na atmosfera,
esses óxidos podem estar envolvidos em uma série de reações (na presença de radiação
ultravioleta) que produz smog fotoquímico, reduzindo a visibilidade. A cor amarela
na atmosfera de uma cidade envolvida pelo smog deve-se à presença do dióxido de
nitrogênio, uma vez que esse gás absorve um pouco de luz visível próximo do limite do
violeta e, consequentemente, a luz solar transmitida através da névoa, parece amarela.
33
UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE

Na camada mais baixa da atmosfera (troposfera) NO2 forma ozônio ao reagir com os
HC (hidrocarbonetos) (BAIRD; CANN, 2002).

Smog é uma neblina de tonalidade amarela-amarronzada que se deve à


presença no ar de pequenas gotas de água contendo produtos derivados
de reações químicas que ocorrem entre os poluentes do ar.

Hidrocarbonetos – HC
Os hidrocarbonetos são definidos quimicamente como compostos constituídos de
carbono e hidrogênio. Nos estudos de qualidade do ar, contudo, o termo hidrocarboneto
costuma ser estendido para incluir uma variedade de outros compostos orgânicos
voláteis (COV ou em inglês VOC) como os álcoois e os aldeídos. Os COV mais reativos no
ar urbano são os hidrocarbonetos que contêm ligação dupla, C=C, dado que eles podem
se adicionar aos radicais livres. Outros hidrocarbonetos também estão presentes e
podem reagir, mas sua velocidade de reação é lenta. A maioria dos HC não é diretamente
prejudicial à saúde nas concentrações encontradas no ar ambiente. Contudo, em reações
químicas na troposfera participam da formação do NO2 e do ozônio, que são perigosos
para o meio ambiente e para a saúde. Entre os vários HC, o metano (CH4) não participa
dessas reações. Os hidrocarbonetos restantes, ditos hidrocarbonetos não metânicos
(HCNM), são reativos e formam poluentes secundários.

Os HC são emitidos a partir de fontes naturais e antropogênicas. As fontes naturais


incluem decomposição anaeróbica de plantas em pântanos e brejos, vazamento em
campos de gás natural e de óleo e emissões de plantas. As duas primeiras fontes produzem
principalmente metano e a terceira fonte produz HC, que reagem fotoquimicamente.
As fontes antropogênicas de emissão incluem veículos automotores, tanques de
estocagem de gasolina e solventes, estações de transferência, refinarias de petróleo e
plantas petroquímicas. As emissões de HC a partir de veículos automotores ocorrem
por combustível não queimado ou por combustão incompleta.

O metano constitui 5 – 15% das emissões de HC dos veículos não equipados com
conversores catalíticos, e sobe para 40% das emissões nos veículos equipados com
conversor catalítico. Isso ocorre porque os catalisadores são menos efetivos na
oxidação do metano do que os outros HC. Na presença de radiação ultravioleta, os HC
(não metânicos) e os NOx reagem com o oxigênio para formar ozônio na troposfera. O
tempo de reação varia de mais ou menos uma hora até diversos dias, dependendo da
reatividade do HC (não metânicos) (ONURSAL et al. 1997).

34
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III

As emissões veiculares tóxicas de hidrocarbonetos incluem benzeno; 1,3 butadieno,


hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAH) e aldeídos. Em torno de 85-90% dessas
emissões de tóxicos provêm do escapamento e o restante vem diretamente da evaporação
ou das perdas na distribuição. O escapamento de benzeno é originado da presença
deste composto na gasolina e da combustão incompleta de outros hidrocarbonetos
aromáticos existentes na gasolina, tais como tolueno e xileno (ONURSAL et al. 1997).

Em ambientes com concentrações baixas de oxigênio, como os que ocorrem dentro


do envelope da chama, os compostos PAH são sintetizados a partir de fragmentos de
carbono dentro de grandes estruturas moleculares. Os PAHs têm como fontes: exausto
dos motores à gasolina e a diesel, principalmente, o “alcatrão” do cigarro e outros
processos de combustão incompleta (BAIRD; CANN, 2011).

Os aldeídos e o 1,3 butadieno não estão presentes na gasolina, diesel ou etanol, mas
estão presentes nas emissões do escapamento como produtos de combustão parcial.
Os aldeídos são também formados na atmosfera a partir de outras fontes móveis de
poluentes e têm uma alta reatividade fotoquímica para formação de ozônio. Os principais
tipos de aldeídos formados incluem o formaldeído e o acetaldeído. A combustão do
etanol favorece as emissões de acetaldeído. Já a combustão do metanol favorece as
emissões de formaldeído. Os poliaromáticos são emitidos a altas velocidades e os
veículos a diesel emitem mais do que os a gasolina (ONURSAL et al. 1997).

Ozônio – O3
O ozônio (O3) é uma molécula formada por três átomos de oxigênio. É um gás
incolor que ocorre em duas camadas distintas da atmosfera. A maioria do oxigênio
estratosférico existe como diatômico (O2) em vez de atômico (O). Como a concentração
de moléculas de O2 é relativamente grande, e a concentração de oxigênio atômico é
pequena, o destino mais provável dos átomos de oxigênio estratosférico, criados pela
decomposição fotoquímica do O2 e sua colisão com moléculas de oxigênio diatômico
intactas e não dissociadas, resultando, assim, na produção de ozônio:

0 + 02 03 + calor
oxigênio atômico oxigênio diatômico ozônio

No decorrer das horas de luz, o ozônio é, constantemente, formado mediante esse


processo, cuja velocidade depende da quantidade de luz UV e das concentrações dos
átomos e das moléculas de oxigênio a uma dada altitude (BAIRD; CANN, 2011).

35
UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE

Na camada mais interna (troposfera), o ozônio ao nível do solo é formado pela reação
dos COV e NOx com oxigênio ambiente em presença de luz solar e altas temperaturas.
O ozônio ao nível do solo é o maior constituinte do smog nas áreas urbanas e os
veículos automotores são as principais fontes antropogênicas de seus precursores.
Suas concentrações dependem da concentração relativa e absoluta de seus percussores
e da intensidade da radiação solar, que exibe variações diurnas e sasonais. As
inversões térmicas aumentam a concentração desse ozônio (ONURSAL et al. 1997).

COV + NO + O2 + Luz Solar O3 + HNO3 +


Compostos Orgânicos

Dióxido de enxofre – SO2


É um gás estável, não inflamável, não explosivo e incolor que pode ser detectado pelo
paladar em concentrações tão baixas quanto 1,0 μg/m3 ou pelo olfato, acima de 10,0
μg/m3, e é extremamente solúvel em água. Na atmosfera o SO2 pode ser convertido
em trióxido de enxofre (SO3) pela reação com o oxigênio (ONURSAL et al. 1997). As
quantidades de SO2 são tipicamente muito superiores às de SO3, pois, apesar da reação
de obtenção do SO3 ser termodinamicamente favorável, é lenta.

Em processos de combustão, todo o enxofre que está presente no combustível aparece


como SO2 ou SO3 nos produtos de combustão, a combinação desses dois óxidos é
denominada de SOx. Devido a essa conversão do enxofre contido no combustível,
existem apenas duas maneiras possíveis de controlar as emissões de SOx: remover o
enxofre dos combustíveis ou o SOx dos produtos gasosos.

O SO2 e o SO3 reagem com a umidade do ar para formar ácido sulfuroso (H2SO3) e
ácido sulfúrico (H2SO4), que podem ser transportados pelos ventos por centenas de
quilômetros antes de caírem na terra na forma de chuva ácida. Sulfatos também podem
ser produzidos através da reação desses compostos de enxofre com metais presentes
nos materiais particulados (ONURSAL et al. 1997).

Material Particulado – MP
São partículas finas de sólidos ou líquidos que se encontram suspensas em uma dada
massa de ar e que não são todas do mesmo tamanho, forma ou composição química
(BAIRD; CANN, 2011).

Embora somente algumas partículas suspensas no ar apresentem forma exatamente


esférica, é conveniente e convencional tratar a totalidade das partículas como se

36
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III

apresentasse essa forma. De fato, o diâmetro das partículas é sua propriedade mais
relevante. Qualitativamente, partículas individuais são classificadas como grossas
e finas, dependendo de seu diâmetro ser maior ou menor que 2,5 μm3 (cerca de 100
milhões de partículas de 2,5 μm seriam necessárias para recobrir a superfície de uma
pequena moeda) (BAIRD; CANN, 2011).

O material particulado pode ser de origem natural ou antropogênica. As fontes naturais


incluem o solo, cinzas vulcânicas, queimadas, sais marinhos e pólens. As fontes
antropogênicas incluem plantas termoelétricas, indústrias, instalações comerciais e
residenciais e veículos automotores que utilizam combustíveis fósseis (ONURSAL et
al. 1997).

As Partículas Totais em Suspensão – PTS, são aquelas com diâmetro aerodinâmico


menor do que 100 μm. O material particulado maior do que 10 μm de diâmetro resulta
de ações físicas como erosão eólica ou operações de moagem e tende a se assentar
próximo de suas fontes. MP com um diâmetro aerodinâmico de 10 μm ou menos, é
conhecido como material particulado suspenso inalável ou MP10, que permanece na
atmosfera por longos períodos de tempo, pois possui baixa velocidade de depósito. As
partículas inaláveis podem ser classificadas como finas – MP2,5 (< 2,5μm) e grossas –
MP10 (2,5μm a 10μm) (CETESB, 1999).

As partículas grossas são geralmente emitidas de veículos trafegando em estradas


não pavimentadas, manuseio de materiais, operações de trituração e moagem.
Aproximadamente todos os materiais particulados emitidos por veículos automotores
consistem de partículas finas e uma grande fração dessas partículas tem um diâmetro
aerodinâmico menor do 1 μm. O MP2,5 resulta da combustão de combustíveis fosséis em
plantas de geração de energia, instalações industriais, fogões residenciais e queimadas
na agricultura. O MP2,5 também pode ser formado na atmosfera como aerossol a partir
de reações químicas que envolvem gases como SO2, NOx e VOC.

Veículos à gasolina possuem taxas de emissão menores de MP do que os veículos a


diesel. As emissões de material particulado dos veículos à gasolina resultam do óleo
lubrificante não queimado e resíduo da queima do combustível e dos óleos aditivos. O
MP emitido pelos veículos a diesel consiste de fuligem formada durante a combustão,
HC pesados condensados ou adsorvidos pela fuligem e sulfatos. Essas emissões contêm
hidrocarbonetos policíclicos aromáticos. Em veículos antigos a diesel, a contribuição
de fuligem para as emissões de MP é entre 40 – 80%. Com o avanço das medidas de
controle de emissão em motores, contudo, a contribuição de fuligem tem-se reduzido
consideravelmente. HC pesados referem-se a frações orgânicas solúveis de MP, que
tiveram origem a partir do óleo lubrificante, do combustível não queimado e compostos
formados durante a combustão.

37
UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE

A fumaça negra, associada à porção de fuligem da emissão de MP dos veículos a diesel,


é causada pela deficiência de oxigênio durante a combustão ou na fase de expansão.
Fumaça azul, cinza e branca pode ser causada pela condensação de HC na exaustão dos
veículos a diesel. As cinzas ou as azuis resultam da vaporização do óleo lubrificante e as
brancas ocorrem durante a partida do motor em tempo frio.

Dióxido de Carbono – CO2


O dióxido de carbono é um gás inodoro mais denso que o ar, produzido durante a
queima de matéria orgânica, em vários processos industriais, uso do solo (incluindo o
desflorestamento) e também é o produto final do processo de metabolismo.

Como esse gás é emitido em diversos processos naturais, não é considerado um


poluente, e, sim, um gás de efeito estufa, cujo grande aumento da concentração tem
efeito bastante crítico. Em média, após alguns anos de sua emissão no ar, uma molécula
de CO2 se dissolve na superfície da água do mar ou é absorvida, tornando-se parte de
uma planta em crescimento. Mas algumas dessas moléculas de CO2 serão liberadas de
volta ao ar, em média alguns anos mais tarde, de modo que o sumidouro de CO2 é apenas
temporário. O único sumidouro permanente é as águas profundas do oceano (escala de
tempo desse processo é muito longa) e/ou precipitação na forma de carbonato de cálcio
insolúvel (BAIRD; CANN, 2011).

