COPPE-UFRJ
Notas de Aula
Francisco R. Lopes
Área de Geotecnia
PEC - Programa de Engenharia Civil
COPPE - Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia
(Instituto Alberto Luiz Coinbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia)
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 2
Prefácio
Estas notas de aulas se destinam ao apoio da disciplina Percolação nos Solos, do curso de mestrado da
COPPE-UFRJ. Elas não devem ser consideradas suficientes como apontamentos das aulas e devem ser
complementadas pelo aluno. Ainda, é necessário o estudo de outros textos, conforme recomendado ao
longo do curso.
Os primeiros 6 capítulos abordam os princípios e métodos de estudo da percolação nos solos. Os Capítulos
7 a 9 tratam do controle da água subterrânea em obras de Engenharia Civil. O Capítulo 10 apresenta uma
introdução ao fluxo em solos parcialmente saturados.
Gostaria de registrar meus agradecimentos aos meus professores desse tópico da Geotecnia: Eduardo B.
Cordeiro (UERJ), Marcio M. Soares e Willy A. Lacerda (UFRJ), Angus Skinner e Peter R. Vaughan (Univ. of
London). Meus estudos de pós-graduação foram possíveis pela concessão de bolsas de estudo da CAPES e
CNPq, órgãos de fomento à formação de pessoal de nível superior e à pesquisa do Governo Brasileiro.
Agradeço aos alunos de mestrado Roney M. Gomes e Jose Wellington S. Vargas pela ajuda na organização
do texto e figuras. E aos meus filhos Gustavo e Marcos, hoje com 10 anos, sem os quais estas notas teriam
sido terminadas antes.
Francisco Lopes
Março 2016
Não é permitida a reprodução destas notas exceto com permissão expressa do autor.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 3
Sumário
Cap.1: DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NOS SOLOS................................................................................................................ 6
1.1 DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NOS SOLOS.......................................................................................................... 6
1.1.1 Aspectos Microscópicos...................................................................................................................... 6
1.1.2 Aspectos Macroscópicos .................................................................................................................... 7
1.2 CAPILARIDADE NOS SOLOS ......................................................................................................................... 9
1.2.1 Introdução .......................................................................................................................................... 9
1.2.2 Ascensão da Água em Tubos Capilares ............................................................................................ 10
1.2.3 Ascensão da Água nos Solos ............................................................................................................ 13
1.2.4 Ensaios de Capilaridade ................................................................................................................... 13
1.2.5 Implicações da Capilaridade nas Obras de Engenharia ................................................................... 15
1.3 TENSÕES INICIAIS NOS SOLOS .................................................................................................................. 15
Cap.2: PERMEABILIDADE DOS SOLOS ........................................................................................................................ 19
2.1 CARGA HIDRÁULICA E SUA VARIAÇÃO NO PROCESSO DE FLUXO ............................................................. 19
2.2 LEI DE DARCY E O COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE .............................................................................. 24
2.2.1 A Lei de Darcy ................................................................................................................................... 24
2.2.2 Validade da Lei de Darcy .................................................................................................................. 26
2.2.3 Valores Típicos do Coeficiente de Permeabilidade ........................................................................... 28
2.3 FATORES QUE AFETAM O COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE ................................................................. 28
2.3.1 Expressões Teóricas para o Coeficiente de Permeabilidade ............................................................. 28
2.3.2 Fatores Devidos ao Permeante ........................................................................................................ 31
2.3.3 Fatores Devidos ao Solo ................................................................................................................... 32
1
DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA NOS SOLOS
A água está presente no solo de diferentes maneiras. Neste capítulo, as diversas formas em que a água se
apresenta no solo serão discutidas, inclusive a água capilar.
Para efeito didático, vamos observar a presença da água nos solos em duas escalas: microscópica e
macroscópica.
Chama-se de água adsorvida uma película de água fortemente aderida às partículas de solo em razão da
interação elétrica solo-água: a superfície das partículas apresenta-se eletricamente negativa, o que atrai os
cátions da água. Não há propriamente uma fronteira entre a água adsorvida e a água livre; a atração elétrica
diminui com a distância da partícula e, a alguma distancia, a gravidade será mais forte, fazendo com que a
agua migre por forças gravitacionais. Nos solos granulares, os vazios são grandes o suficiente para que haja,
além da água adsorvida, água livre; nos solos finos, há pouca distância entre as partículas e, assim, seus
vazios contêm apenas água adsorvida.
Olhando, num perfil de solo (numa escala intermediária entre microscópica e macroscópica), como a água e
o ar se distribuem, pode-se observar que a água ocupa todos os vazios abaixo do nível d´água, bem como
na franja capilar, e ocupa os vazios menores acima (Fig. 1.2). E pode-se concluir que, abaixo do nível d´água
(NA), os solos (e rochas) estão saturados, com raríssimas exceções (por exemplo, solos com
desprendimento de gases, os “gassy soils”)1.
1 A pequenas profundidades abaixo do NA, podem ocorrer alguns vazios com ar preso, chamado ar ocluso.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 8
A dinâmica dos aquíferos é parte do ciclo da água, esquematicamente mostrado na Figura 1.4.
Camadas que impedem o fluxo ou retardam são chamadas de aquiclude e aquitarde, respectivamente. São
responsáveis por manter aquíferos com cargas hidráulicas diferentes (Fig. 1.5). Servem ainda como
barreiras que evitam a contaminação de aquíferos confinados por esgoto, resíduos industriais, etc.
(aquíferos freáticos em zonas urbanas/industriais são frequentemente poluídos e impróprios para
abastecimento.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 9
Os aquíferos, seus aproveitamentos, alimentação, etc. são estudados na disciplina Hidrogeologia, e para um
estudo do assunto o leitor é dirigido a Todd (1959), Freeze e Cherry (1979), por exemplo.
1.2.1 Introdução
A água (e a maioria dos líquidos) sobe em tubos capilares que entram em contato com a superfície da
mesma (Fig. 1.6). Este fenômeno é conhecido como ascensão capilar ou capilaridade (termo que vem de
tubo capilar = tubo de dimensão do fio de cabelo).
Logo que um tubo de pequeno diâmetro é introduzido na água, a superfície em seu interior se curva,
tomando uma forma esférica, chamada de menisco; em seguida, a água sobe no interior do tubo até chegar
a um equilíbrio (Fig. 1.9).
Se Fa é pequeno ou nulo (Fig. 1.7c), > 90o. Conclusão: é uma função do material da parede (e
eventualmente das impurezas que a recobrem) e do líquido. Valores típicos estão a seguir.
Contato
o
H2O e Vidro <40
o
Hg e Vidro ~140
o
H2O e vidro limpo e úmido ~0
o
Prata e Vidro ~90
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 11
(b) Tensão Superficial
A superfície de um líquido tem as características de uma membrana tencionada. Esta propriedade de um
líquido é chamada de tensão superficial. Pode-se determinar a tensão superficial por ensaio (Fig. 1.8a).
Define-se tensão superficial como:
dW
Ts = (1.1)
dA
dW = 4 Ts R dR dW = (p - pa) 2 R2 dR
Fig. 1.8 – (a) Ensaio para determinação da tensão superficial de um líquido e (b) 2 fluidos separados por
membrana tencionada
2 Ts
p1 - p2 = (1.2a)
R
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 12
Admitindo que o fluído superior é o ar e que a superfície do líquido dentro do tubo é esférica (menisco em
tubo circular), a equação acima fica:
2 Ts
pa – p2 = (1.2b)
R
Vamos estudar com mais detalhe um tubo capilar. Logo após a introdução do tubo, na base do menisco
surge uma pressão p2 menor que a atmosférica (Fig. 1.9a). Como o líquido não suporta tensões cisalhantes,
a água sobe no tubo até uma altura hc (Fig. 1.9b) para que no interior do tubo no nível da superfície no
recipiente se tenha a mesma pressão que na superfície do recipiente: pressão atmosférica. Assim, pode-se
escrever
2 Ts cos
pa - p2 = hc w = (1.3)
r
ou
2 Ts cos
hc (1.4)
r w
Fig. 1.9 – Detalhe do menisco em tubo capilar: (a) condição inicial e (b) após equilíbrio
2 0,073 1
Exemplos: para = 0 e r = 0,05 cm: hc 3 cm
0,05 1
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 13
para = 0 e r = 0,005 cm: hc 30 cm
É preciso resaltar que a água no interior do tubo capilar está com pressão menor que a atmosférica (Fig.
1.9b). Tomando a pressão atmosférica como 0, a água no interior do tubo é negativa, e dita em sucção.
Ensaio de Lambe
O ensaio de capilaridade proposto por Lambe (1951) pode ser realizado com o solo seco (caso em que
haverá ascensão de água do tanque) ou com o solo pré-saturado (Fig. 1.11a). Na Figura 1.11b estão indicadas:
hcr = altura da ascensão capilar
Outros ensaios
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 15
Para outros ensaios, ver: Taylor (1948) – ensaio de capilaridade horizontal – e Fredlund e Rahardjo (1993).
(a) Barragens
Terzaghi e Peck (1967) descrevem o chamado sifão capilar que pode ocorrer em barragens com núcleo de
concreto (Fig. 1.13a).
(b) Taludes
A água acima do NA está em sucção, o que leva a uma tensão efetiva aumentada (Fig. 1.13b). Quando o NA
sobe, a região em sucção passa a ter poro-pressões positivas, causando uma redução considerável na
resistência ao cisalhamento. Isto explica porque, sob fortes chuvas, os taludes deslizam.
