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CRIMINOLOGIA e ESCOLAS PENAIS

Conceito de criminologia
Criminologia é a ciência:
 Empírica;
 Interdisciplinar (biologia criminal, sociologia criminal, psicologia criminal etc)
* Mais profundo que multidisciplinaridade. Interdisciplinaridade demanda
integração e cooperação.
* Papel de instância superior: integração dos saberes parciais.
 Autônoma (não mera disciplina do Direito)

que tem por objeto de estudo:


 o crime; criminoso, vítima e controle social.

Vitimologia → estudo da vítima. Busca atender a seus interesses e vontade. Exs.:


APPrivada, APPública condicionada a representação, arrependimento posterior. Lei
9.099/95 afirma que seus objetivos serão, sempre que possível, a reparação dos danos
sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.
Há quem atribua o nascimento da Criminologia à Escola Clássica (séculos XVIII e
XIX), surgida a partir do Iluminismo.
Seus pensadores (Feuerbach, Beccaria, Bentham, Carrara, Rossi e outros), de fato,
preocuparam-se em estudar sistematizadamente o crime e o criminoso, debruçando-se sobre
as causas da delinquência e os meios adequados para combatê-la.
É certo, porém, que o berço da Criminologia moderna, enquanto ciência ocupada
em conhecer o fenômeno criminal, sua gênese, seu diagnóstico e seu tratamento, foi a obra
de Lombroso (hoje profundamente criticada), L`Uomo delinquente, de 1876.
Atualmente, é vista como uma ciência multidisciplinar, que se vale da antropologia,
da biologia, da psicologia, da psiquiatria, da sociologia etc.
CRIMINOLOGIA X DIREITO PENAL X SEGURANÇA PÚBLICA X
SOCIOLOGIA
Dir. Penal  abordagem normativa. Crime é conduta prevista na lei penal com imposição
de sanção.
Segurança pública  abordagem fática. Crime é toda perturbação de ordem e paz pública.
Sociologia  abordagem social. Crime é toda conduta desviante (se desvia da expectativa
social).
Criminologia  abordagem global. Crime é um problema social e comunitário.

ESCOLAS PENAIS
As escolas penais são as diversas correntes filosófico-jurídicas em matéria penal
que surgiram para explicar
1. O que é o crime?
2. O que é a pena?
3. Qual o fundamento do direito de punir?
4. Qual a finalidade da pena?
Destacam-se três importantes escolas: escola clássica, escola positiva e escola
técnico-jurídica.
1ª escola: ESCOLA CLÁSSICA OU IDEALISTA:
Origem: Itália/ ideais iluministas.
Expoentes: Cesare Bonesana (Marquês de Beccaria), Francesco Carrara e Enrico
Pessina.
Marco: publicação da obra Dos delitos e das penas, o “pequeno grande livro” do Marquês
de Beccaria.
Defendeu o indivíduo contra o arbítrio do Estado.
Marcada pelo jusnaturalismo, ou seja, aceitavam que normas absolutas e naturais
prevalecessem sobre as normas do direito posto.
O que é crime: é um ente jurídico, ou seja, uma criação do homem dentro dos seus valores
morais. O crime não é uma ação (ato natural) mas uma infração (ato moral);
Fundamento do direito de punir: é o livre arbítrio, o homem nasce livre e pode tomar
qualquer caminho, escolhendo pelo caminho do crime, responderá pela sua opção.
O que é a pena: é um mal imposto ao indivíduo merecedor de um castigo por motivo de
uma falta considerada crime, cometida voluntária e conscientemente (pena como castigo).
Finalidade da pena: predominantemente retributiva. Forte timbre de direito canônico
(eclesiástico).
Característica da pena: proporcional.
Método para aplicação da pena: lógico abstrato para configuração do crime (baseado na
lógica dedutiva, a lei penal é a premissa maior e o fato é a premissa menor).

2ª escola: ESCOLA POSITIVISTA:


Percursor: Augusto Comte.
Expoentes: Cesare Lombroso, Enrico Ferri e Raffaele Garofalo.
Influências de Darwin, Lamarck, Haeckel, John Stuart Mill, Spencer e Augusto Comte.