Efeitos dos principais poluentes atmosféricos


sobre a saúde
Os efeitos da poluição do ar são classificados como efeitos agudos e efeitos crônicos:

Efeitos agudos – podem ser de caráter temporário, e originam-se de episódios


em que os poluentes ultrapassam os níveis regulares de sua concentração, gerando
efeitos imediatos como irritação nos olhos, tosse e até efeitos graves, como o aumento
da mortalidade. Os efeitos são, em geral, reversíveis e ocorrem quando há condições
climáticas adversas, com consequente aumento da concentração de poluentes.

Efeitos crônicos – podem ser de caráter permanente e ocasionar prejuízos à vegetação,


à visibilidade e à saúde dos seres humanos, causando incômodos e desconforto (danos
sociais); em longo prazo podem provocar a corrosão de estruturas e o desgaste de
materiais de construções e obras de arte.

O nível de exposição a qualquer poluente varia de forma considerável de local para


local, contudo, pode-se coletar informações sobre a saúde e os níveis de poluição em

38
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III

diferentes locais e correlacioná-las, utilizando estatística a fim de estabelecer o efeito


de um sobre o outro.

Como esperado, os principais efeitos dos poluentes do ar sobre a saúde humana ocorrem
nos pulmões. Por exemplo, embora a poluição do ar possa não causar asma, os asmáticos
sofrem as piores crises quando aumentam as concentrações de SO2 , O3 e MP no ar que
respiram (BAIRD; CANN, 2011).

Os principais efeitos dos poluentes atmosféricos são:

»» Monóxido de Carbono (CO): Combina-se à hemoglobina das


células do sangue para formar a carboxihemoglobina. A afinidade da
hemoglobina pelo CO é em torno de 200 a 240 vezes maior do que
pelo oxigênio. Logo, a capacidade da hemoglobina transportar oxigênio
é diminuída proporcionalmente à quantidade de CO inspirada do ar
ambiente. O complexo CO – hemoglobina é muito mais estável do que
o O2 – hemoglobina (oxihemoglobina). Assim, a exposição ao CO resulta
em uma condição em que há redução do suprimento de oxigênio para os
tecidos do corpo devido à menor quantidade de oxigênio transportado
dos pulmões para os tecidos. Os danos causados pela intoxicação por
CO é devido à diminuição da liberação de oxigênio para os tecidos e as
células.

»» Dióxido de Carbono (CO2): Leva rapidamente à hiperventilação


(respiração extremamente rápida e profunda), transpiração e dor de
cabeça. Os sintomas iniciais podem vir seguidos pela perda de consciência
e a morte.

»» Ozônio (O3): Diminui a resistência às doenças infecciosas devido à


destruição dos tecidos pulmonares. Acredita-se que a exposição crônica
a altos níveis de ozônio urbano leve ao envelhecimento prematuro dos
tecidos pulmonares. Em nível molecular, o ozônio ataca prontamente
substâncias que contenham em sua estrutura ligações C=C, tais como as
que se encontram nos tecidos dos pulmões.

»» Óxidos de nitrogênio (NOx): É um intenso irritante dos bronquíolos


e alvéolos, o NO2 não é muito solúvel. Em baixas concentrações, pode
produzir apenas sintomas suaves no trato respiratório superior. O gás
inalado dissolve-se no revestimento médio aquoso da mucosa nasal
e faríngea onde rapidamente forma ácido nítrico e nitroso, como é
demonstrado pela seguinte reação:

39
UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE

NO2 + H2O HNO3 → H+ + NO3–

»» Em intensas exposições, a formação dos ácidos pode, imediatamente,


causar irritação da mucosa que se expõe (sistema respiratório superior).
Sintomas similares de irritação da mucosa podem também aparecer
nos olhos (conjuntivite). Nos pulmões, a resposta inicial pode ser tosse,
dispnéa e reação broncoscópica. Inalações de altas concentrações podem
resultar em edema pulmonar, e até mortes podem ocorrer.

»» Óxidos de enxofre (SOx): Causa inflamações graves nas mucosas das


vias respiratórias, em altas concentrações, podendo em alguns casos ser
fatal. Têm-se especulações de que a poluição devida ao SO2 e sulfatos
causa diminuição na resistência ao câncer de colo e de mama em pessoas
que vivem nas latitudes situadas mais ao norte. A explicação para isso é a
redução da quantidade disponível de UV-B que é necessário para formar
vitamina D, um agente protetor para ambos os tipos de câncer. Uma
vez que o SO2 absorve os raios UV-B e as partículas de sulfatos causam
o seu espalhamento, a presença de concentrações significativas desses
poluentes no ar reduzem a quantidade de UV-B que chega à superfície
da Terra. O SOx e o PM costumam estar juntos na atmosfera e podem ter
efeito sinérgico com outros poluentes.

»» Material Particulado (MP): Filtradas de modo eficiente pelo nariz


(incluído seus pelos) e pela garganta, as partículas grossas, geralmente,
não são transportadas até os pulmões. Ao contrário, as partículas finas
inaladas chegam até os pulmões (por isso chamadas de “respiráveis”) e
podem ser adsorvidas na superfície das células. Os quadros alérgicos, de
asma e bronquite, são agravados.

»» Compostos Orgânicos Voláteis (COV): Provocam irritação nos olhos,


no nariz, na pele e no aparelho respiratório. Alguns desses compostos
podem provocar danos celulares, sendo que alguns são carcinogênicos e/
ou mutagênicos. Entre os mais críticos estão o benzeno, os PAHs e alguns
aldeídos.

Padrões de qualidade do ar
São padrões de qualidade do ar as concentrações de poluentes atmosféricos que, se
ultrapassadas, poderão afetar a saúde, a segurança e o bem-estar da população, bem

40
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III

como ocasionar danos à flora e à fauna, aos materiais e ao meio ambiente em geral
(CONAMA no 3/1990).

Padrões primários de qualidade do ar são as concentrações de poluentes que, se


ultrapassadas, poderão afetar a saúde da população. E os padrões secundários de
qualidade do ar são as concentrações de poluentes abaixo das quais se prevê o mínimo
efeito adverso sobre o bem-estar da população, assim como o mínimo dano à flora e à
fauna, aos materiais e ao meio ambiente em geral. A tabela a seguir mostra os parâmetros
importantes para os padrões primários e secundários.

Tabela 2. Padrões Nacionais de Qualidade do Ar.

Padrões Nacionas de Qualidade do Ar


(Resolução CONAMA no 3 de 28/6/1990)
Tempo de Padrão Primário Padrão Secundário
Poluente Método de Medição
Amostragem µg/m³ µg/m³
24 horas1 240 150
partículas totais em suspensão amostrador de grandes volumes
MGA 2
80 60
24 horas1 150 150
partículas inaláveis separação inercial/filtração
MAA 3
50 50
24 horas1 150 100
fumaça refletância
MAA3 60 40
24 horas1 365 100
dióxido de enxofre pararosanilina
MAA 3
80 40
1 hora1 320 190
dióxido de nitrogênio quimiluminescência
MAA 3
100 100
40.000 40.000
1 hora 1
35 ppm 35 ppm infravermelho
monóxido de carbono
8 horas 1
10.000 10.000 não dispersivo
9 ppm 9 ppm
ozônio 1 hora1 160 160 quimiluminescência
1 – Não deve ser excedido mais que uma vez ao ano. 2 – Média geométrica anual. 3 – Média aritmética anual.

41
CAPÍTULO 2
Efeito estufa e aquecimento global

As estufas agrícolas são caracterizadas por estruturas recobertas por painéis de vidro
transparente muito utilizadas nos países de inverno rigoroso para que, durante os
períodos de baixas temperaturas, a luz e o calor do sol possam penetrar no interior
e aquecer o ar das plantações de legumes e plantas ornamentais. Essa energia fica
aprisionada e a temperatura da estufa pode ser regulada através de aberturas adequadas.
Portanto, as chamadas estufas funcionam, basicamente, evitando que a circulação do ar
resfrie o ambiente. Nessas estufas, a retenção do calor e, consequente, o aquecimento
do ambiente é resultado de um bloqueio físico, que impede o escape do ar quente.

Na grande estufa que é a Terra, o mecanismo é bem mais complexo. A atmosfera


terrestre é uma mistura de gases, com predominância de nitrogênio (78%) e oxigênio
(21%), gases que não absorvem radiação infravermelha. Outros gases, nela presentes,
como componentes naturais ou resultantes de ações do homem (ações antrópicas),
por sua natureza química, principalmente estrutura molecular, absorvem uma fração
significativa da radiação infravermelha emitida pela superfície terrestre. Esses gases,
por sua vez, também passam a irradiar no infravermelho. Essa radiação se espalha em
várias direções, inclusive retornando à superfície, que se mantém mais quente do que
seria na ausência da atmosfera.

Figura 3. Estufa agrícola representando o Efeito Estufa da Terra.

42
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III

A retenção de energia pelos gases-estufa decorre de um mecanismo, físico-químico,


bem diferente daquele que ocorre nas estufas agrícolas. Cabe destacar que grande parte
do efeito estufa natural se deve à presença da água na atmosfera: vapor d’água (85%)
e partículas de água (12%). Outros gases-estufa importantes são o dióxido de carbono
(CO2) e o metano (CH4). Além deles, vários outros gases atuam como gases-estufas em
menor proporção. São eles: o óxido nitroso (N2O), os clorofluorcarbonetos (CFCs), os
hidroclorofluorcarbonetos (HCFCs) e o hexafluoreto de enxofre (SF6).

O aumento do teor desses gases na atmosfera, em decorrência de atividades humanas,


pode causar uma exacerbação do efeito estufa e, consequentemente, um
aquecimento global do planeta.

Gases do efeito estufa

Dióxido de carbono
O dióxido de carbono tem sido apontado como o grande vilão da exacerbação do efeito
estufa, já que sua presença na atmosfera decorre, em grande parte, de atividades
humanas. Na atmosfera atual, o teor de CO2 oscila em torno de 381 mL/m3, com uma
tendência de crescimento que teve seu início no final do século XVIII, em decorrência
do aumento no uso de combustíveis fósseis.

Em termos quantitativos, anualmente, cerca de 4,1 bilhões de toneladas de dióxido


de carbono são lançadas na atmosfera. Como o tempo médio de residência do CO2
na atmosfera varia de 50 a 200 anos, a estabilização ou mesmo a diminuição do teor
atmosférico desse gás requer diminuição significativa em sua emissão. Ao interagir com
radiação infravermelha, o CO2 absorve-a, significativamente, em duas estreitas faixas
de comprimentos de onda inferiores a 5 mm e em uma ampla faixa acima de cerca de
13 mm. Portanto, como a água e o CO2 não absorvem entre 7 mm e 13 mm, ocorre na
atmosfera uma verdadeira ‘janela’ espectral, pela qual a radiação infravermelha emitida
pela superfície terrestre escapa, perdendo-se no espaço (essa radiação corresponde a
6% da radiação solar que atinge a Terra).

Tabela 3. Gases estufa da atmosfera terrestre.

Gases Abundância atual Taxa de aumento (%) Tempo de residência (anos)


CO2 365 ppm 0,4 50 – 200
CH4 1,72 ppm 0,5 12
N2O 312 ppb 0,3 206
CFC – 11 0,27 ppb 0 12.400
Halon – 1301 0,002 ppb 7 16.000
HCFC – 22 0,11 ppb 5 11.000
HFC – 134a 2 ppt nd 9.400
Nd = não determinado.