(c) Pavimentos
Camadas de base de pavimentos estão sujeitas a saturação por capilaridade, e podem ser danificadas,
juntamente com o revestimento, pelo chamado bombeamento de água sob cargas cíclicas (carga cíclica dos
veículos). A granulometria da base deve ser escolhida de forma a evitar o fenômeno (Fig. 1.13c).
As tensões iniciais nos solos (e rochas) – também chamadas tensões geostáticas – são:
tensões totais
tensões efetivas
poro-pressões
Estas tensões podem ser medidas em ensaios in-situ especiais. Quando esses ensaios não são disponíveis,
elas precisam ser estimadas. Para tanto, é necessário o conhecimento da distribuição da água subterrânea –
e suas pressões – e dos pesos específicos dos materiais. Caso a distribuição das tensões horizontais seja
necessária, é preciso se conhecer o coeficiente de empuxo no repouso, Ko, das diferentes camadas.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 16
v h (1.5)
´ v v u (1.6)
´ h Ko ´ v (1.7)
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 18
2
PERMEABILIDADE DOS SOLOS
Neste capítulo é revisto o conceito de carga hidráulica e apresentada a Lei de Darcy. Dessa lei deriva uma
definição para a permeabilidade dos solos utilizada em Engenharia Civil.
A Equação de Bernouilli2 (também conhecida como Teorema de Bernouilli) estabelece que – em um fluxo
estacionário de fluido não viscoso e incompressível em que forças de massa são desprezadas – se tem
1
p v 2 = const (2.1)
2
v2 p
+ + z const (2.2a)
2g w
H hv + hp + z
Assim, para a condição de fluxo estacionário de um fluido não viscoso e incompressível, se teria
H hv + hp + z const (2.2b)
A Equação (2.2a) é usada na hidráulica de condutos livres, por exemplo, para se calcular pressões e
velocidades em diferentes pontos de uma adutora (Fig. 2.1a). Observe-se que a carga de pressão ou carga
piezométrica é a altura que a água sobe num piezômetro tipo tubo aberto, colocado no ponto.
1 cm2 /s 2
hv = = 5 x 10 - 4 cm
2
2 x 980 cm/s
p
H = hp + z ou H= + z (2.3a)
w
u
H= + z (2.3b)
w
No fluxo em meios porosos (Fig. 2.1b), o atrito viscoso entre a água e o meio é significativo, causando perda
de carga entre dois pontos (ou seja, o Teorema de Bernouilli não é válido). Assim,
uA u
z A B zB H
w w
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 21
É importante notar que a carga total, H, é a responsável pelo movimento da água. Por exemplo, na Figura
2.3a não há fluxo entre os pontos A e B, embora hpA hpB e zA zB , pois HA = HB .
Piezômetros
Piezômetros são medidores de pressão na água. O tipo mais simples é constituído por um tubo com um
filtro no ponto onde se deseja medir a pressão e aberto na extremidade superior (Fig. 2.2a). Este
piezômetro é conhecido como “tipo Casagrande”. Não deve ser confundido com medidor de nível d'água,
que admite água em todo o seu comprimento e que indica a superfície freática (Fig. 2.2b).
Há outros tipos de piezômetros: de contra-pressão (ou pneumático) e elétrico (Fig. 2.2c,d).
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 22
Diagramas de Carga
Vamos observar a variação nas cargas ao longo de um eixo AA em dois casos da Figura 2.3.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 23
2º) H ou hp
3º) hp = H – z ou H = hp + z
Fig. 2.4 – (a) Permeâmetro de Darcy e (b) hipotético (para melhor entendimento)
Devido ao caminho tortuoso seguido pela 'água nos vazios do solo, Darcy (1856) definiu velocidade
aparente de percolação (também chamada velocidade de Darcy) como
Q
v=
A
onde Q = vazão
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 25
A = área da seção do permeâmetro
H
i=
L
v=ki (2.4)
Velocidade real de percolação, vs, é a velocidade com que a água percola pelos vazios do solo (Fig. 2.5) e
corresponde a
Q
vs =
Av
3 Na Engenharia de Petróleo se emprega uma forma modificada da lei de Darcy, em que, ao invés do gradiente
hidráulico, usa o gradiente de pressão – que não é adimensional –. Ainda, se incorpora ao coeficiente de
permeabilidade a viscosidade e o peso especifico do fluido. A permeabilidade, assim obtida, tem unidade própria: o
Darcy. Alguns livros de Engenharia de Petróleo (como “Engenharia de Reservatórios de Petróleo”, de A. J. Rosa et al.)
apresentam a Lei de Darcy na forma original e modificada. Outros livros apresentam apenas a expressão modificada
como se fosse a Lei de Darcy, o que cria dificuldades de entendimento entre engenheiros civis e de petróleo.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 26
Q
vs
Av
Como
V A L
n v v
V AL
então, n A Av . Daí
Q v
vs (2.5)
An n
v D w
Re c 2000 (2.6)
Dentro da faixa de fluxo laminar, há relação linear entre o gradiente hidráulico e a velocidade de
escoamento, conforme estabelece a Lei de Darcy.
Alguns pesquisadores, como Fancher, Lewis e Barnes (apud Muskat, 1937), observaram que a perda de
linearidade entre gradiente hidráulico e velocidade só ocorria em gradientes muito elevados, grãos (ou
melhor, vazios) grandes e fluidos de baixa viscosidade. Esses pesquisadores tentaram usar o conceito de
4 O coeficiente de viscosidade dinâmica da água a 20o C vale aproximadamente 1 centiPoise ou 1 miliPa.s. Não deve ser
confundido com o coeficiente de viscosidade cinemática do fluido, = / w (dimensão L2T-1; dado em m2/s no SI, ou
ainda em Stoke).
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 28
Reynolds para o solo, adotando para D o diâmetro médio das partículas e para v a velocidade aparente,
chegando a
vc D w
1 a 10
g
Na realidade, Fancher e coautores encontraram para o número de Reynolds acima uma grande dispersão
(0,1 a 75). Mas, de qualquer forma, a não linearidade ocorre em situações excepcionais. Assim, conclui-se
que a Lei de Darcy é valida para praticamente todos os solos e gradientes hidráulicos encontrados nos
problemas de Engenharia Civil.
Q R2 p
= (2.7a)
a 8 L
ou
w R2
v= i (2.7b)
8
5 Jean Léonard Marie Poiseuille, médico francês que, no início século 19, estudou o fluxo em vasos sanguíneos.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 29
onde Q = vazão
a = área da seção transversal do tubo
= coeficiente de viscosidade dinâmica do fluido
R = raio do tubo
p = variação de pressão no comprimento L
v = velocidade média (vazão dividida pela área do tubo)
w Rh2
Q = Cs ia (2.8)
Segundo Leonards (1962), Kozeny introduziu o conceito de raio hidráulico para solos:
a=nSA
onde n = porosidade
S = grau de saturação
A = área da seção total do solo
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 30
e 2 Vs2 S 2 V 2 e3
Q = Cs w i n A S = Cs w s S3 i A
2
As As2 1 + e
w Vs2 e 3
k i A = Cs S3 i A
2
As 1 + e
ou
V2 w e 3
k = Cs s S3
As2 1+ e
V
Se Ds é o diâmetro de um grão esférico com a mesma razão s que o solo, vem:
As
6 36
Ds Ds2
As As2
1
Vs
Ds3 D
6 s
As 2 6
Ds
Daí
Ds2 w e 3
k = Cs S3
36 1+ e
ou
w e 3
k = C Ds2 S3 (2.9)
1+ e
Ainda, pode-se definir permeabilidade intrínseca ou “específica” ou “absoluta” (dimensão L2) como
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 31
K= k (2.10)
w
1 e3
K= k = (2.11)
w Co As2 1 + e
Expressões teóricas podem funcionar em condições especiais, como em areias médias a grossas, com
estrutura de grãos únicos e sem zonas mortas. Elas não se aplicam a solos mais finos, em especial argilosos,
porque não levam em consideração alguns aspectos como estrutura do solo, interação permeante - solo,
etc., como se verá adiante.
Os fatores devidos ao permeante são o peso específico do fluido (w) e a viscosidade (). Estes fatores
podem ser eliminados se trabalharmos com a permeabilidade intrínseca K. A relação entre K e índice de
vazios (para S = 1) deveria ser única e linear. Entretanto, como mostrado na Figura 2.7, em solos argilosos, o
mineral argílico tem influencia. Isto se explica pelas diferentes espessuras da película de água adsorvida
para cada mineral argílico.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 32
Fig. 2.7 – Relação permeabilidade intrínseca vs. índice de vazios
Temperatura
Ainda, a temperatura afeta a viscosidade do fluido. Daí a necessidade de se realizar os ensaios a uma
temperatura de referência, 20o C (ou de se corrigir os resultados para essa temperatura).
Granulometria
A Equação (2.9) sugere que a permeabilidade varia com o quadrado do diâmetro das partículas (Ds). Isto se
verifica nas areias. Hazen (1911) propôs, para areias uniformes,
2
k ~ 100 D10 (unidades em cm e seg)
Índice de Vazios
Pela Equação (2.9), se plotarmos k x e3/1+e , deveríamos obter uma linha reta. Em areias, isto
frequentemente ocorre (Fig. 2.8a). Este tipo de gráfico é usado para obtenção do coeficiente de
permeabilidade de areias in-situ: (1º) Fazem-se ensaios com diversos valores de e, (2º) plota-se o gráfico
como na Figura 2.8a e (3º) entrando com o e do campo, tira-se o k do campo.
