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Update

Atualização

Fisiologia Aplicada ao Tratamento Atual do Recém-


Nascido com Síndrome de Hipoplasia do Coração
Esquerdo
Applied Physiology to the Contemporary Management of the Neonate with
Hypoplastic Left Heart Syndrome
Fernando Antibas Atik
Cleveland Clinic Foundation - Cleveland, Ohio - USA

O tratamento cirúrgico da síndrome de hipoplasia do


coração esquerdo (SHCE) ainda é um desafio. Poucos Tabela 1 – Atuais opções de tratamento cirúrgico da
centros selecionados que adotaram os protocolos síndrome de hipoplasia do coração esquerdo
concentrados na compreensão da fisiopatologia pós- Transplante Cardíaco
Norwood, diminuíram as taxas de mortalidade para
aproximadamente 15%. A ineficácia inerente da Procedimentos de Norwood e suas modificações
• Opções de circulação extracorpórea
circulação paralela na cirurgia de Norwood é responsável
Hipotermia profunda com parada circulatória
por problemas relacionados ao tratamento desses
Hipotermia com perfusão regional seletiva
pacientes no pós-operatório, principalmente com relação
• Tipo de reconstrução de arco aórtico
à manutenção do equilíbrio entre o fluxo sanguíneo Com uso de remendo
sistêmico (Qs) e o pulmonar (Qp). Este trabalho descreve Sem remendo
a fisiologia do princípio de Norwood e a importância • Fonte do fluxo sanguíneo pulmonar
da avaliação hemodinâmica adequada para orientar as Anastomose de Blalock-Taussig modificado
diferentes opções de tratamento no pós-operatório. Conduto de ventrículo direito – artéria pulmonar

Uso de stent no duto arterial e bandagem das artérias pulmonares


INTRODUÇÃO
A síndrome de hipoplasia do coração esquerdo (SHCE) sobrevida limitada a longo prazo5,6. E o mais importante,
é formada por uma série de anomalias cardíacas que progressos significativos foram realizados na cirurgia
resultam no subdesenvolvimento das estruturas no paliativa, originalmente descritos por Norwood em
lado esquerdo do coração. Caracteriza-se pela atresia 7. A redução progressiva na mortalidade cirúrgica
aórtica ou estenose grave com hipoplasia ou ausência do é conseqüência dos protocolos multidisciplinares
ventrículo esquerdo1. A coartação da aorta é a anomalia incorporados à prática da cirurgia cardíaca pediátrica8.
mais freqüentemente associada à SHCE e pode evitar Apesar das elevadas taxas de mortalidade iniciais,
o fluxo sanguíneo retrógrado para uma pequena aorta o domínio das técnicas cirúrgicas e anestésicas e o
ascendente. A sobrevida pós-natal depende da patência desenvolvimento da circulação extracorpórea mais segura
do canal arterial e da comunicação ampla a nível atrial. com a devida proteção miocárdica e cerebral fizeram
A história natural quase sempre leva ao óbito no primeiro com que fosse possível aplicar o princípio de Norwood
mês de vida2. à SHCE.
Na última década observamos grandes progressos Entretanto, a maioria dos centros de cardiologia
no tratamento cirúrgico da SHCE. Diversas alternativas pediátrica ainda tem maus resultados no tratamento dessa
cirúrgicas hoje disponíveis foram amplamente examinadas complexa má-formação. Poucos centros selecionados que
(Tab. 1). Apesar de estudos multi-institucionais3, utilizando adotaram os protocolos concentrados na compreensão
análises baseadas na intenção de tratar, terem mostrado da fisiopatologia pós-Norwood, diminuíram as taxas
melhor sobrevida intermediária nos pacientes submetidos de mortalidade para aproximadamente 10 a 15%.
ao transplante cardíaco4, esse último tornou-se menos É preciso mais concentração nesse ponto para que
ou igualmente importante que a abordagem cirúrgica se consiga reduzir ainda mais esse índice e muitos
paliativa estagiada. Os motivos incluem a escassez de concordam que isso pode ser obtido abordando as
doadores disponíveis, a morbidade pós-transplante e a diretivas listadas na Tabela 2.

PALAVRAS-CHAVE
Lesão cardíaca congênita à esquerda, moléstia cardíaca
congênita, cianótico, coração univentricular, neonato, cuidados
no pós-operatório.
Correspondência: )HUQDQGR $QWLEDV $WLN ă 7KH &OHYHODQG &OLQLF )RXQGDWLRQ ă  (XFOLG $YHQXH +  &OHYHODQG 2KLR  ă 86$
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Arquivos Brasileiros de Cardiologia - Volume 87, Nº 3, Setembro 2006


Fernando Antibas Atik
FISIOLOGIA APLICADA AO TRATAMENTO ATUAL DO RECÉM-NASCIDO
COM SÍNDROME DE HIPOPLASIA DO CORAÇÃO ESQUERDO

