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PERFIL PSICOLÓGICO DE PESSOAS COM DEPRESSÃO MAIOR A OTICA DO


PSICODIAGNOSTICO

EVELLEY SANTOS¹
FILIPE JUNQUEIRA¹
GIOVANA LEITE¹
GISELLE SOUZA OLIVEIRA¹
BEATRIZ RABELO ALVES²

¹ Acadêmicas/os do curso de psicologia da Faculdade São Francisco de Barreiras – FASB, Barreiras/BA.


Contato: giovanafernandesleite@gmail.com
² Docente do curso de Psicologia da Faculdade São Francisco de Barreiras – FASB, Barreiras/BA, mestranda
em Psicologia e Educação pelo Centro de Ensino de Brasília. Contato: beatriz@fasb.edu.br

INTRODUÇÃO

O psicodiagnóstico é uma avaliação psicológica, feita com propósitos clínicos


específicos. É um processo que visa a identificar forças e fraquezas no funcionamento
psicológico, com um foco na existência ou não de uma psicopatologia (Cunha, 2008).

De acordo com Cunha, (2008) atualmente, o psicólogo utiliza estratégias de avaliação


psicológica com objetivos bem definidos, para encontrar respostas a questões propostas com
vistas à solução de problemas. No presente artigo procurou se investigar se o psicodiagnóstico
pode contribuir para a identificação de características de depressão maior em adultos e, se
identificados quais os traços mais comuns, como também qual seria o possível prognóstico.

A depressão, como aponta Canale & Furlan (2006) é na atualidade considerada uma
desordem de humor. No entanto, está longe de ser uma entidade clínica única, apresentando
muitas facetas e uma variedade de possíveis etiologias. Logo, tais variedades de etiologias
poderiam complicar para montar um padrão de perfil psicológico, entretanto de acordo com
alguns autores trazidos a seguir, é possível identificar as características mais comuns desses
perfis.
O Transtorno Depressivo Maior que será trabalhado no presente artigo é caracterizado
pelo DSM-5 (APA, 2014) como presença de humor deprimido na maior parte dos dias, quase
todos os dias; tristeza, insônia ou fadiga também são falas relatadas com frequência por
pessoas acometidas por esse transtorno assim como sentimento de culpa, falta de energia,
dificuldades para pensar, concentrar-se e tomar decisões.
Para configurarem-se como um quadro Depressivo Maior, segundo critérios do DSM-
5, esses sintomas devem persistir, por um período mínimo de duas semanas consecutivas,
afetar o funcionamento social, profissional e outras áreas importantes da vida do indivíduo e
estarem acompanhados de sofrimento clinicamente significativo. É importante ressaltar que
pessoas com quadros leves de depressão maior, podem aparentar um funcionamento pessoal
normal, no entanto, geralmente, esses indivíduos despendem um esforço mais acentuado para
a realização de tarefas do que pessoas sem sintomas da doença.

DESENVOLVIMENTO

17º Congresso de Iniciação Científica da FASB, 2019, Barreiras – Ba


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MÉTODO
O presente artigo é uma revisão sistemática da literatura elaborado de acordo com os
acervos bibliográficos de confiabilidade disponíveis, ou seja, artigos científicos atualizados,
sites e livros, utilizando autores que são referências na área de psicodiagnóstico, como Cunha
(2008), o DSM-V (APA, 2014), entre outros.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
ENTREVISTA
Dentro do psicodiagnóstico existem instrumentos de grande relevância para
diagnóstico e prognóstico das patologias. De acordo com Oliveira, Melo e Oliveira, (2012) a
anamnese faz parte do procedimento, através dela são obtidas informações básicas, objetivas e
que não apresentam mudanças ou são relativamente estáveis na vida do paciente (como o
endereço de residência, local e data de nascimento, etc.). A entrevista, por sua vez, pode ser
estruturada ou semiestruturada e vem com o objetivo de uma coleta de dados gerais e
subjetivos, a fim de saber sobre a história de vida daquele paciente, isto é tudo que for
relevante para o proposito a ser avaliado.
Nessa oportunidade o psicólogo poderá fazer algumas observações e através disso
selecionar possíveis testes para confirmação das hipóteses criadas através das respostas do
indivíduo. Dentro do psicodiagnóstico a entrevista exige do profissional de psicologia um
preparo prévio, ter conhecimento das psicopatologias, como exemplo a depressão e seus
critérios diagnósticos. De acordo com Cunha (2000) e Tavares (2000), a entrevista deve ter
por finalidade maior descrição possível das informações obtidas.