Em argilas, em geral se obtém uma relação linear entre e e log k (Fig. 2.8b).
Composição mineralógica
A composição mineralógica tem grande importância para argilas (Fig. 2.9).
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 33
Estrutura
A estrutura (“fabric”) tem grande importância para solos argilosos. Em argilas compactadas, este é o fator
de maior influência no k (Mitchell, Hooper e Campanella, 1965).
Fig. 2.10 – Curva de compactação e de permeabilidade em função da umidade de preparação das amostras
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 34
Grau de Saturação
Segundo a Equação (2.9), k seria proporcional a S3. Entretanto, a Figura 2.11 mostra que não há uma relação
linear. A questão da permeabilidade dos solos parcialmente saturados é mais complexa e será tratada com
mais detalhe no Capítulo 10.
3
DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE
3.1 INTRODUÇÃO
Os ensaios de laboratório são mais precisos, na medida em que as condições de ensaio são mais
controladas, enquanto os ensaios de campo são mais representativos dos solos nas condições in-situ.
Primeira questão a ser examinada: a amostra deve ser previamente saturada ? Casos de amostras não
saturadas:
amostras de solos orgânicos (podem conter gases orgânicos mesmo abaixo do NA)
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 36
QL
k= (3.1)
A H
Procedimento para areias: para cada índice de vazios, fazer o ensaio sob diferentes gradientes hidráulicos.
São feitas leituras em diferentes intervalos de tempo para verificar se os cálculos conduzem a um mesmo k.
a L p
k= ln 1 (3.2b)
A t p2
cv av
k= w
1+ em
2 2
0,197 H50 0 ,848 H90
onde cv = ou cv
t 50 t 90
e
av = -
t 50
A permeabilidade de um solo argiloso pode ser obtida também no ensaio de compressão triaxial, pela
interpretação da fase de adensamento (quando é aplicada uma tensão hidrostática à amostra).
2
k ~ 100 D10 (unidades em cm e seg)
Hipóteses
Na interpretação mais comum, o meio poroso é considerado homogêneo e isotrópico. Assim, a
permeabilidade obtida é uma média, com predominância da permeabilidade horizontal.
No caso de poços em aquíferos freáticos faz-se uso das Hipóteses de Dupuit:
i = constante numa vertical;
i = inclinação da superfície livre (ou i = dh/dr).
Vamos apresentar a fórmula mais simples, válida para o regime estacionário (há soluções para interpretação
da fase transiente, como, p. ex., a de Theis, 1935) e para poços com penetração total no aquífero ("poço
perfeito").
dh
Q = k i A= k 2 r h (3.3a)
dr
ou
6 No trabalho de graduação de Alexandre O. Pacheco (UFRJ, 2002), foi ensaiada uma areia de praia da Barra da Tijuca.
Trata-se de uma areia média uniforme com D10 = 0,04 cm. As permeabilidades variaram entre 6 x 10-2 e 1,6 x 10-1 cm/s
(quase 3 vezes), dependendo do índice de vazios, que variou entre 0,5 (estado compacto) e 0,7 (estado fofo). Nesse
caso, a fórmula de Hazen previu a permeabilidade no estado fofo.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 40
dr
Q = k 2 h dh (3.3b)
r
h = hw para r = rw
obtém-se
R H 2 hw2
Q ln = k 2 (3.4a)
rw 2
ou (Equação Dupuit-Thien)
Q R
H 2 hw2 = ln (3.4b)
k rw
Q R
k= ln (3.4c)
2
( H hw2 ) rw
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 41
Porém, com a dificuldade de se determinar o raio de influência R, é melhor executar 2 (ou mais) poços
testemunhas nos quais medimos os NA para:
Q r
k= ln 2 (3.4d)
( h22 h12 ) r1
Q r
h 2 hw2 = ln (3.4e)
k rw
que prevê que a superfície freática chega à parede do poço no mesmo nível que a água está no interior do
poço. Isto não é realista uma vez que a superfície freática chega um pouco acima.
dh
Q = k i A= k 2 rD
dr
ou
dr
Q = k 2 D dh
r
Resolvendo esta equação com as condições de contorno (como no caso anterior), obtém-se
R
Q ln = k 2 D ( H hw ) (3.5a)
rw
Q R
H - hw = ln (3.5b)
2 k D rw
A solução acima supõe que o NA no interior do poço não é rebaixada abaixo do topo do aquífero. Caso isso
ocorra, surgirá uma superfície livre dentro do aquífero confinado e ele será dito semi-confinado. Esse caso,
assim como aqueles em que o poço não penetra totalmente os aquíferos freático e confinado, pode ser
visto em Mansur e Kaufmann (1962).
Q
k= (3.6)
FH
O ensaio pode ser acima ou abaixo do NA. Se acima, H é medido até o ponto de infiltração.
Vale notar que o ensaio realizado acima do NA estará submetendo um solo inicialmente não saturado a um
processo de saturação (ou aumento da umidade) na região entorno da cavidade de infiltração.
a h
k= ln 1 (3.7)
F t h2
Hvorslev (1951) utiliza uma formulação com o “tempo de retardo” ("basic time lag”) T, definido como o
tempo necessário para ocorrer fluxo num volume V, ou seja,
V
T= (3.8)
Q
t
T (3.9)
h
ln 1
h2
a
k= (3.10)
F T
Como no ensaio com permeâmetro de carga variável, são feitas determinações de k em diferentes
momentos do ensaio.
O ensaio de infiltração transiente é conhecido também como “slug test”.
Ver outras configurações de ensaio na tabela a seguir, tirada do manual NavFac DM-7 (U.S. Navy, 1971).
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 45
TABELA
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 46
4
A EQUAÇÃO DA PERCOLAÇÃO BI- E TRI-DIMENSIONAL E A
“REDE DE FLUXO”
Neste capítulo é deduzida a equação da percolação tri-dimensional (seguindo Lambe e Whitman, 1969). Em
seguida é vista a representação gráfica de sua solução para o caso bidimensional estacionário, a chamada
“rede de fluxo”. Finalmente, é apresentado o conceito da força de percolação.
Para estabelecer a equação geral da percolação tridimensional vamos considerar um elemento de meio
poroso infinitesimal sujeito a fluxo (Fig. 4.1).
Vw
Qs - Qe = (4.1)
t
Sejam
Qe = vx dy dz + vy dx dz + vz dx dy
v v y v
Qs = v x x d x d y d z v y d y d x d z v z z d z d x d y
x y z
e e
Vw = S Vv = S n V = S V= S (1+ e)Vs S e Vs
1+ e 1+ e
Vw S e Vs
=
t t
Vw S e S e 1
= e + S Vs = e + S dx dy dz (4.2)
t t t t t 1 e
v x v y v z 1 S e
dx dy dz + dx dy dz + dx dy dz = e + S dx dy dz
x y y 1 e t t
ou
v x v y v z 1 S e
+ + = e + S (4.3)
x y y 1 e t t
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 49
Vamos introduzir a Lei de Darcy (2a hipótese), que para 1 dimensão se exprime como (Eq. 2.4)
dH
v=ki=k
dl
H H H
v x = kx v y = ky v z = kz
x y z
Derivando, tem-se
v x H
k (e mais duas equações para as outras direções)
x x x x
v x H 2
kx (e mais duas equações para as outras direções)
x x 2
Meio isotópico é aquele no qual as propriedades não variam com a direção (kx = ky = kz). A Equação (4.5) se
reduz a
2H 2H
0 (4.6b)
x 2 y 2
2H 2H 2H 1 e
kx 2
k y 2
+ k z 2
(4.7b)
x y z 1 e t
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 52
2H 2H 2H 1 e
k 2 2
+
2
(4.7c)
x y z 1 e t
No caso de adensamento uni-dimensional (fluxo e deformação apenas na direção vertical), a Equação 4.4c
se reduz. Ainda: nos estudos de adensamento se trabalha com a poro-pressão u ao invés de H. Lembrando
que H= u/w + z (Eq. 2.3b), tem-se
2H 1 2u
(4.8a)
z2 w z2
Com a Equação (4.7c) reduzida e utilizando-se a Equação (4.8a) chega-se à Equação de Terzaghi
1 2u 1 e
k (4.8b)
w z 2 1 e t
Esta equação pode ser combinada a uma expressão que relacione a variação do índice de vazios com a
variação de tensões efetivas, como
e e
av ou mv (1 e )
'v 'v
Supondo que a tensão total se mantém constante, a variação de tensão vertical efetiva com o tempo é
igual à variação na poro-pressão com o tempo (a rigor, como ’ = – u, ∂’ = – ∂u), e a equação acima pode
ser reescrita
2H 2H
0 (4.6b)
x 2 y 2
A solução desta equação é H = f(x,y) que obedece à Equação (4.6b) e que satisfaz às condições de contorno
do problema. Esta solução pode ser representada graficamente por linhas de mesmo H, chamadas “linhas
equipotenciais”.
Para completar a visualização, podemos traçar trajetória de partículas d'água – as “linhas de fluxo” –. Entre
duas linhas de fluxo há um canal de fluxo.
O conjunto linhas de fluxo mais linhas equipotenciais se chama “rede de fluxo” (Fig. 4.3).