43
UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE

Metano

Este hidrocarboneto, o gás-estufa mais importante depois do CO2, pode advir de processos
naturais ou antrópicos. Geralmente tem origem em depósitos ou em processos de extração
e utilização de combustíveis fósseis ou na decomposição anaeróbica de substâncias
orgânicas, principalmente celulose. Seu teor atmosférico atual é superior a 1,7 mL/m3.
Há cento e dez anos, ele era de 0,9 mL/m3. Como o tempo médio de residência do CH4 na
atmosfera é razoavelmente curto (cerca de dez anos), a estabilização do seu teor requer
diminuição de somente 5% na sua emissão. Estima-se que essa emissão atinja um total de
pelo menos 515 milhões de toneladas por ano. A absorção de radiação infravermelha pelo
metano ocorre em uma banda de comprimento de onda ao redor de 7 mm.

O problema da emissão de gases-estufa no


Brasil
Em nosso país, a maior fonte de emissão de dióxido de carbono são as queimadas em
florestas da região amazônica. Também trazem uma notável contribuição as queimadas
de campos e cerrados e de canaviais, muito empregadas no manuseio de culturas.
Outra fonte é o uso de combustíveis fósseis, principalmente os derivados de petróleo,
em motores de explosão de veículos e outros sistemas de transporte. A estimativa da
emissão anual está em 1,5 bilhão de toneladas ao ano. A contribuição em metano pode
ser também considerada significativa, dada a existência de grandes rebanhos de gado
bovino e a presença de extensas regiões que são, periodicamente, cobertas pelas águas,
como acontece no Pantanal Mato-Grossense e nas várzeas amazônicas.

A estufa começa a ficar muito quente

O aumento do teor atmosférico dos gases-estufa leva a um maior bloqueio da


radiação infravermelha e, consequentemente, pode causar uma exacerbação do
efeito estufa: aquecimento da atmosfera e aumento da temperatura da superfície
terrestre. O que tem chamado a atenção dos cientistas voltados ao estudo do clima,
do ambiente e da ecologia são as modificações que poderão ocorrer em ecossistemas
terrestres ou oceânicos. Supondo-se que os níveis de emissão de CO2 e de outros
gases-estufa continuem crescendo e não haja qualquer providência efetiva para
estacionar ou reduzir esses valores, algumas dessas modificações podem ser previstas.

»» Elevação do nível dos mares como resultado da dilatação térmica da


massa de água oceânica e do aumento do seu volume pelo aporte de
águas resultantes do degelo das calotas polares e geleiras de regiões

44
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III

montanhosas. Isso causará grandes alterações nos ecossistemas costeiros


e perda de superfície em regiões banhadas pelo mar.

»» Alterações climáticas em todo o planeta, com o aumento das tempestades,


das ondas de calor e alterações nos índices pluviométricos — algumas
regiões para mais e outras para menos.

»» Aumento da biomassa terrestre e oceânica pela aceleração da função


clorofiliana e pelo aumento do teor de CO2 dissolvido nos oceanos. Neste
último caso, haverá sensível aumento dos organismos com exoesqueletos
formados por carbonato de cálcio.

»» Modificações profundas na vegetação característica de certas regiões e


típicas de determinadas altitudes.

»» Aumento na incidência de doenças e na proliferação de insetos nocivos ou


vetores de doenças, o que poderá resultar em grandes alterações sociais.

FONTE: Química Nova na Escola Química no Efeito Estufa, no 8, novembro 1998

Todos os países serão afetados, mas os mais vulneráveis são os países em desenvolvimento
e suas populações, pois sofrerão os impactos antes e em maior intensidade. A seguir,
apresenta-se um mapa mundial com destaque para os eventos globais já provavelmente
relacionados com as mudanças climáticas.

Figura 4. Mapa de consequências globais do esfeito estufa.

Fonte: Potsdam Institute for Climate Impact Research

45
UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE

Sugestão de filme:

Uma Verdade Inconveniente.

O Protocolo de Kyoto

Primeiramente anunciado como divisor de águas na luta contra as mudanças climáticas


provocadas pela ação humana, ele sofreu o desgaste de sete anos de debate, a ausência
do maior poluidor do mundo – os Estados Unidos – e sua quase derrocada, evitada no
ano passado pela ratificação de uma Rússia pressionada pela União Europeia.

O protocolo é o primeiro Tratado Global sobre ambiente que tem o poder legal
de estabelecer um limite diferenciado para a emissão de gases-estufa por países
industrializados. É um documento político com esqueleto científico, mas os cientistas
dizem que o efeito obtido pela redução total é insuficiente para estabilizar o clima.

Entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005, ao cumprir o requisito de que ao menos 55


partes houvessem ratificado e que juntas somassem mais de 55% das emissões. Mais de
180 países e organizações de integração regional ratificaram o Protocolo, representando
61,6% das emissões do ano base (1990).

O que Kyoto vai reduzir?

Seis gases: dióxido de carbono, proveniente da queima de combustíveis fósseis; metano,


gerado na agricultura, pecuária e em aterros sanitários; óxido nitroso, decorrente
de veículos; hidrofluorocarbonos, perfluorocarbonos e hexafluoretos de enxofre,
resultados de outros processos industriais.

Como surgiu?

Em 1997, em Kyoto, no Japão, foi negociado um acréscimo à Convenção-Quadro


da Organização das Nações Unidas – ONU sobre Mudança do Clima para impedir a
interferência perigosa da ação do homem. Nas primeiras discussões, cada país encarava
a si como um caso especial e, assim, nasceu a ideia de responsabilidades iguais, porém
diferenciadas. A primeira diferença foi feita entre os países industrializados – que se
beneficiaram por mais tempo da Revolução Industrial e poluíram mais, como as nações
europeias, os EUA e o Japão – e aqueles em desenvolvimento.

46
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III

Os países industrializados formam o Anexo I e possuem metas a serem cumpridas


entre 2008 e 2012. As nações em desenvolvimento participantes do Protocolo, como o
Brasil, estão no Anexo II. Suas responsabilidades serão discutidas durante o primeiro
período do acordo e implementadas a partir de 2013. Algumas nações antes comunistas,
chamadas “países em transição”, escolheram outra data por causa do colapso econômico
provocado pelo fim do regime.

Como funcionam as metas?

As medições são geralmente feitas a partir de 1990. Cada país tem de informar,
anualmente, ao secretariado da convenção quais são as emissões e como caminha seu
plano.

Quais são os instrumentos?

Além das medidas tomadas domesticamente, existem outras formas. As duas primeiras
envolvem trabalhar com outros países para reduzir suas emissões. O raciocínio por trás
disso é que a atmosfera não se importa em que país essas reduções se originam.

Uma das ferramentas é a adoção de um método limpo de produzir eletricidade, por


exemplo, energia solar, num país em desenvolvimento como alternativa a um método
que gere dióxido de carbono. No caso, o país desenvolvido reivindica todo o crédito
pelo carbono. Outro método é o comércio de carbono, que beneficia países em
desenvolvimento e ex-comunistas.

Pode-se exigir cumprimento?

Como um tratado legal, há penalidades. Os governos que não atingirem sua meta
terão de comparecer perante uma conferência das partes e prestar contas. Vistos como
descuidados, podem ser excluídos dos acordos comerciais ligados ao Protocolo. Outra
penalidade é assumir uma meta multiplicada por 1,3 no segundo período.

Realmente vai funcionar?

A primeira grande questão é o futuro sem os EUA. Mesmo que todas as metas sejam
atingidas, a redução será inferior à taxa necessária, dizem os cientistas. Mas Kyoto sempre
esperou ser apenas um primeiro passo. Oferece um plano e um método para reduções
posteriores (Fonte: <http://www.gabeira.com.br/noticias/noticia.asp?id=462>).

47
UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo


O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL, instituído em 1997 durante a
elaboração do Protocolo de Kyoto, permite aos países industrializados alcançarem suas
metas de redução de emissões por meio do financiamento de projetos ambientais nos
países em desenvolvimento.

A iniciativa, para ser aceita, tem de ser aprovada pelo comitê executivo do MDL. As
propostas deverão ter como principal objetivo a substituição do uso de energia mais
poluente (principalmente combustíveis fósseis) ou a diminuição da emissão do carbono
da atmosfera por meio de plantação de árvores.

O objetivo do MDL é ajudar os países em desenvolvimento, pois esses se beneficiariam


de recursos financeiros e tecnológicos adicionais para financiamento de atividades
sustentáveis e da redução de emissões globais. Além disso, os países beneficiados
ficariam menos dependentes de combustíveis fósseis.

Quadro 1. Regras para MDL

Em busca do ar limpo
Seis passos para entender como funciona o mercado de carbono
O tratado de Kyoto obriga os países desenvolvidos a reduzir as emissões de gás carbônico. Liberado nos processos de produção
1
industrial e na queima de combustíveis fósseis, o gás é um dos causadores do aquecimento do planeta.
Entretanto, para reduzir as emissões de carbono, os países desenvolvidos teriam de abrir mão de sua atividade indústrial – com
2
prejuízos para a economia e para a geração de empregos.
Para evitar um colapso econômico, o acordo de kyoto permite que os países desenvolvidos continuem poluindo, desde que
3
compensem essa poluição. Isso é possível por meio da aquisição de “créditos de carbono”.
Quem vende os créditos de carbono são empresas de países em desenvolvimento – em tese, os que poluem menos. Elas ganham
4
esses créditos a partir de iniciativas que retiram carbono da atmosfera.
Na contabilidade de Kyoto, quem compra esses créditos está automaticamente reduzindo as emissões de gás carbônico. O tamanho
5
da redução é equivalente à quantidade de carbono adquirida.
No final, ganham todos. Os países desenvolvidos, que seguem funcionando normalmente. Os países em desenvolvimento, que
6 ganham dinheiro com os projetos ambientais.
E o meio ambiente.

Um projeto ambiental precisa atender a diversas exigências até receber o aval para
comercializar títulos de carbono. Uma dessas exigências é a da “mensurabilidade”:
para ter créditos na mão, uma empresa precisa ser capaz de medir o volume de gás que
é capaz de reduzir, evitar ou absorver. Isso deve ser feito por metodologia aprovada
pelo Conselho Executivo de MDL da Organização das Nações Unidas – ONU.;

Outra exigência é “voluntariedade”: Os projetos precisam existir por livre iniciativa


– e não por força da lei. Nesse caso, as florestas brasileiras ficariam de fora do mercado.
Na Amazônia, por exemplo, existem leis que obrigam os donos das terras a preservar

48
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III

pelo menos 80% de suas áreas. Comprar um pedaço da maior floresta tropical do mundo
e preservá-la não rende nada, pois é algo que teria de ser feito de qualquer maneira.

O mesmo vale para as hidrelétricas brasileiras, que sempre cultivam matas à beira das
zonas alagadas por barragens. Há leis no país que exigem esse tipo de compensação
ambiental. Por isso, essas matas não podem ser consideradas fonte de créditos de
carbono sob as leis de Kyoto.

Os projetos precisam ter como característica a “adicionalidade”: devem ser novos.


O que já existia antes da criação do Protocolo não pode ser contabilizado. E isso exclui
não só as florestas nativas, mas todas as zonas reflorestadas por empresas antes de
Kyoto entrar em vigor, em 16 de fevereiro de 2005. É o caso das reservas mantidas por
companhias do setor de papel e celulose, como Klabin e Aracruz.

Realize uma busca na Internet de um projeto, no Brasil, que cumpra todas


as exigências de MDL e tenha sido reconhecido para a venda dos créditos
de carbono.

49
CAPÍTULO 3
Chuva Ácida

A água da chuva já é naturalmente ácida, devido a uma pequena quantidade de dióxido


de carbono (CO2) dissolvido na atmosfera, que deixa o pH próximo a 5,6. Ela adquire,
assim, um efeito corrosivo para a maioria dos metais, para o calcário e outras substâncias.

Figura 5. Reação do CO2 com a molécula de água.

A queima de combustíveis fósseis, como o carvão e o petróleo, gera, entre outros


poluentes, o dióxido de enxofre (SO2) e os óxidos de nitrogênio (NO e NO2, genericamente
denominados NOX), que são dois dos principais ingredientes para a formação da chuva
ácida.

Esses gases reagem com o vapor d’água presente na atmosfera, transformando-se,


então, nos ácidos sulfúrico (H2SO4) e nítrico (HNO3) diluídos, dando origem, quando
de sua precipitação atmosférica, ao que chamamos de chuva ácida (pH menos que 5,6).

