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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

MARILENE NORONHA DA SILVA

A PRÁTICA DO ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS AD DA REG IV

FORTALEZA

2013
MARILENE NORONHA DA SILVA

A PRÁTICA DO ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS AD DA REG IV

Monografia submetida à aprovação da


Coordenação do Curso de Serviço
Social do Centro Superior do Ceará,
como requisito parcial para obtenção
do grau de Graduação. Sob a
orientação da professora Virzângela
Paula Sandy Mendes.

FORTALEZA

2013
S586p Silva, Marilene Noronha da

A prática do Assistente Social no CAPS AD da reg. IV /


Marilene Noronha da Silva. Fortaleza – 2013.
81f.
Orientador: Profª. Ms. Virzângela Paula Sandy Mendes.

Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade


Cearense, Curso de Serviço Social, 2013.

1. Saúde mental. 2. Políticas públicas de saúde. 3. Prática


profissional. I. Mendes, Virzângela Paula Sandy. II. Título
CDU 616(813.1)

Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274


MARILENE NORONHA DA SILVA

A PRÁTICA DO ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS AD DA REG IV

Monografia como pré-requisito para


obtenção do título Bacharelado em
Serviço Social, outorgado pela
Faculdade Cearense – FaC. tendo sido
aprovada pela banca examinadora
composta pelos professores.
Data da aprovação: 26/07/2013.

BANCA EXAMINADORA

Profª. Ms. Virzângela Paula Sandy Mendes

Faculdade Cearense

Profª . Especialista Verbena Paula Sandy

Faculdade Cearense

Profª. Ms. Mayra Rachel da Silva

Faculdade Cearense
Agradeço imensamente a Deus por tudo na minha vida
Sempre está ao meu lado me apoiando e amparando
Sem sua presença na minha vida eu não seria nada.
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar meu agradecimento infinito a Deus e a nossa Senhora


de Fátima que me acompanharam e me acompanham em todos os momentos
da minha vida, me fortalecendo e nunca me deixando desistir.

Agradeço ao meu querido irmão carinhosamente chamado por mim de


“neném”, por todo apoio que me destes na minha vida, por toda ajuda
financeira que precisei no inicio da faculdade e por todo carinho.

Ao Luis Carlos, meu namorado, que foi muito além, foi quem sempre
esteve ao meu lado, me dando apoio e suporte emocional para que eu não
desistisse, dizendo pra mim cada vez que eu cansava que eu ia conseguir.

Aos amigos (impossível nomear todos), que compartilharam momentos


bons e ruins durante esses anos. Em especial agradeço a duas pessoas a
querida Adriana Brasil e ao Nilson, por me ajudarem no inicio da faculdade.

À turma de Serviço Social 2009.2, foi maravilhoso conviver esse tempo


com todos, em especial agradeço por todo apoio e atenção recebido pela
amiga Ana Beatriz que esteve ao meu lado nesse percurso, por me acolher,
pela amizade e preocupação a Emanuelle, Lílian, Mazé, Denise, Eliene Brito,
Renata, Catiana, Fabiana. Estou certa de que levarei comigo boas lembranças
de nossa convivência.

Agradeço a Socorro Ribeiro, minha querida chefe, muito obrigada por


toda compreensão que sempre teve comigo, por entender minhas dificuldades
e meu problemas pessoais.

À Coordenadora do CAPS Ana Márcia que permitiu realizar minha


pesquisa, me recebendo com muita simplicidade e educação.

As assistentes sociais do CAPS pela solidariedade, acolhimento,


sorrisos e por tão prontamente se disporem a partilhar um pouco de suas ricas
experiências.
A todos os professores do Curso de Serviço Social da Faculdade
Cearense- FaC que foram importantíssimos em minha trajetória acadêmica.

À minha orientadora Virzângela Paula Sandy Mendes pela contribuição à


construção deste trabalho, também agradeço a participação de toda banca, as
professoras Verbena Sandy Mendes e Mayra Rachel da Silva, todos os
professores da FAC.

Por fim, agradeço àqueles que de alguma forma se fizeram presentes e


contribuíram para tornar esse momento possível, agradeço a todos que
acreditaram em mim e não me deixaram desistir nos momentos em que eu
pensava que não ia conseguir.

Muito Obrigada!
“Meu refúgio, minha Fortaleza, meu Deus eu confio em ti.”

Salmo 91:2
RESUMO

O presente estudo busca analisar a prática do assistente social no CAPS AD


SER IV, localizado no bairro Itapery, na Rua Betel, s/n, Fortaleza-ce. Para a
realização dessa pesquisa, foram utilizadas as seguintes pesquisas: Pesquisa
bibliográfica, documental e de campo. A fim de apreender a realidade a partir
dos discursos dos sujeitos, fez-se uso essencialmente da pesquisa qualitativa
além de recorrer a dados estatísticos. Entretanto optou-se também, por alguns
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e outras fontes,
essencialmente numéricas e/ou estatísticas, a fim de enriquecer ainda mais
este estudo. Como técnica para a coleta de dados, utilizou-se a aplicação de
questionários e entrevistas semi-estruturada. As categorias centrais que
embasaram este trabalho foram: Saúde Mental, Políticas Publicas de Saúde e
Prática Profissional. Os objetivos que me levaram a realizar esse estudo foi à
inquietação de analisar como é realizado o atendimento do serviço social aos
pacientes com transtornos mentais, apreender sob a ótica dos Assistentes
Sociais do CAPS AD, os desafios que se apresentam à efetivação da prática
do profissional de Serviço Social e Investigar a principal demanda trabalhada
pelo Assistente Social e quais os instrumentais usados por esses profissionais.
Através desse estudo e das analises coletadas em campo, foi possível
perceber que a Reforma Psiquiátrica Brasileira trouxe uma nova visão de
tratamento e acompanhamento para as pessoas com transtornos mentais,
possibilitando a criação dos CAPS. Assim como a inserção de ações de saúde
mental nos vários níveis de complexidade do sistema de saúde, assumindo
nessa perspectiva um importante papel no cenário das novas práticas de saúde
mental, configurando-se como dispositivos estratégicos para a transformação
do modelo hospitalocêntrico.

Palavras-Chave: Saúde Mental. Políticas Publicas de Saúde. Prática


Profissional
ABSTRACT

This study seeks to analyze the practice of social workers in CAPS AD BE IV,
located in the Itapery in Bethel Street, s / n, Fortaleza-ce. To carry out this
research, we used the following research: Literature, documentary and field. In
order to grasp the reality from the speeches of the subjects, it was used mainly
qualitative research in addition to resort to statistical data. However it was
decided also by data from the Brazilian Institute of Geography and Statistics
(IBGE) and other sources, mainly numerical and / or statistics in order to further
enrich this study. As a technique for data collection, we used the questionnaires
and semi-structured interviews. The central categories that supported this work
were: Mental Health, Public Health Policy and Professional Practice. The
objectives that led me to conduct this study was to analyze how the unrest is
accomplished social service care to patients with mental disorders, grasp the
perspective of Social Workers CAPS AD, the challenges facing the realization
of professional practice Social Service and investigate the main demand crafted
by Social Worker and what instruments used by these professionals. Through
this study and analyzes collected in the field, it was revealed that the Brazilian
Psychiatric Reform brought a new vision of treatment and monitoring for people
with mental disorders, enabling the creation of CAPS. Just as the inclusion of
mental health services at various levels of complexity of the health system
assuming this perspective an important role in the new mental health practices
configured as strategic devices to transform the hospital model.

Keywords: Mental Health. Public Policy Health Professional Practice


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

TABELA 1- REFERENTE AO NÚMERO DE CAPS POR TIPO,


REGIÃO E UF ....................................................................................... 38
TABELA 2 – REFERENTE AO NÚMERO DE CAPS POR TIPO E
ANO ......................................................................................................40
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CAPS Centro de Atenção Psicossocial

CAPS AD Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas

CAPS I Centro de Atenção Psicossocial Infantil

COOPCAPS Cooperativa do Centro de Atenção Psicossocial Ltda.

HSMM Hospital de Saúde Mental de Messejana

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa.

ICNSM I Conferência Nacional de Saúde Mental.

MS Ministério da Saúde.

MTSM Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental

OBID Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas

OMS Organização Mundial da Saúde

PTM Portador de transtorno Mental

SER IV Secretaria Executiva Regional IV

SUS Sistema Único de Saúde

TSM Trabalhadores em Saúde mental


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................... 15

CAPITULO I - A REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL E AS


PRÁTICAS DE SAÚDE MENTAL ......................................................... 21
1.1 A história da loucura e sua forma de tratamento.............................................. 21

1.2 O processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil e as políticas de saúde


mental .................................................................................................................... 25

1.3 O processo de Reforma Psiquiátrica no Ceará ............................................... 32

CAPITULO II - A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PÚBLICA NA


SAÚDE ATRAVÉS DOS CAPS ............................................................ 36
2.1 O Sistema Único de saúde (SUS) .................................................................... 36

2.2 O novo modelo de Assistência à Saúde Mental no Brasil ................................ 39

2.3 A implantação do CAPS no Ceará em Fortaleza ............................................. 44

2.4 CAPS AD como proposta de atenção ao usuário de drogas ........................... 50

2.5 A inserção do Serviço Social no CAPS ............................................................ 53

CAPITULO III - UMA ANÁLISE SOBRE A PRÁTICA DO


ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS SER IV ............................................ 58
3.1 Conhecendo o Cenário da Pesquisa ................................................................ 58

3.2 Perfil dos sujeitos da pesquisa ......................................................................... 60

3.3 Estudo de Campo: Análise realizada a partir de seus discursos ...................... 61

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................73


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................... 76
ANEXOS ............................................................................................... 78
APÊNDICES ......................................................................................... 81
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO .......................................................... 82
APÊNDICE B - ENTREVISTA ............................................................... 83
APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO (QUESTIONÁRIO) ...................................................... 84
APÊNDICE D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO .................................................................................... 85
15

INTRODUÇÃO

A pesquisa a seguir surgiu da necessidade pessoal de descobrir e


compreender como é realizado o trabalho do serviço social na área de saúde
mental. Durante anos acompanhei mesmo que indiretamente um pouco do
trabalho que se faz no CAPS com os pacientes em sofrimento mental, pois fui
acompanhante de uma usuária e desse contato surgiu essa necessidade de
saber mais.
Diante dessa aproximação sempre senti a necessidade de investigar
como se dava a prática realizada pelos assistentes sociais no CAPS.
Inicialmente a ideia da pesquisa seria no CAPS da SER V, pensei em escolher
esse CAPS por ser próximo da minha residência e pelo fato de acompanhar
uma pessoa da minha família em tratamento lá, então por conhecer o ambiente
achei que seria mais fácil,mas não foi, no entanto por ordens burocráticas que
a pesquisa exigia ficou concordado que seria no CAPS AD da SER IV,
localizado na Rua Betel s/n no Bairro Itapery, onde encontrei mais facilidades
para realização da minha pesquisa.
Havia a inquietação em analisar como é realizado o atendimento do
serviço social aos pacientes com transtornos mentais, investigando os
principais desafios enfrentados por esses profissionais na execução de suas
atividades descobrindo assim a principal demanda trabalhada pelo assistente
social e quais os instrumentos usados por esses profissionais.
Todos esses questionamentos me fizeram prosseguir esse estudo,
tentando satisfazer alguns de nossos anseios pessoais, mais que busca
através dessa pesquisa obter novos conhecimentos sobre o assunto, com a
finalidade de discutir seus resultados tanto na esfera acadêmica quanto no
mercado de trabalho, tendo como finalidade contribuir para um esclarecimento
melhor sobre a questão abordada.
Dessa forma o objetivo geral da pesquisa é analisar a prática do
Assistente Social no CAPS AD DA REG IV. Tem como objetivos específicos:
Analisar como é realizado o atendimento do serviço social aos pacientes com
transtornos mentais, Apreender sob a ótica dos Assistentes Sociais do CAPS
AD, os desafios que se apresentam à efetivação da prática do profissional de
16

Serviço Social, Investigar a principal demanda trabalhada pelo assistente social


e quais os instrumentos usados por esses profissionais.

A metodologia usada para a realização desse estudo abrange


aspectos teóricos e práticos. Sendo assim, compreende-se por metodologia o
caminho do pensamento e a prática da abordagem da realidade, ao mesmo
tempo em que inclui a teoria da abordagem, ou seja, o método inclui também
os instrumentos que irão operacionalizar o conhecimento (Minayo, 2010, p. 14).
Assim considerando-se a importância da metodologia para a realização desse
estudo, apresentamos a seguir os caminhos metodológicos percorridos durante
todo trajeto do mesmo.
A partir desse entendimento foram identificadas as categorias
teóricas que embasaram este estudo: Saúde Mental, Políticas Publicas de
Saúde e Pratica Profissional. Sendo utilizados os seguintes autores de grande
relevância, tais como: Bisneto (2011), Focault (1978), Costa (1998), Amarante
(2007) entre outros.
Assim, em busca de uma maior visibilidade e apreensão da
realidade proposta como estudo, seguimos como trajetória metodológica a
abordagem qualitativa a partir da qual podemos trabalhar como um nível de
realidade diferente que não pode ser quantificado. Conforme Minayo:

Esse tipo de método que tem fundamento teórico, alem de permitir


desvelar processos sociais,propicia a construção dos referentes a
grupos particulares,propicia a construção de novas
abordagens,revisão e criação de novos conceitos e categorias
durante a investigação.caracteriza-se pela empiria e pela
sistematização progressiva de conhecimento ou do processo até a
compreensão da lógica interna do grupo ou do processo de
estudo.(MINAYO,2010,p.57)

Para o desenvolvimento desse estudo foram utilizadas as pesquisas:


pesquisa bibliográfica, documental e de campo. É bibliográfica, pois foi
“desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de
livros e artigos científicos [...]” (Gil, 2008, p. 50). Tem caráter documental, pois
se fez uso de materiais que não receberam um tratamento minucioso, ou que
ainda podem ser modificados de acordo com os objetivos da pesquisa, como
17

bem diz Gil (2005). E é de campo, pois, como explicita Oliveira (2002) consiste
na observação dos fatos tal como ocorrem na coleta de dados e no registro de
variáveis para análises futuras.

A pesquisa bibliografia é feita a partir de fontes históricas, que já


foram publicadas, como artigos científicos, livros e revistas. Ao iniciar qualquer
trabalho cientifico usa-se a pesquisa bibliográfica, pois a mesma permite ao
pesquisador a chance de conhecer o que já foi estudado sobre o assunto a ser
pesquisado. (FONSECA, 2002).
A pesquisa realizada é de natureza qualitativa, sob a perspectiva de
se compreender a realidade a partir das falas dos sujeitos participantes,
identificando seus costumes, experiências e opiniões. É a pesquisa na qual se
aplica o estudo da historia e das suas relações criadas entre os seres
humanos, em relação sua vivencia, o que constroem e seus sentimentos por
sim mesmo (MINAYO, 2010). Pois sabemos que esse método é o mais
proeminente para a utilização dos levantamentos das informações da minha
pesquisa, como opiniões de especialistas, entrevista, observação, investigação
e análise dos dados. Entretanto optou-se também, por alguns dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e outras fontes,
essencialmente numéricas e/ou estatísticas, a fim de enriquecer ainda mais
esta pesquisa.

Esse tipo de método que tem fundamento teórico ale de permitir


desvelar processos sociais, propicia a construção dos referentes a
grupos particulares, propicia à construção de novas abordagens,
revisão e criação de novos conceitos e categorias durante a
investigação. caracterizam-se pela empiria e pela sistematização
progressiva de conhecimento ou do processo até a compreensão da
lógica interna do grupo ou do processo de estudo.
(MINAYO,2010,p.57)

Nesse sentido, através da pesquisa qualitativa pudemos analisar a


realidade que apresentada no cotidiano profissional das assistentes sociais do
CAPS SER IV, além de nos proporcionar um olhar mais abrangente sobre o
tema.
As coletas, bibliográfica e documental, foram realizadas durante os
meses de julho de 2012 a maio de 2013, enquanto que a pesquisa de campo
18

foi realizada nos mês de julho de 2013, durante uma semana, das 09 às 11
horas em uma sala na própria instituição onde foi realizada a pesquisa de
campo.
Como técnica para a coleta de dados, utilizou-se a aplicação de
questionários “para obtenção de respostas mais rápidas e precisa” (Lakatos e
Marconi, 2003) e entrevistas semi-estruturadas, possibilitando ao entrevistado
uma maior liberdade em seu discurso.
Foi resguardada a identidade dos sujeitos entrevistados, foi apresentado
a todos os sujeitos o termo de consentimento livre e esclarecido, deixando bem
claro o objetivo e a liberdade de participação de cada entrevistado. Portanto
utilizaremos nomes fictícios: (Estrela, Sol e Lua), a fim de tratar as
informações de maneira ética e o mais fidedigna possível.

No que diz respeito às categorias deste estudo – Saúde Mental,


Políticas Publicas de Saúde e Prática Profissional, trouxemos alguns autores
que colaboraram com nosso estudo.

A respeito da Saúde mental:

A OMS Organização Mundial de Saúde, afirma que não existe


definição "oficial" de saúde mental. Diferenças culturais, julgamentos
subjetivos, e teorias relacionadas concorrentes afetam o modo como a "saúde
mental" é definida. Saúde mental é um termo usado para descrever o nível de
qualidade de vida cognitiva ou emocional. A saúde Mental pode incluir a
capacidade de um indivíduo de apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as
atividades e os esforços1.
Saúde Mental é estar de bem consigo e com os outros. Aceitar as
exigências da vida. Saber lidar com as boas emoções e também com as
desagradáveis: alegria/tristeza; coragem/medo; amor/ódio; serenidade/raiva;

1
SMS- Secretaria as Saúde- Acesso em 21/07/2013.
19

ciúmes; culpa; frustrações. Reconhecer seus limites e buscar ajuda quando


necessário.

