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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Conceitos fundamentais.......................................... 4
3. Teorias biológicas do envelhecimento................ 9
4. Composição corporal...............................................10
5. Pele e anexos.............................................................12
6. Sistema osteomuscular..........................................15
7. Sistema cardiovascular...........................................18
8. Sistema respiratório.................................................21
9. Sistema nervoso........................................................23
10. Sistema digestório.................................................29
11. Sistema endócrino.................................................35
12. Sistema urogenital.................................................37
13. Sistema hematopoético.......................................41
Referências bibliográficas .........................................44
ENVELHECIMENTO 3

1. INTRODUÇÃO
CONCEITO! Respeitando-se as limita-
O envelhecimento (processo), a velhi- ções e dentro de uma visão prioritaria-
ce (fase da vida) e o velho ou idoso mente biogerontológica, o envelheci-
(resultado final) constituem um con- mento é conceituado como um processo
dinâmico e progressivo, no qual há mo-
junto cujos componentes estão inti-
dificações morfológicas, funcionais, bio-
mamente relacionados. químicas e psicológicas, que determi-
Pode-se considerar o envelhecimen- nam perda da capacidade de adaptação
do indivíduo ao meio ambiente, ocasio-
to, como admite a maioria dos bioge- nando maior vulnerabilidade e maior in-
rontologistas, como a fase de todo um cidência de processos patológicos que
continuum que é a vida, começando terminam por levá-lo à morte. Essa defi-
nição pode ser complementada com um
com a concepção e terminando com outro conceito, este predominantemente
a morte. Ao longo desse continuum funcional, segundo o qual o envelheci-
é possível observar fases de desen- mento se caracteriza por redução da
volvimento, puberdade e maturidade, capacidade de adaptação homeostática
perante situações de sobrecarga funcio-
entre as quais podem ser identifica- nal do organismo.
dos marcadores biofisiológicos que
representam limites de transição en-
tre as mesmas. O exemplo é a me- Às manifestações somáticas da ve-
narca como marcador do início da lhice, que é a última fase do ciclo da
puberdade na mulher. Ao contrário vida, e que são caracterizadas pela
do que acontece com as outras fa- redução da capacidade funcional, cal-
ses, o envelhecimento não possui vície, canície, redução da capacidade
um marcador biofisiológico de seu de trabalho e da resistência, entre ou-
início, pelos motivos já expostos. De tras, associam-se perdas dos papéis
qualquer forma, a demarcação entre sociais, solidão, perdas psicológicas
maturidade e envelhecimento, a qual e motoras, e afetivas. Na maioria das
este período aparentemente segue, é pessoas, tais manifestações somá-
arbitrariamente fixada, mais por fato- ticas e psicossociais começam a se
res socioeconômicos e legais do que tornar mais evidentes a partir do fim
biológicos. da terceira década de vida ou pou-
co mais, ou seja, muito antes da ida-
de cronológica que demarca social-
mente o início da velhice. É preciso
esclarecer que essas manifestações
são facilmente observáveis quando o
processo que as determina encontra-
-se em toda sua plenitude. Deve ser
ENVELHECIMENTO 4

assinalado que não há uma consciên- e culturais e espirituais, possa ser


cia clara de que, por meio de carac- anunciado o início da velhice.
terísticas físicas, psicológicas, sociais

MAPA MENTAL: INTRODUÇÃO

Processo Fase da vida Resultado final

ENVELHECIMENTO VELHICE IDOSO

2. CONCEITOS dessa evolução. Assim, podemos falar


FUNDAMENTAIS em gerontologia social, citogerontolo-
gia ou epidemiologia gerontológica.
Diversos termos têm uso frequente
em geriatria e gerontologia e serão
usados ao longo desta seção. Capacidade funcional e reserva
funcional
Geriatria Entende-se como a capacidade fun-
cional de um órgão a capacidade má-
Ramo da medicina que se ocupa com
xima de desempenho diante de uma
o processo de envelhecimento; a pre-
situação de agravo. Assim, podemos
venção, o diagnóstico e o tratamento de
pensar em capacidade funcional re-
problemas de saúde nos indivíduos ido-
nal máxima como o máximo volume
sos; as condições socioeconômicas que
de sangue por unidade de tempo que
afetam a atenção à saúde dos idosos.
ele seja capaz de depurar, ou seja,
pelo seu clearance.
Gerontologia Um ser humano, no seu apogeu, pos-
Termo mais amplo que significa estudo sui a capacidade funcional de seus
do idoso e dos fatores relacionados ao órgãos muito acima daquilo que ne-
envelhecimento, tanto humano como cessita para viver, ou seja, de sua ne-
dos demais seres vivos. Engloba, por- cessidade basal. Um jovem pode viver
tanto, a geriatria e faz interface com as bem com um rim dada sua reserva
diversas ciências que estudem a gran- funcional, ou seja, parte de sua capa-
de diversidade dos determinantes cidade funcional cobre a necessidade
basal e grande parte dela – a reserva
ENVELHECIMENTO 5

funcional – é destinada a situações de insuficiência, mesmo em idades mui-


grandes solicitações temporárias, po- to avançadas.
rém planejadas (como o uso de toda
a reserva funcional cardiopulmonar
durante uma maratona), à manuten- Senilidade, envelhecimento
ção da homeostasia em situações de secundário ou patogenia
sobrecarga involuntária (uma doença Termos que usamos para designar as
sistêmica, uma hemorragia ou uma sú- alterações ou processos alheios ao
bita exposição ao frio, por exemplo) ou envelhecimento fisiológico e deter-
mesmo diante de uma agressão per- minados por doenças e maus hábitos
manente (como na hepatopatia crô- de vida, como o sedentarismo ou o
nica em fase inicial) quando a função tabagismo. Esses agravos, associa-
do órgão se mantém inalterada até as dos à diminuição de reserva funcional
fases mais avançadas da doença. esperada em idosos, poderão levar a
situações de insuficiência de órgãos
ou funções, bem como a incapacida-
Envelhecimento
de para as atividades da vida diária,
Processo universal e inexorável, de dependência e perda da autonomia.
evolução contínua, caracterizado pela Pesquisas sobre envelhecimento celu-
perda progressiva da reserva funcio- lar têm sugerido que alguns fenômenos
nal de cada órgão responsável pela ligados ao envelhecimento ocorreram
nossa homeostasia. A esse estreita- desde a concepção, reforçando o cará-
mento da reserva funcional chama- ter fisiológico e inexorável do processo
mos homeostenose. Cabe ressaltar de envelhecimento. O conceito de en-
que, na prática, o que encontramos velhecimento celular in vitro tem sido
no ser vivo que envelhece em vida li- amplamente estudado desde que se
vre, fora de condições laboratoriais, é observou que células diplóides normais,
a somatória dos dois processos que em cultura de tecidos, apresenta um
serão identificados a seguir. tempo de vida constante e limitado, per-
dendo a capacidade de se dividir após
Senescência, envelhecimento um número característico de ciclos.
primário ou eugeria Diversas funções celulares diminuem
progressivamente com a idade. Dimi-
Nomes que damos ao processo natu-
nuem a síntese de proteínas e ácidos
ral do envelhecimento e ao conjunto
nucleicos, a capacidade de reparo de
de alterações inexoráveis e previsí-
danos ao genoma e a fosforilação
veis determinadas por este proces-
oxidativa pelas mitocôndrias, essen-
so. A senescência implica em perda
cial para a respiração celular.
de reserva funcional, sem acarretar
ENVELHECIMENTO 6

O envelhecimento celular, à seme- de defesa celular diante dos agravos),


lhança do envelhecimento do indivíduo, podemos traçar um paralelo entre o
é um processo multifatorial. As altera- envelhecimento celular e o envelhe-
ções nos telômeros (parte terminal de cimento do indivíduo: há evidência de
cada cromossomo) sugerem um pro- processos endógenos de senescência
cesso endógeno e fisiológico de enve- celular, bem como de diversos proces-
lhecimento. Essas estruturas protegem sos exógenos, alguns dos quais po-
os genes circunvizinhos e facilitam a tencialmente influenciáveis por fatores
“ancoragem cromossômica” durante ambientais, como exposição a toxinas
o processo de divisão celular. Por ser ou radiação ionizante.
constante a observação de que os te-
lômeros são reduzidos em células se-
nescentes e maiores em células jovens, Longevidade
acredita-se ser importante sua influên- Como já mencionamos anteriormente,
cia no envelhecimento celular. o processo de envelhecimento é um
A contínua agressão celular pelos mais contínuo que ocorre durante toda a vida
diversos mecanismos – entre aqueles de uma pessoa, e as pessoas tendem
identificados podemos citar a glicosi- a mudar cada vez mais em termos de
lação proteica e outros mecanismos de saúde na medida em que envelhecem,
alteração de proteínas, além do dano dadas as diferenças de hábitos e his-
de material celular por espécies reati- tória de vida e patrimônio genético de
vas de oxigênio – e a constante dimi- cada ser humano. Para efeito epidemio-
nuição da capacidade de reparação de lógico, a OMS tem considerado idosos
danos parece também exercer influ- os indivíduos a partir dos 65 anos em
ência na morte celular e no envelheci- países desenvolvidos e a partir dos 60
mento do indivíduo. Tem sido descrita anos nos países em desenvolvimento,
também a menor produção de prote- em uma tentativa de compensar a me-
ínas de choque térmico (heat shock nor expectativa de vida nestes países.
proteins), responsáveis pela resposta No entanto, para uniformizar compara-
celular a situações de estresse. ções, tanto a OMS como as agências da
ONU têm crescentemente considerado
Embora mesmo os mecanismos de
idosos homens e mulheres a partir
lesão celular citados anteriormente
dos 60 anos de idade. Esse será, por-
possam ser marcadores de um enve-
tanto, o critério preferencialmente utili-
lhecimento celular programado (é co-
zado adiante.
nhecida a diminuição dos mecanismos
ENVELHECIMENTO 7

SAIBA MAIS!
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que, no ano 2000, havia no mundo
600 milhões de pessoas com 60 anos de idade ou mais, número que deverá dobrar até 2025
e atingir 2 bilhões em 2050.