Ao atingirem a superfície terrestre sob a forma de chuva, geada, neve ou neblina, esses
ácidos alteram a composição do solo e das águas, comprometendo as lavouras, as
florestas e a vida aquática. Também podem corroer edifícios, estátuas e monumentos
históricos, como, por exemplo, o famoso Coliseu de Roma, na Itália.

50
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III

Dióxido de Nitrogênio
O nitrogênio gasoso (N2) e o oxigênio molecular (O2) da atmosfera podem reagir
formando o monóxido de nitrogênio (NO). No entanto, essa reação não é espontânea,
necessitando de muita energia para ocorrer. Por exemplo, durante a queima de
combustível no motor do carro ou em fornos industriais a temperatura é muito elevada,
fornecendo a energia necessária para que ocorra a formação do monóxido de nitrogênio
de forma eficiente.

N2 (g) + O2 (g) 2 NO (g) (em altas


temperaturas)

O monóxido de nitrogênio pode ser oxidado na atmosfera (que contém O2) e formar
o dióxido de nitrogênio (NO2) que tem cor marrom. Muitas vezes, o fato de o céu ter
um tom marrom em cidades com tantos veículos como São Paulo, deve-se à formação
do NO2 na atmosfera, somado à grande emissão de material particulado (incluindo a
fuligem) que também escurece a atmosfera. O dióxido de nitrogênio pode sofrer novas
reações e formar o ácido nítrico (HNO3), que contribui para aumentar a acidez na água
da chuva.

Um carro construído em 1995 produz até 10 vezes mais NO que um carro produzido
hoje. Isso porque os carros modernos possuem um conversor catalítico que reduz
muito a formação do NO. O conversor catalítico (ou catalisador) contém metais como
paládio, platina e ródio, que transformam grande parte dos gases prejudiciais à saúde
e ao meio ambiente, em gases inertes como N2 e CO2. Devemos lembrar que o CO2 é
um gás que não prejudica diretamente a saúde humana, mas colabora para aumentar
o efeito estufa.

2CO (g) + 2NO (g) catalisador


2CO2 (g) + N2 (g)

2CO (g) + O2 (g) catalisador


2CO2 (g)

2NO (g) catalisador


N2 (g) + O2 (g)

É importante salientar que com ou sem catalisador o carro continua emitindo imensas
quantidades de CO2 para a atmosfera. O catalisador tem um papel importantíssimo,
mas atua de forma a minimizar apenas as emissões de CO e NO.

(FONTE: Extraído de: http://www.usp.br/qambiental/chuva_acidafront.html)

51
UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE

Dióxido de Enxofre
O dióxido de enxofre (SO2), responsável pelo maior aumento na acidez da chuva, é
produzido diretamente como subproduto da queima de combustíveis fósseis, como a
gasolina, o carvão e o óleo diesel. O óleo diesel e o carvão são muito impuros e contêm
grandes quantidades de enxofre em sua composição, sendo responsáveis por uma
grande parcela da emissão de SO2 para a atmosfera. Atualmente no Brasil, a Petrobras
tem investido muito na purificação do diesel a fim de diminuir, drasticamente, as
impurezas que contêm enxofre.

De forma equivalente a outros óxidos, o SO2 reage com a água formando o ácido
sulfuroso:

SO2 (g) + H2O (l) H2SO3 (aq)

H2SO3 (aq) H+(aq) + HSO3 – (aq)

O dióxido de enxofre também pode sofrer oxidação na atmosfera e formar o trióxido


de enxofre (SO3), que por sua vez, em contato com a água da chuva, irá formar o ácido
sulfúrico (H2SO4), que é um ácido forte.

SO2 (g) + ½ O2 (g) SO3 (g)

SO3 (g) + H2O (l) H2SO4 (aq)

H2SO4 (aq) 2H+ (aq) + SO42 – (aq)

Consequências da Chuva Ácida:


»» Q
ueima as folhas das árvores e o solo fica ácido, tornando-se erosivo.
Pode haver um deslocamento de elementos de solo, como alumínio,
cálcio, magnésio e potássio. Esses elementos liberados são arrastados
pelas enxurradas, alterando a química dos solos.

»» O
excesso de acidez pode causar a acidificação de lagos, principalmente
os pequenos, provocando alterações na fauna local. O pH em torno de
5,5 já pode matar larvas, pequenas algas e insetos, prejudicando também
os animais que se alimentam deles. No caso do pH chegar a 4,0 – 4,5, já
pode ocorrer a intoxicação da maioria das espécies de peixes e levá-los à
morte.

52
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III

»» O
utro fator muito importante sobre a emissão de SO2 é a formação de
ácidos no corpo humano, à medida que respiramos. Este ácido pode
provocar problemas como coriza, irritação na garganta e olhos e até afetar
o pulmão de forma irreversível.

»» A
emissão de NO2, que provém principalmente da queima de combustíveis
pelos carros, também pode provocar problemas respiratórios e diminuir
a resistências do organismo a vários tipos de infecções.

(FONTE: http://www.usp.br/qambiental/chuva_acidafront.html)

O Caso da Usina de Candiota


No início da década de 1990, a imprensa do sul do país noticiou que a chuva ácida
que se precipitava no noroeste uruguaio, diminuindo a produção agropecuária local,
era provocada pela queima de carvão em uma usina termelétrica brasileira situada em
Candiota-RS. Esse fato estava comprometendo a relação binacional Brasil-Uruguai,
dificultando a emergente integração do Cone Sul.

Em 1996, os uruguaios de Melo, distante cerca de 80 quilômetros a sudoeste de Candiota,


continuavam apresentando problemas de saúde. Chegou-se a noticiar que as infecções
respiratórias e a incidência de câncer pulmonar aumentaram. Na ocasião, o governo
brasileiro desconsiderou a possibilidade de uma rigorosa avaliação técnica na usina
gaúcha. Além do mais, foi garantido pelo governo brasileiro que os filtros necessários
para evitar a emissão das substâncias poluentes já haviam sido instalados.

(FONTE: http://www.iq.ufrgs.br/aeq/modelage.htm)

53
CAPÍTULO 4
CFCs e a destruição do ozônio
estratosférico

A camada de ozônio, existente nas altas regiões da atmosfera, “bloqueia” a penetração


das radiações ultravioleta do Sol, protegendo, dessa maneira, a vida na Terra, que seria
destruída se essas radiações nos atingissem com toda a sua intensidade. Passado cerca
de dez anos, descobriu-se que a atmosfera sobre a Antártida apresentava um verdadeiro
“rombo”, uma área mais rarefeita — na camada de ozônio. Realizadas as pesquisas
necessárias, confirmou-se a presença de cloro, derivado do desmembramento das
moléculas de freon (cloro-flúor-carbonetos), como haviam previsto Molina e Rowland
em 1974, na publicação do artigo na conceituada revista científica In perfumes e
inseticidas e, também, na indústria de espumas plásticas do tipo isopor, com suas
experiências originais. Determinações posteriores demonstraram que o mesmo
fenômeno vinha ocorrendo em outras regiões do globo terrestre.

Reações Químicas e Fotoquímicas da


Atmosfera
Os principais componentes da atmosfera são o nitrogênio diatômico (N2) com 78%, o
oxigênio diatômico (O2) com 21%, o argônio (Ar) com 1% e o gás carbônico (CO2) com
cerca de 0,04%. Essa mistura de gases aparenta ser não reativa na baixa atmosfera,
mesmo em temperaturas e intensidade solar muito além daquelas encontradas na
superfície da Terra; mas o fato é que muitas reações ambientalmente importantes
ocorrem no ar, independentemente de estar limpo ou poluído.

A Química da Camada de Ozônio – A


Formação e a Quebra do Ozônio
Na atmosfera diferentes moléculas absorvem a radiação solar em diferentes
comprimentos de onda. Muitas espécies absorvem energia na região do visível (de 400
a 750 nm) enquanto outras, como o oxigênio diatômico, absorvem radiação UV (que vai
de 50 a 400 nm), preferencialmente, na faixa de cerca de 70 a 250 nm. Acima da e na
estratosfera, moléculas de O2 e N2 filtram a radiação solar de um modo que nenhuma
energia com comprimento de onda menor que 220 nm atinge a superfície da Terra.
Já a radiação na faixa de 220 a 320 nm é filtrada, principalmente, pelas moléculas

54
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III

do oxigênio triatômico O3, o ozônio (pico de absorção entre 250 – 260 nm), que se
distribui na parte média e baixa da estratosfera.

Gráfico 2. Variação da concentração do ozônio com a altitude.

A Gráfico 2 mostra a distribuição do ozônio na atmosfera baixa (para regiões de latitude


média) e a correspondente variação da temperatura (BAIRD, 2002).

Moléculas de O3 são formadas e destruídas em reações não catalíticas na estratosfera.


Essas reações são exotérmicas, conferindo, portanto, o perfil típico de temperatura dessa
camada da atmosfera. Acima da estratosfera o ar é muito rarefeito e as moléculas de O2
são decompostas pela radiação UV do Sol; parte dos átomos de oxigênio recombinam-
se e formam moléculas diatômicas, que podem, novamente, sofrer o processo de
fotodecomposição. Por essas razões, a intensidade da radiação UV na estratosfera é
muito menor. Como o ar aí é mais denso, essa região contém um maior número de
moléculas de O2. Assim, essas moléculas em colisão com átomos de oxigênio, resultam
na produção de ozônio, segundo a equação:

O + O2 O3 + calor

Essa reação é a principal fonte de geração do O3 da estratosfera. A destruição das moléculas


de O3 na estratosfera é, predominantemente, um resultado da fotodecomposição
pela absorção de fótons UV com  < 320 nm que, segundo a equação abaixo, produz
moléculas e átomos de oxigênio no estado excitado:

O3 + UV ( < 320 nm) O2* + O*

55
UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE

A maioria dos átomos de oxigênio formados na decomposição do O3 ou do O2 reage


com moléculas de O2, regenerando o O3; alguns átomos de oxigênio reagem com o
ozônio, destruindo-o através da conversão em duas moléculas de O2. A combinação dos
processos acima referidos de formação do ozônio pela ação da radiação UV e moléculas
de O2 (Eq. 3) e sua destruição pela UV, formando átomos de oxigênio por um lado e, por
outro (Eq. 4), usando esses átomos para formar moléculas de O2, é o chamado Ciclo de
Chapman.

Os processos catalíticos de destruição do ozônio são de fundamental importância no


estudo da química atmosférica e começaram a ser desvendados no início da década
de 1960. Várias são as espécies atômicas ou moleculares que fazem essa destruição
através da remoção de um átomo de oxigênio da molécula de O3. Essas espécies são
denominadas ‘catalisadores da depleção da camada de ozônio’, o chamado ozônio
desejável – devido à proteção que exerce, filtrando/ absorvendo radiação energética,
que tem efeitos deletérios à biosfera – (em oposição ao indesejável, que é o O3 da
troposfera – dada a sua toxicidade às plantas e organismos). Esses catalisadores são
radicais livres, átomos ou moléculas com pelo menos um elétron não emparelhado,
o que os torna espécies altamente reativas. Dentre eles podem ser citados: OH , CH3 ,
• •

CF2Cl , H3COO , ClO , HCO , e NO .


• • • • •

Alguns desses catalisadores têm origem natural em processos bióticos, como é o caso
do óxido nitroso (N2O) em áreas alagáveis (no processo da desnitrificação, conforme
será mostrado adiante). O N2O, quando é transportado da troposfera à estratosfera,
colide com átomos excitados de oxigênio e produz parcialmente radicais NO (embora

a maior parte das moléculas de N2O decomponham-se em N2 + O2). O NO , por sua


vez, decompõe cataliticamente o O3. As equações apresentadas as seguir ilustram este


processo:

NO2 + O •
NO + O2

NO + O3

NO2 + O2 •

reação total: O3 + O 2 O2

Outras reações, igualmente importantes, ocorrem entre o ozônio e átomos de cloro


e bromo (radicais) que são produzidos, por exemplo, em reações que envolvem a
fotodecomposição do cloro metano ou por ataque de radicais hidroxila a essas moléculas
que têm como fonte natural as interações entre os íons cloreto dos oceanos com a
vegetação em decomposição (BAIRD, 1998). A reação global e final desse processo é,
também, a destruição do ozônio.