Característica: o crime começou a ser examinado sob o ângulo sociológico, e o criminoso


passou também a ser estudado, se tornando o centro das investigações biopsicológicas.
Rompe com a Escola Clássica.
O que é crime: é produto de uma atividade humana. A partir daí o objeto de estudo é a
figura humana, o próprio homem. O crime é visto como um fenômeno social e natural,
oriundo de causas biológicas, físicas e sociais.
Fundamento do crime: não é mais o livre arbítrio (há repúdio ao livre arbítrio) e sim o
determinismo: as pessoas agem conforme uma predeterminação biológica (Cesare
Lombroso) , ou conforme padrões sociais (Enrico Ferri).
O que é pena: meio de defesa social.
Finalidade da pena: preventiva. Não sendo possível corrigir criminosos a pena era apenas
instrumento de defesa social, ou seja, não havendo “conserto” para o criminoso, a pena
serviria para afastá-lo do convívio social e proteger a sociedade. A sanção aplicável não se
balizava somente pela gravidade do ilícito, mas, sobretudo, pela periculosidade do agente.
Método: indutivo ou experimental (de observação de fatos). Prega-se a supremacia da
investigação experimental em oposição à indagação puramente racional. Observa-se o
objeto para compreendê-lo.
Essa escola passa por três fases:
A) Fase antropológica (CÉSARE LOMBROSO - 1835-1909):

- Sua obra é L´Uomo deliquente - “O homem delinquente”.

- para o médico italiano, havia uma concepção de criminoso nato, ou seja, já nascia com a
predisposição orgânica a ser um criminoso. Apresenta dados estatísticos.

- Traça o perfil físico e genético do delinquente (nariz achatado, mandíbula protuberante,


orelhas grandes e outras), entendendo que o homem nasce criminoso.

- o homem nasce criminoso, assim, o delito é um fenômeno natural, biológico. Recorre às


ideias darwinistas para provar que a maioria dos criminosos seriam indivíduos em estágios
primitivos de evolução humana.

B) Fase sociológica (ENRICO FERRI - 1856-1929):

- Foi discípulo de Lombroso.

- Era advogado criminalista.

- Fundou a sociologia criminal. Para ele, o crime era determinado por fatores
antropológicos, físicos/psicológicos e sociais – crime é fenômeno social.

- A responsabilidade do criminoso é social, não moral. A pena deve ser aquela que
possibilita a reinserção no convívio social.

- Classificou os criminosos em cinco grupos: natos, loucos, habituais, ocasionais e


passionais.
- Lei da saturação criminal → um criminoso sempre vai cometer um nº x de crimes, nunca
vai ultrapassar.

C) Fase jurídica (RAFFAELE GAROFALO):

- Estudou a criminologia.
- dá um contorno jurídico à concepção de direito penal que vinha se mostrando
antropológica e social.

- O fundamento da pena é a periculosidade (surge a medida de segurança para


retirar a periculosidade do agente).

- A finalidade da pena é predominantemente preventiva.

- o direito penal é um fenômeno jurídico.

3ª escola: ESCOLA TÉCNICO-JURÍDICA:


Precursor: Arturo Rocco.
Visa desenvolver o estudo jurídico da ciência penal. A ciência penal é autônoma, com
objeto e métodos próprios, não se misturando com outras ciências (antropologia, sociologia,
filosofia, etc.). Rocco propõe uma reorganização onde o estudo do direito criminal se
restringiria apenas ao direito positivo vigente.
O que é o crime: é uma relação jurídica.
Fundamento do crime: livre arbítrio. O fundamento é moral, a vontade livre de toda
pessoa.
O que é pena: é uma reação do direito e uma consequência do crime.
Finalidades da pena: preventiva (geral e especial).
Método: técnico-jurídico.

Além dessas três há outras escolas que surgiram, e foram chamadas de ecléticas,
porque misturavam as ideias das duas escolas iniciais:
Escola Sociológica Francesa (Gabriel Tarde e Lacasagne)
Terceira Escola Italiana (Terza Scuola) (Bernardino Alimena e Emanuel Carnevale)
Escola Correcionalista (Karl Roder)
Escola da Defesa Social (Felipe Gramática, Adolphe Prins e Marc Ancel).
Escola Moderna Alemã (Franz Von Liszt) → principal teórico e fundador da Teoria
Finalista do Direito Penal (aprofundado no tópico sistemas penais). A pena tem tanto
função preventiva geral quanto especial. Dedicou sua vida à oposição franca ao arcaico
conceito de pena como instrumento de vingança da sociedade. Defendeu a liberdade
condicional e deu ênfase às causas sociais da criminalidade.

Escola clássica ou idealista Escola Positiva ou Escola Técnico-jurídica


Positivista
Expoente(s) Cesare Bonesana (Marquês Cesare Lombroso, Enrico Arturo Rocco.
de Beccaria), Francesco Ferri e Raffaele Garofalo.
Carrara e Enrico Pessina
O que é o crime? Ente jurídico. Fenômeno natural e Relação jurídica.
social.
Fundamento do Livre arbítrio. Determinismo (natural ou Livre arbítrio.
crime: social).
O que é a pena? Mal imposto (castigo). Meio de defesa social. Reação do direito e
consequência do crime.
Finalidade da pena Retributiva Preventiva Preventiva (geral e
especial)
Método Dedutivo (lógico abstrato) Indutivo (experimental) Técnico-jurídico.

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