Outras definições
Domínio do fluxo: Região sujeita a percolação, objeto da análise.
Fluxo não confinado: aquele que tem como uma das fronteiras uma superfície livre ou freática (onde u = 0;
daí H = z ). Na Figura 4.4a está um caso de fluxo confinado e na Figura 4.4b um caso de fluxo não confinado.
H
q= ki Ak b
nq l
onde H = perda de carga total no processo de fluxo (em um "retângulo" será H\ nq)
l = comprimento de um "retângulo"
b = largura do canal (largura em um "retângulo")
nf b
Q= k H (4.9)
nq l
ficando b/l como relação entre lados dos "retângulos" da rede. Esta equação fornece a vazão para uma
dimensão transversal (dimensão normal ao plano de estudo) unitária; a dimensão do resultado é L3.T-1.L-1.
No caso da Figura 4.3, se k = 10-4cm/s, a vazão total será 3 x 10-6 m3/s por metro.
4.4.2 Poro-Pressões
Em muitos problemas é necessário conhecer poro-pressões em pontos no interior do meio poroso ou na
interface com estruturas (diagramas de empuxo de água). O procedimento consiste em, conhecido o valor
de H no ponto e a sua elevação z, obter-se o valor de hp (através de hp = H –z ), e daí
u = hp w
No caso da Figura 4.3, no ponto D (elevação 5,0 m), onde passa a equipotencial H = 15,0 m, tem-se
Para outros pontos, podem-se calcular as poro-pressões, como na planilha abaixo, e desenhar os diagramas
de empuxo de água contra os dois lados da cortina da Figura 4.5.
H z hp u
Ponto
(m) (m) (m) (kN/m2)
A 18,0 10,0 8,0 80
B 17,0 7,5 9,5 95
C 16,0 6,0 10,0 100
D 15,0 5,0 10,0 100
E 14,0 6,0 8,0 80
F 13,0 7,5 5,5 55
G 12,0 10,0 2,0 20
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 56
Os diagramas de empuxo de água da Figura 4.5, ditos hidro-dinâmicos, são bastante diferentes daqueles
que obteríamos desenhando diagramas hidrostáticos dos dois lados da cortina.
Outro exemplo de diagramas hidro-dinâmicos está na Figura 4.6, correspondente a uma barragem de
concreto assente em rocha porosa.
i = H/l
A água transmite parte da sua energia (carga hidráulica) ao meio poroso por atrito viscoso. Este atrito entre
a água e o meio poroso impõe tensões e deformações no meio poroso. Esta ação mecânica da água é
chamada de força de percolação. Para calculá-la, vamos analisar uma situação bem simples, mostrada na
Figura 4.8.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 58
Para esse caso, pode-se escrever que a força de percolação total que é transferida ao meio poroso é
F = U1 – U2 = w (H1 - H2) A
F H - H2 A w H
j= = w 1 =
V LA L
ou
j = i w (4.10)
A força de percolação é uma força de massa (ou força de corpo), como o peso próprio do material, porém,
com direção e sentido do gradiente hidráulico.
A força de percolação pode provocar:
alteração no estado de tensões efetivas, podendo chegar à condição movediça ("quick condition") em
areias, quando há anulação das tensões efetivas e
erosão interna, quando partículas finas são arrastadas, podendo provocar a formação de tubos
("piping").
Condição movediça
Quando, num fluxo ascendente, j = ’ , ocorre ’v = 0. Em um solo arenoso (em que c’=0), tem-se, então, S =
’ tg ’ = 0. Ou seja, o solo perde toda a resistência e passa a se comportar como um fluido – fenômeno
conhecido como liquefação da areia7 .
7 Areias fofas podem também se liquefazer pelo aumento de poro-pressões associado a carregamentos dinâmicos
(sismos ou carregamentos cíclicos).
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 59
A Figura 4.9 mostra o solo na vizinhança de uma cortina, em que no lado do fluxo ascendente (onde está o
elemento B) as tensões verticais estão reduzidas, o que leva à redução do empuxo passivo – e, no extremo,
à liquefação da areia –. No lado do fluxo descendente (onde está o elemento A) as tensões verticais estão
aumentadas, o que leva a um aumento do empuxo ativo.
Fig. 4.9 – Solo junto a cortina sob fluxo, com consideração das forças de percolação
Para se conhecer o gradiente que causa a condição movediça basta igualar a força de percolação ao peso
efetivo unitário:
´
j = ´ i w =´ ou i= (4.11)
w
O gradiente acima é chamado de gradiente crítico. Ele precisa ocorrer na face de saída d´água; não haverá
condição movediça se o gradiente crítico ocorrer apenas num ponto ou região no interior do meio.
O fator de segurança em relação à condição movediça pode ser expresso como
icrit
F.S. = (4.12)
iv, saída
Fig. 4.10 Risco de ruptura de camada argilosa por pressão de água em sua base
O fator de segurança em relação ao levantamento da camada de argila pode ser expresso como
v
F.S. = (4.13)
u
Assim, pode-se concluir que há pelo menos dois tipos de ruptura de fundo de escavações associados à água
subterrânea. No segundo caso, é comum haver um levantamento discreto do fundo antes da ruptura, que
pode ser brusca, e daí se diz que houve ruptura por levantamento de fundo. Esta mesma expressão (ruptura
por levantamento de fundo) é empregada quando há ruptura mecânica de fundo de uma escavação –
quando há argila de baixa consistência no fundo – embora com um mecanismo totalmente diferente.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 61
5
MÉTODOS DE OBTENÇÃO DE SOLUÇÕES PARA O
PROBLEMA DE PERCOLAÇÃO
Neste capítulo serão apresentados os principais métodos de obtenção de soluções para o problema de
percolação.
5.1 INTRODUÇÃO
Os métodos de obtenção de soluções para o problema de fluxo podem ser classificados em:
Modelos reduzidos
Métodos analíticos ou matemáticos (ou "solução fechada")
Método gráfico
Métodos analógicos
Métodos numéricos (computacionais)
Os métodos acima estão em ordem cronológica em que surgiram.
2H 2H
0 (4.6b)
x 2 y 2
2H dH
= 0 = C Cy + D = H
2 dy
y
= - k H+ C (5.1)
v x = y
(5.2)
v = -
y
x
vx = e vy = (5.3)
x y
Lembrando que a Equação de Continuidade (4.3) para o caso bidimensional estacionário se reduz a
v x v y
0
x y
2 2
0 ou 2 = 0 (5.4)
2 2
x y
2 2
0
x y y x
e (5.5)
x y y x
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 64
Podemos ver (Harr, 1962) que a função satisfaz igualmente à Equação de Continuidade e às equações
Cauchy-Riemann (5.5), e, portanto, à equação
2 2
0 ou 2 = 0 (5.6)
x 2 y 2
Observando as Equações (5.4) e (5.6) concluímos que as funções e são ambas harmônicas. A solução de
2 = 0 fornece linhas equipotenciais (linhas onde é constante). A solução de 2 = 0 fornece
linhas de fluxo (linhas onde é constante).
Os livros de Polubarinova-Kochina (1962) e Harr (1962) contêm a solução para uma série de outros casos,
como escavações (com escoramento impermeável), barragens sobre meio permeável, diques, etc. Nesses
livros a técnica de solução mais comum é o mapeamento conforme. Esta técnica consiste em determinar a
função que transforma a geometria real de um problema, cuja solução é buscada, numa geometria em que
a solução é conhecida (Fig. 5.3).
O Apêndice 1 apresenta a solução de um caso bidimensional simples: barragem impermeável sobre meio
permeável semi-infinito.
Com auxílio das soluções matemáticas demonstra-se que:
(a) a vazão que passa por um canal de fluxo é constante;
(b) duas linhas de fluxo não se interceptam;
duas linhas equipotenciais não se interceptam;
(c) linhas equipotenciais e de fluxo se interceptam segundo um ângulo reto.
Desvantagens: solução possível apenas em casos de geometria simples (poucos não confinados).
Vantagens: solução rigorosa.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 65
Desvantagens: solução possível apenas em casos de geometria simples (poucos não confinados).
Vantagens: solução rigorosa.
Como são soluções rigorosas, as soluções matemáticas servem para aferição de outros métodos.
O método gráfico, proposto por Forchheimer (1930), permite a obtenção de redes de fluxo bidimensionais8
sem a resolução analítica ou numérica da Equação de Laplace (4.6b).
Vantagens: (a) é sempre possível obter-se uma solução
(b) não requer nenhum equipamento
(c) ajuda a desenvolver a compreensão dos problemas de fluxo
Procedimento
(a) Definir o domínio da análise (“domínio do fluxo”)
(b) Identificar as fronteiras do domínio do fluxo
Os tipos de fronteira de suas características são (vamos estudar o caso da Fig. 5.4):
8 Problemas de fluxo axissimétricos podem ser tratados graficamente, como mostram Taylor (1948) e Cedergren
(1989), porém, de maneira trabalhosa.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 66
Há um detalhe de encontro de equipotenciais com a superfície livre, como mostrado na Figura 5.6.
Sugestões práticas:
use papel de boa qualidade (vegetal, p. ex.)
escolha uma escala conveniente (nem grande nem pequena)
desenhe as fronteiras a tinta e a rede a lápis macio
experimente girar o desenho
2H 2H 2V 2V
kx ky 0 x y 0
x 2 y 2 x 2 y 2
Linhas de fluxo Linhas de corrente
Linhas equipotenciais Linhas equipotenciais
Na analogia elétrica tem-se 3 tipos: o modelo elétrico contínuo (tanque eletrolítico, para análise
tridimensional, e papel condutor, para análise bidimensional), o modelo elétrico discreto (rede de
resistências e de resistências e capacitores) e o modelo de movimentação iônica.