Autonomia cadeira, deambulação com ou sem dis-


positivos de ajuda ou utilização de ca-
Segundo a OMS, é a habilidade de
deira de rodas). A incapacidade para
controlar, entender e tomar, no dia a
a realização de uma destas atividades
dia, decisões pessoais sobre como vi-
implica na necessidade de alguma aju-
ver de acordo com regras e preferên-
da externa regular. O grau de indepen-
cias próprias do indivíduo.
dência está diretamente relacionado
com o número de AVD preservadas.
Independência As atividades instrumentais da vida
Habilidade de desempenhar fun- diária (AIVD), por sua vez, envolvem
ções relacionadas com a vida diária, a capacidade de administração de
ou seja, a capacidade de viver em nosso ambiente. Podem ser divididas
seu contexto com nenhuma ou pou- em atividades realizadas dentro de
ca ajuda de outras pessoas. Como é casa (cozinhar, arrumar a casa, lavar
facilmente dedutível, o contexto e o roupas, manusear medicações, utili-
ambiente nos quais vive uma pessoa zar o telefone e administrar as contas
podem ser favoráveis ou desfavorá- de casa) e aquelas fora de casa (uso
veis à sua independência. de meios de transporte público, com-
prar comida, medicação, roupas, etc.).
A falta de habilidade em realizar uma
Atividades da vida diária ou mais AIVD significa a necessidade
Limitações nas atividades do cotidia- de algum auxílio, porém não necessa-
no são a maior causa de demanda riamente tão intenso ou pessoal como
por cuidados continuados do idoso; em relação às AVD.
em outras palavras, da dependência.
As atividades da vida diária (AVD) en- SE LIGA! Ao avaliar as AIVD, faz-se
também necessário considerar os as-
volvem atividades de autocuidado (ali- pectos socioculturais. Por exemplo,
mentar-se, banhar-se, utilização do ba- um idoso não apresenta perda de uma
nheiro), de continência (urinária e fecal) AIVD por não cozinhar caso nunca te-
e de automobilização (transferência de nha desempenhado essa tarefa durante
sua vida.
cama para a posição supina ou uma
ENVELHECIMENTO 8

Qualidade de vida Fica, portanto, reiterada a concepção


de que a redução de reserva funcio-
Percepção individual de uma pessoa
nal ocorre em todo o organismo e em
de sua posição na vida, dentro do con-
todos os indivíduos, respeitando ca-
texto da cultura e do sistema de valo-
racterísticas peculiares do órgão, do
res em que tal pessoa se insere e em
sistema, das condições de desenvol-
relação aos seus próprios objetivos,
vimento e das doenças associadas ao
expectativas, padrões e preocupa-
processo de envelhecimento.
ções. É um conceito amplo, que inte-
gra de forma complexa a saúde física
de um indivíduo, seu MAPA MENTAL: CONCEITOS FUNDAMENTAIS
estado psicológico, seu
Ramo da medicina
nível de independência, Geriatria que se ocupa com o
suas relações sociais, envelhecimento

suas crenças pessoais Gerontologia


Estudo do idoso e do
envelhecimento
e a relação destes com
o ambiente. Autonomia Capacidade
Capacidade
máxima de desempenho
e independência são im- funcional
diante de um agravo

portantes mantenedores Diferença entre capacidade funcional


Reserva funcional e necessidade basal destinada a situações de
da qualidade de vida em grandes solicitações temporárias
indivíduos idosos. Perda progressiva da
Homeostenose reserva funcional levando
ao seu estreitamento
Conjunto de alterações
inexoráveis e previsíveis
Senescência
do envelhecimento
Envelhecimento
Alterações ou
CONCEITOS Senilidade processos alheios ao
envelhecimento
fisiológico determinados
Homem ou por doenças e maus
Idoso hábitos de vida
mulher ≥ 60 anos

Habilidade e controlar,
Autonomia entender e tomar
decisões pessoais

Habilidade de desempenhar
Independência funções relacionadas
com a vida diária

Atividades de autocuidado, Grau de independência está


Atividades de vida
de continência e de relacionado com o número de
diária (AVD)
automobilização AVD preservadas

Atividades
Capacidade de
instrumentais da
administrar seu ambiente
vida diária (AIVD)

Percepção individual
Qualidade de vida de uma pessoa de sua
posição na vida
ENVELHECIMENTO 9

3. TEORIAS BIOLÓGICAS De modo bastante amplo, quando são


DO ENVELHECIMENTO analisados os mecanismos moleculares
de dano e limitações celulares, existem
As teorias formuladas para explicar três grandes processos pelos quais tais
o processo do envelhecimento são moléculas sofrem comprometimento,
agrupadas em inúmeras formas e ca- causando senescência ou doenças. O
tegorias. De modo geral, todas tentam primeiro é secundário a reações quími-
cobrir os aspectos genéticos, bioquí- cas intracelulares, seja como consequ-
micos e fisiológicos de um organis- ência do surgimento de espécies tóxi-
mo. As teorias genéticas apresen- cas de oxigênio, os radicais livres, seja
tam especulações e evidências sobre por agentes exógenos como poluentes
a identidade de genes responsáveis ou radiação. Uma segunda causa está
pelo envelhecimento, acumulações de associada a subprodutos de compo-
erros na estruturação genética, senes- nentes da glicose e seus metabólitos;
cência programada e telômeros. As por fim, a presença de erros espontâ-
teorias bioquímicas estão focadas no neos nos processos bioquímicos, como
metabolismo energético, na geração a duplicação de DNA, modificações nos
de radicais livres e na taxa de sobre- processos de transcrição, pós-trans-
vida associada à saúde mitocondrial. crição, translação e pós-translação no
As teorias fisiológicas apresentam âmago celular. Muitas das teorias que
explicações para a senescência asso- serão descritas encontram-se envol-
ciadas ao sistema endócrino e o papel vidas em um desses três processos, e
dos hormônios na regulação da taxa algumas delas, em todos eles.
de envelhecimento celular.
Fatores ambientais Fatores psicossociais Estilo de vida

Acúmulo residual Teorias genéticas Teorias sistêmicas Epigenética

Catástrofe do erro Teorias celulares Teorias oxidativas Mudanças proteicas

Figura 1. Complexidade do
envelhecimento e suas inúme-
ras influências. Fonte: Tratado
de geriatria e gerontologia, 4 ed,
Mutações somáticas Teorias estocásticas Teoria do dano mitocondrial Desdiferenciação 2018
ENVELHECIMENTO 10

Frequentemente as teorias do en- ORIGEM DA MUDANÇA


velhecimento são apresentadas em TEORIAS
TEORIAS SISTÊMICAS
dois grupos: teorias programadas e ESTOCÁSTICAS

teorias estocásticas. As teorias pro- Proteínas alteradas Teorias metabólicas


Dano e reparo do DNA Teorias genéticas
gramadas são baseadas no conceito
Catástrofe do erro Apoptose
de “relógio biológico”, ou seja, fenô-
Desdiferenciação Teorias neuroendócrinas
menos delimitados marcando etapas
Dano oxidativo Teorias imunológicas
específicas da vida, como crescimen-
Mudanças proteicas
to, maturidade, senescência e morte.
Tabela 1. Classificação das teorias do envelhecimento
As teorias estocásticas estão condi- segundo Arking.Fonte: Tratado de geriatria e geronto-
cionadas a alterações moleculares e logia, 4 ed, 2018

celulares, progressivas e aleatórias


que promovem danos nas estruturas
biológicas para manutenção da vida.

MAPA MENTAL: TEORIAS BIOLÓGICAS DO ENVELHECIMENTO

Teorias Teorias
programadas estocásticas

“Relógio biológico” Alterações moleculares e celulares,


Fenômenos delimitados progressivas e aleatórias que promovem
marcando etapas específicas da vida danos nas estruturas biológicas

4. COMPOSIÇÃO as pessoas. Além disso, no mesmo


CORPORAL indivíduo um órgão pode sofrer mais
comprometimento do que o outro.
Ao longo da vida observamos várias
Concorrem para a variação da lon-
modificações nos processos biológi-
gevidade fatores genéticos, estilo de
cos. O envelhecimento é caracteri-
vida escolhido e exposições ambien-
zado por alterações previsíveis, pro-
tais. Nos mais longevos já podemos
gressivas, associadas ao aumento da
demonstrar que a influência genética
suscetibilidade para muitas doenças.
é dominante.
Esse processo não é uniforme entre
ENVELHECIMENTO 11

Apesar do rápido progresso das pes- hidrossolúveis, como a digoxina, pois


quisas nas últimas décadas, continu- elas estarão em maior concentração,
amos com o desafio de distinguirmos podendo ocorrer efeitos indesejáveis.
entre as alterações relacionadas com A musculatura vai diminuindo, espe-
as doenças, as alterações relaciona- cialmente as fibras tipo II, de contra-
das com a idade e as interferências ção rápida, como as encontradas nas
do estilo de vida. mãos. Com isso a força muscular vai
Há controvérsias em relação ao início diminuindo, estando na 8ª década de
do envelhecimento, porém, por vol- vida 40% menor quando comparada
ta dos 25 anos já podemos obser- à 2ª década. Em contrapartida, há au-
var modificações na composição mento proporcional da gordura, espe-
corporal. Toda a celularidade dimi- cialmente em torno da cintura pélvica,
nui, reduzindo a função dos órgãos, provocando modificações da silhueta.
continuamente. Ocorre diminuição da Aqui também teremos que dar aten-
água intracelular, tornando o orga- ção às regras farmacológicas, pois as
nismo da pessoa idosa desidratado, substâncias lipossolúveis, como as de
fisiologicamente. Daí devemos ficar ação central, terão seu tempo de ação
alertas ao prescrevermos fármacos aumentado.

MAPA MENTAL: COMPOSIÇÃO CORPORAL

↓ função celular

↓ celularidade
↑ tempo de ação de
drogas lipossolúveis

↑ gordura COMPOSIÇÃO ↓ água intracelular


CORPORAL

↑ concentração de
drogas hidrossolúveis
↓ musculatura

↓ força muscular
ENVELHECIMENTO 12

5. PELE E ANEXOS
A B
A pele se torna seca, por diminui-
ção das glândulas sebáceas, e es-
pessada, com as papilas dérmicas
menos profundas, levando a menor
junção entre a epiderme e a derme,
facilitando a formação de bolhas e
predispondo a lesões. O número de
melanócitos diminui de 8 a 20%, por
década, após os 30 anos. Esse fato,
Figura 2. Espécimes de pele dos grupos jovem (A) e
associado ao alentecimento da re- idoso (B) corados pelo tricrômio de Van Gleson-elastina,
posição das células da epiderme, ao x200, em que as fibras elásticas são observadas em
preto. Note-se a clara fragmentação das fibras elásticas
maior tempo de exposição aos raios ao longo da derme com o envelhecimento. Na derme
UV e à redução das células de Lan- superficial, o aparelho elástico perdeu quase comple-
tamente sua disposição vertical na pele senil. Fonte:
gerhans (células mediadoras da res- https://www.scielo.br/pdf/abd/v78n4/16901.pdf
posta imunológica na pele), contribui
para o aumento da incidência do cân-
cer de pele. Na derme do indivíduo Com o passar dos anos, a pele enruga,
idoso, observa-se menor número de torna-se flácida e perde turgor. A pele
fibras elásticas e colágenas, levando no dorso das mãos e nos antebra-
a uma perda da resiliência e à forma- ços torna-se adelgaçada, frágil, fláci-
ção de rugas. Também há diminuição da e transparente. Surgem máculas
da vascularização, justificando a pa- ou placas arroxeadas, denominadas
lidez e a diminuição da temperatura púrpura actínica, que desaparecem
da pele, aumentando a frequência de com o tempo. Essas máculas e placas
dermatites. são decorrentes do sangue extrava-
sado de capilares com suporte insa-
tisfatório e se espalham na derme.
ENVELHECIMENTO 13

Alopecia de padrão
masculino

Queratoses
actínicas
Leucoplaquia
Queratoses
seborreicas

Eczema Queratoses Eczema


numular actínicas numular

Úlcera de
estase

Figura 3. Alterações da pele, dos pelos e do cabelo em adultos mais velhos. Fonte: Bates, propedêutica médica, 12 ed,
2018

Figura 4. Queratose actínica. Fonte: https://www.


sbd.org.br/dermatologia/pele/doencas-e-problemas/
queratose-actinica/19/
ENVELHECIMENTO 14

SE LIGA! Essas alterações provo-


cam uma lentidão nos idosos ao olha-
rem o retrovisor quando estão dirigin-
do, podendo ser causa de acidentes
automobilísticos.

