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Autenticidade e coerência

1. Autenticidade

A nossa época gosta da autenticidade.

Na natureza: a mata virgem, praia deserta, o suco

natural...

Nas coisas: a griffe serve para identificar uma

roupa, um tênis, um óculos, como autêntico; um produto

caro...

Nas pessoas: que a pessoa seja o que é; que não

seja uma pessoa dupla; que a pessoa não seja fingida,

uma pela frente e outra pelas costas...

Vamos tentar entender um pouco o que significa

o conceito de autenticidade .

Vamos procurar o que essa autenticidade tem a

ver com a coerência de vida.


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A primeira idéia que nos vem à cabeça quando

pensamos em autenticidade, em algo “autêntico”, é que

só tem sentido falar de autenticidade para coisas de

valor. Ouro autêntico; autêntico Rembrandt; um

Stradivarius autêntico; um autêntico Rols Royce... Não

tem sentido falar de “plástico autêntico “; nem de uma

autêntica caneta Bic, nem de um autêntico relógio de

camelô...

Isso que se aplica aos objetos tem uma tradução

muito direta no que se refere às pessoa; a nós mesmos: a

autenticidade supõe um valor.

Seremos autênticos se tivermos valor; se a nossa

vida for algo de precioso e não “qualquer coisa”...

Ao contrário do que parece a autenticidade na

pessoa deve ser construída.

“Autenticidade”> João Cabral

(João Cabral de Melo Neto)


“Eu nunca acreditei na espontaneidade e na
facilidade. Tem gente que acha que ser autêntico é ser
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espontâneo, você está sendo você mesmo.
Eu tenho a impressão que isso é um engano.
Você está sendo você mesmo quando você trabalha para
ser você mesmo. A autenticidade é um negócio de
esforço”
(Referindo-se a que hoje quase não se fala da
técnica necessária para fazer poesia, da métrica, da rima,
etc.) (Extraído de entrevista a “O Estado de São Paulo”,
19-01-86, p.44)

O Stradivarius autêntico deu trabalho para ser

feito; o Rembrandt autêntico é valioso porque é uma

obra prima; o Rolls Royce é apreciado porque foi feito

com perfeição..

Se queremos ser autênticos temos que construir a

nossa personalidade, a riqueza da nossa vida.

 construir o estudo sério (a base de horas e horas de

estudo, e de aulas bem assistidas)

 construir uma vida cristã séria (a base de leituras de

aprofundamento, de aulas de doutrina, etc.)

 construir uma vida familiar harmoniosa, útil,

construtiva (a base de saber ajudar quando preciso,


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de contribuir com o nosso trabalho em pequenas

trefas)

É fácil e enganosa a autenticidade sem valores:

 Acomodamento (“só faço as coisas quando tenho

vontade” > o estudo, os exercícios do inglês...))

 Pessoa largada (“não faço nada porque não tenho

vontade” > fica jogada numa poltrona, fica parada na

cozinha da casa)

 Bagunça (“eu gosto do meu quarto assim, com as

coisas jogadas, com a emoção de abrir o armário e

não saber o que vou encontrar lá...”)

 Falta de educação (“eu falo prás pessoas o que eu

penso, do jeito que me vem na cabeça”... “Você é

burro/a mesmo!”. Será que issoé autenticidade?)

A autenticidade “autêntica” exige uma qualidade

que é muito importante na vida: a coerência.

2. Coerência de vida
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Xto começou a fazer e a ensinar; era coerente.

Isso atraía a multidão: dava exemplo de carinho, de

alegria, de confiança nas pessoas, de trabalho sério, etc.,

etc.

João Batista (que foi primo de Jesus e veio antes

dele para preparar o caminho de Cristo) nem sequer fez

milagres e atraiu a multidão pelo seu exemplo de vida;

coerência de vida: fortaleza, rijeza, austeridade,

desprendimento dos bens materiais, etc.

Assim também aconteceu com os grandes santos

da Igreja. Conta-se a história do ateu que foi até Ars

porque não acreditava na santidade do Cura Dars;

quando lhe perguntaram o que tinha visto disse: “Vi

Deus num homem”.

Nós devemos ser coerentes. Temos bons

princípios, bons desejos, boa formação... Mas é

necessário que as nossas obras acompanhem esses bons

desejos.
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É preciso que haja coerência entre as palavras e

os fatos.

 palavras de paz em casa e obras de paz (no almoço,

no fim de semana, na hora das compras no

supermercado)

 palavras de decência, de pureza de vida, e um

comportamento casto (na escola, na festa, nos

programas de TV escolhidos)

 palavras de seriedade no estudo e boas notas

 palavras elogiosas à humildade e comportamento não

orgulhoso (nas conversas, nas atitudes com as/os

amigas/os, ao cometer um erro que é notado em casa)

É preciso que haja coerência entre as diversas

situações que temos na vida.

 atitude na esmola a um pobre e ao pedir dinheiro ao

pai
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 atitude diante do cafezinho na casa de um/a colega e

ao atacar a geladeira em casa

 modo de estar na sala de aula e na roda de amigas/os

 maneira de atuar no sábado à noite e no domingo na

Missa

3. Lutar contra a correnteza; não ser massa, mas

fermento

Mas a coerência não é moeda corrente por aí.