2D - Papel condutor
Tipos
{
modelos eletroanalógicos contínuos
Deve-se observar, entretanto, que não existe no fluxo elétrico o efeito de forças de massa (gravitacionais)
e, portanto, a corrente elétrica atravessa todo o meio condutor e as linhas de fluxo limites coincidem com
suas fronteiras físicas. Assim, na simulação de fluxo não confinado, a superfície livre precisa ser introduzida
artificialmente, variando-se sucessivamente as fronteiras físicas do modelo, bem como a face de drenagem,
colocando-se um eletrodo de potencial variável linearmente com a altura.
O modelo de movimentação iônica é baseado no fato de que a velocidade dos íons em uma solução
eletrolítica sob um gradiente de tensão é análoga à velocidade média das partículas de um fluido sob
gradiente hidráulico em um meio poroso. Este modelo é utilizado apenas em análises bidimensionais (na
horizontal) em que a gravidade não é considerada.
5.5.1 Introdução
Os métodos numéricos são anteriores ao computador, mas ganharam grande desenvolvimento com o
advento deste na década de 1960 (hoje em dia, método numérico se tornou sinônimo de método
computacional). Os principais métodos utilizados em Engenharia são (pela ordem de aparecimento):
Método das Diferenças Finitas (MDF)
Método dos Elementos Finitos (MEF)
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 71
Método dos Elementos de Contorno (MEC)
O MDF consiste na substituição da equação diferencial que governa o fenômeno em estudo por uma
equação algébrica, que relaciona o valor da variável do problema em um ponto aos valores em 4 pontos
vizinhos, situados sobre duas linhas ortogonais. Assim, na solução de um problema pelo MDF é necessário
se traçar uma malha ortogonal, sendo a solução obtida nos pontos de intercessão da malha (Fig. 5.9b). A
solução pode ser manual (anterior ao computador), pela técnica chamada de "relaxação", ou com auxílio
de computador, quando se monta um sistema de equações simultâneas (uma equação para cada ponto de
intercessão da malha).
Resumindo em poucas palavras, o MEF consiste na divisão do domínio do problema em elementos cujo
comportamento pode ser facilmente formulado em função de sua geometria e propriedades conectados
apenas em alguns pontos através dos quais interagem entre si (Fig. 5.9c). Como a divisão do domínio pode
ser qualquer, este método apresenta grande vantagem no tratamento de casos com geometria complexa.
Ainda, cada elemento pode ter propriedades próprias, o que permite resolver casos heterogêneos. O MEF
surgiu na Engenharia Estrutural, mas foi logo estendido a outros fenômenos, como percolação,
adensamento, etc.
O MEC difere do MEF na medida em que apenas a fronteira do domínio precisa ser dividida em elementos
(daí o nome "elementos de contorno", Fig. 5.9d). Assim, o trabalho de divisão do domínio bem como o
número de equações fica bastante reduzido. Por outro lado, o MEC tem sido usado basicamente em
problemas lineares e homogêneos.
Comparando-se o MEF e o MEC podem-se destacar as seguintes vantagens do último:
(i) Discretização restrita ao contorno;
(ii) Menor número de incógnitas;
(iii) Facilidade no tratamento de domínios semi-infinitos ou com superfície livre;
(iv) Bons resultados em regiões de concentração de tensões ou de gradientes hidráulicos.
Fig. 5.9 Esquema de solução de um problema por (b) MDF, (c) MEF e (d) MEC
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 72
Os métodos numéricos, que fornecem a solução do problema apenas em alguns pontos do domínio, são
chamados de métodos discretos. A solução obtida será tão mais próxima da exata quanto maior for o
número de pontos na solução numérica (ou seja, mais refinada for a rede ou malha).
2H 2H
kx ky 0
x 2 y 2
Vamos somar
H 2 2 H 3 2 H
Hi-1, j = Hi, j - x x 2 x 2
x i, j 2 ! y 3 ! x
i, j i, j
H 2x 2 H 3x 2 H
Hi+ 1, j = Hi, j + x
x i, j 2 ! y 2 3 ! x2
i, j i, j
___________________________________________________
2H
Hi -1, j + Hi+ 1, j = 2 Hi, j + x 2 + 4a ordem
x 2
i, j
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 73
Daí tira-se
kx ky
Hi -1, j + Hi+ 1, j - 2 Hi, j + Hi, j -1 + Hi, j+ 1 - 2 Hi, j = 0
x 2 y 2
ou
ky kx k ky k
Hi, j+ 1 + Hi -1, j - 2 x + Hi, j + k x Hi+ 1, j y Hi, j -1 = 0
y 2 x 2 x 2 y 2 x 2 y 2
0 H1
H
2
=0
Hi, j
0
e resolver no computador.
O método pode ser resolvido, ainda, manualmente (técnica da “relaxação”), como pode ser visto em
Badillo e Rodriguez (1980).
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 74
5.5.3 Métodos dos Elementos Finitos
O MEF é uma evolução do Cálculo Matricial de Estruturas modeladas como um sistema de barras que
ocorreu no final da década de 1950. Turner, Clough, Martin e Topp apresentaram em 1956 a formulação do
primeiro elemento plano, o triângulo de três nós (CST), com vistas à análise estrutural. O método se
desenvolveu rapidamente na década de 1960, e o estudo mais aprofundado dos princípios do método (com
enfoque matemático) permitiu sua aplicação em muitos outros fenômenos além da análise estrutural,
como é o caso da percolação.
O Procedimento do MEF
O MEF pode ser descrito como uma técnica para se resolver (de forma aproximada) um problema
governado por equação diferencial através de um sistema de equações matriciais que relacionam a variável
procurada em um número finito de pontos. O procedimento na resolução de um problema pelo MEF é o
seguinte:
(1) Inicialmente divide-se o domínio do problema em um número de subdomínios, denominados elementos
finitos, conectados entre si através de um número finito de pontos, denominados pontos nodais ou
simplesmente nós.
(2) Constrói-se a equação que relaciona a variável do problema (carga hidráulica) nos nós de cada elemento
com a geometria e propriedades do elemento, dando origem à equação do elemento. Isso é feito para cada
elemento finito.
(3) Considerando a conexão dos elementos através dos pontos nodais é possível se associar as equações
dos elementos, montando um sistema de equações global para o problema.
(4) Introduzem-se valores conhecidos da variável do problema no contorno (“introdução das condições de
contorno”).
(5) Resolve-se o sistema de equações global, obtendo-se os valores da variável do problema nos pontos
nodais.
(6) Obtêm-se as chamadas variáveis secundárias (gradiente hidráulico e velocidade aparente de percolação)
no interior dos elementos.
Uma vez desenvolvido um programa de computador para execução dos passos (2) a (6), o trabalho do
engenheiro se concentra no item (1), complementando com o fornecimento de dados ao programa, e
após a execução do programa na interpretação dos resultados. Nestas duas tarefas, (a) divisão do
domínio do problema e preparação dos dados que simulam o fenômeno e (b) interpretação dos resultados,
é necessário um cuidadoso julgamento do engenheiro, além do conhecimento daquilo que é feito pelo
computador (passos 2 a 6).
Numa formulação intuitiva procura-se relacionar as cargas hidráulicas nos nós do elemento com as vazões
nodais seguindo os seguintes passos:
e 1 2 3 4
e
{H} {}
{i}
{v}
Q
compatibilidade condições físicas continuidade
e
onde {H} = vetor de cargas hidráulicas nodais
O 1o passo relaciona a carga hidráulica em um ponto qualquer no interior do interior do elemento com as
cargas hidráulicas nos nós através de funções de interpolação
e
H = [N] {H} (5.7)
matriz das funções de interpolação
O 2o passo relaciona o gradiente hidráulico com as cargas hidráulicas nos nós através de
e
{grad H} = [B] {H} (5.8)
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 76
matriz das derivadas das funções de interpolação
v x k xx k xy H x
v = k k yy H y
y yx (5.9a)
ou
v = [k] grad H (5.9b)
No caso em que k1 não é horizontal (mas faz com a horizontal) usa-se a matriz de rotação [R] tal que:
e
Q [B] T v d (5.11)
Daí
e
Q [B] T {k} {grad H} d (5.12)
e, finalmente,
e T e
{Q} = [B] [k] [B] d {H} (5.13a)
e e e
{Q} = [K] {H} (5.13b)
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 77
Para o conjunto de elementos (domínio do problema)
n e
{Q} = U {Q} vetor global de vazões nodais
e= 1
n e
[K] = U {K} matriz global
e= 1
n e
{H} = U {H} vetor global de cargas hidráulicas nodais
e= 1
Estes modelos, também chamados de modelos físicos, são geralmente construídos com areias e utilizados
para fins didáticos. A simulação de fluxo confinado é mais simples, pois, nos casos não confinados, a
capilaridade pode prejudicar a análise (a franja capilar nos modelos é desproporcionalmente maior que no
protótipo). Nesse caso, pode-se fazer um tratamento da areia com silicone (repelente da água) para
minimizar este efeito.
As cargas hidráulicas são conhecidas a partir de mini-piezômetros e as linhas de fluxo através de traçadores
coloridos.
