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BGO 17 de novem bro de 2021 n. 218

4ª PARTE - JUSTIÇA E DISCIPLINA

ATOS DISCIPLINARES EM GERAL


1- SOLUÇÃO EM PAD

Policiais Militares de folga, utilizando uma


mesma motocicleta, realizam abordagem a
outra pessoa sozinha em uma motocicleta e
ocorrem disparos de arma de fogo entre si,
vitimando a que estava só. Vítima fatal era
Subten PM da ativa. Fuga de um dos PMs e
lesão no outro que compunha a dupla. Imagens
de vídeo comprovam ação desastrosa.
Demissões.
Mediante Portaria n.º CORREG 062D/2142-19/19, publicada em BGO
n.º 221 de 21Nov19, combinada com a NBGO n.º CORREG 028D/2142-19/
20, publicada em BGO n.º 028 de 10Fev20, o Corregedor-Chefe designou a
Comissão Processante composta pelo Cap PM JORGE LUIS MAGALHÃES
DE FREITAS, Mat. 30.337.495-6, Cap PM GUTEMBERG DE OLIVEIRA
PASSOS JUNIOR, Mat. 30.413.092-3 e o Cap PM KLEBER SOUZA DA
SILVA, Mat. 30.414.761-1, todos do 1º BEIC/Feira de Santana, para atuarem
como Presidente, Interrogante/Relator e Escrivão respectivamente, com vistas a
apurar as condutas atribuídas aos Sd 1ª Cl PM SÉRGIO RICARDO SOBRAL
RAMOS, Mat. 30.480.462-9, e o Sd 1ª Cl PM ADRIANO NASCIMENTO
SILVA, Mat. 30.526.233-3, ambos da 67ªCIPM/Feira de Santana, a Processo
Administrativo Disciplinar, para apurar o resíduo administrativo, pelos motivos a
seguir expostos. Consoante Despacho em Solução de IPM 5099CAIN-2142-
19-19, publicado na Separata n.º 109, de 07Jun19, os acusados deflagraram
disparos de arma de fogo em desfavor do Subten PM JUCENY RODRIGUES
DA FONSECA OTONI, Mat. 30.268.325-5, da 66ªCIPM/Feira de Santana,
vitimando-o fatalmente. Fato ocorrido em 21Mar19, por volta de 18h30, no
município de Feira de Santana.
A instrução processual desenvolveu-se de forma regular, assegurando ao
acusado as franquias da ampla defesa e do contraditório, na conformidade do
que dispõe o art. 5º, LV da Constituição Federal e os arts. 71 e 74 da Lei 7.990
de 27Dez01(Estatuto dos Policiais Militares), atuando como Defensores os
Bacharéis HERCULES OLIVEIRA DA SILVA, OAB/BA n.º 36.269, HILTON
DA S RIBEIRO, OAB/BA n.º 41.672 e EDIPIANA OLIVEIRA DA CRUZ,
OAB/BA n.º 32.075E.

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Antes mesmo de expor as declarações dos acusados e testemunhas, bem
como apresentação dos Laudos Periciais, registra-se que a decisão que será
adotada nesta Solução se utiliza, sobretudo, das imagens de vídeo carreadas aos
Autos e que mostram, com clareza solar, como a ação se desencadeou. Em
linhas gerais, verifica-se a vítima, depois reconhecida como Subten PM JUCENY
RODRIGUES DA FONSECA OTONI, Mat. 30.268.325-5, que conduzia
uma motocicleta, parar na via pública, sinalizando que adentraria em uma rua à
sua esquerda, chegando segundos após isso outra motocicleta, com duas pessoas
identificadas após como sendo os acusados. O carona dessa dupla, identificado
como o Sd 1ª Cl PM SÉRGIO RICARDO SOBRAL RAMOS, Mat.
30.480.462-9, já de arma em punho, aponta para a vítima e, sem reação dessa
última, em menos de três (03) segundos passa a desferir vários disparos de arma
de fogo. Aí sim, a vítima saca sua arma e efetua disparos também, trocando tiros
literalmente com os dois, até mesmo em solo, já baleado. O acusado Sd 1ª Cl
PM ADRIANO NASCIMENTO SILVA, Mat. 30.526.233-3, caído ao chão,
visto ter sido atingido na perna, se arrasta para próximo a um carro estacionado
na via onde o Subten PM JUCENY RODRIGUES DA FONSECA OTONI,
Mat. 30.268.325-5, entraria, enquanto o outro acusado fugia. Ali mesmo a vítima,
o Subten PM JUCENY RODRIGUES DA FONSECA OTONI, Mat.
30.268.325-5, vem a óbito. Esse mesmo entendimento teve a Polícia Judiciária
que também analisou as imagens de vídeo, conforme consta às fls. 71-72. O
mesmo entendimento foi sustentado pela Magistrada na Sentença de Pronúncia
no Tribunal do Júri, fls. 241-255.
A motivação da “suposta perseguição” foi que os acusados, mesmo estando
à paisana, fazendo compras no Mercado Tio Dai, foram solicitados por um cidadão
informando que tinha uma pessoa de moto, com certas características, praticando
roubos a transeuntes naquele momento, tomando celulares, o que motivou a eles
empreenderem a dita e desastrosa diligência.
Importante constar ainda que, com a vítima fatal, foi encontrada uma mochila
preta nas costas, uma pochete cor preta na cintura, estando o corpo em decúbito
dorsal, ao lado direito da Moto Honda CG Titan ESD vermelha, Placa Policial
ESH6979, uma (01) carteira de couro sintético, uma (01) CNH em nome da
vítima fatal, um (01) certificado de arma de fogo Pistola Taurus .40, onze (11)
jogos de apostas, Título Eleitoral, quatro (04) cartões de crédito e um (01) cartão
do Planserv, uma (01) toalha de rosto azul, um (01) par de tênis, uma (01) cueca,
um (01) par de meia soquete, uma (01) sacola plástica contendo parafusos, um
(01) frasco de perfume, um (01) carregador de pistola Taurus Calibre .40
municiado com catorze (14) cartuchos, um (01) sabonete, uma (01) bisnaga de
creme dental, um (01) fone de ouvido e uma identificação militar constando como
Subten PM JUCENY RODRIGUES DA FONSECA OTONI, Mat.
30.268.325-5 (fls. 79-80).

