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BETTI ROSEWOOD

Tradução: Line
Revisão Inicial: Natalia
Revisão Final: Luma
Leitura Final: Dalila
Conferencia: Suli & Ariella
Formatação: Ariella

BETTI ROSEWOOD
Para toda alma quebrada e danificada por aí,

Porque você merece ser feliz.

xo Betti

BETTI ROSEWOOD
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BETTI ROSEWOOD
Ela é a garota má.

Eu sou o nerd.

Este ano, ela caiu em desgraça e eu subi no ranking de


nossa escola.

Agora ela está perdida e eu estou no topo.

Minha paixão por ela ainda está lá, mas agora ela está
mais fora dos limites do que nunca.

A única pessoa que está no meu caminho é o namorado


dela ...

BETTI ROSEWOOD
1
DATA: 20 DE OUTUBRO DE 2018 – 04H
LOCAL: FESTA DE ANIVERSÁRIO DA TINSLEY
MILO

Mereço ser aceito em Eastvale porquê...

As palavras me encararam do papel pautado, zombando de mim.


Amassei a folha vazia com um gemido, jogando-a na lata de lixo no canto
do meu quarto e errando. Pelo amor de Deus. Voltei minha atenção para
o meu computador, onde um rascunho igualmente inacabado esperava
que eu acrescentasse minhas razões para querer entrar na faculdade dos
meus sonhos. Por que eu pensei que escrever à mão seria mais fácil?

Todo mundo simplesmente mente nessas malditas redações, Milo, a


voz do meu irmão ecoou na minha cabeça do que ele disse há algumas
horas, quando estava saindo para uma festa e eu ainda estava preso na
mesma pergunta. Por que você não pode simplesmente inventar algo?

Foi tudo tão fácil para o meu irmão. Ele sempre foi o tipo de cara
descontraído que não se importava se entraria na faculdade dos seus
sonhos, ou em qualquer faculdade. O sucesso de nossos pais com seu
aplicativo de entrega de comida, Yummers, foi o suficiente para conseguir
um ingresso para qualquer escola que ele quisesse. Mas não queria
entrar só porque meus pais tinham dinheiro. Eu queria que minha carta
de aceitação importasse.

Parecia errado até considerar isso. Eu não era um cara emocional.


Eu era a rocha da família. O racional. E eu ia terminar essa redação
estúpida, nem que fosse a última coisa que fizesse.

Apesar das minhas melhores intenções, acabei pegando meu


telefone e caí na cama enquanto passava pelas minhas notificações.

BETTI ROSEWOOD
Líderes de torcida com sede, geeks esperançosos e alguns amigos de
lacrosse entraram nas minhas DMs1. Nada de novo. A perspectiva de ir
para Eastvale era o ponto mais brilhante do meu futuro. Nada mais me
animava. A vida era chata quando você tinha tudo. Enlouquecedoramente
entediante.

Tem que haver algo que eu possa colocar nessa maldita página, eu
disse a mim mesmo. Algo sobre crescer com pais gays, aprender a
importância da família, blá-blá-blá-blá-blá. Mas o pensamento não se
manteve. Minha mente percorreu ideia após ideia, mas nada se destacou.
Suspirei de frustração, passando a mão pelos meus cabelos negros e
empurrando meus óculos mais alto na ponte do meu nariz. Foda-se
Eastvale, e foda-se esta redação.

Mais uma vez, lembrei do convite para a festa de aniversário de


Tinsley Sullivan que recebi naquela semana. Todo mundo estava lá, e até
eu me permiti a opção de aparecer. Mas não assim, com a redação
inacabada e com raiva de mim mesmo por não saber o que escrever. O
prazo para as admissões antecipadas era na manhã seguinte, e eu já
tinha inventado desculpas à senhorita James, forçando-a a me dar seu
endereço residencial para que eu pudesse entregar as páginas impressas
pela manhã. Mas nada ajudou, nem mesmo a sensação iminente de
desgraça, sabendo que eram quatro da manhã e eu mal tinha começado.

Mudando minha atenção do documento vazio no meu PC e telefone,


tentei encontrar algo que me distraísse. Uma lasca de inspiração, uma
imagem que sacudiria minha mente como normalmente acontecia. Mas
não havia nada, nem mesmo no vasto terreno baldio da Internet que
pudesse me fazer escrever essa maldita redação. Eu estava bem e
verdadeiramente exausto, esgotado por aquela pergunta que me fez
querer escrever a verdade.

1
Direct Messages – ou popularmente conhecida como Direct do Instagram.

BETTI ROSEWOOD
Não mereço ser aceito em Eastvale.

Meu telefone tocou com uma notificação e eu o peguei, olhando


para a tela.

Você ainda está acordado? Eu mandei uma mensagem para


Natan, mas ele não está respondendo.

Outro gemido, outro rolar dos meus olhos. Exatamente o que eu


preciso. Uma princesa mimada e egoísta pedindo mais um favor que ela
nunca pagará de volta.

Não, estou dormindo, digitei em resposta, parando por um


momento antes de adicionar a última parte. Por que você está
atualmente em uma situação de risco de vida?

Porque não há outra maneira no inferno de me defender de você.

A resposta voltou em um segundo, me fazendo sorrir com o


pensamento dela digitando em um ritmo vertiginoso. Sim. É melhor você
vir me buscar. E traga alguns hambúrgueres.

Você se acha, não é? Não, esqueça.

Por favor, Milo! Te devo para sempre.

Que tal você não me dever nada e me deixa voltar a dormir?

Ainda me lembro da sua insônia, idiota, ela escreveu. Não


minta para mim.

Não estou mentindo. Se eu for buscá-la, você me deve uma.


Entendeu?

A resposta dela chegou um minuto depois. Eu podia imaginá-la


mexendo no telefone, tentando pensar em algo inteligente para dizer em
resposta.

BETTI ROSEWOOD
Entendi. Eu te devo uma. O que você quiser. Combinado?

Sem esperar pela resposta dela, joguei meu telefone para o lado,
caminhando até a minha porta e andando na ponta dos pés pelo corredor
até o quarto do meu irmão. Eu queria dar a ela algum tempo para
esperar. Se eu a deixasse esperando um pouco mais, ela estaria
realmente desesperada para que eu fosse buscá-la, e eu poderia ganhar
muito com esse favor.

Pressionei meu ouvido contra a porta e esperei até ouvir o ronco


pacífico de Natan. Estranho. O que ele está fazendo em casa? Ele não
deveria estar com sua namorada?

Voltei para o meu quarto e encontrei meu telefone novamente. Três


novas mensagens estavam esperando.

Milo, por favor? Eu pago de volta pelos hambúrgueres.

Tudo bem, eu vou com você para comprá-los. E você pode ter
os palitos de muçarela também. Mas NADA daquele molho nojento.

MILOOOOOOO eu preciso de você, por favor... Você não pode


simplesmente me deixar abandonada na beira da estrada assim!

Revirei os olhos quando respondi: Alguém já lhe disse que


princesa você é?

Só você e eu gostamos disso, amigo ;)

Olhei para a tela vazia novamente, suspirando enquanto lhe


mandava uma mensagem para me dizer o endereço. Em um segundo, ela
me enviou sua localização usando o aplicativo. Eu apenas hesitei por um
momento antes de pegar minha jaqueta de lacrosse e colocá-la. Eu
poderia ter acordado Natan. Eu deveria ter acordado Natan. Afinal, ele é
o namorado dela, não eu. Mas algo me parou, talvez a necessidade

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desesperada de uma dica, um pouco de inspiração. Deixei tudo como
estava e desci as escadas, passando pelo quarto dos meus pais, onde
dormiam profundamente.

Tudo estava tranquilo lá fora. O carro de meu irmão, um brilhante


Escalade, contrastava muito com o meu, uma Benz vermelha fodida que
chamei de Gertie, pela qual insisti em pagar sozinho.

As estatísticas dizem que a maioria dos acidentes acontecem no


seu primeiro carro, e eu não queria arriscar foder um bom carro. Melhor
que o acidente aconteça em um pedaço de merda espancado, assim não
teria problema em me despedir, uma vez que inevitavelmente o
destruísse. No entanto, se eu estava sendo honesto comigo mesmo, fiquei
estranhamente apegado a Gertie desde que a comprei.

Adicionei o endereço que Estella havia me dado no meu telefone,


coloquei algumas músicas e comecei a dirigir para o meu destino. Era o
mesmo endereço que Tinsley havia dado para a festa dela, e eu supunha
que Stells tivesse ficado até o último momento. Estranho, dado que o
irmão mais querido já estava em casa roncando que nem uma
tempestade.

Demorei cerca de quinze minutos para chegar no endereço e,


quando o fiz, vi uma forma curvada na calçada. Seu cabelo castanho
escuro estava por todo o rosto, e ela estava usando esse minúsculo
vestido de lantejoulas que não deixava exatamente nada para a
imaginação.

Eu parei ao lado dela e abri a porta, e ela entrou no carro gemendo.

─ Noite difícil? ─ Eu levantei minhas sobrancelhas para ela.

─ Você não tem ideia. ─ Ela continuou esfregando o pulso, onde


um círculo branco de pele decorava sua pele bronzeada. ─ Clancy's?

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─ Ah, certo, eles têm aquela coisa de drive-in agora ─ lembrei. ─
Sim. Mas você está pagando. E eu vou pedir molho.

─ Ugh, nojento ─ ela revirou os olhos, prendendo-se no assento


quando eu dei a ela um olhar de aviso. ─ Sim, sim, eu vou colocar o cinto
de segurança. Deus, Milo, você é como um pai.

Comecei a dirigir para o nosso local de encontro enquanto ela


brincava com a música.

─ Você tem um gosto musical horrendo ─ ela me informou.

─ Você não reconheceria um bom gosto nem se isso te mordesse na


bunda, princesa. Mas cara, você sabe como ligar o encanto.

─ Eu não preciso te encantar. ─ Ela me deu um sorriso brilhante.


─ Você veio me buscar, não foi? P.S.: ninguém mais me chama de
princesa. Esse apelido morreu em 2014.

─ Assim como a nossa amizade? ─ Eu não pude me conter.

Ela me deu um olhar ferido. ─ Como você pode dizer isso?

─ Por favor ─ eu zombei. ─ Como se não fosse verdade. Você largou


a mim e a Pandora no momento em que decidiu que não éramos legais o
suficiente para você.

─ Você não sabe nada Jon Snow.

─ Tanto faz.

Parei na entrada da lanchonete do Clancy e ela se inclinou pela


janela para pedir nossa comida, oferecendo-me uma visão de sua bunda
gordinha e a calcinha que mal cobria nada. Desviei o olhar, sentindo-me
um pouco enjoado por ter olhado. ─ Sim, oi, dois cheeseburgers, duas
porções de batatas fritas grandes, alguns palitos de muçarela, um milk-

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shake de chocolate e um de morango. E... molho. Dois pacotes. ─ Ela fez
uma careta para mim antes de se sentar no carro. ─ Espero que esteja
feliz.

─ Muito. ─ Eu gostei que ela soubesse o que eu queria, mesmo sem


perguntar. Puxei para a janela seguinte e esperamos que nossa comida
estivesse preparada, enquanto ela continuava brincando com o lugar
vazio em seu pulso. ─ Por que você continua mexendo na sua mão assim?

Ela olhou para o pulso como se tivesse acabado de perceber que


estava fazendo isso. ─ Ah. Eu nem percebi que estava fazendo isso. Não
é nada.

Pegamos nossa comida e eu dirigi até um local no estacionamento


para podermos comer. Ela cavou em seu cheeseburger como uma mulher
possuída enquanto eu mergulhava minhas batatas no molho.

─ Conte-me.

─ Te contar o que?

─ Você costumava usar algo ai ─ gesticulei para o pulso dela. ─


Tipo uma pulseira estranha.

─ Como você sabe disso, esquisito?

─ Você sempre brincou com ela. Para onde foi?

─ Eu tirei ─ ela murmurou com relutância. ─ Deixei lá, na casa da


Tinsley.

─ Por quê?

─ Porque... ugh, você tem que fazer as perguntas mais irritantes?

─ Sim, é tipo, minha especialidade.

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─ Era uma pulseira de amizade. ─ Ela engoliu uma mordida no
hambúrguer, afastando o resto. ─ Ela não é mais minha amiga.

─ Por que não?

─ Porque eu disse isso ─ ela latiu. ─ Você pode parar de me


interrogar?

─ Tanto faz. ─ Dei de ombros, terminando minhas batatas fritas. ─


Você acabou? ─ Ela esperou em seu assento, recusando-se a olhar para
mim. ─ Vamos lá, Stells. Não seja tão deprimente.

─ Ugh.

─ Ugh, o quê?

─ Ugh, nada. Podemos ir?

─ Não. ─ Eu dei a ela um sorriso perverso. ─ Ei, por que estou


levando você para casa em vez de Natan? Como ele ronca como uma
maldita serra elétrica no quarto dele, acho que vocês não deixaram a festa
juntos.

─ Eu fiquei um pouco mais ─ ela murmurou. ─ Então...

─ Então... ─ Eu balancei minhas sobrancelhas para ela. ─ Você e


meu irmão. Vocês são oficiais agora?

─ Eu... eu não tenho certeza. Eu acho?

─ Como você pode não ter certeza?

─ Ele não perguntou.

─ O que você tem, doze? ─ Eu ri. ─ Ele tem que pedir para você
ficar com ele oficialmente?

─ Seria bom ─ ela murmurou.

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─ Bem, você está esperando demais de Nate ─ eu disse a ela.

─ Talvez. Veremos.

─ O que você quer dizer?

─ Huh? ─ Ela olhou para mim, com os olhos vidrados, como se


estivesse pensando em outra coisa. ─ Nada, esquece.

─ Eu deixo você em casa agora?

─ Tanto faz.

─ Um agradecimento seria legal.

─ Um vá se foder, parece mais apropriado.

─ Você é tão rude, Estella ─ eu disse a ela, ligando o carro. ─


Alguém realmente deveria lhe ensinar algumas maneiras. Lembre-se de
como você agiu hoje da próxima vez que precisar de um maldito favor.
Porque eu tenho certeza que não vou estar lá para pega-la quando você
cair.

─ Não preciso de você.

─ Tudo bem por mim ─ eu resmunguei. ─ Melhor mesmo. Não


tenho tempo para lidar com sua bunda malcriada.

─ Ei Milo ─ ela ronronou. ─ Você ainda joga xadrez?

Lutei contra o desejo de pisar no freio e chutá-la para fora de Gertie.


─ Por que você se importa?

─ Porque se bem me lembro, eu sempre ganhava quando


jogávamos.

─ Eu sou o campeão do condado ─ eu assobiei para ela. ─ Consegui


o primeiro lugar em...

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─ Que bom. ─ Seus olhos brilhavam com travessuras. ─ Você
nunca conseguiu me vencer, no entanto.

Suspirei, dando-lhe um olhar de soslaio. ─ Você ainda joga?

─ Não ─ ela murmurou. ─ Não há um tempo.

─ Bem, quando você começar de novo, eu ficaria feliz em levar sua


bunda malcriada para dar uma volta.

─ Nojento. ─ Ela não pôde evitar o sorriso em seu rosto. ─ Por que
você está tão obcecado com a minha bunda?

Talvez porque você esteja andando com uma saia curta o suficiente
para fazer qualquer homem perder a cabeça?

─ Talvez porque você esteja colocando na minha cara. O mundo


não precisa saber que você está usando uma calcinha fio dental, Estella.

Ela corou, murmurando: ─ Você não deveria estar olhando.

Eu estava prestes a falar, mas mudei de ideia, acenando com a mão


com desdém. ─ Tudo bem, eu não deveria. ─ ela está certa. Ela é tão
proibida quanto possível. ─ Acho que a alegria é toda de Natan agora.

Ela murmurou algo baixinho.

─ O quê? ─ Perguntei.

─ Você acha que eu sou assim tão fácil? ─ ela perguntou. A


pergunta não era acusatória, mas quase triste. ─ Você acha que eu deixei
qualquer um... você sabe...

─ E não? ─ Ela não respondeu. ─ Você e Crispin não...?

Ela balançou a cabeça. ─ Não, claro que não.

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─ Mas você e Natan... ─ Ela olhou, me fazendo sorrir como um tolo.
─ Eu entendi.

─ Não é engraçado.

─ É um pouco ─ sorri antes de ficar sério novamente. ─ Stells... Por


que você coloca essa cara para todo mundo?

─ O que você quer dizer?

─ Vamos lá, você sabe o que eu quero dizer. Você não é... você não
é mais Estella Hernandez.

─ Não ─ ela balançou a cabeça. ─ Não há um tempo agora.

─ E não é só porque seu pai mudou seu sobrenome ─ insisti. ─


Você não é mais você.

─ Claro que sou.

─ Você está se escondendo ─ eu disse. ─ Do mundo.

─ Você não tem ideia do que está falando.

Eu olhei para ela pelo canto dos olhos. Ela estava olhando pela
janela, com os braços cruzados e os olhos vidrados. Eu sabia que não
deveria pressioná-la mais.

Felizmente, estávamos perto de sua casa, e ela me parou alguns


quarteirões antes.

─ Aqui está bom.

─ Mas ainda estamos a dois quarteirões de distância.

─ Está bom, eu posso ir andando para casa.

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─ Stells.- Eu ri em descrença. ─ Não me diga que você ainda está
fazendo a mesma coisa há cinco anos? A velha rotina toda vez que você
volta para casa?

─ E daí se eu estou? ─ Ela já estava na defensiva, então eu sabia


que tinha atingido o ouro. ─ De qualquer forma, não é da sua conta.

Eu não discuti, puxando para o lado do bairro chique, um pouco


melhor do que o que eu morava, embora minha casa também não fosse
tão ruim, com uma casa de hóspedes de vidro e uma banheira de
hidromassagem que eu tenho que compartilhar com meu irmão. Eu acho
que valeu a pena ter um pai celebridade como Estella, mesmo que ele
fosse rigoroso pra caralho.

Ela saiu do carro e eu esperei antes de olhar para ela pela janela.
─ Você vai ficar bem?

─ Sim. ─ Ela olhou na direção de sua casa, e algo passou por seu
rosto, um breve olhar de medo que me deixou preocupado.

─ Quer que eu te leve para casa?

─ Não. Sim. Não. ─ Ela suspirou, enfiando os calcanhares na


calçada de concreto. ─ Ugh. Tudo bem. Se você precisa. Deus, eu odeio
isso. ─ Ela se abaixou, desafivelando as pequenas tiras em suas
sandálias e tirando-as. Ela as segurou na mão e caminhou na minha
frente.

Parei o carro e saí. A noite ainda não havia terminado e eu ainda


estava tão desesperado por inspiração quanto quando ela entrou no
carro.

Ela correu na minha frente, tão rápido sem os saltos que eu mal
conseguia acompanhar. Eu mantive um passo vagaroso atrás dela, e

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depois do primeiro quarteirão, até isso a irritou, e ela correu de volta para
mim, olhando de novo.

─ Por favor se apresse.

─ Por quê? São cinco da manhã. Não me diga que alguém está
esperando por você.

Ela apertou os lábios. ─ Estou cansada e tenho medo de andar


sozinha.

─ Eu pensei que você nem queria que eu fosse com você.

─ Bem, estou feliz que você tenha vindo ─ ela murmurou, a coisa
mais próxima de um elogio que eu receberia naquela noite. ─ Você tem
algo melhor para fazer hoje à noite?

Pensei no documento vazio no meu computador e dei de ombros. ─


Na verdade não. ─ Eu olhei para ela, lembrando que ela queria entrar em
Eastvale também. ─ Ei, você entregou sua redação para Eastvale, certo?

─ Sim ─ Ela me deu um olhar desconfiado. ─ Por quê? Senhorita


James disse alguma coisa?

─ Não ─ eu balancei minha cabeça. ─ Eu... eu não entreguei a


minha ainda.

─ O quê? Mas amanhã é o prazo final. Quero dizer, hoje, eu acho.

─ Eu sei ─ eu murmurei. ─ Eu simplesmente não sei sobre o que


diabos eu deveria escrever.

─ Um pouco tarde para isso.

─ Não preciso de um lembrete, mas obrigado.

─ Você sabe que todo mundo mente nessas redações, certo?

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─ Eu não ─ Eu olhei em seus olhos castanhos escuros. ─ E eu acho
que você também não.

─ Eu sei ─ ela riu. ─ É por isso que você é meu único rival. Porque
na verdade temos alguma integridade.

─ Então, sobre o que você escreveu?

─ Como se eu fosse te contar.

─ Por que não?

─ O que, para que você possa me copiar? ─ ela riu. ─ De jeito


nenhum, querido, sonhe.

Continuamos andando em silêncio e eu finalmente murmurei: ─


Acho que não vai ser feito então. A menos que eu tenha uma súbita
explosão de inspiração.

─ Apenas escreva sobre seus pais ─ ela sugeriu. ─ Crescer com seu
irmão de verdade e pais gays adotivos é muito legal.

─ Não ─ eu rejeitei a ideia. ─ Eu não quero que seja sobre eles. É a


minha redação. E eu não quero usar isso em Eastvale.

─ O que você quer dizer?

─ Não vou usar meus pais como uma razão para entrar lá, Stells.

─ Entendi. ─ Ela bateu uma longa unha lilás nos lábios. ─ Por que
você não escreve sobre tudo o que conseguiu até agora?

─ Como o quê? O que diabos eu estou trazendo para eles, afinal?


Eu sou um jogador de lacrosse comum. Eu tenho ótimas notas, mas você
também. Qual é o meu talento? Em que eu sou realmente bom? ─
Frustrado, chutei uma pedra no cascalho, saltando para Estella. Ela
chutou de volta para mim.

BETTI ROSEWOOD
─ Você realmente não consegue pensar em nada? ─ ela perguntou,
e eu balancei minha cabeça enquanto chutávamos a pedra para frente e
para trás. ─ Nada mesmo?

─ Não ─ eu admiti miseravelmente. ─ Eu não sou você, Estella.

─ O que você quer dizer?

─ Eu não tenho... tudo isso. A família perfeita. O namorado perfeito.


O futuro perfeito. Eu nem sei o que quero.

─ Tudo bem. Escreva sobre isso.

─ O quê? Minha capacidade de não decidir nada, nunca? Eu não


posso nem escolher um curso, Stells.

─ Então? Enrole. Você sabe contar uma história, não é? Apenas


diga a eles que não decidir o que fazer é sua especialidade. E que você os
escolheu não porque sabia o que queria estudar, mas porque sabia que
sua melhor educação estava esperando ali, em Eastvale. Não importa
qual a especialidade que você escolha.

─ Droga ─ eu reclamo. ─ Quer escrever para mim?

─ Até parece... ─ ela coloca a língua para fora. ─ Além disso, nós
dois não podemos entrar. E você terá que se esforçar muito para fazer
sua redação melhor que a minha, porque a minha esta foda, querido. ─
Ela piscou. Paramos na rua dela e ela pegou a pedra que estávamos
passando e a entregou para mim. ─ Este pode ser o começo de sua vida,
Milo Earnshaw ─ disse ela. ─ A primeira pedra no seu caminho para a
grandeza.

─ Isso é uma linha da sua redação?

─ Você nunca saberá ─ ela riu, me mandando um beijo e acenando


antes de ir para sua casa.

BETTI ROSEWOOD
Eu me virei, voltando para o meu carro e deslizando a pedra no
meu bolso. Ela estava certa. Eu ainda poderia mudar isso. Se não fosse
por mais nada, eu faria isso para vencer a rainha Estella em seu próprio
jogo. Deus sabia que ela precisava ser reduzida.

E o jogo começa, Stells.

BETTI ROSEWOOD
2
DATA: 20 DE OUTUBRO DE 2018 – 05H

LOCAL: CASA DA ESTELLA.

ESTELLA

A casa estava escura quando cheguei, e eu só podia esperar que


todos já estivessem dormindo. Na ponta dos pés, levantei um dos vasos
de planta de uma palmeira e vasculhei por baixo dela até encontrar a
chave reserva do galpão. Armada com isso, segui para o jardim,
ignorando a casa da piscina iluminada e me dirigindo para o fundo do
espaço onde ficava um galpão no jardim, há muito esquecido e envolto
em sombras.

Abri a porta e entrei. Com o puxar de uma corda, uma lâmpada


ganhou vida acima de mim, cobrindo o espaço com luz dourada. Eu
preciso me apressar, lembrei a mim mesma. Papai já pode estar de pé.

Abrindo o zíper do meu vestido, deslizei as lantejoulas prata pelo


meu corpo e deixei o tecido se acumular aos meus pés. Os saltos se
juntaram ao vestido no chão, e eu tirei a calcinha antes de esconder em
uma caixa de armazenamento no galpão e tirar uma camisola rosa
estampada de corações. Coloquei-a com pressa, bagunçando meu cabelo
enquanto fazia isso e pegando um maço de lenços de maquiagem que
escondi atrás dos esfregões e baldes no canto. Eu fiz um trabalho rápido
de remover minha maquiagem, me livrando de todos os vestígios da cor
nos meus lábios, bochechas e olhos. Os lenços de maquiagem saíram
sujos, manchados com rímel, delineador e batom, e eu tomei um
momento para olhar para os restos da minha noite em minhas mãos. Que
noite foi aquela.

BETTI ROSEWOOD
Lavei meu rosto na pia no canto e sequei com uma toalha que
mamãe mantinha ao lado. Então, peguei o hidratante e ensaboei o rosto
nele, certificando-me de não perder um lugar. Se eu não pudesse mentir
que estava dormindo de verdade, pelo menos eu poderia fingir com meu
ritual de beleza.

Assim que terminei minha rotina, guardei meu vestido e saltos,


juntamente com os lenços de maquiagem manchados, em um dos baldes
no canto. Eu assisti o vestido afundar no fundo, os sapatos se enredando
no tecido.

─ Adeus ─ eu murmurei antes de fechar a tampa. O vestido sumira


e os sapatos também. No dia seguinte, eles seriam levados pelo lixeiro,
um cara com quem eu fiz esse negócio há pelo menos dois anos atrás.
Ele recolhia nosso lixo toda semana e não dizia uma palavra aos meus
pais quando adicionei meus próprios segredos aos escombros de nossa
vida.

Nunca usei o mesmo vestido ou salto alto duas vezes. Os que eu


usava estavam apenas penduradas no meu guarda-roupa. Mas essa não
foi a verdadeira razão pela qual eu estava tentando me livrar dos restos
da noite passada.

Quando estava pronta, saí do galpão, colocando cuidadosamente a


chave de volta onde a encontrei e dobrando a esquina até encontrar as
portas francesas que conduziam para dentro da casa. Meus dedos
envolveram a maçaneta e eu puxei, pronta para entrar.

A porta não se mexia.

Minhas sobrancelhas franziram e eu puxei com mais força. Nada.


Novamente. Nenhum sinal da porta ceder. Estava trancada por dentro.

Porra. Porra. Porra. O que devo fazer agora? Romilly prometeu que
deixaria aberta para mim. O que diabos aconteceu?

BETTI ROSEWOOD
Meu coração acelerou, batendo mais rápido no meu peito enquanto
eu lutava para fazer a porta se mover. Mas era inútil. Isto é, até que uma
figura escura apareceu do outro lado do vidro e a chave girou na
fechadura. Meu coração afundou.

A porta se abriu e entrei com o rabo entre as pernas. Eu sabia que


o que iria seguir não seria bom, mas também sabia que não havia como
evitar isso. Nem agora, nem nunca.

─ O que você está fazendo lá fora, mija2? ─ A voz do meu pai era
calma e refletida, e eu sabia que tinha motivos para ter medo. Ele pairava
sobre mim enquanto eu entrava, meus membros tremendo sob o tecido
rosa da minha camisola.

─ Eu só... ─ Comecei, lutando para procurar na minha mente por


uma resposta. ─ Eu queria tomar um pouco de ar fresco.

─ No meio da noite?

─ Sim, meu quarto estava apenas... abafado.

─ Mostre-me.

Meu coração afundou ainda mais, mas consegui um sorriso fraco


e um aceno de cabeça, fazendo sinal para papai me seguir pelas escadas
e em direção ao meu quarto. Ele deu um passo atrás de mim e senti seus
olhos em mim, me observando, calculando seu próximo passo. Papai
nunca agiu irracionalmente. Suas ações foram bem pensadas, criadas
para machucar, causar impacto. Foi isso que o deixou tão aterrorizante.

Continuei andando pelo corredor, meus olhos dançando sobre as


outras portas. Por favor, Deus, deixe alguém, alguém, estar acordado.
Deixe-os me ajudar.

2
Minha filha – em espanhol.

BETTI ROSEWOOD
A porta à minha direita, o quarto da minha mãe, estava aberta e
eu olhei atentamente para o espaço escuro entre a porta e a moldura da
porta. Eu quase conseguia ver sua forma, de pé nas sombras, nos
observando atentamente. Ou seja, até o papai dar um passo à frente e
fechar a porta, a trava clicando no lugar. Ele trancou a mamãe lá.

─ Seu quarto, mija, ─ ele me lembrou.

Eu balancei a cabeça, engolindo em seco e continuei andando até


a minha porta. Abri, a maçaneta rangeu quando entrei. A sala estava
doentia em sua glória infantil, e eu odiava. Era rosa sobre rosa. Rosa em
todos os lugares. Paredes cor de rosa, roupas de cama cor de rosa,
travesseiros cor de rosa e até uma penteadeira rosa pink com luzes de
maquiagem ao estilo de Hollywood. Papai me deu tudo o que eu queria
quando era mais jovem. Mal sabia eu, haveria um preço a pagar por sua
gentileza.

─ Não parece muito quente aqui ─ comentou papai. ─ Você nem


tentou abrir uma janela?

Ele apontou para a janela, que estava fechada.

─ Não, eu só queria um pouco de ar fresco do jardim e um copo de


água ─ eu gaguejei, e ele assentiu, atravessando a sala e abrindo a janela
apenas um pouco.

─ Talvez isso ajude. ─ Ele olhou para a cama e eu agradeci minhas


estrelas da sorte que eu tinha mexido com as almofadas e edredons antes
de sair naquela noite. Agora parecia que eu tinha acabado de me levantar,
em vez de voltar para casa de uma festa que eu não tinha permissão para
ir em primeiro lugar.

─ Obrigada, papai ─ eu sussurrei, subindo na cama e encostando-


me na cabeceira de minha princesa. ─ Você se importa se eu for dormir
agora?

BETTI ROSEWOOD
─ Em breve ─ disse ele, naquele tom calmo que me assustou. ─
Apenas me responda algumas perguntas primeiro.

─ O que é, papai? ─ Meu coração batia forte no peito enquanto eu


o observava, esperando o inevitável. ─ O que você quer me perguntar?

─ Como você saiu, Estella? ─ Ele queria saber.

─ Eu, uh... eu passei pelas portas francesas no salão.

─ Mas eu tranquei essas quatro horas atrás.

Empalideci. ─ Ah, eu devo ter perdido a noção do tempo, eu...

─ Não minta para mim. ─ Essas palavras simples traziam um aviso


que eu sabia que teria que seguir. Pelo menos se eu não quisesse me
machucar. ─ Diga a verdade, mija. Diga-me a verdade e eu farei que tudo
fique bem.

─ Eu só, eu... ─ Eu estava lutando para tirar as palavras, forçá-las


a sair da minha boca. Murmurei algo, mesmo sabendo que isso o
perturbaria.

─ Fale ─ ele exigiu em voz baixa e calma. ─ Não estou ouvindo você,
Estrellita.

─ Eu... eu não sei ─ consegui. ─ Sinto muito, papai.

─ Você está mentindo para mim de novo?

─ Não, eu...

─ Você nem consegue inventar uma boa mentira.

─ Eu não estou mentindo, eu...

─ Apenas pare. ─ Ele olhou para mim, seus olhos cheios de raiva
contida que ele nunca iria desencadear em mim. Ah, não, papai tinha

BETTI ROSEWOOD
uma maneira diferente de me punir, e era ainda mais cruel do que se ele
tivesse me atingido. ─ Saia da cama. Fique na minha frente.

Minhas mãos tremiam quando me afastei do edredom rosa. Eu


sabia que não devia discutir com o papai. Ele não aceitaria isso.

─ Fique na frente da cama ─ ele instruiu, e eu forcei meu corpo


trêmulo a se submeter, fazendo o que ele disse. ─ Feche os olhos. ─
Respirei fundo e forcei meus olhos a fecharem. Eu o senti me abençoar,
seus dedos frios contra a minha pele. ─ Em nome do pai, do filho e do
espírito santo.

Eu estava tremendo quando ele terminou, sabendo exatamente o


que viria a seguir. Sempre foi o mesmo com o papai. Seus castigos foram
cruéis, mas pelo menos eu sabia o que esperar.

Sua voz veio a mim como se fosse de outro mundo, suave, mas
insistente. ─ Bata em si mesma.

Eu levantei minha mão acima de mim, examinando minha palma


trêmula.

─ Agora ─ papai insistiu, e eu abaixei a mão com um tapa alto na


minha bochecha. ─ Você acha que isso é forte o suficiente para o que
você fez, Estella? Por mentir para o seu pai? Você acha que já bateu forte
o suficiente?

─ Não, papai ─ eu sussurrei, deixando meu braço cair e lutando


contra o desejo de acalmar a picada na minha bochecha. ─ Eu sinto
muito.

─ Não, você não sente ─ ele disse calmamente. ─ Ainda não. Mas
você sentirá.

BETTI ROSEWOOD
Ele fez sinal para eu fazer de novo. Mais uma vez, levantei minha
mão, o assobio do tapa me transportando de volta à minha realidade
horrível, longe da vida que eu construí nas nuvens. Essa era a verdade.
Essa foi a minha vida. Eu arrumei minha cama e agora tenho que dormir
nela.