Este método é utilizado ainda no estudo de alguns fenômenos mais complexos, como fluxo não saturado,
fluxo simultâneo de dois ou mais fluidos (podendo um deles se um contaminante), etc.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 79
6
ANISOTROPIA E HETEROGENEIDADE
Neste capítulo será discutido como lidar com duas questões: anisotropia e da heterogeneidade. São
questões distintas, na medida em que a anisotropia é uma característica do material e a heterogeneidade é
uma característica do problema (ou do caso em análise).
Nesse caso, k1 = kh e k2 = kv . Temos o artifício de transformar a geometria do problema segundo (Fig. 6.1):
kv
x' = x e y' = y (6.1)
kh
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 80
Para demonstração dessa proposta basta reescrever a Equação (4.5) para 2 dimensões como
2H 2H
0
(ky / k x ) x 2 y 2
Adotando-se uma nova escala para o sistema de coordenadas tal que x́ x k y / k x , vem
2H 2H
0 ,
x´ 2 y 2
que equivale à Equação (4.6b), exceto pelo sistema de coordenadas, que tem x´ ao invés de x.
k2
Nesse caso, as distâncias segundo a direção de k1 devem ser reduzidas em , como no exemplo da
k1
Figura 6.2.
Quando k1 = kh (caso mais comum), a superfície freática pode ser mais horizontalizada, e criar problemas,
por exemplo, em barragens de terra compactada e em taludes (Fig. 6.3): a água surge em nível acima do
esperado e, sem filtragem, causa erosão interna do solo.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 82
Fig. 6.3 – Efeito da anisotropia em (a) barragem de terra compactada e (b) talude
É difícil o traçado de rede de fluxo para um problema da percolação com vários materiais (meio
heterogêneo). Entretanto, fazendo-se algumas simplificações e obedecendo a algumas regras, é possível
fazer um esboço de rede de fluxo, que será útil até mesmo na avaliação de uma solução numérica.
H
Q1 = k1 d1 x 1
(6.3)
H
Q2 = k2 d 2 x1
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 83
H
Q1 + Q2 = kh d1 d 2 x1 (6.4)
H H
k1 d1 + k2 d 2 = kh d1 + d2
ou
k d + k2 d 2
kh = 1 1
d1 + d 2
ki d i
kh = (6.5)
di
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 84
(b) Fluxo perpendicular à estratificação
Vamos imaginar 2 camadas de material isotrópico sujeitas a fluxo perpendicular à estratificação (Fig. 6.4b).
Pode-se escrever
H1
Q = k1 .1
d1
(6.6)
H2
Q = k2 .1
d2
H1 H2
Q = kv .1 (6.7)
d1 d 2
Q d1
H1 =
k11
(6.8)
Q d2
H2 =
k2 1
Q d1 d 2
Q k1 k2
= kv
d1 + d 2
ou
d1 + d 2
kv =
d1 d 2
k1 k2
di
kv = (6.9)
d
i
ki
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 85
Significado: o fluxo perpendicular à estratificação é controlado pelo material menos permeável; fluxo
segundo a estratificação é controlado pelo material mais permeável.
Vamos estabelecer a relação entre os ângulos de incidência e de saída. A vazão num canal é
H
q1 k1 b1
l1
H
q 2 k2 b2
l2
Como q1 = q2 , vem
H H
k1 b1 k2 b2
l1 l2
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 86
k1 l b tan
= 1 2 = (6.10)
k2 b1 l 2 tan
No caso da Figura 6.7, imaginando que k4 k3 k5 , conclui-se que Q2 Q1 Q3 , o que permite tratar
apenas o aluvião (Fig. 6.8a). Para um estudo de estabilidade da barragem, podem-se estender as
equipotenciais até o núcleo (Fig. 6.8b) e, a partir delas, obter as poro-pressões.
Fig. 6.8 – Simplificação do problema: (a) rede de fluxo considerando apenas o aluvião e (b) extensão das
linhas equipotenciais pelo tapete e núcleo
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 88
Porém se k4 e k3, embora diferentes, são da mesma ordem de grandeza, não podemos desprezar a argila
compactada e ficamos com um domínio de análise como mostrado na Figura 6.9.
Vamos examinar a mesma barragem, porém com outra solução para minimizar a percolação pela fundação:
uma trincheira corta-água (“cut-off trench”). Nesse caso, o fluxo é forçado pelo material de baixa
permeabilidade (argila compactada) e esse material não pode ser desprezado na análise.
Como Q1 e Q2 (e eventualmente Q3) podem ser da mesma ordem de grandeza, o domínio de análise deve
ficar como mostrado na Figura 6.11 (a ou b, dependendo da permeabilidade da rocha alterada).
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 89
Mas em casos envolvendo mais de um material, frequentemente não é possível se fazer uma redução do
número de materiais a ponto de se obter uma solução confiável por método gráfico, e precisaremos
recorrer a um método numérico, por exemplo.
Outra questão: uma superfície freática pode se desenvolver em casos envolvendo materiais mais
permeáveis a jusante de um material menos permeável (Fig. 6.12). Isto pode acontecer, por exemplo, em
filtros não muito permeáveis (Cedergren, 1973).
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 90
Fig. 6.12 – Casos envolvendo material mais permeável a jusante de material menos permeável
7
CONTROLE DA ÁGUA EM BARRAGENS
Neste capítulo serão vistos o traçado de redes de fluxo e os principais problemas do controle da percolação
em barragens e diques de terra.
Q=kiA=kiy (7.1)
dy
Q k y (7.2a)
dx
ou
Q dx k dy y (7.2b)
y2
Q x k c (7.3)
2
para x = 0 y=0
ky 2
Q (7.4)
2x
kH2
Q (7.5)
2D
A Expressão (7.5) serve para se estimar a vazão, enquanto a Expressão (7.4) fornece uma superfície livre em
desacordo com a realidade, exatamente como acontece com a solução de Dupuit para poços em aquíferos
freáticos.
dy
i
dx
k a2 sin2
Ponto E Q a cos c (7.6)
2
kH2
Ponto P Q d c (7.7)
2
k
Q ( d a cos ) ( H 2 a2 sin2 ) (7.8)
2
A distância sobre o talude do ponto de saída d'água, a, pode ser determinada por fórmula:
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 94
d d2 H2
a (7.10)
cos cos 2 sin2
k H 2 a2 sen2
k a sen tan (7.11a)
2 d - a cos
H2 y 2
a sen tan (7.11b)
2(d - x)
dy
i sen (7.12)
ds
(daí o nome de Método do Seno). A solução é trabalhosa na medida em que requer um processo gráfico
iterativo. Para uma descrição do método, ver Badillo e Rodriguez (1972).
Esta solução seria exata se o talude de montante (primeira equipotencial) fosse uma parábola com foco em
F e diretriz situada a 2 ao , sendo ao obtida por
d 2 H2 d
ao (7.13)
2
Q = k b = k 2 ao (7.14)
O traçado da parábola pode ser feito como indicado na Figura 7.5. E deve-se fazer uma correção do ponto
de entrada d’água como no Método da Tangente.
D15 Filtro
4a5 (critério de drenagem);
D15 Solo
D15 Filtro
4a5 (critério de separação);
D85 Solo
D50 Filtro
25 (para que as curvas granulométricas sejam próximas de paralelas).
D50 Solo
onde D15 , D50 e D85 são os tamanhos (ou diâmetros) de partículas em curvas granulométricas a 15%, 50% e
85% da percentagem passando (ou percentagem, em peso, mais fina que).
A questão do controle da erosão interna e o dimensionamento de filtros são objeto de cursos específicos
de barragens. Para um estudo do assunto, pode-se recorrer a Sherard et al. (1963), Cedergren (1973, 1989),
Vaughan e Soares (1982), Cruz (1996) e Massad (2003).
As condições para ocorrência, a jusante da barragem, da condição movediça e da ruptura de camadas de
baixa permeabilidade submetidas a pressões de água elevadas em sua base foram discutidas no item 4.5.
Vale lembrar que a rede de fluxo é necessária para as análises de estabilidade dos taludes de uma
barragem.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 99
8
CONTROLE DA ÁGUA SUBTERRÂNEA EM ESCAVAÇÕES
Neste capítulo serão vistos os principais problemas do controle da percolação em escavações a céu aberto,
para execução de obras como subsolos de edifício, Metros, etc. Como material complementar,
recomendam-se Mansur e Kaufman (1962), Velloso (1988) e Alonso (2007).
As escavações a céu aberto podem ser escoradas ou não (quando são chamadas de taludadas), como
mostrado na Figura 8.1. Do ponto de vista do controle da água, os escoramentos se separam em 2 tipos:
permeáveis e impermeáveis.
Vamos examinar primeiro a relação entre a granulometria (ou permeabilidade) do solo e a possibilidade de
drenagem gravitacional (Fig. 8.2).
Os principais sistemas de controle da água em escavações são:
(a) Drenagem a céu aberto ou drenagem por bombeamento direto
(b) Rebaixamento do lençol d'água freático
(b.1) por ponteiras filtrantes (“wellpoints”)
(b.2) por poços profundos com injetores ou bombas submersas
(c) Alívio de pressões em aquíferos confinados, por poços profundos com bombas submersas ou injetores
No sistema de ponteiras filtrantes, caso (b.1), é utilizado vácuo. Nos casos (b.2) e (c), pode-se usar vácuo ou
não.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 101
Fig. 8.1 – Escavações escoradas e tipos de escoramento: (a) permeáveis e (b) impermeáveis
Fig. 8.3 Drenagem a céu aberto (ou drenagem por bombeamento direto)
Fig. 8.5 – Sistema de ponteiras filtrantes: (a) ponteira, (b) lançagem de ponteira e (c) conjunto de bombas
para ponteiras
Fig. 8.7 Sistema de poços: (a) poço profundo com injetor, (b) poço com bomba submersa e (c) poço a vácuo
Vamos estudar apenas métodos gravitacionais (para solos com k 10-3 cm/s).