56
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III

O Buraco da Camada de Ozônio


Na Antártida, em 1985, descobriu-se que havia uma redução na concentração do ozônio
estratosférico de cerca de 50% durante vários meses do ano (de setembro a novembro
que corresponde à primavera no Polo Sul) atribuído, principalmente, à ação do cloro.
Os dados mostram que esse processo está acontecendo desde o ano de 1979. No ano
2000, detectou-se o maior buraco de ozônio sobre a Antártida até agora, com uma área
de mais de 25 milhões de km2. Espécies cataliticamente não ativas na forma de HCl e
de ClONO2 são fotoconvertidas em radicais Cl e ClO (ver principais equações químicas
• •

abaixo) em um mecanismo complexo que destrói o O3, criando o que se convencionou


chamar pelos cientistas de ‘buraco na camada de ozônio’.

Figura 6. Reações envolvidas na destruição da Camada de Ozônio.

O Cloro liberado, altamente reativo, reage com o O3, formando Monóxido de Cloro e
Oxigênio Molecular :

Cl + O3 ClO + O2

Paralelamente, a radiação ultravioleta também decompõe o Ozônio,

Ultravioleta + O3 O2 + O

que se forma novamente :

O2 + O O3

57
UNIDADE III │ POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE

Na presença de Cloro, o (O), ao invés de reagir com o O2 para formar Ozônio, reage com
o Óxido de Cloro:

O + ClO O2 + Cl

Segundo essas pesquisas, a conversão ocorre na superfície de partículas (frias) de água,


ácidos sulfúrico e nítrico (este formado pela interação entre radicais hidroxila e NO2 •

gasoso). Esse mecanismo é responsável por cerca de 3/4 da destruição do ozônio. Um


outro mecanismo de destruição envolve átomos de bromo e a formação de radicais BrO . •

Consequências da Destruição da Camada de


Ozônio
»» Aumento das taxas de mutações na maioria dos seres vivos da superfície.

»» Cegueira de muitos insetos polinizadores.

»» D
estruição em larga escala do fitoplâncton marinho, o que pode provocar
danos imprevisíveis às cadeias alimentares do mar.

»» A
lterações imprevisíveis no clima do Planeta, uma vez que a morte de
algas, se persistir na escala que está se processando nos dias de hoje,
diminuirá a produção de Dimetil-Sulfeto, substância produzida pelas
algas e que auxilia na formação das nuvens.

»» Aumento nos casos de câncer de pele em humanos.

Protocolo de Montreal
O Protocolo de Montreal, um acordo firmado em 1987, permitiu a eliminação gradual
dos CFCs. Considerado um dos melhores exemplos de como a cooperação entre países
pode melhorar a vida de pessoas. Os 191 países que assinaram o acordo eliminaram
mais de 95% dessas substâncias. Com isso, a expectativa é que até 2075 a camada de
ozônio volte ao nível que tinha antes de 1980.

Os HCFCs estão sendo utilizados temporariamente como substitutos dos CFCs, porque
os HCFCs não possuem grande potencial de degradação da camada de ozônio. A ligação
carbono-hidrogênio nos HCFCs faz com que estes sejam muito mais reativos que os
CFCs e a maioria das moléculas de HCFC são destruídas na troposfera. Isso evita
que a maior parte do HCFC suba até a estratosfera, onde ele também poderia agir na
destruição da camada de ozônio.

58
POLUENTES GASOSOS E SEUS EFEITOS NO MEIO AMBIENTE │ UNIDADE III

Os nomes e as fórmulas de alguns dos mais comuns CFCs e HCFCs estão mostrados na
tabela a seguir.

Tabela 4. Nomes e Fórmulas de CFCs e HCFCS mais comuns

CFCs HCFCs
CCl 3F CHF2Cl
triclorofluorometano monoclorodifluorometano
CCl 2F2 C2HF3Cl 2
diclorodifluorometano diclorotrifluoretano

Quadro 2 – Datas para Eliminação de SDOs para os Países em desenvolvimento

Aprovadas no 7° Encontro das Partes – Viena, 1995.

1 de Julho de 1999 Congelamento do consumo dos CFCs do Anexo a1 no valor médio dos anos 1995-1997
1 de Janeiro de 2002 Congelamento do consumo dos halons2 no valor médio dos anos 1995-1997.
Congelamento do consumo de brometo de metila no valor médio dos anos 1995-1998.
1 de Janeiro de 2003 Redução do consumo em 20% dos CFCs do Anexo B3 a partir do consumo médio dos anos 1998-2000.
Congelamento do consumo de metil clorofórmio no valor médio dos anos 1998-2000.
1 de Janeiro de 2005 Redução de 50% dos CFCs do Anexo A a partir do valor médio dos anos 1995-1997.
Redução de 50% dos halons a partir do valor médio dos anos 1995-1997.
Redução de 85% do tetracloreto de carbono a partir do valor médio dos anos 1998-2000.
Redução de 30% do metil clorofórmio a partir do valor médio dos anos 1998-2000.
1 de Janeiro de 2007 Redução de 85% dos CFCs do Anexo A a partir do valor médio dos anos 1995-1997
Redução de 85% dos CFCs do Anexo B a partir do consumo médio dos anos 1998-2000
1 de Janeiro de 2010 Eliminação de 100% dos CFCs, halons e tetracloreto de carbono.
Redução de 70% do metil clorofórmio a partir do valor médio dos anos 1998-2000
1 de Janeiro de 2015 Eliminação de 100% do metil clorofórmio.
1 de Janeiro de 2016 Congelamento do consumo dos HCFCs no valor dos anos 2015
1 de Janeiro de 2040 Eliminação de 100% dos HCFCs
FONTE: MOZETO, Quimica Atmosférica: A química sobre nossas cabeças. Cadernos Temáticos de Química Nova na Escola,
maio de 2001.

Leituras Adicionais:

1. Camada de Ozônio dá Nobel (disponível em: <http://qnessbq.


org.br/online/qnesc02/atual1.pdf>. Acessado em: 30 de junho
de 2008).

2. Protocolo de Montreal faz 20 anos e reduz consumo de CFCs.

Link: <http://www.protocolodemontreal.org.
br/005/00502001.asp?tt CD_CHAVE=17525>.
59
SUBSTÂNCIAS
TÓXICAS
PERSISTENTES – STP: UNIDADE IV
CARACTERÍSTICAS,
ORIGEM E DESTINO

CAPÍTULO 1
Características das Substâncias Tóxicas
Persistentes

A crescente demanda e oferta de novos produtos químicos pela sociedade industrializada


do Século XX levou à entrada, no meio ambiente, de grandes quantidades de diversos
compostos químicos, provenientes das descargas industriais e de várias outras atividades
antrópicas. Os compostos orgânicos, liberados antropicamente, compreendem uma
ampla faixa de tamanhos de moléculas (número de átomos de carbono) e de grupos
funcionais. A natureza dos grupos funcionais é especialmente importante, pois a
reatividade e a utilidade dos compostos orgânicos estão diretamente relacionados a eles.
As Substâncias Tóxicas Persistentes – STPs compreendem algumas dessas classes de
compostos orgânicos potencialmente tóxicos. Elas têm como principais características:
alta hidrofobicidade, baixa reatividade no meio ambiente e grande tendência para se
acumular, ou bioconcentrar, nos tecidos dos organismos vivos.

As STPs são poluentes globais, pois contaminam as áreas onde são liberadas e também
são transportadas para áreas distantes através das correntes de rios, dos oceanos e do
ar. Elas viajam das regiões mais quentes do globo para as mais frias, onde se condensam
e são depositadas na superfície da Terra. As STPs já contaminaram as regiões mais
remotas do globo, como o Ártico, com baixa atividade industrial.

Apesar de serem frequentemente liberadas em um único compartimento, rapidamente,


atingem outros compartimentos adjacentes, dependendo de suas propriedades físico-
químicas. Teoricamente, fala-se que um composto vai escapar de seu compartimento
original até sua concentração atingir um equilíbrio entre todos os compartimentos
adjacentes (solo, água, ar, sedimento e biota). Apesar desse equilíbrio dificilmente ser
atingido no mundo real, está frequentemente perto o suficiente para se fazer previsões
de distribuição química.

60
SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO │ UNIDADE IV

As partições, ou distribuições, entre fases adjacentes e imiscíveis podem ocorrer:

»» entre um sólido, um gás ou um líquido e outro líquido (dissolução);

»» entre um sólido ou um líquido e um gás (volatilização);

»» entre uma solução e uma superfície sólida (adsorção);

»» entre uma solução e um líquido imiscível (partição de solvente e


bioconcentração).

A fonte primária da exposição humana às STPs é a comida, em particular as gordurosas,


como carne, peixe e outros produtos consumidos diariamente. São passados de mãe
para filho através da placenta e do leite materno. As evidências sugerem que bebês
que estão sendo amamentados podem exceder em mais de 144 vezes a dose diária
recomendada pela OMS de uma dioxina.

Os problemas de saúde relacionados à exposição às STPs incluem: distúrbios endócrinos,


desordem de aprendizado, problemas reprodutivos como infertilidade, mudanças no
sistema imunológico, endometriose e aumento na incidência de diabetes.

Esses compostos, ao entrarem na coluna d’água, através dos vários processos de


transporte, como lixiviação e arraste por águas de chuva, serão incorporados ao material
particulado rico em matéria orgânica que, ao decantarem se misturam a minerais de
diversos tipos e granulações presentes no fundo da coluna d’água, participando da
formação dos sedimentos. Na figura a seguir, é mostrado um esquema da distribuição
de um STP nos diversos compartimentos do sistema aquático.

Figura 7. Destino do poluente no ambiente aquático.

61
UNIDADE IV │ SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO

As STPs incluem compostos aromáticos (como os hidrocarbonetos policíclicos


aromáticos – PAH) provenientes dos resíduos da queima de combustíveis fósseis, da
queima do alcatrão e dos vazamentos durante o transporte e armazenamento de óleos
minerais; compostos da classe das bifenilas policloradas – PCB, utilizadas, no passado,
como isolantes elétricos e algumas classes de pesticidas e inseticidas, como o DDT
(p-diclorodifeniltricloroetano) e o HCB (hexaclorobenzeno), respectivamente (BAIRD,
1995). Alguns desses compostos atuam como desregulador endócrino, principalmente
o DDT.

O grau de hidrofobicidade de um composto é representado pelo coeficiente de partição


n-octanol/água, Kow. Quanto maior o valor de Kow, maior a hidrofobicidade e maior será
a afinidade do composto pela matéria orgânica.

Kow = Coctanol / Cágua

Onde Coctanol = concentração do composto no octanol e Cágua = concentração do composto


na água.

Figura 8. Valores de solubilidade (esquerda) e Kow (direita).

62
SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO │ UNIDADE IV

Processos de Degradação Ambiental e


Disponibilidade no Meio Ambiente
As STPs sofrem degradação total, gerando H2O e CO2 em condições aeróbicas. A
degradação parcial pode gerar produtos mais ou menos tóxicos ou persistentes, como
é o caso do DDT onde é metabolizado a DDE, e este é muito mais persistente que o
primeiro.

A degradação química compreende a fotólise e a hidrólise, enquanto a degradação


biológica é aquela mediada por micro-organismos.

Devido às suas características de persistência no meio ambiente, as STPs podem sofrer


alterações nos seus processos de degradação quando estão associadas aos sedimentos,
pois estão menos expostas (disponíveis) a esses processos, retardando-os. As moléculas
sorvidas não estão biodisponíveis, estão usualmente protegidas da luz UV (menor
fotólise direta) e não podem entrar em contato com fotooxidantes indiretos como OH.

A sorção das STPs aos solos e sedimentos também afeta o transporte, pois as moléculas
sorvidas são menos móveis no meio ambiente e não estão disponíveis para processos de
transferência de fases (exemplo troca ar-água etc.)