Este artigo de revisão descreve os princípios fisiológicos Bartram e cols.11 avaliaram 122 pacientes que se
que orientam o tratamento cirúrgico moderno do recém- VXEPHWHUDPjFLUXUJLDGH1RUZRRGHQWUHH
nascido com SHCE. O estudo apontou a incompatibilidade do fluxo sangüíneo
sistêmico e pulmonar como a segunda principal causa
de óbitos, abaixo apenas das causas coronarianas. A
Tabela 2 – Diretivas sobre o tratamento cirúrgico da experiência clinica e os modelos simulados corroboram
síndrome de hipoplasia do coração esquerdo a idéia de equilibrar (Qp) e (Qs) para sustentar o meio
• Estabilização pré-cirúrgica aeróbico com adequação da oferta de oxigênio aos
• Correção cirúrgica adequada tecidos (DO2). Barnea e cols.12 correlacionou o (DO2) e
• Melhor entendimento da hemodinâmica no pós-operatório do a proporção Qp/Qs no modelo matemático da fisiologia
estágio paliativo de Norwood. Os autores concluíram que há um aumento
• Minimizar o atrito interprocedimento de (DO2) proporcional a Qp/Qs até um certo ponto (entre
• Proteção aos candidatos a Fontan 0,7 e 1)13, após o qual há um declínio.
Infelizmente, os efeitos prejudiciais do desvio do
excesso de fluxo diastólico não são limitados à má-
EQUILIBRANDO AS CIRCULAÇÕES NA perfusão coronariana. As circulações cerebral, renal
FISIOLOGIA DE NORWOOD: O SEGREDO DO
e esplâncnica correm o risco de comprometimento
SUCESSO DO TRATAMENTO PÓS-OPERATÓRIO
importante de sua perfusão. Apesar de os mecanismos
adaptativos praticamente não divergirem entre adultos
A fisiologia pós-Norwood: por que o e crianças, algumas características devem ser avaliadas
desafio? nos últimos, pois podem haver implicações relevantes
Ao examinar a dinâmica dos fluxos de fluidos, as durante o pós-operatório. Primeiramente, o consumo
combinações de duas importantes equações físicas (a lei de oxigênio da criança em repouso é maior que o do
de Poiseuille e a de Ohm) nos oferecem as variáveis que adulto14. A hipotermia profunda com parada circulatória
são funções de fluxo, como mostra a tabela 3. total, empregadas na maioria dos centros durante o
primeiro estágio da cirurgia de Norwood, afetam a
Tabela 3 – Leis de Poiseuille e de Ohm relação entre oferta e consumo de oxigênio. Além disso,
a resposta metabólica ao stress é mais acentuada em
R = Pi – Po = 8Șl crianças15. O consumo de oxigênio é independente de
4›U4 sua oferta em ampla gama de situações. Por exemplo,
R= resistência hidráulica; Pi – Po = Diferença dos valores durante períodos de baixo débito cardíaco, o metabolismo
da pressão de entrada e de saída; Q = vazão de volume; Ș = aeróbico é mantido as custas de maior taxa de extração
Viscosidade do fluido; r = raio do tubo. de oxigênio. Entretanto, esse último mecanismo tem
um limite, que é compatível com a taxa de extração
Podemos seguramente reiterar o princípio bem- de oxigênio entre 50 a 60%, quando há instalação de
compreendido da física relacionado aos circuitos elétricos acidose lática16,17. A circulação extracorpórea também
ou hidráulicos – quando duas resistências de diferentes pode ser um fator agravante devido a situações de
valores são ligadas em paralelo, supridas por única fonte oferta inadequada de oxigênio, perda excessiva do tono
de força, há mais fluxo no menor resistor. De maneira vasomotor e alterações na microcirculação. Além disso,
semelhante, apesar de mais complexo, trata-se de um os requerimentos metabólicos regionais podem estar
único ventrículo suprindo dois leitos vasculares com aumentados, estreitamente relacionados ao resfriamento
resistências diferentes conectados por um anastomose não-homogêneo e ao reaquecimento ou como resultado
sistêmico-pulmonar que ejetará mais sangue em direção na deficiência de uma oferta adequada de oxigênio aos
à via de menor resistência. Isso causará problemas no tecidos. A resposta inflamatória sistêmica à circulação
tratamento pós-operatório de pacientes submetidos à extracorpórea pode estar envolvida nesta questão18.
cirurgia de Norwood porque a resistência aumentada no Durante a circulação extracorpórea pediátrica, o
leito sistêmico causa o hiperfluxo pulmonar, o chamado suprimento sangüíneo aos diferentes órgãos é alterado
“desvio de fluxo” no lado sistêmico. Por outro lado, se a devido à redistribuição de fluxo, na hipotermia ou
resistência for mais elevada no leito vascular pulmonar, normotermia e com a perfusão de alto ou baixo fluxo. A
haverá uma perfusão sistêmica adequada, mas com hipoperfusão mesentérica costuma ser uma conseqüência
oxigenação sanguínea deficiente. De qualquer maneira, do comprometimento das distribuiçõies regionais do fluxo
haverá uma situação de choque circulatório devido à sangüíneo20. As conseqüências imediatas são a alteração
anaerobiose tecidual. A ineficácia inerente da circulação da permeabilidade intestinal, a translocação bacteriana e
paralela na técnica de Norwood causa problemas a passagem de endotoxinas para a circulação sistêmica21.
relacionados ao tratamento pós-operatório desses A ativação das citocinas promove a resposta inflamatória
pacientes, principalmente para manter o equilíbrio entre o sistêmica, um dos mecanismos desencadeadores da
fluxo sanguíneo sistêmico (Qs) e o fluxo pulmonar (Qp); insuficiência de múltiplos órgãos.
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Determinantes importantes de Qp e Qs são a resistência Vários grupos23,24 identificaram tamanho menor da


