O Estado moderno: elementos e formas, sistemas de governo e
regimes políticos
TERRITÓRIO, POVO, SOBERANIA – Aspectos jurídicos e políticos
O Território
Elemento caracterizador do Estado:
Nas cidades-estado ele tem uma importância menor e essa
cresce com o advento do Estado moderno;
Na Idade Média (sistema feudal) a noção de território aparece
atrelada ao de patrimônio – propriedade
Com o Estado-nação isso se transforma, alinhado à noção de
soberania. O território vai surgir como o limite de atuação da soberania do Estado. Funções do território:
O território tem duas funções:
Negativa: é uma função negativa pelo fato de circunscrever as
fronteiras, os limites da atividade do Estado e também da atividade dos Estados estrangeiros no território nacional.
Positiva: consiste em constituir a sede física da sua população,
a fonte fundamental dos recursos naturais de que necessita e o espaço geográfico onde vigora o ordenamento jurídico. Território como necessidade:
Para cumprir a sua missão e os seus fins, o Estado necessita de
um território, ou seja, de uma certa porção de terra que lhe proporcione os meios necessários à satisfação das necessidades da sua população.
O Estado que perde seu território desaparece, pois não tem
mais espaço para fazer valer seu poder. O Território e a propriedade
Mas não pode confundir território com propriedade, uma vez
que “é por intermédio dos indivíduos que o Estado exerce seu poder dentro do território” (Gamba).
O poder do estado sobre o território consiste em imperium e
não em dominium.
“Com efeito, imperium se refere ao poder sobre os indivíduos,
enquanto que o dominium consiste no poder sobre as coisas” ibid. O Território, definição
Podemos definir, em termos simples, que território é o limite
geográfico da atuação do estado, delimitando até onde vai sua jurisdição (Gamba)
A partir disso, o território se torna fundamental pois trata de
estabelecer onde o Estado aplica de forma exclusiva seu ordenamento jurídico. Entende-se assim que sem qualquer porção de território, não há Estado (Gamba).
Obs. Dessa forma, um povo nômade não constitui um estado,
tampouco aquele que reivindica parte do território de outro Estado. Território: conceito
A palavra território refere-se a uma área delimitada sob a
posse de um grupo de pessoas, de uma organização ou de uma instituição. O termo é empregado na política (referente ao Estado Nação, por exemplo). Refere-se portanto a uma área delimitada sob posse de algo ou alguém.
Na geografia humana, o conceito de território surge inserido
na proposta de geografia política, sendo assim definido como “o espaço sobre o qual se exerce a soberania do Estado”. De fato, um autor positivista como Friedrich Ratzel sustentava que o Estado surge quando uma sociedade se organiza para defender seu território, sendo essa sua função primordial. Na geografia humana:
Nesse sentido, o território pode ser referente ao Estado
nacional contemporâneo quanto relativo a formas de organização política próprias de povos tradicionais, por exemplo. Na geografia tradicional, portanto, o conceito de território é usado para estudar as relações entre espaço e poder desenvolvidas pelos Estados, especialmente os Estados nacionais.
A geografia crítica dá uma grande importância ao conceito de
território, já que tem nas relações de poder um dos seus temas privilegiados de estudo. Ela utiliza esse conceito para tratar das relações entre espaço e poder, mas, à diferença dos geógrafos tradicionais, enfatiza que o Estado não é o único agente que exerce poder. Continuação
Nesse sentido, os geógrafos críticos afirmam que a geografia
não pode ficar restrita ao estudo da geopolítica dos Estados nacionais, pois deve pesquisar qualquer grupo social que, ao manter relações de poder com outros grupos, produza e/ou reivindique territórios. Na geopolítica:
No contexto político, o termo território refere-se à superfície
terrestre de um Estado, seja ele soberano ou não.
É definido como o espaço físico sobre o qual o Estado exerce
seu poder soberano, ou em outras palavras é o âmbito de validade da ordem jurídica estatal.