INVENTÁRIOS, ESCALAS E TESTES PROJETIVOS

Ely e col., (2014), afirma que sendo a depressão um transtorno que pode prejudicar as
pessoas e a sociedade, ela deve ser avaliada de maneira mais precisa, considerando-se seus
diferentes níveis e a possibilidade de ser um estado ou um traço de personalidade para que,
dessa forma, se possa oferecer um tratamento mais adequado para as características de cada
pessoa. De acordo com Campos (2006, 2011, citado por ELY e col., 2014) a avaliação do
traço ou dos sintomas depressivos, obtêm resultados que variam quanto a aspectos de
cronicidade, estabilidade e frequência com que certas características são apresentadas.
Os métodos projetivos foram assim denominados por Lawrence K. Frank, quando o
mesmo agrupou uma grande variedade de testes que se propunham a avaliar questões
pertinentes à personalidade, sendo eles: os sentimentos, padrões, significados e sentidos. Seus
estudos investigavam uma série de materiais e técnicas para se acessar as vivencias internas,
desejos e conflitos do sujeito (PINTO, 2014). Os testes projetivos auxiliam no processo de
identificação de um quadro de depressão maior, deixando claro que os mesmos não se
restringem apenas a sua averiguação, sendo utilizado também em outras demandas.
O teste de Rorschach se propõem a medir, bem como descrever sobre vários aspectos
que dizem respeito a personalidade, evidenciando assim, inúmeras características que fazem
parte do indivíduo (WEINER, 1994). Respostas dadas pelos indivíduos às manchas
evidenciam características de sua inteligência, aptidões e questões relacionadas a
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personalidade, as quais irão fluir no momento em que se tenta identificar o que seria aquela
figura, transparecendo assim questões pertinentes a uma conjuntura de depressão (TORRES,
2010).
Outro teste projetivo de personalidade é o teste de Zulliger que foi criado objetivando
ser um método com as características básicas encontradas no teste de Rorschach, mas que
propusesse avaliar um grande contingente de indivíduos, em um menor tempo, de modo
rápido e eficaz (VAZ, 2000). Este teste se mostra eficaz no processo de identificação de um
quadro de depressão, já que, segundo Cunha (2007) “apresentam categorias, tais como:
número de respostas, respostas globais (G), detalhe comum (D), forma precisa (F+),
movimento humano (M), movimento animal (FM), altamente quantificáveis”. (p.387). Estas
categorias possibilitam uma investigação das características do indivíduo em questão,
podendo assim averiguar se o mesmo apresenta indícios de um quadro de depressão maior.
Entre os instrumentos de avaliação psicológica que mensuram constructos
relacionados à depressão, foram destacados por Ely e col., (2014), sob os critérios de validade
e fidedignidade: a Escala Baptista de Depressão Versão Adulto (EBADEP-A), Escala Fatorial
de Ajustamento Emocional/ Neuroticismo (EFN), Bateria Fatorial de Personalidade (BFP) e
Inventário NEO-PI de Personalidade Revisado (NEO-PI-R). De acordo com o Satepsi, todos
os instrumentos acima estão favoráveis ao uso por psicólogos no Brasil.
Segundo Rangé (2001, citado por ELY e col. 2014), o BDI-I trata-se de um
instrumento que possibilita ao avaliador identificar tendências a Depressão, configurando-se
como base para construção de um diagnóstico. Esse instrumento é frequentemente utilizado
para verificar a intensidade dos sintomas depressivos tanto em clínica quanto em pesquisas. A
aplicação da escala pode ser realizada de forma individual ou coletiva, sem limite de tempo
determinado, com avaliandos/as entre 17 e 80 anos.
Os três próximos instrumentos a ser apresentados são baseados nos Cinco Grandes
Fatores de Personalidade (CGF). Nesse modelo a depressão é identificada como uma faceta
do neuroticismo. O objetivo desses instrumentos é identificar as expectativas de futuro, a
clareza de objetivos, a capacidade de lidar com problemas do dia a dia, entre outras variáveis.
(Nunes e col., 2010, citados por Ely e col., 2014). Os instrumentos correspondem à Escala
Fatorial de Ajustamento Emocional/ Neuroticismo (EFN), Bateria Fatorial de Personalidade
(BFP) e Inventário NEO-PI de Personalidade Revisado (NEO-PI-R).
A Escala Fatorial de Ajustamento Emocional/ Neuroticismo (EFN) foi desenvolvida
por Hutz e Nunes (2001), e tem o objetivo de medir os níveis de ajustamento e instabilidade
emocional de acordo com os pressupostos dos CGF. A ENF é um instrumento auto
administrável, composto por 82 itens organizados em uma escala Likert de sete pontos (de 1 a
7), válido para adolescentes a partir dos 16 anos até a idade adulta. Não é um instrumento
específico para avaliação de quadros depressivos, no entanto, devido à sua eficácia em medir
o ajustamento e instabilidade emocional, configura-se como um bom subterfúgio para análise
dessa faceta. Maciel e Yoshida (2006, citados por ELY e col., 2014), afirmam que embora
não consta no manual da ENF estudos específicos sobre a depressão, existem artigos que
abordam essa temática.
A Bateria Fatorial de Personalidade (BFP), como o próprio nome sugere, busca avaliar
a personalidade do avaliando em suas variáveis emocionais, interpessoais e motivacionais.
Por essa ferramenta a personalidade é avaliada através de traços. Assim como a ENF, a BFP
está pautada no modelo dos cinco grandes fatores - CGF. Podem realizar o teste, indivíduos
de 10 a 92 anos, podendo ser a aplicação realizada de modo individual ou coletivo. O
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instrumento possui 126 questões compostas de afirmativas, às quais o indivíduo deverá


