Você está na página 1de 6

Smart grid: A rede elétrica do futuro

Felipe Amarante1, Lucas da Silva1, Débora Madonado1, Thiêgo Nunes1,


Eduardo Cerqueira1, Augusto Neto2
1
GERCOM – Universidade Federal do Pará (UFPA)
66075-110 – Belém – PA – Brasil
2
Universidade Federal do Ceará (UFC)
60020-181– Fortaleza – CE – Brasil
{felipelimaamarante, lucaddsilva, deboramadonado thiegonunes,
cerqueira.ufpa, netophdinf}@gmail.com
Abstract This article presents an overview of some points of so-called Smart
Grids (SGs), which represent the future of eletrical and communication
systems. Main concepts, motivation and aplications are introduced.
Resumo. Este artigo apresenta uma visão geral de Smart Grids (SGs), que
representa o futuro dos sistemas elétricos e de comunicação. São introduzidos
conceitos, motivações e aplicações de SG.

1. Introdução
O setor energético, existente atualmente no Brasil e em outros países, utiliza um sistema
elétrico que tem evoluído vagarosamente e que pode ser considerado obsoleto diante das
novas propostas de tecnologias, principalmente frente a um novo conceito tecnológico,
que são as Smart Grids (SGs).
As SGs se apresentam como uma oportunidade de evolução, desde as novas
tecnologias implementadas no sistema até o comportamento dos consumidores e das
empresas relacionadas com o setor energético. O principio da SG é utilizar inteligência
computacional em toda a rede energética, automatizando de maneira eficiente, através
de sensoriamento, monitoramento, e comunicação [Reed 2010].
Nesse sistema inteligente, a informação ajuda a prover a eficiência energética,
identificando áreas de consumo em seus diferentes níveis de necessidade e o potencial
de diferentes áreas de geração e distribuição da energia, otimizando as características de
cada ponto. Empresas, indústrias, consumidores e demais participantes do setor terão o
grau de informação que lhes compete, evitando a perda de energia, sejam na
distribuição, na transmissão ou no consumo [DOE 2011].
O restante deste artigo é organizado em: Seção 2 apresenta uma visão geral de
SG. A Seção 3 descreve motivos para se investir em SG.

2. Visão Geral: Smart Grid


A Smart Grid tem a proposta de utilizar os recursos de maneira eficiente e transformar
todos os setores ligados à rede de energia, onde tanto em uma concessionária quanto na
residência do consumidor final haverá modificações.
A análise pode ser realizada com os atuais medidores analógicos e a forma como
é obtida a medida do consumo de energia em um local, normalmente realizada por um
empregado, onde a ausência da automatização dessa tarefa favorece a ineficiência do
sistema atual. Com Smart Grids, medidores eletrônicos, sistema de gerenciamento
automatizado da medição com sensoriamento da rede, telecomunicações, junto com
outros recursos que fazem parte desta infraestrutura, além de fornecer dados suficientes
para indicar o consumo de energia, poderão também identificar possíveis erros e
comunicar-se com o consumidor final ou com a concessionária, a fim de identificar o
problema e restabelecer o serviço, se for a solução.
Um sistema SG tem o mesmo propósito de uma rede elétrica convencional, levar
a energia elétrica de geradores para consumidores. No entanto um sistema SG envolve
uma série de abordagens que tornam a tarefa de gerar e transportar energia mais eficaz,
limpa e confiável. De forma geral estas abordagens são baseadas na utilização de novas
tecnologias e comunicações entre os componentes do sistema (consumidores, geradores,
estações e outros).
Em nível global, a inovação mais marcante de um sistema SG é o fluxo
bidirecional de energia e informações. Enquanto em uma rede elétrica tradicional esse
fluxo é unidirecional, saindo de geradores em direção a consumidores, nesta nova
concepção é possível que um consumidor possa tanto consumir quanto gerar energia.
Além da energia há uma troca generalizada de informações relacionadas a condições de
operação da rede, tarifas de consumo e outros, que permitem que todas as partes do
sistema possam sinalizar e tomar ações para contornar eventos que atinjam a rede.
Dentro de sistemas SG a importância da comunicação é um ponto estratégico sendo
foco de algumas empresas [Trilliant Inc. 2011].
Além do fluxo bidirecional citado, existem outros aspectos incorporados em um
sistema SG que o tornam melhor que as redes elétricas convencionais. Sendo que estes
podem ser categorizados em três grupos: geração, transmissão/distribuição e cliente
conforme apresente a Figura 1.