De acordo com as teorias gerais de Estado, a diplomacia, as
relações internacionais e o estudo da nacionalidade, o território é uma das condições para a existência e o reconhecimento de um país (sendo as outras duas a nação e o Estado). Exemplos negativos:
Existem determinados exemplos de entidades soberanas que
não são consideradas países, como Estados sem território (Autoridade Nacional Palestina e a Ordem Soberana dos Cavaleiros de Malta) ou nações sem território (os ciganos).
Compreende o território: as terras emersas, o espaço aéreo,
os rios, os lagos e as águas territoriais. Formas de Aquisição de território
1) A aquisição por ocupação: refere-se à aquisição de um
território que não é detido por outro Estado (res nullius ou terrae nullius)
2) A acessão: refere-se a um acréscimo de território em
virtude de fato natural, como o recuo das águas ou a formação de ilhas
3) A cessão: refere-se à situação em que há um acordo
pacífico entre Estados soberanos pelo qual se transfere o poder de império sobre determinado território Formas de Aquisição de território
4) Prescrição aquisitiva: o fato de um estado manter o império
sobre um território por longo prazo ininterruptamente, a ponto de se presumir a renúncia tácita do Estado que até então exercia seu império sobre tal território
5) A conquista: se refere à tomada violenta de parte ou da
totalidade do território de outro estado. Delimitação:
a) Solo: refere-se às terras visíveis e é limitado pelas fronteiras
internacionais e eventualmente pelo mar (Gamba)
b) O subsolo: a porção de terras subjacentes ao solo
c) Rios e afluentes: refere-se aos rios que cortam o território
de um Estado. Há situação em que um rio atravessa dois ou mais Estados e são por isso internacionais. Em um caso, as leis nacionais são aplicadas e no outro, acordos entre as partes afetadas podem disciplinar a livre navegação, a exploração econômica e outros temas Delimitação:
d) O Mar territorial: corresponde a uma faixa marítima de 12
milhas náuticas de largura medida a partir da linha de baixa- mar do litoral;
e) Zona contígua: território compreendido em uma faixa de 24
milhas náuticas a partir da linha de baixa-mar onde um Estado pode fiscalizar o cumprimento das leis aduaneiras, de imigração ou sanitárias
f) A Zona Econômica Exclusiva: refere-se à porção de mar
compreendida entre 12 a 200 milhas náuticas. Trata-se de um espaço exclusivo de exploração econômica – em casos como a exploração dos estoques pesqueiros e do petróleo Delimitação:
g) A Plataforma Continental: compreende o leito e o subsolo
das áreas submarinas. O Brasil pleiteia em nível internacional a extensão de sua plataforma continental legal para uma faixa de 350 milhas náuticas – apelidada pelos militares de Amazônia Azul.
h) O Espaço aéreo, definido a partir de uma linha imaginária
que acompanha o contorno do território
i) Aeronaves e embarcações públicas e militares: são
consideradas território onde se aplica a legislação do Estado de origem.
j) As aeronaves e embarcações privadas comerciais, quando se
encontram em território de ninguém, aplica-se a legislação pátria. Delimitação
M O Povo e o Estado Povos no mundo
a) Existe no mundo cerca de 5000 povos espalhados por todos
os continentes, falando cerca de 2000 línguas e dialetos diferentes Povos no mundo
b) Os povos indígenas: no Brasil apenas são listados mais de
305 diferentes povos (IBGE), falando mais de 180 línguas diferentes. O Povo : definições
a) É um “conjunto de indivíduos constituindo uma nação,
vivendo no mesmo território e sujeitos às mesmas leis, às mesmas instituições políticas”. Aqui, o povo é determinado pela nação que constitui, pelo território que ocupa e pela submissão às mesmas regras de direito. É uma visão mais restrita do conceito de povo.