Fig. 8.9 – Solução de Dupuit para barragens com faces verticais aplicada a trincheiras
A
r' sendo A ab
Q R
H 2 h2 ln
k r'
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 107
Como esta fórmula se baseia nas hipóteses de meio homogêneo e isotrópico, o k deve ser idealmente
determinado por ensaio de bombeamento.
O raio de influência do poço pode ser estimado com a fórmula empírica de Sichardt (1928)
k
v (unidades: metro e segundo) (8.2)
15
k
q A v 2 r h (8.3)
15
1
onde r = raio efetivo = raio da ponteira no caso de ponteiras injetadas ou
3
2 rfiltro r ponteira no caso
de ponteiras instaladas com filtro
h = altura da parte filtrante
k = permeabilidade do solo
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 108
Vala alongada
Se a vala for alongada, pode-se utilizar a fórmula de Dupuit para trincheira (p.ex., Eq. 7.5).
Fig. 8.11 – Sistema de poços múltiplos em (a) aquífero freático e (b) aquífero confinado
Supondo que os efeitos de cada poço se superpõem, e utilizando a Equação (3.4b), tem-se
n
1 R
H 2 h2 q i ln i
k
(8.4)
i 1
ri
qi = vazão do poço i
n = número de poços do sistema
Se a vazão é a mesma em todos os poços (q), tem-se uma vazão do grupo de poços:
Q=nq
n Q
2 2 Q ln R 1 R
H h ln r1 ln
k
n 1 k r (8.5)
onde r n r1 r2 rn
Um exercício encontra-se no Apêndice 2. Dissertações da COPPE-UFRJ sobre o assunto são de Lopes (1973)
e Corrêa (2006).
n
1 R
H h q i ln i (8.6)
2 k D i 1 ri
qi = vazão do poço i
n = número de poços do sistema
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 110
9
CONTROLE DA ÁGUA SUBTERRÂNEA EM TALUDES E
OBRAS DE ARRIMO
Neste capítulo serão vistos resumidamente os principais problemas do controle da percolação em taludes e
muros de arrimo. Nesses tipos de obra, diferentemente do que acontece no caso das barragens (Cap. 7) e
das escavações (Cap. 8), o fluxo não vem principalmente do reservatório ou do aquífero. Nas barragens e
escavações, as redes de fluxo são feitas desprezando-se a percolação na região parcialmente saturada, ou
seja, a rede de fluxo tem como limite superior uma superfície freática – que é considerada uma linha de
fluxo –. Nos taludes e muros de arrimo, a infiltração da água da chuva tem um papel importante. A
infiltração da água da chuva é um problema de fluxo em material parcialmente saturado, objeto do Capítulo
10. Entretanto, algumas redes de fluxo serão apresentadas no presente capítulo para entendimento da
importância da drenagem nessas obras. Vale observar que nessas redes de fluxo, a superfície freática não é
mais uma linha de fluxo.
Fig. 9.1 – Talude sob chuva: (a) subida do NA, (b) diagrama de chuva e resposta em termos de poro-pressão
num ponto e (c) evolução do fator de segurança (Freeze e Cherry, 1979)
Fig. 9.2 – Redes de fluxo em talude com alimentação (a) lateral por aquífero e (b) por chuva
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 113
Fig. 9.3 – Redes de fluxo em talude heterogêneo com alimentação por chuva
Vamos apenas discutir a importância da determinação da rede de fluxo num estudo de estabilidade de
muros de contenção. Este assunto será objeto de 2 disciplinas “Empuxo de Terras” e “Estruturas de
Contenção”.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 114
Como no caso dos taludes, o terreno arrimado deve ser mantido, na medida do possível, com o NA baixo
para garantir (a) que não há empuxo de água contra o muro e (b) que o solo permanece parcialmente
saturado (água em sucção). As Figuras 9.5a e 9.5b mostram duas situações de alimentação do fluxo:
lateralmente pelo aquífero e diretamente pela chuva (mais perigosa). Para se evitar a segunda situação,
uma impermeabilização da superfície do terreno ajudaria. Em qualquer das situações, a medida tomada na
Figura 9.5c é indicada, podendo ser um dreno colocado antes do aterro no caso de muro arrimando
aterro ou dreno sub-horizontal perfurado no caso de muro arrimando solo cortado . Além disto, toda a
face do muro deve ter drenos curtos (barbacãs).
Também sobre esse assunto, deve-se consultar o Manual Técnico de Encostas da Geo-Rio.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 115
10
INTRODUÇÃO À PERCOLAÇÃO EM SOLOS PARCIALMENTE
SATURADOS
Este capítulo contém uma introdução ao estudo da percolação em solos parcialmente saturados. Para um
estudo do assunto, recomendam-se, por exemplo, Freeze e Cherry (1979) e Fredlund e Rahardjo (1993).
10.1 INTRODUÇÃO
A análise de fluxo em meios porosos não saturados baseia-se nas mesmas leis do fluxo em meios saturados,
ou seja, na lei de conservação de massa e na Lei de Darcy. A principal diferença entre o fluxo em meios
saturados e em não saturados deve-se ao fato de que em meios saturados a condutividade hidráulica é
considerada constante, enquanto que nos meios não saturados a mesma é variável, dependendo do teor de
umidade ou da poro-pressão. Assim, a equação de fluxo através de meios não saturados torna-se mais
complexa do que a equação válida para meios saturados.
Em relação aos capítulos anteriores, serão feitas algumas alterações de notação, como abaixo.
(pa - pw)
A pressão na água na região não saturada (em sucção) não pode mais ser medida pelos piezômetros
comuns, como tipo Casagrande (Capítulo 2), mas com tensiômetros (Fig. 10.1). Tensiômetros são
constituídos, basicamente, por uma cápsula de material poroso (de alta pressão de entrada de ar), ligada a
um tubo com água deaerada, que possui um medidor de pressão no topo. São, em geral, inseridos em pré-
furos, e a cápsula deixada em contato com o solo na profundidade desejada. Após equilíbrio, a água no
tensiômetro terá a mesma pressão negativa que o solo.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 117
No tratamento apresentado a seguir são feitas as seguintes hipóteses: (a) a água é contínua e (b) não se
considera o vapor e o ar (pa = cte).
A Lei de Darcy estabelece que a velocidade aparente em um solo saturado é proporcional ao gradiente
hidráulico (ver Cap. 2):
H H H
v x ksat v y ksat v z ksat (10.1)
x y z
onde ksat é o coeficiente de permeabilidade do solo saturado (dependente das propriedades do fluido e do
meio poroso).
A Lei de Darcy, válida para solos saturados, é também aceita para solos não saturados. Sua validade foi
verificada em ensaios nos quais o gradiente hidráulico foi variado, porém mantendo constante a umidade
(ou grau de saturação) do solo (Fredlund e Rahardjo, 1993).
Conforme visto no Capítulo 2, a permeabilidade depende principalmente da granulometria do solo, da sua
estrutura, do índice de vazios e do grau de saturação. Se a estrutura do solo não mudar durante o processo
de fluxo, o índice de vazios (e) e o grau de saturação (S) serão os principais fatores que irão afetar o
coeficiente de permeabilidade, ou seja,
k f e , S ou k f e ,
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 118
onde é o teor de umidade volumétrica, razão entre volume de água e volume total9.
Para fluxo em solos saturados o coeficiente de permeabilidade pode ser considerado constante se se
admitir que o índice de vazios é constante, uma vez que o grau de saturação o é. Já para o fluxo em solos
não saturados o coeficiente de permeabilidade não pode ser admitido constante, pois sofre influência do
grau de saturação, além da influência da variação do índice de vazios. O efeito da variação do grau de
saturação é altamente significativo, enquanto que a contribuição da variação do índice de vazios pode ser
considerada secundária (e eventualmente desprezada). Assim, o coeficiente de permeabilidade pode ser
descrito como uma função singular do grau de saturação, ou do teor de umidade volumétrica, ou da sucção
mátrica (uma vez que a umidade e o grau de saturação se relacionam com a sucção mátrica), ou ainda, da
carga de pressão (hp).
Curva Característica
A relação entre a umidade volumétrica e a pressão na água (sucção mátrica na região parcialmente
saturada) é representada pela curva versus (pa - pw), ou versus hp (carga de pressão, dimensão L),
chamada de curva característica (Fig. 10.2a).
Fig. 10.2 Curvas versus (pa - pw) e k versus (pa - pw) típicas (Fredlund e Rahardjo, 1993)
Observa-se que a franja capilar (tratada no Capítuo1) não obedece à curva característica, pois apresenta
100% de saturação e está em sucção. Alguns autores (p. ex. Freeze e Cherry, 1979) distinguem 3 regiões do
solo do ponto de vista da distribuição da água: (1) não saturada (em sucção), (2) saturada em sucção (franja
capilar) e (3) saturada com pressão positiva.