vascular pulmonar (RVP) e a sistêmica (RVS), ambas aorta ascendente (menor que 2,5 mm) como fator de
freqüentemente suscetíveis às variações individuais risco significativo para mortalidade e concentraram-se
em resposta à circulação extracorpórea e à hipotermia então em conseguir a melhor opção cirúrgica para lidar
profunda com parada circulatória. Isso faz com que uma com a aorta ascendente longa e pequena. De modo geral,
abordagem de tratamento fixo e não-individualizado três métodos de reconstrução aórtica foram descritos. A
que atenda às necessidades pós-operatórias de todos técnica de Norwood e suas modificações7 e a modificação
os pacientes submetidos à cirurgia de Norwood seja de Lamberti e cols. 23 usam um homoenxerto para
impossível. Apesar do uso da melhor proteção miocárdica, aumentar o arco aórtico. Na modificação de Lamberti, a
o coração do recém-nascido geralmente apresenta alguma aorta proximal e a artéria pulmonar foram seccionadas
depressão miocárdica imediatamente após a cirurgia, um e uma anastomose término-terminal foi criada entre a
problema que geralmente ocorre devido à reserva limitada neo-aorta proximal e o arco aórtico proximal ampliado.
de um ventrículo único, neonatal, morfologicamente Qualquer uma das técnicas requer o uso de um remendo
direito e submetido a sobrecarga de volume. adequado que se prolongue distalmente ao tecido ductal.
Deve-se tomar cuidado para evitar o uso excessivo de
remendo, pois acredita-se que isso contribua para a
Norwood modificado: por que mudar? obstrução precoce e tardia do arco, que atingem valores
O procedimento “clássico” de Norwood consiste em tão elevados quanto 20-25% dos casos24,25. O terceiro
septectomia atrial, reconstrução da aorta ascendente método é a anastomose direta sem o uso do homoenxerto
e arco aórtico, criação de retorno pulmonar venoso para aumentar o arco, como descrito por Fraser e Mee26,
ilimitado por meio de uma grande comunicação atrial e que apresenta baixa incidência de obstrução tardia do
implantação de anastomose sistêmico-pulmonar (Figura arco segundo estudos realizados. Entretanto, usando
1). O Children´s Hospital da Filadélfia22, baseado em técnicas semelhantes sem o material prostético, Ishino
15 anos de experiência com 840 pacientes submetidos e cols.25 do Birmingham Children’s Hospital (Reino
ao estágio I de Norwood identificou os seguintes fatores 8QLGR HPGHVFUHYHUDPXPDLQFLGrQFLDGH
preditivos independentes de mortalidade hospitalar: de obstrução do arco aórtico em 120 pacientes. Esse
baixo peso ao nascer (<2,5 kg), cirurgia realizada índice é idêntico às incidências de obstrução do arco com
após a segunda semana de vida, anomalias cardíacas uso de tecido exógeno para sua reconstrução observado
associadas, tempo total de suporte e uso de assistência por outros estudos. Apesar de haver preocupação
circulatória mecânica (ECMO). com relação à artéria pulmonar esquerda e a compressão
bronquial esquerda quando se aplica a técnica sem uso
de remendo, clinicamente sua freqüência não é maior
quando comparada a outras técnicas de reparo com
seu uso.
Até há pouco tempo, a maioria das reconstruções
do arco exigiam um período obrigatório de hipotermia
profunda com parada circulatória. Diversos estudos30,31
avaliaram os efeitos da parada circulatória prolongada
e mostraram claramente a presença de seqüelas
neurológicas a longo prazo32, além de efeitos prejudiciais
agudos nos rins, fígado e intestinos devido a longos
períodos de isquemia global pelo frio. Mais importante,
há relatos de que a hipotermia profunda com parada
circulatória promova um aumento da resistência
vascular pulmonar33-35 no pós-operatório. Além disso,
Tweddell e cols.36 observaram que a resistência vascular
sistêmica também estava aumentada após a técnica
de Norwood usando a parada circulatória hipotérmica.
Além disso, Tokunaga e cols. 37 mostraram que a
atividade simpática e a resistência vascular sistêmica
aumentaram imediatamente e de maneira significativa
após a hipotermia profunda com parada circulatória em
modelos experimentais.
Imoto e cols. foram os primeiros a descrever
Fig. 1 – Operação de Norwood modificada com reconstrução do
arco aórtico com uso de remendo. O fluxo sanguíneo pulmonar é a técnica de perfusão regional seletiva por meio da
estabelecido através de anastomose sistêmico-pulmonar (Blalock- canulação da anastomose sistêmico-pulmonar a fim
Taussig modificado).
de promover a perfusão cerebral anterógrada, evitando
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totalmente a hipotermia profunda com parada circulatória. AVALIAÇÃO HEMODINÂMICA NA SHCE