─ Você vai me dizer a verdade? ─ Papai exigiu.

─ Sinto muito ─ eu sussurrei entrecortada. ─ Me desculpe.

─ Não foi o que eu pedi ─ ele respondeu friamente. ─ Mais um tapa


em cada bochecha, mija.

Eu tentei acabar com isso o mais rápido possível, a picada do tapa


fazendo meus olhos lacrimejarem. ─ Sinto muito, papai. Eu serei melhor
para você.

Ele deu um passo mais perto. Mesmo que ele nunca tivesse me
atingido em sua vida, eu me encolhi, não querendo estar perto dele e a
possibilidade de ele me machucar de verdade.

─ Você vai dizer a verdade? ─ Ele perguntou, e meus dedos tremiam


enquanto eu lentamente balancei a cabeça negativamente. ─ Não? Você
se recusa a me dizer?

─ Eu... eu não posso ─ eu sussurrei. Eu sabia que, se eu falasse, o


castigo seria pior. Deus sabe o que o papai faria se descobrisse que eu
estava em uma festa com uma garota que ele não gostava, tomando
bebida e drogas aos dezessete anos. ─ Sinto muito, papai.

─ Você precisa aprender uma lição ─ ele murmurou. ─ Receio que


o que tenho feito com você, para mostrar como as coisas devam ser, não
seja mais suficiente.

─ O que você quer dizer? ─ Eu gaguejei.

BETTI ROSEWOOD
Ele passou a mão pelo cabelo escuro e ralo. ─ Tire a roupa.

─ O-o quê? ─ Todo o sangue foi drenado do meu rosto. ─ Por que
papai?

─ Faça ─ ele exigiu, olhando para mim com nojo. ─ Agora mesmo.

Meus dedos tremiam quando toquei a barra da minha camisola.


Ele não iria. Ele não vai. Ele não pode.

─ Papa, por favor, eu...

─ Tire. Agora.

Soltei um gemido antes de levantar o pijama por cima da cabeça,


cobrindo meu peito nu e me encolhendo diante dele em nada além de
minha calcinha. E assim que ele viu o que eu estava vestindo por baixo,
eu sabia que ele me machucaria mais do que nunca.

Eu estou usando uma calcinha fio dental, lembrei-me com medo.


Ele nunca vai me deixar escapar disso.

Ele olhou para mim com nojo. Não havia nada sexual em nossa
troca de olhares, nada pervertido, mas me senti profundamente
perturbada pela maneira como ele me olhava, como se eu fosse uma
criminosa por usar uma simples peça de roupa com a qual ele não
concordava.

─ Ajoelhe-se ─ ele exigiu.

Caí de joelhos, inclinando a cabeça, olhando para qualquer lugar,


menos para ele.

─ Testa no chão ─ disse ele, e eu me inclinei para frente até meus


lábios encontrarem o chão. Eu sabia que ele não acharia nada menos do
que isso aceitável. ─ Ore.

BETTI ROSEWOOD
Comecei a murmurar uma oração, as palavras se misturando
enquanto meu medo aumentava. Eu passei por isso uma vez. Duas vezes.
Três vezes. Ele não me parou. Minhas palavras ficaram cada vez mais
rápidas, mais frenéticas a cada vez que as repetia. Lágrimas escorriam
pelas minhas bochechas pela décima vez, e eu estava chorando quando
cheguei ao vinte e dois.

─ Papai... ─ eu disse, mas ele voltou à vida.

─ Ore por sua salvação, mija. Eu não posso mais te ajudar. Agora
você precisa pedir perdão a Deus. Você fará cinquenta orações. E eu vou
ficar aqui até você terminar.

Eu continuei, e ele olhou para mim no chão, repassando as


palavras várias vezes. Senti vergonha queimando a boca do estômago,
lembrando-me uma e outra vez da decepção que eu era para minha
família.

Quando terminei, minha voz rouca e quebrada, ele estendeu a mão


para mim e eu a peguei, deixando-o me ajudar a levantar. Eu me odiava
por fazer isso. Por precisar dele, mesmo depois de me machucar como
sempre fazia.

─ Me dê seu telefone ─ ele exigiu.

Timidamente, peguei meu telefone e entreguei a ele. Por favor, não


peça a senha. Por favor.

─ Você receberá de volta quando aprender a agir com mais


responsabilidade -papa disse. ─ Diga-me que você entende.

─ Eu entendo. ─ As palavras vieram em um sussurro.

─ Vá para a cama ─ ele me disse. ─ Não quero mais olhar para você.

BETTI ROSEWOOD
Com essas palavras, ele virou as costas para mim e saiu do meu
quarto. O alívio tomou conta de mim assim que ouvi o clique revelador
da fechadura. Eu era prisioneira mais uma vez.

Corri para um local próximo ao meu guarda-roupa e bati na tábua


do chão. Eu gentilmente tirei a tábua do chão e olhei para o meu
esconderijo embaixo da madeira. Peguei meu telefone, um modelo antigo
que eu mantinha em caso de emergência, depois fechei cuidadosamente
a tábua do piso.

Meu corpo inteiro estava tremendo quando eu apaguei as luzes e


subi na cama, segurando meu telefone antigo. A essa altura, o sol estava
nascendo do lado de fora e a luz iluminava meu quarto. Eu me senti suja,
errada quando subi entre os lençóis. Eu me escondi embaixo deles, me
cobrindo até o queixo.

Trazendo meu telefone, comecei a digitar uma mensagem. Demorei


um minuto para perceber que estava escrevendo para Milo e, com culpa,
excluí o que escrevi antes de iniciar uma nova mensagem, endereçada a
Natan.

Ei. Papai pegou meu telefone novamente :( Você já está


acordado? Eu realmente preciso de alguém agora).

Eu esperei pela resposta pelo que pareceram horas, enquanto


minhas pálpebras ficavam cada vez mais pesadas. Quando adormeci,
meu telefone ainda estava silencioso e me senti mais sozinha do que
nunca.

BETTI ROSEWOOD
3
DATA: 20 DE OUTUBRO DE 2018 – 10H

LOCAL: CASA DO MILO E DO NATAN.

MILO

─ Ei, você está bem aí?

Nunca tirando os olhos da tela, acenei para minha mesa,


murmurando: ─ Tudo bem, obrigado. Você é um salva-vidas, pai. Você
pode simplesmente colocar o café aí, obrigado.

Senti papai se aproximando, depositando a caneca na minha mesa


e batendo nas minhas costas. ─ Mais perto do fim?

─ Estou prestes a terminar ─ murmurei, ainda digitando como um


louco, estendendo a mão para a caneca com a mão esquerda e tomando
três goles escaldantes, sem tirar os olhos da tela. ─ Apenas uma hora
atrasado.

─ Você quer que eu leve você ao escritório da senhorita James para


que você possa dar a carta a ela?

─ Não ─ eu balancei minha cabeça. ─ Eu vou fazer isso, não se


preocupe. Só mais um momento... ─ Eu digitei as últimas palavras e sorri
para mim mesmo ao pressionar a última tecla no meu teclado. ─ Pronto.
Está feito.

─ Sucesso! ─ Papai deu um soco no ar e eu gemi com a visão.

─ Pai, por favor, leve seus movimentos de dança de volta aos anos
90 e mantenha-os lá.

─ Até parece ─ ele sorriu.

BETTI ROSEWOOD
─ Você está dizendo isso errado.

─ Você não é legal o suficiente para entender.

Eu ri alto enquanto imprimia as páginas. ─ Mas sua fé em mim é


devidamente notada e muito apreciada.

─ Você herdou isso de mim ─ ele sorriu. ─ Você sabe que sou o
cérebro da família.

─ Claro, pai. ─ Peguei as impressões e fiz uma careta para elas,


murmurando: ─ Vamos torcer para que a redação seja boa o suficiente
para me levar para dentro.

─ Você vai arrasar com mais força do que Madonna e Britney no


MTV Video Music Awards de 2003. - Ele me deu um abraço, e eu aceitei
pela primeira vez. ─ Vá buscá-los, campeão.

─ Obrigado pela confiança e pelas curiosidades de Madonna.


Caramba, eu digo isso com muita frequência por aqui.

─ De nada ─ papai murmurou. ─ Vejo você em breve, garoto!

Peguei minha jaqueta antes de correr pela casa. Natan e meu outro
pai estavam sentados na cozinha da ilha.

─ Croissants quentes ─ papai chamou. ─ Pegue seus croissants


quentes!

─ Terminei a redação, saindo! ─ Gritei, correndo pela porta.

─ Cuidado com a estrada! ─ veio o aviso do papai atrás de mim.

Natan veio correndo atrás de mim, sorrindo enquanto empurrava o


croissant na minha mão. ─ Você precisa de um ou eles irão me fazer
comer outro. Redação feita?

BETTI ROSEWOOD
─ Sim. ─ Eu mordi, segurando a massa com a boca enquanto
agarrava as chaves do meu carro e o boné de beisebol. ─ Me parabenize
mais tarde.

─ Que tal agora, desde que você decorou o endereço da senhorita


James ─ Natan assobiou.

─ Que tal não falar sobre isso ─ lembrei a ele.

─ Alguns dos caras de lacrosse estão tentando me subornar para


conseguir isso de você.

─ Boa sorte com isso.

─ Nem mesmo para o seu irmão favorito? ─ Eu dei a ele um olhar


duvidoso antes que ele finalmente se afastasse do meu caminho. ─ Seu
único irmão.

─ Falando em favores fraternos ... ─ eu falei. ─ O que há com sua


namorada me mandando mensagens no meio da noite?

─ Merda, desculpe. ─ Ele coçou a parte de trás da cabeça. ─ Eu já


estava dormindo. Ela acabou pegando um táxi para casa, então está tudo
bem.

─ Um táxi? ─ Minhas sobrancelhas se ergueram. ─ Ah, certo.


Bem... é melhor eu continuar.

─ Tudo bem, vá ─ disse ele. ─ Mas eu ainda quero esse endereço!

Corri para o meu carro e bati meus dedos no volante todo o


caminho até a casa da senhorita James. Eu praticamente tive que
implorar pelo endereço dela quando soube que minha redação chegaria
atrasada e já tinha uma ligação perdida dela no meu telefone.

BETTI ROSEWOOD
Por que Estella mentiria para Natan? A pergunta continuava
surgindo em minha mente, não importa o quanto eu tentasse afastá-la.
Em vez disso, tentei me distrair com a senhorita James.

Ela era nova em Wildwood, tendo chegado apenas naquele ano


letivo e imediatamente havia encantado os caras dos quatro anos de
colegiais. Com seus longos cabelos cor de cobre, olhos verdes e pele
pálida, ela era um maldito sonho molhado que ganha vida. Não que eu
tenha pensado nisso.

Quando parei na frente da casa dela, ela já estava de pé na


varanda, com os braços cruzados e os lábios contraídos. Eu não notei as
pilhas de caixas ao seu redor até entrar na garagem dela. Quando ela me
viu parando, ela deu um suspiro de alívio, e eu saí do carro com um
sorriso enorme no rosto.

─ Feito, feito e feito ─ eu gritei. ─ Aqui estão as páginas. Muito


obrigado por me dar esta extensão.

─ Você sabe que eu estou te protegendo ─ ela sorriu, pegando as


páginas de mim. Os olhos dela estavam vermelhos. ─ O que lhe deu o
impulso de fazer isso? Intervenção divina?

Pensei em Estella, com uma mancha de ketchup no vestido


reluzente e o cabelo lustroso no rosto. ─ Algo parecido.

─ Bem, estou feliz que você tenha terminado ─ a Srta. James sorriu.
─ Tão feliz, Milo. Eu sabia que você poderia fazer isso.

─ Ei, você está bem? ─ Franzi minhas sobrancelhas, apontando


para as caixas, escolhendo não mencionar a vermelhidão em seus olhos.
─ O que está acontecendo aqui?

─ Ah, eu... ─ Ela mordeu o lábio inferior. ─ É... um pouco ruim.

BETTI ROSEWOOD
─ Por que?

─ Milo, eu não acho... ─ Ela corou, olhando para longe quando um


pequeno soluço escapou dela. ─ Acabei de terminar com meu namorado.

─ Ah, merda. ─ Eu mudei meu peso de um pé para outro. ─


Desculpe, senhorita James.

Ela estava tão bonita naquela manhã que eu mal podia imaginar
alguém querendo terminar com ela. Ela usava um vestido vermelho e
sandálias, com os cabelos ruivos caindo nas costas em ondas. Pela
primeira vez, me perguntei qual era o primeiro nome dela.

─ Obrigada. Vou levar isso imediatamente ao chefe de admissões


em Eastvale ─ prometeu. ─ Você gostaria... ─ ela hesitou, olhando de
volta para sua casa. ─ Você quer uma xícara de café ou algo assim? É
muito cedo para eu pensar direito.

─ Errr... ─ eu hesitei. ─ Sem ofensa, mas é melhor eu ir.

─ Você está certo ─ ela riu nervosamente. ─ O que eu estava


pensando? Obrigada por trazer isso, Milo.

─ Obrigado ─ sorri. ─ Eu sei que está em boas mãos daqui em


diante. ─ Vejo você na segunda-feira na escola?

─ Você verá ─ ela assentiu. ─ Tenha um ótimo final de semana,


Milo.

Ela acenou para mim quando eu saí da garagem dela, mas foi só
quando eu já estava na estrada que olhei no meu espelho retrovisor para
vê-la melhor. Ela realmente era um belo pedaço de bunda, aquela Srta.
James. Completamente fora dos limites também.

Apenas o meu tipo.

BETTI ROSEWOOD
4
DATA: 03 DE SETEMBRO DE 2019 – 09H

LOCAL: ACADEMIA WILDWOOD.

ESTELLA

No momento em que pisei no limiar de Wildwood sabia que as


coisas seriam diferentes desta vez. Era o meu último ano. Eu estava
pronta para ter o melhor momento da minha vida, mas logo ficou óbvio
que Tinsley Sullivan havia arruinado tudo para mim.

Eu vi as dicas em todos os lugares. Os contornos fracos de


borboletas nos pulsos das pessoas, os sussurros que me seguiam onde
quer que eu fosse. Eu os ouvi conversando, mas mantive minha cabeça
erguida e ignorei o que eles diziam sobre mim. Eu tinha tomado algumas
decisões durante o verão que os estudantes, sem dúvida, iam julgar, mas
eu não dava a mínima. Eu queria ser temida. Era mais seguro do que ser
ridicularizada e zoada, como Tinsley tinha sido no ano passado quando
ela começou em Wildwood.

Eu me encontrei com a Inca de manhã, e o ciúme torceu meu


estômago em mil nós quando a vi. Ela esteve fora no verão e voltou
bronzeada e bonita. Ela realmente floresceu desde que eu a conheci, não
apenas porque eu a estava ajudando com seu guarda-roupa. Ela tinha
uma beleza natural que eu nunca poderia reproduzir. Inocente, doce e
tímida, adjetivos que ninguém jamais usaria para me descrever.

─ Como foi seu verão? ─ Perguntei a Inca enquanto seguíamos para


a nossa primeira sala de aula. Ela estava tendo aulas avançadas de
inglês, o que nos colocava na mesma classe, mesmo sendo mais jovem.
─ Se divertiu?

BETTI ROSEWOOD
─ Foi ótimo ─ ela admitiu. ─ Estou tão feliz por ter ido a esse
acampamento para estudantes talentosos.

Eu fiz uma careta com as palavras dela. Deus, ela está realmente
animada em ir a um acampamento para o verão. Que trágico. Não comentei
e continuamos andando enquanto ela me contava sua triste experiência.
Na sala de aula, senti a tensão desde o momento em que entramos. Todo
mundo ficou quieto, todos os olhos estavam em mim. Inca e eu
encontramos nossos assentos nas mesas ao lado uma da outra, e
enquanto ela se ocupava em preparar o livro e o caderno da aula, eu me
arrastei até a líder de torcida, Harlem.

─ Ei, garota ─ eu ronronava. ─ Há quanto tempo. ─ Ela me deu


uma longa olhada, colocando uma mecha de cabelo ruivo atrás da orelha,
mas sem responder. Eu hesitei, sem saber por que ela estava me dando
tratamento frio. Mas eu não me importei. Ela não tinha sido coroada
rainha do baile, eu tinha. Se ela pensava que iria governar a escola,
estava completamente errada. Esse era o meu domínio, não o de alguns
aspirantes a idiotas.

─ Como foi seu verão? ─ Eu perguntei a seguir.

─ Divertido ─ ela respondeu, com os olhos vidrados enquanto


suspirava e folheava seu caderno. Vi as borboletas na capa de seu livro,
desenhadas por todas as páginas. Ela com certeza trocou de lado rápido.
Não era preciso ser um gênio para saber que garotas como a Harlem eram
seguidores, não líderes. O problema era que ela estava me seguindo há
três anos e, de repente, parecia que sua atenção havia mudado. Agora
era tudo sobre Tinsley. Tinsley, que nem sequer foi a Wildwood.

Com minha boca em uma linha fina, saí da mesa da Harlem e voltei
para a minha. A sala ficou cheia antes do sinal tocar, sinalizando o inicio
da aula. Lá vamos nós novamente.

BETTI ROSEWOOD
O professor Cabot entrou alguns minutos depois do sinal, e todos
nos acomodamos em nossos assentos. Peguei minha caneta e abri meu
caderno, pronta para começar a aula.

─ Certo ─ Cabot gemeu. ─ Vamos começar com o nosso plano de


estudos. O primeiro livro, que vocês foram designados para ler durante
as férias de verão, é Crime e Castigo.

Eu levantei minha mão imediatamente, e Cabot suspirou,


esfregando as têmporas quando ele fez um sinal para eu falar.

─ Eu não sabia que deveríamos ler alguma coisa durante as férias


de verão ─ eu disse, franzindo as sobrancelhas. ─ Isso ficou claro antes
do início do ano letivo?

Suspiros e gemidos ecoaram na sala de aula. Pela primeira vez,


senti olhos de desaprovação em mim e não fazia ideia do que se tratava.

─ Senhorita Hawthorne ─ começou Cabot. ─ Esta é a aula de inglês


avançado. É a sua primeira vez em uma aula avançada?

─ Não ─ eu assobiei, franzindo as sobrancelhas. ─ Eu só estava


dizendo...

─ Você deve ter recebido um aviso da escola ─ continuou ele. ─


Havia seis livros que você deveria ler nas férias de verão.

─ Bem, eu não recebi o aviso ─ cruzei os braços defensivamente. ─


Então, eu não li nada.

Risinhos percorreram pela aula quando Cabot se virou para mim,


seu rosto bonito cansado. ─ Bem, esse não é meu problema, senhorita
Hawthorne. Então, suponho que você não possa responder a nenhuma
das perguntas deste questionário?

BETTI ROSEWOOD
Ele levantou um pedaço de papel e eu empalideci. ─ Eu também
não fazia ideia de que haveria um questionário. ─ reclamei. ─ Ninguém
me disse.

─ Infelizmente, esse é seu problema, não meu ─ disse-me Cabot


friamente. ─ E você pode reclamar com o conselho da escola, mas agora,
você precisa fazer esse teste.

─ Mas eu não sabia! ─ Eu argumentei.

─ Eu não quero ouvir os seus resmungos ─ ele interrompeu,


levantando a mão. ─ Ou leve isso para a secretaria da escola ou prepare-
se para fazer o teste.

─ Eu não posso ─ disse com os dentes cerrados.

─ Você não pode fazer o teste?

─ Não.

─ Então você ficará incompleta na tarefa de hoje.

Olhei ao redor da sala, sentindo meu coração bater no peito. ─ O


que isso significa? ─ Mais uma vez, todos riram. ─ Não é engraçado. ─
Mais risadas se seguiram.

Olhei para Inca, que estava olhando para mim com uma expressão
de desculpas, dizendo eu achei que você sabia.

─ Isso significa que sua pontuação para o dia é um F, Srta.


Hawthorne ─ explicou Cabot, fazendo-me entrar em pânico
imediatamente. ─ E contará para sua média no final do ano letivo.

─ O quê? ─ Eu olhei para ele. ─ Isso é completamente, totalmente


inaceitável.

BETTI ROSEWOOD
─ Reclame com a secretaria, não comigo ─ Cabot suspirou. ─
Podemos continuar agora, por favor?

─ Não ─ argumentei. ─ Eu preciso chegar ao fundo disso.

Mais risadinhas, e então, por trás, ouvi Harlem sussurrar: ─ Ah,


como os poderosos caíram.

Eu me virei, olhando para ela e sussurrando: ─ É melhor você


cuidar da sua língua Harlem, antes de eu arrancá-la da sua garganta.

Ela empalideceu quando Cabot chegou à minha mesa, batendo um


livro nela. ─ Senhorita Hawthorne! Sugiro que você vá direto ao escritório
do diretor. Pegue minha cópia de Crime e Castigo, talvez você possa
realmente começar o trabalho que todo mundo fez durante o verão.

─ Não vou ao escritório do diretor ─ falei horrorizada. ─ Eu não fiz


nada de errado!

─ Vá ─ insistiu Cabot. ─ E eu espero que você volte amanhã a essa


mesa, depois de ler os seis livros do currículo. Entendido?

─ Hijo de puta ─ murmurei baixinho.

─ Desculpe?

─ Entendido, professor Cabot. ─ Juntei minhas coisas ao som de


uma risada contida, sentindo o sentimento de traição corar nas minhas
bochechas quando peguei o livro dele da minha mesa e fui para a porta.
Ele não tinha o direito de me tratar assim. ─ Vou falar com o diretor sobre
a maneira como você me tratou hoje. Só para você saber.

Ele me deu um olhar incrédulo antes de rir na minha cara, me


fazendo corar ainda mais. ─ Bom, faça isso, Srta. Hawthorne. E você
saberá que sou diferente do tipo de professor que você está acostumada,
porque não vou permitir que nenhum dos meus alunos, nem dos pais

BETTI ROSEWOOD
deles, me intimide, me obrigando a fazer algo que não acho certo. Então,
boa sorte com isso.

Eu olhei para ele antes de murmurar outro insulto espanhol


baixinho e indo para a porta. A sala de aula inteira estava olhando, e ouvi
Harlem gritar: ─ Não esqueça sua coroa, rainha do baile!

Todo mundo riu de novo, e eu saí da sala me sentindo irritada como


o inferno. Eu tinha acabado de ser expulsa da minha primeira aula, e
não estava gostando nada disso. Se Cabot e Harlem pensaram que
poderiam me tratar assim, eles estavam completamente errados.
Ninguém colocou Estella Hawthorne no canto.

Comecei a caminhar até o escritório da secretaria, passando pelo


escritório da assistente de admissão no meu caminho. A senhorita James
estava conversando com um membro da faculdade em frente a ela, e
quando ela me viu, ela me chamou, dizendo: ─ Ah, Estella. Você poderia
vir aqui um segundo?

─ Eu? ─ Olhei em volta e ela assentiu. ─ Claro, isso é importante?

─ Sim, ela assentiu ─ depois de se despedir da mulher com quem


estava conversando. ─ Por favor, entre. Tem a ver com Eastvale e sua
admissão.

─ Ah ─ eu sorri. ─ Claro, eu vou entrar.

No escritório dela, eu deixei minha bolsa com os livros didáticos no


chão, cruzando e descruzando minhas pernas nervosamente, enquanto
a Srta. James passava um bom tempo regando uma orquídea no canto
da sala. Ela tinha apenas cerca de um ano, mas rapidamente se
popularizou entre os outros estudantes. Os caras a amavam porque ela
era gostosa, e as meninas a apreciavam desde que ela era agradável e
gentil. Eu não tinha nada contra ela. Mas isso estava prestes a mudar
nos próximos minutos.

BETTI ROSEWOOD
Ela terminou de regar as flores e me ofereceu um pouco de água, o
que eu aceitei, lamentando quando ela desapareceu na sala
compartilhada. Deus, isso está levando muito tempo. Ela não pode apenas
me dizer o porquê ela me chamou?

─ Você disse que isso era sobre a minha admissão em Eastvale? ─


Perguntei quando ela voltou, colocando uma garrafa de Evian e um copo
na mesa diante de mim.

Ela assentiu, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha


enquanto se sentava na minha frente. ─ Como você sabe... ─ ela começou
─ Eastvale é conhecida por ser uma universidade muito prestigiada e
exclusiva.

─ Claro.

─ Muitas escolas oferecem bolsas de estudos, mas Eastvale é a


única que eu conheço que é apenas para convidados ─ continuou ela. ─
Eu sei que você e outro aluno foram convidados a se inscrever na
primavera.

─ Sim ─ eu assenti. ─ Milo Earnshaw e eu.

─ De fato. ─ Ela corou, empurrando os óculos de leitura mais alto


na ponta do nariz. Era irritante o quão bonita ela era. Não era justo. ─
Como você sabe, você e o Sr. Earnshaw entraram cedo na admissão. E
um de vocês entrou cedo. ─ Eu sorri, prestes a falar, mas ela me parou
segurando a palma da mão. ─ Agora, antes de prosseguir, Estella... Você
sabe que é extremamente raro Eastvale aceitar mais de um aluno da
mesma escola, não é?

─ Eu sei ─ eu disse com orgulho. ─ E será uma honra representar


a Wildwood em uma universidade tão prestigiada.

BETTI ROSEWOOD
Ela me deu um pequeno sorriso antes de dizer baixinho: ─ Milo
entrou, Estella.

─ O quê?

─ Milo Earnshaw ─ ela repetiu lentamente. ─ Ele foi aceito em


Eastvale mais cedo.

─ Mas... ─ Lutei para encontrar as palavras certas, meu coração e


minha cabeça latejando de medo. Quando meu pai descobrir isso, ele vai
me matar. Ele nunca aceitará que eu não fui boa o suficiente e terei que
pagar caro por isso. ─ Mas isso simplesmente não pode ser verdade.

A senhorita James me deu um sorriso simpático, empurrando uma


caixa de lenços de papel em sua mesa em minha direção. ─ Não há
problema em ficar chateada, Estella. Mas você precisa se lembrar de que
esse não é o fim do mundo. Nem todos são aceitos na primeira
universidade que escolheram. E ainda há muitas escolas que gostariam
que você frequentasse seus programas.

─ Mas eu não quero nenhuma outra escola ─ insisti, ouvindo o


quão teimosa eu parecia, mas não dando a mínima. ─ Como isso é
possível? Entreguei minha redação mais cedo. Milo nem estava pronto no
prazo!

─ Sinto muito ─ a Srta. James disse com firmeza, franzindo as


sobrancelhas para mim. ─ Mas a escolha foi deles, não minha, e já foi
decidido. Eu ficaria feliz em aconselhá-la sobre o que fazer a seguir,
Estella. Mas, por favor, não descarte as realizações de seu colega apenas
porque você não entrou.

─ Eu não estou colocando ele no chão. Eu simplesmente não


entendo. ─ Eu pisquei com as lágrimas lutando para sair. Eu não vou
chorar. Eu não vou chorar. Eu não vou chorar.

BETTI ROSEWOOD
─ Você sabia que só havia espaço para uma pessoa de Wildwood,
certo? ─ Sua voz era gentil, e eu me vi balançando a cabeça, me sentindo
esmagada. ─ Sinto muito, sinceramente, Estella. Mas acho que você
ainda pode ir para uma escola incrível e obter o diploma que deseja. Ok?

─ OK. ─ Minha voz estava áspera e quase inaudível. Eu me senti


derrotada. Totalmente destruída. ─ Posso sair agora?

─ Claro ─ ela assentiu gentilmente. ─ Não se preocupe, Estella,


ainda podemos resolver isso. Por que você não marca uma consulta
comigo no site nesta semana? Podemos passar por outras escolas, talvez
sua segunda e terceira escolha.

─ Claro ─ eu consegui falar miseravelmente enquanto pegava


minhas coisas e me levantava. ─ Senhorita James?

─ Sim?

─ Milo já sabe? ─ Eu perguntei, sentindo o nó na garganta.

Ela me deu um sorriso, dizendo: ─ Ele está prestes a entrar para


que eu possa contar a ele.

─ Ok ─ eu assenti. Então, ele está prestes a descobrir. E ele nunca


vai me deixar ouvir o final disso. Pensar que ele nem teria terminado sua
redação se eu não tivesse tentado ajudá-lo.. Deus, que bagunça. — Vejo
você ainda esta semana, senhorita James.

— Vejo você em breve, Estella.

Saí do escritório dela, fechando a porta suavemente atrás de mim.


Até então, restavam apenas alguns minutos antes do intervalo para o
almoço, e eu sabia que os corredores estavam prestes a ficar cheios de
pessoas. Lutei contra o desejo interno de gritar, engolindo meu grito de
desespero a tempo de ouvir a campainha tocar. Joguei meu cabelo por

BETTI ROSEWOOD
cima do ombro, me arrumei e levantei o queixo alto. Ninguém mexe com
Estella Hawthorne.

Apesar do mantra que eu repetia para mim mesma enquanto


caminhava pelos corredores lotados, sabia que não era verdade. Papai
não gostaria disso nem um pouco, e logo teria que pagar o preço pelo
meu fracasso.

Um corpo bateu no meu enquanto eu caminhava, e eu gritei, caindo


de bunda no chão.

─ Merda, desculpe!

─ Idiota ─ eu assobiei, meus olhos se conectando com um par que


eu conhecia muito bem. ─ Milo. Claro, porra.

─ Desculpe ─ ele murmurou, oferecendo-me a mão e me ajudando


a levantar. ─ Estou meio que com pressa. Não tive a intenção de fazer
isso.

Tirei o pó do meu uniforme com uma expressão de nojo,


examinando meus sapatos. ─ Porra, Milo ─ eu murmurei. ─ Você quebrou
o salto nos meus sapatos. Estes são Giuseppe Zanottis, pelo amor de
Deus!

Ele me deu um olhar vazio e eu gemi. Para um sabe tudo, ele com
certeza não tem sabe o que é isso.

─ Boa sorte com a senhorita James ─ acrescentei amargamente.

─ Como você sabia que é para onde eu estava indo? ─ ele


perguntou, me dando um olhar desconfiado.

─ Acabei de vir do escritório dela ─ admiti, sentindo-me arrasada.

BETTI ROSEWOOD
─ Ah ─ ele ofereceu, passando a mão pelos cabelos escuros. ─ Ei,
está tudo bem?

─ Claro, Milo ─ cuspi. ─ Está tudo muito bem.

─ Você viu meu irmão?

─ Não. ─ Suspirei. Natan nem se preocupou em me encontrar


naquele dia ainda. Nós éramos oficiais há oito meses e ele ainda não dava
a mínima. Eu com certeza sei como escolhê-los. ─ Por quê?

─ Ah ─ disse Milo, aparentemente surpreso com o que eu disse. ─


Esquisito.

─ Não há nada de estranho nisso ─ eu lati. ─ Agora, por favor, sai


da frente. Eu tenho que ir.

─ Tchau ─ ele disse, revirando os olhos. ─ Uau, continua tão vaca


como antes, não é, Estella?

─ Foda-se ─ eu murmurei, passando por ele e indo até o escritório


do diretor. Espero que sua vida arda em chamas como a minha, Milo.

BETTI ROSEWOOD
5
DATA: 03 DE SETEMBRO DE 2019 – 11H

LOCAL: ACADEMIA WILDWOOD

MILO

Depois do meu encontro com Estella, balancei a cabeça com a


grosseria dela e continuei andando até chegar ao escritório da senhorita
James. A namorada do meu irmão estava em espiral, e eu tinha certeza
que sabia o motivo. Estella odiava ser julgada. Ela odiava não ser a mais
popular, e agora, mesmo com Tinsley e Crispin, as mesas viraram, e ela
não era tão importante quanto no ano passado. Sua raiva era óbvia, e eu
poderia dizer que ela estava lutando com seu novo papel como a garota
má, a cadela principal e nada mais. Ela era a única pessoa que as
meninas queriam ser e os caras eram desesperados para tê-la apenas
meses atrás, e agora tudo estava a seus pés como um castelo de cartas.

Bati na porta do escritório da senhorita James, e ela me chamou


para entrar. Meu coração estava batendo forte enquanto eu entrava,
fechando a porta atrás de mim. A senhorita James levantou-se da mesa
dela, completamente de tirar o fôlego, com uma blusa branca e uma saia
lápis preta. Seu cabelo estava preso, com algumas mechas escapando do
coque bem enrolado e emoldurando seu lindo rosto. Ela não poderia ser
mais de dez anos mais velha que eu, mas ela parecia ainda mais jovem.

─ Olá ─ eu disse, aproximando-me da mesa dela. ─ Você queria me


ver, senhorita James?

─ Sim ─ ela assentiu, seu entusiasmo me pegando também. ─


Sente-se, Milo.

BETTI ROSEWOOD
Sentei-me na frente da mesa dela, afundando no couro do assento.
Eu sabia que o que ela tinha para me dizer tinha a ver com Eastvale, e
meu coração não me deixou esquecer. O que ela disser a seguir moldaria
meu futuro para sempre.

─ Milo, você se inscreveu em Eastvale ─ disse ela, me dando um


olhar longo e inquisitivo. ─ Como você sabe, tivemos dois candidatos
iniciais à faculdade, você e a senhorita Hawthorne.

─ Eu sei ─ assenti, o nó na garganta tornando mais difícil de


engolir. Eu também sabia que apenas um de nós conseguiria o lugar, um
pensamento que eu tinha empurrado para o fundo da minha mente
durante o verão. Eu estudava na mesma escola que Estella desde que
éramos crianças. O pensamento de que estaríamos separados em um
curto ano me fez sentir estranho. Ela sempre fez parte da minha vida.
Seria um ajuste estranho ficar sem ela perto de mim. ─ Então, você já
teve uma resposta de Eastvale?

