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Política de preços mínimos do

transporte rodoviário de cargas

Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade)

Ofício no 2547/2018/CADE
›ŠœÇ•’ŠǰȱŗŝȱŽȱ“ž—‘˜ȱŽȱŘŖŗŞǯ

˜ȱ ¡ŒŽ•Ž—Ç
 œœ’–˜ȱ Ž—‘˜›
LUIZ FUX
Ministro do Supremo Tribunal Federal
›Š³Šȱ˜œȱ ›¹œȱ ˜Ž›Žœȱ —Ž¡˜ȱ
ǰȱ •˜Œ˜ȱ ǰȱ Š•ŠȱřŖŗ

Assunto: Manifestação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica


sobre a ADI n o 5.956.
Ž›¹—Œ’ŠDZȱ Šœ˜ȱ›Žœ™˜—ŠȱŽœŽȱ ÇŒ’˜ǰȱŠŸ˜›ȱ’—’ŒŠ›ȱŽ¡™›ŽœœŠ–Ž—ȱŽ ˜ȱ ›˜ŒŽœœ˜ȱ no
08700.003824/2018-93.

Senhor Ministro,

1. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica — CADE, autar-


šž’ŠȱŽ›Š•ȱŸ’—Œž•ŠŠȱŠ˜ȱ ’—’œ·›’˜ȱŠȱ žœ’³ŠǰȱŸŽ–ȱ™Ž›Š—Žȱ ˜œœŠȱ ¡ŒŽ•¹—Œ’Šǰȱ
ŠŽ—Ž—˜ȱŠ˜ȱŒ‘Š–Š–Ž—˜ȱ“ž’Œ’Š•ǰȱŽ¡™˜›ȱ˜ȱœŽž’—Žǯ
2. Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de me-
’ŠȱŒŠžŽ•Š›ǰȱŠ“ž’£ŠŠȱ™Ž•Šȱ œœ˜Œ’Š³¨˜ȱ˜ȱ ›Š—œ™˜›ȱŽ ˜˜Ÿ’¤›’˜ȱŽȱ Š›Šœȱ do Brasil — ATR
BRASIL, em face da Medida Provisória no 832, de 27 de maio
ŽȱŘŖŗŞǰȱ™ž‹•’ŒŠŠȱ—Šȱ–Žœ–ŠȱŠŠȱ—˜ȱ ’¤›’˜ȱ ꌒŠ•ȱŠȱ —’¨˜ǰȱšžȱŽ ȃinstitui a Política de
Preços Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas”.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 379-391, set./dez. 2018.


380 REVISTA DE DIREITO ADMINISTRATIVO

řǯȱ –ȱ›Žœ™˜œŠȱŠ˜ȱŽœ™ŠŒ‘˜ȱŽȱ ˜œœŠȱ ¡ŒŽ¹• —Œ’Šǰȱ˜ȱšžŠȱ• œ˜•’Œ’Šȱž›¹—ȱŒ’Šȱ para


manifestação deste Conselho Administrativo de Defesa Econômica — CADE
acerca da aludida norma, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, trazemos
subsídios para melhor instrução processual.
4. Nesse sentido, a manifestação será composta por três partes essenciais:
’Ǽȱ —Šȱ ™›’–Ž’›Šȱ Ž•Šœȱ Š™›ŽœŽ—Š–˜œȱ ‹›ŽŸŽȱ Ž¡™˜œ’³¨˜ȱ œ˜‹›Žȱ ˜ȱ –Ž›ŒŠ˜ȱ Žȱ
›Š—œ™˜›ŽœDzȱ’’Ǽȱ —Šȱ œŽž—Šȱ œ¨˜ȱ ›ŽŠ•’£ŠŠœȱ Œ˜—œ’Ž›Š³äŽœȱ œ˜‹›Žȱ Š‹Ž•Š–Ž—˜ȱ Žȱ
™›Ž³˜œȱ Žȱ œ˜‹›Žȱ ’—Ž›ŸŽ—³¨˜ȱ ŽœŠŠȱ• —Šȱ ŽŒ˜—˜–’ŠDzȱ Žȱ ’’’Ǽȱ Š˜ȱ ꗊ•ȱ ›Š£Ž–˜œȱ
considerações sobre a relação entre a livre concorrência e a política pública.