Bioacumulação
A bioacumulação só ocorre quando os processos envolvidos na assimilação são superiores
àqueles envolvidos na eliminação. O Fator de Bioconcentração – FB, representa a razão
no equilíbrio entre a concentração do composto no peixe e a concentração dissolvida na
água adjacente, considerando o mecanismo de difusão nas guelras como a única fonte
desse composto. A bioacumulação é máxima quando o peso molecular está cerca de
350, o Log de Kow ~ 6,0 e a solubilidade na água a 0,001 ppm.

Os processos de assimilação por organismos são: Respiração, Ingestão de alimentos e


Ingestão de sedimentos.

Figura 9. Processos de acumulação e perda pelos peixes.


Assimilação pelas Perda pelas guelras Perda pelo
gutelras e pele metabolismo Remoção pela
(s/ escamas) deposição de ovos
(fêmeas)

Assimilação
pela comida

Diluição devido
ao crescimento

63
UNIDADE IV │ SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO

Fenômeno de Biomagnificação
STPs associadas aos lipídeos de presas (ex.: crustáceo) estão em estado
estacionário com a água ao redor. Quando o tecido da presa é digerido no
intestino do predador (peixe), os lipídeos são quebrados em moléculas
menores, reduzindo a capacidade de solubilizar ou reter a STP. Essa alta
fugacidade (gradiente de fugacidade) dos contaminantes lipofílicos apolares
nos materiais digeridos resulta numa transferência desses compostos para os
tecidos lipídicos dos predadores. (ALMEIDA, 2003)

Em outras palavras a biomagnificação é a bioacumulação ao longo da cadeia alimentar,


conforme exemplo abaixo:

Figura 10. Exemplo numérico de biomagnificação.

64
CAPÍTULO 2
Classes de STP

As primeiras medidas para proibição, em nível mundial, do uso e da produção de


substâncias persistentes foram adotadas na Convenção de Estocolmo, em 2001, que
entrou em vigor em 18 de fevereiro de 2004. Nesse documento, doze substâncias iniciais
foram selecionadas: aldrin, endrin, dieldrin, clordano, DDT, toxafeno, mirex,
heptacloro, hexaclorobenzeno, PCB, dioxinas e furanos. Essas substâncias
compõem uma subclasse conhecida como Poluentes Orgânicos Persistentes – POP
que, juntamente com outras substâncias que satisfazem os critérios de persistência e
toxicidade, compõem o grupo das Substâncias Tóxicas Persistentes – STP.

Recentemente, por meio do projeto das Nações Unidas denominado “Avaliação Regional
das Substâncias Tóxicas Persistentes” (Regionally Based Assessment off Persistent Toxic
Substances), o histórico das STPs, incluindo os POPs, foi avaliado em todo o mundo. O
projeto dividiu o globo em 12 regiões geográficas com o objetivo de gerar uma avaliação
em cada região dos danos e das ameaças causadas por essas substâncias, identificando
aquelas preocupantes em cada região e as prioridades de ações de intervenção nos ítens
prioritários. As STPs, definidas pelo grupo da América do Sul, foram separadas em três
grupos: pesticidas, compostos industriais e subprodutos não intencionais, publicados
no documento “Regionally Based Assessment of Persistent Toxic Substances – Eastern
and Western South America Regional Report” (UNEP, 2003). Entre os compostos
industriais estão as bifenilas policloradas, dioxinas e furanos. Os subprodutos não
intencionais são os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, além do hexaclorobenzeno
(HCB) que também está incluído no grupo dos pesticidas. Finalmente, no grupo dos
pesticidas clorados, os compostos, fontes de maiores preocupação por parte do grupo
da América do Sul, são: aldrin, dieldrin, endrin, p,p’-DDT, p,p’-DDE, p,p’-DDD,
hexaclorocicloexanos (-HCH, - HCH, - HCH e - HCH), endossulfan, heptacloro e
clordano.

Fontes de STP
As fontes naturais são a síntese por bactérias, plantas e fungos e as combustões
(incêndios florestais ou emissões vulcânicas).

As fontes antrópicas incluem:

»» Efluentes industriais

65
UNIDADE IV │ SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO

»» Esgotos domésticos

»» Incineração de lixo: doméstico, industrial e hospitalar

»» Queima incontrolada de lixo

»» Derramamento de petróleo (óleos crus contêm 0,2 a 7 % de PAH)

»» Produção de asfalto, alumínio, PVC, papel

»» Produção de alumínio

»» Queima de combustíveis fósseis

»» G
eração e composição de produtos agrícolas: um grande número de
herbicidas, inseticidas e fungicidas

»» Queimadas florestais

Já no Brasil, as fontes são pouco conhecidas e raramente documentadas. Na maioria dos


casos, as fontes antrópicas são resultados de vazamentos ou descargas inapropriadas
para o meio ambiente. As águas das chuvas transportam diversos contaminantes
presentes na atmosfera e no solo para os corpos aquáticos, enquanto que descartes
municipais e industriais, frequentemente não tratados, são liberados diretamente para
os ambientes marinhos e lacustres.

Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos – PAH


Os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos – PAH compõem uma classe de POP
caracterizados como subprodutos não intencionais. Esses compostos são formados
tanto por fontes naturais como por fontes antrópicas, sendo que as atividades antrópicas
são as principais responsáveis pelos PAHs no meio ambiente. As fontes naturais são
consequência da síntese por bactérias, plantas e fungos, além das combustões (incêndios
florestais ou emissões vulcânicas). As fontes antrópicas incluem efluentes industriais e
esgotos domésticos, incineração de lixo, derramamento de petróleo (óleos crus contêm
0,2 a 7% de PAH), produção de asfalto, produção de alumínio e queima de combustíveis
fósseis (ALMEIDA, 2003).

O grupo dos PAHs consiste de compostos com dois ou mais anéis aromáticos fundidos e
que podem ser divididos em dois subgrupos: compostos de baixa massa molar, formados
por dois ou três anéis aromáticos fundidos (antraceno, acenafteno, acenaftaleno,
fluoreno, naftaleno e fenantreno), e os de alta massa molar com quatro, cinco e seis

66
SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO │ UNIDADE IV

anéis fundidos (pireno, fluoranteno, benzo(a)antraceno, criseno, benzo(b)fluoranteno,


benzo(a)pireno, indeno(1,2,3-cd)pireno, dibenzo(a,h)antraceno, benzo(g,h,i)perileno).

Os compostos que contêm regiões vazias (bay regions) em suas estruturas, como
o benzo(a)pireno e o fenantreno, são os que mostram as mais altas reatividades
bioquímicas.

Figura 11. Exemplos de comostos da classe dos PAHs.

A persistência dos PAHs no meio ambiente varia com a massa molar. Os PAHs de
baixas massas molares são degradados mais facilmente. Enquanto os tempos de meia
vida para o naftaleno e antraceno no sedimento são de 9 e 43 horas, respectivamente,
os PAHs de massas molares mais altas apresentam tempos de meia vida em solos e
sedimentos de alguns anos.

Os fatores de bioacumulação em organismos aquáticos têm relação direta com os


valores de Kow (que variam entre 4,79 a 8,2) e, freqüentemente, variam entre 100 –
2000, decrescendo com o aumento do tamanho molecular. Enquanto a toxicidade
aguda dos PAH de baixa massa molar é moderada, com valores de LD50 para naftaleno
e antraceno em ratos de 490 e 18000 mg/kg, respectivamente, o benzo(a)antraceno
(alta massa molar) exibe valor de LD50 em ratos de 10 mg/kg. O efeito crítico de
muitos PAHs em mamíferos é o potencial cancerígeno, já que a ação metabólica dessas
substâncias produzem intermediários que se ligam covalentemente com o DNA celular.

Fontes antrópicas de PAH


O mecanismo de formação dos PAHs durante a combustão incompleta de material
orgânico ainda não é completamente compreendido. Acredita-se que duas reações
distintas estão envolvidas, a pirólise e a pirosíntese. A pirólise é consequência da
quebra parcial de compostos orgânicos em moléculas menores e mais instáveis a
altas temperaturas, enquanto a pirosíntese é consequência da recombinação desses
fragmentos (normalmente radicais), gerando hidrocarbonetos maiores e relativamente
estáveis. Em geral, qualquer composto orgânico contendo carbono e hidrogênio pode
servir como precursor de PAH.

67
UNIDADE IV │ SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO

Vários compostos do grupo dos PAHs podem ser associados com uma fonte de emissão
específica. Fluoranteno, por exemplo, é um constituinte do xisto betuminoso e asfalto
derivado de petróleo. É também um produto universal da combustão de matéria
orgânica e de combustíveis fósseis. Fenantreno, frequentemente, resulta da combustão
incompleta de uma variedade de compostos orgânicos, incluindo madeira e combustíveis
fósseis. Dibenzo(a,h)antraceno também é um produto da combustão incompleta.
Acenaftaleno é um componente do óleo cru e xisto betuminoso e também um produto
de combustão que pode ser produzido e liberado ao meio ambiente através de incêndios
naturais. Pireno, criseno e dibenzo(a,h)antraceno são produtos de qualquer combustão
incompleta.

Tabela 5: Compostos PAH prioritários e a subclasse (7 compostos) dos cancerígenos animais (em negrito)

Compostos da classe dos PAHs


Naftaleno Fenantreno Benzo(a)antraceno Benzo(a)pireno
Acenaftaleno Antraceno Criseno Indeno(1,2,3c,d)pireno
Acenafteno Fluoranteno Benzo(b)fluoranteno Dibenzo(a,h)antraceno
Fluoreno Pireno Benzo(k)fluoranteno Benzo(g,h,i)perileno

Toxicidade dos PAHs


Em virtude do seu potencial cancerígeno, os compostos policíclicos aromáticos são
de grande interesse. Em razão da sua larga disseminação no meio ambiente, esses
compostos representam um risco latente, especialmente porque a sua incorporação
através do ar e dos alimentos é inevitável. Devido ao seu alto potencial cancerígeno
e à presença abundante no meio ambiente, o benzo(a)pireno é, frequentemente,
usado como indicador da exposição humana aos PAHs. Enquanto o benzo(a)pireno
é razoavelmente bem caracterizado toxicologicamente, poucas informações são
disponíveis para a maioria dos outros PAHs.

Compostos Clorados
Os compostos organoclorados que serão abordados compreendem duas classes diferentes
de STP: pesticidas e compostos industriais. Eles têm como principal característica a
alta persistência no meio ambiente, sendo considerados compostos trans-fronteiriços,
isto é, sem limites para seu transporte atmosférico. A extensão da poluição global por
esses compostos tornou-se evidente após eles terem sido encontrados em áreas onde
nunca foram utilizados ou produzidos, como o Ártico, e por esse motivo são objetos de
estudos em todo o mundo.

68
SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO │ UNIDADE IV

Grande parte dos compostos organoclorados são reconhecidamente tóxicos e


bioacumulativos nos tecidos dos organismos vivos. Nos sistemas aquáticos, micro-
organismos podem acumular quantidades significativas de organoclorados da água
e retê-los em seus tecidos, iniciando-se assim, as primeiras etapas dos processos de
bioacumulação e biomagnificação e, consequentemente, afetando o homem que ingere
peixes constituintes da mesma cadeia alimentar. A toxicidade está, frequentemente,
relacionada aos efeitos letais de determinados compostos sobre os organismos
vivos (efeito agudo), porém as variações na taxa metabólica, no crescimento e na
reprodutibilidade são efeitos crônicos consequentes das longas exposições aos
compostos tóxicos.