Nesse sentido Bisneto (2011) complementa:

O assistente social em Saúde mental trabalha de forma pluralista


quando usa as explicações do marxismo para entender a exclusão do
louco, para sustentar a demanda por direitos sociais e cidadania aos
portadores de sofrimento mental e, ao mesmo tempo,usa as
explicações da medicina e da Psicologia para conceber a loucura
como doença mental. (BISNETO, 2011, p.52).

Sobre as Políticas Públicas:

2
Para atingir resultados em diversas áreas e promover o bem-estar
da sociedade, os governos se utilizam das Políticas Públicas que podem ser
definidas da seguinte forma: “(...) Políticas Públicas são um conjunto de ações
e decisões do governo, voltadas para a solução (ou não) de problemas da
sociedade (...).” Dito de outra maneira, as Políticas Públicas são a totalidade de
ações, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais ou municipais)
traçam para alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse público.

As Políticas Públicas também podem ser compreendidas como um


sistema (conjunto de elementos que se interligam, com vistas ao cumprimento
de um fim: o bem-comum da população a quem se destinam), ou mesmo como
um processo, pois tem ritos e passos, encadeados, objetivando uma finalidade.

Sobre a Prática Profissional:

Iamamoto (2000) vêm contribuir afirmando que a prática profissional


que orienta nossa investigação é aquela vista como:

2
Políticas públicas de Saúde no Brasil- Acesso em: 21/07/2013
20

A atividade do assistente social na relação como o usuário, os


empregadores e os demais profissionais. Mas, como esta atividade é
socialmente determinada, consideram-se também as condições
sociais nas quais se realiza, distintas da prática e a ela externas,
ainda que nela interfiram. (IAMAMOTO, 2000, p.94).

Devido a estas condições, a prática do Assistente Social é cheia de


contradições e conflitos. Os desafios enfrentados pelos profissionais ao
exercerem sua profissão muitas vezes o tornam um profissional que só cumpre
aquele trabalho posto a ele, o mesmo não se sente motivado a fazer novas
experiências em seu campo de trabalho, sentindo-se desestimulado. Assim
analisamos os profissionais entendendo a multiplicidade de fatores que
influenciam e determinam o desenvolvimento de sua prática profissional dentro
da instituição que atende aos portadores de transtornos mentais no CAPS.
Para Bisneto (2011), quando se trata da prática do assistente social na Saúde
Mental a questão exige o desafio da ampliação do tratamento teórico,é
necessário estudar, criticar e teorizar sobre as inter-relações do social com o
subjetivo.
As questões relacionadas a esse estudo estão sistematizadas da
seguinte forma:
No primeiro capítulo, trata-se sobre a discussão da historia da
loucura e sua formas de tratamento, e situamos o processo de Reforma
psiquiátrica no Brasil e as políticas de saúde mental e o processo de reforma
psiquiátrica no ceará.
No segundo capítulo, analisou-se o contexto do surgimento dessa
nova proposta de atendimento aos portadores de transtornos mentais, bem
como se realiza esse acompanhamento, sua implantação tanto no Brasil e no
Ceará.
No terceiro capítulo, analisamos através das entrevistas realizadas o
perfil desses profissionais, sua inserção na profissão, a importância do seu
trabalho e os desafios enfrentados por essa categoria para a realização da sua
pratica profissional.
A seguir veremos de forma mais detalhada todos esses capítulos
esperamos com essa pesquisa lançar reflexões que possibilitem uma
compreensão para um debate futuro, seja ele por estudantes ou profissionais
da área.
21

CAPITULO I - A REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL E AS


PRÁTICAS DE SAÚDE MENTAL.

Nesse capitulo apresentaremos uma breve contextualização da


Reforma Psiquiátrica, bem como as políticas de saúde e a Reforma no Ceará,
para sistematizar o debate, iniciaremos com uma analise sobre a loucura.

1.1 A historia da loucura e suas forma de tratamento.

Na Antiguidade temos explicações mitológicas e filosóficas da


loucura. A Idade Média nega todo o conhecimento filosófico e explica a loucura
como o mal desenvolvido no homem pelos demônios.
O fenômeno singular conhecido como loucura tem longo registro na
historia da humanidade e extensa aparição nas diversas sociedades, inclusive
em sociedades identificadas como primitivas. Neste foram-lhe atribuídas varias
caracterizações, tais como: castigo dos deuses como experiência trágica
considerada como experiência diferente de vida, ora apreciada, ora combatida,
dependendo da sociedade em que se expressava, ou de como manifestava-se
em diferentes contextos.(BISNETO,2010).
Focault (1997), em seu livro “A história da loucura”, vem discutir ainda
conceito de “loucura” desde o Renascimento até a modernidade mostrando que
a maneira do homem tratá-la foi mudada através dos séculos. Com o advento
da Psiquiatria, houve algumas transformações no tratamento fornecido à
loucura. Nesse sentido a loucura era algo que não podia ser divulgado, embora
tenha sempre existido, contudo na antiguidade era percebida como algo
obscuro e sem cura e era tratada como algo sobrenatural, nesse sentido as
pessoas eram vistas como diferentes. Ainda conforme Focault destaque que:

Existe em nossa sociedade outro principio de exclusão: não mais a


interdição, mas uma separação e uma interjeição. Penso na oposição
razão e loucura, desde a alta idade média, o louco é aquele cujo
discurso não pode circular como o dos outros: pode ocorrer que sua
palavra seja considerada nula, não seja acolhida, não tendo verdade
nem importância [...] Sabe-se bem que não se tem o direito de dizer
tudo, que não se pode falar de tudo, enfim não pode falar de qualquer
coisa [...]. (FOCAULT, 1971,p.9-10).
22

Na modernidade, a visão de mundo racional do iluminismo e o


Renascimento vão influenciar no surgimento das ciências e desenvolvimento
da medicina. A filosofia clássica é evocada para subsidiar os estudos
organicistas da natureza do homem, da mente e seus desvios.

Antes do final do século XVII, a medicina não se interessava em


saber o que acontecia com os loucos. Philippe Pinel buscou uma nova forma
de tratamento para o doente mental, seu objetivo era oferecer aos pacientes
um tratamento mais humanizado, afastando-os do tratamento desumano que
recebiam nos hospitais, onde eram mantidos sob portas fechadas. Ainda
conforme os estudos de Viana (2007), ele ressalta que:

O regime hospitalocêntrico se caracteriza por causar isolamento,


reclusão e ruptura dos laços familiares, além de ser um modelo
institucional normativo. Pode-se dizer que é um lugar que
praticamente não possibilita nenhuma troca social, onde se manifesta
a segregação social e as mais tirânicas formas de exercício de poder
sobre o ser humano. Durante muito tempo, foi esse o modelo vigente
no trato das doenças mentais. Nos dias de hoje, embora considerado
falido ainda permaneça, mas de forma consciente e menos exclusivo
(VIANA, 2007, p.21).

A loucura é alimentada pelo próprio homem através de suas próprias


ilusões, sendo ela pelo apego que ele demonstra por sim mesmo, ou seja,
aceitando seus próprios erros, tendo assim a mentira como a verdade, a
injustiça como justiça, a louca faz surgi no homem em pensamento imaginário.
Conforme os estudos de Focault:

Para Foucault, duas questões são fundamentais para entender a


experiência da loucura. Primeiramente, a loucura passa a ser
considerada e entendida somente em relação à razão, pois, num
movimento de referência recíproca, se por um lado elas se recusam
de outro uma fundamenta a outra. Em segundo lugar, a loucura só
passa a ter sentido no próprio campo da razão, tornando-se uma de
suas formas. A razão, dessa maneira, designa a loucura como um
momento essencial de sua própria natureza, já que agora “a verdade
da loucura é ser interior à razão, ser uma de suas figuras, uma força
e como que uma necessidade momentânea a fim de melhor certificar-
se de si mesma”. (Foucault, 1997,p. 36).
23

O estatuto da racionalidade nega a definição mítico-religiosa que


predomina na era medieval. A psiquiatria surge e se desenvolve nesse contexto
como área legitimamente responsável pelo diagnóstico e tratamento de desvios
mentais, inclusive a loucura.
Somente através da razão é que o homem pode conquistar sua
liberdade, e é somente a partir do século XVIII que isso começa acontecer, a
loucura agora passa a ser vista como objeto de cuidado do saber medico.
Embora a loucura e os locais onde era tratada sempre existissem, foi somente
a partir desse século (XVIII), que estabeleceu-se a “instituição psiquiátrica” e a
nova forma de vivenciar a condição humana, com o trato do “diferente”, aquele
que não se adaptava aos padrões normais e que deveria ser excluído do
convívio dos normais e da sociedade.
Até então, os hospitais não tinham finalidades médicas, funcionava
apenas como instituições filantrópicas que abrigavam os indesejáveis à
sociedade: leprosos, sifilíticos, aleijados, mendigos e loucos. Nesse momento,
acontecia a Revolução Francesa e o médico Phillipe Pinel, um dos primeiros
alienistas (chamados assim por serem os precursores da psiquiatria), foi
nomeado diretor do Hospital de Bicêtre, em Paris. Pode-se dizer que tal
hospital era uma “casa de horrores”, pois os internos, em sua maioria loucos,
eram abandonados à própria sorte. Nesse contexto, Pinel começou a classificar
os “desvios” ou “alienações mentais”, com o intuito de estudá-los e tratá-los,
instituindo, assim, o regime hospitalocêntrico. (VIANA, 2007).
O século XVIII vem definitivamente para marcar a apreensão do
fenômeno da loucura, a partir desse momento foi surgindo a necessidade de
estudar a loucura como objeto de saber médico, o que antes não era possível,
pois a loucura era vista de farias formas, tendo assim diversas interpretações,
antigamente as pessoas consideradas "diferentes" e "anormais" eram
abandonadas, afastadas, escondidas da sociedade,sua doença era vista de
duas formas ou como um castigo dos deuses,ou como um privilegio,pois para a
sociedade da época os loucos podiam ter acessos a verdades divinas3.

3
Silveira LC, Braga VAB. - Rev Latino-am Enfermagem 2005 julho-agosto; 13(4):591-5
www.eerp.usp.br/rlae. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=281421846019

Lia Carneiro Silveira,


24

Nesse processo histórico em que a “loucura” se destaca como


uma doença se faz necessário ressaltar o surgimento do asilo, tido como um
lugar de isolamento e alienação para as pessoas consideradas loucas (doentes
mentais. Nesse contexto asilar na França no fim do século XVIII, surge a figura
de Philippe Pinel, sendo ele um dos protagonistas que defendia o asilo como
forma de tratamento e isolamento pra os que eram considerados anti-sociais.
Vejamos a analise de Viana:

A loucura como doença e a especialidade médica em psiquiatria são


bem recentes, datadas de aproximadamente 200 anos. Embora a
loucura e os locais onde fosse tratada sempre existissem, foi a partir
do século XVIII que se estabeleceu a “instituição psiquiátrica” e a
nova forma de vivenciar a condição humana, com o trato do
“diferente”, aquele que não se adaptava aos padrões normais e que
deveria ser excluído do convívio dos normais e da sociedade.. Nesse
contexto, Pinel começou a classificar os “desvios” ou “alienações
mentais”, com o intuito de estudá-los e tratá-los, instituindo, assim, o
regime hospitalocêntrico. (VIANA, 2007, p.26).

Em meio a todo esse contexto é que começa a surgir à implantação


dos hospitais psiquiátricos, como forma de tratamento dessas pessoas
acometidas de transtorno mentais. Nesse sentido para garantir a segurança
dos pacientes e a ordem nessa instituição, eram adotadas medidas severas
como: isolar o paciente do convívio social e familiar. A entrada dessas pessoas
nesses hospitais só tinha data pra entrar, a maioria não tinha data de saída. A
sociedade os via como “os diferentes”, portanto, não poderiam fazer parte da
sociedade, o estigma em torno dos portadores de transtorno mental só crescia
e assim contribuía cada vez mais para o crescimento do preconceito e
aumentava o número de internações.
De acordo com os estudos de Barros (2011), o modelo psiquiátrico
hospitalocêntrico, ao longo da historia da atenção à saúde mental em diversos
países do mundo, imperou como a forma predominante na assistência às
pessoas com TMs. Porém esse sistema revelou à humanidade a verdadeira
face do hospital psiquiátrico: seu caráter extremamente excludente,
intensificando ainda mais o sofrimento mental vivenciado pelas pessoas

Latino-Americana de
25

internadas nesses estabelecimentos, ocasionando perdas de direitos de


cidadania e prejuízos nos mais diversos aspectos das suas vidas.
A prática do internamento designa uma nova reação à miséria, um
novo patético de modo mais amplo, um outro relacionamento do
homem com aquilo que pode haver de inumano em sua existência. O
pobre, o miserável, o homem que não pode responder por sua própria
existência, assumiu no decorrer do século XVI uma figura que a Idade
Média não teria reconhecido. (FOCAULT,1972,p.64).

O próprio avanço científico não justifica a presença desta instituição


criada no século XVIII, inúmeras experiências realizadas demonstram que é
possível sua substituição por uma rede de serviços substitutivos ao manicômio,
com tratamento mais humanizado, digno e dentro do convívio social. Já em
meados do século XX, a psiquiatria é negada por alguns movimentos sociais
que revelam os manicômios como espaços de exclusão social.
A seguir detalharemos de forma mais contextualizada o inicio do
Movimento de Reforma Psiquiátrica que veio com a pretensão de modificar o
sistema de tratamento clínico da doença mental, eliminando gradualmente
a internação como forma de exclusão social. Discutiremos também sobre as
políticas de Saúde Mental.

1.2 O processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil e as Políticas de Saúde


Mental.

Esse movimento se caracterizou por mudanças no setor psiquiátrico


existente, incluindo os modelos de atenção e gestão nas praticas de saúde
vigente e na promoção de tecnologias de cuidados que pudessem mudar o
modelo vigente. Esse movimento foi construído através da luta árdua pela
busca de melhores condições nas políticas de atenção a saúde mental,
saneamento e higiene, buscando provar que o estado deve ser o provedor
principal da saúde para todos os cidadãos.
Nesse contexto, desenvolve-se no Brasil o denominado 4Movimento
de Reforma Sanitária, tendo como eixo “a luta pela garantia do direito universal

4
O termo “Reforma Sanitária” foi usado pela primeira vez no país em função da reforma
sanitária italiana. A expressão ficou esquecida por um tempo até ser recuperada nos debates
prévios à 8ª Conferência Nacional de Saúde, quando foi usada para se referir ao conjunto de
26

à saúde e pela organização de um sistema único, integral, universal e estatal


de prestação de serviços” (ROSA, 2003).
O que entendemos hoje como Reforma Psiquiátrica Brasileira
congrega este questionamento do modelo asilar com o esforço de promoção de
cidadania de sujeitos tradicionalmente tutelados. Tomou força na segunda
metade da década de 70, em consonância com os movimentos democráticos
(Movimento de Reforma Sanitária), mais amplos que o país vivia, e
fundamentou-se principalmente na concomitante experiência da Reforma
Italiana capitaneada por Franco Basaglia.
Em 1987 configurou-se um grande momento na historia da saúde
mental no Brasil, um encontro que discutiria sobre a política de saúde mental e
os direitos dos pacientes com transtornos mentais, possibilitando assim
momentos de reflexões sobre diversas temáticas abordadas.
.Para discutirmos sobre as políticas de saúde mental é necessário
citarmos a I Conferencia Nacional de Saúde mental que aconteceu no Rio de
Janeiro, a partir de três temas essenciais: “Economia, Sociedade e Estado,
Impactos sobre a doença mental; Reforma Sanitária e Reorganização da
Assistência á Saúde Mental”. (BARROS, 2011, p.24).
A realização da I Conferência Nacional de Saúde Mental, em
desdobramento à 58ª Conferência Nacional de Saúde, representa um marco
histórico na psiquiatria brasileira, posto que reflete a aspiração de toda a
comunidade científica da área, que entende que a política nacional de saúde
mental necessita estar integrada à política nacional de desenvolvimento social
do Governo Federal.

ideias que se tinha em relação às mudanças e transformações necessárias na área da saúde.