A diminuição do número das glân-


dulas sudoríparas somada à dimi-
Figura 5. Púrpura senil. Fonte: http://dermagrupo.com.
br/dermatologia/dermatologia-clinica/purpura-senil/ nuição dos vasos sanguíneos da der-
me e da espessura do tecido celular
subcutâneo dificultam a termorregu-
A flacidez das pálpebras superiores lação. As glândulas sebáceas man-
leva a uma limitação do campo visual têm seu número constante, mas seu
lateral, podendo a pessoa não ver ob- tamanho aumenta enquanto a libera-
jetos ao seu lado, não ver um veículo ção de gordura e a produção de cera
se aproximar ao atravessar a rua, au- diminuem.
mentando o risco de sofrer acidentes.
O embranquecimento dos cabe-
Apesar da diminuição da secreção la-
los ocorre pela perda progressiva de
crimal, a flacidez nas pálpebras infe-
melanócitos nos bulbos capilares. As
riores desloca o orifício de entrada do
alterações do crescimento e da apa-
canal lacrimal, provocando um lacri-
rência dos cabelos são devidas a um
mejamento incomodativo, obrigan-
processo complexo representando
do a pessoa a limpar os olhos, nem
um estado de saúde. O número dos
sempre com as mãos limpas, provo-
corpúsculos de Pacini e Meissner, res-
cando infecções oculares. A atrofia
ponsáveis pela sensação de pressão
da fáscia palpebral pode levar à her-
e tato leve, diminuem predispondo a
niação da gordura orbitária para den-
lesões e diminuindo a destreza para
tro do tecido palpebral, produzindo
certos movimentos com as mãos. O
“bolsas” embaixo dos olhos. Há tra-
crescimento longitudinal das unhas
tamento cirúrgico simples para essas
diminui. Elas se tornam mais quebra-
modificações. Ocorre também atrofia
diças e frágeis.
da aponeurose do músculo elevador
da pálpebra, podendo cobrir a pupila, A perda de cabelo é geneticamente
como visto na ptose senil. determinada. A linha de implantação
do cabelo nos homens pode come-
çar a recuar nas têmporas e, depois,
no vértice, até mesmo aos 20 anos
de idade. Nas mulheres, a perda de
ENVELHECIMENTO 15

cabelo segue um padrão semelhan- normal de pelos em todo o corpo –


te, porém menos acentuado. Em ho- tronco, região púbica, axilas e mem-
mens e mulheres, o número de fios de bros. Mulheres com mais de 55 anos
cabelo diminui em um padrão gene- podem apresentar pelos faciais gros-
ralizado, e o diâmetro de cada fio de seiros no queixo e no lábio superior.
cabelo diminui. Também ocorre perda

MAPA MENTAL: PELE E ANEXOS

Pele seca

Formação de bolhas e
predisposição a lesões
↓ glândulas sebáceas

Embranquecimento e Menor junção entre


perda de cabelo epiderme e derme
PELE E
ANEXOS
↓ número de fibras
Flacidez das pálpebras
elásticas e colágenas

↓ vascularização
Perda de resiliência e
Limitação do campo visual
formação de rugas

↓ temperatura e palidez

6. SISTEMA
OSTEOMUSCULAR
praticamente a metade aos 80 anos.
A massa muscular diminui quase Essa redução ocorre tanto em núme-
50% entre os 20 e 90 anos, e a for- ro quanto no volume das fibras. En-
ça muscular, que é máxima por vol- tretanto, a força muscular do diafrag-
ta dos 30 anos, sofre perda de 15% ma sofre pouca alteração, enquanto
por década a partir dos 50 anos. Essa a força da musculatura da panturrilha
perda é mais acelerada, chegando diminui significativamente ao longo
a 30%, por década, aos 70 anos e, dos anos.
ENVELHECIMENTO 16

Entre 19 e 25 anos 65 anos


Figura 6. Perda de massa muscular. Fonte: https://www.acessa.com/saude/arquivo/
fisioterapia/2020/02/26-sarcopenia-perda-massa-muscular/

durante toda a vida adulta; os homens


SE LIGA! Sarcopenia é a perda de mas- mais lentamente, e as mulheres mais
sa magra e de força com o envelheci- rapidamente depois da menopausa, o
mento. As causas da perda muscular
que leva a um aumento do risco de
são multifatoriais, incluindo alterações
inflamatórias e endócrinas, bem como fratura. Reabsorção de cálcio do osso,
sedentarismo. em vez de dieta, aumenta com o en-
velhecimento à medida que os níveis
do paratormônio se elevam. Perdas
O trabalho muscular é necessário sutis de altura começam logo após a
para a manutenção de quase todas maturidade; encurtamento significati-
as funções do corpo como postura, vo é evidente na velhice. A maior per-
locomoção, respiração e digestão. A da de altura ocorre no tronco e reflete
atividade física, independentemente o adelgaçamento dos discos inter-
da idade, aumenta a força e a velo- vertebrais e encurtamento ou mes-
cidade muscular, além de prevenir mo colapso dos corpos vertebrais em
perda óssea, quedas, hospitalizações decorrência de osteoporose, que re-
e melhorar a função articular. Portan- sulta em cifose e aumento do diâme-
to, os profissionais devem estar aptos tro anteroposterior do tórax. A flexão
a identificar os indivíduos com baixa adicional dos joelhos e quadris tam-
massa muscular e força, pois mesmo bém contribui para a redução da altu-
os mais frágeis podem melhorar seu ra. Essas alterações fazem com que
desempenho com intervenções na os membros de uma pessoa idosa
atividade física. tendam a parecer longos em compa-
Os homens e as mulheres perdem ração com o tronco.
massa óssea trabecular e cortical
ENVELHECIMENTO 17

Idade Idade Idade


55 anos 65 anos 75 anos

Figura 7. Alterações posturais no idoso. Fonte: https://bit.ly/2zNDt5C

SE LIGA! Os exercícios praticados com regularidade dimi-


nuem os fatores de risco para doenças cardíacas, diabetes
e alguns tipos de câncer. Promovem o bem-estar, melhoram
o ritmo do sono e alcançam benefícios para além do físico,
como maior integração social, ajudando na esfera psicológica.

MAPA MENTAL: SISTEMA OSTEOMUSCULAR

↓ massa muscular e força muscular

↓ massa óssea trabecular e cortical

Perda de altura

Cifose e aumento do diâmetro AP do tórax


ENVELHECIMENTO 18

7. SISTEMA aparente contradição, as câmeras


CARDIOVASCULAR cardíacas dilatadas e o coração senil,
embora atrófico em número celular,
No coração idoso ocorre perda pro-
morfologicamente, é hipertrófico. Há
gressiva dos miócitos, devido a um
redução progressiva do número de
declínio progressivo da habilidade de
células do nódulo sinusal. Compara-
duplicação das células-tronco cardía-
da com uma pessoa de 20 anos, aos
cas. Entretanto, observa-se aumento
75 anos permanecem somente 10%
de seu volume celular. A diminui-
delas. Observa-se também perda
ção da capacidade contrátil causa
de fibras na bifurcação do feixe de
aumento do coração que esconde a
His. Daí a maior chance de arritmias
atrofia das células contráteis. Em uma
cardíacas.

ESTRUTURAS ALTERADAS COM O ESTRUTURAS MANTIDAS COM O


ENVELHECIMENTO ENVELHECIMENTO
Contração prolongada Contratilidade miocárdica
Diminuição da resposta beta-adrenérgica Fluxo sanguíneo coronariano
Aumento da rigidez miocárdica e vascular Vasoconstrição alfa-adrenérgica mediada
Controle do sistema nervoso autônomo Controle do sistema nervoso autônomo
Diminuição dos barorreflexos arteriais
Aumento do fluxo simpático
Barorreflexos cardiopulmonares
Diminuição do fluxo vagal
Diminuição do VO2
Tabela 2. Estruturas cardiovasculares alteradas e mantidas com o envelhecimento. Fonte: Tratado de geriatria e ge-
rontologia, 4 ed, 2018

nos homens e 1,5 g/ano nas mulhe-


SE LIGA! O envelhecimento compro- res. O volume diastólico final diminui
mete severamente algumas partes do somente nas mulheres e, portanto,
sistema cardiovascular enquanto outras
não está correlacionado com a ida-
são mantidas sem alterações.
de. Também se observa aumento no
número e na espessura das fibras co-
Estrutura cardíaca lágenas presentes no miocárdio. Nos
muito velhos a massa ventricular es-
Ocorre hipertrofia do ventrículo es-
querda pode diminuir, provavelmente
querdo, provocando aumento da
devido ao extremo sedentarismo. O
pressão arterial dependente da ida-
acúmulo da proteína amiloide é en-
de. O aumento médio é de 1 g/ano
contrado em aproximadamente 50%
ENVELHECIMENTO 19

dos pacientes acima de 70 anos. Se ALTERAÇÕES ARTERIAIS COM O


faz parte do processo de envelheci- ENVELHECIMENTO

mento, ainda é discutível.  da espessura da parede arterial


 do número de fibras colágenas na parede arterial
 do conteúdo de glicoproteína
ALTERAÇÕES CARDÍACAS COM O  da mineralização da elastina
ENVELHECIMENTO  da rigidez arterial
ENDOCÁRDIO E  da tensão da parede arterial
MIOCÁRDIO
VALVAS
 da resistência periférica
 Lipofuscina  Lipofuscina
 da pressão sistólica do pulso
 Fibrose  Fibrose
 da pressão arterial média
 Lipídios  Amiloidose
Tabela 4. Alterações arteriais com o envelhecimento.
 Calcificação  Apoptose Fonte: Tratado de geriatria e gerontologia, 4 ed, 2018
 Miosina isoenzima beta
 Tecido conjuntivo
Tabela 3. Estruturas cardíacas com o envelhecimento. O aumento da velocidade da onda de
Fonte: Tratado de geriatria e gerontologia, 4 ed, 2018 pulso aórtico e a diminuição da pres-
são diastólica são outras consequên-
cias da rigidez aórtica. Como a per-
Estrutura arterial
fusão coronariana acontece durante
O aumento da rigidez da parede ar- a diástole pode-se provocar um dano
terial é um fenômeno universal e con- ao paciente coronariopata ao pres-
tribui para muitas alterações do siste- crevermos anti-hipertensivos.
ma cardiovascular. A diferença se dá
na camada média, diferentemente do
que ocorre na aterosclerose, em que Parâmetros funcionais
o comprometimento está na camada A frequência cardíaca de repouso é
íntima. Com o aumento da rigidez das modulada pelo equilíbrio entre a iner-
paredes, as artérias aumentam de di- vação simpática e a parassimpática,
âmetro e de espessura. Após os 60 sendo esta última dominante. A fre-
anos a elasticidade está bem diminu- quência cardíaca máxima durante o
ída, aumentando a impedância do flu- exercício vai diminuindo com o avan-
xo sanguíneo durante a sístole. ço da idade e tem sido definida pela
fórmula: 220 – idade. A sensibilidade
ao sistema nervoso autônomo não é
uniforme no organismo podendo es-
tar preservada em um local e com-
prometida em outro.
ENVELHECIMENTO 20

Existe marcante diminuição na res- idoso saudável, porém em resposta


posta do sistema cardiovascular a ao exercício ela está diminuída em
estimulação beta-adrenérgica com relação ao adulto jovem. Há piora do
consequente diminuição da frequên- enchimento ventricular esquerdo com
cia cardíaca máxima. Para compensar maior compensação da sístole atrial.
essa baixa resposta há aumento das Essa modificação explica, em parte,
catecolaminas plasmáticas, especial- por que a fibrilação atrial pode preci-
mente durante exercícios físicos. En- pitar a insuficiência cardíaca em ido-
tretanto, a resposta é tímida, havendo sos e também a presença da quarta
aumento do volume diastólico final. bulha, um achado normal no exame
A fração de ejeção ventricular esquer- físico de pessoas acima de 75 anos,
da, em repouso, não está alterada no em ritmo sinusal.