Figura 1. Visão geral de Smart Grid

2.1 Geração
Entre os aspectos incorporados no grupo de geração de energia tem-se como
ponto principal a inserção de fontes de energia renováveis (eólica, hídrica e outras)
como forma de minimizar o impacto ambiental causado pela queima de combustíveis
fósseis, que é o principal meio de geração em vários países [DOE 2011]. No entanto
algumas fontes de energia renováveis têm como característica a instabilidade nos níveis
de produção devido ao comportamento sazonal dos recursos (vento, chuva) utilizados.
Por este motivo é necessário que fontes renováveis sejam complementadas por fontes
tradicionais com a finalidade de atender a demanda, não gerar excedentes e evitar que a
rede elétrica falhe.
Outro aspecto que deve ser incorporado em uma SG relacionado à utilização de
fontes renováveis, é a predição de comportamento dos recursos utilizados. Devido ao
caráter instável de geração dessas fontes, é importante que fornecedoras de eletricidade
tenham planejamento sobre geração e consumo para garantir que o consumo será
satisfeito. Técnicas computacionais podem ser utilizadas para prever tal comportamento
[Zavala 2010].
Outro ponto visado em um sistema SG é a transmissão e distribuição de recursos
de geração, tanto em termos de capacidade de produção quanto em termos de
localização. Realizando essa descentralização obtêm-se dois benefícios, o primeiro está
relacionado com a minimização de perdas decorrentes de transporte, pois aproximando
a fonte de geração de seu alvo o caminho percorrido pela eletricidade será menor e a
perda por dissipação térmica (Efeito Joule) também.
O segundo benefício surge do fato de impedir que uma região torne-se
dependente de uma única unidade de geração de alta capacidade, como uma hidrelétrica,
pois em caso de uma falha, toda a região terá o fornecimento interrompido. Em um
sistema SG se uma unidade de geração de média capacidade falhar, ela poderá ser
coberta por unidades de geração vizinhas e não comprometer o abastecimento elétrico
de nem uma localidade.

2.2 Transmissão e Distribuição


Outro grupo de uma rede SG é o de distribuição e transmissão. Muitas das inovações
inseridas neste grupo têm como princípio tornar a rede mais inteligente e autônoma. O
propósito de incorporar estas características em SG é permitir que para qualquer evento
anormal a rede possa realizar ações que contornem o evento sem intervenção humana.
Para que este comportamento possa ser inserido na rede é fundamental que haja
uma entidade responsável por tomar decisões e controlar diversas características da
rede. Por isto três funcionalidades são importantes na rede: controle remoto de
componentes, monitoramento e mecanismos capazes de gerir os recursos que compõe o
sistema.
A tarefa de monitoramento surgiu em SG com grande importância, pois até em
sistemas elétricos de países desenvolvidos, problemas, como quedas no fornecimento,
são detectados unicamente por observação humana. Portanto o ato de monitorar e, por
conseguinte, ter conhecimento do estado de funcionamento de diversos pontos da rede,
mostra-se fundamental para um sistema confiável.
Outro aspecto importante inserido na rede elétrica na abordagem SG é o controle
remoto de diversos componentes. O fundamento deste recurso é permitir que ações,
como o desligamento de circuitos, possa ser realizado tão rápido quanto necessário sem
a necessidade da visita de um técnico. Muitas destas funcionalidades estão previstas em
um protocolo em desenvolvimento [IEC 61850].
E o último ponto a ser mencionado em distribuição e transmissão de energia é a
inserção de mecanismos inteligentes para controle da rede. A partir de dados de
monitoramento e da capacidade de atuar em vários pontos, tais mecanismos terão a
tarefa de encontrar soluções para os problemas que podem atingir a rede, como por
exemplo, aumentar o nível de produção de uma usina com a finalidade de abastecer uma
cidade alimentada por um gerador que falho u.