Essas mudanças não abarcavam apenas o sistema, mas todo o setor saúde, introduzindo uma
nova ideia na qual o resultado final era entendido como a melhoria das condições de vida da
população. Fonte: http://bvsarouca.icict.fiocruz.br/sanitarista05.html Acesso em: 04/08/2013
5
A 8ª CNS foi o grande marco nas histórias das conferências de saúde no Brasil. Foi a primeira
vez que a população participou das discussões da conferência. Suas propostas foram
contempladas tanto no texto da Constituição Federal/1988 como nas leis orgânicas da saúde,
nº. 8.080/90 e nº. 8.142/90. Participaram dessa conferência mais de 4.000 delegados,
impulsionados pelo movimento da Reforma Sanitária, e propuseram a criação de uma ação
institucional correspondente ao conceito ampliado de saúde, que envolve promoção, proteção
e recuperação.
27

Conforme a OMS, (2001), As políticas e programas de saúde mental


devem promover os seguintes direitos: igualdade e não discriminação; o direito
à privacidade; autonomia individual; integridade física; direito à informação e
participação; e liberdade de religião, reunião e movimento. Os instrumentos
sobre direitos humanos exigem também que todo planejamento ou elaboração
de políticas ou programas de saúde mental envolva grupos vulneráveis (como
as populações indígenas e tribais, as minorias nacionais, étnicas, religiosas e
linguísticas, os trabalhadores migrantes, os refugiados e os apátridas, as
crianças e adolescentes, e os velhos). A necessidade de se buscar novas
formas de assistência na saúde mental não era apenas em relação à extinção
dos manicômios em sim e nem a forma de internamento desumano que era
aplicado.
De acordo com dados oficiais do Ministério da Saúde (2005) o inicio
do processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil é contemporâneo à eclosão do
“movimento sanitário” nos anos de 1970, que tem como consequência a
criação da instituição SUS.
6
Ao mesmo tempo via-se a necessidade de novas mudanças no
tratamento hospitalar a esses pacientes acometidos de transtornos mentais,
era necessário cuidar desses pacientes de forma humana, sendo
desnecessário o isolamento do meio familiar e social.
....
De acordo com o artigo de Fernando Tenório (2002):

A reforma psiquiátrica é uma forma sociável de tratar a loucura,


procurando reduzir através de recurso a pratica asilar, buscando
novas alternativas de cuidados, humanizando o atendimento,
tentando ressocializar essas pessoas com transtornos mentais ao
(TENÓRIO, 2002, p.57)

6
A Criação do Sistema Único de Saúde (SUS) se deu através da Lei nº 8.080, de 19 de
setembro de 1990, que “dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação
da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes”. Primeira lei
orgânica do SUS detalha os objetivos e atribuições; os princípios e diretrizes; a organização,
direção e gestão, a competência e atribuições de cada nível (federal estadual e municipal); a
participação complementar do sistema privado; recursos humanos; financiamento e gestão
financeira e planejamento e orçamento.
28

Nesse sentindo a Reforma Psiquiátrica buscou estabelecer cuidados


que pudesse oferecer um sistema de saúde igualitário que não se pautasse na
lógica da exclusão dessas pessoas consideradas loucas, e sim que oferecesse
a chance de reinserção desse paciente com sofrimento psíquico à sociedade,
sendo ele capaz de exercer sua cidadania.
Ainda de acordo com os estudos de Tenório (2002) em seu artigo
sobre a Reforma Psiquiátrica Brasileira, o sucesso da reforma se deu através
de sua eficácia terapêutica e seu apelo ideológico, e na construção de um
amplo arcabouço de cuidados para sustentar a existência de pacientes que,
sem isso, estavam condenados à errância ou à hospitalização quase
permanente, presos a um sistema que só medicava.
Corroborando com essa perspectiva Pôrto (2010), salienta que o
tratamento da saúde mental sempre esteve relacionado à segregação das
pessoas acometidas de transtornos mentais. Essas pessoas são de um modo
geral, excluídas, não somente pela sociedade, mas pelos próprios familiares e
amigos, a família sentia-se com o sentimento de dever cumprido internar seu
parente, pois compreendia naquele momento que o seu familiar estava sendo
cuidado de forma correta e segura e assim a sociedade ficaria segura dos
“loucos”, como assim eram denominados.

As mudanças alcançadas pelo movimento de reforma sanitária foi


fruto da luta e articulações entre movimentos sociais, profissionais de saúde,
partidos políticos, universidades, instituições de saúde e políticos e
parlamentares. No período de 1989 a 1990 foi elaborada à Lei n°.8.080, as
Constituições Estaduais, as Leis Orgânicas Municipais e a Lei n°.8.1427·, de 28
dezembro de 1990, é implementado no Brasil o Sistema Único de Saúde

7
A Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, dispõe sobre a participação da comunidade na
gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros. Institui
os Conselhos de Saúde e confere legitimidade aos organismos de representação de governos
estaduais (CONASS - Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde) e municipais
(CONASEMS - Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde) Finalmente estava
criado o arcabouço jurídico do Sistema Único de Saúde, mas novas lutas e aprimoramentos
ainda seriam necessários (BRASIL, 1990).
29

(SUS), tendo como premissa o art.198 da Constituição Federal de 1988.


(Brasil,1988).
Corroborando com Delgado (1992) ele afirma que:

Ao discutir a reforma psiquiátrica a partir da legislação, tendo como


referência o projeto de lei 3657/89 que segundo o autor intervém no
modelo assistencial, e somente indiretamente na cidadania - quando
se refere ao direito essencial de liberdade e ao caso do tratamento
obrigatório, destaca que o modelo assistencial consiste na reforma
em si, no rearranjo dos serviços, modelo e método de atendimento,
na democratização e na ruptura do paradigma manicomial. Ao discutir
a cidadania, retoma a incapacidade civil prescrita no Código Civil de
1916, refletida pela expressão “loucos de todo gênero”. Para este
autor, a relação entre incapacidade civil do louco e direito penal,
implica em duas consequências: “prisão perpétua nos manicômios
judiciários aos loucos pobres - como regra, ou a impunidade para
maridos homicidas como exemplo de regularidade” (DELGADO,
1992, p.81).

Durante muito tempo a maior dificuldade de tratamento do doente


mental consistiu e ainda consisti no preconceito social, isso tudo porque a
“loucura” era associada à violência e à desordem. Dessa maneira não se
permitia compreender a real necessidade que esses pacientes sofriam e nem a
superação dessa doença. De acordo com os estudos de Tenório (2002):

Finalmente, além de promover um aperfeiçoamento técnico e


institucional do tratamento em saúde mental, a reforma psiquiátrica
tem efeitos positivos também do ponto de vista da cidadania
brasileira. Movimentando-se no sentido contrário ao da redução das
políticas sociais do Estado, ela aponta para a construção de uma
sociedade mais inclusiva e para a recuperação do sentido público de
nossas ações. Trata-se, enfim, de uma transformação generosa e
radical de algumas das mais importantes instituições sociais de nosso
tempo. (TENÓRIO, 2002 p.57).

Nesse processo de transformação na saúde mental esse movimento


de trabalhadores transformou-se em um novo movimento social por uma
“sociedade sem manicômios”,e a busca por um tratamento onde a convivência
com o meio social prevalecesse, surge assim a luta antimanocomial em 18 de
maio de 1987.
Sobre isso Ribeiro (2006) ressalta:
Luta Antimanicomial se constitui como um movimento político que tem
como eixo principal a construção da cidadania do louco e sua
inclusão social. Transformação radical dos dispositivos sociais
milenares, até então, utilizados com a loucura, promovendo um
autêntico movimento político que busca produzir soluções para além
30

do que já existem novas categorias e conectores no campo social que


possam articular toda rede de assistência e cidadania. (RIBEIRO,
2006, p.60-61).

A luta antimanicomial assumiu como bandeira a Reforma


Psiquiátrica, com ênfase no processo de desinstitucionalização do modelo
oficial.

A reforma psiquiátrica, enquanto movimento social representa, desde


o final da década de 40 em várias partes do mundo, a construção de
uma mudança da cultura de exclusão existente na sociedade e do
modelo asilar/carcerário, herdado dos séculos anteriores, no
tratamento da pessoa com um transtorno mental. A substituição da
instituição total, que é o hospital psiquiátrico por uma rede de serviços
diversificados, regionalizados e hierarquizados orientada não
exclusivamente para uma mera supressão de sintomas e sim para a
efetiva recontextualização e reabilitação psicossocial, retomando a
consciência para com a diferença entre os humanos. (Fórum de
Saúde Mental do Distrito Federal, 1997, p. 05).

De acordo com o Ministério da Saúde (2005) é, sobretudo este


movimento, através de variados campos de lutas sociais, que passa a
protagonizar e a construir a partir deste período a denuncia da mercantilização
da loucura, da hegemonia de uma rede privada de assistência e a construir
coletivamente uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo
hospitalocêntrico existente na assistência oferecido às pessoas com
transtornos mentais. Tudo isso na tentativa de possibilitar um atendimento para
alem de remédios e internações, esse movimento foi ganhando resistência e o
sistema de internações aos poucos foi diminuindo em alguns países. Vale
ressaltar que esse movimento esta inserido no Brasil, mas ao mesmo tempo
estava inserido em outros países, contribuindo diretamente para a luta
antimanicomial e trouxe mudanças nesse modelo obsoleto.
Segundo Ministério da saúde (2005) é somente no dia 06 de abril de
2001 após 12 anos de tramitação no Congresso Nacional, que a Lei Paulo
Delgado é sancionada no país. A aprovação, no entanto, é de um substitutivo
do Projeto de Lei original, que traz modificações importantes no texto
normativo. Assim, a Lei Federal 10.216 redireciona a assistência em saúde
mental privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base
31

comunitária dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos


mentais, mas não institui mecanismos claros para a progressiva extinção dos
manicômios.
A Lei citada (10.216) dispõe sobre a reinserção social do doente
mental a convivência em seu meio, combatendo isolamento, seja ele social ou
familiar, fortalecendo a proteção dos direitos de cada paciente. Nesse sentido a
internação só será necessária quando não houver recursos extra-hospitalares
suficientes, porém o tratamento eficaz do usuário seja no âmbito publico ou
particular.
Ainda de acordo com dados do Ministério da Saúde (2005), a
promulgação da Lei 10.216 impõe novo impulso e novo ritmo para o processo
de Reforma Psiquiátrica no Brasil. É nesse contexto da efetivação da lei 10.216
e da realização da III Conferência Nacional de Saúde Mental, que a política de
saúde mental do governo federal, alinhada com as diretrizes da Reforma
Psiquiátrica, passa a consolidar-se, ganhando maior sustentação e visibilidade,
promovendo a partir da efetivação dessa lei a garantia real do cuidado aos
pacientes com sofrimento mental, independente de sua condição.

Segundo Ministério da Saúde (2005) a lei nº 10. 216/01 dispõe em


seus artigos:
o
Art. 1 Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno
mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma
de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião,
opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e
ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou
qualquer outra.
o
Art. 2 Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a
pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente
cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo.
Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno
mental:
I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde,
consentâneo às suas necessidades;
II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo
de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela
inserção na família, no trabalho e na comunidade;
III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração.
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005)

A lei citada diz em seu primeiro artigo, que é dever do estado prestar
assistência igualitária aos pacientes com transtorno mental, independente de
32

sua cor, raça, sexo e condição social. No segundo artigo, ressalta que os
mesmo devem ser protegidos, ter acesso a um tratamento de qualidade e
digno, como também ter o merecido respeito.
Apesar de todos os avanços, a nova política de saúde mental
proporcionou uma racionalização das internações, reduzindo cada vez mais os
números de leitos psiquiátricos existentes no Brasil. Novos modelos
alternativos foram criados na tentativa de oferecer um tratamento diferente e
satisfatório a esses pacientes com sofrimentos mentais, no qual a família agora
pudesse acompanhar seu familiar ate a sua cura, onde estivesse unida a
capacidade medica e a humanização, no sentindo de tornar esse quadro mais
leve ao seu tratamento, desejando assim oferecer um tratamento digno.
As Políticas Públicas de Saúde Mental visam elaborar leis que
contribuam para a melhoria no atendimento dos serviços e benefícios para os
usuários, transformando aquilo que é individual em ações coletivas, garantindo
assim seus direitos sociais. A prática em saúde mental é uma responsabilidade
social e deve se relacionar ao desenvolvimento histórico da sociedade.
Assim, as Políticas Públicas de Saúde Mental devem discutir e
atualizar todos os meios de acesso da população às informações, estudar as
demandas através de critérios epidemiológicos visando melhorias nos serviços
principalmente para os usuários facilitando o processo de inclusão e inserção
social na comunidade.
No próximo capitulo veremos uma breve contextualização do
processo de Reforma Psiquiátrica no Ceará.

1.3 O Processo de Reforma Psiquiátrica no Ceará.

No Estado do Ceará esse processo de luta não foi diferente, com


inspiração dos movimentos de reforma psiquiátrica no mundo e no Brasil
estabeleceu-se uma luta antimanicomial conjunta entre os profissionais de
saúde e familiares de pacientes psiquiátricos, objetivando a implantação da
mudança de assistência e tratamento na área de saúde mental. Na busca de
um novo paradigma para a saúde mental, através dos movimentos sociais
33

percebeu-se que não dava mais pra aceitar a forma que os pacientes com
algum transtorno mental sofriam nos hospitais psiquiátricos, a luta era por uma
sociedade sem manicômios. (Pôrto, 2010)8.
Vale ressaltar que, historicamente no Ceará tivemos uma
assistência psiquiátrica do tipo hospitalocêntrica, onde a única resposta a dar a
essas pessoas consideradas alienadas e loucas pela sociedade era o
isolamento como forma de tratamento e recuperação da moral, por isso era
necessário internar, na maioria das vezes contra a vontade do individuo.
A luta por um novo modelo alternativo de assistência os portadores
de transtorno mental era preciso, buscava-se um tratamento onde os usuários
adquirissem novamente sua autonomia para viver em sociedade. Era
necessário sair do modelo vigente naquela época, e buscar um tratamento
para além das prisões, onde esses pacientes pudessem ser tratados com mais
dignidade e respeito, e que através desse processo de tratamento o mesmo
pudesse recuperar sua vida e voltasse a conviver em seu meio social.

De acordo com os estudos de Nogueira (2009):


Ao longo dos anos, foram surgindo no estado, instituições asilares
que prestavam assistência aos portadores de transtornos mentais,
somente em 1935 surgiu a primeira iniciativa privada na capital
cearense, a casa de saúde São Gerardo, e em 1963 foi instituído o
primeiro hospital publico nesta área, Hospital de
Messejana..(NOGUEIRA,2009, p.60-61)

Segundo Barros (2011), apesar de todas as contradições a luta


antimanicomial no ceará representou grande significância para Reforma
psiquiátrica, pois lutava entre dois lados, de um lado lutou para acabar com as
instituições asilares, as prisões que se dizia tratar os doentes mentais, onde os
internos eram tratados de forma desumana, mas por outro lado apoio as
iniciativas não asilares na saúde mental.

8
No ceará historicamente a assistência psiquiátrica foi predominantemente hospilalocêntrica,
sua experiência na saúde mental ocorreu muito ligada ao hospital psiquiátrico, sendo toda a
assistência prestada exclusivamente por hospitais especializados de natureza asilar. Conforme
“A historia do Ceará na psiquiatria começa em 1603, nessa época o quadro da assistência
psiquiátrica é precário, e as mudanças nesse setor chegam aproximadamente no século XIX.”
(SAMPAIO, 2010,p.30).
34

Na historia da Reforma Psiquiátrica no Brasil, o estado do Ceará tem


apresentado uma significativa contribuição. Sua dinâmica própria de
desenvolvimento,com contradições sociais persistentes
precárias,secas cíclicas,ocupação econômica retardatária e
dependente,além dos turnos de monocultura extrativista (pecuária,
algodão, cera de carnaúba, lagosta),determina e caracteriza quadros
políticos econômicos e sociossanitarios muito
particulares.(SAMPAIO,2011,p.30).

Seguindo as características de uma modernidade tardia, surgiu


novos rumos para a saúde, novas formas de se pensar e técnicas de trabalhar
a psiquiatria, surgiu nesse período a construção do SUS, tendo inicio em 1986
foi considerado como um grande avanço na saúde.

No Ceará, a década de 90 também foi um período importante para o


campo da saúde mental, pois é desse período que datam a
emergência ou a maior visibilidade do Movimento de reforma
psiquiátrica, o processo de instalação de CAPS (em Iguatú, Canindé
e Quixadá) , em 1993, a aprovação da Lei nº 12. 151 que dispõe
sobre a extinção progressiva dos hospitais psiquiátricos e sua
substituição por outros recursos assistenciais Paiva 2011 (apud
ACIOLY, 2006 p. 40).

Com o rápido crescimento da cidade de Fortaleza, foram surgindo


novos problemas sociais, crescia junto com a cidade um o grande número de
indigentes que representava um caos na cidade, diante desses fatos o governo
provincial da época em articulação com os segmentos das elites política,
comercial e religiosa, perceberam a necessidade de se construir instituições
ligadas à assistência e proteção a infância, mendicidade e loucura.
“Tradicionalmente, a assistência psiquiátrica era oferecida por cinco hospitais
especializados privados, com seiscentos leitos, e um hospital especializado
publico, administrado pelo governo estadual com duzentos leitos”. (Sampaio,
2010, p.31). Nessa mesma perspectiva complementa Paiva (2011):

Atualmente no Ceará encontramos vários serviços substitutivos como


Centros de Atenção Psicossocial, Hospitais-Dia e Residências
Terapêuticas, Comissões Municipais e Estaduais de Saúde Mental,
Núcleos do Movimento da Luta Antimanicomial, Associações de
Familiares e Usuários e Fórum Municipal da Luta Antimanicomial, cuja
instalação é preconizada pela lei cearense de nº 12. 151. (PAIVA,
2011 p.40)
35

Este modelo seria substituído por uma rede de serviços territoriais


de atenção psicossocial, visando à integração da pessoa que sofre de
transtornos mentais à comunidade. A seguir iremos falar sobre a proposta de
intervenção pública na saúde através dos CAPS.
36

CAPITULO II - A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PÚBLICA NA


SAÚDE ATRAVÉS DOS CAPS.

Nesse capitulo apresentaremos uma breve contextualização sobre o


novo modelo de assistência á Saúde Mental no Brasil - O CAPS, o Sistema
Único de Saúde (SUS), a implantação do CAPS no ceará e em Fortaleza,
CAPS AD, falaremos brevemente sobre a inserção do Assistente social nos
CAPS.