MAPA MENTAL: SISTEMA CARDIOVASCULAR

Perda de miócitos
↑ volume celular de miócitos

Dilatação das câmaras


↓ capacidade contrátil

↓ células do nódulo sinusal

Hipertrofia do ventrículo esquerdo


↑ pressão arterial

↑ rigidez da parede arterial


ENVELHECIMENTO 21

8. SISTEMA SINAIS PRECOCES DO ENVELHECIMENTO

RESPIRATÓRIO PULMONAR
 da capacidade máxima respiratória
Com o envelhecimento há grandes  progressiva da pressão parcial de O2
modificações tanto na arquitetura Perda da elasticidade pulmonar
quanto na função pulmonar, contri- Enfraquecimento da musculatura respiratória
buindo para o aumento da frequência  da elasticidade da parede torácica
de pneumonia, aumento da proba-  da rigidez da estrutura interna pulmonar
bilidade de hipóxia e diminuição do  do volume pulmonar expirado
consumo máximo de oxigênio pela Fadiga fácil
pessoa idosa. Os primeiros sinais de Tabela 6. Sinais precoces do envelhecimento pulmonar.
Fonte: Tratado de geriatria e gerontologia, 4 ed, 2018
piora da respiração pulmonar já po-
dem ser vistos por volta dos 25 anos.
Os pulmões se tornam mais volumo- Respiração
sos, os ductos e bronquíolos se alar-
gam e os alvéolos se tornam flácidos, A inspiração e a expiração se dão da
com perda do tecido septal. A conse- mesma forma no adulto. Além das
quência é o aumento de ar nos ductos alterações descritas, há falha no con-
alveolares e diminuição do ar alveolar trole central (medula e ponte) e nos
com piora da ventilação e perfusão. quimiorreceptores carotídeos e aór-
ticos com diminuição da sensibilida-
de a PCO2, PO2 e ao pH, limitando a
SE LIGA! Concorrem para o declínio da adaptação da pessoa idosa ao exer-
capacidade respiratória os maus hábitos
de vida, a poluição do local de moradia cício físico.
e trabalho e as doenças concomitantes. A maioria dos músculos sofre um cer-
to grau de sarcopenia, daí a capaci-
ALTERAÇÕES PULMONARES COM O
dade de a função pulmonar piorar em
ENVELHECIMENTO algumas pessoas pela diminuição da
 dos espaços aerados força e da resistência da musculatura
 da superfície de troca gasosa respiratória, tornando a tosse menos
Perda do tecido de suporte das vias respiratórias vigorosa. A função mucociliar é lenta,
periféricas, diminuindo a elasticidade alveolar, prejudicando a limpeza de partículas
antigamente denominado “enfisema senil”
inaladas e facilitando a instalação de
 do tecido fibroso
infecções.
Modificações do surfactante pulmonar
Tabela 5. Alterações pulmonares com o envelheci- Todas as modificações do sistema
mento. Fonte: Tratado de geriatria e gerontologia, 4 ed, respiratório são lentas, mas progressi-
2018
vas. A partir dos 25 anos a VO2 máxi-
ma diminui em 5 ml/kg/min/década. O
ENVELHECIMENTO 22

tórax se torna enrijecido devido à cal- Surfactante


cificação das cartilagens costais e os
O surfactante é um líquido secretado
pulmões distendidos pela diminuição
pelos pneumócitos tipo II, localizado
da capacidade de as fibras elásticas
na superfície interna do alvéolo, com a
retornarem após a distensão na ins-
finalidade de manter sua tensão bai-
piração. Com isso o volume pulmonar
xa. Sua produção está diminuída nos
e a capacidade ventilatória diminuem.
idosos. Na deficiência do surfactante
A capacidade vital pode chegar a di-
os alvéolos poderão colabar na expi-
minuir 75% entre a 7ª e a 2ª década,
ração, fazendo atelectasias. O surfac-
enquanto o volume residual aumenta
tante também tem função protetora,
em torno de 50%. A consequência é
impedindo a entrada de partículas, e
a inadequada oxigenação do sangue,
aumenta a capacidade de os macrófa-
enquanto a PCO2 não se altera.
gos pulmonares destruírem bactérias.
Ainda na deficiência de surfactante,
SE LIGA! As alterações esqueléticas há o aumento da permeabilidade al-
podem acentuar a curva dorsal da colu- veolar, podendo levar ao edema pul-
na torácica. O colapso vertebral osteo-
porótico provoca cifose, que aumenta o monar. Apesar de sua perda progres-
diâmetro anteroposterior do tórax. Toda- siva, a maioria dos idosos é capaz de
via, o “tórax em tonel” resultante exerce levar uma vida normalmente ativa.
pouco efeito funcional.

MAPA MENTAL: SISTEMA RESPIRATÓRIO

• ↓ volume pulmonar
• ↑ ar nos ductos alveolares
Alterações • ↓ ar alveolar
pulmonares • ↑ tecido fibroso
• ↓ surfactante
• Piora da ventilação e perfusão

• ↓ da sensibilidade a PCO2, PO2 e pH


• Tosse menos vigorosa
Alterações da
• Função mucociliar lenta
respiração
• Enrijecimento do tórax
• ↓ capacidade ventilatória
ENVELHECIMENTO 23

9. SISTEMA NERVOSO de células gliais, denominado gliose,


representa uma resposta compensa-
Alterações estruturais
tória protegendo a função neuronal e
A diferença do tamanho do cérebro a plasticidade. O número de células
entre indivíduos adultos e idosos tem da micróglia, pertencentes ao siste-
pequeno significado funcional. O vo- ma imune, permanece sem mudan-
lume do cérebro diminui em torno de ças. Há perda dos axônios e redução
7 cm³ por ano após os 65 anos de ida- da mielina que cobre esses axônios
de, com maior perda nos lobos frontal levando a rarefação da substância
e temporal e perda maior da subs- branca periventricular denominada
tância branca do que da substância no exame de ressonância magnéti-
cinzenta. O fluxo cerebral diminui he- ca de leucoaraiose. Estudos de ima-
terogeneamente de 5 a 20% com de- gem mais especializadas como na
terioração dos mecanismos que man- tomografia por emissão de pósitron
têm o fluxo sanguíneo cerebral com a (PET) podem mostrar alterações no
flutuação da pressão arterial. metabolismo cerebral, associadas ao
A perda do volume cerebral é de 2 a envelhecimento, como a diminuição
3% por década depois dos 50 anos do metabolismo da glicose nos lobos
e o peso diminui 8% comparado ao temporais e em outras áreas.
peso máximo quando adulto. A perda Em algumas pessoas, o número de
neuronal é mais evidente nos neurô- dendritos diminui, perdendo assim as
nios maiores no cerebelo e no córtex sinapses, alterando a neurotransmis-
cerebral. Também pode haver perdas são, piorando a comunicação do sis-
como no locus ceruleus – neurônios tema nervoso. Entretanto, em decor-
catecolaminérgicos –, na substância rência da plasticidade cerebral pode
nigra – neurônios dopaminérgicos – ocorrer aumento da densidade dos
e no hipocampo – neurônios colinér- dendritos, assim como seu prolonga-
gicos. No hipotálamo, na ponte e na mento, como uma reação de manu-
medula a perda é mínima. Com o en- tenção da função cerebral.
velhecimento também se observa di-
minuição das sinapses. Essas modifi- SE LIGA! Nos quadros demenciais a
cações estão mais ligadas à apoptose perda dendrítica é acentuada e progres-
do que a processos inflamatórios ou siva, diminuindo a plasticidade e a dinâ-
isquêmicos. Novos neurônios são for- mica dos processos cerebrais.
mados ao longo da vida, entretanto, a
perda é maior do que sua formação. Enovelados neurofibrilares e pla-
Em resposta ao dano neuronal, as cé- cas senis são encontrados no en-
lulas gliais aumentam. Esse acúmulo velhecimento normal, porém em
ENVELHECIMENTO 24

menor extensão que na doença de seus receptores no estriato e na subs-


Alzheimer. tância nigra podem estar diminuídos
Além das modificações do sistema e a sua administração como L-DOPA,
nervoso central, há também mudan- em cérebros normais, pode levar a
ças dos nervos periféricos e da mus- melhora do desempenho de algumas
culatura. As células do corno anterior tarefas cognitivas.
da medula diminuem. Ocorre redução Na mesma célula pode coexistir o neu-
da mielina nos nervos sensoriais. A rotransmissor e o peptídio que modu-
consequência dessas mudanças inclui lará a ação do neurotransmissor. O
perda da sensação vibratória, do tato e equilíbrio dessas ações é fundamen-
da dor, assim como disfunção autonô- tal para a manutenção da função do
mica afetando a reatividade pupilar, a sistema nervoso. O comprometimen-
regulação da temperatura corporal e o to das funções está ligado mais ao
controle vascular cardíaco e periférico. desequilíbrio desse processo do que
Parte da cognição pode sofrer cer- à alteração de um neurotransmis-
ta deterioração nas pessoas idosas sor isoladamente. Além disso, cada
saudáveis, como a velocidade do pro- neurotransmissor tem seu tempo de
cessamento cognitivo, menor destre- envelhecimento. Por isso, o desequi-
za para executar movimentos finos e líbrio dessas substâncias ocorre anos
problemas com a memória recente. antes da detecção clínica da doença.