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Consta nos Autos que após a refrega e sua fuga, o acusado Sd 1ª Cl PM
SÉRGIO retorna ao local e pega a arma que estava com o Sd 1ª Cl PM
ADRIANO, tomando destino ignorado. O Sd 1ª Cl PM ADRIANO foi
socorrido por guarnição PM de serviço e submetido a cirurgia na perna no EMEC/
Feira de Santana; a referida unidade de saúde foi comunicada do flagrante contra
ele (fl. 74 e 81).
Assistido por Advogado em sede de Inquérito Policial da DHPP/Feira de
Santana (fls. 82-83), o acusado Sd 1ª Cl PM SÉRGIO não soube informar
porque a moto que ele e o Sd 1ª Cl PM ADRIANO utilizavam estava sem
placa. Consignou o Sd 1ª Cl PM SÉRGIO que ele estava fazendo compras no
Mercadinho Tio Daí, quando o Sd 1ª Cl PM ADRIANO chega informando que
um transeunte teria lhe informado de uma pessoa praticando roubos em uma
motocicleta, tomando celulares. O denunciante teria dito que o “marginal” seria
gordo e portava mochila preta nas costas. Diante disso, os acusados saem em
busca do suposto marginal, encontrando a vítima mais à frente, a qual, segundo o
Sd 1ª Cl PM SÉRGIO, fez movimento de retorno com a mão na cintura. Seguiu
informando que tentou fazer a abordagem, mas a vítima disparou contra o acusado
Sd 1ª Cl PM ADRIANO, não lhe restando outra alternativa senão a de realizar
os disparos buscando sua própria defesa. Mas não é isso que se abstrai das
imagens de vídeo.
Analisando cuidadosamente as imagens de vídeo, o que se vê é o Subten
PM OTONI parar a moto na via, já sinalizando que entraria a uma rua à sua
esquerda, esperando os carros passarem, pois era via de mão dupla, quando
surge a dupla de acusados em outra moto, estando o carona já de arma em mãos
(Sd 1ª Cl PM SÉRGIO), que em menos de três (03) segundos, passa a desferir
disparos contra a vítima, que incontinenti passa a revidar contra os dois, culminando
antes de sua morte, atingir o acusado Sd 1ª Cl PM ADRIANO na perna, que
caído se arrasta para abrigar-se próximo a um carro que estava estacionado na
via onde o Subten PM OTONI pretendia entrar.
Esse fato gerou o Processo Criminal de n.º 0502280-59.2019.8.05.0080,
em trâmite na Vara do Júri de Feira de Santana-BA, com o enquadramento penal
de Homicídio Qualificado. Inicialmente o fato estava sendo tramitado na Justiça
Militar no processo de n.º 0509489-88.2020.8.05.0001, porém o juízo declinou
a competência:
O julgado em epígrafe, inclusive, integra o Informativo n.º 667/
2020 do STJ. Tal é o caso relatado nos autos, em que os
Denunciados agiram com comportamento anormal à função,
considerando que tratavam-se de dois homens, sem
fardamento, a bordo de uma motocicleta sem placa, que