2.1 O sistema Único de Saúde (SUS).

De acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde


CONASS (2009), a instituição do SUS produziu resultados imediatos. O mais
importante foi o fim da separação que havia no sistema público de saúde entre
os incluídos e os não incluídos economicamente com a implantação do
princípio da universalidade, que pôs fim à figura iníqua dos indigentes
sanitários (não previdenciários), promovendo a integração do INAMPS ao
sistema público de saúde9.
O Sistema Único de Saúde fez com que a saúde fosse direito de
todo cidadão, até a criação do SUS existiam apenas três categorias de
brasileiros que tinha direito a saúde: os que tinham condições financeiras de
arcar com despesas médicas particulares, os que eram segurados da
previdência, ou seja, os que tinham direito à saúde publicam e os que eram
desprovidos de quaisquer direitos.
A partir da criação do SUS, começa a se pensar novas formas de
tratamento para o setor psiquiátrico, necessitava-se criar uma política que
fizesse um resgate a dignidade dos doentes mentais, era preciso que se
regulamentasse um controle das internações, sendo esse o ultimo recurso que
deveria ser usado para o tratamento desses pacientes, e que aos poucos

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS)


9

Fonte: http://www.conass.org.br – Acesso em:22/07/2013


37

oferecessem uma assistência digna aos portadores de transtornos mentais, a


fim de resgatá-los ao convívio social.
Para campos (2002), o setor de saúde deve responder a diferentes
demandas por parte da sociedade na busca de uma vida saudável, sendo que
somente a recuperação do corpo em seu aspecto biológico passa a não ser
mais suficiente ao atendimento da totalidade das necessidades de saúde,
devendo-se levar em consideração o ser humano em sua totalidade.
De acordo com o Ministério da Saúde (2000), no ano de 2008 o SUS
completou 20 anos de atuação, no entanto, já demonstra necessidade de
melhoria em vários aspectos, como a qualidade no atendimento, mais
profissionais qualificados para cada área e a ampliação de redes hospitalares.
10
A principal proposta da Reforma Sanitária é a defesa da
universalização das políticas sociais e a garantia dos direitos sociais. Nesta
direção, destaca-se a concepção ampliada de saúde, considerada como
melhores condições de vida e de trabalho; a importância dos determinantes
sociais; a nova organização do sistema de saúde através da construção do
SUS, em consonância com os princípios da intersetorialidade, integralidade,
descentralização, universalização, participação social e redefinição dos papéis
institucionais das unidades políticas (União, Estado, municípios, territórios) na
prestação dos serviços de saúde; e efetivo financiamento do Estado.
Sabemos que o sistema Único de Saúde, é fruto de muitas lutas e
reivindicações sociais da população brasileira, e que começou a ser construído
11
devido á participação do povo na VIII Conferencia Nacional da Saúde, que
tiveram vez e voz, para discutir sobre os serviços de saúde ainda na década de
1980.
Apesar do SUS ter sido criado oficialmente a partir da Constituição
de 1988, este foi regulamentado através da Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080),

10
CFESS CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL- Parâmetros para a Atuação de
Assistentes Sociais na Saúde Brasília, março de 2009 3 Gestão 2008 – 2011.

11
A realização da VIII Conferência Nacional de Saúde, com intensa participação social, deu-se
logo após o fim da ditadura militar iniciada em 1964, e consagrou uma concepção ampliada de
saúde e o princípio da saúde como direito universal e como dever do Estado; princípios estes
que seriam plenamente incorporados na Constituição de 1988.
38

de 19 de setembro de 1990. Posteriormente foi inserida a participação dos


usuários na gestão através Lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispõe
sobre a participação popular e transferência de recurso.
Não podemos deixar de salientar que o SUS foi criado para suprir as
necessidades da população, ele é consolidado como um direito universal do
cidadão e apesar de estar dentro do contexto neoliberal, no qual há
interferência do Estado em relação aos direitos sociais, cabe ao poder publico
o dever de garanti-lo.
Segundo Bravo (2009), dessa forma o SUS é tido como um dos
maiores sistemas públicos de saúde do mundo e representa um grande avanço
para a sociedade, cabendo a esta fiscalizar e cobrar do Estado que realize seu
papel e cumpra o que foi estabelecido constitucionalmente.
O Sistema Único de Saúde fez com que a saúde fosse direito de
todo cidadão, até a criação do SUS existiam apenas três categorias de
brasileiros que tinha direito a saúde: os que tinham condições financeiras de
arcar com despesas médicas particulares, os que eram segurados da
previdência, ou seja, os que tinham direito à saúde publicam e os que eram
desprovidos de quaisquer direitos.
Nesse processo de consolidação do SUS podemos situar a Carta
dos Direitos dos Usuários da Saúde foi aprovada pelo Conselho Nacional de
Saúde (CNS) em sua 198ª Reunião Ordinária, realizada no dia 17 de junho de
2009. O presente documento foi elaborado de acordo com seis princípios
basilares que, juntos, asseguram ao cidadão o direito básico ao ingresso digno
nos sistemas de saúde, sejam eles públicos ou privados. Apesar de todos os
avanços, “[...] O SUS real esta muito longe do SUS constitucional há uma
enorme distancia entre a proposta do movimento sanitário e a pratica social do
sistema publico de saúde vigente”. (BRAVO 2009, p.107).

A partir da criação do SUS, começa a se pensar novas formas de


tratamento para o setor psiquiátrico, conforme ressaltamos anteriormente
necessitavam criar uma política que fizesse um resgate a dignidade dos
portadores de transtorno mental, era preciso que se regulamentasse um
controle das internações, sendo esse o ultimo recurso que deveria ser usado
39

para o tratamento desses pacientes, e que aos poucos oferecessem uma


assistência digna aos usuários, a fim de resgatá-los ao convívio social.
A seguir veremos de forma mais detalhada a implantação de um
novo modelo de Assistência, onde contextualizaremos a implantação do CAPS
no Brasil, Ceará e Fortaleza.

2.2 O Novo modelo de Assistência à Saúde mental no Brasil - O CAPS

A portaria do Ministério da Saúde nº 224/92 estabeleceu diretrizes e


normas da assistência em saúde mental, regulamentando novos serviços,
dentre eles os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial). Seu surgimento deu-
se no contexto da Reforma Psiquiátrica, apresentando-se como um serviço
substitutivo, com a proposta de mudar o modelo (hospitalocêntrico), o qual
predominou por muitos anos e provocou diversos debates ao seu modo de
tratar os pacientes com transtornos mentais.
Os dados oficiais do Ministério da Saúde (2005) retratam que o
surgimento dos CAPS nas cidades brasileiras foi na década de 1980, passando
a receber uma linha específica de financiamento do Ministério da Saúde a partir
do ano de 2002, momento no qual estes serviços experimentam grande
expansão. O CAPS surge, portanto para amenizar os problemas existentes na
saúde mental, com a finalidade de cuidar dos pacientes com transtornos
mentais, mostrando que é possível tratar de maneira diferente os que
necessitam de ajuda psicológica, oferecendo-lhes um tratamento compartilhado
pela família.
Nesse processo, o primeiro CAPS foi inaugurado em março de 1986
na cidade de São Paulo, o Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz da
Rocha Cerqueira, conhecido como CAPS da Rua Itapeva. Em seguida surge
em vários municípios do pais serviços ligados a saúde mental e aos poucos
através de muito trabalho os esses equipamentos começam a se consolidar
como dispositivos necessários na diminuição das internações,apresentado uma
mudança do modelo assistencial.
40

A seguir para uma melhor compreensão, veremos através de


algumas tabelas a porcentagem do número de CAPS por tipo e ano e em
seguida por tipo, região e UF, portanto vejamos:
Tabela -1 Número de CAPS por tipo e por ano.

Ao analisar a tabela 1 citada, percebemos, portanto, que o


crescimento dos CAPS cresceu bastante desde sua Implantação,
especialmente no ano de 2010 que teve o maior número de CAPS em relação
2006, foram criados durante esses 4 anos 610 novos equipamentos.
De acordo com dados do Ministério da Saúde (2007), nos últimos
quatro anos a expansão e qualificação da rede de atenção à saúde mental,
sobretudo dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), foram objetivos
principais das ações e normatizações do Ministério da Saúde. Para
organização da rede de atenção à saúde mental num determinado território a
expansão destes serviços foi fundamental para mudar o cenário da atenção à
saúde mental no Brasil. Neste período o Ministério da Saúde pautou-se pela
implantação de uma rede pública e articulada de serviços.
Esse serviço oferece três modalidades de tratamento (intensivo,
semi-intensivo, e não intensivo), que variam de acordo com a necessidade do
indivíduo. O atendimento intensivo trata-se de atendimento diário oferecido
quando a pessoa se encontra com grave sofrimento psíquico, em situação de
crise ou dificuldades intensas no convívio social e familiar, precisando de
atenção contínua. Esse atendimento pode ser domiciliar, se necessário. O
semi-intensivo, no qual, o usuário pode ser atendido até doze dias no mês,
sendo que essa modalidade é oferecida quando o sofrimento e a
41

desestruturação psíquica da pessoa diminuíram, melhorando as possibilidades


de relacionamento. Mas devemos ressaltar que, o usuário ainda necessita de
atenção direta da equipe do serviço para se estruturar e recuperar sua
autonomia. E o não intensivo, que é oferecido quando a pessoa não precisa de
suporte da equipe para viver em seu território e realizar suas atividades na
família e/ou no trabalho, podendo ser atendido até três dias no mês12.
A Portaria/GM nº 336 de 19 de fevereiro de 2002, define e
estabelece as diretrizes para o funcionamento dos CAPS, além de categorizá-
los e diferenciá-los conforme a clientela denominando-os de CAPS I, CAPS II,
CAPS III, CAPS Ii, CAPS ad. As três primeiras modalidades são definidas por
ordem crescente de porte/complexidade e abrangência populacional.
Prioritariamente, deverão atender a pacientes com transtornos mentais graves
e persistentes em sua área territorial. Os CAPS I são destinados ao
atendimento psicossocial para crianças e adolescentes, enquanto os CAPS ad,
são designados ao atendimento de usuários com transtornos decorrentes do
uso e dependência de substâncias psicoativas.

A titulo de informação veja a seguir a segunda tabela, onde


apresentaremos o número de CAPS por tipo, região e UF.

12 Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre. – Acesso em 12/07/13

Portal do Ministério da Saúde. Disponível em <http://portal.saude.gov.br/portal/saude


42

Segundo a tabela citada a Região Sudeste possui o maior numero


de população e apenas 538 CAPS, em seguida vem o Nordeste com um
numero menor de pessoas, porém possui um numero estimável de CAPS I,
contabilizando um numero de 597 equipamentos distribuídos em CAPS I CAPS
II CAPS III CAPS i CAPS ad.

“A construção de uma rede comunitária de cuidados é fundamental


para a consolidação da Reforma Psiquiátrica. A articulação em rede
dos variados serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico é crucial
para a constituição de um conjunto vivo e concreto de referências
capazes de acolher a pessoa em sofrimento mental. Esta rede é
maior, no entanto, do que o conjunto dos serviços de saúde mental
do município. Uma rede se conforma na medida em que são
permanentemente articuladas outras instituições, associações,
cooperativas e variados espaços das cidades” (Ministério da Saúde,
2005, p. 25).
43

Nesse sentido é necessário um atendimento articulado onde o


usuário que sofre de doença mental seja contemplado não apenas com o uso
de medicação, mais também receba uma atenção humanizada, oferecendo a
esse usuário não apenas a solução de sua melhora através dos hospitais mais
que faça esse usuário sentir-se capaz de ser inserido novamente a sociedade,
que ele sinta-se apoiado.
Vale ressaltar que, de acordo com os dados oficiais do Ministério da
Saúde (2005) o número de pessoas com algum tipo de transtorno mental tem
aumentado significantemente em todos os Estados do Brasil, demandando a
criação de novos CAPS, com o objetivo de tentar suprir a demanda desses
usuários, não bastava apenas medicar, era preciso ressocializar esses
usuários, trazer de volta para seu meio, mostrar que eles podem retomar sua
convivência garantida na sociedade13.
Considerando os princípios de Reforma psiquiátrica os CAPS não
devem ser complementares ao modelo hospitalar e sim substitutivos. Para isso
acontecer cabe a esse equipamento oferecer um tratamento diferenciado,
principalmente aos pacientes com transtornos mentais, possibilitando que este
usuário seja o autor de seu tratamento, oferecendo um cuidado mais
humanizado, promovendo assim à reinserção do indivíduo a sua família e seu
ambiente social.
De acordo com os estudos de Sampaio (2010,) o CAPS não constitui
apenas um tratamento especifico para doentes mentais, ele tenta prevenir a
rotulação, estigma e a cronificação que esses pacientes sofrem. Em seus
objetivos o CAPS procura prevenir o isolamento dos portadores de transtornos

13
No Brasil, 23 milhões de pessoas (12% da população) necessitam de algum atendimento em
saúde mental. Pelo menos 5 milhões de brasileiros (3% da população) sofrem com transtornos
mentais graves e persistentes. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, apesar
de a política de saúde mental priorizar as doenças mais graves, como esquizofrenia e
transtorno bipolar, as mais prevalentes estão ligadas à depressão, ansiedade e a transtornos
de ajustamento.

Em todo o mundo, mais de 400 milhões de pessoas são afetadas por distúrbios mentais ou
comportamentais. Os problemas de saúde mental ocupam cinco posições no ranking das dez
principais causas de incapacidade, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Fonte:
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/medicos+criticam+fechamento+de+leitos+em+hospitais+psiquiat
ricos/n1237686226986.html - Acesso em:22/07/2013
44

mentais, buscando tratar sem a necessidade de internar, garantindo a eles a


atenção, seja através de oficinas, grupos de apoio ou através do
acompanhamento psicológico e médico, juntamente com o acompanhamento
de sua família sem a quebra de nenhum vinculo.
Nesse sentido, considerando a proposta em seu formato legal as
práticas nos CAPS devem se caracterizar por ser dinâmica e por ocorrer em
ambientes livres, abertos e acolhedor, onde a maior preocupação é o bem
estar do sujeito em si, seu comportamento e sua evolução.
Portanto, o CAPS deve ser um lugar de referência e tratamento para
pessoas que sofrem de transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e
demais quadros cuja severidade ou persistência justifique sua permanência
para a reabilitação psicossocial, por meio de cuidado intensivo, comunitário,
personalizado e promotor de vida, numa atenção voltada para o sujeito, sua
singularidade e história, cultura e vida cotidiana. É um serviço de saúde mental
criado para ser substitutivo às internações em hospitais psiquiátricos (Viana,
2007).

Em seguida veremos uma breve contextualização sobre a


implantação dos CAPS´S no Ceará e em Fortaleza.

2.3 A implantação do CAPS no Ceará e em Fortaleza.

No Estado do Ceará, com inspiração dos movimentos de reforma


psiquiátrica no mundo e no Brasil, estabeleceu-se uma luta antimanicomial
conjunta entre os profissionais de saúde e familiares de pacientes psiquiátricos,
objetivando a implantação da mudança de assistência e tratamento na área de
saúde mental.
Conforme o Observatório de Recursos Humanos em Saúde (2007),
o Estado do Ceará deu início ao processo de Reforma Psiquiátrica com a
implantação do primeiro CAPS do Nordeste. Em 1991, em Iguatu,
apresentando-se um dos pioneiros na transformação do modelo manicomial em
um modelo de assistência psicossocial.
45

É importante destacar que o Poder Legislativo do Estado do Ceará,


discutindo a temática relativa à inserção do portador de transtorno mental no
convívio da sociedade, antecipou-se à normatização federal, concernente ao
processo de reforma à assistência psiquiátrica, e editou a Lei nº 12.151, de
29.07.1993, conhecida como Lei Mário Mamede, que dispõe sobre a extinção
progressiva dos hospitais psiquiátricos e sua substituição por outros recursos
assistenciais, regulamenta a internação psiquiátrica compulsória e dá outras
providências. No que diz respeito às internações psiquiátricas, esta lei Lei nº
(12.151) determina no art. 4º que “A internação psiquiátrica compulsória deverá
ser comunicada pelo médico que a procedeu, no prazo de vinte e quatro horas,
à autoridade do Ministério Público e à Comissão de Ética Médica do
estabelecimento”. No parágrafo segundo, desse artigo, destaca que o
Ministério Público procederá às vistorias necessárias e, no art. 5º, determina
prazo de quarenta e oito horas para que todas as internações psiquiátricas,
compulsórias ou não, sejam confirmadas, através de laudo específico, por
Junta Interdisciplinar, composta por membros da comunidade, trabalhadores
em saúde mental e representantes do Poder Público local14.
De acordo com os estudos de Sampaio (2010), a reconfiguração
dos serviços de saúde mental, orientada para o cuidado no território, traz em si
modificações nos modos de organizar os processos de trabalho e de produzir
suas ações. Tal situação impôs urgência de ampliação das equipes de saúde
mental na perspectiva de atender às necessidades de saúde apresentadas
pelos usuários, buscando integrar o homem em suas diversas dimensões, por
exemplo, biológica, ético-política, social, filosófica e religiosa. Emerge,
portanto, uma dimensão de trabalho em equipe com seus fundamentos
oriundos da interdisciplinaridade, rompendo a fragmentação dos saberes e
hierarquização das relações, antes de subalternidade.
Ao analisarmos os discursos das entrevistadas, ambas foram
questionadas sobre a implantação dos Caps em geral e especialmente em
Fortaleza, elas relataram que:

14
Fonte: http://diariodonordeste.com.br –Acesso em 12/07/2013
46

Olha no âmbito do ceará agente tem alguns campos, caps de


Barbalha, CAPS de Quixadá, CAPS de Quixeramobim, caps em
Crateús, CAPS em Icó, CAPS em Iguatu, CAPS em Caucaia CAPS
no Aquiraz e Canindé, em Baturité, e Morada nova e Itapipoca e
esses CAPS porque agente sabe que esses caps eles atendem
realmente uma população interior né, vindo a dar suporte a essa
população, ou seja, esses usuários são atendidos, recebem
medicação e são acompanhados, o que aumenta a questão da
humanização da política do humaniza SUS, que antes os que eram
internados agora eles voltaram para o convívio familiar, e não é
diferente dos CAPS aqui de fortaleza ne,nos aqui como já disse
anteriormente temos 14 CAPS e os 14 CAPS eles vieram dar essa
nova visão essa nova articulação,e atendendo também essa clientela
de forma mais humanizada, muitos é conseguem realmente com os
atendimentos no CAPS realmente superar suas deficiências,melhorar
enquanto pessoa,melhorar enquanto cidadão,então essa inserção do
mercado ela realmente se da e os trabalhos nos CAPs eles são
muito importante nesse sentido, porque trata os usuários de forma
diferente,mas ao mesmo tempo igualitária,então é tratar igualmente
os diferentes como agente diz,então o CAPS veio para dar esse
suporte,esse aumento, e o CAPS ele veio pra somar,o que os
hospitais psiquiátricos disseram que os CAPS vinha pra diminuir é
porque os hospitais psiquiátricos como lucram muito com a questão
da internação já perderam alguns né que eram internados antes e
agora estão no tratamento no CAPS por isso que ainda tem essa
dificuldade,mas no geral o CAPS veio,e ta humanizando e ta inserido
no mercado de trabalho dentro das possibilidades. (ESTRELA).