O procedimento pode ser realizado com baixo fluxo em
A maior parte dos fármacos tradicionalmentes
hipotermia profunda 40 ou com perfusão com baixa
utParâmetros clínicos, amplamente usados de rotina,
resistência, alto fluxo e hipotermia moderada41. Pigula e
mostraram que não são fatores preditivos dos principais
cols.42 acrescentaram a canulação da aorta descendente
eventos adversos após a cirurgia cardíaca pediátrica,
para manter a perfusão da parte inferior do organismo.
principalmente em recém-nascidos. É extremamente
Apesar de não haver estudos randomizados disponíveis
difícil definir um marcador confiável de hipoperfusão
que corroborem os benefícios da perfusão regional,
tecidual por causa das limitações do monitoramento
observações clínicas sugerem retorno mais precoce da
invasivo impostas pelo peso do paciente e de algumas
função renal e menor instabilidade hemodinâmica nos
características anatômicas, tais como os defeitos septais
pacientes perfundidos regionalmente. Apesar de alguns
do átrio que podem interferir na medição exata do
estudos42,43 fornecerem evidências objetivas de melhora
débito cardíaco, da saturação venosa mista de oxigênio
da atividade metabólica cerebral, não há nenhum impacto
e da oferta e consumo de oxigênio. Além disso, poucos
favorável na sobrevida com o uso da perfusão regional
estudos avaliaram ou incluíram indicadores da oferta
seletiva e ainda não é possível fazer uma avaliação do
de oxigênio sistêmico no tratamento pós-operatório de
resultado neurológico a longo prazo.
pacientes submetidos à cirurgia de Norwood.
Apesar das modificações acima mencionadas serem
Individualmente, nenhum dos parâmetros obtidos
importantes, muitas outras modificações técnicas
na gasometria são considerados importantes em termos
foram realizadas a fim de conseguir uma circulação
de estimativa do estado hemodinâmico. Por outro lado,
equilibrada no início do período pós-operatório, uma vez
parâmetros combinados conseguem indiretamente estimar
que essa é o principal fator determinante na sobrevida
a oferta de oxigênio e a perfusão tecidual50. A saturação
imediata e durante o procedimento. Essas modificações
concentraram-se em limitar o fluxo sanguíneo pulmonar arterial de oxigênio acima de 80% foi proposta como um
(anastomoses sistêmico-pulmonar pequenas e mais indicador de hiperfluxo pulmonar e, conseqüentemente,
longas ou bandagem da anastomose sistêmico-pulmonar) de hipoperfusão sistêmica, mas isso não se confirmou
e melhorar o fluxo sangüíneo sistêmico44. O tamanho do em alguns estudos clínicos51.
shunt sistêmico-pulmonar é um fator muito importante que A saturação venosa mista de oxigênio (SvO2) é
influencia a distribuição de fluxo entre duas circulações geralmente aceita como indicador da adequação do débito
paralelas, comprometendo o fluxo sanguíneo coronariano cardíaco e é fortemente associada à acidose lática em
durante a diástole45. Estudos que usaram o PET-SCAN pacientes na unidade intensiva52. Considerando um teor
(Positron Emission Tomography)46 para quantificar o arterial estável de oxigênio e um metabolismo celular
fluxo sanguíneo coronariano em bebês após o reparo adequado, valores de SvO2 acima de 60% representam
dos defeitos cardíacos congênitos mostraram menor débito cardíaco adequado. As principais vantagens de sua
reserva coronariana quando comparado ao de adultos. determinação são a capacidade na determinação tanto
Particularmente após a técnica de Norwood, há um da oferta quanto do consumo de oxigênio. Entretanto,
aumento do fluxo coronariano durante o repouso, mas um diversos fatores além do débito cardíaco interferem
menor fluxo sangüíneo coronariano ao ventrículo sistêmico nos valores de SvO2, tais como a concentração sérica
que aquele observado após um reparo biventricular. de hemoglobina, saturação arterial de oxigênio e taxa
Isso está relacionado aos requerimentos aumentados de metabólica. Uma vez que o SvO2 representa a mistura de
energia do ventrículo sistêmico, necessários para bombar todo sangue de retorno venoso do organismo, o melhor
sangue para os leitos pulmonar e sistêmico. Análise ponto de amostragem deveria ser a artéria pulmonar53.
qualitativa do fluxo sanguíneo coronariano47 usando a Entretanto, esse não é o local ideal na presença de más-
ecocardiografia transesofagiana e a fluxometria de Doppler formações cardíacas congênitas com comunicações
apontaram anormalidades de fluxo coronariano após a interatriais, visto que o desvio de sangue da esquerda para
cirurgia de Norwood, quando o fluxo predominante ocorre a direita pode resultar em inexatidão. Outros autores54,55
durante a sístole. Tentativas recentes de eliminar ainda validaram a determinação de SvO2 na veia cava superior,
mais os efeitos prejudiciais da fonte arterial sistêmica de próxima à anastomose ao átrio direito. Recentemente,
sangue pulmonar, usando o conduto não valvado entre pequenos cateteres oximétricos compatíveis para uso
o ventrículo direito e a artéria pulmonar é um acréscimo em recém-nascidos foram desenvolvidos e usados com
ao arsenal cirúrgico. Esse último ponto será discutido em segurança. A aquisição dessa tecnologia provou ser
outra parte deste trabalho, uma vez que representa uma benéfica na determinação da oferta de oxigênio sistêmicos
importante contribuição que mudou a hemodinâmica após a operação de Norwood56, com impacto positivo na
pós-operatória e seus protocolos de tratamento. morbidade e na mortalidade48. O tratamento é orientado
Antes de discutir os diversos tópicos relacionados ao por dados de oximetria e a expectativa é que se atinja
tratamento, é obrigatório conhecer os avanços realizados uma oferta adequada de oxigênio sistêmico, definido