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surpreenderam outra, ora vítima, à noite, o qual, na condição
de policial militar e possivelmente acreditando tratar-se de uma
dupla de marginais, efetuou os disparos que ensejaram o revide
e levou ao seu óbito. No mesmo sentido, o entendimento fixado
pela Quinta Turma do STJ no julgamento do HC 163.752/RJ
(22.08.11), relatado pela Min. Laurita Vaz, segundo a qual
crime doloso contra a vida praticado por militar contra militar
fora de suas atribuições é de competência da Justiça comum,
devendo ser levado ao Tribunal do Júri. Destaca-se, ainda,
entendimento do STF no mesmo sentido: Crime praticado por
militar contra militar em contexto em que os envolvidos não
conheciam a situação funcional de cada qual, não estavam
uniformizados e dirigiam carros descaracterizados. Hipótese
que não se enquadra na competência da Justiça Militar definida
no art. 9º, II, a, do CPM. ()A Justiça Castrense não é
competente a priori para julgar crimes de militares, mas crimes
militares(HC 99.541, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 10-
5-2011, Primeira Turma, DJE de 25-5-2011.) Portanto,
depreende-se que, além da condição de militar dos sujeitos
ativo e passivo envolvidos, exige-se que a prática do crime
possua relação com a função e haja ofensa a bens jurídicos de
que sejam titulares as Instituições Militares, conforme dita a
jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal Federal e do
Superior Tribunal de Justiça, de modo que é preciso, portanto,
que o autor do crime tenha ciência de que a vítima é militar,
pois do contrário não há que se falar em qualquer afronta à
hierarquia e disciplina, fugindo completamente da finalidade
da lei. Ante o exposto, portanto, DECLINO A
COMPETÊNCIA para processamento e julgamento do
presente feito processual, determinando o encaminhamento dos
autos para distribuição a uma das Varas do Tribunal do Júri da
Capital. Publique-se, intime-se. Cumpra-se. Salvador(BA), 25
de setembro de 2020. Horácio Moraes Pinheiro Juiz de Direito
Advogados(s): Defensor Público (OAB 7/BA).
Em sede de preliminares (fls. 35-39), clama-se pela inversão do rito
processual, o que já é uma praxe nos Processos Administrativos tramitados nesta
Corporação. Requer ainda juntada do IPM que deu origem ao PAD, o que sempre
ocorre, bem como que fossem acostadas as imagens de vídeo com a gravação
das cenas do desastroso episódio. Por fim, a defesa apresentou rol de testemunhas,
das quais apenas uma teve relação direta com o fato: o menor TIAGO DIAS DO
NASCIMENTO, que atuou como denunciante dos roubos que estariam acorrendo
na região por um homem gordo utilizando uma motocicleta e portando uma mochila
preta, e que por fim motivou a incursão dos acusados, culminando na morte daquele
Suboficial aqui já citado.

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A testemunha PATRICIA MEIRELY ALVES DE OLIVEIRA, esposa da
vítima, informou (fls. 51-53) que durante o dia do fato a rotina teria sido normal
e que no fim da tarde, teria o Subten PM OTONI lhe solicitado que aprontasse
seu fardamento, pois estaria de serviço no dia seguinte. Informou ainda que nesse
dia, por volta de 17h40, a vítima teria recebido uma mensagem no celular, que
ela mesmo não sabe informar do que se tratava. Confirmou que até aquele
momento de sua oitiva neste PAD, o celular do seu falecido esposo estava na
posse da Polícia Civil. Logo após, o dito Suboficial sai de casa, informando que
iria à Academia de Lelys, que fica no bairro da Kalilândia.
Verifica-se aqui que, de fato, diversos pertences que o Subten PM OTONI
levava em sua mochila, aqui já descritos, são compatíveis com suporte pessoal
para alguém que realiza atividade física: toalha, tênis, meias, dentre outros. Ademais,
a versão apresentada pela dita testemunha está alinhada com sua narrativa em
sede de Inquérito Policial (fl. 90).
A testemunha PATRÍCIA não soube informar o porquê do Subten PM
OTONI ter utilizado um percurso mais longo, saindo de sua casa até a dita
academia, e que não sabe se seu falecido esposo tinha relação pessoal com
pessoas que residiam no bairro Feira VII, bem como não sabia informar se ele,
Subten PM OTONI, já tinha sido ameaçado de morte ou se tinha inimigos
declarados. PATRICIA confirma ainda que não conhecia os acusados, mas trouxe
uma informação que, até então, não teve como ser comprovada. Seu cunhado,
FRANCISCO RODRIGUES DA FONSECA OTONI, que reside muito
próxima à sua residência e que comumente os visitava, teria visto duas pessoas
no dia do fato, por volta do meio-dia, tirando fotografias da moto do Subten PM
OTONI em sua residência.
A testemunha Sd 1ª Cl PM ROBERTO DINAMITE DE JESUS, Mat.
30.479.855-1 (fls. 55-57), informou que no dia e turno em que a morte do
Subten PM OTONI ocorreu, estava comandando a guarnição do PETO 01,
quando recebeu ligação em seu telefone funcional, informando que um PM
solicitava apoio na Rua El Salvador, no Conjunto Feira VII. Seguiu informando
que ao chegar no local, já estava uma viatura da RONDESP LESTE sob comando
do 1º Sgt PM ALESSANDRO, estando um homem, ainda com capacete, caído
ao solo ao lado de uma motocicleta, com marcas de disparos de arma de fogo e
uma pistola junto ao corpo. Aduziu ainda que populares teriam informado que
uma viatura socorreu um policial à paisana, identificado no decorrer da perícia
local como sendo o Sd 1ª Cl PM ADRIANO.
O Sd 1ª Cl PM ROBERTO seguiu informando que na tentativa de
identificar a pessoa que estava morta ao chão, o 1º Sgt PM ALESSANDRO
verificou a pochete que a mesma portava, tendo a partir dali identificado como
sendo o Subten PM OTONI, informando de imediato ao Coordenador de Área
da 67ªCIPM/Feira de Santana, permanecendo no local até a chegada da perícia

