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Os efeitos da temperatura e da taxa de estiro nas propriedades

mecânicas do monofilamento de Polipropileno

As propriedades finais do mono de PP dependem principalmente do grau de


cristalinidade determinado pelas condições de processamento. A cristalização deste
polímero é resultado de dois processos: nucleação e crescimento de núcleos.
A taxa de ambos processos depende criticamente da temperatura de cristalização, bem
como da temperatura e tempo de duração do polímero no estado fundido. O valor
recíproco do tempo necessário para atingir metade do grau de cristalinidade de equilíbrio
é geralmente usado como uma medida da velocidade de cristalização. Além do efeito da
temperatura de fiação na cristalização, a cristalinidade também é significativamente
influenciado pela temperatura e taxa de resfriamento da fibra após extrusão, isto é, as
condições de condensação.
De forma a ter uma forte influência sobre a cristalinidade, o grau de orientação das fibras
é controlado pelas condições de condensação do fio e pela taxa de estiro. Sob condições
de lento resfriamento, a orientação resultante é paralela à fibra e à direção da extrusão,
resultando em um filamento reticulado. Ligeira orientação das cadeias, paralela à
a direção de estiro, ocorre apenas sob rápidas condições de condensação. Pela seleção
adequada do controle de temperatura de extrusão, tempo e temperatura de condesação,
e condições de estiro, podem ser obtidas amplas faixas de orientação e cristalinidade em
monofilamentos de PP.
As propriedades finais de um monofilamento, como tenacidade, módulo, brilho e
flexibilidade são determinados através do processo de fiação. Isso ocorre porque, como o
filamento derretido se move da fieira dado para o recolhimento, este é simulaneamente
estirado e resfriado, orientando e cristalinizando as cadeias poliméricas. Este processo é
repetido na fase subsequente, durante o estiro e orientação no estado sólido. Portanto, o
processo de extrusão de um filamento é, de fato, não apenas uma “modelagem”, mas
principalmente um processo de "estruturação".

O momento entre a fibra começar a ceder e a formação do pescoço, durante os ensaios


mecânicos, é resultado das acumulações de tensão que induzem o deslizamento das
lamelas cristalinas, seguidas do alongamento da fase amorfa. As mudanças morfológicas
que se iniciam com a formação do pescoço na saída da fieira se propagam pelo estiro na
banheira de condensação, estão descritas em um modelo molecular.  
Neste artigo são descritas outras intuições entre os parâmetros do processo e as
propriedades mecânicas finais dos monofilamentos de PP.

O EXPERIMENTO

Material e método

O PP usado neste trabalho foi de grade de fibra, produzido pela Hellenic Petroleum
(Athenas, Grécia) para aplicações em filamentos, com densidade 0,905 g/cm³ e MFI=10 a
230ºC. O PP foi utilizado para produzir monofilamentos em uma linha com extrusora
mono rosca e fieira com dois capilares de Ø 1 mm. A pressão de saída na fieira foi medida
e monitorada por um transdutor e a temperatura da banheira de condensação
controlada.

Durante todo o experimento, as condições de extrusão forma monitoradas para


permanecerem constantes e a pressão na fieira foi anotada enquanto se tomavam as
amostras. As condições de extrusão, tais como a rotação da rosca (RPM), afetam a
velocidade linear da portada da extrusora. Após a extrusão, os monofilamentos de PP
passaram pela banheira de condensação a uma velocidade adequada.
As temperaturas da água da banheira foram fixadas em 1, 25, 50 e 70ºC. A diferença da
velocidade linear entre o primeiro conjunto de rolos de estiro e a saída da fieira é
definida como a primeira taxa de estiro neste processo: este parâmetro variou entre 2
a 8,7.
Na sequência os monofilamentos passaram pela segunda zona de aquecimento ou
segunda zona de estiro, onde estes são alongados. A temperatura do forno a ar foram
ajustadas entre 125 e 185ºC. A diferença da velocidade linear entre o segundo conjunto
de rolos de estiro e o primeiro conjunto de rolos é definida como a segunda taxa de
estiro neste processo: este parâmetro variou entre 2,5 a 12,8.
A primeira taxa de estiro foi calculada subtraindo-se da velocidade do primeiro conjunto
de rolos de estiro, a velocidade de saída da fieira.
A segunda taxa de estiro foi calculada subtraindo-se da velocidade do segundo conjunto
de rolos de estiro, a velocidade do segundo conjunto de rolos.
Neste experimento, a velocidade linear na saída da fieira foi de 1,083 m/min a 3,2 RPM.
Teste de tenacidade

O teste de tenacidade foi realizado nos monofilamentos de PP de seção circular, valendo-


se de um dinamômetro normal. Todas as amostras foram armazenadas por um dia e os
testes forma realizados num equipamento da Zwick de acordo com a norma DIN EN ISO
527-1. O comprimento das amostras foi de 20 cm e a velocidade foi de 200 mm/min com
0,1 Mpa de pré-carga. O teste de tenacidade foi repetido 5 vezes para cada amostra de
mono.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os efeitos da primeira taxa de estiro nas propriedades mecânicas

Inicialmente os monos de PP foram produzidos sob condições de extrusão constantes,


sendo a temperatura da água da banheira de condensação fixada em 25ºC usando,
entretanto, diferentes taxas de estiro. Todos os monos e PP foram testados para avaliar
suas propriedades mecânicas.
O módulo de elasticidade é um dos valores mais utilizados para investigar as
propriedades mecânicas de um mono de PP e é geralmente determinado pela inclinação
da curva de tensão-estresse na origem (após a remoção de toda frisagem.