Ao analisarmos o discurso da Estrela, ela ressalta que os CAPS


vieram para contribuir com o atendimento Psiquiátrico, na tentativa de tratar os
diferentes de forma igualitária e mais humanizada seguindo as diretrizes da
Política Humaniza SUS.
Processo de implantação? Acho que ele, assim, ele ainda estar em
processo mesmo, porque segundo a reforma uma cidade como
fortaleza o ideal era que tivéssemos CAPS ad 24 horas, isso ainda
esta acontecendo, sempre no movimento histórico é assim, você tem
avanços, você tem retrocessos e a saúde no geral eu acho que
fortaleza se estruturou em relação à saúde mental em CAPS, ela se
estruturou bastante, tem 3 CAPS em cada regional, um infantil, um ad
e um geral, tem alguns serviços residências terapêuticas, eu acho
que ela ainda ta em processo de implantação, no Brasil isso já
ampliou bastante, agora o que eu vejo é que existe um movimento
para internação compulsória, as famílias ainda não compreendem no
caso do ad, não compreendem. Existe um movimento da mídia em
relação à internação compulsória e como se isso fosse à única
solução, e ai é que eu me preocupo porque agente um dia desses
saiu dos manicômios fez a reforma, e agora agente ta querendo,
agente que eu digo a mídia, algumas instituições que vão é ter um
ganho lucro com isso tão querendo trazer esse tema em pauta e eu
me preocupo muito como se o problema fosse só internar
compulsoriamente uma pessoa que é dependente químico e não é,
uma pessoa que vai se interna, porque no caso querendo passa 9
meses La e quando volta ela encontra o território dela do mesmo
jeito, os amigos dela também fazem uso, os gatilhos que ela tem para
usar estão ali, a droga ainda não saiu da cabeça dela, o vazio que
47

tinha em relação ao que fazer a pessoa usar droga permanece, então


eu não acredito muito não, acho que tem que ser uma coisa mais
fortalecida. ( SOL).

Percebemos que o processo de implantação para Sol é refletido de


forma diferente, esse processo ainda esta acontecendo, o número de CAPS
em Fortaleza ainda não é o suficiente para suprir toda demanda de uma cidade
como a nossa15·. Mas em relação ao processo histórico que vivenciamos
anteriormente,pode não ser suficiente,mas melhorou bastante,Fortaleza se
estruturou em relação a Saúde Mental nos CAPS.
O CAPS AD, é um lugar certo e aberto a população para o tratamento
de pessoas acometidas de transtornos mentais, alem de oferecer
atendimentos, na busca da construção de cidadania e autonomia dos
mesmos estimulando a integração social e familiar. (LUA).

De modo geral todas concordaram que em muitos pontos, o CAPS é


um lugar que oferece um tratamento mais humanizado, diferente do modelo
hospitalar antes oferecido, buscando oferecer ao usuário um cuidado
diferenciado e articulado isto é, o tratamento não procede apenas na base de
remédios e sim de um acompanhamento continuo até finalizar o tratamento. No
discurso de Sol foi notou-se uma grande preocupação da parte dela com a
nova lei recente sobre o internamento compulsório(internar sem a vontade do
paciente),para ela isso não vai adiantar,pois não basta internar esse paciente é
preciso cuidar do território que ele vivia antes e que após o internamento ira
voltar.

Conforme o relato de uma das assistentes sociais entrevistadas:


Na cidade de fortaleza, hoje temos 14 CAPS, 6 CAPS gerais; 6 CAPS
ADS (álcool e drogas) e 2 Caps infantil. Um abrange a Reg 1,3 e 5 e
o outro na Reg IV que abrangem a regional 2,4 e 6, então ela veio (se
referindo a reforma psiquiátrica) para dar esse suporte,essa
ampliação no tratamento as pessoas com transtornos
mentais(ESTRELA).

15
Fortaleza chega a 2,5 milhões de habitantes e segue como a quinta cidade mais populosa
do Brasil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgadas em
1º de julho de 2012.
Em dois anos, entre 2010 e 2012, a população de Fortaleza aumentou em 48 mil pessoas,
segundo dados do IBGE. Em 2000, a população da cidade era de 2,141 milhões .
Fonte: http://g1.globo.com/ceara/noticia/2012/08/fortaleza
48

Diante do exposto percebemos que Fortaleza teve um grande


avanço em relação aos CAPS, porém existe ainda muita coisa a se fazer,
recurso financeiro sabe que existe, mas parece ser completamente diferente,
pois se percebe muitas dificuldades nesse processo de evolução, faltam
aumentar mais o número de profissionais e mais unidades que possam acolher
essa demanda de forma mais estruturada.
Embora a expansão de serviços assistenciais substitutivos seja um
aspecto positivo da reforma psiquiátrica no estado do Ceará, a consolidação do
processo ainda necessita de aprofundamentos e discussão, do fortalecimento
do controle social e da formulação de uma política estadual e políticas
municipais de saúde mental com diretrizes estratégicas que, de fato
possibilitem maiores avanços na Reforma Psiquiátrica no estado e municípios.
(OBSERVATÓRIO DE RECURSOS HUMANOS EM SAÚDE, 2007).
Em continuidade ao processo de Reforma Psiquiátrica no Ceará
destacou-se sua trajetória na Cidade de Fortaleza, o movimento de Reforma
Psiquiátrica no Município de Fortaleza iniciou-se de fato a partir de 2005
quando o Município procedeu a tratativas para a estruturação da rede
assistencial de saúde mental, com a contratação de nove equipes de saúde
mental, bem como a instalação de novos equipamentos, de natureza de Centro
de Atenção Psicossocial (PÔRTO, 2010).
Ao contextualizarmos a política de saúde mental em fortaleza se faz
necessário relatar o HSMMO (Hospital de Saúde Mental de Messejana), é
unidade de referência para tratamento e formação de equipes voltadas para a
saúde mental16. O HSMM, que compõe a estrutura organizacional da
Secretaria de Saúde do Estado, é referência para o atendimento em Psiquiatria
no Estado do Ceará. Integrante da rede hospitalar do Sistema Único de Saúde
(SUS), o HSM dispõe de dois hospitais-dia com sessenta leitos distribuídos no
atendimento a psicóticos e dependentes químicos, um núcleo de atenção à
infância e adolescência, uma unidade de desintoxicação (álcool e outras
drogas) com 20 leitos masculinos e quatro unidades de internação, duas
masculinas e duas femininas com quarenta leitos cada, assegurando

16
Fonte:http://diariodonordeste.com.br –Acesso em 12/07/2013.
49

assistência gratuita a seus pacientes em clínica psiquiátrica e a sua


reabilitação.
A assistente social entrevistada relata um pouco dessa história:

Teve o desmonte dos hospitais, mas não teve a rede totalmente


completa. Alguns hospitais cederam suas vagas (leitos), como o
hospital, começamos com o Hospital Batista de fortaleza, e o hospital
de Messejana, mas acontece o seguinte, o Hospital Batista se viu que
não tinha condições de ta recebendo a demanda que tava recebendo,
então acabou com o despreparo da equipe que não tava preparada
para lidar com essa clientela, acabou se fechando os leitos no
hospital batista e também no hospital nossa senhora da conceição na
barra do ceara e a unidade de desintoxicação do hospital de
Messejana ficou altamente cheia de usuários porque não tinha e
outro suporte já que na época o suliano estava sendo fechado
também na mesma época, e a gente ficou assim, os tratamentos
especializados agora, assim de 2 anos pra cá agente já teve uma
ampliação desses leitos para outros hospitais, hospital geral de
fortaleza que ta recebendo e o Frotinha da Parangaba que também
tava recebendo, mais ainda há uma mudança, uma ampliação, tão se
estudando mais leitos, mais em hospitais para poder atender essa
clientela. (ESTRELA).

Percebemos através desse discurso que ao fechar os hospitais


existentes na época superlotou outras unidades que recebiam esses pacientes
e isso não mudou, o hospital de Messejana possui uma grande demanda, e
atualmente como relata a entrevistada para desafogar essa demanda outros
hospitais estão começando a atender também.
O HSMM ao longo da historia, dos processos e retrocessos oriundos
da Reforma Psiquiátrica sempre esteve de portas abertas a receber o paciente
que precisa de internamento, sabemos que existe uma grande demanda por
partes desses pacientes, mas conforme seu objetivo institucional o hospital
vem oferecendo o tratamento de pacientes com quadros psiquiátricos agudos
ou de quadros crônicos, sendo utilizados tratamentos biológicos e diferentes
técnicas sócio-psicoterápicas. A internação é apenas uma etapa do tratamento
e, por este motivo, é prioritariamente de curta permanência. O trabalho
realizado nessa Instituição esta dividido em: prestar assistência médico-
hospitalar e de urgência e emergência extra-hospitalar aos portadores de
transtornos mentais nos níveis de atenção secundária e terciária e desenvolver
programas de ensino e pesquisa visando à capacitação e treinamento de
50

médicos psiquiatras17.
Nesse contexto, emerge também os CAPS-AD, Centros de Atenção
Psicossocial voltados para o atendimento aos usuários de álcool e drogas
mediante a portaria SAS/89 de março de 2002 (MS, 2002), que regulamenta a
18
portaria GM/336, passando a criar no âmbito do SUS, serviços de atenção
psicossocial para o desenvolvimento de atividades em saúde mental,
direcionadas aos usuários com transtornos mentais ou decorrentes do uso
prejudicial e/ou de dependência dos fatores supracitados. Este debate será
apresentado a seguir mais detalhadamente como proposta de atenção aos
usuários de drogas.

2.4 O CAPS AD como proposta de atenção ao usuário de Drogas.

A ideia de que o consumo de droga é um fenômeno recente


demonstra ser um equivoco, sua presença revelou-se de múltiplas formas em
diferentes épocas e sociedades ao longo da humanidade.
Segundo o Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas
(OBID, 2006), o termo droga teve origem na palavra droog (holandês antigo)
cujo significado literal é “folha seca”, devido ao fato de que a quase maioria dos
medicamentos feitos na antiguidade eram preparados à base de plantas.
De acordo com a OMS- Organização Mundial de Saúde, o uso
abusivo de drogas, trata-se de um problema gravíssimo. Com isso, a OMS
aposta que em torno de 10% da população concentrada nos centros urbanos
do mundo utilizam algum tipo de substancia psicoativa (Ministério da Saúde
2003).
Pesquisas recentes apontam que os principais motivos que leva o
individuo a usar drogas são: curiosidade influencia dos amigos (mais comum),

17
Fonte site: http://www.hsmm.ce.gov.br/index.php/o-hospital/institucional– Acesso em
21/07/2013

18
Portaria/GM nº 336 - De 19 de fevereiro de 2002
51

vontade desejo de fuga (principalmente dos problemas familiares) e


dificuldades para enfrentar situações difíceis19.
Em termos de Brasil, o I levantamento domiciliar sobre o uso de
drogas revelou que nas cidades Brasileiras com população superior a 20.000
habitantes, 68% da população faz uso ou já fez uso de álcool e as regiões de
maior prevalência de usuários são o Norte e o Nordeste, tendo como faixa
etária adolescentes de 12 e 17 anos. Já em 2005, quatro anos depois o II
levantamento demonstrou que a relação ao uso de drogas psicotrópicas,
exceto o tabaco e álcool, 22,8% das pessoas no Brasil fazem uso de drogas.
Em relação ao aumento da porcentagem de usuários de álcool não houve uma
mudança significativa20.
Vale ressaltar que o uso abusivo das drogas consideradas lícitas
(álcool e tabaco) é bastante preocupante. Nesse sentido entende-se por drogas
lícitas aquelas em que o comercio e a venda é proibida legalmente, já as
drogas lícitas constituem-se ao contrario da anterior, por serem de uso livre
comercio, a qual a ênfase é dada ao álcool e ao tabaco. Atualmente, entende-
se que estas drogas supracitadas, constituem-se nas principais drogas
consumidas.
Com isso, verificamos a grande relevância que as medidas de
proteção de saúde e prevenção de agravos assumem nesse contexto,
demandando ações eficientes e eficazes a essa problemática.
Assim a partir do Movimento de Reforma Psiquiátrica temos a
construção de um novo conceito de saúde, trazendo à tona que o problema do
uso abusivo de álcool e drogas não pode ser solucionado com ações
repreensivas.
Portanto, de acordo com dados oficiais sobre Saúde Mental no SUS,
o Ministério da Saúde (2004) nos orienta que os CAPS ad devem oferecer
atendimento diário a pacientes que fazem um uso prejudicial de álcool e outras

19
All Rights Reseverd -Como surgiram as drogas-Acesso em 21/07/2013a
20
Fonte: Artigo sobre Práticas profissionais e tratamento ofertado nos CAPSad -Azevedo DM,
Miranda FAN- Texto Extraído: Azevedo DM. Estudo representacional da participação familiar
nas atividades dos centros de atenção psicossocial no município de Natal-RN [dissertação].
Natal (RN): Departamento de Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte;
2008.
52

drogas, permitindo o planejamento terapêutico dentro de uma perspectiva


individualizada de evolução contínua. Possibilita ainda intervenções precoces,
limitando o estigma associado ao tratamento.
De acordo com o Projeto terapêutico do CAPS AD da SER IV, a rede
proposta se baseia nesses serviços comunitários, apoiados por leitos
psiquiátricos em hospital geral e outras práticas de atenção comunitária (ex.:
internação domiciliar, inserção comunitária de serviços), de acordo com as
necessidades da população-alvo dos trabalhos.
Os CAPS AD desenvolvem uma gama de atividades que vão desde
o atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre
outros) até atendimentos em grupo ou oficinas terapêuticas e visitas
domiciliares. Também devem oferecer condições para o repouso, bem como
para a desintoxicação ambulatorial de pacientes que necessitem desse tipo de
cuidados e que não demandem por atenção clínica hospitalar.
Segundo Ministério da Saúde (2008), a política de atenção a álcool e
outras drogas preveem a constituição de uma rede que articule os CAPS AD e
os leitos para internação em hospitais gerais (para desintoxicação e outros
tratamentos). Estes serviços devem trabalhar com a lógica da redução de
danos como eixo central ao atendimento aos usuários/dependentes de álcool e
outras drogas, ou seja, o tratamento deve estar pautado na realidade de cada
caso, o que não quer dizer abstinência para todos os casos.
O CAPS AD tem por objetivo geral atender ás necessidades da
saúde física e mental dos usuários de álcool e outras drogas, em parceria com
a Rede de Atenção Básica, Instituições, Lideranças Comunitárias e atividades
sociais existentes, visando acolhimento, ambiência terapêutica e
gerenciamento de casos. E como objetivos específicos têm: Prestar
atendimento em regime de atenção diária para pacientes que fazem uso
prejudicial de álcool e drogas; Gerenciar os projetos terapêuticos dentro de
uma perspectiva individualizada de evolução continua; Promover o
fortalecimento de vínculos afetivos, o estreitamento de laços sociais e a
melhoria da autoestima das pessoas.
Nesses espaços se desenvolvem as seguintes: O acolhimento,
Atendimento individual e em grupo, oficinas, visita domiciliar e atividades
53

comunitárias como, por exemplo: rodas de conversa na comunidade, grupos de


formação que tem por objetivo a capacitação dos profissionais da equipe e
serviços de farmácia21.
Por isso, é de grande relevância que o assistente social tenha
conhecimento a respeito das drogas em geral, seja ela lícita ou ilícita
entendendo que essa repercussão é um avanço mundial que pode acarretar
muitas consequências na vida do usuário, seja de forma cultural, econômica,
política e psicológica.

A seguir iremos falar brevemente sobre a inserção do Serviço Social


no CAPS.