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(fl. 56). Essa ação do 1º Sgt PM ALESSANDRO foi confirmada por ele mesmo,
em declarações neste PAD (fls. 196-197). O Sd 1ª Cl PM ROBERTO finalizou
dizendo que informações locais davam conta de que uma pessoa com
características da vítima estaria praticando assaltos na região e que, populares
que conheciam os acusados teriam pedido apoio (fl. 57).
O proprietário do Marcadinho Daí, Sr. ADAILTON SENA LIMA,
informou que no dia do fato os acusados estavam fazendo compras em seu
estabelecimento, quando um menino os teria chamado, contando-lhes algo,
situação que motivou a ambos embarcarem em uma motocicleta, não os vendo
mais. Disse ainda Sr. ADAILTON que não tem amizade com os acusados, mas
que era comum tanto eles como outros policiais irem ao seu estabelecimento
beber água. Negou ainda que os acusados exercessem segurança privada na
região e que o fato narrado pelo menino denunciante foi de que ele teria sido
assaltado, onde o ladrão levou seu celular, passando as características do suspeito:
usava uma moto preta, apenas o que sabe informar. (fls. 59-60).
O Sr. ADAILTON afirmou ainda não ter visto a troca de tiros, mas ouviu
os disparos, não conhecendo ninguém que tenha visto como as coisas ocorreram,
culminando na morte do Suboficial. Confirmou que na região ocorre assaltos
constantemente, inclusive seu próprio estabelecimento já teria sido alvo por
dezesseis (16) vezes, bem como que era comum o Sd 1ª Cl PM SÉRGIO fazer
compras em seu mercado. Prosseguiu informando que diante da saída brusca dos
acusados do seu estabelecimento naquele dia, ambos deixaram suas compras no
caixa e que o Sd 1ª Cl PM SÉRGIO teria chegado em seu mercado em um
veículo Ford KA Preto (fl. 61). Tais informações estão alinhadas com as proferidas
em sede de Inquérito Policial (fls. 95-96).
Em sede de Inquérito Policial, o filho do Subten PM OTONI, Sr. ALEFE
RUAN ALVES DA FONSECA OTONI, ex-policial militar, demitido no ano de
2017 por homicídio, informou ter conhecimento de que os acusados fazem
segurança clandestina na região do fato e de que são temidos por populares.
Finalizou temer pela vida de sua família (fl. 92). Já em sede deste PAD (fls. 191-
192), o mesmo afirma que o pai não tinha inimigos e que após o falecimento de
seu pai, foi ao local colher informações, tomando ciência de que os acusados
possuem uma espécie de milícia naquela região, coagindo moradores e
comerciantes, que não delatam por medo, mas não trouxe provas concretas, razão
pela qual essas afirmações não serão levadas em conta para nossa decisão.
O acusado Sd 1ª Cl PM SÉRGIO informou perante o Delegado que
presidiu o Inquérito Policial (fls. 82-83) que no dia do fato saiu de casa só por
volta de 16h e se dirigiu à Sigma Informática, na Rua Salvador, localizada no
FEIRA VII, onde encontrou o outro acusado, Sd 1ª Cl PM ADRIANO, estando

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ambos de folga, lá permanecendo até as 18h. Aduz que recebe mensagem de sua
esposa solicitando que ele comprasse ingredientes para fazer cachorro quente,
motivando ele a ir ao Marcado de Daí, sendo acompanhado pelo Sd 1ª Cl PM
ADRIANO.
O Sd 1ª Cl PM SÉRGIO prossegue informando que enquanto fazia as
compras no dito mercadinho, o Sd 1ª Cl PM ADRIANO o procura informando
que um transeunte lhe pediu ajuda, informando que um homem gordo em uma
motocicleta preta e mochila nas costas tinha acabado de levar três (03) celulares,
razão pela qual ambos os acusados, utilizando de uma moto XRE de cor vinho,
sem placa, seguem no encalço, tendo o Sd 1ª Cl PM ADRIANO como condutor
(fl. 82). Durante o interrogatório, o acusado Sd 1ª Cl PM SÉRGIO não soube
informar porque a moto que eles utilizaram estava sem placa.
Segundo o Sd 1ª Cl PM SÉRGIO, ao encontra a vítima na moto dela,
tenta proceder a abordagem, mas que diante de um retorno com a mão na cintura,
percebe que o homem que seria abordado atira no Sd 1ª Cl PM ADRIANO,
motivando ele Sd 1ª Cl PM SÉRGIO a atirar em legítima defesa. Finalizou
naquela oportunidade dizendo que ao ver seu colega de empreitada alvejado na
perna, pede apoio ao CICOM, inclusive dizendo que não faz segurança particular
na região (fls. 82-83).
Em sede deste PAD (fls. 279-282), o acusado Sd 1ª Cl PM SÉRGIO
renova as informações ditas durante o Inquérito Policial. Acrescentou que após o
fato foi para sua residência, narrou tudo à sua esposa e se dirigiu à casa de sua
sogra, por medo de represálias, visto que já tinha informação de que a vítima era
PM também. De lá mantém contato com seu advogado, que o orienta a permanecer
na casa de sua sogra para apresentar-se apenas no dia seguinte. Aduziu que não
conhecia a vítima e nem sabia onde ela morava, negou que tirou foto, conforme
narrado nesta Solução, entendendo ele que vê como correto abordagens feitas à
paisana; que na abordagem utilizou técnicas adequadas.
O acusado Sd 1ª Cl PM ADRIANO em seu interrogatório neste Processo
(fls. 283-287), também confirma sua versão dita em sede de Inquérito Policial,
alegando que mesmo à paisana e diante de um chamamento da sociedade, deveria
agir. Informou que quando já estava no hospital, o Cel PM LUZIEL e o então
Maj PM LÚCIO foram até ele para saber o que tinha acontecido, os quais lhe
informaram que a vítima era um PM, “caindo o mundo em sua cabeça”. Negou
também o Sd 1ª Cl PM ADRIANO que realize segurança privada na região,
que usava a moto adquirida como sucata porque outros PMs faziam o mesmo
com naturalidade na região, que agiu mesmo fora de serviço por saber que iria
demorar a ação de tropa de serviço, entendendo ele ser uma vergonha não atuar,
conforme solicitado pela sociedade.