Da curva característica pode ser tirado um parâmetro C, que representa a variação de umidade volumétrica
com a pressão, e que pode ser expresso como uma função da carga de pressão como:
C(hp ) = (10.2)
hp
k
kr sendo 0 kr 1 (10.3)
ksat
Com os dados da curva característica, pode-se traçar a curva k (ou kr) versus (pa - pw), chamada de curva de
condutividade hidráulica (Fig. 10.2b).
Observa-se que as curvas característica e de condutividade hidráulica exibem histerese, ou seja, o
comportamento é dependente da trajetória seguida umedecimento ou secagem (Fig. 10.2).
Alonso et al. (1987) ressaltam que, se ao invés da sucção, o coeficiente de permeabilidade for relacionado
com o grau de saturação, a histerese se reduz bastante e quase desaparece. Fredlund e Rahardjo (1993)
fazem o mesmo comentário só que em relação ao teor de umidade volumétrica (k versus ), como
mostrado na Figura 10.3.
Resumo
Deve-se guardar que:
- na região saturada: hp > 0 ; k = ksat ; = n ; C=0
- na região não saturada: hp < 0 ; k = k(hp) ; = (hp) ; C = C(hp)
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 120
p a pw b
k ksat para p a pw p a pw b (10.4b)
p a pw
(pa - pw)b = valor de entrada de ar (valor da sucção mátrica que deve ser excedido antes do ar
começar a penetrar nos vazios do solo)
ksat
k (10.5)
n
p pw
1 a a
w g
ksat
k (10.6)
n,
p a pw
1
p a pw b
Outras expressões para o coeficiente de permeabilidade podem ser encontradas em Alonso et al. (1987).
dVw d
Vw
e (10.7)
dp w dp w
onde u ou pw é a pressão na água. vale aproximadamente 4,4 x 10-10 N/m2 (se a água for considerada
incompressível, =0).
(b) Compressibilidade do meio poroso, expressa, para deformação vertical apenas10, como:
dV de
dn
V ou ou 1 e (10.8)
d 'v d 'v d 'v
onde V é o volume total e 'v a tensão vertical efetiva. Em Geotecnia, ao invés de , se usa a notação mv
(item 4.2).
10
Em estudos de aquíferos, é comum considerar-se apenas a compressibilidade vertical. Para um estudo da
deformabilidade tridimensional de um meio poroso, deve-se utilizar a Teoria de Biot (1941), que considera, ainda, a
possibilidade de o estado de tensões totais variar ao longo do processo de adensamento.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 122
10.3.2 Equação de Continuidade
Neste item é deduzida a equação da percolação tri-dimensional seguindo Freeze e Cherry (1979). É
interessante comparar essa dedução com aquela do item 4.1 (que segue Lambe e Whitman, 1969).
Fig. 10.4 – Elemento de meio poroso sujeito a fluxo (Freeze e Cherry, 1979)
Vamos considerar o elemento de meio poroso da Figura 10.4. A lei de conservação de massa estabelece que
a diferença entre a taxa de entrada de massa de água e a taxa de saída é igual à variação na massa de água
no elemento no tempo:
M s - Me Mw
= (10.9)
t t
Sejam
vy
M s = vx vx d x d y d z vy d y d x d z vz vz d z d x d y
x y z
onde vx é a taxa de fluxo de massa de água através de uma unidade de área (“mass rate of flow across a
unit cross-sectional área”) na direção x (com equivalentes nas direções y e z).
Ainda, a massa da água no elemento é
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 123
Mw M V V
w w v Sn
V Vw Vv V ou Mw S n d x dy dz (10.10)
Mw S n S n
= dx dy dz S n n S dx dy dz (10.11)
t t t t t
Como a compressibilidade da água é muito pequena, pode-se supor que a taxa de fluxo de massa de água
através de uma unidade de área é igual à velocidade (aparente) de fluxo vezes a massa específica do fluido.
Assim, a equação acima fica
v x v y v z S n
+ + = S n
n S (10.13a)
x y y t t t
v x v y v z
+ + = 0 (10.13b)
x y y
2H 2H 2H
k x ( hp ) k y ( hp ) + k z ( hp ) 0
x 2 y 2 z 2
Um exemplo da diferença entre análises com e sem a consideração do fluxo na região não saturada está na
Figura 10.5.
Fig. 10.5 – Análises com e sem a consideração de fluxo na região não saturada (Freeze e Cherry, 1979)
v x v y v z S
+ + = n
(10.13c)
x y y t
H H H S
k x + k y + kz = n (10.14)
x x y y z z t
H H H
kx + ky + kz = (10.15)
x x y y z z t
Essa equação é conhecida como Equação de Richards (homenagem a Richards, 1931). Vale lembrar que k e
são funções da pressão na água pw (ou da carga de pressão hp ).
Outra forma desta equação tem como incógnita a carga de pressão na água. Partindo da expressão da
carga hidráulica (2.3b), e derivando em relação a z, tem-se
H hp
H hp z 1 (10.16)
z z
Introduzindo o parâmetro C, que representa a variação de umidade volumétrica com a pressão (Eq. 10.2)
hp
C(hp ) (10.17)
t t
Para essa equação, as permeabilidades devem ser função da carga de pressão: kx(hp), ky(hp), kz(hp).
Equação de Phillip
Pode-se modificar ainda a Equação (10.15) para se ter como incógnita o teor de umidade volumétrica.
Partindo da expressão da carga hidráulica (Eq. 2.3b), tem-se
p w p w
H z e k H k k z (10.19)
g g
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 126
Da curva característica versus (pa - pw), e lembrando as hipóteses pa = cte. e n = cte., tem-se então que
pw . Assim,
pw
pw (10.20)
1 pw
div k k z (10.21a)
g t
1 pw
div k div k z (10.21b)
g t
v x v y v z n
+ + =
(10.13d)
x y y t
2H 2H 2H n
kx + ky + kz = (10.22)
x 2 y 2 z 2 t
2H 2 H 2H
k + 1 e (4.7c)
x 2 y 2 z 2 1 e t
v x v y v z n
+ + = n
(10.13e)
x y y t t
H H H n
kx + k y + kz = n (10.23)
x x y y z z t t
Com a Equação (10.8) – válida para deformação vertical apenas – se pode dizer que
n n 'v 'v
t 'v t t
Com a hipótese de que as tensões totais se mantêm constantes11, a variação de tensão vertical efetiva com
o tempo é igual à variação na poro-pressão com o tempo (a rigor, como ’ = – pw , ∂’ = – ∂pw), e
considerando a Equação (2.3b), tem-se
' v p w w ( H z ) g ( H z ) (10.24)
11
Ver nota anterior sobre a possibilidade de variação das tensões totais no adensamento.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 128
Como z não varia no tempo, vem
n H
2 g
t t
H
n n 2 g
t t
2 H 2 H 2H
k
x 2
y 2
2
z
= 2 g n 2 g H
t
(10.25a)
ou
2H 2H 2H
k = g n H (10.25b)
x 2
y 2
z
2 t
Ss g ( n ) (10.26)
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 129
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F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 132
Apêndice 1 – Solução analítica de um problema de fluxo bidimensional: barragem impermeável sobre
meio poroso semi-infinito (Harr, 1962)
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 133
Vamos considerar a escavação abaixo, com 30 x 80 m, sendo o subsolo constituído por areia fina com D10 =
0,1 mm. O NA precisará ser rebaixado em 8,0 m.
A 2400
A 30 80 2400 m2 rw 28 m
Q 0 ,035 m3 / s 125 m3 / h
Considerando que a escavação é alongada, deve-se considerar um aumento de 20%, ou 150 m3/h.
k 10 4
q Al v d h 0,4 x 8,0 6 ,2 10 3 24 m3 / h
15 15
Q' 150
n 7 poços
q 24
Vamos adotar 8 poços, que permitem uma distribuição em planta mais simétrica e um espaçamento
máximo da ordem de 27 metros.
Como nesse caso os poços têm o mesmo raio de influencia, pode-se usar a Equação (8.5) com a distância
média do ponto aos poços (“raio médio”) para cada ponto calculada com r n r1 r2 rn . Vamos adotar,
inicialmente, para os 8 poços, uma vazão de 18 m3/h (cada). A tabela a seguir apresenta, para cada um dos
13 pontos, a distancia aos poços, a distância ou “raio médio” e a elevação da água no ponto, h. Conforme se
vê, os 8 poços de 18 m3/h atendem ao projeto, pois não são encontradas elevações da água acima de 11,0 m.
Para a escolha das bombas deve- se prever (com folga) uma altura de recalque (“altura manométrica”) de
20 m e uma vazão de 20 m3/h. De acordo com um fabricante tradicional, seriam bombas de 6 polegadas e 5
HP. O revestimento (tipo tubo Nold) pode ser de 8 polegadas ou 20 cm.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água Subterrânea 136
Trabalho no. 3:
Para a rede de fluxo abaixo, pedem-se:
(a) Vazão total;
(b) Gradiente hidráulico e velocidade em B;
(c) Poro-pressões em A;
(d) Vazão parcial que sai do filtro abaixo do NA de jusante.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água em Obras de Engenharia 139
Trabalho no. 4:
Desenhe a rede de fluxo e forneça: vazão global e fator de segurança em relação à condição movediça.
F. Lopes Percolação nos Solos e Controle da Água em Obras de Engenharia 140
Trabalho no. 5:
Apresente a rede de fluxo para a barragem abaixo e calcule a vazão nos filtros vertical e horizontal.