b) É um “grupo de seres humanos vivendo em sociedade em
um determinado território e que, por vezes possuindo uma comunidade de origem, apresentam uma relativa homogeneidade de civilização e estão ligados por um certo número de costumes e instituições comuns”. Aqui, o povo é determinado pelo seu próprio território e cultura, mas não pela submissão à lei. O Povo : definições
c) É um “grupo de pessoas que, não vivendo no mesmo
território, mas tendo a mesma origem étnica ou a mesma religião, têm o sentimento de pertencer à mesma comunidade”. Aqui, as pessoas são definidas apenas por uma cultura, até mesmo uma tradição comum. É a visão mais ampla da noção de povo. O Povo : definições
Ou seja, este termo comumente designa um conjunto de seres
humanos que vivem no mesmo território ou que têm em comum uma cultura, costumes, um sistema de governo. Elas formam em um dado momento uma comunidade que compartilha principalmente um sentimento de pertencimento duradouro, uma comunidade de destinos. Este sentimento de pertencimento pode advir de pelo menos uma destas características: um passado comum, real ou suposto, um território comum, uma língua comum, uma religião comum e valores comuns. O Povo : definições
João Gorini Gamba realiza a seguinte distinção:
Povo: é o conjunto de indivíduos sujeitos às mesmas leis.
População: dimensão numérica demográfica, refere-se ao
conjunto de pessoas que vivem no território do Estado e que nela se encontra em definitivo ou não.
“Para nós a existência de pessoas com vínculo jurídico e
político é o que caracteriza um Estado, do ponto de vista do elemento humano”.
Por fim, nação é um termo que é usado muitas vezes para se
referir ao povo de um Estado (vínculos de ordem cultural) Sentido histórico
A expressão povo ganha relevo no contexto das revoluções
liberais como o Francesa e a Norte-Americana, quando é utilizada para se referir ao Estado Nacional ou ao Estado- Nação.
A ideia de nação remete ao compartilhamento de traços
comuns tais como origem, costumes, crenças, língua ou religião comum.
Mas há os casos em que um mesmo Estado é composto por
diversas nações (grupos com identidades distintas). Sentido histórico
“É comum o emprego do termo Povo no sentido de se
evidenciar e justificar o princípio da autodeterminação, sendo o Estado uma personificação da vontade nacional.
Em virtude do vínculo psicológico que implica, é possível sua
utilização para gerar maior proximidade entre os membros de uma determinada nação, visando aguçar movimentos de ajuda e caridade.
Mas também é um termo usado em em sentido negativo
como forma de mobilizar sentimentos nacionalistas negativos e xenófobos. Povo e Estado moderno
“Vale ressaltar a importância do povo enquanto elemento
constitutivo do Estado. Trata-se de um conceito que ganhou relevância exatamente no momento de surgimento do Estado moderno. Afinal, no contexto do absolutismo, o conceito de povo era relacionado ao de súdito e este por sua vez, ao de objeto. Com o desenvolvimento do Estado moderno de viés liberal, cresce o apelo à participação popular na condução das coisas públicas, germinando a ideia de democracia, a qual pressupõe que o povo seja o verdadeiro detentor do poder político a ser exercido por meio de representantes” (Gamba, pg. 122) Povo e nacionalidade
São dois os critérios para se conceder nacionalidade a um
indivíduo, sendo que sua utilização varia de estado para estado.
1) Há o critério da “origem sanguínea”, chamado de ius
sanguinis, pelos quais são nacionais os descendentes de nacionais
2) E o critério territorial, ou ius solis, pelo qual a nacionalidade
é atribuída a quem nasce no território do Estado Polipátridas e apátridas
Os polipátridas são os que possuem mais de uma
nacionalidade, normalmente decorrente de formas concomitantes de aplicação de critérios de nacionalidade
Os apátridas são aqueles – algumas vezes são povos – que não
possuem uma nacionalidade. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (da ONU) afirma que “toda pessoa tem direito a uma nacionalidade” Em Conclusão
“Seguimos o pensamento majoritário da doutrina que aponta
o povo como elemento constitutivo do Estado – em detrimento do conceito de população. Enquanto população adquire uma conotação quantitativa do total de pessoas que compõe o Estado, o povo reduz-se à parcela que mantém vínculos políticos e jurídicos com relação ao Estado e, portanto, não há que se falar em Estado sem que haja um povo que com ele mantém tais vínculos” (pg. 124) A Soberania Definições de Soberania
De acordo com Jean Bodin (1530-1596), soberania refere-se à
entidade que não conhece superior na ordem externa nem igual na ordem interna. "A soberania é o poder absoluto e perpétuo de um Estado-Nação".
