CAPÍTULO 3
Neste capítulo, são estudadas técnicas para análise de circuitos resistivos com fontes de tensão
e corrente contínua (DC ou CC). Essas técnicas são denominadas:
Esta seção se dedica a apresentar o primeiro método: “Análise Geral por Kirchhoff”. A ideia é
aplicar as leis de Kirchhoff sistematicamente, de modo a determinar as correntes que circulam
por todos os resistores e fontes do circuito. Considere inicialmente as seguintes definições:
Nó secundário: ponto de conexão entre dois elementos (i.e., resistores e/ou fontes);
Nó principal: ponto de conexão entre três ou mais elementos;
Ramo: qualquer caminho entre dois nós principais.
A princípio, em um circuito formado por resistores e fontes, as correntes nos ramos são des-
conhecidas. Assim, se houver um número R de ramos, haverá R correntes a serem determina-
das, com base no seguinte procedimento:
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EEL 521 – Eletricidade I – Capítulo 3
Exemplo
Resolver o circuito abaixo usando a Análise Geral por Kirchhoff. Depois, determine a potên-
cia fornecida ou consumida em cada elemento.
Solução
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EEL 521 – Eletricidade I – Capítulo 3
Agora vem o equacionamento! Note que há 3 incógnitas: I1, I2 e I3. Portanto, serão necessárias
3 equações, que serão obtidas através da aplicação das leis de Kirchhoff.
Como há N = 2 nós principais, deve-se aplicar a LKC 1 vez (sempre N – 1). Escolhendo-se,
por exemplo, o Nó A, vem, de acordo com a convenção de sinais (corrente entrando no nó é
positiva, e corrente saindo do nó é negativa):
I1 I 2 I3 0 (a)
Como há três incógnitas, e uma equação já foi obtida pela LKC, são necessárias mais 2 equa-
ções, que serão obtidas pela LKT. Assim:
20 5 I1 20 I3 0 (b)
20 I3 10 I 2 10 0 (c)
A LKT também poderia ter sido equacionada na malha externa, resultando em:
20 5 I1 10 I 2 10 0 (d)
Note que (d) é uma combinação linear de (b) e (c) e, assim, não precisa ser incluída no siste-
ma. Ou seja, precisa-se de apenas 2 equações entre as 3 possíveis pela LKT. Aqui, serão esco-
lhidas (b) e (c), mas se fossem escolhidas (b) e (d) ou (c) e (d) o resultado daria o mesmo!
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EEL 521 – Eletricidade I – Capítulo 3
Reunindo então as equações (a), (b) e (c), tem-se o seguinte sistema linear 3×3:
I1 I 2 I3 0 I1 I 2 I 3 0
20 5 I1 20 I3 0 I1 4 I 3 4
20 I 10 I 10 0 I 2 I 1
3 2 2 3
Observações:
O sinal negativo da corrente I2 indica que ela está no sentido oposto ao arbitrado inicial-
mente. Contudo, seu valor absoluto está correto!
Se alguma das equações de LKT, i.e., (b) ou (c), fosse trocada por (d), o resultado do sis-
tema seria o mesmo. Assim, de uma forma geral, é possível obter mais equações do que o
necessário para resolver o sistema!
A tabela abaixo ilustra o cálculo das potências dos elementos. Os resistores sempre conso-
mem, mas as fontes podem fornecer ou consumir. Na figura acima, pode-se perceber que a
fonte de 20 V fornece potência, pois sua tensão e corrente estão no mesmo sentido. A fonte de
10 V consome potência, pois possui tensão e corrente com sentidos opostos.
Note que a potência total fornecida é igual à potência total consumida. Isso é uma forma de
verificar que a solução do circuito está correta.
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EEL 521 – Eletricidade I – Capítulo 3
Exemplo
Solução
Incialmente, as incógnitas deste problema são as correntes I1, I2 e I3, nos sentidos arbitrados
na figura acima. Contudo, note que a fonte de corrente faz com que a corrente do Ramo 3 seja
imediatamente determinada, i.e., I3 = 2 A. Portanto, resta determinar I1 e I2. Para isso, são
necessárias duas equações, a serem obtidas com a aplicação das leis de Kirchhoff.