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Lá na fase inquisitorial, o acusado Sd 1ª Cl PM ADRIANO informa ao
Presidente do Inquérito Policial (fls. 85-86) que o Sd 1ª Cl PM SÉRGIO, além
de seu amigo, trabalha com ele, sendo seu comandante de Guarnição. Disse que
naquele dia encontrou esse seu colega em frente à Rua El Salvador, permanecendo
lá até as 18h, tendo o Sd 1ª Cl PM SÉRGIO deixado seu carro FORD KA no
local e seguido com ele na garupa de sua moto. Confirmou que sua moto estava
sem placa em face de ter sido adquirida em leilão. Seguiu aduzindo que ambos
portavam pistola, sendo que ele estava com uma .45 de sua propriedade e seu
colega com uma .40.
Ainda na presença do Delegado, o Sd 1ª Cl PM ADRIANO confirma
versão do seu colega Sd 1ª Cl PM SÉRGIO, de que estavam no Mercadinho
Daí e que foi acionado por um transeunte, que os reconhecia como policiais,
informando que um homem em uma moto preta estava roubando celulares.
Diligência empreendida, diz que encontraram o suposto autor em sua moto e
iniciaram a abordagem. Segundo contou, informam por três (03) vezes que eram
policiais, momento em que o suspeito põe a mão na cintura, sendo advertido a
não adotar aquele comportamento e sim pôr as mãos na cabeça, porém, o suspeito
teria sacado sua arma e disparado contra ele, que caiu e sacou sua pistola,
desferindo tiros em revide. Seguiu informando que como estava atingido na perna,
se rastejou até o outro lado da rua, onde efetuou novo disparo. Confirmou que o
Sd 1ª Cl PM SÉRGIO solicitou socorro ao 190 e recolheu a pistola que ele
portava naquele momento, sendo ele socorrido por uma viatura da PM. Negou
também que fazia segurança privada na região (fl. 85).
Também em sede de Inquérito Policial (fl. 93), o irmão da vítima Sr.
FRANCISCO JOSÉ RODRIGUES DA FONSECA OTONI disse que no dia
do fato, por volta de 12:50h, foi até a residência de seu irmão para convidá-lo ao
aniversário de sua filha, quando percebeu dois homens desconhecidos, mas
pensando serem amigos de seu irmão. Seguiu contando que tais indivíduos
fotografavam a moto de seu irmão e observavam a casa dele por uma pequena
abertura no portão. Com a saída desses suspeitos do local, a testemunha acima
passa a chamar seu irmão, que dormia no sofá. Finaliza informando que após a
morte de seu irmão e a identificação dos dois acusados deste PAD, que esses tem
características bem semelhantes com a dos dois elementos que fotografavam a
moto de seu irmão. Em sede deste PAD (fls. 188-190), o Sr. FRANCISCO
renova as informações ditas durante sua oitiva no Inquérito Policial, acrescenta
que no dia em que viu os elementos fotografando a moto de seu irmão, um tinha
tatuagem tribal no braço e que, durante audiências que ocorrem no Fórum sobre
este crime, reconhece os acusados como sendo aquelas pessoas que fizeram as
fotografias no dia da morte do Subten PM OTONI, em que pese nunca ter tido
seção de reconhecimento, razão pela qual não será considerado esse tópico para
esta decisão.

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No entrevero entre os acusados e a vítima que este PAD apura, uma pessoa
civil foi atingida de raspão na cabeça: trata-se do Sr. LEONARDO CRUZ DE
ALMEIDA. Em seu depoimento, disse que passava como de costume pelo local
do fato, quando ouviu uma série de estampidos, tipo fogos juninos e que, cessado
o barulho, sentiu ardor na cabeça e percebeu seu rosto melado de sangue, sendo
conduzido por um conhecido ao Clériston Andrade (fl. 119). Essa informação foi
renovada também durante oitiva neste PAD (fls. 205-206).
A testemunha REGINALDO DE JESUS SILVA (fls. 207-209) conta uma
versão contrária ao que apresenta as imagens de vídeo acostadas aos Autos.
Primeiro diz que a vítima para sua moto na rua, sinalizando que entraria em uma
via lateral, aguardando por uns dois (02) minutos, mas o tempo sequer chega aos
trinta (30) segundos. Outra contradição é que ele não tem dúvidas de que a
vítima é quem atira primeiro, mas as imagens são claras: o acusado que vinha de
carona na moto, Sd 1ª Cl PM SÉRGIO é quem inicia os disparos. A testemunha
falta com a verdade de novo, quando diz que o acusado Sd 1ª Cl PM SÉRGIO
leva o outro acusado baleado para seu carro, a fim de prestar socorro, quando é
unânime a versão neste Processo de que foi uma viatura da PM que prestou o
socorro ao acusado Sd 1ª Cl PM ADRIANO. O Sr. REGINALDO prossegue
prestando elogios aos acusados pela atuação deles na região quando em serviço,
negando que eles fizessem segurança privada.
Do Laudo de Exame Pericial n.º 2019 01 PC 002721-01 (fls. 122-123),
a perícia conclui que:
1. o projétil denominado “A”, extraído do cadáver de Juceny
Rodrigues da Fonseca Otoni, foi disparado e percorreu o
interior do cano da pistola semi-automática da marca Taurus,
Modelo PT-100 AF-D, calibre nominal .40 S&W, número
de série SFX29712;
2. O estojo questionado designado de “G1”, coletado em
local de morte violenta de Juceny Rodrigues da Fonseca Otoni,
foi percurtido pelo pino percutor e no recuo colidiu com a
culatra da pistola semi-automática, da marca Taurus, Modelo
PT-100 AF-D, calibre nominal .40 S&W, número de série
SFX29712;
3. O projétil questionado, designado de “D”, coletado em
local de morte violenta de Juceny Rodrigues da Fonseca Otoni,
não foi disparado e nem percorreu o interior do cano da
pistola semi-automática, da marca Taurus, Modelo PT-100
AF-D, calibre nominal .40 S&W, número de série SFX29712;
4. Os estojos do conjunto designado de “G”, aqui designados
de “G2” a “G8” e os do conjunto designado de “H”, coletados