SE LIGA! O envelhecimento pode in- Alterações metabólicas e


fluenciar todos os aspectos do sistema circulatórias
nervoso, desde o estado mental até os
reflexos e as funções motoras e sensi- Além dos neurotransmissores, ou-
tivas. O volume do cérebro, as células tras substâncias estão alteradas no
cerebrais corticais e as redes regionais
intrínsecas de conexão diminuem e já
sistema nervoso central (SNC). No
foram identificadas alterações microa- cérebro há diminuição tanto da água
natômicas e bioquímicas. No entanto, a extracelular quanto da intracelular;
maioria dos adultos mais velhos mantém lentidão da síntese proteica; aumento
a autoestima e se adapta bem às mu-
danças de capacidade e circunstâncias. na oxidação das proteínas e sua gli-
cosilação, com aumento do acúmulo
intraneural (emaranhados neurofibri-
Alterações bioquímicas lares); diminuição da síntese lipídica
A acetilcolina diminui devido à dimi- pela variação dos substratos lipídicos;
nuição dos neurônios colinérgicos e alteração na membrana lipídica e na
muscarínicos, reduzindo sua síntese condução nervosa; alterações circu-
e liberação. Também a dopamina e latórias relacionadas à aterosclerose;
ENVELHECIMENTO 25

diminuição do fluxo sanguíneo cere- Alterações cognitivas e


bral e da utilização da glicose. comportamentais
O cérebro, diferente da maioria dos As memórias processual e semântica
outros órgãos, produz sua energia são bem conservadas com o avanço da
da oxidação anaeróbica da glicose. idade. A habilidade de reconhecer ob-
O fluxo sanguíneo e o consumo de jetos e faces, assim como a percepção
oxigênio são iguais no adulto jovem visual, permanecem estáveis ao longo
e no idoso, na ausência de doenças. da vida. As memórias episódica e labo-
Entretanto, na presença de ateroscle- rativa e a função executiva são as mais
rose o fluxo sanguíneo é reduzido e o afetadas no envelhecimento. A velo-
cérebro, para se proteger, extrai mais cidade de processamento e a função
oxigênio do sangue. executiva diminuem com a idade, espe-
Isquemia, hipóxia e hipoglicemia ati- cialmente após os 70 anos. As capaci-
vam os receptores glutamato induzin- dades de atenção e concentração dimi-
do toxicidade com consequente morte nuem a habilidade para desempenhar
neuronal. A barreira hematoencefálica múltiplas tarefas ao mesmo tempo.
protege, por meio do endotélio, a en- A capacidade de solucionar problemas
trada de substâncias tóxicas do san- e aprender informações novas diminui
gue no cérebro. Com o envelhecimen- após os 30 anos. Já a fluência verbal fica
to essa barreira torna-se permeável a comprometida após os 70 anos. Todo
muitas substâncias, podendo ser uma esse declínio pode levar a diminuição
das causas de demência. do desempenho nos testes cognitivos.
Apesar de todas as alterações des-
COMPONENTES ALTERADOS DO SISTEMA critas, o sistema nervoso se mantém
NERVOSO CENTRAL íntegro graças à sua plasticidade e à
Água total sua capacidade de compensar e repa-
Espaço extra e intracelular rar os danos ocorridos, sendo possível
Lipídios manter-se funcionalmente estável no
DNA, RNA e proteínas meio social, no trabalho e em casa.
Aminoácidos
Carboidratos
Circulação Memória
Metabolismo energético
As memórias reflexa medular, senso-
Oxigênio
rial e implícita pouco se alteram com o
Reentrada de glicose
envelhecimento. Já a episódica come-
Barreira hematoencefálica
ça a diminuir por volta dos 30 anos e
Tabela 6. Componentes alterados do sistema nervoso cen-
tral. Fonte: Tratado de geriatria e gerontologia, 4 ed, 2018 declina, progressivamente, enquanto a
ENVELHECIMENTO 26

semântica responsável pela recordação Marcha, postura e equilíbrio


de nomes, palavras e memória espacial
O sistema nervoso participa, pratica-
pode ser mantida por toda a vida.
mente, de todas as funções orgâni-
cas. Uma das mais importantes para
NA PRÁTICA! a pessoa idosa é o controle da mar-
Muitas pessoas mais velhas se quei- cha e do equilíbrio. A instabilidade
xam de problema de memória. Em geral, postural representa um dos gigantes
isso se deve a “esquecimento benigno”,
que pode ocorrer em qualquer idade.
da geriatria devido às suas complica-
Esse termo descreve a dificuldade em ções. Várias são as estruturas centrais
lembrar os nomes das pessoas ou de e periféricas responsáveis por essa
objetos ou detalhes de eventos espe- função de independência motora.
cíficos. A identificação desse fenômeno
comum pode aliviar o medo da doença
de Alzheimer. Os adultos mais velhos
também recuperam e processam dados ESTRUTURAS E FATORES RESPONSÁVEIS
mais lentamente e levam mais tempo PELA MARCHA E PELO EQUILÍBRIO
para aprender novas informações. As Córtex cerebral
respostas motoras podem ser lentas e Gânglios da base
sua capacidade de realizar tarefas com-
Cerebelo
plexas pode diminuir.
Sistema vestibular
Frequentemente, o médico precisa dis-
Visão
tinguir estas alterações relacionadas à
idade de manifestações de transtornos Propriocepção
mentais que são prevalentes em adultos Sistema límbico
mais velhos como depressão e demên- Medula espinal
cia. O diagnóstico pode ser difícil porque
Musculatura esquelética
transtornos do humor e alterações cog-
nitivas podem modificar a capacidade Ossos
do paciente de reconhecer ou descrever Articulações
os sintomas. Os indivíduos mais idosos Hormônios
também são mais suscetíveis a delirium,
Circulação sanguínea
um estado de confusão mental tempo-
rário que pode ser o primeiro indício de Nutrição
infecção, problemas com a medicação Atividade física
ou demência iminente. É importante re- Tabela 7. Estruturas e fatores responsáveis pela
conhecer estas condições prontamente marcha e pelo equilíbrio. Fonte: Tratado de geriatria e
para retardar o declínio funcional. É pre- gerontologia, 4 ed, 2018
ciso lembrar que determinados achados
sensitivos e motores em pacientes mais
velhos são fisiológicos, como as altera- Com o avanço da idade a marcha se
ções na visão, na audição; nos movimen-
tos extraoculares e nas dimensões, no
altera. Na maioria das vezes a mu-
formato e na reatividade das pupilas, mas lher, tanto adulta jovem quanto ido-
são anormais em adultos mais jovens. sa, tem um desempenho pior quan-
do comparada ao homem. É comum
ENVELHECIMENTO 27

uma certa hesitação no andar, menor quanto mentais, promovendo sensa-


balanço dos braços e passos meno- ção de bem-estar e de saúde.
res. Ao mudar de direção no caminho
faz a volta com o corpo em bloco. A
postura típica, mais rígida, como se Sono
estivesse em alerta para se defender O ciclo sono-vigília se modifica com
de alguma queda, caracteriza-se pela o envelhecimento. Há a tendência
base alargada, retificação da coluna de dormir mais cedo e acordar mais
cervical, um certo grau de cifose to- cedo. As queixas de insônia, sono-
rácica, flexão do quadril e dos joelhos. lência diurna, despertares durante a
Esse conjunto de fatores indica piora noite e sono pouco reparador são fre-
da estabilidade, podendo até nos fa- quentes. Isso ocorre porque existem
zer pensar em parkinsonismo. dois tipos de sono: REM (rapid eye
movement), quando acontecem os
SE LIGA! O grande problema nos dis- sonhos, e o não REM, que se subdi-
túrbios da marcha é a queda, com todas vide em quatro estágios. No idoso, o
as complicações posteriores. sono REM praticamente não se altera.
Já no sono não REM ocorre aumento
dos estágios 1 e 2 (facilidade no des-
A prática regular de exercícios físicos é
pertar) e diminuição dos estágios 3 e
uma forma de driblar essas modifica-
4 que são exatamente os dois perío-
ções impostas pela natureza, trazen-
dos de sono mais profundo.
do ainda benefícios tanto neurológicos

30 a 39 anos 70 a 79 anos

1
1
REM
REM

3e4

4
3 2 2

Figura 8. Distribuição dos estágios do sono em homem adulto e idoso. Fonte: Tratado de geriatria e gerontologia, 4
ed, 2018
ENVELHECIMENTO 28

Os períodos de apneia ocorrem no especialmente a hipóxia noturna,


sono REM. São mais frequentes nos provocam efeitos adversos na função
idosos, particularmente, no homem cerebral.
idoso e obeso. Durante uma noite, um Outra consequência da alteração da
homem de 24 anos faz, em média, respiração durante o sono é a ocor-
cinco períodos de apneia, enquanto rência do ronco. Os estudos estatís-
aos 74 anos chega a 50 vezes. Isso ticos mostram que 60% dos homens
leva a um sono entrecortado, pois a e 45% das mulheres roncam fre-
pessoa acorda para restabelecer a quentemente após os 60 anos. Ou-
respiração. Com a noite mal dormida tro distúrbio do sono observado é a
ocorre sonolência durante o dia, mau síndrome das pernas inquietas. É um
humor, diminuição da memória, cefa- desconforto sentido a cada 30 s du-
leia e até depressão. Nesse período rante uma grande parte da noite. Pa-
podem ser observadas arritmias car- rece que corresponde a uma incoor-
díacas e hipertensão pulmonar. Ape- denação entre a excitação e a inibição
sar dos estudos não se tem a con- motora.
clusão se essas alterações do sono,

MAPA MENTAL: SISTEMA NERVOSO

Alterações estruturais
Perda de volume cerebral
Perda neuronal e diminuição de
sinapses

Alterações bioquímicas
Comprometimento dos
neurotransmissores

Alterações metabólicas e
circulatórias
Diminuição da água
Lentidão da síntese proteica

Alterações cognitivas e
comportamentais
Comprometimento das memórias
episódica, laborativa e função executiva

Marcha, postura e equilíbrio


Alteração da marcha
Instabilidade postural

Sono
Alteração do ciclo sono-vigília
Aumento dos períodos de apneia
ENVELHECIMENTO 29

10. SISTEMA DIGESTÓRIO


Apesar de os efeitos do envelheci-
mento no trato gastrintestinal serem
modestos, as alterações podem mo-
dificar a incidência e a apresentação
de vários problemas do sistema di-
gestório nos idosos.