O que nós encontramos por aí?

 (sf) Que a colega sorri e diz “queridinha”, e depois

ficamos sabendo que pelas costas nos chamou de

“bruxa”.
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 Que a pessoa acha que a família é o ambiente mais

importante da vida, mas no fim de semana atirou o

tênis na irmã.

 Que as pessoas acham Deus “super jóia”, mas não

pensam nunca nEle, ou deixaram de lado há muito

tempo os seus deveres religiosos.

 Que as pessoas acham que o governo devia cuidar

mais dos pobres, mas elas próprias não querem fazer

nada pelos pobres...

Isso é o que nós encontramos por aí. Portanto

temos que ter presente que se nós queremos ser

coerentes, isso vai se chocar com a direção da correnteza

da sociedade.

Não podemos nos estranhar de ter que ir contra a

correnteza.

O cristianismo autêntico sempre foi contra

correnteza:
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 Os primeiros cristãos não iam aos espetáculos de

gladiadores, que era a moda da época e chocavam

 Não se recasavam e tricasavam como faziam tantos

pagãos e por isso chocavam

 Tratavam bem os escravos e desconcertavam

 Não roubavam podendo fazê-lo sem ser descobertos,

e com isso deixavam os outros surpresos

Não somos nós que vamos inventar a atitude de ir

contra a correnteza, porque há 2mil anos está sendo

vivida por aqueles que querem ser plenamente coerentes

com a sua fé.

F 899: “A presença e o testemunho dos filhos de

Deus no mundo é para arrastar, não para se deixarem

arrastar; para dar o seu próprio ambiente - o de Cristo -,

não para se deixarem dominar por outro ambiente”.

Xto punha o exemplo atraente do fermento que

atua em toda a massa. Os cristãos têm que ser fermento.

Não podem nem devem ser apenas massa.


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Isso é o que se espera de nós também.

É tão fácil tão aconchegante deixar-se levar pela

correnteza..., mas isso não pode ser o nosso.

É verdade que o ambiente influi muito em nós:

 a maneira como fomos educados

 as escolas onde estudamos

 as amizades mais próximas

 os programas de TV que assistimos (dizem que a

média de TV assistida hoje em dia é de 600 horas por

ano)...

Tudo isso nos influencia - e é normal que seja

assim - o que não pode é condicionar-nos.

Uma pessoa que quer ser autêntica, mas autêntica

com valores não pode ser “Maria-vai-com- as-outras”:

 pessoal resolve cabular aula e vai atrás


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 a/o colega de faculdade vai numa festa em que o

ambiente já se sabe que não será bom e vai para

acompanhar

 colegas mentem para os pais e então mente também...

(Num dos próximos Domingos a Igreja

comemora o Domingo de Ramos como abertura da

Semana Santa; e isso tem muito a ver com o que estamos

considerando) Se pensamos bem vemos que Xto foi

crucificado por uns poucos malvados e um montão de

“Marias vai com as outras”. Gente que no domingo de

ramos gritava Hosanna e levava ramos, e na sexta-feira

gritava “Crucifica-o”... porque todo mundo gritava.

Assim continua sendo o mundo. Há tanto

absurdo, tanta desconsideração à sociedade, tanta ofensa

a Deus porque não se reage contra alguns que querem

impor um comportamento que rebaixa o próprio ser

humano. (E não devemos pensar só nos assassinatos, nos


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estupros, nos seqüestros,...mas no materialismo, na

desconsideração de tudo que se refere à outra vida, do

esquecimento de Deus.)

Mas ir contra a correnteza supõe expor-se à

crítica, às gozações, às incompreensões, a receber

apelidos nada agradáveis... Não podemos deixar de fazer

o bem, de fazer aquilo que vemos que devemos fazer

diante de Deus, só por receio ao que vão dizer.

Ser chamada de estranhos ou de diferentes, não

deve ser motivo para se freiar o nosso comportamento

coerente.

Receber uma gozação do irmão, ou uma oposição

compreensível dos tios, não pode nos fazer balançar nos

nossos princípios.

S 416: “O Senhor necessita de almas fortes e

audazes, que não pactuem com a mediocridade e

penetrem com passo firme em todos os ambientes”.

A nossa atuação tem que ser firme e serena.


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Ao invés de sermos influídos pelo ambiente,

devemos influenciar para bem:

 comunicar otimismo
 ajudar a purificar as conversas e as atitudes
 fomentar a seriedade no estudo e no trabalho
 mover as pessoas à compreensão e à caridade

Procuremos encher a nossa vida de valor. Que a nossa


autenticidade seja fruto de uma profunda coerência. E
que assim possamos ajudar verdadeiramente a sociedade
que nos rodeia.
(Sr-Autenti e coere.doc)

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