nas técnicas empregadas para orientar o tratamento como SvO2 acima de 50%, com relação entre os fluxos
desses recém-nascidos. pulmonar e sistêmico próximo a um.
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A diferença arteriovenosa de oxigênio (DO 2AV) é este equilíbrio exato após a operação de Norwood. É
outro parâmetro que pode ser usado como marcador importante entender que essas escolas não são estáticas
de perfusão tecidual57 e é considerado indicativo de e que costumam estar interligadas, em diferentes
circulação equilibrada quando seus valores forem menores protocolos, de acordo com a instituição. A primeira usa
ou iguais a 5 mL/dL. principalmente manobras para manipular o Qp pela
Apesar da identificação da acidose lática ter sido redução da ventilação minuto e inalação de misturas
sugerida como indicador útil na redução de oferta de de gás com baixo e/ou alto teor de oxigênio. A segunda
oxigênio, sua detecção previsivelmente é posterior manipula a Qs por meio de infusão de vasodilatadores
ao período inicial de oferta inadequada de oxigênio sistêmicos.
tecidual. Apesar de diversos estudos58-61 com resultados
conflitantes terem analisado o valor prognóstico do
lactato sangüíneo após cirurgia cardíaca pediátrica, existe Manipulação de Qp
concordância em relação ao poder de sua determinação RVP - Os efeitos da acidose, da hipóxia e hipercapnia
seriada62. Rossi e cols.62 postulam que níveis elevados na vasculatura pulmonar são bem conhecidos. Desde
de lactato podem representar um comprometimento  VDEHVH TXH D LQGXomR GD DFLGRVH UHVSLUDWyULD
hemodinâmico prévio, pré ou intra-operatório, algumas permissiva para efetivamente controlar a Qp tem efeitos
vezes associado com disfunção hepática. Sobreviventes da positivos na evolução de pacientes com hipoplasia do
operação de Norwood que não desenvolvem complicações coração esquerdo. Desde então os métodos evoluíram:
importantes apresentam nível aumentado de ácido lático no início o objetivo era reduzir o volume de gás alveolar
precocemente no período pós-operatório61. Além disso, expirado por minuto e aumentar o espaço morto,
pode haver reduções repentinas e graves da oferta de promovendo a retenção de dióxido de carbono. Isso
oxigênio sistêmico antes que haja um aumento dos níveis poderia ser atingido por meio da redução da freqüência
de ácido lático. respiratória, volume corrente ou ambos com pressão
O uso de cateteres intracardíacos inseridos antes positiva expiratória final e fração inspirada de oxigênio
do desmame da circulação extracorpórea é importante em ar ambiente. A redução quase instântanea do fluxo
na estimativa da volemia e da função ventricular. sangüíneo pulmonar era uma vantagem usada por centros
Também podem servir como guia diagnóstico de efeitos que se esforçavam para melhorar os resultados após a
residuais no pós-operatório. Além disso, o benefício técnica de Norwood. Por outro lado, identificaram-se
de sua determinação em tempo real pode incentivar algumas desvantagens desse tratamento: esses métodos
outros exames complementares mais sensíveis como a hipoventilatórios causaram a redução da capacidade
ecocardiografia bidimensional e o cateterismo cardíaco. funcional residual, microatelectasias e aparecimento
Além do diagnóstico dos defeitos residuais responsáveis de desvios arteriovenosos intrapulmonares no recém-
pela recuperação conturbada no pós-operatório, a nascido63, o que resultava em incompatibilidade entre
ecocardiografia desempenha um papel fundamental na ventilação-perfusão, desaturação pulmonar venosa e
avaliação quantitativa e qualitativa da função ventricular hipóxia. Obviamente que a falta de oxigênio é indesejável
regional e global e no diagnóstico de derrames do na evolução normal da recuperação após a circulação
pericárdio. Avaliando especificamente o período pós- extracorpórea cardiopulmonar e parada circulatória.
operatório da operação de Norwood, algumas situações Portanto, deve-se buscar outras maneiras de se induzir
clínicas e características anatômicas merecem atenção a acidose respiratória. Sugeriu-se o aumento da fração
especial durante a avaliação ecocardiográfica. A detecção de dióxido de carbono (CO2) no gás inspirado como
ou piora da insuficiência tricúspide pode ser um indicador método alternativo64,65 quando as variáveis mecânicas
precoce da disfunção ventricular. A persistência de da ventilação (freqüência respiratória, volume corrente
hipoxemia grave pode indicar artérias pulmonares e pressão positiva expiratória final) são definidas
hipoplásicas ou sinais de estenose na anastomose independentemente da PCO2. A vantagem dessa técnica
sistêmico-pulmonar. Uma comunicação interatrial foi conseguir aumentar a RVP sem causar efeitos adversos
restritiva pode diminuir o débito cardíaco e manter a à DO2. O acréscimo de quantias maiores de CO2 (níveis de
pressão arterial esquerda constantemente aumentada. A oferta de 1-2% ou 8-30 mmHg) no gás inspirado é usado
obstrução residual do arco aórtico é outro fator que pode para manter a paCO2 na faixa de 45-50 mmHg66. Apesar
comprometer o débito cardíaco e causar hipoperfusão de atraente, essa estratégia foi utilizada em associação
sistêmica. As obstruções da artéria pulmonar esquerda e ao aumento da ventilação minuto. Teoricamente, o
do brônquio principal esquerdo podem estar associados aumento na ventilação minuto causaria um incremento
com alguns tipos de reconstrução do arco aórtico. adicional na RVP devido a elevação na pressão média
das vias aéreas70. A redução simultânea da eliminação
de CO2 e a subseqüente alcalose por hipocapnia causada
OPÇÕES DE TRATAMENTO NO PÓS- pelo aumento da ventilação minuto pode ser compensada
OPERATÓRIO com a inspiração de CO2. Bradley e cols.71 concluíram que