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EEL 521 – Eletricidade I – Capítulo 3
Como há N = 2 nós principais, deve-se aplicar a LKC 1 vez (sempre N – 1). Escolhendo-se,
por exemplo, o Nó A, vem:
I1 I 2 2 0 (a)
Como há duas incógnitas, e uma equação já foi obtida pela LKC, é necessária mais uma equa-
ção, que será obtida pela LKT. Percorrendo a malha da esquerda no sentido horário, tem-se:
40 20 I1 30 I 2 0 (b)
Neste circuito, esta é a única malha possível para equacionar a LKT, pois todas as outras, i.e.,
a malha da direita e a malha externa passariam obrigatoriamente pela fonte de corrente, sobre
a qual a tensão só será conhecida depois de resolver o circuito. Portanto, nunca se deve equa-
cionar a LKT passando por uma fonte de corrente!
I1 I 2 2 0 I1 I 2 2
40 20 I1 30 I 2 0 2 I1 3 I 2 4
Resolvendo:
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EEL 521 – Eletricidade I – Capítulo 3
30 1,6 50 2 Vf 0
Assim:
48 100 Vf 0 Vf 148 V
Agora, pode-se montar a tabela de potências, observando que a fonte de 40 V consome potên-
cia, pois sua tensão e corrente têm sentidos opostos, e a fonte de 2 A fornece potência, pois
sua tensão e corrente estão no mesmo sentido.
Este método permite reduzir o número de equações a serem resolvidas simultaneamente, es-
crevendo-se apenas as equações da LKT em função de correntes em malhas fechadas. Neste
caso, como cada corrente de malha sai pelo mesmo nó em que entra, a LKC é automaticamen-
te satisfeita, restando, portanto, a necessidade de equacionar a LKT. Para ilustrar o método,
reconsidere o circuito utilizado no primeiro exemplo da Seção 3.1.
Na análise por Kirchhoff, as incógnitas são as correntes de ramo I1, I2 e I3. Observe que essas
são as correntes reais do circuito, pois poderiam ser medidas se um amperímetro (medidor de
corrente elétrica) fosse inserido em cada ramo do circuito.
No método das malhas, deve-se atribuir uma corrente a cada malha do circuito. Deste modo,
em vez de três correntes de ramo, as incógnitas do sistema linear são duas correntes de malha,
como mostrado na figura:
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EEL 521 – Eletricidade I – Capítulo 3
As correntes de malha são fictícias, e representam um modelo matemático. Note, por exem-
plo, que o resistor de 20 está sendo percorrido por duas correntes, o que é fisicamente im-
possível. Contudo, tal premissa é matematicamente justificável, pois reduz o número de equa-
ções simultâneas! Assim, depois de resolvido o sistema, é necessário calcular a diferença en-
tre as correntes de malha para determinar a corrente “resultante” no referido resistor. Nos de-
mais resistores e fontes, as correntes de ramo coincidem com as próprias correntes de malha e
não necessitam de ajustes posteriores. Observe os equacionamentos abaixo:
LKC: I1 I 2 I3 0 (i)
LKT malha 1: 20 5 I1 20 I3 0 (ii)
LKT malha 2: 20 I3 10 I 2 10 0 (iii)
Comparando, vem que (a) equivale a (ii), e (b) equivale a (iii), desde que:
I a I1
Ib I2
I a I b I3
Note que a última equação corresponde à LKC (i), que é automaticamente satisfeita em (a) e
(b) no método das malhas! Organizando (a) e (b), tem-se o sistema:
25 I a 20 I b 20
20 I a 30 I b 10
Resolvendo:
I a 1,143 A
I b 0,429 A
Deste modo, representando os valores numéricos das correntes nas malhas, tem-se:
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EEL 521 – Eletricidade I – Capítulo 3
A tabela abaixo apresenta as correntes em todos os elementos. Os resultados são idênticos aos
obtidos por Kirchhoff na Seção 3.1.
O método das malhas pode ser aplicado com base no seguinte procedimento:
Exemplo
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EEL 521 – Eletricidade I – Capítulo 3
Solução
Observe que a corrente I1 foi traçada exatamente sobre a fonte de corrente. Deste modo, não é
necessário equacionar a LKT na malha 1. Tem-se imediatamente:
I1 2 A (a)
Malha 2: 5 I1 5 I 2 15 10 I 2 10 I3 0 (b)
Malha 3: 10 I 2 10 I3 15 4 I3 25 0 (c)
15 I 2 10 I3 5
10 I 2 14 I3 40
Resolvendo:
I2 3 A e I3 5 A
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EEL 521 – Eletricidade I – Capítulo 3
A partir das correntes de malha, a tabela a seguir apresenta as correntes em todos os elemen-
tos do circuito.