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em local de morte violenta de Juceny Rodrigues da Fonseca
Otoni, não foram percutidos pelo pino percutor e no recuo
não colidiram contra a culatra da pistola semi-automática,
da marca Taurus, Modelo PT-100 AF-D, calibre nominal
.40 S&W, número de série SFX29712.
Os Laudos de Exames Periciais (fls. 139 a 144) dão conta que as duas
motos utilizadas pelos envolvidos nessa triste ocorrência constam como “baixado”.
O Laudo de Exame Pericial de n.º 2019 00 IC 021616-01 (fls. 214-221),
que destinou-se a avaliar a autenticidade das imagens de vídeo que demonstram
a cena do fato que aqui se apurou, conclui que:
Os vídeos gravados nos dois DVD-R, foram produzidos por
sistemas de monitoramento de segurança do tipo CFTV,
possuíam horários compatíveis com o ocorrido. Os arquivos
gravados no Mercadinho Tio Daí, localizado a duas quadras
de distância do local do atentado, não mostravam troca de
tiros, porém foi examinado e não se verificou nenhum indício
de edição. As gravações das imagens geradas pelas câmeras
da Rua Arca de Noé e da Rua Moisés apresentavam cenas
coerentes entre si, e mostravam todos os momentos do
atentado perpetrado por dois homens numa moto contra
um motociclista que se encontrava parado na esquina
da Rua Arca de Noé, aguardando para fazer a conversão
à esquerda em direção à Rua Moisés. Não se
constataram edições nos vídeos examinados (grifo
nosso).
A testemunha Cap PM LAERTE DA SILVA VIEIRA, Mat. 30.486.219-
8, informou que os acusados são bons policiais, que atuam no PETO com veículo
de duas rodas, não tendo conhecimento que atuam em milícias; não se recorda
quem realizou o primeiro disparo (fls. 268-269). A Testemunha TC PM
FLORISVALDO DOS SANTOS RIBEIRO, Mat. 30.207.364-6, atuou
também de forma abonatória, informando que os acusados são bons policiais e
que já presenciou atuações deles, sempre dentro da legalidade, entendendo terem
condutas excepcionais (fls. 275-276).
Na sentença de pronúncia (fls. 241-255), destacamos:
[…] Os indícios de autoria e materialidade do crime de
homicídio qualificado, perpetrado contra o extinto JUCENY
RODRIGUES DA FONSECA OTONI, fazem-se aparente
pela prova técnica acostada aos autos, as declarações das
testemunhas arroladas na exordial acusatória, mormente pelos
depoimentos dos acusados perante a autoridade policial (fls.
34/35 e 41/42), bem assim em juízo (fls. 253/254), nos quais

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confessam a prática delitiva nos moldes descritos na denúncia,
conquanto amparados em permissiva justificante prevista no
art. 20, § 1º do Código Penal, visto que supuseram situação
fática (legítima defesa), que se existisse tornaria a ação dos
mesmos legítima.
[…]
Em um exame perfunctório, próprio desta fase processual,
tenho como impossível o acolhimento, neste momento, da tese
exculpativa da legítima defesa putativa alegada pelos réus em
seus interrogatórios, no sentido de que teriam recebido notícia
de um roubo nas proximidades do local dos acontecimentos e
abordaram a vítima, por acreditaram que a mesma possuía as
características fornecidas do suposto assaltante, na medida em
que as provas dos autos não demonstram a existência de
elementos que permitam, de plano, o seu reconhecimento.
[…]
Verificada a incongruência entre a versão apresentada pelos
réus e por algumas testemunhas ouvidas na fase processual,
impõe-se a submissão da matéria a juízo natural dos crimes
dolosos contra a vida.
[…]
Por ora, dos elementos carreados para os autos, verifica-se
que há indícios de que os acusados, policiais militares, no dia
dos fatos, de folga e não fardados, a bordo de uma motocicleta
irregular, portando armas de fogo (pistolas), aproximam-se da
vítima, o PM JUCENY RODRIGUES DA FONSECA
OTONI, que também se encontrava à paisana e trafegava pela
via pública em sua motocicleta, ocasião em que Sérgio
desembarca do veículo conduzido por Adriano e efetua
disparos em desfavor do ofendido, que reagiu à investida e
alvejou o primeiro denunciado com um tiro na perna direita.
Nesta perspectiva, ambos os acusados atiraram contra a vítima,
a qual veio a óbito no local em virtude dos ferimentos sofridos
(três perfurações), conforme positivado no laudo de exame
de necropsia de fls. 94/96.
[…]
Bem verdade que algumas testemunhas confirmam a existência
de um assalto nas redondezas momentos antes do fatídico, no
entanto, as características físicas, as vestimentas e a moto
utilizada pelo suposto assaltante, descritas pela testemunha
Tiago aos acusados (de capote, mochila preta, tênis, calça jeans
e capacete, numa moto de cor preta), são incompatíveis à
pessoa da vítima, que, no momento em que foi executada
(grifo nosso), trajava bermuda amarela, camisa preta, calçava