Atualmente há duas escolas que buscam atingir o CO2 inspirado pode melhorar o DO2 de maneira efetiva
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apenas se a ventilação minuto é mantida constante. A inicialmente pelas conseqüências comuns da circulação
hipercapnia representa outra vantagem com relação à extracorpórea, como o edema pulmonar endotelial, edema
redução da relação Qp: Qs já que o efeito vasodilatador pulmonar intersticial e microatelectasia, que já mantêm a
sistêmico pode favoravelmente aumentar e redistribuir o RVP elevada, tornando desnecessária qualquer elevação
débito cardíaco total. posterior. Além disso, desaturação venosa pulmonar não-
Entretanto, estudos experimentais72 mostraram que reconhecida ocorre logo após a operação de Norwood.
as concentrações de CO2 necessárias no gás inspirado Acredita-se também que uma piora na disponibilidade de
para que haja um aumento estatisticamente significativo oxigênio alveolar apenas agravaria a saturação venosa
GD593HUDPH[WUHPDPHQWHHOHYDGDV PP+J  pulmonar, prejudicando assim a DO2.
Também demonstrou-se que há um aumento significativo A redução do RVS foi obtida com um dilatador
da RVP quando há uma redução da concentração de arteriolar (nitroprussiato de sódio), um antagonista
O2 inspirado. Dessa maneira, o próximo passo lógico alfa-receptor (fenoxibenzamina) ou clorpromazina ou
aplicando-se esse princípio foi reduzir o teor de oxigênio um inodilatador (milrinona). O nitroprussiato é um
na mistura de gás inspirado abaixo de 21%. Isso foi vasodilatador misto, arterial e venoso, com mecanismo de
conseguido pelo acréscimo de nitrogênio no gás inspirado. ação relacionado ao óxido nitrico, tem meia-vida curta e
A gasoterapia hipóxica ou subatmosférica foi usada com é facilmente reversível. A desvantagem do nitroprussiato
sucesso, mantendo a fração de oxigênio inspirado entre de sódio é que não combate as frequentes e repentinas
14 e 20%73,74. mudanças na RVS.
Este protocolo deve ser particularmente vantajoso em A fenoxibenzamina bloqueia, de maneira irreversível
algumas situações clínicas, tais como em recém-nascidos e não-competitiva, os receptores alfa-adrenérgicos,
de baixo peso ao nascer com valores desproporcionalmente prolongando a vasodilatação. A fenoxibenzamina foi
elevados de RVP, que não respondam à mistura hipóxica defendida por muitos centros que realizam a cirurgia
de gases75. Diferentemente, esses efeitos eram mais neonatal durante a circulação extracorpórea. Geralmente
acentuados antes da circulação extracorpórea para reduzir pode ser titulada com a pressão arterial média, apesar
o Qp comparado ao quadro pós-circulação extracorpórea, de alguns grupos terem defendido a infusão contínua
após a operação de Norwood. da mesma no período pós-operatório56,80,81. O uso da
Por outro lado, estudos recentes76 mostraram que fenoxibenzamina depois da operação de Norwood
níveis elevados da fração inspirada de oxigênio pode, na melhora a DO2 e induz uma proporção fixa e equilibrada
verdade, melhorar a saturação venosa mista de oxigênio de Qp:Qs. Neste contexto, qualquer aumento na pressão
e da oferta de oxigênio sistêmico. Bradley e cols.76 arterial média com a redução pós-carga promovida pela
sugeriram que protocolos que busquem minimizar a FiO2 fenoxibenzamina melhora a SvO2. Portanto, nenhuma
e controlem a ventilação cuidadosamente, possam não medida é necessária para reduzir a FiO2 ou para manipular
ser justificados. a ventilação mecânica. Há relatos de problemas
Hematócrito - O aumento da viscosidade sangüínea relacionados à vasodilatação excessiva com o uso de
cria uma resistência inerente ao fluxo de acordo com a lei fenoxibenzamina82, o que pode ser contrabalanceado pelo
de Poiseuille. Esse efeito é exponencial quando os valores uso criterioso de vasoconstritores como nor-epinefrina e
do hematócrito são acima de 45% e mais evidentes vasopressina.
nas condições de hiperfluxo que de hipofluxo77. Alguns A clorpromazina83, uma droga neuroléptica fenotiazina
autores incluíram essa estratégia como rotina na conduta com significativa capacidade alfa-bloqueadora, tem sido
pós-operatória. usada com sucesso. A escolha de agentes inotrópicos
mudou daqueles que apresentavam propriedades
vasoconstritivas para aqueles com propriedades
A manipulação de Qs
vasodilatadoras. A fim de reduzir a faixa de variação de
Demonstrou-se48 que após a operação de Norwood, resistência vascular pulmonar, a vasculatura pulmonar
os recém-nascidos mantêm uma elevação basal pode ser dilatada ao máximo no desmame da circulação
da RVS que também está sujeita às flutuações extracorpórea com inalação de óxido nítrico e alta
súbitas, independentemente da estratégia de circulação concentração de oxigênio inspirado como potentes
extracorpórea utilizada. O controle constante da vasodilatadores pulmonares84. Nessa situação, o fluxo
resistência vascular sistêmica é um amálgama das sangüíneo pulmonar depende de ajustes de anastomose
influências do sistema nervoso autônomo em função da sistêmico-pulmonar. Essa abordagem inovadora foi
mudança do rádio das artérias e arteríolas e dos fatores proposta por Nakano e cols.41, e simplesmente reduz
metabólicos locais. Do lado aórtico em direção ao venoso, o óxido nitroso inalado e a fração inspirada de oxigênio
há maior resistência no nível arteriolar (60%), seguido quando há melhora da saturação arterial de oxigênio,
dos capilares e pequenos vasos (15% cada) e das artérias com infusão contínua de clorpromazina para reduzir a
grandes e de tamanho médio (10%)78. RVS. A manipulação frequente do ventilador é raramente
A lógica do uso de vasodilatadores é justificada necessária.
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COM SÍNDROME DE HIPOPLASIA DO CORAÇÃO ESQUERDO