I. Do contexto : mercado de transporte de cargas

5. A partir de análise efetuada em processos de fusões/aquisições (atos


de concentração) e processos sancionadores administrativos (condutas
anticompetitivas), o CADE pode construir sua visão de como entende estar
estruturados os diferentes agentes deste setor sobre o prisma da
concorrência, Žȱ—¨˜ȱŠ™Ž—Šœȱœ˜‹›Žȱ˜ȱŒ˜—¡Ž ˜ȱ›Žž•Šà›’˜ǯ
6. Segundo referido no site da Agência Nacional de Transportes Terres
1
tres, tem-se que:

a atividade econômica do Transporte Rodoviário de Cargas realizado


em vias públicas, no território nacional, por conta de terceiros e me-
’Š—Žȱ›Ž–ž—Ž›Š³¨˜ǰȱŽ¡Ž›Œ’˜ȱ™˜›ȱ™Žœœ˜ŠȱÇœ’ŒŠȱ˜žȱ“ž›Ç’ŒŠȱem regime de livre
concorrência, conforme estabelecido na Lei no 11.442/2007, depende de
prévia inscrição no Registro Nacional de Transportadores Rodoviários
de Cargas — RNTRC. Essa atividade foi regulamentada pela
Resolução ANTT n ȱ řŖśŜȦŘŖŖşȱ ǽŽȱ ™˜œŽ›’˜›ŽœǾȱ Žȱ Šȱ ’—œŒ›’³¨˜ȱ Žȱ
o

manu tenção do RNTRC é de competência da Gerência de Registro e


Acom panhamento do Transporte Rodoviário e Multimodal de Car gas
— GERAR, integrante da Superintendência de Serviços de Trans porte
Rodoviário e Multimodal de Cargas — SUROC. O RNTRC contem pla
transportadores cadastrados em três categorias, a saber:

1
ȱ ŽȱŠŒ˜›˜ȱŒ˜–ȱ˜ȱœ’DZ Ž ȱǀ   ǯŠ—Ĵǯ˜Ÿǯ‹›Ȧ‘–•Ȧ˜‹“ŽŒ œȦȏ˜ —•˜Š‹•˜‹ǯ™‘™ǵŒ˜ȏ‹•˜‹ƽŗŜŗŚŜǁǰȱ
ŸŽ›’ęŒŠ˜ȱŽ–ȱŗŞȱŽȱŠ˜œ˜ȱŽȱŘŖŗŜǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 379-391, set./dez. 2018.


CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA (CADE) | Política de preços mínimos do transporte... 381

i) as Empresas de Transporte Rodoviário de Cargas — ETC,


ii) as Cooperativas de Transporte Rodoviário de Cargas — CTC, e
iii) os Transportadores Autônomos de Cargas — TAC.

7. Frise-se que o art. 4º da Lei n. 11.442/2007 estabelece ainda como se dá


a relação entre os referidos entes, a saber:

Art. 4º O contrato a ser celebrado entre a ETC e o TAC ou entre o dono


˜žȱ Ž–‹Š›ŒŠ˜›ȱ Šȱ ŒŠ›Šȱ Žȱ ˜ȱ ȱ Žę—’›¤ȱ Šȱ ˜›–Šȱ Žȱ ™›ŽœŠ³¨˜ȱ Žȱ serviço desse
último, como agregado ou independente.
§1º Denomina-se TAC-agregado aquele que coloca veículo de sua pro
priedade ou de sua posse, a ser dirigido por ele próprio ou por pre-
™˜œ˜ȱ œŽǰž ȱ Šȱ œŽ›Ÿ’³˜ȱ ˜ȱ Œ˜—›ŠŠ—ǰŽ ȱ Œ˜–ȱ Ž¡Œ•žœ’Ÿ’ŠŽǰȱ –Ž’Š—ȱŽ remu neração
certa.
§2º Denomina-se TAC-independente aquele que presta os serviços de
transporte de carga de que trata esta Lei em caráter eventual e sem
Ž¡Œ•žœ’Ÿ’ŠǰŽ ȱ–Ž’Š—ȱŽ ›ŽȱŠ“žœŠ˜ȱŠȱŒŠŠȱŸ’ŠŽ–ǯ
ȗřķȱ Ž–ȱ™›Ž“žÇ£˜ȱ˜œȱŽ–Š’œȱ ›Žšž’œ’˜œȱŽȱ Œ˜—›˜•ŽȱŽœŠ‹Ž•ŽŒ’˜œȱŽ–ȱ regulamento, é
facultada ao TAC a cessão de seu veículo em regime de
Œ˜•Š‹˜›Š³¨˜ȱŠȱ˜ž›˜ȱ™›˜ęœœ’˜—Š•ǰȱŠœœ’–ȱŽ—˜–’—Š˜ȱ ȱȯȱ ž¡’•’Š›ǰȱ não
implicando tal cessão a caracterização de vínculo de emprego.
(Incluído pela Lei no 13.103, de 2015) (Vigência)
ȗŚķȱ ȱ ›Š—œ™˜›Š˜›ȱ žâ—˜–˜ȱŽȱ Š›Šœȱ ž¡’•’Š›ȱŽŸŽ›¤ȱŒ˜—›’‹ž’›ȱ para a previdência
social de forma idêntica à dos Transportadores Autônomos. (Incluído
pela Lei no 13.103, de 2015) (Vigência)
§5º As relações decorrentes do contrato estabelecido entre o Trans-
™˜›Š˜›ȱ žâ—˜–˜ȱŽȱ Š›ŠœȱŽȱœŽžȱ ž¡’•’Š›ȱ˜žȱŽ—›Žȱ˜ȱ›Š—œ™˜›Š˜›ȱ autônomo e o
embarcador não caracterizarão vínculo de emprego. (Incluído pela Lei
no 13.103, de 2015) (Vigência)

Şǯȱ žȱœŽ“ŠǰȱŽȱŠŒ˜›˜ȱŒ˜–ȱŠȱ Ž’ȱ—ķȱŗŗǯŚŚŘȦŘŖŖŝǰȱ˜ȱ ȱ™˜ȱŽ œŽ›ȱŒ˜—Œ˜››Ž—Žȱ


da ETC ou pode eventualmente ser verticalmente integrado da ETC, atuando
Œ˜–ȱ ˜žȱ œŽ–ȱŽ¡Œ•žœ’Ÿ’ŠŽǯȱ Šȱ ‘’™àŽœŽȱŽȱ œŽ›ȱ Œ˜—Œ˜››Ž—ǰŽ ȱ Š–‹˜œȱ ŠŽ—Žœȱ estarão
competindo pela preferência do “dono ou embarcador da carga”. Frise
se que, eventualmente, há ainda a interferência de um operador logístico, que
faria a intermediação das relações:

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Figura 1 — Relações na cadeia de logística de transporte
Fonte: Vieira & Suyama (2012, p. 5)

9. De acordo com a CNI, a frota dos trabalhadores autônomos (TACs) é


–Š’œȱŠ—’ŠȱšžŽȱŠȱŠœȱŽ–™›ŽœŠœȱŽȱ›Š—œ™˜›ŽǰȱŒ˜—˜›–Žȱ›¤ęŒ˜ȱŠ‹Š’¡˜DZ

’ž›ŠȱŘȱȯȱ ’œ›’‹ž’³¨˜ȱ˜œȱŸŽÇŒž•˜œȱŠœȱ œȱŽȱ˜œȱ œǰȱœŽž— ˜ȱŠ’¡ŠȱŽȱ’ŠǯŽ Fonte: CNI2

2
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA — CNI — TRANSPORTE RODOVIÁRIO
DE CARGA (TRC) CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS E A CRISE ATUAL. De acordo com
<‘™DZȦȦŠ—žǯ˜›Ȧ ™ȬŒ˜—Ž— Ȧ  ž™•˜ŠœȦŘŖŗŝȦŗŗȦŽœž˜ȏ›Š—œ™˜›ȏŽ ›˜˜Ÿ’Š›’˜ȏŒŠ›Šǯ™ǁǰȱ
ŸŽ›’ęŒŠ˜ȱŽ–ȱśȱŽȱ“ž— ‘˜ȱŽȱŘŖŗŞǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 379-391, set./dez. 2018.