Boca
As cáries dentárias continuam sen-
do um dos principais problemas dos
idosos, inclusive na raiz pela retração
das gengivas, raramente encontra-
das nos adultos jovens. As cáries ra-
diculares e coronais foram preditores
significativamente mais importantes Figura 9. Comparação entre mandíbulas de pessoas
idosas. Nota-se grande perda de osso alveolar na man-
de perda dentária do que a condição díbula edêntula. Fonte: Tratado de geriatria e geronto-
periodontal. Esse fato justifica a apli- logia, 4 ed, 2018

cação de flúor nos idosos em paralelo


à adição de flúor na água.
Por volta dos 40 anos a circunferên-
A baixa mineralização óssea obser- cia da arcada dentária poderá estar
vada em várias partes do esqueleto, um centímetro menor, fazendo com
na boca, se manifesta pela perda do que os dentes tenham maior atrito
osso alveolar que, associado à gen- entre si com lesão do esmalte pro-
givite, constitui outra causa da perda vocando cáries e fazendo aparecer o
dentária em adultos. amarelado da dentina. Este amare-
lado da dentina, associado às man-
chas do esmalte, origina o escureci-
mento dos dentes que vemos com o
envelhecimento.
ENVELHECIMENTO 30

SE LIGA! A maior alteração na maxila e NA PRÁTICA!


na mandíbula com a idade é consequen- Na presença de estomatodinia (ardência
te às extrações dentárias com atrofia do na boca), pensar em baixa de vitamina
osso alveolar trazendo como resultado a do complexo B ou candidíase oral sub-
diminuição da altura da face e mudando clínica. A queilite angular, inflamação
o perfil facial. Contribui para essa alte- com ulceração nas comissuras, pode ser
ração a diminuição da força de mastiga- por má oclusão da mandíbula, como nos
ção pela redução da massa muscular do pacientes edentados ou por deficiência
masseter e pterigoide. de vitaminas e/ou xerostomia. Pode ser
porta de entrada para fungos e bactérias
levando a infecções mais sérias como
A mucosa oral se torna fina, lisa e celulite de face.
seca. Perde a elasticidade e parece
edemaciada. A língua também é lisa
devido à perda das papilas, podendo Orofaringe
trazer alterações no paladar e sensa- O ato de deglutir é bastante complexo,
ção de queimação. Isso pode ocorrer estando envolvidos a boca, a faringe e
também devido à deficiência de ferro o esôfago coordenados por seis ner-
e das vitaminas B. É comum o apare- vos cranianos. Todas essas estruturas
cimento de varicosidades, principal- ainda são organizadas no centro da
mente na língua, não estando asso- deglutição do sistema nervoso central
ciada a outras doenças. A capacidade para seu perfeito funcionamento.
de cicatrização da mucosa oral se
Devido à alteração da musculatura
mantém inalterada.
esofágica há um aumento da resistên-
A função das glândulas salivares per- cia da passagem dos alimentos pelo
manece sem alterações na ausência esfíncter esofágico superior (EES). Pela
de doenças e uso de medicamentos. videofluoroscopia pode-se observar
Mais de 50% dos pacientes queixam- alteração da transferência do bolo ali-
-se de boca seca, comprometendo a mentar para a faringe na maioria dos
mastigação e a deglutição. Entretan- pacientes idosos, mesmo aqueles sem
to, essas queixas podem ser atribu- disfagia. Essa modificação associada a
ídas mais aos efeitos colaterais de menor eficiência mastigatória aumen-
medicamentos do que pelo próprio ta o risco de aspiração.
envelhecimento.

Esôfago
Com o avanço da idade observam-se
hipertrofia da musculatura esquelética
do terço superior do esôfago, diminuição
ENVELHECIMENTO 31

das células ganglionares mioentéricas, exemplo, a gastrina. Elas sofrem mo-


que coordenam a peristalse, e aumento dificações em todas as fases desde
da espessura da musculatura lisa. a síntese, passando pela liberação e
A motilidade esofágica pode ser resposta devido às alterações dos re-
anormal pela redução da amplitude ceptores. Ainda pode ocorrer a ruptura
da contração muscular após a deglu- da barreira da mucosa gástrica, permi-
tição e pelas contrações terciárias, ra- tindo que o ácido clorídrico e a pepsi-
ramente associadas a queixas. Peris- na do lúmen do estômago entrem nas
talse anormal após a deglutição e as células da mucosa, destruindo-as. O
contrações repetitivas não peristálti- rompimento dessa barreira acontece
cas, ao mesmo tempo, são chamadas também com o uso de anti-inflamató-
de “presbiesôfago”; atualmente, acre- rios, álcool, cafeína e por bactérias.
dita-se que sejam devidas a proces-
sos patológicos, tendo sido o termo SE LIGA! Mais de 50% dos indivíduos
presbiesôfago abandonado. idosos estão infectados pelo H. pylori,
com a prevalência aumentando com a
Em 35% das pessoas entre 50 e 75 idade.
anos de idade pode ocorrer a incom-
petência esfincteriana distal do esô-
fago, permitindo o refluxo do conte- Corroborando a lesão celular, a pros-
údo ácido do estômago e levando a taglandina, um lipídio que estimula a
esofagite. Em consequência, alguns secreção de bicarbonato protegendo
pacientes podem apresentar dor to- as células da mucosa, está diminuí-
rácica, por vezes exigindo diferencia- da. Além disso, observa-se dificulda-
ção com problemas cardíacos. Outros de do esvaziamento gástrico pela di-
apresentam poucos sintomas, a des- minuição de sua motilidade normal, a
peito da grave esofagite de refluxo gastroparesia.
diagnosticada pela endoscopia. Em decorrência de todas essas modi-
ficações fisiológicas, o estômago fica
mais exposto a lesões, com a gastrite
Estômago
e a úlcera péptica sendo responsá-
Com a idade há diminuição das células veis por metade dos sangramentos
parietais e aumento dos leucócitos in- digestivos altos ocorridos nos pacien-
tersticiais. Com isso diminui a secreção tes acima de 60 anos.
do ácido clorídrico e de pepsina, dificul-
tando a digestão de alimentos, princi-
palmente, os ricos em proteína. Outras Intestino delgado
enzimas também estão envolvidas di- Com o avanço da idade, as vilosidades
retamente com a digestão como, por que cobrem toda a mucosa intestinal,
ENVELHECIMENTO 32

em camada única de epitélio colu- da resposta visceral a perfuração ou is-


nar, diminuem de altura. A absorção quemia intestinal, pois o achado clínico
de várias substâncias está diminuí- de “abdome em tábua” é um sinal pou-
da, mas a homeostase é mantida. A co frequente no paciente idoso.
absorção do cálcio diminui devido à Das alterações funcionais, a constipa-
redução dos receptores da vitamina ção intestinal é uma das queixas mais
D no intestino e da 25(OH) vitamina comuns. Ocorre por alimentação po-
D circulante. Mulheres acima de 75 bre em fibras, baixa hidratação oral,
anos absorvem 25% menos de cálcio falta da prática de exercícios físicos re-
quando comparadas com uma mu- gulares, coordenação das contrações
lher jovem, especialmente se houver alterada e o aumento da sensibilidade
diminuição da secreção ácida. O ferro aos opioides. A diminuição do tônus e
também tem menor absorção, porém da força do esfíncter anal, associada
com pouca repercussão clínica. a menor complacência retal, aumen-
A diminuição da sensibilidade e dos ta a chance de incontinência fecal nas
neurônios mioentéricos contribui para pessoas idosas, sendo as mulheres
a presença de úlceras indolores. mais predispostas que os homens.
Malformações vasculares são comuns Nos idosos continentes é observado
no trato digestivo alto, provocando um espessamento do esfíncter anal
sangramentos. A nomenclatura utili- interno, talvez compensatório.
zada para essas alterações é confusa, A presença de divertículos é muito pre-
usando vários termos indistintamen- valente. Podem variar de 3 mm a 3 cm,
te como angiodisplasia, malformação sendo encontrados em 30 a 40% das
arteriovenosa e ectasia vascular. pessoas acima de 50 anos. Eles sur-
gem devido a um aumento da pressão
intraluminal, herniando a mucosa en-
Intestino grosso tre as camadas das fibras musculares
As alterações encontradas no intes- lisas. Complicam com sangramentos
tino grosso são praticamente exclu- digestivos baixos e processos inflama-
sivas do envelhecimento. As ana- tórios, a diverticulite. Com a mudança
tômicas incluem atrofia da mucosa, da dieta com mais fibras, a peristalse
anomalias estruturais das glândulas se dá normalmente sem aumentar a
da mucosa, hipertrofia da camada pressão dentro da alça intestinal.
muscular da mucosa e atrofia da ca-
mada muscular externa.
Pâncreas
A perda dos neurônios intrínsecos sen-
soriais pode contribuir para a diminuição O pâncreas diminui de tamanho, en-
durece pelo aumento da fibrose e
ENVELHECIMENTO 33

torna-se mais amarelado pelo de- para aumentar a suscetibilidade do


pósito de lipofucsina. Produz o suco idoso à intoxicação por medicamen-
pancreático, auxiliar na função diges- tos. Já a síntese proteica é mantida.
tiva, onde se encontram as enzimas A síntese do colesterol diminui e há
amilase, lipase e as proteases, sendo redução da bile total. Como a função
a tripsina a mais importante. A amila- da bile é garantir uma boa digestão e
se se mantém em volume constante, absorção dos lipídios, essa diminui-
porém a lipase e a tripsina têm a sua ção da produção biliar hepática pode
produção bastante diminuída. A des- agravar a deficiência de vitaminas
peito da queda dramática da produção lipossolúveis, já comprometida nas
dessas enzimas, não há expressão pessoas idosas que, por diferentes
clínica, pois precisamos somente de motivos, se alimentam mal, fazendo
1/10 da produção da secreção pan- dieta pobre em vitaminas lipossolú-
creática para fazermos uma digestão veis. Embora a função e a anatomia
normal. da vesícula estejam bem preservadas
com o envelhecimento, a composição
biliar tem alto índice litogênico, pre-
Fígado dispondo o idoso à formação de cál-
Durante toda a vida os hepatócitos se culos por colesterol.
dividem somente duas a três vezes e O conteúdo do citocromo P-450 di-
sua capacidade de regeneração com o minui com a idade, podendo ser a jus-
envelhecimento é ainda controversa. tificativa para o alentecimento da me-
Entre os 24 e 90 anos o fígado dimi- tabolização de algumas substâncias.
nui de volume em aproximadamen- A menor quantidade de antagonistas
te 37% e também diminui seu fluxo da vitamina K necessária para anti-
sanguíneo em 35%. Como o pâncre- coagular idosos é consistente com
as, escurece pelo depósito da proteí- diminuição da síntese de fatores de
na lipofucsina. coagulação vitamina K-dependentes,
relacionada com a idade.
SE LIGA! Esse depósito é também visto
em outros órgãos, notadamente no cé- NA PRÁTICA!
rebro devido à diminuição da proteólise
Apesar de todas essas modificações
intracelular própria do envelhecimento.
as provas de função hepática não se
alteram.