CONDUTO DO VENTRÍCULO DIREITO-ARTÉRIA FRQVHFXWLYRV FKHJRX j H[FHOHQWH WD[D GH  GH
PULMONAR: A SOLUÇÃO DEFINITIVA? sobrevida hospitalar. Mais importante, o estabelecimento
das circulações pulmonar e sistêmica em paralelo
O conduto ventrículo direito-artéria pulmonar (VD-AP)
tornaram a recuperação pós-operatória mais previsível.
para reestabelecer o suprimento sanguíneo pulmonar no
O leito pulmonar não ficava nem sujeito nem dependente
estágio I paliativo para tratar a SHCE foi introduzida por
do fluxo diastólico e havia menos alterações no fluxo
1RUZRRGHP85. Naquela época, as anastomoses
sanguíneo pulmonar na presença de crise hipertensiva
sistêmico-pulmonares eram muito grandes e todos
pulmonar ou ressucitação na ocorrência de baixo débito
os pacientes morriam ou por hiperfluxo pulmonar ou
cardíco ou após uma parada cardíaca. Não foi necessário
por insuficiência do ventrículo direito. Kishimoto e
realizar nenhuma manipulação especial em Qp e/ou Qs no
cols.86 reviveram o conceito inicial usando um conduto
pós-operatório e houve uma manutenção da oxigenação
valvado com xenopericárdio, posteriormente substituído
adequada com pressões diastólicas mais elevadas.
por Sano e cols.87 que usaram um conduto de PTFE
O excelente resultado hemodinâmico dessa técnica era
(politetrafluoretileno) não-valvado de 4 a 5 mm (Figura
particularmente benéfica para recém-nascidos com baixo
 $H[SHULrQFLDLQLFLDOGHVVHJUXSRFRPSDFLHQWHV
peso ao nascer, um subgrupo com reconhecido maior
índice de mortalidade hospitalar, geralmente devido a
hiperfluxo pulmonar mesmo com o Blalock-Taussig com
tubo de 3 mm.
O conduto VD-AP tornou-se conhecido no mundo todo
e seus resultados foram considerados reproduzíveis,
com melhora constante das taxas de mortalidade após
o primeiro estágio da reconstrução paliativa em muitos
centros. Entretanto, os resultados de centros com
ampla experiência na realização da operação de
Norwood modificada não apresentaram impacto favorável
na sobrevida hospitalar.
Diversos estudos não-aleatorizados compararam
o conduto VD-AP e a anastomose de Blalock-Taussig
modificado como fonte de fluxo sanguíneo pulmonar. O
resumo das evidências hemodinâmicas desses estudos
são apresentadas na tabela 4. Apesar da hemodinâmica
mais previsível no grupo com conduto VD-AP, não houve
diferenças significativas no período de internação na UTI,
duração do suporte ventilatório, uso inotrópico e
oferta sistêmica de oxigênio.
O conduto VD-AP tem potenciais limitações que
Fig. 2 – Operação de Norwood modificada com reconstrução do arco precisam ser mais estudadas. Os efeitos da ventriculotomia
aórtico sem remendo. A neoaorta é formada pela aorta hipoplásica direita são ponto de muita preocupação em termos
que contém os óstios coronarianos, pelo tronco pulmonar e pela aorta
descendente distal ao canal arterial. O fluxo sanguíneo pulmonar é de disfunção ventricular ou de desencadeamento
estabelecido através de conduto não valvado entre o ventrículo direito de arritmias. Evidências atuais não sustentam esse
e a artéria pulmonar.
conceito, uma vez que a função ventricular (dp/dt)