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ŗŖǯȱ ˜ȱ ›¤ęŒ˜ȱ Š‹Š’¡˜ǰȱ ˜ȱ ›Š—œ™˜›ȱŽ Šȱ ŒŠ›Šȱ ·ȱ ›Ž™›ŽœŽ—Š˜ȱ Ž—›Žȱ ˜’œȱ pontos:

* o ponto “r” (ponto de origem ou de recebimento da carga pelo


transportador) e
* o ponto “d” (ponto de destino ou de entrega da carga pelo
transportador)

11. Entre os referidos pontos, pode ocorrer por uma combinação de dife
rentes modais (que em alguma medida competem entre si) ou por um modal
único, como o modal rodoviário.

Figura 3 — Diferentes modais disponíveis ao embarcador


Fonte: (Reis & Leal, 2014)3

12. O consumidor, também, eventualmente pode internalizar este


serviço de transporte, virando, assim, um autotransportador, caso, assim,
queira atuar. Também, focando apenas no modal rodoviário, tem-se que há
diferenciação do serviço por tipo de carga:

ȱŒ•Šœœ’ęŒŠ³¨˜ȱžœžŠ•ȱ˜œȱ’™˜œȱŽȱŒŠ›ŠȱȯȱšžŽȱ•ŽŸŠȱŽ–ȱŒ˜—œ’Ž›Š³¨˜ȱŠœȱ
características físicas das mercadorias (granel sólido, granel líquido e
ŒŠ›ŠȱœŽŒŠǼȱ˜žȱŠȱŽ¡’¹—Œ’ŠȱŽȱ›ŠŠ–Ž—˜œȱŽœ™ŽŒ’Š’œȱǻŒŠ›Šȱ›ŠŒ’˜—ŠŠǰȱ
ŒŠ›Šȱ ›’˜›’ęŒŠŠǰȱ šžÇ–’Œ˜œȱ ˜žȱ ™Ž›’˜œ˜œȱ Žȱ ŸŽÇŒž•˜œǼȱȯȱ’—’ŒŠȱ ž–Šȱ
delimitação inicial desses mercados. Muito embora para a maioria das
Š—¤•’œŽœȱ œŽ“Šȱ ™˜œœÇŸŽ•ȱ Œ˜—œ’Ž›Š›ȱ Šȱ ˜Ž›Šȱ Žȱ Šȱ Ž–Š—Šȱ ˜ȱ œŽ›Ÿ’³˜ȱ Žȱ

3
ȱ ˜ȱ –˜Š•ȱ Š·›Ž˜ȱ “¤ȱ ‘˜žŸŽȱ ’—ŸŽœ’Š³¨˜ȱ ˜ȱ ǯȱ ’Žȱ ›˜ŒŽœœ˜ȱ –’—’œ›Š’Ÿ˜ȱ 08012.011027/2006- 02.

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TRC como um todo, é importante ter presente essa segmentação em
–Ž›ŒŠ˜œȱ’œ’—˜œȱ™Š›ŠȱŠ›ȱŒ˜—ŠȱŠœȱ’Ž›Ž—Žœȱ›ŽŠ•’ŠŽœȱŽȱ›Š“Žà›’Šœȱ observadas no
setor.4