2.3 Cliente
Na área mais externa de um sistema SG estão às tecnologias associadas ao
consumo. Para a maior parte do público estas tecnologias irão caracterizar a SG, pois
estarão em maior contato com os usuários da rede.
E no que diz respeito a estar em contato com os usuários, nada será tão relevante
quanto os medidores de energia, pois estes estarão presentes em todas as residências.
Em uma SG os medidores deixam de ser dispositivos eletromecânicos e tornam-se uma
interface de gerenciamento de recursos e comunicação entre a rede e a residência.
Alguns projetos de SG propõem que através desta interface a fornecedora de energia
possa ter conhecimento de todos os dispositivos ligados a rede em uma residência [Xu
and Li 2010].
As funcionalidades dos medidores mais prováveis em um projeto de SG serão a
aptidão para trabalhar com Tarifação Dinâmica, que é uma forma de taxação em que o
valor da energia varia ao decorrer do dia, e monitoramento e atuação remota pela
operadora, que poderá detectar anomalias em um circuito residencial, assim como
desligar uma unidade da rede no caso de inadimplência.
Ainda baseado nos medidores da abordagem SG, sistemas secundários poderão
ser acoplados a estes permitindo que usuários tenham mais controle sobre o consumo. A
ideia destes sistemas é fornecer dados mais precisos para o usuário permitindo que este
conheça em quais momentos seu consumo é maior e dentro de suas possibilidades para
reduzir esse consumo, e programar dependentes de eletricidade, como lavar roupas, para
horários em que a tarifa elétrica seja menor.
Outra tarefa que os medidores deverão ser capazes de realizar é gerenciar o
fornecimento de energia a partir de recursos externos a rede (painéis solares, geradores
hidrelétricos e baterias) minimizando o consumo de energia da rede comercial e
consequentemente reduzindo o valor pago a fornecedora. Outras propostas preveem que
usuários poderão vender sua energia excedente de para a fornecedora.

3. Investimento em Smart Grids


Há três principais motivos para investir em pesquisas na área de SG, o primeiro é o
controle das emissões de carbono. A preocupação com o efeito estufa e a concessão de
várias nações ao protocolo de Kyoto vem desencadeando a busca por tecnologias
energéticas renováveis, com foco na redução das emissões de carbono. SGs encorajam a
maior integração das energias renováveis, sendo que estas trabalharão em conjunto com
as fontes não renováveis, criando um sistema automatizado de gestão de energia
[Rohjans 2010].
Segundo, a alta demanda de energia. Há a necessidade de maiores investimentos
na área para aumentar a produção. Mas antes de gerar uma maior quantidade desta
deve-se olhar o desperdício. Como exemplo, o Brasil que possui um imenso território,
tem parte de sua energia gerada perdida por conta do efeito Joule nas transmissões entre
o centro de produção e as distribuidoras. A energia gerada, mas não consumida,
principalmente em horários de menor demanda, também é perdida gerando desperdício.
A SG propõe o estudo e a otimização dos meios de transmissão e o
armazenamento da energia sobressalente colocando em cena os bancos de capacitores e
automóveis elétricos, estes seriam ligados nas residências domésticas com baterias
eficientes para auxiliar no armazenamento [DeBlasio 2008].
Em terceiro, a possibilidade de implementar novos serviços. Através dos
medidores inteligentes, que substituirão os atuais eletromecânicos, aqueles terão novas
funcionalidades incluindo os já mencionados anteriormente.
 Informar o consumidor de seus gastos em tempo real.
 O desligamento e o religamento da unidade residencial em atraso com a
concessionária.
 A facilidade em atuar contra blackouts.
 Monitoração da rede elétrica para evitar ligações clandestinas na mesma.
 Contratar energia sobre demando assim como celulares pré-pagos.
 Cobrança de preços diferenciados, que dependerão do horário. Em horários
de pico serão cobrados preços mais caros e o inverso em horários com
pouco demanda.
 Muitas outras possibilidades...