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chinelos, mochila azul nas costas, e conduzia uma moto de
cor vermelha, consoante fotografias de fls. 72/73, não se
evidenciando, de imediato, o apontado erro em relação à
pessoa que teria praticado o roubo do celular.
[…]
Analisando-se as imagens obtidas através das câmeras de
monitoramento instaladas nas proximidades do local dos
acontecimentos, é possível visualizar que a vítima pára a
motocicleta na via, aparentemente bem movimentada, haja
vista a grande circulação de veículos, tentando fazer a
conversão para a esquerda e, na sequência, os acusados
chegam por trás (grifo nosso), de moto, o carona salta
imediatamente, com arma já em punho, e os disparos são
efetuados imediatamente (grifo nosso), não se
evidenciando, a priori, qualquer diálogo. Nesta toada,
percebe-se que o ofendido, inicialmente, está com as mãos
no guidão da motocicleta, sugerindo que revidou os disparos
apenas após a investida dos agressores.
[…]
Insta salientar que, pelas provas carreadas aos autos, no meu
sentir, há indícios suficientes que denotam que os acusados
efetuaram disparos de arma de fogo em desfavor da vítima
Juceny Rodrigues da Fonseca Otoni, assumindo, ao menos,
o risco de matá-la.
[…]
Em sede de alegações finais (fls. 296-314), pontua-se que os acusados
dão voz de advertência à vítima, conforme se depreende das imagens, tendo o
Subten PM OTONI sacado sua arma e iniciado os disparos de arma de fogo,
versão completamente não recepcionada em face das provas técnicas aqui já
informadas: seria absurda a recepção dessa versão, uma vez que as imagens são
claras, a resposta da perícia técnica é clara e na mesma direção é o entendimento
da Magistrada na Sentença de pronúncia idem, não havendo dúvidas por parte
deste Comando-Geral que os acusados executaram o Subten PM OTONI naquela
ocasião, sendo coautores de um ação covarde, fora de qualquer técnica policial
militar e sem amparo em norma legal de qualquer espécie.
A defesa pontua que o MP requereu a absolvição sumária, algo que cai
plenamente por terra diante da Sentença de pronúncia aqui já aventada. Além
dos próprios acusados, nenhuma testemunha foi capaz de, sem mentir, como foi
o caso do Sr. REGINALDO DE JESUS SILVA, sustentar um cenário que

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revolvesse o ato como legítimo. Verifica-se ainda que, ambos os acusados, em
momento algum, negam a autoria e inexistência do fato, apegando-se na “falsa
legítima defesa”, já completamente afastada por este Comando-Geral, da mesma
forma como foi na perícia e na Sentença de Pronúncia: não há nesga de injusta
agressão, atual ou iminente naquele fato, provocado pela vítima, que deixou feridas
jamais reparáveis no seu seio familiar.
Importante constar que em sede de Processo Administrativo Disciplinar,
não se apura crime e sim condutas, se elas foram profissionais ou não profissionais,
se ferem a ética e o decoro da classe e se são passíveis ou não de elogio, punição
e até demissão das fileiras da Corporação. No que diz respeito a cometimento
de crime, isso é afeto ao poder judiciário, sob o olhar do Ministério Público e da
sociedade, essa última nos casos de julgamento em Tribunal do Júri.
Vale a pena salientar também e instruir todos oficiais e praças que apuram
Processos Administrativos nesta Corporação, que o uso da expressão “in dubio
pro réo” é algo aplicável exclusivamente em Processos Judiciais, sendo
inadequado seu uso em nossas Soluções ou Pareceres. Perde tempo aquele que
tentar dar caráter de Processo Judicial ao Processo Administrativo, é uma lição
que fica recomendada desde já.
Quando a defesa argui que os acusados não atuaram em descompasso
com o ordenamento Jurídico, Castrense ou com o comum, orientamos revisitar,
quantas vezes forem necessárias, os artigos 39, 41, 52 e 57 do Estatuto dos
Policiais Militares (Lei n.º 7.990 de 27Dez01). As condutas dos acusados naquela
execução ao Subten PM OTONI são suficientes para afirmar que são
incompatíveis com posturas de policiais militares, sejam da ativa ou da reserva,
ferindo de morte nosso decoro, nossos valores e nossa razão de existir.
Equivoca-se mais uma vez a defesa quando diz que não havia interesse de
agir do Estado em processar administrativamente os acusados, vez que não
haveria, minimamente, existência de elementos capazes de mostrar razoavelmente
o cometimento de infração. Ora, nesse diapasão, será necessário construir de
forma reversa, se possível for, novas verdades capazes de destruir a perícia e
todos os convencimentos aqui já formulados. É papel da defesa defender, é direito,
é típico de Estados Democráticos, como também o é entender, negar argumentos
frente a teses cientificamente provadas e seguir rumo à correição adequada,
inclusive condenação capital legal prevista, como o será neste caso.