2.5 A inserção do Serviço Social no CAPS

Segundo Bisneto (2001), a inserção do Serviço Social em hospitais


psiquiátricos deu-se por força de exigências do Ministério da Previdência e
Assistência Social – MPAS, nos anos 70, a partir de 1973, quando o MPAS
enfatiza a importância da equipe interprofissional para a prestação de
assistência ao doente mental, numa de suas tentativas de melhorá-la, que se
abriu um maior espaço para o Serviço Social nas instituições psiquiátricas.
O manual do Ministério da Saúde de 2004 nos apresenta o Centro
de Atenção Psicossocial – CAPS, como um novo serviço de Saúde Mental,
onde afirma que: O Serviço Social é uma profissão historicamente ligada ao
campo de saúde mental e à família, e nesse contexto da desinstitucionalização,
recupera o compromisso ético e profissional da categoria, na luta pelo direito à
saúde de qualidade e a necessária articulação entre os atores envolvidos
nesse cenário (usuário/família/profissionais) buscando conquistar espaço de
controle social.
É necessário que o (a) assistente social no âmbito da psiquiatria
possua subsídios com relação à saúde mental, discutindo a necessidade de se

21 Fonte: todo contexto sobre o Caps da Ser IV foi retirado do seu Projeto Terapêutico
54

buscar soluções quanto aos interesses do portador de transtorno mental quer


seja na saúde psicossocial, como também ter conhecimentos acerca dos
direitos de cidadania, que vão de encontro às concepções de outras práticas
políticas que respondem à política neoliberal.
O serviço social no CAPS se da pela realização de visitas
domiciliares regularmente aos usuários do serviço, favorecendo um estudo
socioeconômico e cultural dos fenômenos que interferem no processo saúde-
doença da clientela atendida, respeitando as condições de sociais e de saúde
da mesma, favorecendo o contato médico-família-usuário, possibilitando
esclarecimentos e informações sobre a doença, participando em grupos
operativos (família, tabagismo, adolescentes) com o objetivo de realizar ações
múltiplas terapêuticas, roda de conversa, abordagens especificas (drogas,
conflitos familiares, violência, cidadania e outros), realizar triagens e anamnese
e acompanhar o processo de internação e alta do usuário em hospital de
apoio22.
Vale ressaltar que a prática do Assistente Social segue em conjunto
23
com o projeto ético-político da profissão, que vem nos oferecer um olhar para
mais abrangente para a totalidade. Construído nos últimos trinta anos, pauta-se
na perspectiva da totalidade social e tem na questão social a base de sua
fundamentação como já foi referido. Alguns conceitos são fundamentais para a
ação dos assistentes sociais na saúde como a concepção de saúde, a
integralidade, a intersetorialidade, a participação social e a interdisciplinaridade,
já ressaltados no primeiro item desde documento.
O conceito de saúde contido na Constituição Federal de 1988 e na
Lei 8.080/1990 ressalta as expressões da questão social, ao apontar que “a
saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação” (CF, 1988, Art. 196) e indicar como fatores
determinantes e condicionantes da saúde, “entre outros, a alimentação, a

22
Projeto terapêutico do CAPS SER IV.

23
CFESS CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL- Parâmetros para a Atuação dos Assistentes Sociais.
55

moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a


educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os
níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do
País” (LEI 8080/1990, Art. 3º).
Essas expressões da questão social devem ser compreendidas,
segundo Iamamoto (1982), como o conjunto das desigualdades da sociedade
capitalista, que se expressam por meio das determinações econômicas,
políticas e culturais que impactam as classes sociais.

De acordo com dados oficiais do Ministério da Saúde (1973), o


Assistente Social será o elo entre o paciente e sua família e entre o hospital e a
comunidade do qual faz parte, devendo conhecer as tensões que influem nas
vidas envolvidas, bem como as características de comportamento do pessoal e
do grupo.
Neste sentido, o atual contexto da política de saúde mental coloca
novas possibilidades para os assistentes sociais, devendo estes (as) adotarem
uma prática investigativa que seja problematizadora do real, pois só surgem
alternativas para uma intervenção profissional crítica e competente, a partir de
uma análise crítica da realidade, isto é, a partir de uma investigação concreta
feita através de situações concretas.
Os (as) assistentes sociais precisam reconhecer que eles possuem
um espaço legítimo na saúde mental, as demandas postas à profissão ao longo
da política de saúde mental podem ampliar os espaços de reconhecimento
destas no atendimento às necessidades sociais explicitadas pelos usuários da
saúde mental. Devido à abertura de novos espaços de atuação nessa área,
cada vez mais se exige do (a) assistente social um conhecimento acerca da
construção da política de saúde mental e dos diferentes elementos que a
perpassam, possibilitando assim, sua efetiva contribuição na construção e
ampliação de novos espaços reconhecedores e garantidores dos usuários da
saúde mental como sujeitos de direitos24.

24
Fonte do Artigo: Oliveira Aparecida-A atuação do Serviço Social-Acesso em: 21/07/2013
http://www.soartigos.com/artigo/13114/atuacao-do-servico-social-na-saude-mental-no-centro-
de-atenc/.
56

De acordo com o artigo de Oliveira (2009), a atuação do assistente


social na saúde mental deve contemplar tanto a área da psiquiatria quanto a do
serviço social, desempenhando acolhimento, oficinas, encaminhamentos, redes
de atenção, objetivando a cidadania, a autonomia do sujeito e a inserção na
família considerando sua totalidade social.
Nas analises feitas através dos discursos, percebemos que as
entrevistadas consideram que a sua atuação na saúde mental é de
fundamental importância, uma vez que um dos princípios fundamentais do
serviço social é a garantia de direitos, observa-se também a importância de
trabalhar as relações familiares e as questões subjetivas na perspectiva de
inserção reconhecendo o valor da pessoa como ser humano.
Os (as) Assistentes sociais nos CAPS se deparam em seu cotidiano
de trabalho com usuários que por trás do transtorno mental se encontram em
precárias condições de vida, que refletem diretamente em suas condições de
saúde, sendo necessária uma atuação que compreenda as necessidades
sociais deste usuário, em sua totalidade, procurando viabilizar ações que
ampliem o atendimento das demandas postas por ele. Assim, é preciso
ultrapassar o espaço institucional sob o qual atua, articulando-se com outras
instituições (Hospitais Gerais, INSS, Secretarias de Educação, Justiça, outras,
ONG’s, Associações, etc.) que atendam às demandas postas pela realidade
social dos usuários numa perspectiva de acesso aos direitos sociais destes.
Conforme escreveu Vasconcelos (2002):

“A ausência de mediações teóricas e de instrumental metodológico


adequado para atuação na área, dentro da profissão, criou um fosso
que impede a interação com a cultura profissional mais
contemporânea, incentivando uma autonomização da formação no
campo da Saúde Mental, que tende então a ser polarizado apenas
pelo instrumental teórico ou metodológico do próprio campo psi”.
(VASCONCELOS,2002,p.28).

É necessário que o (a) assistente social no âmbito da psiquiatria


possua subsídios com relação à saúde mental, discutindo a necessidade de se
buscar soluções quanto aos interesses do portador de transtorno mental quer
seja na saúde psicossocial, como também ter conhecimentos acerca dos
direitos de cidadania, que vão de encontro às concepções de outras práticas
políticas que respondem à política neoliberal.
57

Desta forma o assistente social passa a atuar nos Centro de


Atenção Psicossocial em um trabalho interdisciplinar que visa à reinserção do
paciente na sociedade buscando restabelecer a identidade social e a dignidade
humana dos portadores de transtornos mentais perdida em anos de exclusão.
58

CAPITLO III - UMA ANÁLISE SOBRE A PRÁTICA DO


ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS SER IV.

Nesse capitulo apresentaremos o momento mais interessante de


nossa pesquisa, o momento que fomos a campo e buscamos uma
aproximação com a realidade que buscamos conhecer. Acredita-se ser esse
um momento de extrema importância para a realização desse estudo, pois
segundo Minayo (2010, p. 202), “o trabalho de campo é considerado uma etapa
essencial na pesquisa qualitativa, onde sem ele a mesma não poderia ser
pensada”. Essa fase permite ao pesquisador uma aproximação com os
sujeitos pesquisados, e ainda segundo a autora citada, permite criar um
conhecimento a partir da realidade do campo.

3.1 Conhecendo o Cenário da Pesquisa

Em 1995 teve inicio a criação do Centro de Atenção Psicossocial


CAPS AD da REG IV, Sua localização se encontra na Rua Betel, s/n,
Fortaleza-CE no Bairro do Itapery. O universo é representado pelas Assistentes
Sociais – a amostra – refere-se às assistentes sociais inseridas no campo de
saúde mental que desejam e possuem disponibilidade para ser entrevistadas.
Conhecido como “O CAPS AD ALTO DA CORUJA”, com atendimento da
clientela a partir de 16 anos e tendo como objetivo geral atender as
necessidades da saúde física e mental dos usuários de álcool e outras drogas
pertencentes à Secretaria Regional IV, em parceria com a Rede de Atenção
Básica, Instituições, Lideranças Comunitárias e atividades sociais existentes,
visando acolhimento, ambiência terapêutica e gerenciamento de casos.
Sobre esse fato uma das Assistentes sociais esclarece:

Antigamente, há muitos anos atrás, antes de existir a policlínica,


antes de existir as escolas, aqui era um terreno alto, uma colina alta
da UECE e aqui era descampado, então nos serrotes havia uma
espécie de corujas que faziam os ninhos no chão então esse local
ficou conhecido como alto da coruja pelos ninhos da coruja, pelas
corujas que havia no local, então todo mundo só conhece aqui pelo
alto da coruja, é essa historia da comunidade (ESTRELA).
59

A justificativa de sua criação deu-se pela carência de ações de


atenção integral direcionadas ao uso de álcool e outras drogas, principalmente
nas periferias, onde se constituem os chamados “cinturões de pobreza” locais
que são marcados pela presença dos grupos de gangues; criminalidade e
violência. Diante da demanda vigente fez-se necessário a criação de uma rede
de serviços públicos de atendimento comunitário,ambulatorial,terapêutico,que
possibilitasse a proteção social,a promoção da saúde,proporcionado o
tratamento desses usuários,minimizando assim as vulnerabilidades
enfrentadas por esta população25.
Conforme o projeto terapêutico do CAPS AD SER IV, esse
equipamento tem por objetivos específicos planejar, implementar, imprimir sua
ação programas e projetos de serviço social, visando o atendimento global do
usuário que procura o serviço. desenvolver trabalhos no sentido de conhecer,
divulgar e viabilizar a integração /intercambio dos equipamentos sociais e de
saúde da área de abrangência do CAPS AD e adjacências.Conforme
observação simples outrora realizada durante a pesquisa de campo, foi
possível perceber que o ambiente utilizado para execução da pesquisa é
bastante é bastante agradável e tranquilo.
Como técnica para a coleta de dados, utilizou-se a aplicação de
questionários e entrevistas semi-estruturados e nesta ordem. Na observação
simples ou não participante o “pesquisador toma contato com a comunidade,
grupo ou realidade estudada, mas sem integrar-se a ela: permanece de fora”
(Lakatos e Marconi, 2003, p. 193). Os questionários contendo 12 questões –
objetivas e subjetivas, foram aplicados as três assistentes sócias em conjunto
com as entrevistas semi-estruturadas, visto que nos possibilitaram uma maior
liberdade nos discursos. Para o levantamento da pesquisa aqui demonstrada
veremos a seguir o perfil de cada sujeito.

25 Fonte: todo contexto sobre o Caps da Ser IV foi retirado do seu Projeto Terapêutico elaborado pela própria equipe
de Saúde Mental do Caps ad IV,
60

3.2 Perfil dos sujeitos da pesquisa.

O perfil dos sujeitos desta pesquisa foi traçado a partir de um


questionário26, aplicado a três Assistentes Sociais do CAPS– que se
dispuseram a participar e se encaixam no perfil de amostragem – contendo 12
questões objetivas e subjetivas27. Algumas questões abordam aspectos
básicos de identificação – faixa etária, ano de formação, especializações que
foram feitas ou não ao longo de sua formação e etc. Após a análise dos dados
colhidos foi possível traçar um perfil das assistentes sociais, disposto a seguir.
Torna-se importante ressaltar que os discursos foram transcritos de
forma fidedigna, sem nenhuma alteração às falas das entrevistadas e com o
objetivo de preservar a identidade das assistentes sociais entrevistadas, dei-
lhes o nome de: Estrela, Sol e Lua. As participantes têm em média 38 a 50
anos.
ESTRELA: Nasceu em 1969, tem 44 anos, é solteira, formou-se pela
UECE em 1995, fez pós graduação em: Família: abordagem sistemática possui
na área de serviço social o curso em direito previdenciário/Terapia
comunitária/projeto arte e saúde e o curso de enfrentamento ao Crack. Na área
de saúde já trabalha a dez anos, sendo no CAPS como assistente social oito
anos.
SOL: Nasceu em 1975, tem 38 anos, é solteira, formou-se pela
UECE em 2001, fez pós graduação na área Saúde da Família, possui na área
de serviço social o curso de saberes e práticas sobre crack e outras drogas, na
área da saúde trabalha apenas há 6 meses e no CAPS também.
LUA: Nasceu em 1961, tem 53 anos, formou-se pela UECE em
2004, fez pós graduação na área de saúde da família, trabalha há 6 meses no
Caps.

26
Questionários aplicados. Disponível em Apêndice A.

27
Entrevista contendo 09 questões. Disponível em Apêndice B.
61

3.3 Estudo de Campo: Analise realizada a partir de seus discursos.

Este tópico traz em si o momento mais importante deste estudo: os


discursos das Assistentes sociais entrevistadas – suas experiências,
sentimentos, sensações, percepções e etc. Além de análises embasadas em
grandes autores, de modo a explicitar a realidade estudada através de
discussões teóricas. As entrevistas foram realizadas em uma sala na própria
instituição, as quais superaram a formalidade e permitiram uma conversa
descontraída e por muitas vezes bem-humorada.
A análise e interpretação dos dados foram consideradas uma etapa
do estudo de grande expectativa e também de grande importância para a
pesquisadora, uma vez que a partir da pesquisa bibliográfica realizada
anteriormente, tornou-se possível à luz das teorias apresentadas, uma
aproximação entre o conhecimento teórico e a compreensão da realidade.
Dessa forma a interpretação dos dados foi baseada na metodologia
de Análise do Conteúdo, que de acordo com Minayo (2010, p. 303), é a
expressão mais usada na representação do tratamento dos dados de uma
pesquisa qualitativa. A autora ainda ressalta que a Análise de Conteúdo não é
apenas um procedimento técnico, trata-se de uma histórica busca teórica e
prática nas investigações sociais.
Um dos aspectos abordados durante a entrevista foi compreender o
olhar destas sobre a importância da Reforma Psiquiátrica para área de saúde
Mental.

A Reforma psiquiátrica ela veio para humanizar os atendimentos, as


pessoas que tem problemas com transtornos mentais que antes eram
tratadas de forma desumanizadas nos manicômios, desvinculados da
família. Levavam choques, eram colocadas em isolamento, e a
reforma psiquiátrica ela veio justamente para humanizar e trazer o
tratamento, colocar os usuários em contato com a família e trazer o
papel da família na vida deles. Então foi quando começaram a surgir
outros meios de atendimento, não só hospitais, ai passaram a surgir
os Caps. Na cidade de fortaleza, hoje temos 14 CAPS, 6 CAPS
gerais; 6 CAPS AD`S (álcool e drogas) e 2 Caps infantil. Um abrange
a Reg 1,3 e 5 e o outro na Reg IV que abrangem a regional 2,4 e 6,
então ela veio (referindo-se a reforma psiquiátrica) para da esse
suporte, essa ampliação no tratamento às pessoas com transtornos
mentais (ESTRELA).
62

Assim a Reforma psiquiátrica, pra mim ela contribui porque tirou o


sujeito que tava numa situação de violação de direitos humanos,
excluído da sociedade, dentro de manicômios, então teve um novo
olhar sobre esse sujeito que tem problema com transtorno mental e
trouxe esse sujeito à possibilidade desse sujeito estar na sua família,
na sua comunidade. Então se mudou o olhar de tratamento dessa
pessoa inserido ela na sociedade, acho que é a maior contribuição,
sobretudo também na questão dos direitos humanos, dos maus tratos
que tinha. Hoje você (um exemplo), você chegou aqui num momento
que agente ta comemorando o são João, onde as pessoas estão
juntas com os profissionais brincando são João, tão com os
familiares, então estão assim inseridas na sua comunidade, no seu
território,fazendo seu tratamento,em outras épocas não, estavam ali
dopadas dentro de um manicômio de um hospital presas e a certeza
que se tinha é que se entrava pra o manicômio mais não se saia, só
saia morto, então pra mim essa foi a maior contribuição porque saúde
é produção de vida,não de morte.( SOL ).

E uma nova forma de acolher e tratar o usuário, buscando junto com


ele traçar estratégias para trilhar novos caminhos, autonomia,
autodeterminação, auto realização cidadania, integração, combate ao
estigma e a inclusão social. (LUA).

Considerando os discursos dos sujeitos da pesquisa, de modo geral


para as entrevistadas, a Reforma Psiquiatria contribuiu bastante para a
humanização das pessoas que sofrem algum tipo de transtorno mental,
principalmente na garantia dos seus direitos, antes violados. Percebemos um
novo olhar, uma nova forma de acolher esses pacientes, Hoje o objetivo é
reintegrá-lo a sua família e a comunidade, inserindo em ações socioeducativas
que articulem ao mesmo tempo os profissionais e a família.
Nesse mesmo entendimento Amarante (1994) complementa:

[ ...] não mais se refere exclusivamente à reformulação dos serviços,


ao rearranjo do aparato assistencial-normativo, nem reestruturação
do texto jurídico que trata da matéria; não significa ainda
a descoberta de novas técnicas, de uma escuta ou de uma
terapêutica perfeitamente qualificada e competente, de por assim
dizer, definitiva. Reforma psiquiátrica no nosso entendimento, é o
conjunto de iniciativas políticas, sociais, culturais, administrativas e
jurídicas que visam transformar a relação da sociedade para com o
doente. A reforma psiquiátrica que estamos construindo vai das
transformações na instituição e no poder médico psiquiátrico até as
práticas em lidar com as pessoas portadoras de problemas mentais.
(AMARANTE, 1994, p.43).