Tabela 4 – Vantagens e desvantagens da anastomose de Blalock-Taussig (BT) modificado comparado ao conduto


ventrículo direito – artéria pulmonar durante a cirurgia de Norwood modificada

Anastomose BT Conduto VD-AP

• Vantagens
• Vantagens
Pressão sanguínea diastólica mais elevada 
Melhor crescimento da artéria pulmonar*
Pressão de pulso reduzida 
Melhor oxigenação a médio-prazo
Melhor perfusão coronariana 

• Desvantagens
• Desvantagens Menor fluxo sanguíneo pulmonar 
Desvio de fluxo diastólico  Hipoxemia precoce ou progressiva 
Proporção Qp:Qs aumentada Disfunção ventricular**
Arritmias ventriculares**
* controversa 87,90,91,94,97,98; ** potencial. H

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durante a cateterização aos cinco meses de seguimento a reconstrução biventricular poder ser realizada poucos
apresentou melhor desempenho no grupo com conduto meses depois no mesmo paciente. Nesse contexto, apesar
VD-AP que o grupo com anastomose BT. Além disso, das múltiplas lesões obstrutivas no coração esquerdo,
o desempenho ventricular sistólico preliminar avaliado considera-se a reconstrução biventricular preferível
pelo teste de esforço com Doppler-ecocardiografia sempre que possível.
sugeriu melhor função ventricular precoce no grupo com Michel-Behnke e cols.102 adotaram essa estratégia
conduto VD-AP. Esses resultados foram atribuídos em 20 pacientes. Baseados na sua experiência inicial,
à sobrecarga ventricular direita reduzida por causa da defendem que um recém-nascido com SHCE admitido
menor proporção Qp:Qs, assim como melhora da perfusão
com infusão de prostanglandina E1 com amplo duto
coronariana devido a valores aumentados das pressões
aberto, sem estreitamento de duto e sem defeito
diastólicas.
atrial-septal seria candidato à bandagem bilateral nos
Outro potencial problema está relacionado ao grau de primeiros 3 a 5 dias de vida. Se houver um escoamento
reversão de fluxo no conduto não-valvado. Apesar disso, de fluxo pulmonar (run-off) como conseqüência da
a regurgitação pulmonar livre parece ser bem tolerada a resistência vascular pulmonar, esse procedimento deve
curto prazo. Assim como qualquer outro tubo de protése ser antecipado. O uso de stent no duto, assim como
na cirurgia cardíaca pediátrica, ela fica obstruída com reavaliação da efetividade da bandagem pulmonar
o tempo, principalmente três meses depois da cirurgia. deve ser realizada 2 a 3 dias antes da alta hospitalar.
Isso obriga a realização precoce do segundo estágio, Depois a infusão de prostaglandina é interrompida por
que pode ser favorável em termos de redução do atrito aproximadamente 2 horas antes da cateterização para
interprocedimento. Nesse estágio, a resistência pulmonar que se tenha um duto menor e mais estreito, facilitando
é maior. Apesar de controverso mostrou-se que o a colocação do stent e evitando seu deslocamento.
crescimento da artéria pulmonar parece ser tão
bom quanto o anastomose BT, apesar da baixa proporção Um recém-nascido com forame oval restritivo seria
Qp:Qs. Geralmente o conduto VD-AP é mantido aberto cateterizado antes da realização da bandagem bilateral.
a fim de oferecer uma fonte adicional de fluxo sangüíneo No caso de qualquer estreitamento dentro do duto,
pulmonar. Os resultados após o segundo estágio realizado um stent seria colocado antes da septotomia atrial. A
precocemente sustentam a idéia de que o fluxo sanguíneo reconstrução do arco e a anastomose cavopulmonar
pulmonar é mais baixo, mas suficiente para promover bidirecional seriam realizadas 3,5 a 6 meses depois.
a boa oxigenação sem nenhuma carga ventricular Estruturas maiores geralmente evitam a hipotermia
importante. Essse conceito é corroborado por outros profunda com parada circulatória por meio da perfusão
resultados semelhantes em pacientes submetidos ao cerebral através da artéria inominada. A anastomose
segundo estágio precocemente (3 meses) após a cirurgia cavopulmonar bidirecional permite a descompressão do
de Norwood modificada, mas espera-se um período de ventrículo único morfologicamente direito em estágio mais
recuperação mais longo no pós-operatório. Entretanto, precoce, estabelecendo circulações sistêmico-pulmonar
Malec e cols. não observaram nenhuma necessidade em série em vez de paralelas. A recuperação pós-cirúrgica
para antecipar o segundo estágio em pacientes com foi geralmente tratada com vasodilatadores arteriais e
conduto VD-AP, já que a baixa proporção Qp:Qs garantiu venosos e com doses baixas de inibidor de fosfodiesterase.
boas condições para o desenvolvimento da vasculatura $WD[DLQLFLDOGHVXFHVVRGHVVDDERUGDJHPIRLGH
pulmonar (anastomoses mais centrais e fluxo pulsátil do Além disso, aumentou os períodos de espera para
ventrículo direito). transplante cardíaco em 10% dos pacientes candidatos
nos quais a técnica de Norwood não foi a de escolha. Isso
USO DE STENT NO DUTO ARTERIAL E minimiza o desenvolvimento de hipertensão pulmonar
BANDAGEM DAS ARTÉRIAS PULMONARES grave antes do transplante, amplia o período de espera
Usar um stent no duto arterial associado à bandagem dos pacientes na lista para transplantes com segurança
das artérias pulmonares e, se necessário, realizar uma e e facilita a posterior realização do transplante103.
septotomia atrial representa uma abordagem diferente Entretanto, essa técnica precisa ser melhor estudada
ao tratamento paliativo da SHCE100. A reconstrução com períodos mais longos de seguimento. Os potenciais
da neo-aorta e o estabelecimento de uma anastomose problemas incluem óbito interprocedimento devido à
cavopulmonar bidirecional pode então ser realizada insuficiência cardíaca ou à hipertensão pulmonar. É
em uma única cirurgia101. Além disso, nos ventrículos preciso um seguimento mais próximo para se detectar
esquerdos com hipoplasia estudados, nos quais o defeitos restritivos atrial septal, estreitamento do duto
crescimento do ventrículo esquerdo pode ser melhor ou comprometimento do fluxo sanguíneo pulmonar. Além
observado durante o seguimento pós-natal, a decisão disso, o desenvolvimento de coartação aórtica significativa
cirúrgica tomada imediatamente após o nascimento foi pode comprometer o fluxo sangüíneo retrógrado e a
o método paliativo em um único ventrículo, apesar de perfusão coronariana.
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CONCLUSÕES instituições. Manipulações da RVP e da RVS são bem-


vindas e algumas vezes deveriam ser combinadas. Apesar
O tratamento cirúrgico da síndrome de hipoplasia
de ser quase sempre possível controlar a complexa
do coração esquerdo ainda é um desafio. O transplante
interação das duas circulações em paralelo, algumas
cardíaco é uma alternativa viável a esse problema104
vezes é preciso muito trabalho em equipe e experiência.
e é influenciado pelas preferências da instituição e da
Novas modificações técnicas, tais como o conduto
disponibilidade de doador. O comprometimento contínuo
ventricular-pulmonar, foram incorporadas à cirurgia a fim
da função ventricular direita, regurgitação grave da
de reduzir as complicações no pós-operatório, baseando-
tricúspide ou fistulas coronarianas tornam o transplante
se em uma via mais “fisiológica”. Ainda não se sabe qual
cardíaco o tratamento de escolha. Aperfeiçoamentos
é o impacto da ventriculotomia na função ventricular
progressivos foram realizados na cirurgia paliativa,
sistólica, diastólica e elétrica, assim como na função da
principalmente baseados na aplicação detalhada de
válvula atrioventricular. Os dados atualmente disponíveis
princípios fisiológicos. O equilíbrio entre as circulações
não são suficientes para se determinar qualquer benefício
sistêmica e pulmonar ainda é crucial no sucesso do
à sobrevida a longo prazo. Apenas o futuro poderá nos
tratamento pós-operatório da cirurgia de Norwood
dizer qual é a melhor maneira de se tratar a síndrome de
modificada. A literatura atual oferece forte apoio a esse
hipoplasia do coração esquerdo.
conceito, apontando a saturação venosa mista de oxigênio
como a melhor opção de perfusão tecidual adequada. Potencial Conflito de Interesses
As opções de tratamento variam muito entre as diversas Declaro não haver conflitos de interesses pertinentes

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