Compostos Industriais – PCB


As bifenilas policloradas (ou do inglês, PCB) são compostos caracterizados pela presença
de anéis aromáticos halogenado. Elas foram introduzidas em 1929 e produzidas
em diversos países sob vários nomes distintos (Arocloro, Clophen, Phenoclor etc.).
Teoricamente essa classe compreende 209 compostos, mas apenas 130 deles são
encontrados em produtos comerciais. Apesar de não serem mais produzidos, na década
de 1980, foram muito utilizados como capacitores dielétricos, fluidos hidráulicos, fluidos
de transferência de calor e plastificantes. Apesar de atualmente o uso de PCB estar
bastante restrito em todo o mundo, eles ainda podem ser encontrados nos sedimentos
de vários corpos d’água devido a sua persistência no meio ambiente e a sua capacidade
de bioacumular nos sistemas vivos. Comercialmente, os PCBs são encontrados como
misturas, contendo em média de 21-68% em massa de cloro e estão quase sempre
acompanhados de diferentes níveis de dibenzofuranos policlorados, compostos também
bastante tóxicos aos organismos vivos (BAIRD; CANN, 2011).

As misturas de PCB mais utilizadas nos Estados Unidos foram os Arocloros 1242,
1248, 1254 e 1260, que devem ser também os mais utilizados no Brasil, uma vez que
a maioria da importação era oriunda da indústria americana Monsanto. As principais
características de algumas misturas de Arocloro estão descritas na Tabela a seguir.

Tabela 6: Propriedades físicas e químicas de algumas formulações técnicas de Arocloros

Tipo de Arocloro 1242 1254 1260


Pressão de vapor (mmHg, 20 oC) 9,0 x 10-4 1,8 x 10-4 0,9 x 10-4
Solubilidade em água (g/L) 200-700 12-70 3-25
Massa molar media 261 327 372
Número de átomos de cloro 2-4 4-6 5-7

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UNIDADE IV │ SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO

A grande disseminação de produtos contendo PCB deve-se, principalmente, a suas


propriedades físico-químicas. Entre elas destacam-se: alta constante dielétrica e
elevada estabilidade térmica. Isso possibilitou o emprego de misturas técnicas contendo
PCB em diversos setores industriais. A solubilidade dos PCBs em água decresce com o
aumento do número de átomos de cloro na molécula e varia entre 0,01 a 0,0001 μg/L
a 25 °C. Os valores de pressão de vapor variam entre 1,6 a 0,003x10-6 mm Hg a 20 °C,
enquanto que os valores de log KOW variam entre 4,3-8,26.

Figura 12. Estrutura genérica das bifenilas policloradas – PCB.

Tabela 7: Uso dos PCBs classificado de acordo com o tipo de Arocloro.

Uso de PCB Tipo de Arocloro


Capacitores Elétricos 1221,1254
Transformadores Elétricos 1242,1254,1260
Bombas de Vácuo 1248,1254
Turbinas de Transmissão de Gás 1248,1254

Toxicidade dos PCBs


A principal razão para a regulamentação de PCB no meio ambiente é seu efeito no
sistema biológico, principalmente seu potencial cancerígeno. Os PCBs apresentam t1/2
estimados que variam de algumas semanas até 2 anos no ar e, com exceção dos mono
e diclorobifenilas, mais de 6 anos em solos aeróbios e sedimentos. Os PCBs também
apresentam longos t1/2 em peixes adultos, alcançando mais de 10 anos (UNEP, 2003). A
toxicidade aguda de PCB em mamíferos é, geralmente, baixa.

Fontes de PCB no Brasil

A estimativa da produção mundial de PCB é de 1200 kt, dos quais 15% foram utilizados
pelos países em desenvolvimento. A estimativa do estoque brasileiro, segundo o
Ministério do Meio Ambiente, é de 80 kt (UNEP, 2003), representando 6,6% de todo
PCB utilizado pelos países em desenvolvimento. Apesar de a utilização do produto ter

70
SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO │ UNIDADE IV

sido proibida no início dos anos 80, ainda há no Brasil entre 250 e 300 kt de ascarel
em uso, segundo estimativas da gerência da Siemens, empresa que lidera a exploração
dos serviços de troca do produto (COSTA, 2000). Há também um mercado clandestino
não contabilizado. Enquanto cerca de 120 kt de Ascarel é usada em equipamentos
de indústrias petroquímicas e siderúrgicas, aproximadamente cerca de 100 kt está
concentrada em indústrias de pequeno porte e a mesma quantidade em concessionárias
de energia (COSTA, 2000). Essas informações são bastante conflitantes devido à falta
de um inventário nacional.

O setor elétrico é uma fonte ativa de PCB para o ambiente através de seus
transformadores antigos. No estado de São Paulo, as subestações inativas de energia
elétrica já apresentaram diversos casos de vazamentos do óleo. A empresa Furnas
Centrais Elétricas, uma líder no setor de energia elétrica, gerando 66% da demanda
energética brasileira, divulga em seu site um estoque de 140 t de PCB em processo de
incineração com o prazo para ser concluído, em 1999, sendo que em 2003 a página
ainda não foi atualizada (Furnas, 2003). Por outro lado, em 1997, a Eletropaulo, maior
distribuidora de energia elétrica na América Latina, responsável pela distribuição a 14
milhões de pessoas no estado de São Paulo, assumiu possuir um passivo de 562 t de
PCB. A siderúrgica CSN, no Rio de Janeiro, planeja eliminar 800 t de Ascarel, contido
em transformadores até o ano de 2004, incinerando 80 t/ano (COSTA, 2000).

Outra fonte em potencial de PCB são os transformadores das plataformas de perfuração


de petróleo. No Brasil a exploração acontece desde os anos 1960 e, apesar de, atualmente,
ser improvável que as novas máquinas façam uso de óleos, contendo PCB, plataformas
antigas podem vir a ser fontes de PCB, caso os transformadores ou outros equipamentos,
contendo ascarel, ainda estejam em uso.

Um número considerável de hidroelétricas foram construídas, no Brasil, durante


as décadas de 1960 e 1970 e é bastante provável que transformadores dessa época
utilizassem óleos, contendo PCB e que tenha havido vazamentos e derramamentos
desses óleos para o meio ambiente. Os trens movidos por eletricidade também utilizavam
transformadores, contendo PCB, sendo outra fonte em potencial desses compostos no
meio ambiente, apesar de não existirem estudos que comprovem essas suspeitas.

O problema da ingerência dos resíduos municipais e industriais, principalmente nas


grandes cidades, onde existe uma variedade de pequenas empresas, possuindo altas
quantidades de óleos, contendo PCB, também atua, agravando a contaminação de
PCB no meio ambiente, por meio das descargas de efluentes para os rios e oceanos.
A incineração desses resíduos para uma pequena empresa torna-se uma atividade

71
UNIDADE IV │ SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO

bastante cara e, portanto, o derramamento nos rios é, frequentemente, uma alternativa


mais simples e barata, que é realizada às escondidas dos órgãos ambientais.

Certamente, os dados de estoques de PCB, no Brasil, são bastante questionáveis, no


entanto, esse descompasso serve para expor o tamanho do problema ambiental que são
os passivos e ativos de PCB no meio ambiente.

Pesticidas Clorados
Os pesticidas surgiram na década de 1930 com o objetivo de garantir o suprimento
de alimentos à crescente população por meio do controle ou da erradicação de
pragas. Dentre eles, os pesticidas organoclorados são caracterizados como compostos
refratários, ou seja, de baixa reatividade no meio ambiente. Eles têm, como principal
característica, um grande número de átomos de cloro na molécula, onde cada cloro
eletronegativo retira elétrons do anel ou da estrutura em cadeia, tornando o composto
resistente a reações eletrofílicas, como a oxidação. Cada átomo de cloro adicional
diminui a volatilidade do composto, aumenta sua lipofilicidade e torna-o mais estável
quimicamente.

Os pesticidas definidos como prioritários pelo grupo da América do Sul do projeto UNEP
foram: aldrin, dieldrin, endrin, DDT, HCH (especificamente o lindano), heptacloro
e endossulfan. Eles, de uma forma ou de outra, tiveram grande uso no Brasil tanto
mediante importações, assim como pela síntese e formulação a partir dos princípios
ativos importados. Os únicos produtos da lista dos POPs que ainda estavam em uso
no Brasil há alguns anos são aqueles utilizados para a preservação de madeira, isto é,
Heptacloro e Lindano. Atualmente, esses dois produtos também já foram proibidos.

As principais características desses compostos estão descritas nos itens a seguir.

Aldrin (1,2,3,4,10,10 Hexacloro 1,4,4a,5,8,8a hexaidro-1,4-endo,exo-5,8-


dimetanonaftaleno). É rapidamente metabolizado para Dieldrin tanto pelas plantas
quanto pelos animais e, por esta razão apresenta persistência moderada e t1/2 no
solo de 20-100 dias (UNEP, 2003).

Dieldrin (1,2,3,4,10,10-Hexacloro-6,7-epoxi-1,4,4a,5,6,7,8,8a-octaidroexo-1,4-
endo-5,8-dimetanonaftaleno). É altamente persistente no solo, com um tempo de
vida de 3 a 4 anos em climas temperados e possui alta tendência à bioconcentração
(UNEP, 2003).

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SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO │ UNIDADE IV

Endrin (3,4,5,6,9,9-Hexacloro-1a,2,2a,3,6,6a,7,7a-octaidro-2,7:3,6-
dimetanonaft[2,3-b]oxireno). É altamente persistente no solo (em alguns casos
já foram relatados t1/2 de até 12 anos). Em peixes, já foram relatados fatores de
bioconcentração de 14 a 18000 (UNEP, 2003).

Heptacloro (1,4,5,6,7,8,8-Heptacloro-3a,4,7,7a-tetraidro-4,7-metanoindeno). É
metabolizado em solos, plantas e animais para heptacloro epóxido, que é mais estável
em sistemas biológicos, além de cancerígeno. O t1/2 no solo em regiões temperadas é
de 0,75 a 2 anos (UNEP, 2003).

Diclorodifeniltricloroetano (DDT) – (1,1,1-Tricloro-2,2-bis-(4-clorofenil)-etano).


É, provavelmente, o composto químico mais controverso do Século XX. Salvou várias
vidas no controle de pragas como a malária, porém sua persistência e lipofilicidade
causavam a morte de vários animais.

O DDT foi amplamente utilizado numa variedade de tipos de plantações. O produto


técnico é uma mistura de cerca de 85% p,p’-DDT e 15 % do o,p’-DDT (UNEP, 2003).
O DDT é altamente persistente em solos com uma meia vida de cerca de 1,1 a 3,4 anos.
Ele também exibe altos fatores de bioconcentração (na ordem de 5x104 para peixes e
5x105 para bivalves). No ambiente, o produto é metabolizado para DDD e DDE. O DDT
tem alta reatividade e o DDE é o produto de degradação da maioria das reações que
ocorrem no meio ambiente. O DDE é estável a oxidação, redução e hidrólise e, por isso,
é o principal composto da classe dos DDT encontrado no meio ambiente quando a fonte
de contaminação não é mais ativa. Foi demonstrado que DDT atua como desregulador
endócrino.

Hexaclorocicloexanos (HCH) –
(1,2,3,4,5,6-Hexaclorocicloexano, isômeros mistos). O “HCH
técnico” é uma mistura de vários isômeros, incluindo -HCH
(60-70 %), -HCH (5-12 %) e -HCH (10-15 %). Lindano (-HCH)
é utilizado como pesticida e também preservante de madeira.
Apresenta t1/2 no solo superior a 1 ano e atua como desregulador
endócrino (UNEP, 2003). Os HCHs são menos bioacumulativos
que outros organoclorados por causa de suas baixas lipofilicidades.
As pressões de vapor, relativamente altas, facilitam o transporte
para longas distâncias na atmosfera.

73
UNIDADE IV │ SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO

Endossulfan (6,7,8,9,10,10-Hexacloro-
1,5,5a,6,9,9a-hexaidro-6, 9-metano-2,
4,3-benzodioxathiepin-3-oxide). O produto
técnico contém pelo menos 94 % dos isômeros
puros, α- e β- endossulfan. Ele é moderadamente
persistente no solo com t1/2 de 50 dias.

Os dois isômeros têm diferentes tempos de degradação no solo (t1/2 de 35 e 150 dias para
α- e β- isômeros, respectivamente, em condições neutras). Nas plantas, o endossulfan
é, rapidamente, degradado para seu sulfato correspondente. Há evidências de sua
atuação como desregulador endócrino (UNEP, 2003).