Representando no circuito:
Antes de apresentar o cálculo da potência de cada elemento, deve-se perceber que a fonte de
corrente está em paralelo com o resistor de 5 . A corrente no resistor de 5 é de 1 A para
cima. Assim, de acordo com a Lei de Ohm, a tensão neste resistor, e também na fonte de cor-
rente, vale Vf = 5 × 1 = 5 V para baixo. Portanto, tensão e corrente têm sentidos opostos na
fonte de corrente, que, deste modo, está consumindo potência.
Na fonte de 25 V, tensão e corrente têm o mesmo sentido (ambas para baixo). Logo, esta fon-
te fornece potência. A fonte de 15 V também fornece potência, pois sua tensão e sua corrente
apresentam o mesmo sentido (ambas para cima).
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EEL 521 – Eletricidade I – Capítulo 3
Este método tem por objetivo a determinação das tensões dos nós de um circuito em relação a
um nó de referência. Para tanto, deve-se equacionar a LKC em cada nó principal cuja tensão
não seja conhecida, expressando as correntes de ramo em função das tensões nodais. Conside-
re o seguinte circuito para a ilustração deste método:
O circuito possui dois nós secundários (A e C) e dois nós principais (B e D). Admitindo-se,
por exemplo, o nó D como referência, tem-se VD = 0. Com isso, as tensões dos nós A e C
tornam-se imediatamente conhecidas, devido à presença das fontes de tensão. Assim:
VA = 20 V
VC = 10 V
I1 I 2 I3 0 (a)
VAB VA VB 20 VB
I1 (b)
5 5 5
VBC VB VC VB 10
I2 (c)
10 10 10
VBD VB VD VB
I3 (d)
20 20 20
20 VB VB 10 VB
0 80 4VB 2VB 20 VB 0
5 10 20
100
7 VB 100 VB VB 14,286 V
7
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EEL 521 – Eletricidade I – Capítulo 3
Com as tensões nodais, podem-se determinar as correntes de ramo por (b), (c) e (d):
20 14,286
I1 1,143 A
5
14,286 10
I2 0,429 A
10
14,286
I3 0,714 A
20
Observe que os resultados são idênticos aos obtidos por Kirchhoff e pelo método das malhas!
Exemplo
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EEL 521 – Eletricidade I – Capítulo 3
Solução:
Observe que a solução deste circuito por Kirchhoff exigiria a solução de um sistema 5 × 5,
pois há 5 correntes de ramo. Caso fosse optado pelo uso do método das malhas, o sistema
resultante seria 3×3, pois há 3 malhas. Contudo, será usado o método nodal, cujo equaciona-
mento é feito nos próximos passos.
Observe que as quedas de tensão nos resistores foram assinaladas no sentido oposto do arbi-
trado para as correntes. Nas fontes de tensão, os sentidos são do terminal – para o terminal +.
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EEL 521 – Eletricidade I – Capítulo 3
Apenas as tensões dos nós B e C ainda não são conhecidas, e, portanto, a LKC deve ser equa-
cionada nestes dois nós. Veja o resumo das tensões na tabela abaixo:
VA VB 20 VB
I1
2 2
V VE VB
I2 B
3 3
V VC
I3 B
4
V VE VC
I4 C
5 5
V VD VC 5
I5 C
6 6
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EEL 521 – Eletricidade I – Capítulo 3
20 VB VB VB VC
0 13 VB 3 VC 120
2 3 4
VB VC VC VC 5
0 15 VB 37 VC 50
4 5 6
13 VB 3 VC 120
15 VB 37 VC 50
Resolvendo:
VB 9,8394 V
VC 2,6376 V
Uma vez determinadas as tensões nodais, podem-se determinar as correntes nos ramos, atra-
vés das seguintes expressões:
20 VB
I1 5,08 A
2
V
I 2 B 3,28 A
3
V VC
I3 B 1,80 A
4
V
I 4 C 0,53 A
5
V 5
I5 C 1,27 A
6
Finalmente, observa-se que o sistema de equações lineares simultâneas resolvido neste exem-
plo tem dimensão 2 × 2, frente a 3 × 3 pelo método das malhas, e 5 × 5 pela análise geral por
Kirchhoff.
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