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4ª PARTE - JUSTIÇA E DISCIPLINA


Infelizmente, nossa Corporação foi ferida de morte mais uma vez por seus
próprios integrantes. Sem plausibilidade alguma, os acusados arvoram-se a agir
fora de todas as técnicas policiais existentes, comprovando que atuaram naquela
assentada como se “justiceiros” fossem, crendo-se que podiam tudo, a qualquer
tempo e a qualquer hora. As informações que foram passadas ao Sd 1ª Cl PM
SÉRGIO RICARDO SOBRAL RAMOS, Mat. 30.480.462-9, e ao Sd 1ª Cl
PM ADRIANO NASCIMENTO SILVA, Mat. 30.526.233-3, sobre o suposto
criminoso e o veículo que o mesmo conduzia, praticamente em nada condizem
com a forma como o Subten PM OTONI estava, demonstrando portanto uma
inconsequência acima da média, em abordar, sem motivação razoável, aquele
Suboficial, nas condições em que ele se encontrava. É a clara inexistência do
espírito do “ser policial militar” no âmago dos acusados: profissional raciocina,
planeja e age, jamais age para depois construir verdades, sobretudo verdades
insustentáveis. É regra do nosso Estatuto: O sentimento do dever, a dignidade
policial militar e o decoro da classe impõem a cada um dos integrantes da Polícia
Militar conduta moral e profissional irrepreensíveis, tanto durante o serviço quanto
fora dele. Somos defensores da lei, da sociedade, da família, jamais seus algozes.

A Comissão entende como episódio de difícil elucidação, onde por um


lado enaltece a ação dos acusados em servir a sociedade a qualquer tempo, em
que pese ela mesma ter afirmado que a foi de imprudência latente, que resultou na
perda de vida humana. Conduz seu relatório como que jogando a sorte dos
acusados à decisão do Tribunal do Júri, mesmo lembrando da independência das
decisões administrativas e judiciais, excetuando aquelas voltadas para a inexistência
do fato ou negativa de autoria. A comissão entende que a ação dos acusados foi
de legítima defesa, inclusive dando ciência de que em uma hipotética Sentença
Penal Condenatória, implicar-se-á em punição demissional, não levando em conta
AS PROVAS CIENTÍFICAS EXISTENTES NOS AUTOS MOSTRAREM
O CONTRÁRIO, razão pela qual o voto de arquivamento fica afastado por este
Comando-Geral, passando a decidir com JUSTIÇA e CORAGEM, como à
frente se verá.

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4ª PARTE - JUSTIÇA E DISCIPLINA


Pelo que fora exposto, a execução do Subten PM OTONI realizada em
coautoria pelos acusados Sd 1ª Cl PM SÉRGIO RICARDO SOBRAL RA-
MOS, Mat. 30.480.462-9, e o Sd 1ª Cl PM ADRIANO NASCIMENTO
SILVA, Mat. 30.526.233-3, são condutas contrárias às tipificadas nos incisos II
(exercer com autoridade, eficiência, eficácia, efetividade e probidade as funções
que lhe couberem em decorrência do cargo), III (respeitar a dignidade da pessoa
humana), VIII (ser discreto em suas atitudes e maneiras e polido em sua linguagem
falada e escrita), XI (manter conduta compatível com a moralidade administrativa)
e XIII (conduzir-se de modo que não sejam prejudicados os princípios da disci-
plina, do respeito e do decoro policial militar) do art. 39, sendo cabível, portanto,
a aplicação de demissão, conforme previsão do Art. 57, inciso II, “a” (A pena de
demissão, observadas as disposições do art. 53 desta Lei, será aplicada nos se-
guintes casos: […] a) de homicídio.

Do exposto, RESOLVO:

a) DEMITIR das fileiras da corporação os Sd 1ª Cl PM SÉRGIO


RICARDO SOBRAL RAMOS, Mat. 30.480.462-9 e o Sd 1ª Cl PM
ADRIANO NASCIMENTO SILVA, Mat. 30.526.233-3, atualmente servin-
do no CPR-L;

b) Encaminhar cópia desta decisão ao Tribunal do Júri da Comarca de Fei-


ra de Santana-BA, vez que os acusados passam a não pertencer mais aos qua-
dros desta Corporação, para efeitos de eventuais citações, se for o caso;

c) Recomendar ao DP, à Corregedoria da PMBA e ao CPR-L que regis-


trem.

Solução em PAD. N.º CORREG 026R-2021/18988_21

PAULO JOSÉ REIS DE AZEVEDO COUTINHO - Cel PM


COMANDANTE-GERAL

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