O sistema reticuloendotelial liso dos


hepatócitos diminui e está correlacio-
nado com a redução da capacidade de
metabolizar substâncias contribuindo
ENVELHECIMENTO 34

MAPA MENTAL: SISTEMA DIGESTÓRIO

Boca Orofaringe e esôfago Estômago

↑ resistência da passagem
↑ cáries Dificuldade de digestão
dos alimentos no EES

Alteração da ↑ chance de ruptura da


↑ perda dentária
motilidade esofágica barreira da mucosa gástrica

“Presbiesôfago”: peristalse
Mucosa final, lisa e seca anormal após deglutição + ↑ chance de lesões
contrações repetitivas

↑ incompetência
do EEI e refluxo

Intestino Pâncreas e fígado

↓ absorção de algumas
Depósito de lipofucsina
substâncias (ex: cálcio, ferro)

↓ capacidade de
Constipação intestinal
metabolizar substâncias

↑ chance de ↓ síntese de colesterol e


incontinência fecal produção da bile

↑ frequência
de divertículos
ENVELHECIMENTO 35

11. SISTEMA ENDÓCRINO todos os tecidos, aumentando a taxa


do metabolismo celular e contribuin-
O sistema endócrino, como o siste-
do para a manutenção da tempera-
ma nervoso, coordena respostas fi-
tura corporal. Seu efeito calorigênico
siológicas aos fatores ambientais,
diminui com o aumento da idade, au-
melhorando a sobrevida individual.
mentando a suscetibilidade de hipo-
As alterações hormonais influenciam
termia nos idosos. A resposta ao calor
o declínio funcional, as incapacida-
também está comprometida devido à
des, as doenças da pessoa idosa e a
menor sudorese. A redução da res-
longevidade.
posta febril ao ataque de diferentes
agentes se dá pela incompetência
Tireoide termorregulatória observada, em que
a participação dos hormônios tireoi-
Geralmente os valores de tiroxina dianos, junto com a resposta termos-
(T4) e tri-iodo-tironina (T3) estão em tática do hipotálamo, é fundamental.
níveis normais baixos e os do TSH
normais altos. O hormônio tireoes- O aumento do colesterol sérico, as-
timulante (TSH) elevado e a T4 nor- sim como das lipoproteínas de baixa
mal podem ocorrer devido à manu- densidade, observado no envelheci-
tenção da imunorreatividade do TSH mento, pode ser devido ao declínio da
nas análises laboratoriais, porém com função tireoidiana.
ação biologicamente menos ativa.
A diminuição dos hormônios tireoi- Paratireoide
dianos, especialmente a conversão
As glândulas paratireoidianas, res-
de T4 em T3, sugere uma ação pro-
ponsáveis pela secreção dos hormô-
tetora para o organismo contra o ca-
nios paratireoidiano (PTH) e calcitoni-
tabolismo, levando à diminuição da
na, parecem não alterar suas funções
taxa do metabolismo basal (46 kcal
de forma marcante. Algumas dife-
em homens e 43 em mulheres de 14
renças étnicas e de gênero têm sido
a 16 anos para 35 e 33 de 70 a 80
observadas. Mulheres negras e asi-
anos, respectivamente) e ao aumen-
áticas, pós-menopausa, apresentam
to progressivo do tecido adiposo cor-
baixos níveis de PTH e elevados ní-
poral. Este, metabolicamente menos
veis de cálcio em relação às mulheres
ativo que a massa magra, diminui a
brancas. Os homens mantêm baixos
demanda pelo hormônio tireoidiano,
níveis desse hormônio, coincidindo
fechando o ciclo.
com menor incidência de osteoporose
Os hormônios tireoidianos estimu- que as mulheres. Já o aumento do PTH
lam o consumo de oxigênio em quase pode ser devido a piora do clearance
ENVELHECIMENTO 36

renal ou acúmulo de fragmentos bio- ocorrendo com os hormônios. É espe-


logicamente inativos. Pode ser ainda rado um leve aumento da glicemia de
uma resposta compensatória pela re- jejum relacionado à idade (1 mg/dl/dé-
dução de cálcio intestinal. cada). Para os idosos ativos pode não
haver essa diferença. Entretanto, após
SE LIGA! Os níveis do cálcio sérico são
ingesta de alimentos a glicemia alcan-
mantidos ao longo da vida, porém o ça níveis mais elevados e o tempo de
mecanismo da regulação muda com o retorno ao normal é mais longo quan-
avanço da idade. Sabe-se que a manu- do comparado com adultos jovens.
tenção dos níveis plasmáticos do cálcio,
na infância e na fase adulta, é mantida Os mecanismos que levam ao surgi-
mediante ingesta de cálcio sem perda mento da intolerância à glicose com
óssea. Na idade avançada a calcemia é
mantida pela reabsorção do cálcio ósseo
o envelhecimento ainda não estão
mais do que pela absorção intestinal do completamente esclarecidos. Parece
cálcio ofertado pela dieta ou pela reab- haver uma exaustão progressiva do
sorção do mineral pelo rim. Uma possí- turnover das células β. O fato é que
vel explicação para essa mudança pode
ser uma diminuição na capacidade do ocorre menor resposta dos tecidos à
PTH de estimular a produção da forma glicose e à insulina.
ativa da vitamina D, a qual estimula a
absorção de cálcio intestinal.
ALGUNS FATORES RESPONSÁVEIS
PELA INTOLERÂNCIA À GLICOSE COM O
Hipófise ENVELHECIMENTO
Alteração nos receptores de insulina
Com o envelhecimento, a hipófise au-
 do número das unidades transportadoras de
menta de volume, e as alterações bio- glicose
químicas que aí ocorrem variam de  proporcional da secreção da pró-insulina em
indivíduo para indivíduo. Os níveis de relação à insulina
melatonina tanto diurnos quanto notur-  da musculatura e aumento do tecido adiposo
nos diminuem na maioria das pessoas,  da atividade física
interferindo no sono, visto que este  da gliconeogênese hepática
hormônio tem efeito hipnótico. Este  dos níveis do glucagon

hormônio também apresenta ação pro- Tabela 8. Alguns fatores responsáveis pela intolerân-
cia à glicose com o envelhecimento. Fonte: Tratado de
tetora contra os danos oxidativos. geriatria e gerontologia, 4 ed, 2018

Pâncreas SE LIGA! A intolerância à glicose com o


envelhecimento é devida a vários fato-
São pequenas as alterações mor- res, além da diminuição da insulina.
fológicas observadas no pâncreas
com o envelhecimento, o mesmo não
ENVELHECIMENTO 37

MAPA MENTAL: SISTEMA ENDÓCRINO

T3 e T4 em níveis
normais baixos

TSH em níveis normais altos

Tireoide
↑ intolerância à glicose

SISTEMA
Pâncreas Paratireoide
ENDÓCRINO

Função não se altera


de forma marcante
Hipófise

Alterações variáveis

↑ volume

12. SISTEMA UROGENITAL fluxo plasmático de 600 ml/min para


300 ml/min. Para compensar, os rins
Há perda do tecido renal, especial-
mantêm uma vasodilatação com o
mente após os 50 anos. Em seu lu-
aumento das prostaglandinas contri-
gar observam-se tecido gorduroso e
buindo para o aumento da lesão renal
fibrose. Essa modificação inicia-se no
com o uso de anti-inflamatórios não
córtex, comprometendo a concentra-
esteroides.
ção urinária, alcançando os gloméru-
los, piorando também a filtração renal.
NA PRÁTICA!
A função renal começa a diminuir de
Sabe-se que o resultado do clearan-
maneira progressiva, chegando a sua ce da creatinina (ClCr) para as pessoas
metade aos 85 anos. Aos 60 anos, idosas não é uma medida precisa, pois
o rim pesa em média 250 g; aos 70 a creatinina é uma proteína muscular e
anos, 230 g; e aos 80 anos, 190 g. sua produção está diminuída enquanto
sua secreção tubular está aumentada,
Paralelamente ocorre diminuição do
ENVELHECIMENTO 38

retenção de água como normalmente


fazendo com que a creatinina plasmáti- se poderia esperar. Esse fato nos leva
ca permaneça estável a despeito da di-
minuição da filtração glomerular. a concluir que o problema de concen-
tração urinária não é devido à dimi-
As fórmulas utilizadas para estimar a
taxa de filtração glomerular devem ser nuição do ADH e sim à diminuição de
avaliadas com mais cautela nos indiví- resposta do túbulo coletor ao ADH.
duos idosos, especialmente para os ≥
90 anos. Quando houver necessidade
de uma avaliação mais apurada deve- SE LIGA! Para manter o funcionamento
mos avaliar a função renal com a prova do rim adequadamente, a pessoa idosa
da cistatina C. Um aumento de 50% de deverá ingerir 2,5 a 3L de líquidos ao dia.
seus níveis é observado entre os 40 e
90 anos.
Como mencionado anteriormente, há
diminuição da capacidade renal de
As alterações ocorridas com o en-
concentração e conservação do só-
velhecimento na função glomerular
dio, estando os idosos mais propen-
não comprometem o bem-estar da
sos à hiponatremia e à hipopotasse-
pessoa idosa. Entretanto, como acon-
mia quando em uso de diurético ou
tece com outros órgãos, não há re-
na vigência de dietas restritivas. A
serva para seu pleno funcionamento
ureia contribui para estabelecer um
em caso de sobrecarga. Sob estresse
gradiente osmótico na medula renal e
como infecção ou dieta rica em pro-
concentra a urina nos túbulos coleto-
teína, a taxa de filtração glomerular
res. Como a pessoa idosa muitas ve-
piora significativamente, aumentando
zes faz uma dieta pobre em proteínas
a permeabilidade celular com perda
e tem déficit na produção hepática
de proteína bem maior que os traços
de ureia a uremia também pode estar
normalmente observados na urina.
diminuída.
É possível a manutenção da função
O padrão do ritmo urinário apresen-
tubular em nível suficiente ao longo
ta-se modificado na pessoa idosa,
dos anos. Entretanto, muitas pesso-
passando a eliminar água e eletró-
as idosas sofrem perda da habilidade
litos mais à noite que durante o dia.
de concentrar ou diluir a urina de tal
Essa alteração, conhecida como po-
monta que se tornam incapazes de
liúria noturna, ocorre por múltiplos
equilibrar o organismo frente a uma
fatores como a diminuição da ca-
desidratação ou a uma sobrecarga
pacidade renal de concentração e
hídrica. Se administrarmos solução
conservação do sódio, assim como
hipertônica de cloreto de sódio a uma
alteração da função do sistema
pessoa idosa o hormônio antidiurético
renina-angiotensina-aldosterona.
(ADH) se elevará, porém não haverá
ENVELHECIMENTO 39