Tabela 8: Características físico-químicas dos principais pesticidas organoclorados

Composto Número CAS Solubilidade Pressão de Vapor Log Kow


Aldrin 309-00-2 27 µg/L a 25 C
o
2,31 x 10 mm Hg a 20 C
–5 o
5,17-7,4
Dieldrin 60-57-1 140 µg/L a 20 C o
1,78 x 10 mm Hg a 20 C
–7 o
3,69-6,2
Endrin 72-20-8 220-260 µg/L a 25 oC 7 x 10–7 mm Hg a 25 oC 3,21-5,34
Heptacloro 76-44-8 180 μg/L a 25 C o
0,3 x 10 mm Hg a 20 C
–5 o
4,4-5,5
p,p’-DDT 50-29-2 1,2-5,5 μg/L a 25 C o
0,02 x 10 mm Hg a 20 C
–5 o
6,19
Lindano (-HCH) 58-89-9 7 mg/L a 20 oC 3,3 x 10–5 mm Hg a 20 oC 3,8
Endossulfan 115-29-7 320 μg/L a 25 C o
0,17 x 10 mm Hg a 25 C
–4 o
2,23-3,62

Fontes de pesticidas clorados no Brasil


Atualmente, as principais fontes ativas desses compostos são locais altamente
contaminados (hotspots). Em Paulínia, estado de São Paulo, está, provavelmente,
um dos hotspots mais conhecidos pela imprensa brasileira, onde várias toneladas de
solo, na antiga fábrica da SHELL, estão contaminadas com os compostos da classe dos
drins (aldrin, endrin e dieldrin). Outro hotspot de fama nacional está localizado no
município de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, numa antiga fábrica de pesticidas,
num terreno onde funcionava a Fundação Cidade dos Meninos. Em 1960, essa fábrica
foi desativada e pelo menos 300 toneladas de substâncias possivelmente cancerígenas,
como o HCB (popularmente conhecido como pó de broca), foram abandonadas no local.

Legislação
A Portaria no 329/MA de 2/9/1985 proíbe em todo o território nacional, a
comercialização, o uso e a distribuição dos produtos agrotóxicos organoclorados,
destinados à agropecuária, dentre outros: aldrin, BHC, toxafeno, DDT, dodecacloro,
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SUBSTÂNCIAS TÓXICAS PERSISTENTES – STP: CARACTERÍSTICAS, ORIGEM E DESTINO │ UNIDADE IV

endrin, heptacloro, lindano, endossulfan, metoxicloro, nonacloro, pentaclorofenol,


dicofol e clorobenzilato. No entanto, algumas exceções são permitidas:

a. Uso de iscas formicidas à base de Aldrin e Dodecacloro.

b. Uso de cupinicidas à base de Aldrin para atividades de florestamento e


reflorestamento.

c. Uso, quando aplicados pelos órgãos públicos componentes, em


campanhas de saúde pública de combate a vetores de agentes etiológicos
de moléstias.

d. Uso emergencial na agricultura, a critério da Secretaria Nacional de


Defesa Agropecuária – SNAD do Ministério da Agricultura.

A Portaria no 424, de 7/11/1985, altera a Portaria no 329 quando autoriza a comercialização,


o uso e a distribuição desses compostos, em caráter emergencial na agricultura, a critério
da SNAD e seu uso, exclusivamente, ao processo de industrialização da madeira.

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POLUIÇÃO POR UNIDADE V
METAIS PESADOS

CAPÍTULO 1
O Caso do Mercúrio

A emissão natural de mercúrio é devida à gaseificação da crosta terrestre, emissões


vulcânicas e evaporação natural de corpos d’água. A mineração de ouro e prata, a
extração de mercúrio, a queima de combustíveis fósseis e a fabricação de cimento são
exemplos de fontes antropogênicas de mercúrio.

Na América do Sul, o processo de extração de ouro, utilizando o mercúrio, é usado em


países como Brasil, Venezuela, Colômbia, Bolívia, Guiana Francesa, Guiana, Equador e
Peru desde os anos 1980.

Átomos de mercúrio ocorrem na natureza em três estados de oxidação: Hg0, é a


substância simples, e duas formas oxidadas, Hg2+(mercuroso) e Hg2+ (mercúrico). A
substância simples é um metal líquido prateado, à temperatura ambiente. Na natureza,
o mercúrio se apresenta como o minério cinábrio, que contém sulfeto de mercúrio
(HgS). As transformações do mercúrio no meio ambiente envolvem uma série de
reações químicas complexas denominadas de ciclo do mercúrio.

A substância simples e os compostos orgânicos de mercúrio (alquilmercuriais) são


solúveis em solventes não polares. O vapor de mercúrio é mais solúvel em sangue do
que em água, onde é ligeiramente solúvel. A solubilidade em água de alguns compostos
de mercúrio segue a seguinte ordem crescente:

Hg(0), Hg2Cl2, Hg(CH3)2 e HgCl2

Legislação brasileira sobre o mercúrio


O Brasil não produz mercúrio. A sua importação e comercialização são controladas
pelo IBAMA por meio da Portaria no 32 de 12/5/1995 e do Decreto no 97.634/1989,

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POLUIÇÃO POR METAIS PESADOS │ UNIDADE V

que estabelece a obrigatoriedade do cadastramento no IBAMA das pessoas físicas e


jurídicas que “importem, produzam ou comercializem a substância mercúrio metálico”.
O uso do mercúrio metálico na extração do ouro é também regulamentado.

O Decreto no 97.507/1989 proíbe o uso de mercúrio na atividade de extração de ouro,


“exceto em atividades licenciadas pelo órgão ambiental competente”. Por outro lado,
a obrigatoriedade de recuperação das áreas degradadas pela atividade garimpeira é
igualmente regulamentada pelo Decreto no 97.632/1989.

Toxicologia
Os efeitos tóxicos causados pelo mercúrio metálico são produzidos depois de sua
oxidação no organismo e por causa de sua grande afinidade pelos grupos sulfidrilas
das proteínas e, em menor grau, por grupos fosforilas, carboxílicos, amidas e aminas.
Nas células, o mercúrio é um potente desnaturador de proteínas e inibidor de
aminoácidos, interferindo nas funções metabólicas celulares. Ele causa, também, sérios
danos à membrana celular ao interferir em suas funções e no transporte por meio da
membrana, especialmente nos neurotransmissores cerebrais. Por outro Iado, estudos
citogenéticos já realizados em pessoas contaminadas por Hg, em níveis considerados
toleráveis pela Organização Mundial de Saúde – OMS, revelaram aumento significativo
de quebras cromatídicas, com a possível interferência nos mecanismos de reparo do
DNA. Esse efeito pode resultar em quebras cromossômicas e em morte celular, o que
justificaria o quadro progressivo de deterioração mental nos indivíduos mais altamente
contaminados.

Doenças causadas pelo mercúrio


O mercúrio penetra no organismo humano e deposita-se nos tecidos, causando lesões
graves, principalmente nos rins, no fígado, no aparelho digestivo e no sistema nervoso
central.

A exposição aguda, por inalação de vapores de mercúrio, pode acarretar em fraqueza,


fadiga, anorexia, perda de peso e perturbações gastrointestinais. A ingestão de
compostos mercuriais, em particular cloreto mercúrico, provoca úlcera gastrointestinal
e necrose tubular aguda. A exposição excessiva ao Hg dá origem a reações psicóticas,
como, por exemplo, delírio, alucinação e tendência suicida.

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UNIDADE V │ POLUIÇÃO POR METAIS PESADOS

Os efeitos sobre a saúde humana, relacionados à bioacumulação, à transformação e


ao transporte mundial do mercúrio inorgânico, devem-se quase exclusivamente à
conversão dos compostos de mercúrio em metilmercúrio (CH3Hg).

Como o mercúrio chega ao homem


Existem duas maneiras de o mercúrio chegar até o homem: ocupacional e ambiental.
A maneira ocupacional é mais conhecida e está ligada ao ambiente de trabalho, como
mineração e indústrias, geralmente associada aos garimpos de ouro ou às fábricas
de cloro-soda e de lâmpadas fluorescentes. Trata-se de uma contaminação pelas vias
respiratórias, que atinge o pulmão e o trato-respiratório, podendo ser identificada e
quantificada pela dosimetria do mercúrio na urina.

A contaminação ambiental, por sua vez, é provocada pela dieta alimentar, comumente
pela ingestão de peixes de água doce ou salgada, e afeta, diretamente, a corrente
sanguínea, provocando problemas no sistema nervoso central. Sua comprovação é feita
facilmente pela determinação do mercúrio no cabelo ou no sangue.

A substância simples e os sais de mercúrio são os principais responsáveis pela


contaminação ocupacional, enquanto os compostos orgânicos de mercúrio,
predominantemente o metilmercúrio, são responsáveis pela contaminação ambiental.
Uma característica comum às duas formas de mercúrio é que ambas podem atravessar
a barreira placentária, afetando seriamente o feto.

O mercúrio e os peixes
A cadeia trófica, isto é, a cadeia alimentar, é formada em sua base inferior por
microrganismos e peixes de espécies mais simples (de nível trófico baixo), terminando
por peixes predadores (de nível trófico elevado) e, finalmente, o homem, que se alimenta
de peixes. As populações ribeirinhas da Bacia Amazônica são dependentes do consumo
de peixe para o seu sustento, chegando a consumir em média 200 gramas por dia.

Os peixes são concentradores naturais de mercúrio e a sua quantidade nesses animais


depende do alimento, bem como da idade e do tamanho. Como consequência, a
contaminação humana por mercúrio depende não somente da quantidade de peixe
consumida como também da espécie escolhida.

Simplificando, há os peixes de nível trófico baixo, que são os herbívoros e detritívoros, os


de nível trófico intermediário, os omnívoros, e finalmente os de nível trófico elevado, os
piscívoros, também chamados de carnívoros ou predadores. Os herbívoros (tambaqui,
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POLUIÇÃO POR METAIS PESADOS │ UNIDADE V

jatuarana, pirapitinga, pacu) alimentam-se, basicamente de sementes e de frutos, os


detritívoros (bodó, jaraqui, curimatã, branquinha) alimentam-se de matéria orgânica
em decomposição e microrganismos associados à lama do fundo de lagos e margens de
rios. Os detritos provindos da mata alagada, ninfas de insetos e zooplâncton são a base
da alimentação dos omnívoros (aruanã, pirarara, cará, mandi, matrinchã, cuiucuiu). Os
piscívoros alimentam-se de outros peixes e por isso bioacumulam o mercúrio (dourada,
filhote, piranha, tucunaré, surubim, pescada e pintado).

A contaminação por mercúrio na Amazônia


Após a sua utilização no processo de extração do ouro, o mercúrio residual é descartado
nas margens e nos leitos dos rios, no solo, ou é lançado na atmosfera durante o processo
de queima do amálgama.

Disponível no meio ambiente, esse mercúrio pode transformar-se no metilmercúrio. A


metilação do mercúrio é o passo mais importante para a sua entrada na cadeia alimentar
de organismos aquáticos, maiores bioconcentradores desse metal.

Hoje, sabe-se que a velocidade de metilação realizada pelas bactérias é função de vários
fatores, como o baixo pH da água, alta concentração de matéria orgânica dissolvida e
baixo teor de material particulado, situação fácil de ser encontrada nos rios amazônicos.
O pH do Rio Negro, por exemplo, é particularmente baixo, chegando a 3,8.

Cerca de 3 mil toneladas de mercúrio utilizadas nos garimpos de ouro da Amazônia, ao


longo dos últimos 20 anos, vem sofrendo oxidação e metilação nas condições propícias
das águas e sedimentos dos rios, contaminando as populações ribeirinhas, por meio da
ingestão de peixes. Existem diversas pesquisas realizadas na Amazônia, abordando a
contaminação da população ribeirinha por mercúrio.

Avalie, criticamente, a atividade de garimpo no Brasil e como ela pode


expor o trabalhador ao mercúrio.

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Referências
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de qualidade de sedimentos referentes a compostos Orgânicos persistentes.
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