13. Daí5 que, embora o serviço de frete possa parecer homogêneo, even-
žŠ•–Ž—Žǰȱ ‘¤ȱ Žœ™ŽŒ’ęŒ’ŠŽœȱ Ž–ȱ ›Ž•Š³¨˜ȱ Š˜ȱ œŽ›Ÿ’³˜ȱ šžȱŽ ŽŸŽ–ȱ œŽ›ȱ Œ˜—œ’Ȭ deradas,
quando se realiza uma análise deste mercado, com o intuito de evitar
distorções.
14. No caso concreto, frise-se que a Resolução ANTT no 5820/2018, que
buscou regulamentar a MP 832/2012, ao estipular um custo padrão para
agentes diferentes, permite que todos aqueles que tenham custo inferior ao
determinado pela norma poderão lucrar com o uso dos “valores mínimos”
ŽœŠ‹Ž•ŽŒ’˜œǰȱ™˜›ȱŽœŠ›Ž–ȱ’–™Ž’˜œȱŽȱ™›ŽŒ’ęŒŠ›ȱŠ‹Š’¡˜ȱŠȱ Š‹Ž•Šǯȱ ’¡˜žȬ
œŽǰȱŠœœ’–ǰȱŠ›’ęŒ’Š•–Ž—ȱŽ ž–ŠȱŠœȱŸŠ›’¤ŸŽ’œȱŠȱ˜›–Š³¨˜ȱ˜ȱŒžœ˜ȱ˜ȱœŽ›Ÿ’³˜ǰȱ com as
potenciais consequências a seguir descritas.
ŗśǯȱ Ž–Š’œǰȱŠȱ™›à™›’Šȱ ȱŞřŘȦŘŖŗŖȱŽœŠ‹Ž•ŽŒŽȱšžȱŽ ˜ȱ™›˜ŒŽœœ˜ȱŽȱę¡Š³¨˜ȱ dos
preços mínimos contará com a participação dos representantes das coope
rativas de transporte de cargas e dos sindicatos de empresas de transportes e
Žȱ›Š—œ™˜›Š˜›ŽœȱŠžâ—˜–˜œȱŽȱŒŠ›Šœǰȱ˜žȱœŽ“Šǰȱ˜œȱ’ŸŽ›œ˜œȱŒ˜—Œ˜››Ž—Žœȱ do setor,
aumentando, assim, as preocupações de caráter concorrencial deri vadas do
debate dos custos setoriais comuns pelos concorrentes, pela criação de um
ambiente de incentivo ao comportamento cooperativo (similar ao cenário de
cartelização).

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CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA — CNI — TRANSPORTE RODOVIÁRIO
DE CARGA (TRC) - CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS E A CRISE ATUAL. De acordo
com <‘Ĵ™DZȦȦŠ—žǯ˜›Ȧ ™ȬŒ˜—Ž— Ȧ  ž™•˜ŠœȦŘŖŗŝȦŗŗȦŽœž˜ȏ›Š—œ™˜›ȏŽ ›˜˜Ÿ’Š›’˜ȏŒŠ›Šǯ™ǁ ǰȱ
ŸŽ›’ęŒŠ˜ȱŽ–ȱśȱŽȱ“ž— ‘˜ȱŽȱŘŖŗŞǯ
5
ȱ œŠȱ’Ÿ’œ¨˜ǰȱŒ˜–ȱŠȱ’—Œ•žœ¨˜ȱ˜ȱŽ›–˜ȱ—Ž˜›Š—Ž•ǰȱŒ˜—œŠǰȱŠ–‹·–ǰȱ˜ȱŽ¡˜ȱŠȱ Ž’Šȱ ›˜Ÿ’- sória 832/2018, no
seu art. 3ºǰȱŒ˜—˜›–ŽȱœŽȱŸŽ›’ęŒŠȱŠ‹Š’¡˜DZȱ
ȱȯȱŒŠ›ŠȱŽ›Š•ȱȯȱŠȱŒŠ›ŠȱŽ–‹Š›ŒŠŠȱ
Žȱ›Š—œ™˜›ŠŠȱŒ˜–ȱŠŒ˜—’Œ’˜—Š–Ž— ˜ǰȱŒ˜–ȱ–Š›ŒŠȱŽȱ’Ž— ’ęŒŠ³¨˜ȱŽȱŒ˜–ȱŒ˜—ŠŽ–ȱŽȱž— ’Š- ŽœDzȱ

ȱȯȱŒŠ›ŠȱŠȱ›Š—Ž•ȱȯȱŠȱŒŠ›Šȱ•Çšž’Šȱ˜žȱœŽŒ ŠȱŽ–‹Š›ŒŠŠȱŽȱ›Š—œ™˜›ŠŠȱœŽ–ȱŠŒ˜—’Œ’˜—Š-
–Ž— ˜ǰȱœŽ–ȱ–Š›ŒŠȱŽȱ’Ž— ’ęŒŠ³¨˜ȱŽȱœŽ–ȱŒ˜—ŠŽ–ȱŽȱž— ’ŠŽœDzȱ