Como percebemos antes da Reforma Psiquiátrica, o tratamento aos


pacientes com algum tipo de transtorno mental era apenas medicação e o
isolamento, onde muitas vezes passavam anos sem o convívio social. Com
63

isso centenas de pessoas viviam abandonadas, esquecidas, em manicômios,


com observações de degeneração, sem possibilidades clinicas, e assim por
diante (Amarante, 2011). Com a Reforma psiquiátrica surgiu à proposta de
reinserir as pessoas que sofrem de transtorno mental de volta a sociedade e ao
convívio com sua família, possibilitando um atendimento diferente do modelo
anterior.
Hoje podemos ver que a Reforma Psiquiatria trouxe para os
assistentes sociais uma atuação junto aos portadores de transtornos mentais
uma forma mais participativa, num processo educativo através do
esclarecimento e orientações visando otimizar a ressocialização social desses
indivíduos.
Quando indagadas acerca do desmonte dos manicômios e sobre o
que é feito com os usuários que necessitam de internação psiquiátrica as
profissionais ressaltaram que:

Bom é o seguinte, a Reforma Psiquiátrica tinha como proposta ter os


equipamentos, era além dos Caps, era a comunidade terapêutica,
residências terapêuticas, era uma rede de leitos em hospitais gerais
pra atender esses usuários, no entanto nós nos deparamos ainda
com a reforma psiquiátrica não na sua integridade, porque o que
aconteceu em fortaleza especificamente foi que fecharam os
hospitais psiquiátricos, mas não com a rede montada, então essa
rede ainda não estava montada, essa rede de leitos em hospitais
gerais, nem preparação dos profissionais. Então o que aconteceu foi
que, teve o desmonte dos hospitais, mas não teve a rede totalmente
completa. Alguns hospitais cederam suas vagas (leitos) começamos
com o hospital batista de fortaleza, é o hospital de Messejana, mas
acontece o seguinte, o hospital batista se viu que não tinha condições
de ta recebendo a demanda que tava recebendo, então acabou com
o despreparo da equipe que não tava preparada para lidar com essa
clientela, acabou se fechando os leitos no hospital batista e também
no hospital nossa senhora da conceição na barra do ceará e a
unidade de desintoxicação do hospital de Messejana, ficou altamente
cheia de usuários porque não tinha e outro suporte já que na época o
suliano estava sendo fechado também na mesma época, e a gente
ficou assim, os tratamentos especializados agora, assim de 2 anos
pra ca a gente já teve uma ampliação desses leitos para outros
hospitais, hospital geral de fortaleza que ta recebendo e o frotinha da
Parangaba que também tava recebendo, mais ainda há uma
mudança, uma ampliação, tão se estudando mais leitos, mais em
hospitais para poder atender essa clientela. (ESTRELA).

Nesses casos, o fato de ter acontecido à reforma não significa dizer


que em alguns casos não seja necessário ter uma internação,
entretanto a internação deve ser feita no hospital geral com leitos
psiquiátricos, então ainda existem hospitais psiquiátricos como no
caso, aqui em fortaleza tem o são Vicente de Paula, ainda tem
hospital de Messejana e o nosso lar, ainda existem mais a previsão é
64

que isso progressivamente esses leitos venha se diminuindo, como


mira Lopez um dia desses foi extinto, só que não poderia ser uma
coisa de uma vez, porque ai as pessoas iam ficar desassistidas, se as
pessoas anteriormente tinham uma referencia de hospital antes de se
criar uma rede, como é que se faria? Há Vamos acabar com todos os
hospitais, não poderia ser assim, então a rede ainda ta se
formando,se criando,tem muito que se trilhar, mas isso ai não
significa que no caso uma pessoa precise e estar em crise precise de
internação ela vai se interna só que ela não vai ficar pra sempre ali,
ela vai ter seu período de internação e vai sair e ai no que ela sai ela
vai estabilizar, ela já vai sair desestabilizada, ela vai continuar seu
tratamento no CAPS, agora o ideal era que os CAPS eles fossem
substitutivos mesmo, que as pessoas não chegassem até o momento
de crise, entendeu? Mas, em caso de crise pela reforma são
preconizados leitos psiquiátricos em hospitais gerais, da mesma
forma que se tem o setor de obstetrícia de parto no hospital Geral,
teria também os leitos psiquiátricos pra caso de crise e o restante do
tratamento seria no CAPS mesmo. ( SOL)

E acolhido e avaliado. Conta com uma equipe multiprofissional que


atuam como parceiros no trabalho do usuário e quando necessário o
medico psiquiátrico encaminhando o paciente solicitando a internação
em hospitais dos quais estão atrelados à saúde mental. (LUA)

De modo geral todas as profissionais concordaram que a Reforma


Psiquiatria possibilitou sim uma mudança significativa para a Saúde Mental,
porém ao analisarmos os discursos de Estrela e Sol percebemos que elas
citam de forma mais completa sobre o desmonte dos hospitais, segundo elas
ao fazer esse desmonte não houve a preocupação de montar uma rede
estruturada que tivesse profissionais preparados para atuar nessa área, e que
a rede de atenção psicossocial como relata Sol, ainda tem um longo caminho a
trilhar. Pois sabemos que existe um grande percurso a ser percorrido pela
saúde publica para que haja uma melhor integração ao paciente que precisa de
internamente e acompanhamento hospitalar durante seu tratamento.
As assistentes sociais também foram questionadas sobre o que
significava a saúde mental para elas:

A saúde mental pra mim significa tudo porque a pessoa com,


principalmente agente que trabalha nessa área de transtornos
mentais e dependentes químicos nosso caso agente tem que ta bem
com a gente pra poder trabalhar com os outros, porque não adianta
agente fingir que gosta de uma área se você não estar preparado pra
ela, porque são muitos desafios, então realmente agente precisa
estar bem, agente precisa estar bem psicologicamente, agente ver
que os preconceitos ainda existem, a sociedade é muito
preconceituosa, ela quer realmente é isolar, é o tratamento, elas não
vem um tratamento para as pessoas com transtornos mentais sem
ser na visão hospitalar, hospitalocêntrica, ela ainda ver muito a visão
do hospital, internamento a família ficar livre, quando verdade não é
65

isso. e agente prima muito pra a questão da autonomia desses


pacientes,a aquesta da inserção social.agente prima
muito.(ESTRELA)

Pergunto: ainda existe muito estigma?

Existe, é tanto quando a gente vai encaminhar usuários de


transtornos mentais a cursos profissionalizantes, eles barram, por não
terem a escolaridade que exigem, ele não tem o perfil da idade que
exige, mas não vêm que eles podem ter acesso pelo menos a um
curso, então as portas muitas vezes são fechadas, e dentro dos
CAPS que eu posso falar, CAPS geral CAPS infantil e CAPS AD é
agente promove algumas oficinas para que eles aprendam ne na
oficina e pratique em casa como uma fonte de renda,o CAPS a gente
tem um cooperativa que é o COPCAPS que foi da regional III, que foi
o único CAPS que conseguiu realmente formar cooperativa com
artesanato e hoje os pacientes de la se mantém dessa
cooperativa,mas os CAPS ad ainda não têm.(ESTRELA).

Rapaz a saúde mental é essencial para o ser humano, pra mim, acho
que sem saúde, a saúde mental ela, as pessoas precisam ter saúde
mental pra ta vivendo em sociedade, estando bem consigo mesmo,
com a sua família trabalhando. Saúde mental ela envolve uma serie
de coisas, e no âmbito assim mais da política de saúde mental acho
que ela é essencial para o bem estar do indivíduo em termos gerais,
que a saúde é compreendida como uma serie de condicionantes,
você tem que ta bem alimentada você tem que ter habitação, você
tem que ter lazer, ter a efetividade, então isso tudo envolve a saúde
mental também. (SOL).

E a promoção de cidadania de pessoas com transtornos mentais.


Trabalhar a potencializarão como instrumento de inclusão social e o
combate ao estigma. (LUA)

A respeito da Saúde mental todas responderam que é essencial


para nossa vida, principalmente para quem trabalha com pacientes com
transtornos mentais e dependentes químicos, pois é necessário estar bem para
passar confiança e otimismo para o usuário, porque não adianta fingir que
gosta de uma área se você não se sente preparado pra ela. Temos que ter um
compromisso não apenas com o usuário, mais com nossa percepção critica de
analisar, uma identificação do profissional com os fatos de forma criteriosa e
humana, para isso é necessário estar bem consigo mesmo. Já para Lua teve
um significado diferente, segundo ela a saúde mental vem para promover aos
pacientes sua autonomia.
A saúde mental é trabalhada coletivamente, e com base na
concepção ampliada de saúde, causa impactos no trabalho dos profissionais,
pois cria necessidade de intenso diálogo, planejamento em conjunto. Através
disso, as fronteiras entre os profissionais aparecem nesse modelo menos
66

"rígidas", pois o trabalho torna-se cada vez mais coletivo e prático, exigindo a
constante interação e comunicação.
Ao discutirmos sobre a percepção dos mesmos sobre a prática do
assistente social responderam que:

O trabalho do assistente social na saúde mental é um grande desafio,


é desafio por cima de desafio, digo que é engolir o leão de chácara
todo dia por que é um trabalho difícil, não é fácil você trabalhar. É
com famílias que ainda não tem uma visão aberta pra ta vendo que
tanto ela quanto o usuário precisam de tratamento,porque não
adianta agente tratar o usuário sem tratar a família,porque a família
é um grande elo,é a grande ponte e muitas vezes a família é
resistente tanto quanto o usuário,mas ela não se percebe como
resistente,ela acha que o problema é só do usuário,quando muitas
vezes chega essa parceria ser muito conjunta,porque a relação
simbiótica entre a família e o usuário é grande,é a questão do teu
sofrimento meu prazer, meu prazer teu sofrimento então essa relação
ela é muito presente na família,principalmente famílias com
dependentes químicos né que quando o paciente fica bom a família
não sabe em que vai se apoiar,que ela vai se gerar,tudo ela se volta
pra questão da dependência.Então agente tem que trabalhar um
trabalho árduo,agente procura mobilizar a família de todos as formas,
de todos os meios, mas é um grande desafio, porquê agente além de
ter a família para mobilizar o grande desafio,a gente tem essa visão
hospitalocêntrica muito presente,então a gente começa também a ter
desafio para desmistificar essa visão hospitalocêntrica, essa visão de
que só o medico sabe de tudo, que os profissionais não sabem
mais.A gente ta vendo que não,que a gente pode contribuir é tanto
pra questão de ver que não é só o medicamento,que é muitas vezes
os usuários precisam,precisam mais de apoio do que propriamente
medicação, então agente já começa a desmitificar com a família essa
questão,mas é um desafio. (ESTRELA).

Importantíssimo o trabalho da gente por que agente trabalha com o


individuo mais a gente trabalha com a família, a gente articula o
nosso trabalho no território, por que não é simplesmente o usuário
estar dentro do serviço do CAPS a gente faz uma articulação com os
demais serviços do território, as demais entidades igrejas,
associações, o que a comunidade pode ta oferecendo, o tratamento
do usuário não é restrito ao CAPS, ele pode também ta ampliando
por que o objetivo do tratamento é autonomia, é a pessoa ter
autonomia de vida, o objetivo não é ficar eternamente aqui no CAPS,
se não a gente estaria cronificando o paciente aqui igual na época
dos manicômios, o objetivo é que essa pessoa tenha condições,
tenha alta de sair, tenha alta e tenha condições de viver
normalmente, ai eu acho que o assistente social é importantíssimo
nisso, porque ele faz vinculo com a família, ele vê outras situações
dentro da família que as vezes prolongam a própria doença, que
podem ser fatores que desencadeiam a doença. ( SOL).

Tem sido muito importante, principalmente no que se refere ao


desenvolvimento de atividades com os usuários. Trabalha em uma
perspectiva de desenvolvimento de autonomia e cidadania aos
usuários, configurando-se um novo paradigma no campo da saúde
mental. (LUA).
67

Como foi relatado no discurso acima da Estrela, podemos perceber


que a pratica profissional acima de tudo é um grande desafio, para ela a parte
mais frisada é que além de tratar do paciente é preciso tratar também de sua
família, infelizmente segundo ela muitas famílias ainda não possuem uma visão
aberta sobre o tratamento. E não ajuda com o desempenho no tratamento dos
pacientes.
Já para Sol e Lua elas explanam que a prática profissional tem um
alcance mais significativo, pois temos que levar os pacientes a uma autonomia
junto à sociedade fazendo com que ele não fique preso ao CAPS por muito
tempo, mas que ele tenha alta e condições de viver normalmente como
qualquer outro cidadão de direito. Sol relata também que pra ela fazer a
articulação do usuário com a família e cuidar do território que esse individuo se
localiza é de grande importância para a sua prática profissional.
Sobre os desafios e as maiores dificuldades enfrentados pelo
Serviço Social na execução de suas atividades no CAPS, ressaltaram que:

Olha o maior desafio do serviço social é o seguinte, por exemplo:


atualmente ta sendo o que? Falta de transporte, a gente tem um carro
só três turnos por semana, esses três turnos para todos os
profissionais, pra fazerem todas as visitas de usuários é muito pouco,
a gente tem o desafio de ter poucos recursos. [...] tem muitos
médicos que não são preparados para atendimento de pessoas com
transtorno mental, porque acham que é desvinculado né da saúde
como um todo, e não é, eles são pessoas, eles precisam de
tratamento, eles tem uma doença clinica, não é só clinica, é doença
psicológica por trás, e muitas vezes os médicos não querem perceber
essa doença psicológica por trás, só querem receber com a doença
clinica e agente depara com essa dificuldade [...] Depara com a
dificuldade muito grande que é de preconceito,a gente já teve
usuários nossos que faleceram por questão de negligencia,por que os
médicos não quiseram atender,porque isso era questão de
álcool,então se é álcool é álcool mesmo,então deixa ai que quando
ficar bom passa,e a pessoa acabou morrendo por derrame
cerebral.(ESTRELA).

Percebemos através desse discurso, que as assistentes sociais


encontram dificuldades adicionais para avançar, em diversos campos, os
recursos destinados a saúde Mental ainda não são suficientes para dar o
devido suporte técnico e psicológico que o paciente necessita muitas vezes o
próprio profissional se ver sem condições de trabalhar, pois faltam subsídios
68

para a efetivação de um desempenho com qualidade. O despreparo por parte


de muitos médicos,que não percebem o paciente em sua totalidade e os
preconceitos que cercam esses usuários.
Eu acho que o maior desafio pro profissional de serviço social é
alinhar a teoria e a pratica, é não ficar tarefeiro não ficar um
profissional ativista, que só cumpre tarefas mais ele da um sentido a
sua pratica, a buscar estudar [...] Então a gente tem que tomar muito
cuidado pra a gente não se acomodar e buscar aprender mais
também, sempre delimitando o que é que é atribuição do assistente
social (SOL).

A consolidação da acessibilidade e equidade; A qualidade do


atendimento deve ser em todas as regiões; A falta permanente de
formação e qualificação dos profissionais. (LUA).

Nesse discurso foi possível perceber que outro desafio enfrentado


pelo Assistente Social é dar sentido a sua pratica, é preciso estar sempre
alinhando a teoria com a prática, ter a capacidade de ser um profissional
questionador e critico, analisar o problema questionar e buscar estratégias para
solucionar a demanda posta a ele. Procurar ser um profissional dinâmico e sair
da acomodação que se reflete diante dos fatos, por ser um profissional que
trabalha em equipe multiprofissional é necessário que entenda um pouco de
cada área, precisa esta sempre se atualizando.
De um modo geral as opiniões se cruzam, para elas são vários os
desafios a ser enfrentado, o assistente social não pode ficar restrito apenas as
suas ações, ele precisa entender de cada profissão um pouco, pois sua prática
se da através da ação conjunta com outras profissões e novos saberes.
Quando questionadas sobre as principais demandas trabalhadas
pelo assistente social e quais os instrumentais usados:

Bom a principal demanda, eles vem com demanda de auxilio doença,


auxilio beneficio pra aposentadoria, ele vem quando é pra é emprego,
trabalho, cursos profissionalizantes, eles vem com demanda pra
cadastro único, eles vem com demanda da família, os vínculos
familiares fragilizados, pra trabalhar a família, pra melhorar esses
vínculos, ele vem com a demanda de falta de oportunidade nas
escolas, então a gente fala com muitas escolas pra poder reengajar
esse e a demanda maior que a gente enfrenta atualmente são as
demandas de visitas domiciliares e o carro pouco pra atender tantas
visitas.

E os instrumentais usados?
Bom, a gente tem os instrumentos que a gente utiliza que são os
formulários de visitas, a gente tem o prontuário dos usuários que é
69

quando agente faz a anamenese (a triagem de cada um dele), a


gente tem o relatórios que a gente faz mensal, temos os relatórios
que a gente faz semestral de 6 em 6 meses do serviço e temos a lista
de frequência deles nas oficinas.(ESTRELA).

A gente aqui no CAPS é assim, a gente faz muito acolhimento, é o


atendimento individual, existe muita demanda pra acesso a beneficio
como BPC (orientação ao benéfico da prestação continuada)
orientação previdenciária muito a gente porque as pessoas às vezes
estão trabalhando ai são acometidas de um quadro mais grave de
dependência, ai para se tratar elas precisam se ausentar do seu
emprego, ai isso demanda ate um conhecimento na área de
previdência, e outro, e o instrumento assim basicamente é um
cadastrado ou então a própria legislação previdenciária, a LOAS, e
articulação intersetorial, a gente faz muita visita institucional e a gente
sempre ta atuando em parceria com o CRAS, com igrejas, e a gente
utiliza muito isso. (SOL).

São pessoas que apresentam transtornos decorrentes do uso/abuso


e dependências psicoativas (álcool e outras drogas) adultos e jovens
a partir de 16 anos, de ambos os sexos. Trabalhamos com os
seguintes: Anamenese, prontuários, encaminhamentos, atendimentos
individuais, atendimentos para famílias, visitas domiciliares, projeto
terapêutico, oficinas, grupos, atividades comunitárias e internação.
(LUA).