Esse conceito se relaciona com a autoridade suprema,
geralmente no âmbito de um país. É o direito exclusivo de uma autoridade suprema sobre um grupo de pessoas — em regra, uma nação. Há casos em que essa soberania é atribuída a um indivíduo, como na monarquia absolutista, na qual o líder é chamado genericamente de soberano ou se atribui a algum Deus. Definições de Soberania
Entende-se por soberania a qualidade máxima de poder social
por meio da qual as normas e decisões elaboradas pelo Estado prevalecem sobre as normas e decisões emanadas de grupos sociais intermediários, tais como família, escola, empresa e religião.
Nesse sentido, no âmbito interno, a soberania estatal traduz a
superioridade de suas diretrizes na organização da vida comunitária. Definições de Soberania
No âmbito externo, a soberania traduz, por sua vez, a ideia de
igualdade de todos os Estados na comunidade internacional, associada à independência nacional.
A soberania se manifesta, principalmente, pela constituição de
um sistema de normas jurídicas capaz de estabelecer as pautas fundamentais do comportamento humano dentro de uma territorialidade. (Wikipédia) Atributos da Soberania
I) Unidade – pois não pode haver mais de uma autoridade
soberana num mesmo território
II) Indivisibilidade – não sendo divisível, é apenas possível a
divisão de funções
III) Inalienabilidade – não pode ser transferida
IV) Imprescritibilidade – a soberania se eterniza no tempo
Atributos da Soberania
V) É suprema na ordem interna, pois não admite outro poder
com quem tenha de partilhar a autoridade do Estado;
VI) É independente na ordem internacional, pois o Estado não
depende de nenhum poder supranacional e só se considera vinculado pelas normas de direito internacional resultantes de tratados livremente celebrados ou de costumes voluntária e expressamente aceitos Direito e Soberania
Na Teoria do Direito Divino: há uma fundamentação do poder
do Estado de forma descendente, advinda de cima para baixo. O poder concedido ao Estado decorre, portanto, de Deus ou de entidade supraterrena equivalente;
Na Teoria da Soberania Popular: Trata-se de uma forma
ascendente de poder, na medida em que estabelece que todo poder emana do povo (de baixo para cima). Nessa ótica o Estado é em teoria protetor dos direitos naturais humanos Direito e Soberania
Por fim, a Teoria da Soberania do Estado: refere-se a uma
fórmula circular de fundamentar o poder soberano, já que o próprio Estado confere a ele mesmo o seu poder e se apresenta como fim último da organização social. (Gamba, p. 133) São estados autocráticos ou baseados na burocracia de estado. Faculdades da Soberania
Poder legislativo (fazer e revogar leis);
Poder de declarar a guerra e celebrar a paz;
Poder de instituir cargos públicos;
Poder de cunhar e emitir moeda;
Poder de lançar impostos.
A paz (Tratado) de Westfália (1648)
Ela inaugurou o moderno sistema Internacional, ao acatar
consensualmente noções e princípios, como o de soberania estatal e o de estado-nação. Surgiu com ela a noção embrionária de que uma paz duradoura derivava de um equilíbrio de poder.
A Paz de Westfália estabeleceu os princípios que caracterizam
o estado moderno, destacando-se a soberania, a igualdade jurídica entre os estados, a territorialidade e a não intervenção.