─ Sim ─ a senhorita James assentiu com um sorriso extasiado.


Porra, não me dê falsas esperanças, mulher.

─ E o que eles disseram? ─ Meu coração pulou uma batida. Eu


quero mesmo ser aceito em Eastvale? Eu balancei minha cabeça para tirar
o pensamento. Claro que sim. É o que eu tenho trabalhado o tempo todo
em Wildwood. Eastvale é o sonho.

─ Você entrou! ─ A senhorita James bateu palmas. ─ Eles


aceitaram sua inscrição e você foi convidado a participar de Eastvale no
próximo outono. Parabéns, Milo!

Algo tomou conta de mim. Um sentimento entre alegria e medo fez


meus joelhos parecerem geleia. Levantei-me, soltando uma risada
surpresa quando a senhorita James deu a volta na mesa e tocou meu

BETTI ROSEWOOD
ombro. Ela tinha unhas longas e rosa claro, e elas cavaram o tecido do
meu blazer da escola enquanto ela sorria para mim.

─ Estou tão orgulhosa de você, Milo ─ disse ela. ─ A redação que


você escreveu foi verdadeiramente especial. Eu sabia que isso o levaria.

─ Obrigado ─ eu consegui dizer, minha mente de repente em


branco. ─ Estou... estou feliz que tenha funcionado dessa maneira.

A sensação esmagadora do que aconteceu me atingiu um momento


depois. Eu entrei... o que significa que ela não.

─ Vamos preparar tudo para você em breve ─ a Srta. James


continuou como se nada tivesse acontecido, a mão dela ainda
descansando no meu ombro. ─ Vou ter algumas impressões para você,
bem como folhetos de Eastvale. É claro que tudo o mais, incluindo o plano
de estudos, poderá chegar alguns meses depois, mas farei o possível para
ajudá-lo a se preparar para isso antes do prazo final.

─ Eu... ─ eu comecei, minhas palavras diminuindo em nada. ─


Obrigado, senhorita James. Eu realmente aprecio a ajuda.

─ Claro ─ ela sorriu, alisando o vinco na minha jaqueta. ─ Estou


tão feliz por você, Milo. Ninguém merecia ou queria isso mais do que você.

Como você sabe disso? Estella queria isso. E talvez ela até
merecesse mais do que eu. Eu não disse nada disso em voz alta. Eu
apenas engoli o nó na garganta, conseguindo um sorriso fraco enquanto
assentia.

─ Quando eu tenho que dar a eles minha resposta? ─ Eu perguntei


em seguida, minha voz levemente trêmula. ─ Suponho que tenho
algumas semanas pelo menos?

BETTI ROSEWOOD
─ O que você quer dizer? ─ A senhorita James riu inquieta. ─
Obviamente já aceitei a oferta em seu nome, Milo.

─ Ah ─ eu consegui dizer sem convicção.

─ É o que você queria, não é? ─ ela se perguntou em voz alta, e eu


apenas olhei para a distância contemplando sua pergunta. É isso?

─ Certo.

─ E eu tenho algumas notícias sobre mim também ─ a Srta. James


continuou, um leve rubor tingindo suas bochechas. ─ Eu também me
inscrevi para uma posição em Eastvale, como orientadora escolar.

─ Ah? ─ Consegui, lutando para parecer interessado no que quer


que ela quisesse me dizer, já que eu tinha meus próprios problemas para
lidar. ─ E...?

─ E eu consegui ─ ela anunciou com orgulho, sorrindo mais do que


nunca. ─ Vou para Eastvale com você, Milo! Começo no próximo ano
letivo, para que você tenha uma cara familiar pela qual ansiar todos os
dias.

─ Ótimo. ─ Eu consegui um sorriso tenso. Mas você não é Estella.


Espere, o que diabos eu estou pensando? Por que eu me importaria se ela
está lá ou não? Eu balancei minha cabeça para tirar os pensamentos.
Qualquer outro cara ficaria emocionado com uma gostosa como a Srta.
James dando em cima deles. Isso tudo me pareceu estranho.

─ Vai ser muito divertido ─ a Srta. James falou, finalmente tirando


a mão do meu ombro. ─ Estou tão empolgada por nós dois, Milo. E estou
determinada a fazer da sua experiência em Eastvale algo que você nunca
esquecerá.

─ Ótimo ─ eu disse novamente.

BETTI ROSEWOOD
─ Agora, se você se sentar ─ ela apontou para a mesa. ─ Podemos
passar pelos formulários que você precisa preencher.

─ Eu... ─ lutei para encontrar as palavras certas. Senti algo


estranho acontecendo no meu corpo, minha cabeça e coração batendo.
Eu mal podia respirar. O sangue corria pela minha cabeça em um ritmo
alarmante, me deixando tonto. ─ Senhorita James, podemos fazer isso
outro dia?

─ Por quê? ─ Ela parecia genuinamente intrigada. ─ Está tudo bem,


Milo?

─ Eu... eu só preciso de um pouco de ar fresco, eu acho.

─ Você quer que eu vá com você?

─ Não. ─ Eu percebi o quão duro minha resposta deve ter soado e


suspiro, esfregando a ponte do meu nariz. ─ Quero dizer, está tudo bem.
Eu realmente deveria... verificar alguém.

─ Este é um ótimo momento para você, Milo ─ Srta. James insistiu.


─ Você realmente deveria estar comemorando.

─ Mas já que eu entrei... presumo que Estella não.

O sorriso dela empalideceu, mas só um pouco, e ela balançou a


cabeça. ─ Não, infelizmente ela não entrou. Acabei de lhe contar as
novidades.

─ Como ela recebeu? ─ Meu coração estava batendo de novo. Eu


estava preocupado. Preocupado com a garota que eu não deveria dar a
mínima. Não apenas porque ela era minha concorrente, mas porque ela
estava namorando meu maldito irmão. ─ Ela está bem?

─ Bem, você conhece Estella ─ a Srta. James riu, balançando a


cabeça. ─ Ela nunca recebe bem as más notícias, não é?

BETTI ROSEWOOD
─ Não ─ eu murmurei. ─ Suponho que não. Merda, eu me sinto um
pouco enjoado.

A senhorita James pegou um copo de água da mesa dela, correndo


para o meu lado. Eu estava vendo manchas, minha visão escurecendo
quando peguei o copo dela e tomei gole após gole de água. Momentos
depois, voltei a mim, notando o contorno fraco do batom rosa da
senhorita James na borda do copo. Ela me deu sua própria bebida.

Sua voz veio de algum lugar distante, e eu me virei para o lado,


meus olhos se fixando nos dela.

─ ...pode ligar para a enfermeira, se quiser, mas acho melhor se


você esperar...

─ Eu realmente deveria ir ─ murmurei.

Ela veio para ficar na minha frente, dizendo: ─ Ah, Milo, eu sei o
quanto isso é emocional. Eu realmente acho que você só precisa de um
abraço.

Fiquei quieto quando ela se adiantou, e de repente ela estava no


meu espaço pessoal. Ela me envolveu em um abraço, enchendo meu nariz
com seu perfume. Ela cheirava a algodão limpo e lavanda, e isso me
deixou um pouco enjoado.

─ Está tudo bem ─ ela sussurrou. ─ Tudo vai ficar bem, Milo,
apenas respire.

Ela não recuou por muito tempo, fazendo-me sentir desconfortável.


Mas a senhorita James parecia inconsciente disso, e quando ela
finalmente tirou as mãos de mim um momento depois, eu estava
tremendo, sentindo que ia ficar doente.

BETTI ROSEWOOD
─ Você precisava disso — ela me disse. Eu consegui acenar com a
cabeça fraca enquanto seus dedos permaneciam nas minhas roupas,
endireitando a lapela do meu blazer. ─ Você vai ficar bem, Milo. É apenas
emoção por tudo o que aconteceu. Você deve estar tão extasiado.

Por que suas mãos ainda estão em mim, Srta. James?

Como se tivesse acabado de perceber a mesma coisa, ela olhou para


sua própria mão.

─ Oh Deus, me desculpe, Milo ─ ela murmurou, dando um passo


para trás. ─ Estou tão... bagunçada por causa da minha separação. Eu
não deveria ter feito isso. ─ Ela se afastou.

─ Está tudo bem. Como está indo com a separação, afinal? ─ Eu


me peguei perguntando antes que eu pudesse me parar.

Ela puxou a mão para trás, me dando um sorriso tímido enquanto


colocava o cabelo atrás da orelha.

─ Tipo um pesadelo. Eu devo me mudar de casa na próxima


semana. ─ Ela fez uma careta, franzindo o nariz. É meio fofo. ─ Eu não
sei como vou fazer tudo sozinha, honestamente.

─ Bem, se você precisar de ajuda, eu ficaria mais do que feliz em


ajudar ─ ofereci.

─ Realmente? ─ Os olhos dela estavam brilhando de excitação. ─


Ah, Milo, se você pudesse fazer isso, ficaria eternamente grata.

─ Claro ─ eu disse com um sorriso. ─ Apenas me diga quando


preciso aparecer, e eu vou ajudá-la com a mudança.

─ Este fim de semana seria incrível. Eu realmente aprecio isso,


Milo. É bom saber que alguém está nas minhas costas, não importa o
que aconteça. Me faz sentir tão ...

BETTI ROSEWOOD
─ Senhorita James, eu consegui o formulário que você queria!

Nós nos afastamos e um sentimento de culpa tomou conta de mim,


mesmo que não tivéssemos feito nada de errado. A porta do escritório da
senhorita James bateu e entrou o meu irmão.

─ Ah, ei, mano ─ ele sorriu, batendo o punho no meu ombro.


Murmurei algo em resposta, esfregando o ponto agora dolorido no meu
braço. ─ Estou apenas deixando algumas inscrições para a faculdade.

─ Três meses atrasado, devo acrescentar ─ Srta. James disse


friamente, mas a única resposta que Natan teve foi um sorriso largo.

─ O que posso dizer ─ ele deu de ombros. ─ Lacrosse me mantém


ocupado.

─ Você não joga durante o verão ─ lembrei-o, e ele me lançou um


olhar assassino. ─ Tanto faz. Estou saindo daqui.

Fui até a porta, sentindo a senhorita James me encarando. Um


momento depois, outro par de passos se juntou a mim no corredor, e meu
irmão passou um braço em volta dos meus ombros.

─ Por que o rosto emburrado, nerd? ─ ele perguntou, e eu suspirei.

─ Não é nada. Está tudo bem.

─ Oh merda ─ Natan lembrou. ─ Você não recebeu nenhuma


notícia de Eastvale, recebeu?

─ Eu recebi ─ eu disse miseravelmente. ─ Eu entrei.

─ O quê? ─ Natan gritou e me deu um tapa nas costas. ─ Isso é tão


incrível, mano! Estou tão feliz por você.

Eu olhei para ele, murmurando: ─ Você não se importa em como


Estella se sente agora?

BETTI ROSEWOOD
─ Por quê? ─ Ele parecia completamente alheio.

─ Ela também se candidatou a Eastvale, e não entrou. E


provavelmente também não vai. Eles só aceitam um aluno de Wildwood.

─ Ah, merda ─ Natan esfregou a parte de trás da cabeça,


acrescentando: ─ Acho que nunca mais vou ouvir o fim disso. Milo isso,
Milo aquilo.

─ Ela fala de mim?

─ Sim ─ ele sorriu. ─ Ela reclama de você o tempo todo. Porra, essa
rivalidade entre vocês dois está ficando realmente velha, sabia?

─ Tanto faz ─ eu murmurei enquanto continuávamos andando.

─ Ei, a propósito. ─ Natan parou na frente do seu armário e eu me


inclinei contra a parede enquanto ele procurava algo. ─ Marquei um
encontro duplo na sexta-feira.

─ O quê? ─ Revirei os olhos. Absolutamente incrível. Essa é a última


coisa que preciso agora. ─ Um encontro duplo? O que é isso, escola
primária?

─ Você deveria estar me agradecendo. ─ Ele fechou o armário com


força, colocando um livro na mochila enquanto piscava para mim. ─ Eu
marquei você com uma garota gostosa como pecado. Você estará beijando
o chão em que eu ando quando você colocar as mãos nela.

─ Quem é essa?

Ele se inclinou para mais perto, me batendo com o cotovelo. ─


Harlem.

─ Harlem? ─ Eu gemi. ─ Deus, a cadela residente em segundo


comando?

BETTI ROSEWOOD
─ Eu pensei que você ficaria feliz, mano. Ela é um belo pedaço de
bunda.

─ Eu... ─ Soltei um suspiro frustrado. ─ Eu simplesmente não


tenho tempo para namorar agora.

─ Por que não? ─ Natan parecia genuinamente intrigado. ─ Nós


vamos nos divertir. Você e a senhorita líder de torcida suprema, eu e
minha garota.

─ Estella também vai?

─ Dã ─ ele me deu um olhar estranho. ─ É um encontro duplo,


aberração.

─ Eu não quero ir.

─ Que pena. Você precisa de um pouco de boceta antes que todos


esses livros virem sua cabeça, mano. ─ Ele levantou os olhos para alguém
nas minhas costas, sorrindo amplamente. ─ Ei, querida. Parecendo
gostosa como sempre.

Estella passou por mim, deixando para trás um leve toque de


doçura. Ele se foi no momento seguinte enquanto ela caminhava até meu
irmão, e ele a agarrou pelos quadris, puxando-a para perto e dando-lhe
um profundo beijo sensual. ─ Nojento ─ eu murmurei.

Eles continuaram se beijando e eu balancei minha cabeça, pronto


para me afastar da demonstração pública de afeto exagerada.

─ Ei, nerd ─ Natan chamou. ─ Hoje às sete. Clancy's. Não esqueça.

─ O que vai acontecer lá? ─ Estella olhou entre nós dois. ─


Encontro de irmãos?

BETTI ROSEWOOD
─ Vamos a um encontro duplo ─ disse Natan. ─ Isto é, se o irmão
mais querido não der para trás antes.

─ Eu não estou dando para trás ─ eu rosnei. ─ Eu só não quero


fazer isso.

─ Por que? ─ Estella exigiu.

─ Porque... ─ eu gemi. ─ Vai ser estranho como o inferno. Eu não


gosto da Harlem.

─ Harlem? ─ Estella riu. ─ Deus, Natan, você não poderia escolher


mais ninguém? Você sabe que estou brigando com ela agora.

─ Eu teria..., ─ Natan deu de ombros, me dando um sorriso


perverso. ─ Isto é, se a senhorita Harlem não estivesse de quatro pelo
Milo aqui.

─ Harlem está afim de mim? ─ Eu olhei para Estella. Seus lábios


estavam apertados e ela não parecia muito satisfeita com o fato. ─ Isso é
novidade para mim.

─ Sim, porque você é cego ─ Natan riu. ─ Ela está encarando você
o ano passado inteiro.

─ Ugh ─ Estella revirou os olhos. ─ Eu preciso comprar uma roupa


nova então. Vejo você depois da escola, Natan?

─ Claro, querida. ─ Outra sessão de beijos se seguiu antes de


Estella sair, me lançando um olhar imundo quando ela passou por mim
no corredor. Notei que ela estava tremendo quando saiu, mas não
mencionei.

─ Você nem perguntou a ela sobre Eastvale ─ eu disse a Natan.

BETTI ROSEWOOD
─ O quê? ─ Ele ergueu os olhos do telefone, obviamente em outro
mundo. ─ Ah, certo. Falaremos sobre isso mais tarde, eu acho.

─ Natan ... ─ eu disse. ─ Isso era realmente importante para ela.


Você não pode simplesmente agir como se não fosse nada. Você é o
namorado dela, pelo amor de Deus.

─ Sim, bem... ─ ele deu de ombros, um sorriso diabólico assumindo


seu rosto. ─ Não tenho certeza de quanto tempo será esse o caso.

─ O que você quer dizer?

─ Vamos apenas dizer que estou ficando inquieto, e ela não está
me dando o que eu quero. Se você me entende.

─ Eca, Natan. Os malditos corredores te entenderam. ─ Eu fiz uma


careta. ─ Então, vocês ainda não...?

─ Não ─ ele gemeu, dando um passo ao meu lado. ─ E não parece


que iremos em breve. Ela está, tipo, decidida em esperar.

─ Então, espere ─ sugeri.

─ Eu não sou religioso ─ ele me lembrou. ─ E eu mereço me divertir.

─ Apenas não...

─ Não o quê?

Escolhi minhas palavras com cuidado antes de dizer: ─ Não quebre


o coração dela, Natan. Ela não merece isso.

─ Não, ela não merece ─ ele concordou. ─ Você está certo. Terei
cuidado. Embora eu ache que você a veja... como outra pessoa.

─ O que você quer dizer?

BETTI ROSEWOOD
─ Ela não é a garota que você lembra, Milo ─ ele deu de ombros. ─
Eu sei que vocês costumavam sair quando eram crianças, mas...

─ Mas o quê?

─ Ela simplesmente não é mais aquela garota. Confie em mim. Eu


a conheço melhor do que ninguém.

─ Você? ─ Eu levantei uma sobrancelha interrogativa. ─ Você tem


certeza disso?

─ Sim. E eu estou lhe dizendo agora... ─ Ele se inclinou para mais


perto. ─ Estella Hawthorne não é uma pessoa legal.

─ Grande coisa a dizer sobre ela, já que você está namorando ela.

─ Apenas tentando poupar seus sentimentos ─ ele deu de ombros.


─ Eu tenho que ir para a aula de educação física. Vejo você em casa?

─ Claro ─ eu murmurei, acenando para ele enquanto ele saía para


a academia. Fui até a próxima aula, minha cabeça nadando com uma
infinidade de pensamentos, mas, dentre todos, um se destacou,
lembrando-me que Natan pode estar certo sobre algumas coisas, mas não
tudo.

Porque ele não conhece Estella Hawthorne como eu.

BETTI ROSEWOOD
6
DATA: 03 DE SETEMBRO DE 2019 – 16H

LOCAL: ACADEMIA WILDWOOD &SHOPPING DE WILDWOOD.

ESTELLA

─ Por aqui, querida!

Fui até o Range Rover estacionado em frente à escola. Mamãe


estava sorrindo timidamente para mim por trás de um par de óculos de
sol Gucci.

─ Vamos lá ─ ela me pediu. ─ Vamos indo.

Entrei no carro, colocando minha bolsa no banco de trás e


colocando o cinto de segurança enquanto mamãe saía do
estacionamento. Ela estava radiante, sua cantora espanhola favorita
estava no rádio e o sol brilhava acima de nós.

─ Eu não entrei em Eastvale ─ murmurei.

Ela mordeu o lábio inferior, me lançando um olhar preocupado por


baixo dos óculos escuros. ─ Você já contou ao seu pai?

Eu balancei minha cabeça. ─ Por favor, não conte a ele ainda. Vou
tentar encontrar outra maneira de entrar.

Ela assentiu, mas não precisava dizer o que estava pensando, nós
duas sabíamos o que era.

Eu tinha feito um acordo com o papai no ano anterior. Entre em


Eastvale, a faculdade dos meus sonhos, ou deixe que ele decida meu
futuro para mim. E eu sabia o que aquilo significava. Eu me casaria aos
vinte anos, a esposa troféu de um empresário mais velho que fodia sua

BETTI ROSEWOOD
secretária pelas minhas costas, presa a uma família que eu não queria e
a um futuro que tentara escapar por toda a minha vida.

Descemos na Baker Road, a parte da cidade onde estavam


localizadas todas as butiques caras. Mamãe era a única que sabia sobre
meus hábitos de me vestir e, até agora, ela mantinha isso em segredo do
papai. Quando chegamos à porta de uma butique cara e bem conhecida,
o segurança nos reconheceu e abriu a porta.

Eu assisti seus olhos seguirem mamãe enquanto ela entrava na


loja. Ela ainda era uma mulher deslumbrante, com o tipo de beleza
trágica que fazia os homens pararem. Afinal, meu pai ainda contava
histórias de querer estar com ela desde o momento em que a conheceu.

─ O que você acha disso? ─ Mamãe perguntou, puxando uma bolsa


de couro com tachinhas de cor marrom da prateleira. ─ É muito você.

─ Sim ─ eu respondi, distraída. ─ Fofa.

Passamos por toda a loja, mas eu não estava me sentindo lá. No


final, mamãe estava com as mãos cheias, com dois assistentes de vendas
carregando as mercadorias que ela havia escolhido no caixa, mas eu
ainda não tinha nada.

─ Você quer que eu escolha algumas coisas para você? ─ Mamãe


ofereceu, e eu dei de ombros.

─ Eu realmente não tenho para onde ir.

─ Não há oportunidades chegando?

─ Bem... ─ Eu brinquei com a bainha do meu blazer da escola. ─


Eu vou para um encontro duplo com Natan.

─ Ah, que emocionante! ─ Mamãe bateu palmas. ─ Quem mais está


indo?

BETTI ROSEWOOD
─ Harlem. ─ Eu fiz uma careta. ─ E o irmão de Natan, Milo.

─ Como ele está? Ah, eu não o vejo há tanto tempo, mija. É uma
pena que você deixou de ser amiga dele. Você sabe, eu sempre pensei
que...

─ O quê?

Ela riu timidamente, acrescentando: ─ Eu pensei que vocês dois


terminariam juntos.

─ Eu e Milo? ─ Eu fiz uma careta. ─ Como se isso fosse acontecer.

─ Nunca diga nunca. ─ Ela caminhou até uma prateleira de


vestidos brancos, passando pelos cabides até encontrar o meu tamanho.
─ Isso seria perfeito para o seu encontro duplo. Acho que nem seu pai
iria contra este.

Ela tirou o vestido do cabide para mim, e eu o olhei com ceticismo.


Mas ela estava certa. O vestido era na altura dos joelhos, com mangas
curtas e flores cortadas a laser na saia. Era bonito, mas o corpete justo
também dava alguma sensualidade.

─ Você tem certeza que o papai aprovaria? ─ Eu perguntei, e ela


piscou para mim.

─ Nós o convenceremos. Vamos lá, precisamos encontrar alguns


sapatos que combinem.

Vamos de loja em loja e o segurança da primeira boutique acabou


carregando nossas compras para o carro. No final da nossa viagem, meu
humor havia melhorado, e eu me peguei rindo mais, deixando-me relaxar
pelo menos um pouco.

Encontramos sandálias de tiras prateadas para combinar com meu


vestido, além de uma bolsa de vime que eu amei à primeira vista. O

BETTI ROSEWOOD
segurança estava empilhando tudo no banco traseiro quando outro carro
parou, um Mercedes Benz familiar demais.

─ Querido! ─ Mamãe gritou quando a porta se abriu e meu pai


apareceu, vestindo um terno cinza e óculos de sol escuros. ─ Estávamos
prestes a almoçar juntas. Que bom que você decidiu aparecer.

Papai se aproximou dela e, a partir do momento em que ele parou


na nossa frente, eu sabia que isso não seria uma boa notícia. Ele olhou
para o segurança, empurrando os óculos escuros pelo nariz e
conseguindo assustá-lo tanto que o sujeito fugiu, se perdendo e deixando
a última bolsa largada na calçada. Agora, papai a pegou e colocou no
carro.

─ Estamos indo para casa ─ ele nos disse em sua voz profunda e
estrondosa. ─ Entrem no carro. Eu vou atrás de vocês. Falaremos sobre
isso quando voltarmos.

Mamãe deu um aceno sem palavras e eu subi no banco do


passageiro com o coração batendo forte. Nenhuma de nós disse uma
palavra quando mamãe saiu do estacionamento e começou a dirigir em
direção à nossa casa. Um olhar no espelho retrovisor revelou que o papai
estava nos seguindo, exatamente como ele disse que faria. A viagem foi
tranquila e sufocante e, quando chegamos, eu me senti um caco.

─ Deixem as compras no carro ─ o papai nos disse no momento em


que abrimos nossas portas. ─ Mabel virá buscá-las mais tarde. Entrem.
Agora.

Nenhuma de nós se opôs, deixando que ele nos conduzisse para


dentro de casa. A porta da frente se fechou atrás de nós com um estalo
retumbante, e senti meu coração falhar. Ele vai nos fazer pagar pelo que
ele acha que fizemos de errado agora. E não vai ser bonito.

BETTI ROSEWOOD
─ O que vocês estavam comprando? ─ Ele perguntou, sua voz ainda
nivelada e calma, mas eu conhecia papai o suficiente para ver as bordas
se desgastando. ─ Compraram algo legal?

─ Comprei um vestido para mais tarde ─ consegui dizer. ─ Vou ao


Clancy's estudar com alguns amigos.

Papai não sabia sobre Natan e eu, embora eu estivesse determinada


a derramar o feijão em um futuro próximo. Mas admitir agora seria como
uma missão suicida.

─ Com quem você vai? ─ Ele estreitou os olhos comigo.

─ Natan, Milo Earnshaw e Harlem ─ eu disse a ele, sem tirar o olhar


dele. Eu aprendi há muito tempo que esse era o truque para convencê-lo
de que não estava mentindo. Isso, e dando a ele pedaços da verdade, mas
nem tudo. O que o papai não sabia não poderia machucá-lo.

─ Ok ─ ele finalmente disse, e um peso caiu dos meus ombros. ─


Vou verificar o vestido que você comprou mais tarde. E você, Carla?

─ Eu... ─ Mamãe lutou com suas palavras. ─ Acabei de pegar


algumas roupas novas.

─ Gastando meu dinheiro de novo?

─ Não ─ ela conseguiu. ─ É meu próprio dinheiro.

─ O que é seu é meu ─ papai lembrou-lhe pacientemente, e eu


engoli em seco ao ouvir o perigo se aproximando. Eu só queria fugir, mas
eu não era uma gata assustada como a mamãe. Das três mulheres da
nossa família, eu era a única, além da minha irmã, Romilly, disposta a
enfrentar o papai. Se mamãe estivesse sozinha com ele, ele a atropelaria
como uma escavadeira.

BETTI ROSEWOOD
─ Mamãe comprou algumas coisas legais ─ entrei. ─ Acho que você
vai gostar muito, papai. Ela comprou uma roupa adorável para igreja lá
também.

─ Que bom. ─ Pelo seu tom, era óbvio que ele pensava que era tudo,
menos agradável. ─ E o homem que estava ajudando vocês duas? O
segurança.

─ Ele apenas se ofereceu para ajudar ─ disse mamãe rapidamente.


─ Com nossas compras, quero dizer.

─ Eu vi o jeito que ele estava olhando para você ─ disse papai, com
a voz calma enquanto colocava as chaves na mesa do console no corredor.
─ Te comendo com os olhos dele. Despindo você mentalmente.

─ Eu não acho isso...

─ Não me diga o que vi ou o que não vi ─ ele a interrompeu. ─ Acho


que sou inteligente o suficiente para chegar à minhas próprias
conclusões. Ou você não acha, Carla?

─ Mamãe estava apenas... ─ eu interrompi. ─ Tentando chegar em


casa o mais rápido possível, papai. Ela mencionou a festa de caridade
que você vai hoje à noite.

─ Que gentil da parte dela lembrar ─ papai disse calmamente, seus


olhos nela.

Percebi um momento depois que eu estava tremendo. O medo


estava me consumindo viva e, mais do que nunca, eu desejava que
Romilly, minha irmã, voltasse para casa do que quer que esteja fazendo
agora. Desde o início, ela era a única pessoa que conseguia enfrentar o
papai e fazer o que diabos ela queria. Mas mamãe e eu ainda estávamos
presas no purgatório, tentando agradá-lo a qualquer custo.

BETTI ROSEWOOD
─ Estella, por que você não vai para o seu quarto? ─ o papai
sugeriu. ─ Sua mãe e eu temos algumas coisas para conversar.

─ Eu... ─ Eu olhei entre os dois nervosamente. Tive a sensação de


que a conversa que eles estavam prestes a ter, era mais a ver com o
segurança do que o jantar que ambos deveriam comparecer naquela
noite. Antes que eu pudesse terminar minha frase, papai olhou para mim
e ficou dolorosamente claro que essa não era minha batalha. ─ Ok, eu
vou.

Lancei um olhar de desculpas para mamãe antes de subir as


escadas. Ouvi suas vozes suaves enquanto discutiam, e senti a culpa
fazendo um buraco no meu estômago quando eu fechei a porta do meu
quarto. Eu realmente espero que ele não a machuque. Eu balancei minha
cabeça para tirar o pensamento. Eu não podia me deixar pensar assim.
Que eu saiba, ele nunca bateu nela, mas eu estava preocupada que ele
estivesse fazendo jogos malucos com a mamãe, assim como ele fazia
comigo.

Uma vez no meu quarto, coloquei minha bolsa no chão e puxei meu
telefone alternativo antigo. Não há novas mensagens. Minha
popularidade estava diminuindo, e o pensamento me assustou. Eu me
sentia mais segura quando as pessoas me temiam. Provavelmente foi a
única coisa que herdei do meu pai. Agora, a sensação de estar segura
deslizava entre meus dedos, e eu estava aterrorizada.

Um momento depois, uma de nossas criadas, Mabel, bateu na


porta e trouxe as compras que mamãe e eu deixamos no carro. Ela estava
com uma expressão ilegível, e eu sabia que, mesmo que a questionasse
sobre o que estava acontecendo lá embaixo, ela não me diria. Ela era uma
das contratadas do papai, uma das pessoas que adoravam o chão em que
ele pisava. Eu conheci meu quinhão deles na minha vida, já que o papai

BETTI ROSEWOOD
era semi-famoso. Mas nunca entendi a adoração quase ofuscante que
eles tinham por ele.

Peguei o vestido que mamãe havia escolhido para mim em camadas


de papel de seda rosa pálido. Era realmente bonito, mas só me deixou
mais nervosa com o encontro que eu deveria ter.

Eu não quero ver Milo com outra garota.

Eu balancei minha cabeça para tirar o pensamento. De onde diabos


isso veio? Desde quando me importo com o que Milo faz? Meus lábios
formaram uma linha quando tirei meu uniforme escolar e o substituí pelo
vestido branco. Coloquei as sandálias de tiras e me sentei na frente da
minha penteadeira para fazer minha maquiagem.

Não gostava de me olhar, não porque não gostasse do que via, mas
porque sabia que o papai nunca aprovaria. Era difícil agradá-lo, e às
vezes eu sentia que Deus havia pregado uma peça doentia em mim, me
dando um corpo que meu pai não aprovava.

Apliquei uma fina camada de brilho rosa nos lábios, evitando olhar
para as curvas traiçoeiras do meu corpo. Meus seios começaram a chegar
quando eu tinha doze anos, e aumentaram para um tamanho 36, o que
me deixou mais constrangida do que confiante. Minha cintura era
estreita, mas meus quadris eram largos, dando-me um corpo que papai
havia chamado de pecador antes. Era como se eu tivesse sido
amaldiçoada, forçando-me a olhar assim e tentar convencer o papai de
uma coisa muito importante que ele não parecia entender, que eu não
pedi para nascer assim. Que eu nem queria isso.

Eu adicionei um pouco de rímel nos meus cílios, depois deixei o


espelho antes que eu pudesse mudar de ideia. Natan sempre me dizia
que eu parecia dar água na boca. Seus olhos me devoravam, seus dedos
adoravam rastejar pela minha pele, e eu sabia que ele estava ficando

BETTI ROSEWOOD
impaciente. Ele me queria. Ele queria ser o meu primeiro. E, no entanto,
lutei contra a ideia, sabendo que nunca poderia dar a ele o que ele queria,
mas estava com muito medo de dizer a verdade. Você não é o cara. Mas
quem é?

Enchi minha bolsa com algumas coisas necessárias e desci as


escadas. Andei na ponta dos pés nas escadas, com muito medo da reação
potencial do papai quando ele me visse. Mas ele não estava em lugar
algum. Em vez disso, esbarrei em Mabel com cara de pedra mais uma vez
no corredor, e sua expressão não revelou nada.

─ Você viu minha mãe? ─ Eu perguntei e ela deu de ombros sem


compromisso. ─ Por favor, Mabel. Apenas me diga que ela está bem.

─ É claro que a Sra. Hawthorne está bem ─ disse ela, robótica. ─


Seus pais foram jantar.

─ Ok ─ eu consegui dizer desconfortavelmente. ─ Eu pensei que o


papai iria me checar.

Ela desviou o olhar, sem encontrar meus olhos. ─ Ele estava


ocupado com sua mãe.

Eu não perguntei o que isso significava. ─ Eu também vou sair.

Ela parou na minha frente, franzindo as sobrancelhas. ─ Seus pais


sabem que você está saindo?

─ Sim. ─ Eu olhei para ela. Não é da sua conta.

─ Você está mentindo para mim? ─ Ela perguntou.

─ Ugh, não ─ revirei os olhos. ─ Ligue para eles, se quiser, mas eu


vou sair agora ou vou me atrasar. ─ Eu me sentia cada vez mais como
um pássaro preso em uma gaiola dourada. Eu não conseguia nem esticar

BETTI ROSEWOOD
minhas asas. As barras estavam muito perto. ─ Vejo você mais tarde,
Mabel. E, pelo amor de Deus, relaxe um pouco.

─ Não diga o nome do senhor em vão ─ ela gritou atrás de mim, e


eu gemi quando entrei no meu carro.

Se você soubesse, Mabel.

BETTI ROSEWOOD
7
DATA: 03 DE SETEMBRO DE 2019 – 19:30H

LOCAL: LANCHONETE CLANCY

MILO

Eu sabia que esse encontro duplo era uma péssima ideia antes de
chegar ao Clancy's.

