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ATUALIDADES

Coronavírus - Qual é a relação entre o meio ambiente e pandemias de


vírus...
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Carolina Cunha
Colaboração para o UOL

A pandemia do novo coronavírus, causador da doença


Covid-19, alcançou centenas de países e obrigou a população
a se isolar em suas casas. Segundo cientistas, a maior
probabilidade é que o vírus Sars-Cov-2 tenha origem natural e
não tenha sido feito em laboratório. Autoridades chinesas
disseram que ele apareceu inicialmente na região de um
mercado onde são vendidos animais (vivos e mortos) para o
consumo humano, como morcegos, cobras e civetas.

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a fonte primária


do surto do coronavírus tem origem animal. Não se sabe qual
bicho teria passado o vírus a humanos, mas estudos apontam
que o vírus provavelmente infectou os morcegos, depois outra
espécie de mamífero e por fim, chegou aos humanos,
possivelmente pelo contato com partículas do animal como
sangue ou fezes.

Um estudo publicado na revista Nature mostrou que o código


genético do coronavírus que infecta humanos é 96%
semelhante às variedades que circulam em populações de
morcegos da China.

O que são vírus?

Os vírus são microorganismos que possuem moléculas de DNA


ou RNA. Quando estão fora do ambiente intracelular, são seres
inertes e podem ficar dormentes por milênios. Mas eles não
conseguem se reproduzir sozinhos. Para isso, precisam injetar
o seu material genético em uma célula viva, criando cópias de
si mesmo. Essa célula viva pode ser de qualquer ser vivo como
um animal, plantas e até bactérias.

Vivemos em uma "nuvem" de vírus que não conhece fronteiras.


Existem centenas de milhares de vírus, classificados em
diversas famílias. Eles são encontrados em todas as esferas do
meio ambiente e estão presentes em animais, nas plantas, no
solo, no ar e na água. Muitos são altamente resistentes e
capazes de sobreviver em condições extremas e temperaturas
muito baixas ou altas.

Ao infectar uma célula, os vírus são capazes de se replicar de


forma muito rápida e podem causar diferentes quadros de
doenças infecciosas em seres vivos como a dengue, a aids, o
ebola, a hepatite, a varíola, entre outros.

Também existem vírus que são quase inofensivos e não


representam riscos aos seres humanos. Tanto que carregamos
genomas virais (ocorridas de infecções a milhares de anos)
como parte do nosso próprio genoma.

Como os vírus são transmitidos?

Existem diversos mecanismos de transmissão. Alguns vírus


precisam de um hospedeiro intermediário para infectarem
outros animais. Por exemplo, os vírus da febre amarela, da zika
e da dengue usam espécies de mosquitos como vetores, como
o Aedes aegypti, que picam os humanos. Outros, são
transmitidos de pessoa para pessoa, por partículas no ar e
ainda pelo contato com secreções do doente.

A melhor forma de enfrentar um vírus é desenvolver uma


vacina específica. No entanto, os vírus podem sofrer mutações
em seu material genético. Ao se reproduzirem, o DNA
duplicado pode sair diferente do original. É por esse motivo
que, mesmo se criando uma vacina, novos vírus com códigos
genéticos que sofreram mutação podem surgir e se tornarem
mais resistentes a sistemas imunológicos e medicamentos já
criados ou ainda, criar uma adaptação que o permita pular de
uma espécie para outra.

No passado, doenças provocadas por vírus causaram


epidemias e mortes em massa. Em 1918, a gripe espanhola
atingiu o mundo de forma violenta e foi a responsável por cerca
de 40 milhões a 50 milhões de mortes, o que representa cerca
de 5% da população mundial da época. A gripe asiática (1957)
e a gripo de Hong Kong (1968) causaram cerca de 1 milhão de
óbitos cada uma.

Como surge um novo vírus?


Não é possível prever quando surgirá um novo patógeno que
represente um grave risco para a saúde humana. No entanto,
alguns fatores contribuem.

A convivência entre diferentes espécies de animais e o homem


cria um ambiente favorável para o surgimento de novos vírus.
Seres humanos e vírus têm coexistido ao longo da história.
Mas o contato está cada vez mais próximo e de uma maneira
anormal, devido ao crescimento populacional, a expansão de
novas áreas para agricultura e habitação e o aumento da
mobilidade das pessoas.

Em 2003, virologistas chineses identificaram a presença do


vírus causador da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS)
em morcegos que viviam em cavernas. Na África, o contato
com macacos originou o surto de ebola de 2015 no continente.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 75% das


doenças emergentes e das doenças re-emergentes que irão
afetar a saúde humana ao longo do século 21 serão de origem
zoonótica (transmitida por animais para humanos). De acordo
com o projeto de pesquisa norte-americano Global Virome,
existem mais de 1,7 milhão de vírus não descobertos na vida
selvagem. Quase metade deles pode ser prejudicial aos seres
humanos.