De um modo geral os sujeitos da pesquisa têm opiniões


semelhantes, para elas as principais demandas estão voltadas pela procura de
informações sobre o BPC, encaminhamentos para o auxilio doença, cadastro
único, cursos profissionalizantes e acompanhamento familiar. Os instrumentos
usados hoje é o acolhimento, os prontuários, as visitas domiciliares, oficinas,
grupos, atividades comunitárias e em casos mais graves a internação.
Colaborando nesse entendimento Bisneto (2011) destaca:

O serviço social atua na obtenção de algum beneficio, direito ou


assistência material que permita ao usuário uma melhor integração
ao atendimento psiquiátrico ou à sua vida social. Um caso clássico é
o “Beneficio de Prestação Continuada” para idosos,carentes e
deficientes.outras pensões ou aposentadorias são requisitadas com o
apoio do Serviço social,assim com outros remédios gratuitos,passes
livres para ônibus,obtenção de cesta básica e outros tipos de
auxilio(BISNETO,2011,p.129-130)

O Serviço social atua nos encaminhamentos dos usuários para


diversos serviços, mesmo não sendo prestados pela instituição psiquiátrica, os
usuários muitas vezes chegam sem a informação e com o objetivo de informar
e esclarecer o Assistente social atua nessa demanda, oferecendo um
atendimento melhor ao paciente.
70

Ao serem indagadas sobre a sua pratica frente aos usuários elas


responderam:

Bom frente aos usuários aqui, como eu to há oito anos nesse CAPS,
os usuários já tem um vinculo bem maior comigo, isso não é
diferente, familiar também tem porque eu estou há mais tempo,
praticamente eu faço parte da implantação do CAPS em fortaleza,
que me deixa orgulhosa de ta continuando, apesar de todas as
dificuldades, mas é uma área que eu gosto, me identifico, eles
percebem isso, os usuários percebem, a gente procura ter esse
compromisso, porque se você não gostar você desiste, se você não
se identificar você desiste, porque os desafios são muitos, e precisa
agente ta todo tempo estudando, pra se ter ideia eu tive ate que
estudar semiologia e patologia do transtorno mentais do Paulo dela
Carroudo, pra poder a gente entender quais eram os transtornos,
como se identificavam,não para dar o diagnostico de um usuário, mas
para agente perceber que personalidade ele vem para agente, se é
com personalidade histriônica, se com personalidade sem ser
histriônica, se é simplesmente é um transtorno de base e se não e um
transtorno de base vinculado à dependência química, então agente
teve que ir buscar, e só vai aonde?Querendo, porque se o
profissional não tiver esse compromisso ele não vai trás, ele
simplesmente não quer saber, e agente que quer saber e que tem o
compromisso tem ta todo tempo estudando e se atualizando por
conta própria. (ESTRELA).

Ao analisarmos os (3) discursos apresentados, foi possível perceber


ao longo desse estudo que a entrevistada (Estrela), possui uma experiência
significante para essa pesquisa, possui uma experiência bem mais completa
sobre os assuntos questionados ao longo desse estudo. Sua desenvoltura
sobre todos os temas nos faz perceber seu comprometimento ético político
com a profissão em cada resposta colhida foi possível perceber sua dedicação
e preocupação com a demanda atendida. Ficou claro que seu compromisso vai
além dos desafios enfrentados dia á dia no CAPS, foi muito gratificante
perceber sua preocupação em estar sempre estudando e se preparando para
entender as questões apresentadas oriundas da questão social que se
manifesta de formas diferentes a cada atendimento.
Seguindo essa temática, as demais Assistentes Sociais ressaltaram:
Olha, eu sou muito centrada, assim eu gosto de dar um bom
atendimento, eu acho que eu me interesso pelo caso, pelo caso
individual, gosto de dar uma resposta, se eu não souber eu procuro
estudar, procuro ter uma resposta, e assim os usuários não tem
reclamando não, acho que eles podem dizer mais eu considero que
eu vou atrás, corro atrás. (SOL).
71

Avalio como um novo modelo de atendimento a população de sua


área de abrangência, realização de acompanhamento e reinserção
social dos usuários, o exercício dos direitos civis e fortalecimentos
laços familiares. (LUA).

Ao analisarmos esses discursos percebemos que Estrela e Sol se


preocupam bastante em oferecer um atendimento de qualidades aos usuários,
procuram se informar e se forma de forma mais completa, fazendo cursos
sobre as questões abordadas dentro do CAPS, possibilitando assim um
atendimento qualificado e humanizado.
Ao analisarmos a fala de (LUA), percebemos que ela avalia sua
prática como um novo modelo de atendimento, que possibilita para o usuário
um acompanhamento familiar e a garantia das informações sobre os direitos
dos usuários.
Nesse sentido os dados colhidos nessa pesquisa nos possibilitou
observar que a Reforma Psiquiátrica brasileira trouxe uma nova visão de
tratamento e acompanhamento para as pessoas com transtornos mentais. A
criação dos CAPS, assim como a inserção de ações de saúde mental nos
vários níveis de complexidade do sistema de saúde, assume um importante
papel no cenário das novas práticas de saúde mental, configurando-se como
dispositivos estratégicos para a transformação do modelo hospitalocêntrico.
É importante relatar que várias foram às mudanças ocorridas ao
longo desses anos na atenção às pessoas com transtornos mentais. No
entanto, percebemos que há, no imaginário da sociedade, preconceitos
enraizados que são difíceis desconstruir, inclusive em relação às práticas dos
profissionais de saúde.
Na sociedade, de um modo geral os pacientes que sofrem algum
tipo de transtorno mental são estigmatizados, carregado de preconceitos, são
consideradas perigosas, muitas vezes sem oportunidades de mudar. Nessa
perspectiva Amarante, (2011) discorre:
A psiquiatria tradicional é que construiu esta imagem de que a pessoa
com transtorno mental é louca, insana, insensata, perigosa, etc. Nós
que compartilhamos de uma nova visão da psiquiatria precisamos
mudar esta visão, demonstrando que não e assim, que é possível
tratar as pessoas com outras bases, mais solidaria e ética, sem
excluí-la e sem ferir sua dignidade. (AMARANTE, 2011).
72

Em suma, a nova forma de organização dos serviços, perpassando


os diversos níveis de complexidade do sistema de saúde, possibilita uma
articulação maior dos serviços entre si e desses serviços com os demais
serviços de saúde assim como com os diversos setores da sociedade.
Essa articulação de forma horizontalizada viabiliza a assistência de
maneira mais integrada aos seus usuários, articulando os cuidados aos
usuários com uma gama de possibilidades no seu território e nos demais
equipamentos sociais, contribuindo para a (des) construção da segregação e
do confinamento das pessoas portadoras de transtornos mentais.
73

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sem ter a pretensão de esgotar o assunto, a partir do estudo


realizado percebemos o quanto ainda é preciso avançar no que diz respeito à
saúde mental, principalmente quando o assunto é carregado de preconceitos e
discriminação à pessoa que possui algum tipo de transtorno mental. Na maioria
das vezes tenta-se inserir essas pessoas de volta a sociedade, mas
infelizmente são recusadas por algum motivo, nem sempre reveladas.
A partir da Reforma Psiquiátrica foram criados serviços capazes de
ser uma referência institucional permanente de cuidados integrais, são
incorporados ao campo dos cuidados procedimentos e instituições que visam a
resocialização dessas pessoas a sua vida normal, estão previstos a criação de
residências terapêuticas, onde esses usuários pudessem compartilhar com
outras pessoas em seu tratamento, oferecendo também um lazer assistido e
outras formas de intervenção ampliada, em nível de Fortaleza esse modelo
ainda está em construção.
Dessa forma, ainda que a Reforma Psiquiátrica traga em seu bojo
uma série de medidas que devem ser aplicadas com seriedade e compromisso
nos é visível que seus princípios não foram integralmente materializados. Cabe
ressaltar a ausência de vontade política, principalmente por questões de ordem
financeira, que impossibilita a implantação dos chamados serviços alternativos
em detrimento das longas internações, servindo mais uma vez como exemplo
os Centros de Atenção Psicossocial que contribuem para a cidadania do PTM
bem como auxilia a família em seus cuidados.
Porém, há de se reconhecer que a saúde mental nos moldes em que
se apresenta atualmente traz consigo o resultado de inúmeras lutas de
profissionais e usuários que buscam pela efetivação de direitos e atendimento
digno e de qualidade. Entretanto não se aderiu a esta concepção de forma
majoritária, pois ainda hoje estão presentes, e com certa força, os grandes
hospitais psiquiátricos que prezam pelo isolamento e segregação do paciente
como forma de tratamento.
Diante dos dados colhidos e das experiências que vivenciei ao longo
deste estudo pude perceber que o assistente social se depara com inúmeros
74

desafios em seu campo de trabalho, desafios esses que os deixam fragilizada


diante da demanda exposta a sua frente e que por muitas vezes falta
condições para resolvê-las. Além de se identificar e gostar é preciso ter
competência teórico metodológico e técnico operativo do comprometimento
com o nosso projeto ético político, através do qual nos comprometemos com a
qualidade, só assim a satisfação torna-se eficaz, pois não é fácil lidar com
pacientes que sofrem de transtornos mentais, a gente precisa esta bem para
cuidar dos outros.
Este estudo procurou refletir sobre todo o processo da Reforma
Psiquiátrica, onde foi possível compreender um pouco mais sobre esse
processo, onde sua principal contribuição foi a diminuição do número de
manicômios existentes, contribuindo também para o surgimento de um novo
modelo de atendimento, onde se busca a melhoria dos pacientes em
tratamento, nesse contexto surgi os centros de atenção psicossocial os CAPS.
Esse novo equipamento surge com o propósito de reintegrar os pacientes com
transtornos mentais ou pacientes Ad (usuários de álcool e drogas) de volta a
sociedade e a seu convívio familiar, onde a preocupação agora esta voltada
para recuperação da autonomia perdida desses pacientes.
Nos discursos e analises colhida nessa pesquisa, podemos observar
que a Reforma Psiquiátrica brasileira trouxe uma nova visão de tratamento e
acompanhamento para as pessoas com transtornos mentais. A criação dos
CAPS, assim como a inserção de ações de saúde mental nos vários níveis de
complexidade do sistema de saúde, assume um importante papel no cenário
das novas práticas de saúde mental, configurando-se como dispositivos
estratégicos para a transformação do modelo hospitalocêntrico.
É importante relatar que várias foram às mudanças ocorridas ao
longo desses anos na atenção às pessoas com transtornos mentais. No
entanto, percebemos que há, no imaginário da sociedade, preconceitos
enraizados que são difíceis desconstruir, inclusive em relação às práticas dos
profissionais de saúde.
Em suma, cabe ao profissional ir além das fronteiras do imediatismo,
com o distanciamento necessário das funções repetitivas. Cabe um constante
investimento no processo de apreensão da realidade e das mudanças que
75

ocorrem dia a dia na sociedade, possibilitando a intervenção profissional por


meio de uma qualificação continuada, entender que o assistente social precisa
estar sempre se reciclando e renovando-se. Essa pesquisa possibilitou um
olhar mais abrangente sobre a prática do assistente social aos usuários
portadores de transtornos mentais, desejo aprofundar esse tema e estudar
mais sobre saúde mental, com o objetivo futuro de analisar algumas carências
percebidas durante esse processo de pesquisa.
76

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Desinstitucionalização na Reforma Psiquiátrica. In: Saúde em Debate. 45:
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PORTO, Isabel Maria Salustiano Arruda. A Implementação da Reforma


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ROSA,Lúcia Cristina dos Santos.Transtorno Mental e o cuidado na


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SAMPAIO, J. J. C.; GUIMARÃES, J. M. X.; ABREU, L. M. Supervisão clínico


institucional e a organização da atenção psicossocial no Ceará. São
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TENÓRIO, F.: A Reforma psiquiátrica brasileira, da década de 1980 aos


dias atuais: história e conceito.História, Ciências, Saúde — Manguinhos,Rio
de Janeiro, vol. 9(1):25-59, jan.-abr. 2002

VASCONCELOS, Eduardo Mourão. Saúde Mental e Serviço Social: o desafio


da subjetividade e de interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez, 2002.
78

ANEXOS
79

ANEXO
80
81

APÊNDICES
82

APÊNDICE A – Questionário.

Data:_______/_______/_

I – Dados do Perfil

1. Entrevistado:________________________________________________
_____
2. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
3. Idade: ______

4. Estado civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Viúvo ( ) Divorciado


5. Ano de Formação:___________
6. Em qual instituição: ________________________________
7. Pós-graduação: ( ) SIM ( ) Não

Se sim, especificar:

( ) Especialização. Área:___________________________________

( ) Mestrado.Área:________________________________________

( )Doutorado. Área:_______________________________________

II Nos últimos 3 anos você fez algum curso na área de:

8. Serviço Social? ( ) sim ( )Não


Especificar: _______________________________________________
9. Na área da Saúde Mental? ( ) sim ( ) Não
Especificar:________________________________________________
10. Na área de álcool e outras drogas? ( ) sim ( ) Não
Especificar:_______________________________________________
11. Tempo de trabalho como assistente social na área da
Saúde?____________________________
12. Tempo de trabalho como Assistente Social no CAPS AD SER
IV?________
83

APÊNDICE B – Entrevista.

Nome:_____________________________________________________

1. Sobre a Reforma Psiquiátrica, em sua opinião qual foi sua principal


contribuição para a área da saúde mental?
2. No processo de desmonte do manicômio, o que é feito com os
usuários que necessitam de internação psiquiátrica?
3. O que significa Saúde mental para você?

4. Como você percebe o trabalho do Assistente Social na saúde


mental?
5. Como você avalia a importância da implantação dos Caps em geral e
especialmente em Fortaleza?
6. Em sua opinião como é possível por em prática Políticas Públicas ao
mesmo tempo criativas e pautadas pelo direito de cidadania ao
portador de transtorno mental?
7. .Sob seu ponto de vista quais as maiores dificuldades e desafios
enfrentados pelo serviço social para a execução de suas atividades
no Caps?
8. Qual a principal demanda trabalhada pelo assistente social e quais
os instrumentos usados?
9. Como você avalia a sua prática profissional frente aos usuários?
84

APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Questionário).

FACULDADE CEARENSE - FaC


TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos a senhora a participar da pesquisa TRABALHO DO ASSISTENTE


SOCIAL NO CAPS AD DA SER IV, sob a responsabilidade da pesquisadora Marilene Noronha
da Silva (orientanda) e orientação da Profª Virzângela Paula Sandy Mendes, que tem por
objetivos Analisar como é realizado o atendimento do serviço social aos pacientes com
transtornos mentais.
Sua participação é voluntária e se dará por meio do preenchimento de um questionário
contendo questões objetivas e subjetivas que tratará de aspectos relativos à política de saúde
mental, como também irá analisar os principais desafios enfrentados por esses profissionais na
execução de suas atividades e suas principais demandas.
Esperamos que essa Pesquisa possibilite reflexões importantes acerca do cotidiano
vivenciado por essa categoria no contexto atual. Os resultados desta pesquisa serão
publicados nos meios científicos e em nenhum momento a Senhora será identificada. A
senhora não terá nenhum gasto ou ganho financeiro por participar desta pesquisa.

Se depois de consentir em sua participação a Sra. desistir de continuar participando,


tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, seja
antes ou depois da coleta de dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua
pessoa. Para qualquer outra informação, a Sra. Poderá entrar em contato com a pesquisadora
no endereço: Rua Alves Bezerra, 225 Siqueira e pelo telefone (85) XXXX-XXXX.

Eu,
_______________________________________________________________
_, fui devidamente informada sobre o teor desta pesquisa. Sendo assim,
concordo com minha participação, assinando em duas vias de igual teor.

___________________, ______ de _______________ de 2013

_______________________________________________________________
Assinatura do participante

_______________________________________________________________
Assinatura do Pesquisador
85

APÊNDICE D – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Entrevista).

FACULDADE CEARENSE - FaC


TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos a senhora a participar da pesquisa TRABALHO DO ASSISTENTE


SOCIAL NO CAPS AD DA SER IV, sob a responsabilidade da pesquisadora Marilene
Noronha da Silva (orientanda) e orientação da Profª Virzângela Paula Sandy Mendes,
que tem por objetivos Analisar como é realizado o atendimento do serviço social aos
pacientes com transtornos mentais.
Sua participação é voluntária e se dará por meio de uma entrevista contendo
10 questões subjetivas que tratará de aspectos relativos à política de saúde mental,
como também irá analisar os principais desafios enfrentados por esses profissionais
na execução de suas atividades e suas principais demandas.
Esperamos que essa Pesquisa possibilite reflexões importantes acerca do
cotidiano vivenciado por essa categoria no contexto atual. Os resultados desta
pesquisa serão publicados nos meios científicos e em nenhum momento a Senhora
será identificada. A senhora não terá nenhum gasto ou ganho financeiro por participar
desta pesquisa.
Se depois de consentir em sua participação a Sra. desistir de continuar
participando, tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase
da pesquisa, seja antes ou depois da coleta de dados, independente do motivo e sem
nenhum prejuízo a sua pessoa. Para qualquer outra informação, a Sra. Poderá entrar
em contato com a pesquisadora no endereço: Rua Alves Bezerra, 225 Siqueira e pelo
telefone (85) XXXX-XXXX.
Eu, ________________________________________________________________,
fui devidamente informada sobre o teor desta pesquisa. Sendo assim, concordo com
minha participação, assinando em duas vias de igual teor.

___________________, ______ de _______________ de 2013

_______________________________________________________________
Assinatura do participante

_______________________________________________________________
Assinatura do Pesquisado

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