Mas quando entrei no estacionamento e vi os três sentados em uma


cabine lá dentro, meu estômago estava com um nó e era tarde demais
para desistir. Natan me viu imediatamente, acenando para mim por trás
da janela e me pedindo para entrar. Eu me forcei a respirar fundo e entrar
na lanchonete.

─ Hey ─ eu murmurei quando me aproximei da mesa.

─ Você está atrasado ─ Estella sussurrou, me fazendo mudar


minha atenção para ela. Ela estava usando um vestido branco elegante e
adequado, mas isso não tirou o quão gostosa ela parecia. Minha boca
ficou em uma linha fina quando eu respondi.

─ Desculpe, alguns de nós têm atividades após a escola para


participar.

─ O Natan também, e ele chegou aqui a tempo ─ respondeu Estella.

─ Ignorou o treino de lacrosse de novo? ─ Perguntei ao meu irmão


quando deslizei para o assento ao lado de Harlem. ─ Qual foi a desculpa
agora? Outro compromisso falso de dentista?

─ Você me conhece tão bem ─ disse Natan, apertando o coração. ─


É tão doce.

BETTI ROSEWOOD
─ É bom que seus dentes pareçam tão perfeitos ─ murmurei. ─
Caso contrário, você poderá ser pego nessa mentira. Talvez mudar de vez
em quando, ou algo assim.

Ele deu de ombros no momento em que a garçonete largou os


menus em nossa mesa, estalando um chiclete e parecendo entediada
como o inferno.

─ Vou tomar um milk-shake de baunilha ─ disse a ela como de


costume, sem sequer olhar para o menu.

O resto da turma fez o pedido, e a garçonete entediada saiu, mas


não antes de revirar os olhos para nós.

─ Qual é o problema dela? ─ Harlem perguntou.

─ Ela provavelmente é de Silverside ─ Natan piscou, e eles riram


alto. Silverside era a escola rival de Wildwood, e eles eram eterno ponto
sensível para quem estudava em Wildwood. A rivalidade entre nós nunca
acabou.

─ Então, querido ─ Harlem ronronou enquanto Estella lançava


seus olhares sujos do outro lado da mesa. ─ Como está indo o seu último
ano até agora?

─ Muito bom ─ eu respondi com um grunhido, apesar de sentir


qualquer coisa, menos que estava ótimo.

─ E você Natan?

─ Incrível ─ meu irmão sorriu. ─ O que mais você espera? Estou


jogando lacrosse, tenho a namorada mais gostosa do mundo. A vida é
boa pra caralho. ─ Ele apertou Estella, pressionando um beijo em sua
bochecha. Ela não retribuiu, apenas o encarou com uma expressão
perturbada no rosto.

BETTI ROSEWOOD
─ Bem, meu ano também está incrível ─ disse Harlem com um
sorriso largo. ─ Eu acho que posso conseguir ser a rainha do baile este
ano. ─ Estella zombou, e minha companheira deu a ela um olhar sujo. ─
Por que isso?

─ Você realmente acha que vai conseguir ser a rainha do baile? ─


Estella ergueu as sobrancelhas com pena. ─ Ah, pobre menina ingênua.

─ Você acha que pode me derrotar? ─ Harlem perguntou com uma


voz doce como xarope. ─ Ah, Estella. Você está vivendo em negação.

─ Negação?

─ Bem, caso você não tenha notado, você não é mais a rainha. ─
Harlem estava falando devagar, como se estivesse falando com uma
criança que não entendia muito bem. ─ Ah, os poderosos caíram. E acho
que você pode cair ainda mais se não tomar cuidado.

─ Você não tem ideia do que está falando. ─ Estella estava olhando
furiosamente, mas Harlem não se importou, rindo com facilidade e
abrindo caminho sobre a mesa quando a garçonete se aproximou com
nossas bebidas.

─ Veremos.

─ Senhoras, senhoras. ─ Natan levantou as mãos, tentando


acalmá-las. ─ Estamos aqui para nos divertir e não para brigar como os
idosos depois de cinquenta e sete anos de casamento.

─ Eu não me casaria com ela nem se você me pagasse ─ Harlem


murmurou baixinho.

─ Nós entendemos ─ Natan sorriu. ─ Agora podemos começar a nos


divertir e esquecer essa discussão?

─ Talvez se ela parar de ser uma vadia ─ Harlem murmurou.

BETTI ROSEWOOD
─ Talvez você deva seguir seu próprio conselho. ─ Todo mundo
olhou para mim, surpreso, e eu dei de ombros. ─ Alguém tinha que dizer
isso. ─ Estella riu, e eu atirei-lhe um olhar surpreso, mas ela já estava
muito ocupada com seu milk-shake para perceber. ─ Então, por que
estamos aqui de novo?

─ Porque eu queria conhecê-lo melhor. ─ Harlem piscou para mim.


Ela com certeza era corajosa. Eu meio que gostei. ─ Pensei que passamos
tantos anos juntos na escola e ainda não o conheço tanto quanto eu
quero.

─ Bem, pergunte se você quer saber alguma coisa ─ eu falo. ─


Qualquer coisa que você quiser.

─ Tudo bem ─ ela ronronou. — O que aconteceu na noite em que


Pandora Amberly desapareceu?

A mesa ficou em silêncio. Vi Natan engolindo em seco e Estella


distraidamente colocando seu milk-shake na boca. Seus olhos
encontraram os meus e nos encaramos.

─ Eu não sei por que você acha que sei alguma coisa sobre essa
noite ─ murmurei enquanto Harlem me encarava. ─ Eu não tive nada a
ver com o desaparecimento de Pandora.

─ Claro que não ─ disse ela. ─ Eu apenas pensei que você poderia
saber mais do que estava dizendo, já que vocês eram melhores amigos e
tudo.

Estella ficou olhando para mim, e tirei os olhos de Harlem antes de


responder: ─ Não é minha culpa que Pandora tenha desaparecido.

─ Então de quem é? ─ Harlem exigiu.

BETTI ROSEWOOD
Fechei os olhos, esfregando a ponta do nariz. Eu não posso lhe dizer
a verdade. Não posso contar a verdade a ninguém.

─ Você disse que eu poderia perguntar qualquer coisa ─ ela


reclamou após uma pausa de um momento. ─ Estou apenas fazendo o
que você me disse para fazer, Milo.

─ Talvez um tópico menos sensível seria melhor ─ Natan


interrompeu, rindo facilmente. Voltei minha atenção para ele. Era raro
sentir raiva de meu irmão, mas esse era um daqueles momentos. Se não
fosse por você, talvez eu pudesse dizer a verdade. Mas então, novamente,
não é minha verdade para dizer, é Natan?

─ Tudo isso foi há muito tempo ─ Eu disse a Harlem. ─ E não


devemos conversar sobre isso. Eu já falei com a polícia quando
aconteceu.

─ E ...? ─ Harlem perguntou.

Meu irmão pigarreou, estendendo a sua mão para a mão dela sobre
a mesa. Os olhos de Estella o seguiram, estreitando quando eles fizeram
contato. ─ Vamos deixar para lá, Harlem. Um tópico para outro dia,
talvez. Vamos conversar sobre outra coisa agora.

─ Tudo bem ─ ela deu de ombros nem aí, olhando para o meu
irmão, mesmo depois que ele puxou a mão para trás. ─ Eu vou deixar
passar. Mas só para você saber, é dolorosamente óbvio que você está
escondendo alguma coisa.

─ Claro que sim ─ Estella interrompeu pela primeira vez, com um


tom amargo. ─ Esses meninos Earnshaw sempre ficam juntos.

Fiquei quieto, sabendo que ela estava certa, mas Natan não estava
entendendo. ─ Tudo isso é história antiga ─ ele riu. ─ Eu pensei que
tínhamos seguido em frente.

BETTI ROSEWOOD
─ É difícil seguir em frente quando sua melhor amiga está
desaparecida há quatro anos ─ murmurou Estella. ─ Especialmente
quando você sabe...

─ Nada ─ Natan se apressou em dizer. ─ Especialmente quando


você não sabe nada sobre o desaparecimento dela. Certo, Estella?

─ Certo ─ ela murmurou, mexendo a bebida e olhando para mim


por cima do copo. ─ Nada mesmo.

O silêncio que estava sobre a mesa era desconfortável, e todos nós


tivemos um momento para verificar nossos telefones. Foi só quando
terminei meu milk-shake que senti uma mão na minha coxa. Eu levantei
meus olhos para a Harlem, que estava sorrindo para mim como o gato de
Cheshire.

─ Hum ... ─ eu murmurei, mas ela pressionou um dedo nos lábios,


me fazendo calar a boca. Eu me mexi desconfortavelmente, mas a mão
dela ficou parada. Olhei para Estella do outro lado da mesa, percebendo
que seus olhos estavam colados em mim. Ela sabe o que o Harlem está
fazendo debaixo da mesa? Isso a irrita? Deus, eu espero que sim. Eu
levantei uma sobrancelha para ela e coloquei minha mão em cima da de
Harlem. Eu podia sentir Estella se eriçando do outro lado da mesa, e
agora ela se inclinou para mais perto do meu irmão, que ainda estava
olhando para seu telefone. Ela o agarrou pelo queixo e, no momento
seguinte, seus lábios estavam nos dele e eles estavam se beijando no
assento.

─ Ugh, demonstrações públicas, sério? ─ Harlem gemeu. — Vamos


lá, Milo. Vamos escolher uma música na jukebox.

Levantei-me e a mão dela escorregou da minha coxa e veio tocar


meus dedos. Porra, estamos de mãos dadas agora? Este encontro duplo
está tão confuso. Ela colocou os dedos em volta dos meus e me levou para

BETTI ROSEWOOD
a jukebox no canto da sala. Senti o olhar ardente de Estella nas minhas
costas quando nos afastamos deles.

Na jukebox, a Harlem escolheu uma música e eu paguei por ela.


Então, ela colocou os braços em volta do meu pescoço.

─ Eu quero dançar ─ ela me disse.

Sem saber o que fazer, coloquei minhas mãos em volta da cintura


dela, rezando a Deus que meu pau não cooperasse naquele dia. A última
coisa que eu precisava era sentir tesão pela Harlem.

Ela ficou me encarando, e eu olhei para qualquer lugar, menos nos


olhos dela, enquanto dançávamos a música. Eu não aguentava o peso do
seu olhar. Eu não aguentava mais nada, não depois da pergunta que ela
jogou na mesa. Por que diabos ela perguntaria sobre Pandora? Pandora
estava fora dos limites. Todos sabiam que o assunto era proibido.

─ Eu sei que você sabe mais do que está revelando ─ Harlem me


disse em um sussurro suave agora. ─ Eu realmente não dou a mínima
para Pandora Amberly, você sabe. Eu apenas gosto de apertar os botões
de Estella.

─ Por quê? ─ Eu perguntei em voz alta.

─ Porque é tão sordidamente óbvio que ela gosta de você, ─ Harlem


revirou os olhos, rindo. ─ Quero dizer, ela está namorando seu irmão,
pelo amor de Deus, e o tempo todo está olhando para você.

─ Ela não gosta de mim ─ eu solto uma risada. ─ Ela nunca gostou.

─ Você é cego, Milo Earnshaw ─ Harlem me disse. ─ Cego como um


maldito morcego. Mas pelo menos você me tem, e eu sei como fazer isso
direito. Você quer deixá-la com ciúmes?

BETTI ROSEWOOD
Eu contemplei a pergunta dela, e antes que eu pudesse me parar,
a resposta escapou dos meus lábios, tão fácil que me fez pensar se era
isso que eu estava tentando fazer o dia todo de qualquer maneira. ─ Sim.

─ Bom. ─ Ela se inclinou para mais perto, e antes que eu pudesse


detê-la, seus lábios estavam nos meus. Ela estava me beijando, seus
lábios macios e suaves, sua língua gentilmente abrindo meus lábios. Eu
não pude detê-la. Eu estava congelado no local, com a mais nova garota
malvada da escola grudada na minha boca e ainda assim, tudo que eu
conseguia pensar era em Estella.

Meu pau acordou e eu gemi. Harlem confundiu isso com querer


mais, e ela se inclinou para mim, me beijando longa e duramente
enquanto eu apenas estava lá. Porra, isso é a última coisa que eu preciso
no mundo agora.

Depois que ela terminou, ela se afastou, dando-me uma piscadela


de satisfação antes de pegar minha mão e me puxar de volta para a mesa.
Quando voltamos, Estella estava encolhida no colo de Natan e ele estava
com a mão na nuca dela. Um sentimento estranho e agridoce torceu meu
estômago em mil nós. Ela não olhou para nós.

─ Acho que já é hora de irmos ─ murmurei e Harlem rapidamente


concordou.

─ Sim. Milo, você pode me dar uma carona para casa? ─ ela
perguntou. ─ Minha amiga me deixou aqui mais cedo. ─ Ela golpeou seus
cílios. ─ Por favor?

─ Claro. ─ Levantei-me, meus olhos fixos em Estella, que estava


distraidamente brincando com o colar de Natan. ─ Vejo você em casa,
Nate?

─ Claro ─ ele assentiu, acenando para nós. ─ Divirtam-se e não se


metam em muitos problemas.

BETTI ROSEWOOD
Eu segui Harlem para fora do Clancy’s, e ela parou na frente do
meu carro, fazendo uma careta. ─ Este é o seu carro?

─ Sim ─ eu murmurei. ─ Desculpe.

Ela não disse mais nada, apenas olhou esperançosamente o carro


novo do meu irmão antes de entrar no meu carro próprio batido. Liguei o
rádio, que continuava pulando a cada segundo, e comecei a dirigir.

─ Onde você mora mesmo?

─ Avenida Rockford ─ disse ela. ─ Você esteve lá em uma festa no


ano passado, não se lembra?

─ Claro ─ eu menti entre os dentes. ─ Eu lembro.

Tudo o que eu lembrava daquela festa era do vestido rosa


pecaminoso que Estella usava.

Durante o trajeto, Harlem conversou sobre Wildwood, e eu falei


sobre meus pensamentos quando ela se dirigia a mim, mas ela parecia
muito feliz em apenas falar sobre coisas. Demorou vinte minutos para
chegar à sua casa, e quando chegamos, ela se inclinou e me beijou na
bochecha antes de pegar a maçaneta da porta. Eu me senti um idiota por
estar tão distraído, e chamei o nome dela quando ela já estava fora do
carro. Ela se inclinou para olhar para mim.

─ Ei, você quer fazer isso de novo? ─ Eu ofereci lamentavelmente.

Ela sorriu, dizendo: ─ Não, Milo. Eu não quero.

─ Eu fui um encontro tão ruim assim? ─ Franzi minhas


sobrancelhas.

─ Não ─ ela sorriu. ─ Apenas um pouco distraído. Tipo, é óbvio que


você gosta de outra pessoa.

BETTI ROSEWOOD
─ Sinto muito ─ eu consegui. ─ Eu acho que não, sério. Eu só ...

─ Lide com isso, Milo ─ ela sugeriu. ─ Melhor agora que mais tarde.
E se você mudar de ideia, sabe onde me encontrar. ─ Ela piscou,
fechando a porta e correndo em direção à sua casa.

Fiquei ali por alguns minutos, certificando-me de que ela entrasse,


antes de me afastar do meio-fio. A viagem de volta para casa foi tranquila
e sem intercorrências, mas minha mente estava girando. Meus
pensamentos estavam nadando com o que ela disse, sobre gostar de
outra pessoa.

Eu realmente não gosto de ninguém, não é? Faz muito tempo desde


que eu senti algo por alguém. Pandora se foi. Estella está completamente
fora dos limites. Não tenho mais ninguém que me interesse. Ou tenho?

Parei na frente da nossa casa e peguei minha jaqueta antes de


entrar. Chamei quando entrei e as vozes dos meus pais responderam da
cozinha. Eu sorri, entrando e me juntando a eles enquanto faziam o
jantar.

─ O que está cozinhando, bonito? ─ Perguntei a papai enquanto ele


mexia duas panelas de uma só vez.

─ Estamos fazendo um chile de uma panela hoje.

─ Mas você tem duas panelas aí ─ apontei o óbvio.

─ Tivemos alguns problemas ─ papai gritou do outro lado da sala.


─ Prepare-se, podemos pedir comida esta noite.

─ Uma pizza realmente parece incrível ─ eu disse. ─ Os jantares


costumavam ser incríveis, mas até eles erravam às vezes.

BETTI ROSEWOOD
Papai olhou para as duas panelas, uma contendo um monte de
vegetais de aparência estranha que estavam cozidos demais e a outra
cheia de carne picada, o suficiente para uma família de oito pessoas.

─ Ok, admito a derrota ─ disse ele, suspirando. ─ Pizza então.

Fomos para a sala e pedimos o de sempre. Papai ligou a TV e eles


perguntaram sobre a escola. Eu contei a eles sobre o meu dia antes de
mencionar o encontro duplo que eu tinha passado.

─ Harlem? ─ Papai fez uma careta para mim. ─ Aquela ruiva?

─ Sim ─ eu murmurei.

─ Ela sempre me pareceu uma intrometida ─ papai admitiu. ─ Ela


ainda fofoca tanto quanto costumava fazer?

─ Definitivamente ─ eu ri.

─ Ela é seu tipo? ─ Papai se perguntou em voz alta. ─ Nunca teria


pensado nisso.

─ Ela... Natan armou tudo ─ eu admiti. ─ Mas eu não estou afim


de ninguém agora, então pensei: que diabos?

─ Você não está afim de ninguém? ─ meu outro pai perguntou do


outro lado da sala. ─ Eu peço desculpas, mas não concordo.

─ Estou muito ocupado com a escola ─ suspirei. ─ E a senhorita


James está me ajudando com as coisas de Eastvale.

─ Alguma notícia nesse quesito?

Eu estava prestes a mentir, mas decidi contar a verdade. ─ Eu


entrei.

BETTI ROSEWOOD
─ O quê? ─ Papai gritou no sofá, sorrindo para mim. ─ Por que você
não nos contou?

─ Porque... ─ eu gemi. ─ Isso significa que Estella não entrou.

─ Ah ─ papai disse fracamente. ─ Você está preocupado com ela?

─ Eu apenas sei como é a família dela ─ suspirei. ─ Eles vão pegar


muito pesado com ela, e eu não quero ser o motivo de ela ter problemas.

─ Você entrou de forma justa ─ disse papai com firmeza. ─ Não é


sua culpa.

─ Eu sei ─ eu disse, mas o pensamento ainda me dava uma


sensação estranha. Eu entreguei minha redação tarde. Estella trabalhou
tanto na dela... Eu realmente mereço entrar? ─ Eu apenas me sinto mal
por ela.

─ Ela vai ficar bem ─ papai gritou antes de ir para a cozinha pegar
alguns pratos. ─ Estella é uma garota durona.

Meu outro pai não parecia tão convencido e me lançou um olhar


preocupado, murmurando: ─ Se você quiser falar sobre isso, eu estou
sempre aqui.

─ Obrigado, pai ─ eu consegui dizer. ─ Eu sei.

Entrei de forma justa, como papai disse, lembrei a mim mesmo. Isso
não é minha culpa.

No entanto, a dor no meu peito não iria embora.

BETTI ROSEWOOD
8
DATA: 07 DE SETEMBRO DE 2019 – 18:47H

LOCAL: CASA DA ESTELLA

ESTELLA

Eu havia tomado uma decisão naquela semana e estava


determinada a continuar.

Com o aniversário de nove meses do meu namoro com Natan


chegando, decidi que era hora de contar a meu pai sobre ele. Eu sabia as
implicações da minha decisão, mas estava cheia de guardar segredos. Eu
tinha quase dezoito anos e estava pronta para finalmente enfrentar a ira
do papai. Além disso, quão bravo ele poderia ficar? Eu não tinha feito
nada errado. Todos os meus amigos já estavam namorando, mesmo
aqueles com pais super rígidos. Eu só teria que fazer o papai ver as coisas
através dos meus olhos. De qualquer maneira, eu era boa em me livrar
das coisas.

Estávamos sentados para um jantar em família, com minha irmã


Romilly se juntando a nós pela primeira vez. Ela estava glamorosa como
sempre em um conjunto todo branco e com saltos finos como lápis. Ela e
papai nunca se deram bem, então o ar na sala de jantar ornamentada
estava tenso enquanto todos nós nos perdíamos na comida que Mabel
havia preparado.

─ Como estão as coisas na Universidade? ─ mamãe perguntou à


minha irmã, esperançosa. Mas Romilly apenas deu de ombros, olhando
para o papai antes de voltar para a comida sem dar uma resposta.

─ Responda à sua mãe ─ disse o papai.

─As coisas estão bem ─ Romilly murmurou roboticamente.

BETTI ROSEWOOD
─ Cuidado ao elaborar? ─ o papai sugeriu, erguendo as
sobrancelhas enquanto batia nos lábios com um guardanapo de pano,
gravado com o nome da nossa família. O falso. Não fazíamos parte da
família Hernandez há anos, desde a escalada do papai à fama.

─ Não ─ disse Romilly, e eu segurei uma risadinha. Minha irmã não


se importava com ninguém, muito menos papai. Ela estava
constantemente tentando me convencer a deixar tudo para trás, mas eu
sabia que não havia chance de eu fazer isso. Eu precisava proteger
mamãe. Agora que minha irmã havia se mudado, nós apenas tínhamos
uma a outra, e se eu fosse embora, ela ficaria à mercê do papai. E eu
sabia tão bem quanto qualquer um que ele não tinha muito disso.

Papai zombou da minha irmã, mas Romilly não se importou.


Mamãe olhou para mim do outro lado da mesa, implorando com os olhos
que eu dispersasse a tensão. Era uma situação em que me encontrei
várias vezes antes e sabia exatamente o que fazer. Eu queria manter
minhas grandes notícias escondidas até a sobremesa, mas disse a mim
mesma que não havia tempo como o presente, enquanto limpei a
garganta e dobrei o guardanapo no colo.

─ Na verdade, tenho algumas novidades ─ eu disse.

─ Sobre Eastvale? ─ Papai ergueu os olhos de cortar sua enchilada.


─ Eu pensei que você já teria recebido sua carta de admissão, mija.

─ Não. ─ Meus dentes cravaram no meu lábio inferior, sabendo que


eu estava mentindo. Mas antes que papai pudesse notar, eu balancei o
pensamento e dei a ele um sorriso brilhante. ─ Na verdade, eu queria
contar sobre um garoto que eu tenho saído.

─ Um garoto? ─ Papa repetiu.

BETTI ROSEWOOD
─ Ah, Natan? ─ Romilly perguntou, me dando um sorriso de sua
cadeira ─ Isso é ótimo, Stells. Você já está saindo com ele há um tempo,
não é?

Um silêncio mortal estava sobre a mesa. Merda, ela acabou de


estragar meu disfarce. Lancei-lhe um olhar de advertência e ela
empalideceu quando mamãe riu nervosamente, se intrometendo. ─ Oh,
Romilly querida, você deve estar confundindo-o com Milo Earnshaw, seu
irmão. Ele e Estella eram melhores amigos!

─ É claro ─ Romilly tentou salvar a cara. ─ Sim, eu lembro agora.


Eu misturei tudo.

─ Então, com quem você está saindo, Estella? ─ papai perguntou


com sua voz de aço. ─ Milo?

─ Não ─ eu balancei minha cabeça. ─ O irmão dele, Natan.

─ Ele não é um ano mais novo que você? ─ papai se perguntou em


voz alta, e eu assenti. ─ Isso não é bom, Estella. Você quer encontrar um
garoto capaz que seja um pouco mais velho. Caras da idade dele só têm
uma coisa em mente.

─ Não é assim ─ argumentei, mesmo sabendo que era exatamente


assim. Natan estava me pressionando sobre sexo há meses. Não
perguntando diretamente, mas deixando sugestões que eu derrubei em
segundos. Eu poderia dizer que ele estava ficando chateado, não apenas
por ter sido negado essa parte de mim, mas também pelos meus esforços
para reprimir esse tópico antes mesmo de discuti-lo. ─ Natan não se
importa com essas coisas.

─ Então com o quê, por favor diga, ele se importa? ─ Papai


perguntou. ─ Lacrosse?

BETTI ROSEWOOD
─ Sim ─ eu disse em voz baixa. ─ Ele está indo muito bem na
equipe, provavelmente receberá uma bolsa para...

─ Provavelmente? ─ Papai fez uma careta. ─ Não é bom o suficiente,


Estella.

Engoli suas palavras como uma pílula amarga, silenciosamente me


ordenando a não discutir com ele. Eu nunca poderia vencer nesta
situação, de qualquer maneira. Papai encontraria uma maneira de me
fazer perder.

─ Bem, ele é um garoto muito legal, pelo que me lembro ─ mamãe


disse depois de um momento de pausa. ─ Claro, lembro-me de Milo um
pouco melhor... Mas tenho certeza de que conheceremos Natan em breve.

─ Há quanto tempo isso vem acontecendo? ─ papai exigiu,


espetando uma batata crocante com o garfo. ─ Esse garoto Natan. Há
quanto tempo você o vê?

─ Algumas... semanas ─ eu consegui, esperando que ele não me


pegasse na minha mentira.

─ E você não pensou em pedir permissão primeiro? ─ Ele ergueu


as sobrancelhas para mim, obviamente descontente. ─ Então, quando
você está saindo com esse garoto, você está mentindo para nós sobre
isso?

─ Não exatamente mentindo ─ eu sussurrei. ─ Eu disse que estava


com amigos.

─ Parece-me que ele é mais do que um amigo para você, mija ─


papai disse calmamente, olhando para mim enquanto comia. ─ Parece-
me que ele é muito mais do que apenas um amigo.

BETTI ROSEWOOD
─ Ricardo ─ mamãe disse gentilmente. ─ Está tudo bem. Tenho
certeza que Estella sabe manter as coisas apropriadas entre os dois.

─ Claro que sim ─ Romilly acrescentou com confiança, me dando


um sorriso. ─ Eu confio em você, maninha.

─ Obrigada ─ eu murmurei.

─ Não tenho tanta certeza ─ disse papai, afastando o prato e


cruzando os braços. ─ E eu não gosto que você tenha mentido para nós
por semanas, também.

Oh papai, se você soubesse a verdade.

─ Sinto muito ─ eu disse, engolindo meu orgulho. Eu sabia que não


havia como discutir com ele. Eu tive que aceitar que estava errada aos
olhos dele.

─ Eu só tenho uma pergunta ─ continuou o papai. ─ Você foi


inapropriada com esse garoto?

─ Ricardo... ─ mamãe disse, mas ele levantou a mão para ela.

─ Eu só quero saber se minha filha ainda é pura ─ disse ele. ─ Acho


que todo pai tem direito a isso.

─ Dificilmente ─ Romilly bufou, mas até ela ficou sem palavras


quando ele a encarou.

─ Estella, responda minha pergunta ─ papai disse calmamente. ─


Você dormiu com esse garoto?

Meus lábios formaram uma linha fina e eu olhei para os três antes
de murmurar: ─ Claro que não.

─ Bom ─ papai disse, pela primeira vez não me questionando. ─


Você sabe o que aconteceria se você tivesse dormido, Estella? ─ Descruzei

BETTI ROSEWOOD
minhas pernas e olhei para o meu prato desconfortavelmente. ─ Eu fiz
uma pergunta, mija.

─ Você pararia de me apoiar ─ eu sussurrei. ─ E você me cortaria.


E eu não teria permissão para ir a Wildwood ou Eastvale.

─ Exatamente ─ papai assentiu. ─ Ao contrário de sua irmã egoísta,


que tem a infelicidade de ser minha primogênita, então eu tenho que
apoiá-la, não importa o quê, aparentemente.

─ Papa! ─ Gritei quando o garfo de Romilly caiu na mesa. ─ Não


faça isso, por favor.

─ Você está me dizendo o que fazer? ─ ele perguntou, olhando para


mim primeiro, depois minha irmã. ─ Romilly, alguma atualização sua?
Você encontrou o caminho de volta para casa ou ainda é um cordeirinho
perdido?

─ Ricardo- mamãe implorou. ─ Por favor, não hoje à noite.

─ Eu só quero uma resposta honesta de pelo menos uma de vocês


– disse o pai. ─ Eu sei que vocês são todas mentirosas, mas pelo menos
vocês duas ainda não se prostituíram.

─ Eu não sou uma prostituta – A voz de Romilly saiu entre dentes.


─ Só porque eu não sou religiosa, louca por religião, não significa que sou
uma pessoa ruim.

─ Você responderá isso a Deus ─ disse-lhe papai. ─ Mas você me


responde por todo o resto, pelo menos enquanto eu estiver pagando suas
contas.

Romilly engoliu em seco, olhando para ele do outro lado da mesa.


─ Estou praticamente acabando com isso agora.

BETTI ROSEWOOD
─ Você não vai embora ─ papai disse calmamente. ─ Nós vamos
terminar este jantar como uma família.

─ Já cansei das suas besteiras. ─ Romilly jogou o guardanapo sobre


a mesa, empurrando a cadeira para trás. ─ E chega dessa merda de farsa.

─ Sente-se ─ papai ordenou em voz baixa. Eu sabia que isso


significava problemas. Ele sempre ficava calmo e assustador antes de
virar totalmente. ─ Termine seu jantar.

─ Não, acho que não ─ cuspiu minha irmã. ─ Acho que estou
cheia.

─ Eu não entrei em Eastvale ─ falei de repente. Todo mundo ficou


parado. Foi um momento congelado no tempo, e fechei os olhos com
força, desejando não ter dito nada. Mas agora já era. Sem mais mentiras,
sem mais fugas. Eu mantive meus olhos fechados enquanto prosseguia.
─ Descobri há alguns dias. Milo Earnshaw entrou, não eu. Eles só
aceitam um aluno de Wildwood.

─ Eles aceitaram Crispin Dalton e Tinsley Sullivan no ano passado


─ disse o papai.

─ Foi pontual ─ consegui. ─ Quero dizer, eles são as malditas


celebridades.

Seu punho caiu sobre a mesa, sacudindo os talheres e fazendo


todos nós pularmos. ─ Inaceitável, Estella. Completamente, totalmente
inaceitável.

Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu me senti tão sozinha, tão


humilhada. ─ Eu sei ─ eu sussurrei. ─ Eu juro que dei o meu melhor.
Não tenho ideia do que aconteceu. Você sabe que eu trabalhei naquela
redação noite e dia.

BETTI ROSEWOOD
─ Não basta ─ disse-me o pai, friamente. ─ Obviamente. Não. Foi.
Suficiente. ─ Não ousei olhar para ele. Esta foi possivelmente a forma
mais irritada que eu já o vi, e já o tinha visto muito louco antes. Ele
esfregou a ponta do nariz, fechando os olhos enquanto prosseguia. ─
Obviamente, você está de castigo. E teremos uma longa conversa sobre o
modo como você tem se apresentado. Agora vá para o seu quarto e espere
por mim lá.

A pele na parte de trás do meu pescoço formigou e eu assenti,


prendendo a respiração quando me levantei.

─ Espere. ─ Romilly falou, e eu silenciosamente desejei que ela


parasse, sabendo que isso só poderia piorar daqui em diante. ─ Não é
culpa dela que ela não tenha entrado! Você deveria confortá-la, não a
fazer se sentir uma porcaria por isso. ─ Ela veio para ficar ao meu lado,
me puxando para seu abraço, mas meu corpo estava rígido contra o dela.
─ Você está tratando-a horrivelmente. Ela tem dezessete anos, papai!
Ninguém merece isso.

Queria soluçar contra ela, mas me forcei a segurar tudo, caso


contrário, sabia que estaria com mais problemas ainda.

─ Não fique no meio disso ─ disse o papai, apontando para a


mamãe levá-la para fora. ─ Estella, seu quarto. Agora. A menos que você
queira que as duas vejam isso.

Eu não precisava ser informada duas vezes. Correndo para fora da


sala de jantar, subi as escadas, dois degraus de cada vez até chegar ao
meu quarto. Meu corpo inteiro tremia quando ouvi seus passos pesados
atrás de mim. A porta se fechou com um rangido sinistro e eu me virei
para encarar o papai, chorando. ─ Papa, me desculpe, eu...

O golpe veio do nada. A primeira vez que ele me bateu. Eu temia


isso a maior parte da minha vida, e agora estava finalmente aqui, a

BETTI ROSEWOOD
lembrança permanentemente gravada em minha mente e significava que
nunca mais confiaria em um homem.

─ Papa! ─ Eu gritei, um soluço pesado forçando a saída do meu


peito.

─ Cale a boca ─ ele rosnou para mim, esfregando a palma da mão


enquanto eu tropeçava para trás. ─ Eu não quero ouvir outra palavra
sua. Você está de castigo até eu dizer o contrário. Se eu te pegar saindo
furtivamente, uma surra, que você praticamente está implorando, será o
menor dos seus problemas. ─ Meus dentes bateram e eu o vi recuar,
sentindo-me mal do estômago. ─ Ah, e outra coisa. ─ Ele permaneceu
com a mão na maçaneta da porta. ─ Você não tem permissão para usar
maquiagem no futuro próximo.

Ele fechou a porta calmamente, e uma parte de mim desejou que


ele a batesse. Pelo menos então eu saberia que ele estava liberando sua
raiva em um objeto inanimado em vez de um membro da família.

Amassei-me em uma bola ao pé da minha cama. Eu ainda estava


tremendo por toda parte e tive que me arrastar para o meu esconderijo
embaixo das tábuas do chão. Olhando continuamente para a porta para
me certificar de que ele não estava assistindo; Peguei o quadro do chão e
peguei meu telefone secreto do compartimento escondido. Coloquei-o ao
meu lado, sentada na frente da minha penteadeira, examinando a
mancha vermelha brilhante na minha bochecha. Depois, peguei o pó
compacto na superfície branca e cobri cuidadosamente a pele latejante.
Eu tinha a sensação de que o papai não me oporia usando esse tipo de
maquiagem. Era para salvar sua bunda, de qualquer maneira.