4. Estado-da-Arte
O fato de ser uma tecnologia recente nos leva a pensar que poucas nações estão
pesquisando sobre o assunto, mas o que acontece é o oposto. Todos os países que estão
preocupados com seus recursos energéticos estão acelerando suas pesquisas e
aumentando os seus investimentos na área de SG.
Sendo o conceito de SG não universal, existem diferenças claras entre os
projetos de cada país. O Reino Unido possui um território demasiado pequeno, logo,
não pretende investir tanto em linhas de transmissão e sim focar suas pesquisas em
relação ao sistema de distribuição de energia elétrica, consumo de energia e geração
renovável, enquanto que a China, um país de proporções continentais, necessita de um
maior investimento no sistema de transmissão [Sun and Wu 2010].
Os EUA demonstram está bem situado no cenário mundial. Este possui
inumeros projetos de pesquisa em seu território fomentados pelo National Institute of
Standards and Technology (NIST) [NIST 2011] e outras grandes impressas da área
energética. O interesse dos EUA está centralizado na eficiência e confiabilidade do
fornecimento e distribuição de energia elétrica.
A Europa busca aperfeiçoar as fontes de geração energia limpa. Em 2010
Portugal implementou a primeira rede de carregamento para veículos elétricos, chamada
de MOBI. E [MOBI. E 2010]. com vários pontos espalhados pelo país, se tornando
assim, referencia mundial no assunto. Já a Alemanha se destacou neste mesmo ano ao
obrigar os novos edifícios a instalarem medidores inteligentes, mostrando em tempo
real as taxas da energia que variam dependendo da demanda.
O Brasil já notou a importância das SGs para o futuro e vem claramente
fomentando investimentos e pesquisas, tendo parcerias entre universidades e empresas
do setor energético para desenvolver, com regulamentação da Agência Nacional de
Energia Elétrica (ANEEL), um padrão brasileiro. Em destaque a parceria entre a
Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) e a empresa Light, vem testando
medidores inteligentes com a função de informar o consumo em reais.

5. Conclusão
Smart Grids é uma tendência mundial e será primordial para permitir uma revolução
necessário no sistema elétrico no que diz respeito a eficiência energética, computação
verde e redução da poluição. Investir nesta tecnologia é condição para as nações
assumirem posições de destaque no cenário mundial.

Referências
Reed, Gregory F., Philip, Prince A., Barchowsky, Ansel, Lippert, Christopher
J.Sparacino, and Adam R. (2010) “Sample survey of smart grid approaches and
technology gap analysis”, in Innovative Smart Grid Technologies Conference
Europe (ISGT Europe)
Trilliant Inc , http://www.trilliantinc.com/products/, acessado em Março de 2011.
Victor M. Zavala, Emil M. Constantinescu, and Mihai Anitescu (2010) “Economic
Impacts of Advanced Weather Forecasting on Energy System Operations”, in
Innovative Smart Grid Technologies (ISGT).
IEC 61850, http://iec61850.ucaiug.org/SNM/default.aspx, acessado em Março de 2011
Department of Energy (DOE),
http://www.oe.energy.gov/DocumentsandMedia/DOE_SG_Book_Single_Pages.pdf,
acessado em abril de 2011.
Xu, Zhichao., Li, Xiaoming. (2010). “The Construction of Interconnected
Communication System among Smart Grid and a variety of Networks”, in
AsiaPacific Power and Energy Engineering Conference (pp. 1-5). IEEE
Rohjans, S., Uslar, M., i , ., n , ., , ., in , . n i ,
(2010) “Survey of Smart Grid Standardization Studies and Recommendations”, in
Smart Grid Communications (SmartGridComm).
DeBlasio, R. and Tom, C. (2008) “Standards for the Smart Grid”, in En y 2030
Conference.
Sun, Q., Wu, J., Zhang, Y., Jenkins, N. and Janaka, E. (2010) “Comparison of the
Development of Smart Grids in China and the United Kingdom”, in Innovative Smart
Grid Technologies Conference Europe.
MOBI.E, http://www.mobie.pt/pt/a-rede-mobi.e.html, acessado em Março de 2011.
NIST, http://www.nist.gov/smartgrid/nistandsmartgrid, acessado em Fevereiro de 2011

Você também pode gostar