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Projeto 2 – Projeto de Retificador

Autor: Paulo Figueredo de Lima

1. Objetivo

Este projeto tem como objetivo dimensionar os retificadores trifásicos de cada uma das células do

conversor trifásico ROBICON Perfect Harmony refrigerado a ar de 3600 kVA, 4160 V, assim como

dimensionar o transformador que deverá alimentar o conversor.

2. Considerações iniciais

O conversor trifásico ROBICON Perfect Harmony de 3600 kVA, 4160 V foi considerado como sendo

composto de 12 células de potência monofásicas (quatro por fase) de 600 V, 300 kVA. As células

são compostas de uma ponte retificadora de 6 pulsos, um capacitor no barramento CC e quatro

IGBT’s que produzem a saída PWM.

Cada célula é alimentada por um secundário de transformador defasador com defasagens diferentes

para as células da mesma fase de forma a se obter um cancelamento das correntes harmônicas. As

quatro células em série por fase perfazem uma tensão de fase na saída do conversor de 2400 V,

correspondente a uma tensão de linha de 4160 V na saída do retificador.

Em série com cada retificador há uma indutância equivalente de 8% na base da célula de potência

(300 kVA, 600 V) o que leva a um valor de indutância Ls = 0,26 mH. Essa indutância levará a uma

redução da tensão no barramento CC em relação ao seu valor Vdo = 931,8 V caso Ls = 0.

Para limitar o “ripple” da tensão no barramento CC a um valor de 10% (pico-a-pico), será necessário

inserir um capacitor entre os terminais positivo e negativo desse barramento.

A carga considerada conectada ao barramento CC de cada retificador foi um resistor cujo valor levou

a uma potência no entorno de 300 kW no lado CC.

O barramento de 13,8 kV foi considerado com um nível de curto-circuito de 10 kA.

Todas essas considerações foram utilizadas para a simulação no Simulink da MathWorks.


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3. Resultados da simulação

Para a simulação, cada célula de potência foi modelada conforme o diagrama da figura a seguir.

Figura 1 – Diagrama básico para a simulação.

No diagrama anterior, os seguintes valores foram considerados:

 Tensões de linha no secundário do transformador: 690 V, 60 Hz

 Indutâncias Ls: 0,25 mH

 Capacitância Cd: 1,2 mF

 Resistência de carga Rc: 2,7 

 Diodos D1 a D6: Vf = 0,8 V, Ron = 0,45 m

Para a simulação completa fez-se necessário considerar as quatro células em uma fase para que se

pudesse enxergar o comportamento da corrente no primário do transformador defasador; assim, a

simulação foi feita considerando-se as quatro células de potência de uma fase do conversor. O

diagrama anterior, portanto, foi repetido mais três vezes, porém com defasamentos distintos entre os

secundários, e com os primários dos transformadores sendo alimentados por um único barramento de

13,8 kV.

A figura a seguir apresenta a forma de onda da corrente da fase “A” que alimenta um dos retificadores

da célula de potência. Observa-se forte presença dos harmônicos característicos do retificador de 6

pulsos, quais sejam 5º, 7º, 11º, 13º, 17º, 19º, 23º e 25º. O valor eficaz dessa corrente é de 276,7 A; a

distorção harmônica total da corrente (DHTI) é de 36,6 %; o “K-factor” calculado foi de 4,65

(considerando-se até o 25º harmônico).


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Figura 2 – Forma de onda da corrente na entrada do retificador.

A figura a seguir apresenta a tensão no barramento CC. Observa-se que o “ripple” da tensão é de

9,3%, portanto inferior ao valor de 10%. A tensão média do barramento CC é de 895 V.

Figura 3 – Tensão Vd no barramento CC.

A figura a seguir apresenta a forma de onda da corrente no diodo D3 do diagrama inicial. O valor de

pico dessa corrente é de 441 A e o valor médio no período de condução é 283 A; o valor eficaz é de

316 A. As simulações mostram que a tensão máxima reversa repetitiva do diodo é 939 V.
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Figura 4 – Forma de onda – Tensão e corrente - diodo D3.