Pronto. Ninguém jamais será capaz de dizer nada agora. Eu olhei


para o meu reflexo perfeito no espelho quando ouvi os gritos flutuando
do andar de baixo. Toquei as pontas dos dedos no meu rosto já

BETTI ROSEWOOD
machucado, sentindo o calor emanando de baixo. E eu disse a mim
mesma que tinha tido sorte.

Pelo menos ele não era tão horrível comigo quanto ele era com
mamãe.

Deitada na minha cama, virei de bruços enquanto examinava os


números salvos no meu telefone antigo. As pontas dos meus dedos
hesitaram sobre o número de Pandora. Eu nunca tentei ligar para ela
desde que ela desapareceu anos atrás. Apertei o botão de chamada.

Antes do primeiro toque, eu encerrei a ligação. Eu gemi, esfregando


meus olhos sem maquiagem e caindo nas minhas costas. O lustre no
meu teto brilhava na escuridão. Estou sozinha, percebi com um
sobressalto. Ninguém me conhece mais. Eu até empurrei Tinsley para
longe...

Mais uma vez, peguei meu telefone, meus dedos digitando uma
nova mensagem.

Ei, querido. Ugh, meu pai me castigou de novo:( Você quer


entrar furtivamente pela janela?)

Aguardei ansiosamente sua resposta, meu coração batendo tão


rápido que pensei que atravessaria meu peito. Por favor escreva de volta.
Por favor, escreva de volta agora mesmo. Meu telefone permaneceu
silencioso e suspirei antes de colocar alguma música no meu laptop. Um
som suave e frio encheu meu quarto e eu balancei meus quadris ao som
da música. Nesse momento, meu telefone começou a tocar. Eu pulei de

BETTI ROSEWOOD
volta para ele, agarrando-o com minhas mãos impacientes e
empalidecendo quando vi o identificador de chamadas piscando na tela.

Pandora Amberly.

Eu desliguei a ligação, sentindo a bile subir na minha garganta.


Um momento depois, a resposta à minha mensagem de texto chegou.

Desculpe, eu não quero arriscar minha vida, caso eu encontre


seu pai ... LOL

Revirei os olhos, meu lábio inferior tremendo enquanto digitava


outro texto e o enviava. Eu me forcei a não pensar na situação de
Pandora. Certamente eu apenas a imaginei ligando de volta.

Algo ruim aconteceu.

Eu esperei menos de um minuto antes da resposta chegar.

O que aconteceu?

Você pode vir aqui? Eu mandei uma mensagem de volta.

Sim. Alguém vai me deixar entrar?

Mordi meu lábio inferior, escrevendo de volta. Diga a eles que é


sobre Eastvale ou algo assim.

Peguei um roupão fúcsia fofo da prateleira do meu banheiro de


mármore rosa, me envolvendo no tecido reconfortante. Eu não estava de
forma alguma vestida para visitantes, meu rosto sem maquiagem, cabelo
selvagem e uma tira de poro no nariz, mas não me importei. Eu precisava
de algo, alguém. Eu precisava lembrar que não estava sozinha no mundo.
E havia apenas uma pessoa que já me fez sentir como se eu pertencesse.

Demorou cerca de trinta minutos para ouvir a campainha. Eu me


preparei para o pior, papai meio convencido, que também o socaria, mas

BETTI ROSEWOOD
ouvi a voz de Milo e as risadas de papai um momento depois. E então veio
a batida na porta, após a qual se abriu sem esperar pela minha resposta.
Mal tive tempo de enfiar meu telefone de reposição debaixo dos
travesseiros.

─ Estella ─ papai disse, apontando para a porta. ─ Seu amigo Milo


está aqui com algumas informações sobre a faculdade que você vai.

─ Eu não entrei, papai ─ murmurei.

─ Bem, de acordo com Milo, tudo isso pode mudar. ─ Papai disse,
seu rosto sem emoção. ─ Vou deixar vocês dois discutirem isso. Milo, por
favor, saia em 25 minutos.

─ Claro, senhor ─ Milo sorriu, entrando no meu quarto e


empurrando os óculos de armação grossa pela ponta do nariz. ─ Vou me
certificar de ser rápido.

─ Obrigado. ─ Papai bateu nas costas dele. ─ O mundo precisa de


mais jovens como você, Milo Earnshaw.

Ele se afastou e Milo olhou por cima do ombro, esperando-o sair


antes de vir em minha direção. Eu balancei a cabeça, acenando com a
cabeça para ele me seguir até a área de estar no meu quarto.

─ Você está bem? ─ ele perguntou no momento em que nos


sentamos no sofá rosa. ─ Você disse a eles que não entrou?

─ Sim ─ eu murmurei, e a primeira lágrima escorreu pela minha


bochecha. Eu olhei para minhas mãos no meu colo, me odiando por ser
tão fraca na frente dele. Jurei para mim mesma que essa lágrima solitária
seria a última que Milo Earnshaw veria.

─ Oh, Stells ─ ele murmurou, dando um tapinha desajeitado nas


minhas costas. ─ Sinto muito. Eles não aceitaram bem?

BETTI ROSEWOOD
─ Não ─ eu balancei minha cabeça, fungando e me forçando a
permanecer fiel ao juramento que fiz a mim mesma. ─ Não muito bem.

─ Você tentou chamar o Natan? ─ ele perguntou suavemente, e eu


olhei para ele, raiva brilhando nos meus olhos.

─ Eu tentei. Ele não viria.

─ Antes ou depois de mim? ─ ele exigiu, e eu empalideci sob seu


olhar minucioso. ─ Entendo. Talvez eu deva ir. Já que nem fui sua
primeira escolha.

Ele se levantou, mas eu me levantei para detê-lo, meus dedos


envolvendo seu blazer. ─ Não vá.

─ Você está chorando. ─ Ele estendeu a mão, enxugando a lágrima


do meu olho, e eu não pude deixar de estremecer quando ele me tocou,
um tremor que eu ainda não entendia, viajou para a boca do estômago.
─ Por que você estremeceu?

─ Eu não...

─ Sim, você estremeceu. ─ Ele estava olhando, me forçando a


sentar novamente. Ele examinou a mão dele. ─ Por que você está usando
maquiagem se está usando esse adesivo de nariz?

─ Não... ─ Minha voz estava trêmula, e eu esperava que ele não


sondasse mais.

Ele estendeu a mão para mim novamente, e eu levantei minhas


mãos como se para impedi-lo de me bater. Firmemente, o polegar e o
indicador apontaram para o meu pulso, e ele tocou a mão livre na minha
bochecha novamente, o mais suave possível. Ainda assim, isso me fez
estremecer quando ele esfregou minha pele.

─ Puta que pariu.

BETTI ROSEWOOD
─ Shhh. ─ Eu lancei a ele um olhar suplicante. ─ Não diga isso tão
alto.

─ Seu pai fez isso? ─ Desviei o olhar, culpada demais para


responder. ─ Eu vou matá-lo, porra.

─ Não ─ implorei. ─ Você é o único dos meus amigos que ele não
odeia. Preciso da sua ajuda com isso.

─ Você precisa ir à polícia ─ ele murmurou. ─ Ou eu vou levar você


embora daqui amarrada, se for preciso.

─ Eu ainda não posso. Ele... ele poderia machucar a mamãe se eu


tentasse.

─ Porra. ─ Ele andou pelo quarto, passando as mãos pelos cabelos


escuros enquanto eu olhava nervosamente para a porta.

─ Olha, Milo, não temos muito tempo.

─ O que você precisa que eu faça? ─ Ele não conseguia nem olhar
para o meu rosto machucado.

─ Apenas fique quieto sobre isso até eu descobrir alguma coisa ─


eu disse. ─ Eu vou ver minha avó amanhã. Talvez ela saiba algo que
possa me ajudar... me afastar dele. Você pode vir comigo.

─ OK. ─ Isso o fez sorrir. ─ Eu sinto falta dela.

─ Ela também sente sua falta. ─ Suspirei. ─ Eu não a vejo tantas


vezes quanto deveria.

─ Stells, quando... ─ Ele parecia tão preocupado. ─ Quando seu pai


começou a fazer isso? Machucar você?

Eu olhei para o meu colo novamente. ─ Assim? Hoje foi a primeira


vez. De outras formas? Há um tempo atrás.

BETTI ROSEWOOD
─ Por que você não contou a ninguém? ─ ele perguntou.

─ Eu... não consegui. O que você disse a eles sobre Eastvale?

Ele olhou para mim, as sobrancelhas unidas. ─ Eu disse a eles que


estou desistindo do meu lugar. Por você.

─ Jesus ─ eu murmurei. ─ Isso é loucura, Milo. Como diabos você


acha que eles vão reagir quando perceberem que é uma mentira
descarada?

─ Mas não é. ─ Ele olhou para mim intensamente. ─ Eu vou


desistir. Por você.

─ Por quê? ─ Eu olhei para ele, incrédula. ─ É tudo o que sempre


quisemos.

─ Sim. Mas juntos ─ ele me lembrou, e meu estômago revirou. ─


Eu não queria concorrer com você pelo lugar.

─ Você sabe que eles levam apenas uma pessoa por ano.

─ E daí? ─ Ele encolheu os ombros. ─ Crispin e Tinsley entraram


juntos.

─ Você deveria ir ─ eu sussurrei.

─ Eu vou. ─ Ele se levantou, me encarando. ─ Pense bem. E mais


duas coisas.

─ Sim? ─ Mordi meu lábio em expectativa.

─ Você está realmente bonita assim ─ ele murmurou.

─ O quê?

─ Bonita. Você. Sem maquiagem. Você parece a garota que eu


conhecia.

BETTI ROSEWOOD
Corei e rezei para Deus, minha maquiagem também esteja
ocultando minha bochecha em chamas. ─ Obrigada.

─ Vejo você na escola. ─ Parecia que ele estava prestes a me


abraçar, mas mudou de ideia no último minuto. ─ Ah, a outra coisa,
princesa. Se eu descobrir que ele bateu em você de novo, vou machucá-
lo muito. Você promete me dizer se ele o fizer?

Seu olhar era tão intenso que me vi assentindo sem querer. ─ Tudo
bem.

─ Boa menina. ─ As palavras me deram palpitações no peito. ─ Até


logo.

Ele saiu do quarto, sorrindo largamente para Mabel que estava


passando pela minha porta. Ela olhou para mim, segurando a maçaneta.
─ Hora de dormir, Srta. Estella.

─ Boa noite ─ eu sussurrei atordoada. ─ Até mais tarde, xeque-


mate.

BETTI ROSEWOOD
9
DATA: 8 DE SETEMBRO DE 2019 – 10H

LOCAL: CASA DA ESTELLA

ESTELLA

Não demorou muito para o papai me deixar ir visitar a abuelita3.


Eu até consegui convencê-lo de que Milo deveria me levar. Eu pensei que
papai parecia um pouco arrependido pela noite anterior, mas até agora,
ele não pediu desculpas ou mencionou o que aconteceu nenhuma vez.
Meu pai ligou para o próprio Milo, providenciando para que meu amigo
me pegasse às 10 horas da manhã. Naquela manhã, Milo chegou no
horário, pintando um sorriso no rosto estrito do meu pai.

Eles apertaram as mãos enquanto eu corria para fora de casa,


carregando minha bolsa e um buquê de flores que eu tinha colhido em
nosso jardim. Havia um arbusto de peônia no quintal que vinha da
propriedade da abuelita no México. Era praticamente a única coisa que
guardávamos desde que papai havia mudado nosso sobrenome.

─ Ah, aqui está ela agora — papai disse quando cheguei à entrada
da garagem. ─ Certifique-se de trazê-la de volta para o almoço, Milo.
Absolutamente nenhum desvio é permitido, como eu disse. Quero-a em
casa na hora. Vejo você mais tarde.

Eu cerrei os dentes, odiando o fato de que ele falou sobre mim como
se eu não estivesse lá. Mas não disse nada, apenas engoli meu orgulho e
entrei no carro ao lado de Milo, que ofereceu um sorriso amigável ao meu
pai antes de buzinar duas vezes e sair da garagem. Uma música suave

3
Vó em espanhol.

BETTI ROSEWOOD
estava tocando no rádio quando começamos a dirigir para o nosso
destino, mas nenhum de nós disse uma palavra.

─ Estaremos lá em cerca de uma hora ─ Milo me disse enquanto


encostava na estrada. ─ Duvido que tenhamos tempo para fazer outra
parada. O caminho para lá e o de volta será de duas horas, pelo menos,
e isso sem complicações. E temos talvez uma ou duas horas lá.

─ OK. ─ Minha voz era suave enquanto eu examinava minhas


unhas rosa pastel. ─ Obrigada por fazer isso, a propósito.

─ Não tem problema nenhum.

─ Você não precisava ─ eu murmurei sem olhar para cima.

─ Hã?

─ Eu disse que você não precisava me levar. Eu poderia ter pego


nosso motorista para me levar.

─ Bem, eu não queria que você fizesse isso ─ ele respondeu com
firmeza. ─ Além disso, eu não vejo sua abuelita há anos. Desde que ela
viveu com vocês. Há quanto tempo ela mora em Maple Woods agora?

─ Provavelmente, uns cinco anos ─ eu murmurei. ─ Eu acho que


Pandora ainda estava por perto quando ela se mudou.

Ele assentiu, colocando o rádio mais alto. Eu não tinha certeza se


interpretara sua jogada como ele querendo que eu calasse a boca, mas
ele falou sozinho. ─ Espero que ela ainda se lembre de mim. Quantos
anos ela tem agora?

─ Setenta e dois ─ eu ri. ─ E eu tenho certeza que ela vai. Ela tem
uma ótima memória.

─ Por que ela está no asilo?

BETTI ROSEWOOD
Eu olhei para ele pelo canto do olho. ─ O que você quer dizer?

─ Quero dizer, por que ela não mora com vocês?

─ Foi uma decisão do papai.

─ E nenhuma de vocês discutiu com ele sobre isso?

─ Não. ─ Eu cerrei os dentes. ─ Acho que nós dois sabemos o quão


bem isso teria sido.

Ele chegou até mim, apertando minha mão enquanto murmurava:


─ Você está certa, me desculpe. Eu não deveria ter mencionado isso. Me
ignore.

Eu gostaria de poder te ignorar, pensei miseravelmente. Mas há algo


em você que me faz sentir tonta e como se eu precisasse muito mais do que
você está disposto a me dar.

Dirigimos em silêncio por um tempo até a cidade que nos cercava


ficar mais e mais distante, e o mar aparecer à nossa esquerda. Eu sorri
para mim mesma. Eu sempre amei o caminho para Maple Woods. Eu não
fui lá o suficiente ─ não porque não queria, mas porque o papai nos disse
que a abuelita estava cansada demais para lidar conosco todo fim de
semana. Era uma mudança com a qual eu ainda estava me adaptando,
já que minha avó morava na mesma casa que nós desde que eu era bebê.
Senti falta dela e fiquei grata pela oportunidade de vê-la novamente.

─ Seu machucado ainda está doendo?

Toquei as pontas dos dedos na carne inchada sob os olhos. ─ Não


está tão ruim agora.

─ Você contou a mais alguém sobre o que aconteceu? ─ ele


perguntou.

BETTI ROSEWOOD
─ Não.

─ Nem Natan?

Mordi meu lábio inferior, balançando a cabeça que não. ─ Eu... eu


não pude.

─ Compreendo. ─ Eu desejei que ele pegasse minha mão


novamente, mas ele não o fez. ─ Eu também não contei a ninguém, mas
isso vai mudar se eu o vir machucá-la novamente.

─ Ok ─ eu murmurei fracamente.

─ Precisamos encontrar uma maneira de tirá-la dessa casa.


Eastvale teria sido perfeito. Por que seu pai estava envolvido com isso,
afinal? Pensei que ele gostaria de ficar de olho em você.

─ Ele quer ─ estremeci. ─ Ele só gosta da ideia de Eastvale porque


é sua alma mater4. Mas confie em mim, ele ficaria de olho em mim.

─ Isso não é bom, então. Temos que encontrar uma maneira de


você ficar em segurança naquela casa. Mas acho que nenhuma de vocês
deve ficar lá mais tempo do que o necessário. ─ Ele me olhou pelo canto
dos olhos. ─ Você é a única em quem ele bate?

Minhas mãos formaram punhos ao meu lado, uma observação


defensiva pronta para irromper pelos meus lábios. Mas me forcei a engolir
a resposta sarcástica. Tudo o que eu consegui na sua ausência foi
balançar a cabeça.

─ Romilly? ─ Milo perguntou.

─ Não por enquanto.

4
Eles usam está frase em latim como significado de que por ele ter se formado nesta faculdade, quer
que seus filhos sigam seu caminho na mesma instituição.

BETTI ROSEWOOD
─ Sua mãe? ─ Eu balancei minha cabeça. ─ Ele ameaçou fazer
isso? Com que frequência?

─ Eu não sei ─ eu murmurei. ─ Mais frequentemente agora do que


ele costumava.

─ Ele está batendo nela há um tempo?

O que significa um tempo? Eu o questionei silenciosamente. Nunca


houve um tempo em que ele não a batesse. ─ Eu acho.

─ Estella, isso é importante ─ ele insistiu. ─ Você precisa me dizer


a verdade ou eu nunca serei capaz de ajudá-la. Eu preciso conhecer os
detalhes para que eu possa... Stells?

Eu olhei para ele para vê-lo olhando para os meus dedos. Eles
estavam brancos como neve pela forma que eu estava segurando na
minha bolsa. Prometi a mim mesma que não choraria na frente dele, mas
isso não era muito melhor. Eu estava a segundos de hiperventilar.

─ Estou bem ─ eu disse no piloto automático. ─ Está tudo bem.

─ Estou encostando.

─ O quê? Não, não chegaremos a tempo. ─ Eu olhei para ele quando


ele virou à esquerda, puxando para a praia. ─ Milo, não. Não temos tempo
para isso.

─ Faça o que eu digo ─ ele me disse, estacionando o carro em um


local improvisado no cascalho. ─ Saia do carro.

─ O quê, aqui? ─ Eu olhei para ele, cruzando os braços no banco


do passageiro. ─ No meio do nada?

─ Sim. Agora.

BETTI ROSEWOOD
Fiz o que ele disse, mas nem tentei esconder o quanto estava com
raiva, batendo a porta do passageiro do carro. Não havia nada ao nosso
redor, a não ser a rodovia, quilômetros de areia e mar, com gaivotas
cruzando acima de nós. ─ Que diabos, Milo? O que você está tentando
fazer, me matar aqui fora?

─ Eu preciso que você faça algo por mim. ─ Ele veio ficar ao meu
lado, suas mãos descansando em meus ombros e arrepiando minha
espinha. Finja que nada aconteceu. Finja que isso não afeta você.

─ O que você quer que eu faça?

─ Grite. ─ Ele sorriu.

─ Gritar?

─ Sim. ─ Ele apontou para o mar e a estrada. ─ Ninguém vai se


importar ou até ouvir você por aqui.

─ Por que eu faria isso?

─ Confie em mim, será bom. Deixe tudo sair.

─ Isso é ridículo ─ eu ri nervosamente. ─ Eu não vou apenas gritar


para...

─ Grite, Estella.

Eu dei a ele um olhar duvidoso antes de chutar a areia e


instantaneamente me arrependo da minha decisão quando meus pés se
encheram de pequenos grãos dourados. ─ Ugh, tanto faz, Milo.

─ Você quer que eu faça você fazer? ─ Ele ergueu as sobrancelhas


para mim e eu engoli em seco.

─ Podemos ir se eu fizer? ─ Revirei os olhos.

BETTI ROSEWOOD
─ Claro.

─ Bem. ─ Eu continuei olhando, limpando a garganta antes de


soltar um gritinho. Não estava nem perto do que eu realmente queria
fazer, mas eu precisava ficar elegante na frente dele. Eu era uma dama,
não uma garota selvagem que gritava ao vento em uma praia
abandonada.

─ Isso é o melhor que você pode fazer? ─ Milo sorriu para mim antes
de segurar sua boca e gritar o mais alto que pôde, me fazendo gemer de
vergonha.

─ Alguém vai pensar que você está me matando aqui ─ eu disse a


ele.

─ Apenas faça isso, princesa.

Algo na maneira como ele disse me fez reconsiderar. Eu dei a ele


outro olhar duvidoso antes de gritar um pouco mais alto. Com outro olhar
para ele, revelou um enorme sorriso no rosto. Eu gritei novamente.

─ Lindo garota ─ MIio gritou. ─ Mais uma vez, juntos.

Ele pegou minha mão, seus dedos entrelaçados com os meus, e nós
dois respiramos fundo antes de gritar com o mar se chocando contra a
costa. Minha voz estava ficando áspera, mas de repente eu não conseguia
parar. Eu gritei e gritei até não ter mais voz. Milo me observou e, quando
comecei a tremer, ele me puxou para um abraço. Eu queria me deixar
desmoronar em seus braços como se não quisesse mais nada na vida.
Mas não consegui me forçar a deixá-lo ver essa parte crua de mim. ─
Obrigada — eu sussurrei trêmula.

─ De nada, Stells.

BETTI ROSEWOOD
Ele me guiou de volta para o carro, prendeu-me com o cinto de
segurança e colocou uma música do rádio do carro antigo. Nós não
falamos uma palavra pelo resto do caminho até Maple Woods, mas o
silêncio foi fácil, agradável. E por todo o caminho até lá, a mão esquerda
de Milo repousou no volante, mas a direita cobriu minha mão trêmula no
meu colo.

─ Estrellita!

Eu sorri largamente, correndo em direção à minha avó quando ela


se levantou da poltrona com estampa floral. Maple Woods era ainda mais
sombrio do que eu lembrava. Por alguma razão, eu pensei que era uma
instituição de alto nível, um lugar que deixou a abuelita feliz e a manteve
ocupada, mas, em vez disso, era deprimente, com funcionários de
aparência irritada e móveis antigos.

─ É tão bom ver você, abuela, ─ eu disse a ela honestamente. ─ Eu


sei que faz tanto tempo.

Ela acenou a mão com desdém, como se isso não importasse. ─


Estou tão feliz que você está aqui. E quem é esse jovem bonito que você
trouxe com você?

─ Olá, señora Hernandez ─ sorriu Milo. ─ Eu não sei se você se


lembra de mim... eu costumava visitar Estella o tempo todo. Meu nome é
Milo Earnshaw.

─ Milo! ─ ela parecia quase mais satisfeita em vê-lo do que eu. ─


Eu não acredito! ─ Ele foi apertar a mão dela, mas ela não aceitou isso e
foi puxando-o para um abraço rápido. Milo riu e eu reprimi uma
risadinha quando abuela piscou para mim por cima do ombro. ─ Vamos,

BETTI ROSEWOOD
vamos para a marquise. É o lugar mais bonito nesta casa oprimida.
Podemos conversar sobre tudo lá. Venga, venga!

Fomos até a marquise, que estava tão vazia quanto o resto da casa.
Eu me perguntava se eles tinham alguma equipe disponível para garantir
que os moradores fossem atendidos.

─ Devo dizer que não esperava outro visitante logo depois da última
vez ─ continuou abuela. ─ Você sabe que alguém veio me ver, não é?

─ Papai? ─ Eu perguntei, franzindo as sobrancelhas. ─ Eu teria


vindo com ele se soubesse que ele estava vindo.

─ Não, boba ─ ela riu, apontando entre Milo e eu. ─ Havia três de
vocês, não? Milo, você e a outra garota.

Milo e eu trocamos olhares. Eu me perguntei se eu parecia tão


pálida quanto ele antes de virar o rosto para abuelita novamente. ─ Qual
outra garota, avó?

─ Pandora, não era? ─ Ela sorriu inocentemente, obviamente não


percebendo o que suas palavras estavam fazendo com nós dois. ─ Ela
veio me ver há apenas algumas semanas. Uma garota tão legal. Estou tão
feliz que ela teve tempo para me fazer uma visita. ─ Ela deu um tapinha
na minha mão. ─ Eu sei que você gostaria de vir mais vezes também,
querida. Se não fosse pelo seu pai.

─ Eu... ─ eu engoli. O quarto estava abafado ou eu estava


imaginando? Parecia que alguém sugou todo o ar, deixando-me sem
fôlego. ─ É bom que ela tenha vindo visitar, vovó. Me desculpe, por eu
não ter vindo por tanto tempo.

─ Oh, Cariño, eu entendo completamente -abuela sorriu. ─ Eu sei


que seu pai pode ser um pouco... superprotetor.

BETTI ROSEWOOD
─ Señora Hernandez, é por isso que estamos aqui ─ saltou Milo,
oferecendo-me um sorriso calmante. ─ Posso contar a ela o que
aconteceu, Stells?

─ O-Ok ─ eu gaguejei, corando e olhando para longe.

─ O que é isso na sua bochecha, mija? ─ abuela perguntou


imediatamente, e eu me senti corar. Ela sempre teve um olho de águia
para os detalhes. ─ Ele... ─ As palavras dela sumiram, mas Milo foi rápido
em falar.

─ Infelizmente, parece que o Sr. Hawthorne está perdendo o


controle ─ ele murmurou. ─ Eu queria que viéssemos vê-la hoje para ver
se você tinha algum conselho.

Minha avó olhou para as mãos no colo. Foi só então que eu notei
que elas estavam tremendo, apenas por alguns segundos até que elas
agarraram seu vestido. ─ Eu disse a ele que tudo acabaria quando isso
acontecesse.

─ O que você quer dizer? ─ Milo perguntou gentilmente.

─ Eu disse a ele que ele nunca deveria bater em vocês meninas —


abuela balançou a cabeça em descrença. ─ Eu sabia da sua mãe. Como
eu podia não saber, vivendo sob o seu teto? É por isso que ele me mudou
para cá, Estella. Então, eu ficaria fora dos negócios dele.

─ Mas abuela... ─ comecei. ─ Ele é seu filho. Você não acha que ele
te ama? Não foi... a melhor decisão?

─ Olhe em volta, mijita — abuela riu. ─ Este lugar está


desmoronando. Teria sido melhor viver sozinha, mas ele me fez assinar
um documento que o torna responsável por mim. Eu nem li, apenas
assinei. Porque confiava nele, Estella. Assim como você.

BETTI ROSEWOOD
A mão de Milo esfregou círculos nas minhas costas, o único local
onde a dormência não havia tomado conta. Eu não podia acreditar nisso.
Papai havia se aproveitado da abuela da pior maneira possível, e não
apenas isso ─ ele propositalmente nos mantinha separadas.

─ Me desculpe, eu não imaginava. ─ Eu sussurrei, corando de


vergonha.

─ Não é sua culpa, corazon ─ abuelita bateu na minha mão. ─ Ele


escondeu de você. Esse garoto tem sido um ovo ruim desde o começo. Eu
não deveria dizer isso, mas é verdade.

─ O que posso fazer para ajudar? ─ Milo perguntou. ─ Eu tenho


dinheiro. Eu posso ajudar Estella, sua mãe e irmã a sair de lá, não posso?

Ela balançou a cabeça. ─ Eu acho que ele nunca vai deixar você
fazer isso, jovem.

─ Tem que haver um jeito. ─ A urgência em minha própria voz me


surpreendeu. ─ Quero nos afastar dele, abuela. E também quero tirar
você daqui.

─ Existe algo que você possa pensar que seria útil? ─ Milo insistiu.
─ Até a menor coisa que você ouviu ou pensou... Isso poderia nos ajudar.

─ Bem, houve um telefonema... ─ Ela bateu um dedo no queixo,


balançando a cabeça. ─ Não, tenho certeza que não é nada. Ele não faria
isso.

─ Fazer o quê? ─ A voz de Milo era gentil, mas firme, e abuela deu-
lhe um longo olhar antes de suspirar e falar.

─ Um homem ligou para ele quando ele me visitou meses atrás.

─ Um homem? ─ Milo a encorajou.

BETTI ROSEWOOD
─ Um Sr. Jenkins.

─ Esse é o gerente de fundos do Angels of Hope ─ murmurei


enquanto Milo me lançou um olhar confuso. ─ Ele é o cara que administra
a caridade do pai para crianças.

─ Ok ─ Milo assentiu. ─ O que você ouviu, Señora Hernandez?

─ Ele falou com o homem sobre os contratos ─ disse abuela. ─ Que


eles se tornarão válidos em alguns meses e ele finalmente terá acesso ao
dinheiro.

─ Que dinheiro? ─ Eu questionei.

─ Eu não sei — abuela encolheu os ombros se desculpando. ─ Algo


sobre ativos se tornarem acessíveis.

─ Como funciona a caridade do seu pai, Estella? ─ Milo perguntou.

─ Eu... eu sei que é para crianças aprendendo braile ─ eu disse. ─


Papa coleta dinheiro durante seus sermões, em seu site, em todas as
aparições na mídia que ele faz.

─ Como funciona a coleta de dinheiro?

─ É uma dedução mensal da conta bancária do cliente ─ eu


sussurrei.

─ E o dinheiro que ele teria acesso em alguns meses?

─ A única coisa que consigo pensar... ─ Mordi meu lábio inferior


enquanto eles me observavam com expectativa. ─ O aniversário anual
dos Angels of Hope está chegando. Talvez o papai tenha acesso ao
dinheiro que essas pessoas doaram?

─ Como o dinheiro é gasto? ─ Milo perguntou.

BETTI ROSEWOOD
─ Eu posso responder a isso ─ respondeu abuela orgulhosamente.
─ Meu filho doa os procedimentos para países do terceiro mundo, para a
construção de escolas e hospitais.

─ Ele está planejando um grande projeto para este inverno? ─ Milo


dirigiu sua pergunta para mim. ─ Indo a algum lugar para ajudar?

─ Não este ano ─ expliquei. ─ Próximo ano.

─ Então, por que importa que o dinheiro esteja acessível agora? ─


ele perguntou.

─ Não sei ─ eu disse.

─ A menos que... ─ Ele olhou para baixo, incrédulo. ─ A menos que


ele esteja planejando gastá-lo com outra coisa.

─ Ele nunca usaria esse dinheiro para si ─ disse abuela, com a voz
embargada pelas palavras.

─ Eu pensei que ele nunca iria me bater ─ eu consegui dizer. ─


Acho que sempre há uma primeira vez para tudo.

Ficamos ali sentados em um silêncio miserável antes de abuela


respirar fundo, dizendo: ─ Eu não sei sobre vocês dois, mas eu poderia
fazer isso com uma dose de tequila!

─ Abuela ─ eu ri. ─ Você não está tomando medicação?

─ Claro que não ─ disse ela. ─ Estou tão saudável como deve ser.
Agora, deixe-me mostrar uma coisa.

Ela se levantou, ajeitou o vestido floral e foi até o armário. Ela


procurou até pegar uma pequena garrafa e uma xícara de café. ─ Tequila
em uma casa de repouso ─ Milo sorriu. ─ Eu gosto disso.

BETTI ROSEWOOD
Abuela riu enquanto se servia de uma dose pesada. ─ Nada para
você, você é muito jovem.

Eu sufoquei o riso quando ela bebeu o dobro de tequila e o colocou


de volta no armário, cruzando os braços. ─ Aqui está o que vocês devem
fazer, mijos. Vocês devem descobrir mais sobre esse negócio dos Angels
of Hope. Você me liga, e nós criamos um plano. Eu quero sair daqui.

─ Pode deixar, abuela ─ eu disse a ela. ─ Nós vamos trabalhar


nisso. Eu prometo. E obrigado por nos ajudar.

─ Claro ─ ela assentiu gravemente. ─ Por favor, me avise quando


algo novo acontecer. Ninguém nunca me diz nada.

─ Eu mesmo vou trazer Estella aqui ─ prometeu Milo. ─ Assim que


tivermos boas notícias.

─ Obrigada, Milo. ─ Eu estava imaginando, ou estava abuelita...


flertando com Milo? ─ Você cresceu e se tornou um jovem maravilhoso...
Bonito também, não é, Estrellita?

─ Abuela ... ─ eu assobiei um aviso, mal segurando uma risada. ─


Shhh.

─ É a verdade ─ disse ela. ─ Vocês dois são um casal tão bonito.


Muy guapo. ─ Ela piscou para mim.

─ Oh, nós não somos um casal. ─ Eu ri alto. ─ Milo é bom demais


para alguém como eu.

─ Bom demais? ─ ele levantou uma sobrancelha para mim.

─ Milo é um esnobe, abuelita ─ eu ri. ─ Ele nunca me tocaria. ─ Eu


senti o silêncio gelado vindo dele, e eu sabia que tinha ferrado as coisas.

BETTI ROSEWOOD
─ Se você diz — abuela olhou entre nós. ─ Mas eu conheço um
casal apaixonado quando vejo um. Vejo vocês em breve, espero?

─ Claro. ─ Eu balancei a cabeça, abraçando-a com força.

Depois que nos despedimos, Milo e eu fomos para o carro. Ele não
disse uma palavra, mantendo teimosamente suas respostas para sim ou
não, mesmo quando eu fazia perguntas. Eu o irritei durante toda a volta
para casa, mas ele não quis falar comigo. Foi a viagem mais longa de
todas. Finalmente, desistindo na metade do caminho, eu estava fazendo
beicinho quando paramos em frente à minha garagem.

─ Você não precisa vir comigo ─ eu disse a ele quando ele destravou
o carro.

─ Eu quero ter certeza de que você não escape novamente ─ ele


murmurou sem encontrar meus olhos. ─ Ou seu pai vai me culpar.

─ Milo, me desculpe pelo que disse.