responder de acordo com o seu grau de identificação/concordância com o enunciado. As
repostas devem ser em escala do tipo Likert de sete pontos (de 1 a 7), quanto maior a
pontuação mais alto o grau de identificação da pessoa com a frase.
O Inventário NEO-PI de Personalidade Revisado (NEO-PI-R) é um instrumento
utilizado em pesquisas nacionais e internacionais que comprovam sua eficácia em diferentes
culturas. O teste é indicado para o público adulto, de modo geral, é composto por 240 itens,
com cinco opções de resposta (de 1 a 5) em uma escala do tipo Likert, apontando o nível de
concordância com as afirmações das frases. Assim como na ENF e na BFP, no NEO-PI-R, a
depressão é avaliada como uma faceta do fator neuroticismo, 12 itens do teste mensuram essa
variável. Segundo Ely e col., (2014), no manual há um estudo que relaciona traços da
personalidade com sintomas depressivos. Esses materiais citados anteriormente, são os
comumente mais utilizados, entretanto existem outros materiais que também podem ser uteis
e podem ser utilizados nesse processo de psicodiagnóstico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora cada pessoa seja única no mundo, ou seja, cada pessoa vivencia a
psicopatologia de uma forma singular, alguns traços na personalidade podem demonstrar-se
comuns na maioria das pessoas através do processo de psicodiagnóstico. Tais traços,
formando um perfil, quanto antes identificados, torna-se melhor para aquele indivíduo no
sentido de como traçar um prognóstico adequado, através de por exemplo o início de um
processo de psicoterapia ou encaminhamento para o psiquiatra, isto é, quando essa demanda
já não vem solicitada ou se for necessária. Logo, é importante mais estudos na área para que,
além do conhecimento produzido, a sociedade possa perceber como um todo, a complexidade
que a depressão apresenta, fato que ainda é vítima de marginalização por boa parte da
sociedade atual; sendo assim, refletindo sobre os traços mais comuns e ao invés de realizar
julgamento, analisar se podem ou não, estar apresentando tais traços desse perfil psicológico.

REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION - APA. DSM-5 – Manual diagnóstico e


estatístico de transtornos mentais (5ª ed.). Porto Alegre: Artmed. 2014
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA - CFP. Resolução CFP N.º 002/2003.
Disponível em: <http://site.cfp.org.br/wp-
content/uploads/2003/03/resolucao2003_02_Anexo.pdf.> Acesso em: 11 de junho de 2017
CUNHA, J. A. Psicodiagnótico (5ª ed.). Porto Alegre: Artmed. 2007.
CANALE A, FURLAN, M.M.D.P. Depressão. Arq Mudi. 2006;10(2):23-31.
ELY, P., NUNES, M. F. O. & CARVALHO, L. F.. Avaliação psicológica da depressão:
levantamento de testes expressivos e autorrelato no Brasil. Avaliação Psicológica. v. 13. nº 3.
pp. 419 – 426. 2014.
MACHADO, A. P., MORONA, V. C.. Manual de Avaliação Psicológica. Curitiba:
Unificado, 21ª ed. 2007.
SATEPSI. Disponível em: <http://satepsi.cfp.org.br/listaTesteFavoravel.cfm>. Acesso em: 11
de junho de 2017.
17º Congresso de Iniciação Científica da FASB, 2019, Barreiras – Ba
ISSN 2594-7951
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SANTOS, S. G.. A entrevista em avaliação psicológica, 1-15. Acesso em 10 de Junho,


2017, Recuperado de <https://www.ipog.edu.br/download-arquivo-site.sp?arquivo=a-
entrevista-em-avaliacao-psicologica-7212133.pdf>. 2014.
OLIVEIRA, M. V., MELLO, L. M. & OLIVEIRA, V. F.. Psicodiagnóstico: ferramenta de
intervenção psicológica, 1-6. Acesso em 10 de Junho, 2017, Recuperado de
<http://www.unifra.br/eventos/interfacespsicologia/Trabalhos/2854.pdf>. 2012.
PINTO, E. R.. Conceitos fundamentais dos métodos projetivos. Ágora, 17(1). 2014
TORRES, J. M. A.. O Teste Rorschach na história da avaliação psicológica. Nufen, 2(1).
2010.
VAZ, C. E.. A técnica de Zulliger no processo de avaliação da personalidade. In J. A.
2000.

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