FATORES QUE ALTERAM O RITMO URINÁRIO diminuem e se tornam grisalhos. Dis-


NA PESSOA IDOSA função erétil (dificuldade em manter a
 na capacidade de concentração renal ereção) ocorre em aproximadamente
 na habilidade de conservação do sódio
50% dos homens mais velhos.
Alterações nos receptores do ADH
na produção e excreção do ADH
Modificações na produção e função do ANP NA PRÁTICA!
Tabela 9. Fatores que alteram o ritmo urinário na pes- Causas vasculares para disfunção erétil
soa idosa. Fonte: Tratado de geriatria e gerontologia, 4 são as mais comuns, tanto doença ar-
ed, 2018 terial aterosclerótica oclusiva quanto ex-
travasamento venoso nos corpos caver-
nosos. Doenças crônicas como diabetes
Outras alterações funcionais do sis- melito, hipertensão arterial, dislipidemia
e tabagismo, bem como os efeitos cola-
tema renal são redução da acidifica-
terais da medicação, contribuem para a
ção da urina e piora da excreção de prevalência de disfunção erétil.
cargas ácidas. Esse é mais um fator
contribuinte para a nefrotoxicidade
relacionada a medicamentos e a con- Nas mulheres, a função ovariana ge-
trastes intravenosos, diminuição da ralmente começa a diminuir durante
hidroxilação da vitamina D e da regu- a quinta década de vida e, na média,
lação do sistema renina angiotensina. a menstruação cessa entre 45 e 52
Entretanto, a produção da eritropoeti- anos de idade. À medida que cai a
na em resposta à hemoglobina pare- estimulação estrogênica, muitas mu-
ce não sofrer alteração. lheres apresentam fogacho, algumas
vezes por até 5 anos. Os sinais e sin-
tomas variam de rubor, sudorese e
Órgãos genitais palpitações a calafrios e ansiedade.
À medida que os homens envelhe- Transtornos do sono e humor lábil são
cem, o interesse sexual é aparente- comuns. As mulheres se queixam de
mente conservado, embora a frequ- ressecamento vaginal, incontinência
ência das relações sexuais diminua urinária de urgência ou dispareunia.
após os 75 anos de idade. Várias Várias alterações vulvovaginais ocor-
alterações fisiológicas acompanham rem: os pelos púbicos se tornam es-
a redução dos níveis de testostero- parsos e grisalhos; os lábios do puden-
na. Ereções tornam-se mais depen- do e o clitóris diminuem de tamanho.
dentes de estimulação tátil e menos A vagina se estreita e se encurta, e a
responsivas a sugestões eróticas. O mucosa vaginal torna-se fina, pálida
tamanho do pênis diminui e os tes- e ressecada, com perda de lubrifica-
tículos ocupam uma posição mais ção. O útero e os ovários diminuem
baixa no escroto. Os pelos púbicos de tamanho. De modo geral, 10 anos
ENVELHECIMENTO 40

após a menopausa, os ovários não há proliferação andrógeno-depen-


são mais palpáveis. Os ligamentos dente dos tecidos estromal e epitelial
suspensores dos anexos, do útero e da próstata, denominada hiperplasia
da bexiga também relaxam. A sexu- benigna da próstata (HBP), que co-
alidade e o interesse sexual frequen- meça na terceira década de vida, con-
temente são conservados, sobretudo tinua até a sétima década e depois
quando a mulher não tem problemas atinge um platô. Apenas metade dos
com o parceiro, não perdeu o parcei- homens terá aumento da próstata
ro nem passa por estresse de vida ou clinicamente significativo, e, destes,
profissional incomum. apenas metade relatará sinais/sin-
A prevalência de incontinência uriná- tomas tais como hesitação urinária,
ria aumenta com a idade, relacionada gotejamento e esvaziamento incom-
a diminuição da inervação e da con- pleto. Essas manifestações podem,
tratilidade do músculo detrusor e per- muitas vezes, ser atribuídas a outras
da da capacidade da bexiga urinária, causas como doenças coexistentes,
da taxa de fluxo urinário e da capaci- uso de medicamentos e anormalida-
dade de inibir a micção. Nos homens, des do sistema urinário inferior.

MAPA MENTAL: SISTEMA UROGENITAL

• Perda de tecido renal e substituição


por tecido gorduroso e fibrose
• ↓ progressiva da função renal
Alterações renais • ↓ reserva funcional
• ↓ capacidade de concentração e
conservação do sódio
• Poliúria noturna

Alterações na bexiga • ↑ incontinência urinária

• ↑ disfunção erétil
• Proliferação do tecido
Alterações nos
prostático (HBP)
órgãos genitais
• ↓ função ovariana
• Alterações vulvovaginais
ENVELHECIMENTO 41

13. SISTEMA sua atividade concentra-se na pélvis


HEMATOPOÉTICO e no esterno. Por volta dos 70 anos
a celularidade da medula óssea no
O conceito de que havia alterações
osso ilíaco é 30% menor que no adul-
significativas do sistema hematopo-
to jovem. Apesar dessa modificação a
ético está sendo revisto. Parece que
contagem celular no sangue periféri-
o processo de envelhecimento é mais
co é mantida.
lento nas células hematopoéticas,
quando comparadas com as outras O potencial proliferativo da maioria das
células. Especula-se que a reserva células-tronco hematopoéticas é limi-
das células pluripotenciais possa ser tado e diminui com o envelhecimento.
poupada, contribuindo para a expli- A perda de telômero em tecidos
cação da longevidade do indivíduo. normais começa no adulto jovem e
Já a função da medula óssea não se progride gradualmente com o enve-
modifica. Entretanto, podem se tornar lhecimento. A perda sequencial do
evidentes, sob condições de estresse, DNA telomérico da parte final do cro-
como no tratamento quimioterápico. mossomo a cada divisão celular po-
No nascimento quase toda a medula deria alcançar um ponto crítico que
óssea apresenta atividade hemato- serviria de gatilho para o envelheci-
poética, mas desde a infância ela co- mento e para influenciar o equilíbrio
meça a ser progressivamente subs- entre renovação e multiplicação das
tituída por tecido adiposo. No adulto células-tronco.

SAIBA MAIS!
O encurtamento do telômero é observado nos portadores da síndrome de Werner, nos quais
ocorrem alterações precoces do envelhecimento.

A vida das hemácias, em torno de Também ocorre aumento da produção


120 dias, exige contínua renovação de radicais livres, os quais alteram as
dessa população celular pela medula funções celulares e a integridade de
óssea, mesmo nos muito idosos. Em- suas membranas. Com isso, as he-
bora o envelhecimento não seja causa mácias deformadas são retiradas de
de anemia observa-se mudança do circulação e a medula óssea acelera a
perfil hematológico, sugerindo uma produção em uma tentativa de reparar
exaustão das células-tronco hema- o dano. Entretanto, a aceleração desse
tológicas pluripotenciais, tornando os processo pode alterar a composição
idosos mais suscetíveis a esta doença. das membranas das hemácias, não
ENVELHECIMENTO 42

conseguindo o equilíbrio da renovação Embora o número de plaquetas não


dessas células, podendo surgir ane- se altere com o envelhecimento, o fi-
mia e agregação das hemácias. brinogênio, os fatores V, VII, VIII e IX,
o cininogênio de alto peso molecular
e a pré-calicreína aumentam, assim
ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS COM O
ENVELHECIMENTO
como os fragmentos da degradação
 hemoglobina
da fibrina (dímero D), fazendo com
 hematócrito
que se considere o envelhecimento
 do número de hemácias
um estado pró-coagulante, importan-
 da resposta eritropoética à administração de
te fator de risco para trombose veno-
eritropoetina sa profunda.
Demora no início da eritropoese após vultoso
sangramento
Tabela 10. Alterações hematológicas com o envelheci-
mento. Fonte: Tratado de geriatria e gerontologia, 4 ed,
2018

MAPA MENTAL: SISTEMA HEMATOPOÉTICO

↓ celularidade da medula óssea

↓ potencial proliferativa das


células-tronco

↑ suscetibilidade à anemia

↑ estado pró-coagulante
ENVELHECIMENTO 43

MAPA MENTAL: GERAL

ENVELHECIMENTO

↓ celularidade ↑ cáries

Composição ↓ água intracelular ↑ Boca ↑ perda dentária


corporal ↓ musculatura ↑ tempo de Mucosa final, lisa e seca
ação de drogas
↑ gordura lipossolúveis ↑ resistência da passagem dos alimentos no EES
↓ glândulas sebáceas Orofaringe Alteração da motilidade esofágica
Menor junção entre epiderme e derme e esôfago “Presbiesôfago”

Pele e ↓ número de fibras elásticas e colágenas Peristalse anormal após deglutição


anexos ↓ vascularização Contrações repetitivas
Flacidez das pálpebras ↑ incompetência do EEI e refluxo
Embranquecimento e perda de cabelo Dificuldade de digestão
↓ massa muscular e força muscular Sistema Estômago ↑ chance de ruptura da
digestório barreira da mucosa gástrica
Sistema ↓ massa óssea trabecular e cortical ↑ chance de lesões
osteomuscular
Perda de altura ↓ absorção de algumas substâncias (ex: cálcio, ferro)
Cifose e aumento do diâmetro AP do tórax Constipação intestinal
Perda de miócitos e ↑ volume celular de miócitos Intestino ↑ chance de incontinência fecal
Dilatação das câmaras e ↓ capacidade contrátil ↑ frequência de divertículos
↓ células do Depósito de lipofucsina
Sistema nódulo sinusal ↓ volume pulmonar Pâncreas
cardio- e fígado ↓ capacidade de metabolizar substâncias
vascular Hipertrofia ↑ ar nos ductos
alveolares
do ventrículo ↓ síntese de colesterol e produção da bile
esquerdo e ↑ ↓ ar alveolar
pressão arterial T3 e T4 em níveis normais baixos
↑ rigidez da
↑ tecido fibroso Tireoide
TSH em níveis normais altos
parede arterial ↓ surfactante Parati- Função não se altera de forma marcante
Alterações Pioradaventilaçãoeperfusão Sistema reoide
Sistema pulmonares endócrino ↑ volume
respira- ↓ da sensibilidade a PCO2, PO2 e pH Hipófise
tório Alterações variáveis
Tosse menos vigorosa
Alterações Pâncreas ↑ intolerância à glicose
da Função mucociliar lenta
respiração Perda de tecido renal e substituição
Enrijecimento do tórax por tecido gorduroso e fibrose
Sistema ↓ progressiva da função renal
↓ capacidade ventilatória
nervoso Alterações ↓ reserva funcional
Perda de volume cerebral renais
Alterações ↓ capacidade de concentração e
estruturais Perda neuronal e diminuição de sinapses conservação do sódio
Poliúria noturna
Alterações bioquímicas Comprometimento dos
neurotransmissores Sistema Alterações ↑ incontinência urinária
Alterações metabólicas e circulatórias urogenital na bexiga
↑ disfunção erétil
Alterações cognitivas e Comprometimento das Alterações
comportamentais memórias episódica, laborativa nos órgãos Proliferação do tecido prostático (HBP)
e função executiva
genitais ↓ função ovariana
Alteração da marcha Alterações vulvovaginais
Marcha, postura e
equilíbrio Alteração da postura ↓ celularidade da medula óssea
Sistema ↓ potencial proliferativa das células-tronco
Alteração do ciclo sono-vigília hemato-
Sono poético ↑ suscetibilidade à anemia
Aumento dos períodos de apneia
↑ estado pró-coagulante
ENVELHECIMENTO 44

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Freitas, Elizabete Viana de. Py, Ligia. Tratado de geriatria e gerontologia. 4. ed. [Reimpr.].
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.
Martins, Milton de Arruda., et al. Clínica médica, volume 1: atuação da clínica médica,
sinais e sintomas de natureza sistêmica, medicina preventiva, saúde da mulher, enve-
lhecimento e geriatria, medicina física e reabilitação, medicina laboratorial na prática
médica. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2016.
Bickley, Lynn S. Szilagyi, Peter G. Hoffman, Richard M. Bates, propedêutica médica. 12. ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.
ENVELHECIMENTO 45

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