─ O que? ─ Ele olhou quando saímos, caminhando até a porta. ─


É o que você pensa, não é?

Dei de ombros.

─ Você acha que eu tenho medo de tocar em você? ─ Suas palavras


eram quase inaudíveis, saindo em um rosnado ameaçador. ─ Eu segurei
sua mão.

─ Você nunca faria mais do que isso. ─ Cruzei os braços


defensivamente na frente do meu corpo. ─ Você nem olha para mim.

─ Fico triste em olhar para você. ─ Suas palavras fizeram meu


coração afundar. ─ Fico triste ao ver o que não posso ter. ─ E assim, meu
coração saltou de volta, ameaçando me sufocar no processo.

BETTI ROSEWOOD
─ Você não pode dizer esse tipo de coisa.

─ Você não acha que eu sei disso? ─ Ele deu um passo mais perto,
me fazendo ir para trás até eu bater na parede, minhas costas
pressionadas contra ela firmemente. ─ Você não sabe o quanto eu tento,
para não escorregar? Dizer algo estúpido?

─ Algo estúpido como o quê? ─ Eu sussurrei.

─ Tipo eu já estou cheio de salvá-la ─ ele sussurrou, prendendo


meu corpo sob seus braços enquanto colocava as palmas das mãos na
parede de cada lado da minha cabeça. ─ Tipo que eu estou cheio de fazer
coisas que o meu irmão deveria estar fazendo. E você me pede para fazer
as coisas, não a ele. É estúpido.

─ Muito estúpido. ─ Minha voz estava ofegante, meu corpo


desesperado para pressionar o dele. ─ Eu ainda acho que você está com
medo. ─ Eu sabia exatamente o que estava fazendo. Milo Earnshaw me
deu a dica ─ e foi exatamente isso que me colocou um passo à frente
quando jogamos xadrez. E agora, foi a dica que me disse que eu o estava
pressionando, o levando ao limite, e ele estava prestes a explodir. O canto
de sua boca puxou para o lado, e eu sabia que ele estava se segurando,
como antes de um grande movimento no xadrez. ─ O quê, você está
dizendo que não está? Você fala de um grande jogo, mas não... ─ Antes
que eu pudesse terminar, sua mão firme envolveu minha garganta. Seu
toque era suave, mas firme, e ele me prendeu enquanto eu lutava para
recuperar o fôlego do choque de suas ações.

─ Você estava dizendo? ─ ele trincou entre dentes.

─ Covarde ─ eu cuspi, desesperada por mais. Eu sabia exatamente


o que estava fazendo. Eu sabia tudo o que Milo tentava esconder dos
outros. Eu era sua amiga mais antiga, afinal. ─ Você está apenas
tentando me intimidar.

BETTI ROSEWOOD
─ Você está intimidada? ─ ele perguntou, inclinando-se para mais
perto. Minha respiração ficou presa na garganta quando percebi que ele
estava prestes a me beijar, mas seus lábios nunca tocaram os meus. Em
vez disso, eles permaneceram acima dos meus lábios, enchendo meu
nariz com o cheiro do chiclete. ─ Você está com medo que eu faça isso,
Estella? ─ Eu balancei minha cabeça, impotente, quando suas mãos
deixaram meu pescoço, deslizando sobre meus braços, até meus quadris,
através das minhas curvas e finalmente se estabelecendo na parte
externa das minhas coxas. ─ Você está tão desesperada por mais.

─ Não estou ─ eu falei.

─ Talvez, se você parasse de mentir, eu realmente te desse o que


você precisa desesperadamente.

─ Eu não preciso de você.

─ E é por isso que você não pode ter mais, sua pequena mentirosa.
─ Eu sabia que ele iria recuar, mas não podia deixá-lo fazer isso. O
pensamento de perdê-lo, seu toque, me fez sentir mal. Eu queria mais.
Todo o resto desapareceu no fundo. Os problemas em casa, Natan,
Pandora. Tudo se transformou em ruído branco quando eu olhei nos
olhos de Milo.

─ Não me deixe solta. ─ Eu não admitiria que essas palavras


tinham saído dos meus lábios. Mas reconheci minha própria voz
desesperada quando a ouvi.

─ Não me tente. ─ Ele puxou meu cabelo, puxando minha cabeça


para o lado, perigosamente perto de seus lábios abertos. Eu podia sentir
seu hálito frio contra meus lábios. Eu quase podia provar o chiclete. Mas
ele nunca diminuiu a distância entre nós. ─ Me escolha.

─ O quê?

BETTI ROSEWOOD
─ Escolha-me ─ ele repetiu. ─ Por que você está com Nate? Você
sabe que não pertence a ele. Vou te dar tudo o que você quiser.

─ Você irá? ─ Era uma fantasia, uma fantasia doentia e distorcida


que fazia meus joelhos fracos e minha cabeça enevoada. ─ Você promete?

Ele não respondeu. Em vez disso, ele gentilmente passou o braço


em volta dos meus quadris e me puxou contra ele. O primeiro toque de
seus lábios nos meus foi um choque, despertando uma necessidade
profunda dentro de mim que ameaçava me matar com sua intensidade.
Murmurei contra seus lábios, mas ele me calou, me beijando
profundamente. Meu coração estava batendo, alarmes soando na minha
cabeça enquanto ele aprofundava o beijo, reivindicando o que ele pensava
ser dele.

Eu deveria ter me afastado, e ele nunca deveria ter me beijado. Mas


nenhum de nós parou.

Finalmente, um movimento do outro lado da porta fez nós nos


separarmos. Desviei o olhar com culpa, sentindo Milo me encarando. As
faíscas ainda estavam voando e fogos de artifício disparavam na boca do
meu estômago.

─ Eu vou desistir do meu lugar em Eastvale ─ ele sussurrou. ─ E


eu serei tudo para você, porque você já é minha...

─ Eu não quero seu lugar. ─ Eu usei toda a minha força para


afastá-lo, olhando para ele. ─ Por que você acha que eu preciso da sua
caridade?

─ O quê? ─ Ele olhou para mim, obviamente confuso. ─ Eu só estou


tentando lhe dar o que você quer, princesa.

─ Eu te disse. Não me chame assim. Eu não gosto mais disso.

BETTI ROSEWOOD
Eu sabia que o machucara antes que seus olhos se tornassem
duros e cruéis. Mas eu ainda não esperava que as palavras que ele diria
a seguir fossem tão profundas quanto foram. ─ Tudo bem. Sabe, eu
nunca acreditei nas pessoas quando me disseram que puta você se
transformou. Eu sempre a defendia. Isso termina hoje. ─ Seus olhos
estavam cheios de desprezo quando ele se virou. ─ Continue vivendo seu
pequeno conto de fadas perfeito. Apenas não me ligue quando tudo
desmoronar.

─ Não vai ─ eu gritei enquanto ele se afastava.

─ Você está construindo castelos no ar ─ ele sorriu. ─ O que mais


vai acontecer?

Ele me deixou ali, fechando a porta firmemente atrás dele. Parecia


que o primeiro castelo já havia caído, me fazendo sentir mais vazia do
que nunca. Um castelo abaixo... Quantos faltam?

BETTI ROSEWOOD
10
DATA: 12 DE SETEMBRO DE 2019 – 18:47H

LOCAL: ACADEMIA WILDWOOD

MILO

─ Ei ─ eu chamei meu irmão. ─ Onde está o Finn?

─ Bem aqui. ─ Uma figura vestida com jaqueta de couro apareceu


debaixo das arquibancadas, apagando um cigarro no gramado embaixo
de suas botas militares cravejadas.

─ Isso é ruim para o gramado ─ Natan gemeu.

Finn deu a ele um olhar que dizia, eu não me importo e acendeu


outro cigarro. Olhei em volta e passei a mão pelo meu cabelo. ─ Vocês...
viram alguém?

─ Não ─ Finn deu de ombros. ─ Estou aqui há um tempo também.


Ninguém à vista.

─ Estranho ─ eu murmurei.

─ Encontrei alguma coisa ─ Natan murmurou, puxando um pedaço


de papel. Tirei-o das mãos dele e Finn, me concentrando na escrita
impressa na página.

Pague ou então... Outros dez mil. Semana que vem. Deixe como
da última vez.

─ Merda ─ eu murmurei.

─ Isso mesmo, merda ─ Finn gemeu. ─ Onde diabos vamos


conseguir outros dez mil?

BETTI ROSEWOOD
─ Poderíamos pedir a Crispin ─ sugeriu Natan.

─ Ele não faz mais parte dos Lords. ─ Esfreguei a ponta do meu
nariz. ─ Porra. Como diabos isso aconteceu? Estamos sendo
chantageados? De novo?

─ Precisamos encontrar um substituto para Crispin ─ ponderou


Nate. ─ Alguém rico.

─ Ei, talvez você deva perguntar à senhorita rainha do baile, ─ Finn


riu.

─ Isso é de alguma forma engraçado para você? ─ Eu assobiei para


ele.

─ O quê? Ela é rica ─ ele deu de ombros. ─ Ela não sentiria falta
desses dez mil, e isso poderia nos livrar de problemas.

─ Não podemos continuar pagando a essa pessoa ─ Nate


murmurou. ─ Quero dizer, chegaremos a vinte e cinco mil quando
pagarmos essa rodada.

─ Você tem uma ideia melhor? ─ Os dois ficaram quietos e revirei


os olhos. ─ Foi o que pensei.

Sentamos na arquibancada e Finn rolou um baseado em silêncio,


passando entre nós três. Dei tragos longos e profundos da erva, enchendo
meus pulmões de fumaça e rezando para que a nebulosidade familiar
assumisse o mais rápido possível. Normalmente, eu não me deixava fazer
merdas como essa, mas a carta significava que estávamos na merda. A
sala de bate-papo já havia sido comprometida, mas agora parecia que a
escola também não era segura, já que nosso chantagista claramente
tinha acesso ao local.

BETTI ROSEWOOD
─ Você já ouviu falar de Crispin? ─ Eu perguntei a Nate, e ele
assentiu. ─ Ele está gostando de Eastvale?

─ Ele adora, ─ meu irmão assentiu. ─ Disse que ele terminou esse
drama do ensino médio. Ele até disse que deveríamos... você sabe. Dizer
a verdade sobre aquela noite.

─ Fácil para ele dizer ─ eu murmurei. ─ Ele mal estava envolvido.

─ Eu estava pensando sobre isso ─ admitiu Nate.

─ Dizer a verdade? ─ Finn ergueu as sobrancelhas, assobiando. ─


Conte-me, porra.

─ Você não pode falar tudo sem foder com todos nós ─ eu disse a
Natan. ─ E você não quer fazer isso, não é?

─ Qual é ! ─ meu irmão gemeu. ─ Em quantos problemas


entraremos?

─ Eu realmente não quero descobrir ─ eu murmurei, voltando


minha atenção para Finn. ─ Como vão as coisas com sua garota? Ela
percebeu que você ainda está perseguindo ela?

─ Não é perseguição. ─ Ele deu uma tragada no baseado antes de


passá-lo para o meu irmão. ─ É só... garantir que eu esteja no mesmo
lugar que ela.

─ Certo.

─ Certo.

─ Cale a boca, como se vocês dois fossem o epítome da honestidade.


─ Finn soprou fumaça em nossos rostos. ─ Enfim... e Estella?

─ O que tem ela? ─ Nate e eu respondemos em uníssono


novamente, depois trocamos olhares.

BETTI ROSEWOOD
─ Porra, temos que parar de fazer isso ─ eu ri.

─ Estella está bem ─ respondeu Natan, me dando um olhar


estranho. ─ Você sabe, o de sempre.

Eu sabia que estava longe da verdade, mas mordi minha língua.

─ E essa garota Andrômeda? ─ Eu perguntei a Finn. ─ Ela vai ser


problema?

─ Além do fato de ser a irmã de Pandora ─ disse ele ─ não vejo


problema. Ela parece bem mansa agora que Tins se foi.

─ Você ainda sai com ela? ─ Nate perguntou, e nosso amigo


assentiu. ─ Legal. Ela é muito fofa.

─ Ela é gostosa, sim ─ Finn assentiu.

─ A garota peculiar? ─ Eles assentiram. ─ Sim, ela é legal.

─ Pelo menos concordamos em uma coisa ─ disse Finn, esmagando


o baseado sob sua bota.

─ Eu ainda não sei o que você vê... ─ Nate começou, mas Finn o
interrompeu.

─ Tenho que ir ─ disse ele. ─ Vejo vocês mais tarde. Tentem


encontrar algumas maneiras de reunir o dinheiro.

Nós acenamos para ele, permanecendo no campo por mais um


tempo.

─ Você realmente acha que Andie é fofa? ─ Eu perguntei a Nate.

─ O quê? ─ Ele franziu as sobrancelhas para mim. ─ Ah, sim. Ela


é, não é? ─ Um sorriso pateta tomou conta de seu rosto.

─ Cristo. Você tem uma queda por ela ou algo assim?

BETTI ROSEWOOD
─ O quê? ─ Ele empalideceu. ─ Claro que não, não seja ridículo.
E... pelo amor de Deus, não mencione isso para Estella. Ela odeia aquela
garota.

─ Meus lábios estão fechados ─ me vi dizendo. Parece que estou


repetindo muito essa frase ultimamente. ─ Eu tenho que ir.

─ Encontro quente? Harlem?

─ Não ─ Eu sorri para ele. ─ Senhorita James.

─ Filho da puta sortudo ─ meu irmão gemeu. ─ Quero os detalhes


completos mais tarde. Incluindo o que ela estava vestindo e a aparência
de seus seios. Sutiã ou sem sutiã. Esteja atento.

─ Alerta de pervertido ─ gritei por cima do ombro enquanto me


afastava, balançando a cabeça.

Lá fora, o sol estava se pondo, colorindo o céu na cor de amêndoas


torradas. Parei na entrada da casa da senhorita James e a encontrei
esperando na varanda de sua casa suburbana. Ela estava usando um
vestido floral verde que a fazia parecer muito mais jovem, talvez até a
minha idade, e ela estava descalça. Seus cabelos ruivos caíam pelas
costas em ondas, e ela usava um par de óculos de sol com estampa de
leopardo no topo da cabeça. Os padrões se chocavam, e isso me fez sorrir.

─ Pensei que você estivesse me dando o bolo ─ ela gritou quando


eu saí do meu carro.

─ De jeito nenhum ─ respondi. ─ Só me atrasei um pouco fazendo


outra coisa.

BETTI ROSEWOOD
Ela me olhou, brincando, perguntou: ─ Algo que eu deveria me
preocupar? ─ Quando desviei o olhar, sua expressão vacilou e ela
pigarreou, mudando de assunto. ─ Você quer uma bebida gelada
primeiro? Está tão quente hoje.

─ Eu adoraria um chá gelado ─ respondi, abrindo a mala do meu


carro. ─ Esvaziei isso para que tivéssemos espaço de sobra para
transportar tudo. Você está se mudando para longe?

─ Algumas ruas daqui. ─ Ela pegou um copo de chá para mim e


tomei vários goles agradecidos pelo líquido doce. ─ Muito obrigada
novamente por fazer isso, Milo. Eu sei que é um pouco... estranho.

─ Não, se não deixarmos as coisas estranhas. Agora, deixe-me


começar a pegar suas caixas. ─ Ela me levou para a varanda onde todas
as suas coisas estavam alinhadas. Choveu alguns dias antes e notei que
algumas das caixas estavam ensopadas. ─ Merda, o que aconteceu aqui?

Ela olhou para mim nervosamente. ─ Nada, eu acidentalmente


deixei algumas lá fora.

─ Elas estão encharcadas. Você acabou se esquecendo de todas?

─ Sim ─ ela sussurrou.

─ Senhorita James... você está bem? ─ Minhas sobrancelhas se


uniram em preocupação.

─ Claro, por quê?

─ Bem, você não parece muito bem. Você dormiu nesta casa? ─ Fiz
um gesto para a casa atrás de nós. ─ Ou em outro lugar?

─ Eu não tenho permissão para dormir aqui ─ ela murmurou. ─


Eu... eu dormi no meu carro nos últimos dias.

BETTI ROSEWOOD
─ Caramba ─ eu murmurei. ─ Mas você está se mudando para a
nova casa hoje?

Ela assentiu. ─ Por favor, não conte a ninguém sobre isso: é tão
embaraçoso.

─ Os meus lábios estão selados. ─ Parecia ser o meu mais novo


bordão.

Depositei caixa após caixa no porta-malas do meu carro, enquanto


me perguntava que tipo de idiota o ex-namorado dela era para deixá-la
deslizar por entre os dedos. Sem mencionar a coisa toda dormindo no
carro dela. Que tipo de idiota faz isso com uma mulher?

─ Ah, quase esqueci ─ gritei. ─ Isso é potencialmente estranho,


mas... meus pais fizeram uma caçarola para você. ─ Peguei um prato
coberto com papel alumínio. ─ Dependendo do pai que a fez, está
deliciosa ou intragável. ─ Eu ofereci a ela um olhar de desculpas. ─
Aproveite.

─ Isso é tão querido. ─ Ela riu, mas o som era desconfortável. ─


Você disse aos seus pais que estava me ajudando?

─ Sim ─ eu dei de ombros. ─ Eu digo a eles quase tudo.

Carregamos meu carro e, quando colocamos tudo lá dentro, eu


estava ficando com calor, então tirei minha camisa e limpei minha testa
com ela. Eu podia sentir gotas de suor escorrendo pelas minhas costas,
reunindo-se nas cavidades acima da minha bunda. Olhando para a
senhorita James, eu sorri quando a vi olhando. Mesmo que não tivesse
sido minha intenção, era lisonjeiro como o inferno.

─ Outra bebida? ─ ela perguntou, e eu assenti. Ela trouxe outro


copo e eu tomei tudo em um gole só.

BETTI ROSEWOOD
─ Isso é uma dádiva de Deus ─ eu disse a ela. ─ Você faz um ótimo
chá gelado, senhorita James.

─ Ah ─ ela riu nervosamente. ─ Você deveria me chamar de Jenny


Mae.

─ Jenny Mae? ─ Eu repeti. ─ Mesmo na escola?

─ Talvez não lá. ─ Ela mordeu o lábio inferior. ─ Você precisa de


uma toalha ou algo assim?

─ Eu vou usar isso ─ eu disse, puxando a toalha do chá que ela


tinha amarrada no cinto do vestido e usando-a para limpar meus lábios.
Ela olhou para mim, aparentemente hipnotizada antes de voltar um
momento depois.

─ Milo, eu odeio perguntar isso... ─ Ela estava mordendo o lábio


inferior. ─ Mas eu tenho que devolver minhas chaves para o meu ex e
estou muito nervosa. Você pode esperar comigo?

─ Claro ─ eu concordei. A situação era além de embaraçosa, mas


eu não podia simplesmente dizer não.

Ela olhou por cima do meu ombro e engoliu em seco. ─ Merda. É


ele agora. Parece que ele está adiantado.

Um Benz entrou na entrada da garagem, um forte contraste tanto


com o meu carro quanto com a casa atrás de nós. Quem quer que fosse
o namorado da Srta. James, ele se importava mais com o carro do que
onde ele morava. Para algumas pessoas, realmente é tudo sobre
aparências.

O carro parou e um cara com óculos de sol rosa reflexivo saiu do


banco do motorista. Depois que eu o olhei melhor, meu queixo caiu. ─
Sr. Cabot?

BETTI ROSEWOOD
─ Milo Earnshaw? ─ Ele empurrou os óculos de sol pela ponta do
nariz, confirmando que ele era realmente o professor de inglês de
Wildwood. ─ Bem, eu não posso acreditar. O que, estamos envolvendo
estudantes agora, Jenny?

─ Cale a boca, Trevor ─ senhorita James ─ Jenny Mae ─


murmurou. ─ Ele está me ajudando na mudança. Aqui estão suas chaves
de volta.

─ Uau, legal ─ ele sorriu, puxando as chaves dos dedos dela. Ele se
virou para mim, piscando enquanto me cutucava. ─ Ei, o que é preciso
para você fazer isso, garoto? Boquete rápido? Ou ela deixa você ir até o
fim?

─ Trevor! ─ Jenny Mae sibilou.

─ Só imaginando ─ o Sr. Cabot piscou para mim. ─ Agora saiam do


meu gramado. ─ O lábio inferior de Jenny Mae tremeu quando ela
atravessou a grama para ficar ao meu lado. ─ Ei, prostituta. Você
esqueceu os saltos de vagabunda.

Olhei para cima e vi o Sr. Cabot jogando um par de saltos de tiras


para nós. Eles bateram no ombro de Jenny Mae, e ela estremeceu. Uma
imagem do rosto bonito e machucado de Estella passou pela minha
cabeça, e eu vi vermelho. Em vários passos, cheguei ao Sr. Cabot e o
agarrei pelo colarinho.

─ Você, peça desculpas a ela agora ─ eu rosnei para ele.

─ Acalme-se, garoto ─ ele sussurrou. ─ Jesus, saia de cima de mim.

─ Milo, por favor ─ Jenny Mae implorou. ─ Ele não vale a pena.

Eu o solto, olhando para a minha professora.

─ Sim ─ ele sorriu. ─ Não que você aguente, de qualquer maneira.

BETTI ROSEWOOD
Eu nunca fui do tipo que briga, mas esse cara apertou todos os
botões certos. Meu punho bateu contra o lado de seu rosto, fazendo-o
voar até que ele atingiu sua própria casa em ruínas.

─ Vamos ─ eu rosnei para Jenny Mae, e ela sem palavras me seguiu


até o meu carro. Não esperei que o Sr. Cabot se levantasse, acabei de sair
da garagem e dirigi-me para sua nova casa enquanto ela me dava o
endereço com uma voz trêmula e chocada.

Quando chegamos à sua casa, ela me convidou para jantar, e eu


aceitei. Eu nem tinha certeza se estava fazendo isso apenas para ser
educado. Eu também gostei de olhar para Jenny Mae. Especialmente
naquele vestido verde.

Ela nos serviu a caçarola que meus pais haviam feito e, felizmente,
estava deliciosa. Jenny Mae tomou uma taça de vinho no jantar, mas
fiquei com o chá gelado. A nova casa dela era um pouco mais velha, mas
mais agradável que a do Sr. Cabot, e eu contei isso a ela.

─ Obrigada ─ ela disse com um sorriso radiante. ─ Estou tão feliz


por estar fora daquele lugar terrível. Nunca me senti em casa lá.

─ Eu não culpo você ─ eu admiti. ─ E se o Sr. Cabot alguma vez a


incomodar na escola, você me diz ou a meu irmão.

─ Natan? ─ Ela riu, balançando a cabeça. ─ Não, eu não confio nele


como em você, Milo.

─ Você confia em mim?

Ela assentiu. ─ Por que não? Você não foi nada além de legal
comigo.

─ Alguns podem dizer que é um pouco ingênuo confiar em um


estranho ─ sorri.

BETTI ROSEWOOD
─ Isso foi o que me causou problemas com Trevor, para ser justa.
─ Ela fez uma careta.

─ Bem, eu prometo que não sou como esse cara. ─ Mais uma vez,
a lembrança do rosto de Estella me fez desviar o olhar, a preocupação
vincando minha testa.

─ Tudo certo? ─ Jenny Mae perguntou.

─ Sim ─ eu murmurei. ─ Só estou preocupado com uma amiga. Ela


está tendo alguns problemas.

─ Que tipo?

─ Pai abusivo, esse tipo ─ eu murmurei, e ela franziu as


sobrancelhas.

─ Isso é terrível, Milo. Alguma coisa que eu possa fazer para ajudar?

─ Ainda não ─ eu admiti. ─ Mas eu vou manter isso em mente.


Obrigado. Significa muito.

─ De nada. ─ Ela estendeu a mão sobre a mesa para tocar minha


mão e senti uma faísca acender entre nós. Nós trocamos olhares, e ela
mordeu o lábio inferior novamente. ─ Desculpe... eu realmente não
deveria.

─ Você pode. ─ Minha voz era suave, gentil. ─ Você deve.

Ela balançou a cabeça, mas não moveu a mão. ─ Realmente não


acho que seja uma boa ideia...

─ Não é uma boa ideia, mas isso não significa que não seja bom. ─
Eu podia ouvir meu coração batendo forte no meu peito. Meus
pensamentos estavam nadando com Estella. Eu estou fazendo tudo isso
para machucá-la?

BETTI ROSEWOOD
─ Nós não deveríamos estar fazendo isso.

─ Então se afaste. Podemos parar agora. Finja que nada aconteceu.

─ Eu... não quero. ─ Seus olhos brilhavam na semiescuridão. ─


Você quer que eu te toque? ─ ela sussurrou.

Quarto rosa. Coroa do baile. Aqueles olhos magoados e bonitos


acima de uma bochecha machucada. Os fragmentos de pensamentos
encheram minha mente, e eu pisquei para tirar os pensamentos.

─ Talvez ─ eu admiti. ─ Tente e veja o que acontece.

Um entendimento passou entre nós, então, e eu sabia que ela iria


fazer isso. Ela puxou a cadeira para mais perto e seus dedos seguiram
meu braço, meu ombro e meu peito.

─ Mais baixo ─ eu gemi. Seus dedos estavam tremendo quando eles


subiram no meu peito. ─ Mais baixo.

─ Onde, Milo?

─ Você sabe onde. ─ Fechei os olhos, coloquei as mãos atrás das


costas e recostei-me. ─ Você sabe exatamente onde.

Ela continuou, dolorosamente devagar. Finalmente, as pontas dos


dedos alcançaram o cós da minha calça jeans e ela brincou com a fivela
do meu cinto. Ela continuou se movendo, e um momento depois, ela
colocou a palma da mão em volta do meu pau endurecido. ─ Aqui?

─ Bem aí ─ eu gemi. ─ É isso, senhorita James. Não pare...

BETTI ROSEWOOD
11
DATA: 12 DE SETEMBRO DE 2019 – 23H

LOCAL: CASA DA ESTELLA

ESTELLA

─ Pssst, Stells. Acorde. Vamos lá, eu não tenho o dia todo.

Eu gemi, jogando e virando na minha cama até que meus olhos


finalmente se abriram. Romilly estava sentada na beira da minha cama,
sorrindo largamente. ─ Ugh, o que você quer? ─ Eu gemi. ─ É o meio da
noite.

─ São onze da noite ─ ela me disse. ─ O quê? Você vai dormir cedo
de repente? Levante-se!

─ Por quê? ─ Eu bocejei. ─ Você esqueceu que eu estou de castigo?

─ Não. ─ Ela sorriu maliciosamente. ─ Mas o que o papai não sabe


não vai machucá-la. Vamos. Tenho uma festa de influenciadores para ir.

Sentei-me na cama, esfregando meus olhos turvos. ─ Como eu vou


entrar? Não estou nem perto dos vinte e um.

─ Você entrará porque estará comigo ─ Romilly me assegurou. ─ E


eu acho que você merece um tratamento depois do jeito que o papai te
tratou. Agora vamos lá. Eu comprei uma roupa para você e tudo mais. ─
Ela puxou o edredom de cima de mim e eu bocejei novamente antes de
me levantar.

─ Sapatos, vestido... ─ disse ela, acenando para a pilha. ─ E eu vou


fazer sua maquiagem. Agora se apresse. ─ Não pude evitar o arrepio de
excitação que percorreu minha espinha. Tirei a roupa na frente da minha

BETTI ROSEWOOD
irmã, examinando o vestido vermelho sangue que ela me comprou. Era
curto e um número menor, então era apertado em todos os lugares certos,
e eu entrei no tecido sedoso com facilidade. ─ Não coloque os sapatos
ainda, ainda temos que descer da sua janela.

Eu ri e assenti em concordância. ─ Parece que você elaborou todo


o plano.

Ela me sentou na frente do meu espelho de maquiagem rosa e


começou a trabalhar no meu rosto. Levou apenas dez minutos, mas
quando me olhei, pude ver que ela praticamente me transformou. Eu
estava bonita, apesar do machucado na minha bochecha, que quase não
era visível sob as camadas de corretivo em que minha irmã o afogou. Ela
pintou meus lábios com um batom vermelho cereja e acrescentou
delineador preto e rímel nos olhos. Eu parecia mais velha. Mais
experiente.

─ Vamos lá ─ ela fez um gesto, pegando nossos sapatos com uma


mão. ─ Precisamos sair, rapidamente. ─ Eu a segui até a janela, olhando
ceticamente para os galhos do carvalho do lado de fora do meu quarto.
Ela deslizou sobre a grade sem nenhum problema, estendendo a mão
para mim. ─ Vamos, gata assustada. Eu tenho você.

Excitação inundou meu estômago, e eu percebi que queria fazer


isso. Pela primeira vez, eu queria esquecer minha vida miserável e me
divertir. Estendi a mão para a dela e a deixei me puxar para os galhos da
velha árvore. Estávamos rindo baixinho quando descemos a escada que
a família anterior que morava aqui havia colocado na árvore para seus
filhos. Em instantes, estávamos no chão, correndo pela esquina para
onde o Land Rover de Romilly estava estacionado. Entramos no carro e
antes que eu conseguisse fechar a porta do carro, ela já estava saindo.

─ Onde fica essa festa, afinal? ─ perguntei a ela no caminho.

BETTI ROSEWOOD
─ Downtown. Você vai adorar. ─ Ela sorriu para mim se
desculpando. ─ Apenas uma maneira de compensar o que papai fez. Eu
gostaria de poder tê-lo parado.

─ Eu não acho que alguém poderia ter feito isso ─ eu admiti.

─ Nós vamos ─ ela me assegurou. ─ Encontraremos uma maneira


de escaparmos nós três. Como foi a visita a abuelita?

─ Boa. Ela nos disse algo que poderia ser interessante... ─ Comecei
a explicar a conversa que abuela ouviu pelo telefone do papai.

─ Hmm. Você deveria colocar Milo nisso ─ sugeriu Romilly.

─ O que você quer dizer?

─ Ele não é um tipo de gênio da tecnologia? ─ ela perguntou, e eu


dei de ombros sem compromisso. ─ Bem, acho que você deveria pedir a
ele para descobrir o que isso significa. Se descobrirmos algumas
discrepâncias nos negócios do papai, pelo menos teremos alguma
influência.

─ Não quero contar com a ajuda de Milo ─ admiti.

─ Ele ofereceu?

─ Sim.

─ Então aceite! ─ Romilly me aconselhou. ─ Confie em mim. Todo


mundo precisa de ajuda de vez em quando. Isso não a torna menos se
você aceitar. E nós duas sabemos que o garoto Earnshaw faria qualquer
coisa por você. ─ Ela piscou para mim, mas não deu mais detalhes, e
fiquei agradecida por isso. A última coisa que eu precisava era lembrar
que eu tinha escolhido o garoto errado. E que aquele que eu realmente
queria provavelmente me odiava, e foi tudo culpa minha.

BETTI ROSEWOOD
Nesse momento, chegamos a uma movimentada rua no centro da
cidade. Romilly deixou o manobrista pegar o carro dela depois de
calçarmos os sapatos e sorriu para mim. ─ Vamos, irmãzinha. Hora de
se divertir.

Eu a segui até a porta, onde o segurança mal olhou para mim antes
de abrir a corda vermelha que separava os meros mortais da entrada do
bar. Romilly piscou para mim, me agarrando pela mão e me puxando
para dentro do prédio. Era um mundo diferente lá dentro, com luzes
esmaecidas e música tocando no volume perfeito e íntimo. O lugar era
enorme e lotado. Romilly foi direto para o bar, onde pediu um mojito e
uma pina colada virgem para mim, me dando um olhar rigoroso.

─ Não beba. E eu falo sério.

─ Tudo bem ─ murmurei, aceitando minha bebida deliciosa e


dando um longo gole pelo canudo de metal. ─ Ei, mana. Obrigado por me
trazer hoje à noite.

─ De nada. ─ Ela bateu seu quadril contra o meu. ─ Eu pensei que


você poderia precisar de uma distração.

Não é essa a verdade. Ela me guiou até suas amigas sentadas no


canto e as apresentou uma após a outra. Os rostos e nomes se
misturaram. Elas eram todas bonitas, ridiculamente ricas e enfeitadas
com nomes de marcas da cabeça aos pés. Assim que Romilly chegou, elas
a receberam com gritos e abraços. Fui aceita imediatamente, apenas por
ser sua irmã. Isso me fez olhar para ela com admiração. Ela sempre foi
uma durona, mas aqui fora, ela era uma rainha durona, não uma serva
como todas nós éramos em casa. Servas eternas, temendo a ira do papai
a cada segundo do dia.

Depois de uma hora com as amigas de Romilly conversando, fiquei


entediada. Fui até o bar depois de terminar minha bebida, sentindo

BETTI ROSEWOOD
vários pares de olhos me seguindo. Eu endireitei minhas costas, empurrei
meus peitos e bunda e bati meus cílios no barman. Ele nem pediu minha
identidade, apenas deslizou uma piña colada regular pelo balcão para
mim. Eu me acomodei no banco do bar, bebendo a cena diante de mim.
Romilly desapareceu há um tempo atrás com um cara bonito, mas não
antes de me lançar olhares de advertência que eu tinha escolhido ignorar.
Uma bebida não vai machucar ninguém. Nem a segunda, nem a terceira...

─ Qual é o seu veneno de escolha hoje à noite? ─ Eu me virei para


o bar, meus olhos bebendo no belo estranho que havia falado comigo. Ele
era mais velho em pelo menos dez anos, com cabelos castanhos claros e
grossos e olhos castanhos escuros. Ele se elevou sobre mim, mesmo
sentado, e senti um arrepio no estômago enquanto ele sorria para mim.

─ Pina colada ─ eu disse, apontando para a minha bebida.