Para o dimensionamento dos diodos considerou-se que a corrente média do diodo represente 80% do

valor da corrente média de condução (IFAV) do diodo. Assim, o diodo deve ter uma corrente IFAV no

entorno de 350 A. A tensão reversa repetitiva do diodo deverá ser superior a 939 V. Dessa forma

escolheu-se o diodo SKN 320 da Semikron que possui um valor IFAV de 350 A @ 115 ºC de

temperatura de encapsulamento e uma tensão reversa repetitiva VRRM de 1200 V. A dissipação do

diodo é de 325 W para a corrente média de 283 A. Para esse diodo o valor da resistência térmica do

encapsulamento para o dissipador de calor Rth(c-s) é 0,015 K/W. Para uma temperatura ambiente de

40 ºC a resistência térmica entre encapsulamento e o ambiente (R th(c-a)) é 0,27 K/W. A resistência

térmica entre o dissipador e o ambiente (Rth(s-a)) deverá ser inferior a 0,25 K/W. Com esses valores

optou-se pela utilização de um dissipador de calor P1/150 da Semikron para cada diodo, com

ventilação forçada através de três ventiladores SKF 3-230-01 da Semikron. Nessa configuração o

valor de Rth(s-a) será entre 0,25 e 0,2 K/W.

Para os secundários do transformador defasador escolheu-se a tensão de linha de 690 V (975,8 Vpico)

para a alimentação dos retificadores trifásicos de onda completa das células de potência. Essa tensão

foi escolhida pois a tensão média no barramento de corrente contínua (Vd) deve ser superior a 849 V

para que se obtenha uma tensão eficaz na saída do conversor de 600 V. Para o primário a tensão

considerada foi de 13,8 kV. Os defasamentos considerados para cada secundário em uma mesma fase

foram de +22,5º; +7,5º; -7,5º e -22,5º, ou seja, um defasamento de 15º entre as tensões de suprimento

de cada retificador numa mesma fase. A figura a seguir apresenta a ligação do primário do

transformador em delta e duas configurações para ligação do secundário. No primeiro caso o


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secundário atende aos defasamentos de +22,5º e +7,5º e no segundo aos defasamentos de -7,5º e -

22,5º. Para os defasamentos de 22,5º a tensão do enrolamento delta do secundário é de 180,12 V e a

tensão do prolongamento do delta é de 304,9 V. Para os defasamentos de 7,5º a tensão do enrolamento

delta do secundário é de 528,10 V e a tensão do prolongamento do delta é de 104 V. O valor da tensão

de linha para essas configurações é, em todos os casos, 690 V.

Figura 5 – Ligação do transformador defasador.

O enrolamento primário do transformador (delta) deverá ter uma corrente nominal de 163/3 = 94 A

para atender a carga de 3600 kVA do conversor. Para essa corrente o condutor do enrolamento

primário deverá ter uma seção transversal de 41 mm2; o diâmetro não deverá ser inferior a 7,2 mm.

Para cada enrolamento secundário de 300 kVA de capacidade (12 enrolamentos) a corrente nominal

será de 261 A. Para essa corrente o enrolamento secundário deverá ter uma seção transversal de 114

mm2; o diâmetro do condutor não deverá ser inferior a 12 mm.

Considerando-se que o núcleo do transformador deverá ter dimensões suficientes para comportar o

enrolamento primário e os 12 enrolamentos secundários e que as perdas no ferro deverão ser limitadas

a um valor razoável, estima-se que o volume do núcleo do transformador seja de 1 m3.

A corrente total que circulará no sistema decorrente do suprimento ao transformador terá seu

conteúdo harmônico bastante reduzido em função do defasamento entre os enrolamentos secundários

do transformador.
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A figura a seguir apresenta a forma de onda da corrente primária na fase “A”.

Figura 6 – Corrente primária para 100% da carga.

Na figura a seguir vê-se a mesma corrente primária, porém com uma carga correspondente a apenas

20% da carga nominal.

Figura 7 – Corrente primária para 20% da carga.

4. Referências Bibliográficas

1) Semikron AG. Data-sheet SKN 320 – Stud Diode – 2004, Germany.

2) Semikron AG. Data-sheet P1 heatsink – 2005, Germany.

3) Wintrich, A. et alii, Semikron AG. Application Manual – Power Semiconductors. 2015, Germany.

4) Hammond, P.W. A new approach to enhance power quality for medium voltage AC drives. IEEE

Transactions on Industry Applications, vol. 33, no. 1, January/February 1997. USA.

5) Mohan, N. et alii, John Wiley & Sons, Inc. Power Electronics – Converters, Applications, and

Design, 3rd ed. 2003, USA.


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6) E. E. Staff – MIT – Circuitos magnéticos y transformadores. Editorial Reverté. 1981. Argentina.

7) Franklin, A.C., Franklin, D.P. – J&P transformer book. Butterworths. 1983. England.

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