O módulo elástico dos mono de PP foi plotado contra a taxa de estiro (Fig.1). A função da
curva apresentada foi polinomial de ordem 4 e R²=0,974. O módulo elástico aumentou
principalmente entre taxas de estiro baixas e médias, permanecendo relativamente
constante a taxas acima de 5.

(Figura 1)
A tenacidade do mono de PP foi outro parâmetro usado para avaliar as propriedades
mecânicas para diferentes taxas de estiro. A função da curva apresentada foi linear com
R²=0,843. Para um monofilamento, a tenacidade é definida pela carga de ruptura. Como
demonstrado na Figura 2, há uma tendência de incremento da tenacidade com o
aumento da taxa de estiro.

(Figura 2)
Os resultados dos testes são apresentados na Tabela 1, onde monos de PP foram
condensados a uma temperatura constante de 25ºC mas sob taxas de estiro diferentes
na primeira zona. Comparando as propriedades mecânicas e a morfologia, baseadas na
área seccional, mostram que a área seccional diminui enquanto a cristalinidade,
tenacidade e módulo elástico do mono de PP aumentam, como resultado do aumento da
primeira taxa de estiro.

(Tabela 1)
Os efeitos da temperatura de condensação na primeira zona de estiro, nas propriedades
mecânicas dos monos de PP

Normalmente a condensação rápida retarda o crescimento dos cristais e resulta num


filamento amorfo composto por um grande número de pequenos cristalitos. Este tipo de
mono apresenta boa resistência e flexibilidade. Condensação a temperaturas mais altas
promove o crescimento dos cristais, resultando em monos mais cristalinizados, que
apresentam maior força e rigidez. De maneira a avaliar os efeitos da temperatura da água
de condensação nas propriedades mecânicas e cristalização nos monos de PP, foram
usadas temperaturas de 1ºC e várias outras temperaturas da água, como 25, 50 e 70ºC,
enquanto a primeira taxa de estiro foi mantida constante em 4. As curvas de tensão-
estresse dos monos resultantes, comprovam os efeitos da temperatura nas propriedades
mecânicas, como se vê na Figura 4.

(Figura 4)
Como mostrado na Fig.4, as propriedades mecânicas melhoram enquanto a temperatura
da água foi aumentada de 25 para 70ºC, mas sob a temperatura de 1ºC as propriedades
mecânicas são totalmente diferentes e são melhores se comparadas as obtidas sob 25ºC.
Portanto, uma relação não linear foi observada entre a temperatura da água nas
propriedades mecânicas dos monos de PP.
Paralelamente, a cristalinidade dos monos de PP a diferentes temperaturas da água está
demonstrada na Figura 5. Foi observada uma diminuição linear da cristalinidade como
resultado do aumento da temperatura de condensação. Supomos que este efeito pode
ser principalmente atribuído aos efeitos de nucleação durante o processo de
cristalização. De fato, o fenômeno de nucleação deve ser considerado além do efeito de
crescimento dos cristais.

(Figura 5)

Teoricamente, o fenômeno de nucleação deve ocorrer no espaço entre a saída da fieira e


a flor d’água da banheira de condensação. As propriedades estruturais dos monos de PP
nesta zona afetam muito o fenômeno de cristalização, e especialmente a existência de
estados esméticos intermediários do PP, é fundamental nesse sentido.
NOTA: Fase esmética de um cristal líquido se dá quando as moléculas paralelas se organizarem em camadas, empilhadas
umas sobre as outras. Dentro de cada camada não há ordem posicional: As moléculas podem mover-se livremente, como
num líquido isotrópico. Pode, porém existir ordem orientacional nos planos das camadas (planos esméticos): É isto que
distingue as diferentes fases esméticas.

Portanto, a temperatura da água pode ser a razão da mudança do estado esmético em


cristalino ou amorfo, uma vez que temperaturas de condensação mais baixas,
favorecem a nucleação e, consequentemente, o aumento da cristalinidade. Em paralelo,
a orientação da fase esmética pode explicar porquê o mono de PP sob condensação a 1ºC
apresentou propriedades mecânicas intermediárias (entre 25 e 50ºC) como mostrado na
Fig.4.
A relação entre a temperatura de condensação, o diâmetro da seção transversal, as
propriedades mecânicas e a cristalinidade são apresentadas na Tabela 2. Da literatura, os
dados mostram que a cristalinidade dos monofilamentos cresce a taxas de estiro mais
elevadas: monofilamentos tem uma maior curva endotérmica de fusão entre 175 e
177ºC, atribuída aos cristais criados durante o processo de estiro, e uma menor a 160ºC
devido ao resfriamento rápido, a qual diminui em tamanho a medida que a taxa de estiro
aumenta.