─ Ah ─ ele riu. ─ O sinal revelador de que é uma garota muito jovem


para estar em um lugar como esse a essa hora da noite.

─ Você vai me entregar? ─ A preocupação torceu meu estômago em


nós, mas o homem apenas balançou a cabeça, sorrindo para mim.

─ Agora, qual seria a graça nisso, bonita? ─ Mexi minha bebida,


mantendo meus olhos focados nele enquanto tomava outro gole. ─
Embora eu ache um pouco chocante ─ e quase criminoso ─ você estar
tomando um coquetel insignificante.

─ Eu gosto disso.

─ Você vai gostar mais disso. ─ Ele empurrou minha bebida e fez
sinal para o barman aparecer. Eu tive que esperar para pedir minha
bebida, mas o homem chamou atenção e não precisou esperar mais do
que alguns segundos. ─ Um rum e coca-cola para a dama e rum com gelo
para mim. Você é o melhor. Nada dessa besteira de capitão Morgan.

BETTI ROSEWOOD
Eu ri enquanto o barman preparava nossas bebidas, examinando
o estranho pelo canto do olho. ─ Você parece conhecer o seu álcool.

─ Faz parte do trabalho.

─ O que você faz?

─ Eu administro este lugar. É a empresa do meu pai e eu sou dono


da cadeia. Este é o nosso terceiro clube no estado.

─ Isso é incrível! ─ Aceitei a bebida do barman e tomei um longo


gole. O álcool estava definitivamente mais forte nesta bebida, indo direto
para a minha cabeça. ─ Oh meu Deus, e assim é. Tão bom.

─ Estou feliz que você aprove. ─ Ele girou o líquido âmbar em seu
próprio copo, olhando apreciativamente minha roupa antes de tomar um
longo gole. ─ Você parece muito deliciosa também. Alguém já provou?

─ Eu... Err. ─ Eu ri nervosamente. ─ Não é bem assim. Estou aqui


com minha irmã.

─ Eu entendi. ─ Seus olhos ainda estavam me absorvendo, e pelo


jeito que ele olhou para mim, pensei que ele definitivamente gostasse do
que viu. ─ Quem é sua irmã, bonita?

─ Romilly. ─ Coloquei meu copo de volta no chão. ─ Ela usa


Hernandez, mas nosso sobrenome é Hawthorne.

─ Tenho certeza de que há uma história por trás disso.

─ Há ─ eu suspirei. ─ Mas prefiro não falar sobre isso agora, se


você não se importa.

─ Claro. Há muitas outras coisas que eu prefiro discutir com você.


Por exemplo, qual é esse perfume delicioso que você está usando?

BETTI ROSEWOOD
Pensei em Romilly me arrastando para fora do meu quarto. ─ Eu
não estou usando nenhum...

─ Perfeito. ─ Seus olhos brilhavam com travessuras. ─ É você


então. Apenas o que eu queria ouvir.

Eu procurei na minha bolsa o meu telefone antigo, de repente


corada de vergonha. Ele era tão direto, nada como os garotos de
Wildwood, e definitivamente nada como Natan. Ou Milo, para esse
assunto. ─ Desculpe, apenas para verificar se alguém me ligou. ─ Eu
olhei para a tela vazia, fingindo ver algo lá.

─ Então, qual é o seu nome, bonita? ─ o homem perguntou. ─ Fui


incrivelmente rude e nem me apresentei adequadamente ainda. Meu
nome é Harlan.

─ Estella ─ eu chiei, me odiando pela óbvia insegurança em minha


voz. Eu estava acostumada a interagir com estudantes do ensino médio,
mas esse era um jogo completamente diferente. ─ Estella Hawthorne.

─ Prazer em conhecê-la. É um nome tão bonito também. Tão


perfeitamente adequado.

Corei quando ele bebeu sua bebida e segui o exemplo, terminando


a minha também. Ele me deu um olhar apreciativo enquanto fazia sinal
para o garçom nos trazer mais. Meus olhos examinaram a multidão e se
estabeleceram em uma figura que estava olhando diretamente para mim.
Romilly. ─ Acho que minha irmã está me procurando. Você se importaria
se eu corresse e falasse com ela por um segundo?

─ Você não precisa ─ ele me disse. ─ Se isso for sobre você ir


embora, eu vou garantir que você volte bem.

─ Eu... Hum, ela é minha carona ─ murmurei desconfortavelmente.

BETTI ROSEWOOD
─ Não se preocupe com isso. ─ Ele acenou com a mão com desdém
no ar. ─ Vou garantir que tudo corra bem. Apenas fique comigo…

Deslizei da cadeira, dando-lhe um olhar de desculpas. ─ Vou


demorar apenas um segundo.

─ Tudo bem, se você precisa.

Deixei-o sentado perto do bar e corri para onde minha irmã estava
parada na área VIP. Seus braços estavam cruzados e ela parecia
preocupada, sibilando para mim quando me aproximei. ─ Você tem
alguma ideia de com quem está falando?

─ Harlan? ─ Eu perguntei, olhando por cima do ombro. Os olhos


do homem estavam colados em mim, seguindo todos os meus passos. ─
Sim, acabamos de nos conhecer... acho que ele é o dono desse lugar.

─ Porra, ele é. ─ Romilly assentiu. ─ E ele é o motivo de eu estar


aqui esta noite também, já que ele pagou para eu vir. Não me estrague
tudo, Stells.

─ Eu não estava... ─ me defendi. ─ Eu estava falando com ele. Além


disso, ele se aproximou de mim, e não o contrário.

─ Essa é a outra coisa. ─ Romilly me puxou para mais perto para


sussurrar no meu ouvido. ─ Eu ouvi dizer que esse cara é um idiota.
Fique longe dele.

Lancei outro olhar por cima do ombro e encontrei Harlan aceitando


nossas bebidas do barman. ─ Eita, dá pra você se acalmar? Ele não tem
sido nada além de educado desde que começamos a conversar.

─ Confie em mim, Stells. ─ Romilly me pegou pelos ombros. ─ Caras


como ele estão atrás de uma coisa, e é algo que você não deve dar a ele.
Você sabe o que eu quero dizer?

BETTI ROSEWOOD
─ Eu acho que o bar inteiro sabe o que você quer dizer ─ eu
murmurei. ─ Tudo bem, Romilly, tanto faz.

─ Estella. ─ Ela fez sinal para eu olhar para trás. Olhei para trás a
tempo de ver Harlan misturando minha bebida com um canudo de metal.
─ Por que você acha que ele está misturando sua bebida?

─ Provavelmente para que esteja gelada quando eu voltar? ─ Dei de


ombros. ─ O que isso importa mesmo?

─ Ele está fazendo isso porque colocou algo lá ─ Romilly assobiou.


─ Deus, eu não deveria ter trazido você aqui. ─ Ela remexeu na bolsa e
tirou uma nota de cem dólares. ─ Aqui, para o seu táxi para casa.

─ Por quê? ─ Franzi minhas sobrancelhas. ─ Onde você vai?

Ela teve a decência de corar antes de apontar para o grupo de


amigos atrás dela. ─ Estou saindo com meus amigos.

─ Uau. ─ Engoli a pílula amarga de sua traição. ─ Muito divertida


nossa noite de irmãs, Romi.

─ Stells, você é jovem demais para vir conosco ─ ela insistiu. ─ E


eu também não quero que você fique com aquele cara, o tal do Harlan,
ok?

─ Tanto faz ─ eu murmurei, me sentindo mais excluída do que


nunca. ─ Pelo menos ele me trata como uma adulta.

─ Exatamente ─ minha irmã suspirou. ─ E ele não deveria, porque


você tem dezessete anos. Eu nunca deveria ter trazido você aqui em
primeiro lugar. Promete que vai sair em breve, Stells?

Eu cerrei os dentes, odiando como ela estava me pressionando. ─


Seja como for, tudo bem, eu prometo. ─ Cruzei os dedos atrás das costas.

BETTI ROSEWOOD
Como diabos eu ia fazer o que ela pediu. Foi ela quem me trouxe aqui,
pelo menos. ─ Então você está indo embora?

─ Sim. ─ Ela beijou minha bochecha. ─ Não conte ao papai.

Revirei os olhos, mas ainda senti aquela reviravolta familiar no meu


estômago enquanto a observava acenar e sair. Ela me abandonou e isso
me fez sentir mais sozinha do que nunca.

Um momento depois, eu me virei e voltei para o bar. Harlan sorriu


largamente quando viu eu me aproximando. ─ Que bom ter você de volta,
linda. Por um momento, fiquei preocupado por ter perdido você.

─ Não, ainda não. ─ Eu sorri. ─ Minha irmã está indo para outro
lugar e, aparentemente, não fui convidada.

─ Ah é mesmo? ─ ele riu. ─ Bem, eu vou cuidar bem de você, linda.


Não precisa se preocupar.

Sentei-me no banquinho do bar e tirei meu telefone da bolsa mais


uma vez, murmurando um pedido de desculpas a Harlan. Ele parecia
irritado, mas me deu um breve aceno quando comecei a digitar um texto.

Estou no bar Heartbreak. Se eu não lhe enviar uma mensagem


de texto em uma hora, algo está errado.

Disparei o texto antes de voltar para Harlan e sorrir largamente. ─


Esta é a minha bebida?

─ Claro ─ ele assentiu. Eu estava imaginando o brilho nos olhos


dele quando peguei a bebida? Minha irmã estava certa sobre ele colocar
algo no meu copo? ─ O que você me diz de irmos para a sala VIP, Estella?

─ Claro ─ eu assenti, olhando a bebida novamente. Havia pequenos


pedaços flutuando no líquido, como poeira. — Deixe-me terminar minha
bebida.

BETTI ROSEWOOD
Meu coração estava batendo forte enquanto eu engolia tudo. Uma
voz na minha cabeça me lembrou que ninguém se importava com o que
acontecia comigo, de qualquer maneira. Nem Romi, nem meus pais, nem
mesmo meu namorado. O único que já cuidou de mim foi Milo, e ele nem
se deu ao trabalho de responder ao meu texto. Eu senti a necessidade de
me autodestruir. Arruinar tudo e mostrar às pessoas ao meu redor o
quanto elas me machucaram.

Coloquei o copo vazio no balcão e estendi a mão para Harlan. ─


Estou pronta.

BETTI ROSEWOOD
12
DATA: 12 DE SETEMBRO DE 2019 – 23H

LOCAL: CASA DA SRTA. JAMES.

MILO

─ Porra. ─ Mordi meu lábio inferior quando seus dedos envolveram


meu pau. Eu já estava latejando, sentindo minhas veias pulsarem com a
necessidade desesperada de ela puxar meu jeans e expor minha dureza.
Senhorita James lambeu os lábios, olhando para mim antes de deslizar
para o chão, de joelhos. Nesse momento, meu telefone vibrou e eu gemi,
pegando-o da mesa e olhando para a tela.

Estou no bar Heartbreak. Se eu não lhe enviar uma mensagem


de texto em uma hora, algo está errado.

─ Tudo certo? ─ A senhorita James perguntou sem fôlego, e eu


guardei meu telefone, fechando os olhos para bloquear tudo. Por que
Estella sempre tinha que sair da madeira quando as coisas finalmente
estavam indo para algum lugar? Era como se ela quisesse foder com a
minha cabeça.

─ Está tudo ótimo ─ eu gemi. ─ Continue, porra.

Ela não precisou ser avisada duas vezes. Seus dedos envolveram a
fivela do meu cinto, e ela desfez o zíper da minha calça depois, deslizando
sobre o contorno do meu pau sob o tecido. ─ Milo...

─ Continue ─ eu pedi a ela novamente. ─ Quero que você veja. Tire-


o.

Seus olhos se arregalaram quando ela puxou meu pau.


Campainhas de alarme estavam disparando na minha cabeça, mas eu as

BETTI ROSEWOOD
coloquei em segundo plano, fazendo o possível para ignorar as batidas no
meu peito. Mas eu não conseguia tirar Estella da cabeça.

─ Você é tão grande ─ a Srta. James sussurrou, olhando para mim


latejando na mão dela. ─ Porra, eu não sei se você vai caber dentro de
mim.

Uma necessidade desesperada de acionar os freios irrompeu em


minha mente, mas eu me senti congelado no local. Minha mente queria
que ela parasse, mas meu pau não, a julgar pela maneira como latejava
entre seus dedos delicados. Estella apareceu em minha mente mais uma
vez, me provocando com seus grandes olhos de boneca, seus lábios
carnudos se formando na forma do meu nome.

─ Eu tenho que ir. ─ Levantei-me e as mãos da senhorita James se


afastaram de mim como se ela tivesse sido queimada.

─ Por quê? ─ ela perguntou sem fôlego, os dedos demorando-se


sobre os cabelos ruivos, o peito corado. — Por favor, não saia agora,
Milo... eu sei que isso estava errado, tão errado.

Eu não comentei, apenas me fechei e peguei meu telefone da mesa.


─ Está tudo bem, senhorita James.

─ Eu disse para você me chamar...

─ Eu não posso te chamar assim ─ eu a interrompi, me encolhendo


com o quão cruel eu parecia. ─ Confie em mim, você é o sonho molhado
de todos em Wildwood, que ganha vida, mas eu... eu não posso.

─ É por causa de... ─ Ela corou. ─ Porque eu trabalho na sua


escola?

─ Não. ─ Fiz um gesto para o meu telefone. ─ Meu amigo está com
problemas.

BETTI ROSEWOOD
─ Ah. ─ Ela se levantou também, ajeitando o vestido. ─ Sinto muito,
Milo... Há algo que eu possa fazer para ajudar?

─ Está tudo bem ─ eu murmurei, indo para a porta. ─ Eu só preciso


sair daqui.

─ É Natan? ─ ela gritou atrás de mim, me fazendo parar no meu


caminho. ─ O amigo que está com problemas, é seu irmão?

─ Não. ─ Hesitei antes de dizer a verdade. ─ É a Estella.

─ Hawthorne? ─ Ela estreitou os olhos para mim. ─ Milo, por que


você está ajudando essa garota? Ela não fez nada por você.

─ Ela fez mais do que você imagina! ─ Eu a ataquei, me


arrependendo no mesmo instante e esfregando a ponta do meu nariz. ─
Olha. Eu sinto muito. Só sei que preciso sair agora.

Ela assentiu em silêncio e me seguiu até a porta. Eu não disse


outra palavra enquanto caminhava para o meu carro e saía da garagem
dela. Eu nem olhei para trás, mas algo me disse que ela me viu sair até
que meu carro não passasse de um ponto no horizonte.

O Heartbreak estava cheio e eu rapidamente percebi que me


destacava ─ e não de um jeito bom. Essas pessoas estavam vestidas com
roupas de grife e marcas, e parecia atrair uma multidão um pouco mais
velha que eu. Quando encontrei um lugar para estacionar na rua, eu
estava atormentado pela preocupação e meu coração estava disparando
um milhão de quilômetros por minuto enquanto eu caminhava até o

BETTI ROSEWOOD
segurança, um cara enorme com a cabeça raspada e um cavanhaque. Eu
tentei entrar, mas ele me parou com uma mão no meu ombro.

─ A fila está lá atrás, amigo ─ ele me disse com um sotaque


irlandês, me olhando com desconfiança. ─ Você tem certeza de que tem
idade suficiente para estar aqui?

─ Eu preciso entrar ─ eu disse a ele. ─ Minha amiga me enviou


uma mensagem e estou preocupado que ela esteja com problemas.

─ A taxa de entrada é duzentos e cinquenta. E eu preciso de uma


identificação.

─ Duzentos e cinquenta? Você está falando sério? ─ Eu olhei para


ele, mas o homem não se mexeu. Eu gemi, puxando minha carteira e
tirando notas de cem dólares. ─ Isso vai cuidar disso? Eu não tenho uma
identificação comigo.

Ele me olhou desconfiado. ─ Tenho a sensação de que você vai me


causar problemas, garoto. Você tem mais algumas destas?

Eu olhei para ele antes de dizer: ─ Não, mas vou ligar para todos
os membros da minha equipe de lacrosse e acabar com esse lugar se você
não me deixar entrar. Agora. Porra.

─ Relaxe com as ameaças ─ o segurança sibilou. ─ Estou apenas


tentando fazer meu trabalho aqui.

─ Bom, então você deve saber que essa garota tem dezessete anos
─ eu assobiei. ─ E se eu ─ ou os pais dela ─ descobrir que algo aconteceu
com ela em seu bar precioso, eles não só fecharão toda essa merda e o
culparão por isso, mas também será deportado. ─ Ele empalideceu. ─ Ah,
toquei uma corda, não é? Estou assumindo que seu visto expirou.

BETTI ROSEWOOD
─ Foda-se ─ o cara gemeu. ─ Está bem. Entre. Mas não se meta em
encrenca, garoto. E tente se misturar, pelo menos.

─ Certo. ─ Eu o empurrei para entrar no bar.

Música alta me envolveu instantaneamente. O chão do bar estava


pegajoso de bebidas derramadas, com pessoas se beijando em todos os
cantos. Analisei o local à procura de Estella, mas não a vi em lugar
nenhum. Dando uma volta, eu vi várias garotas que me lembravam ela,
mas nenhuma delas era minha Stells. A preocupação torceu meu
estômago enquanto eu continuava andando.

─ Ei, bonito ─ uma loira bêbada ronronou quando me aproximei do


bar. ─ Quer uma bebida?

─ Não, obrigado ─ eu murmurei em resposta. ─ Mas ei. Você viu


essa garota? ─ Percorri meu telefone até encontrar uma foto de Estella.

─ Ummm... o que é isso para você? ─ a loira riu. ─ Apenas deixe-a


e divirta-se comigo.

Eu gemi interiormente. ─ Pagarei uma rodada pra você e suas


amigas se você me disser para onde ela foi.

Seus olhos brilharam e ela apontou para a parte de trás do clube.


─ Ela foi lá para trás com Harlan.

─ Harlan? Quem diabos é Harlan? ─ Peguei mais uma nota de cem


e bati no bar.

─ Somente o dono deste lugar ─ a loira ronronou.─ Ele é tipo, muito


importante por aqui.

─ Aproveite suas bebidas ─ eu murmurei, sentindo seus olhos nas


minhas costas enquanto fazia meu caminho para onde ela havia
apontado.

BETTI ROSEWOOD
Havia um tapete dourado que levava às escadas a uma área
isolada. Eu me senti mal pensando no que Estella estava fazendo lá atrás.
Uma necessidade possessiva de jogá-la por cima do ombro e carregá-la
dali me alcançou quando parei na frente de dois guarda-costas com
expressões de pedra. Atrás deles, uma cortina brilhante separava o clube
do espaço privado. Os guardas bloquearam imediatamente meu caminho,
mas não foram rápidos o suficiente.

Uma música diferente estava tocando dentro do espaço, lenta e


sexy. Havia um sofá longo ali, e um homem estava sentado, pernas
abertas e uma bebida descansando em seu joelho. Na frente dele, uma
garota girou e dançou sensualmente ao som da música, puxando o
vestido cada vez mais enquanto se movia na frente do estranho. E ela não
era apenas uma garota estonteante. Ela era a minha mulher
deslumbrante.

─ Estella! ─ Gritei quando os dois seguranças desceram sobre mim.


─ Stells, por aqui!

Ela se virou para mim, e a preocupação se instalou na boca do meu


estômago com mais firmeza quando vi seus olhos vidrados. Ela estava
chapada ou bêbada com alguma coisa.

─ Stells, dê o fora daqui ─ eu gritei enquanto os dois homens


tentavam me forçar a sair dali. ─ Estou te levando para casa, princesa,
vamos lá, porra.

Lutei com os dois homens corpulentos e, um momento depois, ela


apareceu na porta, seguida pelo canalha que a assistia dançar.

─ Stells ─ eu implorei. ─ Vamos lá, precisamos sair daqui.

Ela estava linda de partir o coração naquela noite, e meu estômago


revirou ainda mais quando o cara colocou uma mão proprietária em volta
da cintura.

BETTI ROSEWOOD
─ Por que você está perturbando minha festa particular, garoto? ─
o homem gritou comigo. ─ A garota está aqui por sua própria vontade. O
que você é, um namorado ciumento?

─ Milo! ─ Estella riu, correndo até mim, ignorando completamente


os seguranças e se jogando em mim. ─ Senti sua falta. Eu sinto falta de
tudo. Sinto falta de castelos infláveis.

Eu gemi, mas a segurei. ─ Vamos tirar você daqui!

─ Onde diabos você pensa que está indo? ─ O homem de cabelos


claros ─ Harlan, presumi ─ apareceu na minha frente, olhando furioso.
─ Ela está comigo.

─ Olhe para ela ─ eu assobiei. ─ Ela está totalmente bêbada. Você


a embebedou?

─ Ela só tomou um drinque ─ o homem riu com desdém. ─ Não é


meu problema, ela é uma merda fraca. Agora saia.

─ Você não me diz o que fazer ─ eu disse. ─ Se vou embora, ela vem
comigo.

O homem passou a mão em volta do meu antebraço e eu olhei para


seus dedos grossos. Previsivelmente, havia uma aliança de casamento em
um deles, me fazendo balançar a cabeça e rir alto.

─ Você está interrompendo um evento privado ─ Harlan rosnou. ─


Vá. Embora. Agora. Porra.

─ E você está atacando uma garota de dezessete anos ─ eu cuspi


de volta. ─ Você quer que eu chame a polícia? Diga a eles que o dono do
bar Heartbreak é um molestador de crianças?

Ele empalideceu. ─ Ela não tem dezessete anos. Ela disse que tinha
dezoito anos.

BETTI ROSEWOOD
─ Sim, porque ela está em ótimo estado para dizer a verdade ─
cuspi. ─ Você deveria ter vergonha de si mesmo.

─ Veja como você está falando comigo.

─ Você deve seguir seu próprio conselho. ─ Eu arranquei meu braço


fora de seu alcance e ele se encolheu quando me aproximei dele, fazendo
sinal para que seus guardas me cortassem. ─ Faça isso de novo e eu
chamarei a polícia, seu pervertido.

─ Saia ─ ele rosnou. ─ Agora.

─ De bom grado. ─ Passei um braço em volta da cintura de Estella.


─ Diga adeus, Stells.

─ Adeus senhor maldito pervertido! ─ Stells riu bêbada.

Eles nos encararam, seus olhos disparando adagas enquanto


saímos do bar. Ninguém nos incomodou na saída e, momentos depois,
estávamos do lado de fora ao ar livre.

─ Eu peguei você, Stells ─ murmurei em seu ouvido enquanto a


carregava até o meu carro. ─ Não se preocupe, eu tenho você. ─ Ela
apoiou a cabeça no meu ombro, gemendo enquanto eu a fazia continuar
andando. ─ Você precisa me dizer o que fez, Stells. Você tomou alguma
coisa.

─ Não ─ ela soltou. ─ Apenas rum e coca-cola…

─ Alguma pílula? ─ Eu questionei. ─ Você fumou alguma coisa?

Ela balançou a cabeça, fazendo uma careta quando chegamos ao


meu carro e eu o destranquei. ─ Pílulas muito bonitas.

─ Que pílulas? ─ Ela olhou para mim sem entender. ─ Stells. Que
pílulas?

BETTI ROSEWOOD
─ Romi disse que havia uma ─ ela murmurou. ─ Na bebida ...

─ A bebida que ele te deu? ─ Eu questionei, e ela assentiu. Fúria


borbulhou na boca do meu estômago como um monstro furioso pronto
para atacar. Se ela não dependesse de mim, eu teria saído e transformado
o rosto do Harlan em uma polpa. ─ Você bebeu?

─ Tudo ─ ela sussurrou.

─ Precisamos levá-la a um hospital.

─ Não! ─ Ela me agarrou, me encarando com olhos cheios de


lágrimas. ─ Não, Milo, por favor... papai... descobrirá. ─ Ela parecia verde,
e eu gemi quando ela se inclinou e vomitou por toda a calçada.

─ Boa menina, Stells ─ eu disse a ela. ─ Se livre de tudo, você


precisa expulsá-la.

Eu sabia que tínhamos duas opções ─ ou eu a levaria para o


hospital, ou a fazia vomitar até que o pedaço de merda que havia colocado
em sua bebida tivesse deixado seu sistema. E tive a sensação de que
Estella não me deixaria fazer a primeira opção. Não queria que ela tivesse
problemas com o pai dela, não antes de termos certeza de que a família
dela estava segura. Mas eu também não poderia deixá-la sozinha.

─ Vamos lá ─ eu murmurei, abrindo a porta dos fundos. ─ Vamos


levá-la para casa.

Ajudei-a a entrar no carro, e ela deitou no banco de trás, gemendo


enquanto esfregava os olhos. Seu rosto estava manchado de rímel agora,
seu batom manchado. Cobri-a com o cobertor de piquenique que
mantinha no porta-malas e entrei no banco do motorista ─ respirei fundo,
desejando me acalmar. Eu não ajudaria se estivesse em pânico. Eu
precisava reunir minhas coisas e ajudá-la.

BETTI ROSEWOOD
─ Stells, vou levá-la para minha casa ─ eu disse a ela. Ela
murmurou algo que não consegui entender do banco de trás e começou
a roncar no segundo seguinte. Continuei dirigindo, mentalmente fazendo
algumas contas para ver quando estaríamos de volta. Era pelo menos
quinze minutos de carro até nossa casa.

Colocando o telefone no viva-voz, liguei para Natan. Eu não queria,


mas não sabia mais o que fazer. Além disso, ele ainda era o namorado
dela, embora eu tenha sido o único a salvá-la nas últimas vezes.

Ele atendeu, parecendo grogue. ─ Mano. Você está bem? ─ Ele nem
teve tempo de fazer uma piada. Ele pareceu perceber que isso era sério.

─ Estou dirigindo para casa ─ eu disse a ele. ─ Prepare o quarto de


hóspedes. Acorde nossos pais.

─ O que diabos está acontecendo? ─ Natan questionou, e eu percebi


que ele estava se levantando pelo farfalhar de seus lençóis. ─ Algo
aconteceu na casa da senhorita James?

─ Estella está comigo ─ eu disse a ele, e um silêncio se seguiu. ─


História longa, mas ela está... ela foi drogada ou algo assim, não tenho
certeza.

─ Porra ─ Natan murmurou. ─ Por que você não a leva para o


hospital?

─ O pai dela ─ eu o lembrei.

─ Ele não é tão ruim, é? ─ Eu podia imaginar meu irmão andando


pelo quarto agora. ─ Isso não é culpa dela.

─ Confie em mim, Nate, ele transformará tudo isso em culpa dela


─ murmurei. ─ Estaremos aí em dez. Prepare tudo.

BETTI ROSEWOOD
─ Claro. ─ Eu desliguei, checando Estella no espelho retrovisor. Ela
estava desmaiada ou dormindo, embora o som de seu ronco suave me
convenceu de que era o último, então pelo menos eu não precisava me
preocupar muito ainda.

Os eventos da noite vieram à minha cabeça, terminando no


momento em que chegamos na entrada da minha casa. Nate já estava do
lado de fora com meus pais em suas roupas com monogramas e meu
irmão em nada além de shorts do pijama.

─ Ela está bem? ─ Nate me questionou quando parei o carro. Ele


olhou para o banco traseiro. ─ Puta merda. Como diabos isso aconteceu?

─ Ajude-me. ─ Fiz um gesto para ele tirá-la de lá e, então nós dois,


pegamos Estella. Ela gemeu.

─ Milo, ela precisa ir ao hospital ─ meu pai me disse. ─ Ela pode


precisar de uma lavagem estomacal...

─ Ela vomitou ─ eu disse. ─ Três vezes. Ela está apenas grogue, eu


acho ─ eu espero. Precisamos observá-la a noite toda.

Todos eles assentiram. Ninguém mencionou mandá-la de volta


para casa. Um acordo silencioso passou entre nós. Stells não estava
voltando para casa, isso era uma certeza.

Nós a colocamos no quarto de hóspedes e eu ajudei Nate a deitá-la


na cama. Ela abriu os olhos brevemente quando a abaixamos, olhando
diretamente para mim.

─ Eu sabia que você me salvaria, Milo ─ ela sussurrou.

─ Você sempre salva.

Corei, olhando para meu irmão e esperando que ele não tivesse
ouvido.

BETTI ROSEWOOD
Mas seu rosto machucado me disse tudo o que eu precisava saber.

BETTI ROSEWOOD
13
DATA: 15 DE SETEMBRO DE 2019 – 10H

LOCAL: CASA DO MILO

ESTELLA

─ Stells? Stells, você está bem?

Meus olhos se abriram e eu gemi quando senti o bater na minha


cabeça. Porra. O que aconteceu? Onde estou? Sentei-me na cama em que
estava, esfregando os olhos, ainda carregada de rímel. Isso nunca
aconteceu ─ eu sempre tomei um cuidado especial para remover minha
maquiagem antes de dormir.

─ Onde... onde eu estou?

Uma figura nublou minha visão, sentada na cama. Quando meus


olhos se ajustaram à luz do quarto, a pessoa apareceu. Por um momento,
o alívio me inundou, pensando que era Milo. Mas logo as semelhanças
desapareceram, e eu percebi que Natan estava sentado ao meu lado.

─ Nate ─ eu resmunguei. ─ Eu...

─ Está tudo bem ─ disse ele, pegando minha mão na dele. ─ Você
está bem agora.

─ O que aconteceu? ─ Eu perguntei, embora estivesse começando


a ter uma ideia das coisas terríveis que fiz na noite anterior. Porra. ─
Meu... meu pai sabe?

─ Não, você está na minha casa ─ Natan bateu na minha mão. ─


Está tudo bem.

─ Porra, eu deveria ir para casa ─ eu murmurei.

BETTI ROSEWOOD
─ Espere, querida.

─ O quê? ─ Eu olhei para ele, franzindo as sobrancelhas. ─ Nate,


eu sei que estraguei tudo a noite passada... Você não tem ideia de como
eu sinto muito. Acho que só...

─ Stells, está tudo bem ─ ele me interrompeu, levantando a mão e


me parando. ─ Você realmente não me deve uma explicação.

─ Mas eu quero ─ eu sussurrei. ─ Você me ajudou e você é meu


namorado. ─ Mesmo que eu não trate você assim.

Ele sorriu, recuperando o braço. Arrepios percorreram minha


espinha, a premonição de algo ruim acontecendo me alertando para ficar
quieta.

─ Stells ... ─ ele começou, suspirando. ─ Eu não sou mais seu


namorado.

─ O que você quer dizer? ─ Meu coração estava batendo forte, o


pânico se instalando. ─ Por que você não seria?

─ Porque acabou. ─ Ele encolheu os ombros. ─ Qual é, Stells, não


podemos mais fingir.

─ Fingir? ─ A palavra saiu em um sussurro quebrado, mas meu


coração ainda estava batendo forte, aterrorizada com o que ele estava
prestes a dizer. ─ Nós não estávamos fingindo.

─ Isso é mentira, querida. ─ Ele se levantou, foi até a janela e fechou


as persianas para que a luz entrasse no quarto. Eu apertei os olhos
contra o sol. ─ Olha, não adianta mentir um para o outro. Nós dois
sabíamos que isso não iria durar. ─ Fiquei quieta quando ele veio ficar
ao meu lado, ajoelhando-se ao lado da cama. ─ Nós dois sabíamos que
era Milo o tempo todo, não eu, não é?

BETTI ROSEWOOD
Fiquei quieta, meu lábio inferior tremendo. Eu não sabia o que
dizer a ele. Eu não queria que ele ficasse chateado, mas nós dois
sabíamos que sua afirmação era verdadeira. ─ Sinto muito, Natan.

─ Não sinta. ─ Ele sorriu para mim, o velho Nate que eu conhecia.
─ Olha, essa coisa tinha uma data de validade. É melhor cortarmos as
coisas agora, antes que alguém se machuque. E você quer meu conselho,
Estella?

Dei de ombros, rindo inquieta. ─ Eu não tenho certeza que é


realmente o momento para...

─ Ele gosta de você, Stells.

─ Q-quem?

─ Não faça joguinhos ─ ele disse. ─ Ele não gosta disso, e é tudo o
que você faz há anos. Milo merece a verdade. E se você o machucar...
confie em mim, eu vou ficar do lado dele, não do seu. ─ Eu balancei a
cabeça entorpecida, muito chocada para dizer mais alguma coisa. ─ Olha,
você pode ficar até se sentir um pouco melhor. Os nossos pais estão no
trabalho, mas Milo está na sala assistindo alguma coisa.

─ Obrigada ─ eu murmurei, minha mente apagando qualquer outra


coisa para dizer.

─ Você deveria ir vê-lo ─ ele sugeriu.

─ Onde você vai?

─ Eu tenho um encontro. ─ Ele me lançou um olhar desafiador.


Uma pontada de ciúme me atingiu, mas desapareceu no momento
seguinte, como um lembrete triste do que costumávamos ter.

─ Com quem?

BETTI ROSEWOOD
─ Harlem.

─ Harlem?

─ Você não pode me julgar, rainha do baile. ─ Ele sorriu


maliciosamente para mim. ─ Vejo você na escola. Não se preocupe com
os rumores. Vou dizer que foi amigável, o rompimento.

─ Obrigada ─ eu consegui dizer novamente, exatamente quando ele


me acenou e desapareceu no corredor. Eu me levantei, gemendo. Eu
ainda estava usando o vestido da noite passada, agora todo sujo e
enrugado. Estive na casa de Milo e Natan com frequência suficiente para
reconhecer o quarto de hóspedes e o banheiro que ficava ao lado. Eu me
forcei a me levantar e entrar no banheiro, onde tirei minhas roupas e
entrei no chuveiro frio. A água me acordou e me senti melhor em alguns
instantes, embora tudo o que tivesse acontecido na noite anterior ainda
fosse um borrão.