A caça e o comércio ilegal de animais selvagens aumentam o


risco de doenças. Elementos patogênicos podem ser
transmitidos aos seres humanos durante sua captura,
transporte ou abate, principalmente se forem realizados em
condições sanitárias precárias ou sem equipamento de
proteção.

Como a destruição ambiental aumenta a


circulação de vírus
A destruição de florestas e habitats naturais para a expansão
de zonas habitadas expõe os seres humanos a novos vírus
desconhecidos, que antes estavam isolados na natureza. Ao
desmatar uma área e acabar com sua fauna e flora,
aumenta-se a possibilidade de contaminação, pois "liberamos"
os vírus de seus hospedeiros naturais.

O aumento da demanda de carne para consumo é outro fator


de risco. Na China, o hábito cultural de consumir animais
selvagens aumenta o contato com novos micro-organismos.
Acredita-se que a variedade responsável pela SARS, que
infectou mais de 8 mil pessoas entre 2002 e 2003, tenha sido
contraída pelo consumo de civetas.

É comum, em diversos países, a existência de mercados que


vendem animais selvagens e sem medidas sanitárias. As
pessoas têm contato com a flora microbial dos animais ao
compra-los e também durante o transporte, abate, preparo e
consumo. Nesse ambiente, os vírus podem se combinar e
sofrer mutações.
A criação de animais confinados representa um outro risco. Por
exemplo, o vírus da gripe aviária H5N1 é letal para as aves,
que sofrem com doenças respiratórias graves. Em criadouros,
especialmente com animais confinados aos milhares, a H5N1
pode se espalhar rapidamente. O confinamento de animais
também contribui para a mistura de diferentes vírus e a
possibilidade de mutações. Para evitar a proliferação de
doenças, os criadores precisam monitorar os animais, adotar a
vacinação e medidas sanitárias.

No entanto, os animais silvestres não são os vilões. Eles são


importantes no equilíbrio de qualquer ecossistema. Os
morcegos, por exemplo, são essenciais para dispersar
sementes e polinizar frutas, além de controlarem populações
de insetos. Segundo ecologistas, a medida mais importante
para evitar zoonoses é proibir o comércio de animais
selvagens.

O rápido crescimento populacional também pressiona o meio


ambiente. Nas cidades, a aglomeração urbana facilita a
transmissão. Países e cidades com população grande tendem
a espalhar uma epidemia mais rápido. E a globalização
aumentou a circulação de pessoas e fez com que o homem
levasse diferentes tipos de vírus aos quatro cantos do planeta,
de uma forma muito rápida.

Em regiões urbanas, a falta de infraestrutura de saneamento


básico também pode espalhar doenças. Existem vírus
presentes em água sem tratamento, que podem causar
doenças como gastroenterites ou hepatites. Para esses casos,
o sistema de esgoto possui um papel fundamental no controle
da disseminação e do risco de transmissão.

Mudanças climáticas e derretimento do gelo


O impacto das mudanças climáticas no clima global representa
um novo desafio para a saúde pública. As mudanças de
temperatura e clima representam um potencial para a evolução
de novos vírus, que sofrerão mutações genéticas para se
adaptar às condições ambientais. Alguns animais também vão
migrar, em busca de locais mais frios. Além disso, mudanças
no clima global podem determinar as interações das espécies
com seus hospedeiros e com os vírus. Um clima mais quente e
mais variável pode favorecer a epidemia do Zika vírus, por
exemplo. O calor aumenta a proliferação de mosquitos
transmissores de doenças infecciosas para áreas onde eles
ainda não existiam.

A crise climática provoca o derretimento dos gelos glaciais, que


existiram por milhares de anos, em regiões como o Ártico e a
Antártida. O degelo do solo pode trazer à tona antigas doenças
e liberar vírus e bactérias ancestrais, que, depois de ficarem
tanto tempo dormentes ou "arquivados", voltam à vida caso
encontrem um hospedeiro. Assim, doenças do passado podem
ser liberadas de uma hora para outra e trazer novos riscos para
os seres humanos.

Em janeiro de 2020, 28 grupos de vírus desconhecidos foram


encontrados por cientistas chineses e americanos em geleiras
no Tibete. Na tundra do Alasca, cientistas descobriram
fragmentos de RNA da gripe espanhola de 1918 em corpos
enterrados em valas comuns. E num estudo de 2014, uma
equipe de pesquisadores descobriu dois vírus que estavam no
permafrost da Sibéria por 30 mil anos - os vírus Pithovirus
sibericum e Pollivirus sibericum, que infectam amebas.
Carolina Cunha

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