(Tabela 2)

No presente teste, com um aumento da temperatura de 25 para 70ºC, foi observada


uma diminuição na área da seção transversal e cristalinidade do mono de PP e um
aumento da tenacidade e do módulo de elasticidade. Enquanto isso, os monos de PP que
foram condensados a 1ºC, mostraram propriedades mecânicas específicas, com
tenacidade e módulo de elasticidade mais elevados. Isso significa que não há uma única
relação entre cristalinidade e propriedades mecânicas; além disso, altos módulos e
tenacidades dos monos de PP não são necessariamente atribuídos a um amis alto grau de
cristalinidade. Portanto, a justificativa para este resultado pode ser encontrada na
orientação da fase esmética do monofilamento. Assumimos que a nucleação para a
cristalização dos monos de PP pode ocorrer no espaço entre a saída da fieira e a flor
d’água da banheira. O efeito do assim chamado “vão de nucleação” pode explicar porque
a cristalinidade dos monos de PP diminui enquanto a temperatura da água de
condensação aumenta.

Os efeitos da segunda taxa de estiro nas propriedades mecânicas

Sabemos que a taxa de estiro total em uma linha de extrusão é determinada como uma
multiplicação da primeira taxa de estiro e a segunda taxa de estiro. A este respeito,
investigamos preliminarmente a importância da segunda taxa de estiro na taxa de estiro
total. Para cada teste, seja com uma única fase de estiro, ou com duas fases, a taxa de
estiro total foi mantida constante.
De acordo com os dados apresentados na Figura 6, duas amostras foram testadas com
taxas totais de estiro de 4 ou 8,7 (obtidas em uma única fase), e uma amostra com uma
taxa total de estiro de 10 (obtida um duas fases de estiro). As amostras produzidas com
uma única fase de estiro, mas com relações de estiro de grande diferença, mostraram
praticamente a mesma curva. Portanto, aumentos na primeira fase de estiro não
produzem mudanças significativas na cristalinidade dos monos. Por outro lado, a
amostra que foi sujeita a duas fases de estiro (mas mesma magnitude da taxa total de
estiro) apresentou aumento de cristalinidade significativo. Baseado nos resultados, a
segunda fase de estiro afeta dramaticamente a cristalinidade , as propriedades
mecânicas e a estrutura do mono de PP. Em de acordo com outras literaturas, a
cristalinidade do mono de PP sem o segundo estiro ou relaxamento é claramente menor.
CONCLUSÃO

De acordo com os dados de teste de tração, as propriedades mecânicas dos monos de PP


são altamente sensíveis a temperatura, a taxa de estiro, a temperatura de condensação e
também a primeira zona de estiro. Está claro que sob condições de extrusão e
temperatura de condensação constantes, um aumento da taxa de estiro acarreta
melhores propriedades mecânicas. A análise em microscópio mostrou que a secção
transversal da área diminui quando a taxa de estiro da primeira zona aumenta. A este
respeito, o tipo de estiro pode resultar em vários diâmetros de monos de PP.
Os dados colhidos para determinar os efeitos da taxa de estiro na cristalinidade ou na
variação da microestrutura de um filamento sob temperatura constante na zona de
condensação, mostram um aumento da cristalinidade quando a taxa de estiro aumenta.
Enquanto isso, a uma taxa de estiro constante mas sob diferentes temperaturas de
condensação, os dados mostraram resultados vice-versa: devido ao aumento da
temperatura de condensação, diminui a cristalinidade dos filamentos. Este resultado
pode ser explicado pelo fenômeno do “vão de nucleação”. A suposição principal para
justificar esta teoria pode ser o preciso tempo de nucleação do filamento pós-fieira, que
ocorre no vão entre a saída da fieira e a flor d’água da banheira de condensação.
Portanto, a nucleação pode acontecer dentro ou fora da banheira para diferentes taxas
de estiro, por causa de diferentes velocidades de recolhimento.
No caso em que a nucleação ocorra no vão, pode-se notar que um aumento na
temperatura da água de condensação pode não levar ao crescimento de nucleação e
apenas congelar o crescimento da nucleação. Aparte disso, os dados de tração
mostraram uma relação não-linear entre temperatura e propriedades mecânicas, que
estão mais relacionadas com a orientação simétrica ou domínios cristalinos do filamento.
Esta orientação pode ser a principal razão de diferentes diâmetros e densidades lineares
enquanto a taxa de estiro total é mantida constante.
A partir destes resultados é possível otimizar os parâmetros de extrusão de monos de PP,
de forma a obter um bom equilíbrio entre o diâmetro do filamento e suas propriedades
mecânicas.

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