Depois do meu longo banho, saí, percebendo que não tinha nada
para vestir. Encontrei uma pilha de roupas no canto da sala ─ o banheiro
também era uma lavanderia ─ e peguei uma camiseta. Eu não sabia que
era do Milo até ver o logotipo do clube de xadrez de Wildwood. Eu apenas
hesitei por um momento antes de puxá-la sobre minha cabeça. Foi quase
até os meus joelhos.

Eu estava ficando nervosa, sabendo que teria que descer as


escadas em breve. Milo e eu estávamos sozinhos em sua casa e eu tinha
algumas desculpas sérias para pedir. Era como se a noite anterior tivesse
ligado um interruptor dentro da minha cabeça. Eu finalmente cheguei ao
fundo do poço, mas agora, eu estava determinada a não deixar as coisas
tão fodidas como elas já estavam.

Lentamente, desci as escadas, demorando-me quando vi Milo no


andar de baixo, assistindo a um documentário sobre animais na enorme

BETTI ROSEWOOD
tela da TV. Ele estava usando boxers e uma blusa de colete, os óculos
presos no nariz e ele parecia... Ele parecia tudo o que estava faltando na
minha vida.

─ Eu posso sentir você olhando para mim da escada, sua maluca


─ ele gritou sem mover a cabeça, e eu ri, dando os últimos passos até que
eu estava ao lado dele, sentando no sofá.

─ O que estamos assistindo? ─ Eu perguntei, alcançando a tigela


de pipoca em seu colo.

─ Documentário sobre tigres ─ disse ele, apontando para a tela


antes de me dar uma olhada. ─ Sentindo-se melhor?

─ Sim. ─ Eu brinquei com um pedaço de pipoca antes de colocá-lo


na minha boca. ─ Milo... Sinto muito pela noite passada. ─ Ele assentiu,
sem dizer uma palavra. ─ Eu não deveria ter ligado para você. Eu não
deveria ter feito o que fiz.

─ Aquele cara com quem você estava... ─ continuou Milo. ─ Você o


conhece?

─ Não, eu o conheci ontem à noite. Romilly trabalha para ele ...


mais ou menos.

─ Ele é um cara mau ─ Milo murmurou. ─ Ele estava querendo


tirar vantagem de você.

─ Eu sei. ─ Eu mordi meu lábio inferior. ─ Eu... eu sabia que ele


colocaria algo na minha bebida.

─ Você sabia? ─ Ele olhou para mim, obviamente confuso. Seus


olhos estavam prestes a desviar quando ele notou minha roupa, e ele me
bebeu, sorrindo para si mesmo.

─ Sim. Eu bebi de qualquer maneira.

BETTI ROSEWOOD
─ Por que diabos você faria isso, Stells?

─ Porque... ─ Torci a barra da camiseta entre as pontas dos dedos.


─ Porque eu queria que alguém me salvasse. E eu queria que esse alguém
fosse você.

─ Você não precisa que te salve, Stells ─ Milo balançou a cabeça,


os olhos fixos na TV. ─ Você só precisa parar de pedir ajuda e fazer
alguma coisa sobre essa merda.

Fiquei teimosamente quieta, fixando o olhar na TV e assistindo um


tigre devorar uma gazela na TV. ─ Isso é nojento. Podemos assistir a outra
coisa?

─ Okay. ─ Ele pegou o controle remoto, desligando a TV antes de


se virar para mim. ─ Eu não quero assistir TV, de qualquer maneira.

─ O que você quer fazer? ─ Seus olhos escureceram ao ver minhas


pernas nuas, e fiquei dolorosamente ciente do fato de que eu não estava
usando calcinha por baixo de sua camisa. ─ Natan me dispensou.

─ Ele disse que iria ─ disse Milo sem perder o ritmo. ─ Eu acho que
você merece.

─ Eu também acho. ─ Eu ri nervosamente. ─ Eu meio que estava


esperando por isso mesmo.

─ Como você está se sentindo? ─ Dei de ombros, levantando


cuidadosamente os olhos para ele mais uma vez. Seu olhar estava escuro,
intenso. Eu não queria nada mais do que me aproximar e sentar no colo
dele, mas me forcei a afastar esses pensamentos. ─ Stells... Você precisa
que eu te leve para casa?

BETTI ROSEWOOD
─ Meu pai vai me matar quando me vir. ─ Eu murmurei, vendo as
mãos de Milo se fecharem em punho com as palavras. ─ Enquanto eu
estiver aqui, eu estou segura.

─ Então fique o tempo que precisar. ─ Ele estendeu a mão e, como


se estivesse mudando de ideia, puxou a mão para trás. ─ Você é sempre
bem-vinda aqui, você sabe disso.

─ Por que você não me toca?

─ Hã?

─ Agora mesmo ─ gesticulei para a mão dele. ─ Você estava prestes


a me tocar, mas mudou de ideia. Por quê?

─ Por quê? ─ Ele gemeu, empurrando os óculos para cima. ─ Por


que você acha, Stells?

─ Eu não sei ─ eu sussurrei. ─ Diga-me por favor.

─ Bem, você está sentada no meu sofá, seminua, vestindo minha


camiseta ─ ele resmungou. ─ O que você acha, princesa?

Meu coração pulava toda vez que ele me chamava assim. Eu disse
a ele que odiava, mas não odiava. Eu realmente gostava e queria que ele
dissesse isso de novo e de novo. E agora, finalmente, não havia mais nada
nos separando. Nem Nate, nem meu pai ─ pelo menos por enquanto. Milo
poderia me ter se quisesse. Eu estava mais do que disposta.

─ O que você quer fazer? ─ Eu perguntei a ele, minha voz baixa e


rouca.

─ Eu quero... ─ Ele desviou o olhar, suspirando enquanto esfregava


as têmporas. ─ Porra, eu não sei a coisa certa a dizer.

─ Apenas diga.

BETTI ROSEWOOD
─ Quero garantir que você nunca faça nada estúpido novamente ─
ele murmurou. ─ Eu quero saber que você nunca cometerá um erro
estúpido como ontem à noite. Quero ter certeza que você não vai sair com
caras estranhos e perigosos como esse.

─ Eu não vou ─ eu sussurrei.

─ Eu só quero ter certeza que você se importa comigo ─ ele


continuou, sua voz quebrando sobre as palavras. ─ Não seu pai. Ou sua
mãe. Ou sua irmã. Ou meu irmão. Ou qualquer pessoa na escola.
Apenas. Eu.

─ Eu... ─ Mordi meu lábio inferior. ─ Eu me importo.

Ele olhou para mim com aqueles olhos que derretia meu interior.
─ Sério?

─ Sim.

─ Bom. ─ Ele assentiu, colocando a tigela de pipoca na mesa de


café. Ele olhou para mim antes de se recostar, com a mão no joelho.

─ Milo...

─ O quê?

─ Torne isso melhor ─ eu disse.

─ Melhorar como?

Eu olhei para ele antes de pegar sua mão e gentilmente guiá-la por
cima de sua camisa, no meu peito, onde meu coração estava batendo
loucamente. ─ Isso.

─ Como faço para melhorar isso, Stells?

─ Toque-me.

BETTI ROSEWOOD
Ele balançou a cabeça, suas palavras ficando presas na garganta.
Mas então ele engoliu, acenando para mim e batendo no joelho. ─ Venha
pra cá.

Hesitei por um momento, mas seus olhos exigiram minha


obediência. Lentamente, levantei minha bunda do sofá e mudei de
posição, então estava sentada no colo dele, encolhida. Ele respirou fundo
e profundamente antes de tocar no meu cabelo, penteando suavemente
os fios escuros com os dedos.

─ Você é uma bagunça, Estella ─ ele sussurrou.

─ Eu sei.

─ Eu quero beijar você.

─ Então beije.

Ele olhou para mim, seus dedos no meu cabelo e seu pau
começando a pressionar contra minha bunda nua. ─ O que você tem por
baixo, Stells?

─ Sinta ─ eu consegui dizer.

Ele gemeu, mas obedeceu. Sua mão flutuou para minha coxa,
gentilmente abrindo minhas pernas. Minha respiração estava fora de
controle quando ele lentamente subiu pela minha coxa. ─ Tem certeza?

Eu balancei a cabeça concordando, e ele continuou fazendo isso


até que seus dedos se aventuraram mais, e tocaram um ponto sensível.
Então, mordi meu lábio e desviei o olhar.

─ Olhe para mim, princesa ─ ele insistiu. ─ Eu quero que você


anseie. Implore por isso.

─ Por favor. ─ Engoli em seco. ─ Por favor, me toque mais.

BETTI ROSEWOOD
─ Aqui? ─ Ele pressionou a palma da mão contra o meu centro. Eu
podia sentir cada um de seus dedos com tanta intensidade que pensei
que desmaiaria com a sensação. ─ Onde você quer meus dedos, Stells?

─ Mais ─ me vi dizendo. Minhas reservas estavam saindo pela


janela. Tudo estava mudando, e eu queria desesperadamente mais. ─ Por
favor, me toque mais. Bem aí.

Seu dedo indicador vagou sobre minha pele nua. Eu tinha me


depilado na noite anterior. Eu me senti tão vulnerável. Ele separou os
lábios da minha boceta e eu ofeguei alto, mas ele me calou com os seus
lábios. Seu beijo foi egoísta, não se importando se eu estava gostando,
mas simplesmente pegando o que ele queria de mim. Eu derreti em seu
abraço quando as pontas dos dedos exploraram meu corpo, e ele gemeu,
me fazendo montá-lo para que estivéssemos nos tocando em ainda mais
lugares.

─ Você não tem ideia do que está fazendo comigo ─ ele murmurou.
─ Quão louco você me deixa... O quanto você me faz querer te despir e
só... porra... te olhar por horas?

─ Faça isso ─ implorei.

─ Não. ─ Ele balançou sua cabeça. ─ Vamos fazer isso direito,


Estella. Não vou te perder de novo.

─ Você nunca me perdeu. ─ Eu disse, pressionando meus lábios


no pescoço dele e sentindo o pulso lá. ─ Eu sempre fui sua.

Ele gemeu, me puxando para mais perto. Meu cabelo caiu ao nosso
redor em uma cortina que nos dava alguma privacidade e seus lábios
encontraram os meus novamente. ─ Nunca mais fuja de mim.

─ Eu não vou ─ prometi baixinho.

BETTI ROSEWOOD
─ Eu cansei de ficar atrás de você ─ ele rosnou.

─ Eu não cansei disso ainda ─ respondi. Ele riu, beliscando meu


lábio inferior e enchendo meu estômago com borboletas. Eu me senti
feliz. Mais feliz que nunca. As peças do quebra-cabeça finalmente
começaram a se encaixar novamente. ─ Milo...

─ O quê? ─ Sua voz era ofegante, irregular. Eu sabia que ele estava
se segurando. Que ele queria muito mais, assim como eu.

─ Eu realmente gosto...

A porta se abriu e viramos a cabeça para o intruso que invadia a


casa dos Earnshaw: meu pai. Minhas pupilas dilataram e em um
momento, ele agarrou meu cabelo, me arrastando para fora do colo de
Milo.

─ Solte ela, porra! ─ O grito enfurecido de Milo veio de algum lugar


distante, quando meu pai me jogou no chão, longe do garoto que eu
estava prestes a confessar meu amor.

─ Não ouse tocar na minha filha ─ papai gritou, avançando em


Milo.

─ Papai, não! ─ Gritei, levantando-me e puxando a camisa de Milo


para baixo para cobrir mais do meu corpo. ─ Por favor, ele não fez nada
errado!

─ Não? ─ papai rugiu, virando-se para mim. ─ Nada de errado,


Estella? Ele não estava apenas... profanando você como uma prostituta
comum? ─ Soltei um soluço, vendo Milo dar um passo em direção ao meu
pai, fervendo de raiva.

BETTI ROSEWOOD
─ Você não irá machucá-la mais ─ ele rosnou para o papai. ─ Eu
vou... ─ Antes que ele pudesse terminar, papai deu-lhe um murro na
cara, e Milo tropeçou para trás.

─ Não! ─ Eu gritei, mas já era tarde demais. Papai se virou para


mim, uma expressão calma pousando em seu rosto quando ele agarrou
minha mão e meio carregou, meio me arrastou para fora de casa
enquanto eu gritava. ─ Milo! Por favor, não! Milo!

Ele veio correndo atrás de nós, apertando o nariz. Estava


derramando sangue. Comecei a soluçar loucamente, mas papai não se
importou. Milo o atacou, tentando tirá-lo de cima de mim, mas papai me
escondeu no carro, agarrando Milo pela camisa e empurrando-o para
trás.

─ Se eu te vir perto da minha filha novamente, eu vou te matar ─


ele disse calmamente. ─ E eu vou ter certeza de que esses seus pais
idiotas também fiquem em chamas.

Milo olhou para ele, correndo até o carro. Pressionei minhas mãos
na janela, soluçando incontrolavelmente quando papai entrou no carro.
─ Deixe-me sair! Deixe-me sair, papai! ─ Ele trancou as portas no
momento em que Milo tentou abri-las e saiu da garagem como um louco.
─ Milo!

Ele estava gritando algo que eu não conseguia ouvir, e papai partiu,
os freios guinchando na calçada dos Earnshaw. Eu assisti a figura
desaparecendo de Milo pela janela de trás, soluçando desalmadamente
com o coração batendo forte. Papai ficou mortalmente silencioso o tempo
todo.

Sentei-me no banco de trás, olhando para meu pai com uma


expressão de puro ódio.

BETTI ROSEWOOD
─ Eu cansei de você, Estella ─ ele me disse. ─ Eu cansei de você
ser uma prostituta.

─ Eu cansei de você também ─ eu sussurrei. ─ Eu cansei de tudo


isso, papai.

─ Vamos ver isso ─ ele rosnou em um aviso, olhando para mim pelo
espelho. ─ Você vai se arrepender disso. Vou me certificar disso.

Eu fiquei quieta. Eu sabia que estava condenada. Mas quando me


acomodei no banco do carro, um pensamento continuou correndo em
minha mente.

Eu serei amaldiçoada se não lutar pelo garoto que lê. Porque ele
pertence a mim e eu pertenço a ele. Agora e sempre. Eu nunca estive mais
certa disso.

BETTI ROSEWOOD
14
DATA: 16 DE SETEMBRO DE 2019 – 19H

LOCAL: CASA DA SENHORITA JAMES.

MILO

Parei na frente da casa, sentindo meus nervos tirando o melhor de


mim. Eu não queria estar lá. Eu não queria falar sobre o que quase
aconteceu entre nós. Mas eu devia à senhorita James, corrigir as coisas.
Desligando a ignição, saí do carro e caminhei lentamente até a porta,
batendo nela bruscamente. Ela se abriu um momento depois, e uma
Senhorita James de aparência perturbada apareceu no batente da porta.
Mais uma vez, ela estava usando um daqueles vestidos de verão que eu
agora associava exclusivamente a ela.

─ Ei! ─ eu murmurei.

─ Milo. Porra. Seu nariz... ─ Sua voz estava tensa e ela se afastou,
apontando para eu segui-la até a parte de dentro da casa, o que eu fiz
indo para a sala da frente. Pelo menos ela me deixou entrar...

─ Sinto muito por aparecer sem avisar ─ eu disse, finalmente


olhando para ela. ─ Mas sinto que deixamos algumas coisas inacabadas
da última vez.

─ Oh ─ ela disse corando. ─ Sim, você poderia dizer isso...

─ Eu só queria esclarecer tudo. ─ Eu a encarei, e suas bochechas


ficaram mais e mais vermelhas a cada segundo. ─ Eu não acho que isso...
seja o que for... deva realmente acontecer.

─ O quê?

BETTI ROSEWOOD
─ O que fizemos foi inadequado, senhorita James ─ eu gemi.

─ Convidei você para minha casa...

─ Eu sei que você fez. ─ Eu balancei minha cabeça, esfregando


minhas têmporas. ─ Você não deveria.

─ Você não queria saber por quê eu te convidei?

─ Eu... não importa. Não deveríamos estar fazendo isso. Você é


minha orientadora de admissões e, no próximo ano, estaremos em
Eastvale.

─ Eu sei ─ ela sussurrou. ─ Isso é o que eu queria o tempo todo.

─ Hã? ─ Eu estreitei meus olhos para ela. ─ O que você quer dizer?

Ela balançou a cabeça, me dando um sorriso trêmulo. ─ Olha, pelo


menos, venha tomar um chá gelado. Acabei de fazer uma jarra. Você quer
um copo?

Eu sabia que era uma má ideia, mas também não queria machucá-
la e me peguei acenando com a sugestão e seguindo-a até a cozinha
apertada, onde uma pequena mesa redonda estava posta orgulhosa.

─ Como estão as coisas com o Sr. .. hum ... seu ex? ─ Eu perguntei
quando ela me serviu um copo gelado de chá. ─ É estranho na escola?

─ Sim, como você pode imaginar. ─ Ela fez uma careta quando
colocou o copo alto na minha frente. ─ Ele não tem sido incrível por estar
por perto.

─ Me desculpe, por você estar passando por isso. ─ Tomei um gole


da bebida e tentei me acalmar antes de olhar nos olhos dela. ─ Olha, nós
realmente precisamos conversar.

BETTI ROSEWOOD
─ Eu sei ─ ela assentiu, virando os olhos para a mesa. ─ Eu
esperava que tivéssemos a chance de discutir coisas...

─ Só acho que isso não deveria acontecer ─ continuei. ─ É tão


inapropriado, senhorita James...

─ Se esse é o único motivo... ─ ela começou, mas eu levantei minha


mão e ela se acalmou.

─ Não é a única coisa ─ eu disse com firmeza.

─ O que mais, então? ─ Suas sobrancelhas franziram e ela olhou


para mim. ─ Você não me quer?

─ Eu... eu estou apaixonado por outra pessoa. ─ Porra. Dizer em


voz alta realmente fez parecer real.

─ Quem? ─ Ela estreitou os olhos para mim e eu desviei o olhar


desconfortavelmente. ─ Ela é mais bonita que eu?

─ Senhorita James, por favor.

─ Não ─ ela interrompeu. Eu poderia dizer como ela estava


magoada pela dor em sua voz. ─ E a última vez? Você acabou de me
deixar fazer isso, e você está me dizendo que não tem sentimentos por
mim?

─ Foi um erro ─ eu murmurei. ─ Sinto muito, mas realmente foi, e


nós dois sabemos disso.

─ Como você pode dizer isso? ─ Seus olhos lacrimejaram, mas eu


fiquei olhando para ela, sabendo o quão importante era essa conversa. ─
Eu fiz tudo por você, Milo. Tudo. Para que pudéssemos ficar juntos.

─ Nós não podemos ─ lembrei a ela. ─ Seria um enorme escândalo,


além de todo o resto.

BETTI ROSEWOOD
─ Quem é a garota?

─ O quê?

─ Quem é a garota, Milo? ─ ela repetiu, obviamente fervendo. ─ A


que você está me trocando.

─ Eu não vejo como...

Ela bateu com o punho na mesa. ─ Conte-me!

─ Credo... ─ Eu balancei minha cabeça. ─ É Estella.

─ Estella? ─ ela repetiu em descrença. ─ Estella Hathorne, eu


deveria saber. Mais uma vez, é ela.

─ Eu... acho que devo ir ─ murmurei. ─ Eu só vim lhe contar antes


que as coisas ficassem super estranhas na escola.

─ Ela sabe sobre nós? ─ Senhorita James interrompeu. ─ O que


fizemos?

─ Não ─ falei com os dentes cerrados.

─ Você vai contar a ela?

─ Eventualmente.

─ Ela merece saber.

─ Sim, mas é minha decisão quando contar a ela. ─ Eu a lembrei.


─ Por favor, não estrague tudo.

─ Estragar tudo. ─ Ela riu amargamente. ─ Você é igual ao meu ex.


Você é a mesma coisa. Fiz tudo isso por nada. Nada!

─ O que você fez? ─ Eu perguntei. ─ Eu não pedi para você fazer


nada.

BETTI ROSEWOOD
─ Eu sabia que pertencíamos um ao outro! ─ ela gritou. ─ Essa é a
razão pela qual eu fiz isso.

─ Fez o que? ─ Eu insisti, e ela olhou para mim.

─ A inscrição... ─ ela disse triunfante. ─ A inscrição de Estella para


Eastvale.

─ O que tem isso? ─ Meu coração estava batendo de preocupação,


mas ela não respondeu. Dessa vez, foi meu punho que caiu sobre a mesa
já vacilante. ─ Conte-me!

─ Eu nunca enviei ─ ela anunciou, me dando um olhar vitorioso. ─


Não tinha como ela entrar naquela faculdade, porque eu enviei apenas a
sua inscrição.

─ Você o quê? ─ Senti a raiva pulsando em minhas veias. ─ Você


fez o quê?

─ Não se faça de bobo, Milo, ─ ela riu amargamente. ─ Você merecia


aquele lugar de qualquer maneira, não aquela putinha mimada.

─ Não a chame assim ─ eu rosnei.

─ Você não vê? ─ Ela estendeu a mão para mim. ─ Esse era o plano
o tempo todo, para que pudéssemos ficar juntos em Eastvale quando eu
começar meu novo emprego no próximo ano...

Tirei minha mão dos dedos dela. ─ O que você fez é imperdoável ─
disse a ela claramente. ─ Se o conselho da escola descobrisse isso, você
seria demitida imediatamente.

─ Talvez sim ─ ela murmurou, me dando um olhar desonesto. ─


Mas eu também teria que contar a eles sobre o nosso pequeno... jogo. E
então eles saberiam tudo, e você não seria capaz de ficar em Wildwood
durante o último ano.

BETTI ROSEWOOD
─ Você está sordidamente... louca ─ eu murmurei.

─ Talvez sim ─ ela encolheu os ombros. ─ Mas parece que você está
preso comigo por mais um tempo, Milo Earnshaw.

Levantei-me, olhando para ela com nojo. ─ Você realmente quer


construir um relacionamento baseado em mentiras e em seus próprios
erros? Não me parece tão saudável, senhorita James.

─ Me chame pelo meu nome ─ ela implorou novamente.

─ Não, acho que não. ─ Cruzei os braços na frente do meu corpo.


─ Quero que você avise a Eastvale que você cometeu um erro. Quero que
envie a inscrição de Estella agora. E quero que você se arrependa para
que nós dois entremos nessa escola.

─ Ou então o quê?

─ Ou então ─ eu me aproximei. ─ Vou divulgar ao público o que


você fez. Acha que eu dou a mínima se meu nome ficar em sujo? Tudo o
que me importa é a garota com quem você fodeu. Então é melhor você
fazer isso direito, e talvez eu vá deixar você se safar do que fez com aquela
pobre garota.

─ Tudo bem ─ ela cuspiu.

─ Tudo bem ─ eu disse. ─ Espero ouvir algum resultado até a


próxima semana.

Ela não respondeu, apenas olhou para mim do seu assento à mesa.
─ Não vá ─ ela de repente falou. ─ Fique para o jantar.

─ Porque eu faria isso?

─ Porque eu farei qualquer coisa. ─ Ela se levantou, os quadris


balançando enquanto se aproximava de mim, a meros centímetros de

BETTI ROSEWOOD
distância. ─ Eu farei qualquer coisa se você ficar, e eu vou deixar você ter
tudo, Milo.

─ Eu não quero tudo ─ eu a lembrei. ─ Eu só quero que você faça


as coisas certas para a minha garota.

─ Você não me quer? ─ Havia uma ponta de desespero em sua voz:


─ Eu não sou sua garota?

─ Não ─ eu disse com firmeza. ─ Você definitivamente não é.

Com essas palavras, eu a deixei em pé na cozinha e saí de sua


casa. Minhas mãos formaram punhos ao meu lado, minhas juntas
brancas quando entrei no carro. Respirei fundo antes de sair da garagem
da senhorita James. A realidade do que ela fez apenas me atingiu quando
eu já estava dirigindo para casa.

Porra.

Isso era péssimo.

Eu não podia deixar Estella descobrir. Nem agora, nem nunca.

─ Porra, pelo amor de Deus, ─ eu murmurei, olhando para a tela


do meu computador. Um artigo sobre Ricardo Hawthorne estava olhando
para mim do outro lado da tela. Não havia sujeira no cara ─ para os olhos
do público, o pregador estava completamente limpo. Mas eu continuaria
procurando, prometi a mim mesmo que continuaria até encontrar algo,
precisava afastar Estella e sua família desse monstro.

BETTI ROSEWOOD
Cliquei de volta no site de e-mail em que estive anteriormente. Eu
tentei sem sucesso invadir a conta do pai de Stells há dias, mas não
estava funcionando. Todos os meus esforços foram em vão, e eu não tinha
nada para mostrar. E eu sabia que precisava afastá-la de seu pai. Mais
cedo ou mais tarde.

Eu brinquei com um fidget spinner5 que estava ao lado da minha


mesa, me perguntando o que fazer a seguir. Eu tentei de tudo para entrar
na conta do Sr. Hawthorne, exceto adivinhar sua senha. Se eu tentasse
isso, sabia que só teria três palpites antes de ser preso. Mas, visto que
nada mais estava funcionando, eu também poderia tentar.

Coloquei o botão giratório de agitação e deixei meus dedos


permanecerem no teclado. Eu peguei o e-mail dele com Estella depois do
nosso tempo na casa de repouso. Tudo o que restava era quebrar a senha.

O que diabos eu sabia sobre o Sr. Hawthorne, afinal?

Ele era um maluco religioso. Ele aparentemente se importava com


sua família. Ele era super protetor e mudou o sobrenome da família para
parecer mais genuíno, ironicamente.

Digitei o nome anterior, Ricardo Hernandez. Estremeci quando o


site me informou que a senha estava errada. Eu tinha duas tentativas
restantes.

Em que mais eu poderia me concentrar? Estella costumava dizer


que a família vinha em primeiro lugar, mas a carreira de seu pai estava
em segundo. E mesmo antes de ambos, havia sua fé.

BETTI ROSEWOOD
Hesitei antes de digitar Deus salve a todos nós. Uma mensagem
apareceu dizendo que a senha havia sido alterada há três semanas.
Franzi minhas sobrancelhas. Provavelmente uma daquelas medidas de
segurança que fazem você mudar sua senha. O que significava que a
senha provavelmente era similar, mas eu também tinha apenas uma
tentativa ─ uma chance de acertar.

Fechei os olhos, deixando minha mente funcionar e, de repente,


uma onda de inspiração me atingiu, e abaixei as pontas dos meus dedos
contra o teclado novamente.

Dios Salva Me, digitei, clicando e me preparando para outra


mensagem de erro.

Em vez disso, o e-mail foi carregado na minha frente e eu quase caí


da cadeira em um esforço para baixar o conteúdo de sua caixa de correio.
Eu sabia que atividades suspeitas apareceriam em sua conta em
instantes. Eu precisava trabalhar rápido.

O conteúdo começou a baixar e eu procurei rapidamente os e-mails


para ver se havia algo digno de nota. Não havia nada suspeito no que eu
podia ver. A única coisa que se destacou foi uma reserva que ele fez
online. Franzi minhas sobrancelhas, clicando no e-mail de confirmação.

Parabéns! A sua estadia no Greenvale Valley Apartments foi


confirmada.

Eu cliquei no link assim que a conta piscou em vermelho. Simples


assim, eu estava fora.

─ Porra ─ murmurei baixinho. Tanto para isso.

O site do Greenvale Valley abriu no meu computador e franzi


minhas sobrancelhas. Ficava a dois estados daqui, nas montanhas. Por
que diabos o Sr. Hawthorne reservaria um lugar lá? Ele estava tendo um

BETTI ROSEWOOD
caso? Seria possível que ele estivesse mentindo para Estella, sua irmã e
sua mãe? Havia outra mulher?

O site foi carregado na minha frente. Os apartamentos não eram


nada de especial, lembrando-me mais um motel barato. A localização era
remota, acessível apenas por uma estrada de cascalho pelo que eu podia
ver. Por que diabos o pai de Estella reservaria um lugar como esse? Ele
estava planejando fugir da cidade?

Eu cliquei no site, salvando-o nos meus favoritos para o caso de


acabar sendo importante. Eu ainda estava com raiva de mim mesmo por
foder com os downloads de e-mail. Eu poderia ter feito muito mais se o
servidor não tivesse me bloqueado tão rápido.

Houve uma batida na minha porta um momento depois, e me virei


na cadeira, meus olhos ainda colados na tela do computador.

─ O que você está tramando?

Eu olhei para cima e encontrei Nate parado no batente da porta do


meu quarto, sorrindo amplamente para mim.

─ Nada ─ murmurei, fechando rapidamente a janela do navegador.


─ Só... hum... procurando algumas coisas de Eastvale online.

─ Desde quando mentimos um para o outro? ─ Natan entrou,


sentando na minha cama. ─ Você pode me dizer a verdade, você sabe. Eu
vou julgar, mas é para isso que servem os irmãos mais novos, certo?

Eu ri, girando na minha cadeira e dando-lhe um olhar duvidoso. ─


Promete que não vai ficar bravo?

─ Isso é sobre Estella? ─ As sobrancelhas dele se ergueram.

─ Sim ─ eu admiti culpado.

BETTI ROSEWOOD
─ Eu deveria saber. Olha, eu sei que vocês são amigos ─ disse ele,
encolhendo os ombros e enviando outro arrepio de culpa na minha
espinha. ─ Faz sentido que você esteja tentando ajudá-la. Então, é sobre
o maluco do pai dela? Ouvi o que aconteceu ontem quando ele a arrastou
para fora daqui. Além disso, esse machucado que você está exibindo
parece muito desagradável.

─ Sim. ─ Eu balancei a cabeça, abrindo a janela do navegador


novamente e mostrando a ele o que eu estava procurando. ─ Estou
tentando encontrar algo dele. Precisamos afastar Stells o mais longe
possível dele. Ele é problema.

─ Eu tive um pressentimento. Esse cara é assustador pra caralho.

─ Conte-me sobre isso.

Inspecionamos a tela juntos. ─ Então, o que são esses


apartamentos? ─ Nate perguntou.

─ Ele reservou uma estadia aqui ─ continuei. ─ Pago com quatro


meses de antecedência. Estranho, não é?

─ Um pouco. Encontrou mais alguma coisa?

─ Ainda não ─ eu admiti.

─ Você está apaixonado, não está?

─ O quê? ─ Eu gaguejei. ─ Por quem? O pai de Estella?

─ Não se faça de bobo, Milo ─ meu irmão me repreendeu. ─ O


mínimo que mereço é alguma honestidade depois de tudo o que
aconteceu. Você não acha?

─ Eu não estou apaixonado... eu acho que não ─ eu consegui. ─ Eu


só... eu não posso... Realmente... parar... de pensar nela e...

BETTI ROSEWOOD
─ E o que?

─ Ficar longe. Deixá-la ir.

─ Interessante ─ ele bateu o dedo no queixo. ─ Então você não acha


que isso é amor?

─ Eu não sei o que é amor ─ murmurei. ─ Eu nunca me apaixonei


antes.

─ Isso é o que você pensa ─ Nate me corrigiu.

─ Oh, perdoe-me, todo poderoso. E você tem muita experiência em


se apaixonar?

─ Talvez não ─ ele deu de ombros. ─ Mas eu conheço um tolo


apaixonado quando vejo um. ─ Ele me deu um olhar significativo, me
fazendo sorrir em resposta. ─ Agora vamos lá, eu tenho que sair daqui.
Me acompanhe escada abaixo.

Eu o segui pelo corredor. Meu irmão pegou sua jaqueta de lacrosse


no corredor e sorriu para mim. ─ Então, você vai fazer algo sobre a minha
ex?

─ Como o quê? ─ Eu me senti ficando nervoso, sentindo a culpa


imediatamente.

─ Tipo, perceber que você é a pessoa a quem ela pertence. Tipo, vá


para cima, porra, finalmente.

Desviei o olhar, incapaz de segurar o peso do seu olhar. ─ Quem


diz isso?

─ Alguém que olha para você, talvez? Olha, eu não vou ficar bravo.

─ Você realmente acha que nós daríamos certo? ─ Eu perguntei


baixinho. ─ Ela é tão diferente de mim.

BETTI ROSEWOOD
─ Não é tão diferente. E vocês costumavam ser amigos.

─ Isso foi há muito tempo ─ eu murmurei. ─ E além disso, podemos


ter acabado com tudo isso. Para sempre.

─ Não minta para si mesmo ─ Nate interrompeu. ─ Nós dois


sabemos que você sempre esteve mais próximo dela do que eu. ─ Dei de
ombros sem compromisso, não querendo confirmar o que ele havia dito.
─ Você precisa ir pela Estella, ─ ele continuou. ─ Tipo, de verdade. Não
apenas algumas brincadeiras quando ninguém está olhando.

─ Você sabe disso?

─ Meio que percebi.

─ Sinto muito ─ eu consegui. ─ Eu só... não consigo ficar longe


dela.

─ Então? ─ Ele encolheu os ombros. ─ Apenas vá em frente.

─ E você ficaria legal com isso? ─ Eu dei a ele um olhar longo e


duvidoso. ─ Quero dizer, ela é sua ex-namorada... eu realmente não
quero te atrapalhar.

─ Isso iria acontecer eventualmente. ─ Nate sorriu para mim. ─


Sério, você realmente pensou que íamos ficar juntos para sempre? Ela
pertence a você, mano. Não a mim.

Meu coração inchou de gratidão, e eu lhe dei um tapa nas costas,


puxando-o para um abraço. ─ Obrigado, cara.

─ Eu só tenho uma condição ─ continuou Nate, sorrindo para mim


perversamente.<