ȱȯȱŒŠ›Šȱ›’˜›’ęŒŠŠȱȯȱŠȱ carga que necessita ser refrigerada ou congelada para conservar as


qualidades essenciais do ™›˜ž˜ȱ›Š—œ™˜›Š˜Dzȱ
ȱȯȱŒŠ›Šȱ™Ž›’˜œŠȱȯȱŠȱŒŠ›Šȱ™ŠœœÇŸŽ•ȱŽȱ™›˜Ÿ˜ŒŠ›ȱŠŒ’Ž— Žœǰȱ˜ŒŠœ’˜-
—Š›ȱ˜žȱ™˜Ž— Œ’Š•’£Š›ȱ›’œŒ˜œǰȱŠ—’ęŒŠ›ȱŒŠ›Šœȱ˜žȱ–Ž’˜œȱŽȱ›Š—œ™˜›ȱŽ ŽȱŽ›Š›ȱ™Ž›’˜ȱ¥œȱ™Žœœ˜Šœȱ
šžŽȱŠȱ–Š—’™ž•Ž–DzȱŽȱ ȱȯȱŒŠ›Šȱ—Ž˜›Š—Ž•ȱȯȱŠȱŒŠ›Šȱ˜›–ŠŠȱ™˜›ȱŒ˜—•˜–Ž›Š˜œȱ‘˜–˜¹—Ž˜œȱ
Žȱ–Ž›ŒŠ˜›’ŠœǰȱŽȱŒŠ›ŠȱŽ›Š•ǰȱœŽ–ȱŠŒ˜—’Œ’˜—Š–Ž— ˜ȱŽœ™ŽŒ ÇꌘȱŽȱŒž“˜ȱŸ˜•ž–ȱŽ ˜žȱšžŠ—’Ȭ dade
possibilite o transporte em lotes, em um único embarque.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 379-391, set./dez. 2018.


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II. Da intervenção estatal na economia — considerações


sobre tabelamento

16. Orientada “™Ž•˜œȱ ’Š–Žœȱ Œ˜—œ’žŒ’˜—Š’œȱ Žȱ•’‹Ž›ŠȱŽ Žȱ’—’Œ’Š’ŸŠǰȱ•’Ÿ›Žȱ


Œ˜—Œ˜››¹—Œ’Šǰȱž—³¨˜ȱ œ˜Œ’Š•ȱ Šȱ ™›˜™›’ŽŠŽǰȱ ŽœŠȱ ˜œȱ Œ˜—œž–’˜›Žœȱ Žȱ ›Ž™›Žœœ¨˜ȱ Š˜ȱ
abuso do poder econômico ” (artigo 1º, Lei noȱŗŘǯśŘşȦŘŖŗŗǼǰȱŠȱ“ž›’œ™›ž¹ —Œ’Šȱ˜ȱ
CADE tem sido bastante assertiva sobre as consequências da intervenção
estatal na economia, especialmente quando desta resulta a mitigação de
condições ȃà’–ŠœȄȱ šžŽȱ ™›˜™’Œ’Š–ȱ Šȱ –Š¡’–’£Š³¨˜ȱ ˜œȱ ™›’–Š˜œȱ
Œ˜—œ’žŒ’˜—Š’œȱ Šȱ livre-iniciativa.
17. Reage, em realidade, à lembrança de que na história recente do país
diversos planos econômicos previam o tabelamento de preços e a inter-
ŸŽ—³¨˜ȱ ’›ŽŠȱ ˜œȱ –Š’œȱ ŸŠ›’Š˜œȱ ’™˜œǰȱ –ŽŒŠ—’œ–˜œȱ –ž’˜ȱ ™•Š—’ęŒŠ˜œȱ Žȱ
Žœ¤’Œ˜œȱ™Š›ŠȱŠ›ȱŒ˜—ŠȱŽȱŽšž’•Ç‹›’˜œȱšžȱŽ œ¨˜ȱ™˜›ȱŽę—’³¨˜ȱŽ—â–Ž—˜œȱ’—¦Ȭ
–’Œ˜œǰȱŒž“˜ȱŽœŒ˜–™Šœœ˜ȱŒ˜–ȱ Šȱ ›ŽŠ•’ŠŽȱ™˜ȱŽ ŒŠžœŠ›ȱœ·›’˜œȱ™›˜‹•Ž–ŠœȱŽȱ
desabastecimento, em razão de sinalizações equivocadas.
ŗŞǯȱ œ™ŽŒ’ęŒŠ–Ž—ȱŽ šžŠ—˜ȱ Š˜ȱ Š‹Ž•Š–Ž—˜ȱ Žȱ ™›Ž³˜œȱ ’œŒž’˜ȱ Ž–ȱ abstrato, são
reconhecidamente públicos os problemas concorrenciais (e eco nô micos
deles decorrentes) causados, enunciados tanto em decisões de atos de
concentração quanto em processos sancionadores de condutas anticom
petitivas.
19. Registre-se que os argumentos a seguir apresentados referem-se a
›ŽĚŽ¡äŽœȱŽ›Š’œǰȱ›Š£’ŠœȱŠ™Ž—ŠœȱŒ˜–˜ȱ˜›–ŠȱŽȱŽ–˜—œ›Š›ȱŠœȱ™›Ž˜Œž™Š³äŽœȱ levantadas
nas análises efetuadas pelo órgão:

i) mitigação da liberdade contratual — o estabelecimento de um preço/


Œžœ˜ȱę¡˜ȱ’–™ŽŽȱšžŽȱ˜œȱŠŽ—ŽœȱŽȱ–Ž›ŒŠ˜ȱ’—Ž›Š“Š–ȱŽȱŠŒ˜›˜ȱŒ˜–ȱ
ŠœȱŽœ™ŽŒ’ęŒ’ŠŽœȱŽȱ œžŠœȱ œ’žŠ³äŽœǰȱ Œ˜–ȱ™Ž›ŠœȱŽȱŽęŒ’¹—Œ’Šȱ™Š›Šȱ ˜ȱ
ŠŽ—’–Ž—˜ȱŽȱœžŠœȱ—ŽŒŽœœ’ŠŽœDz
ii) risco de incremento de custo na cadeia de formação de preço de
produtos/serviços — o tabelamento tende a provocar um incremento
Ÿ’—Œžȱ•Š—Žȱ—˜ȱ™›Ž³˜ȱꗊ•ȱ˜ȱ™›˜ž˜ȱǻ›Ž™ŠœœŽǼǰȱŽ–ȱ™›Ž“žÇ£˜ȱŠ˜ȱŒ˜—œžȬ
–’˜›ǰȱœŽ“ŠȱŽ•ŽȱŠȱŒŠŽ’ŠȱŽȱ™›˜ž³¨˜ȱŽȱꗊ•ȱǻ•’–’Š³¨˜ȱŠȱ™˜œœ’‹’•’ŠŽȱ Žȱ‹Š›Š—‘ŠǼDz
iii) redução da competitividade entre concorrentes — a estipulação
˜›³ŠŠȦŠ›’ęŒ’Š•ȱ Žȱ ž–ȱ Œžœ˜Ȧ™›Ž³˜ȱ ’–™ŽŽȱ šžŽȱ ˜œȱ Œ˜—Œ˜››Ž—Žœȱ
Ž¡™•˜›Ž–Ȭ—˜ȱŒ˜–˜ȱ’—œ›ž–Ž—˜ȱŽȱ’œ™ža do mercado, gerando uma
Š›’ęŒ’Š•’ŠŽȱŽȱ™Š›’Œ’™Š³äŽœȱǻ–Š›”Žȱ œ‘Š›ŽǼDz

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 379-391, set./dez. 2018.


386 REVISTA DE DIREITO ADMINISTRATIVO

iv) risco de redução de incentivos à inovação de mercado por parte ˜œȱ


Œ˜—Œ˜››Ž—Žœǰȱ ™Ž•˜ȱ Œ˜—Ž•Š–Ž—˜ȱ Šȱ Ž¡™ŽŒŠ’ŸŠȱ Žȱ •žŒ›˜ȱ ȯȱ Šȱ certeza (ou
alta previsibilidade) de manutenção estável de lucro sobre um
determinado produto/serviço, sem riscos de perda de participação de
mercado (redução do –Š›”Žȱ œ‘Š›Ž), tende a desincentivar os Œ˜–™Ž’˜›Žœȱ Šȱ
ŽœŽ—Ÿ˜•ŸŽ›Ž–ȱ ™›˜ž˜œȦœŽ›Ÿ’³˜œȱ –Š’œȱ ŽęŒ’Ž—Žœȱ ˜žȱ ’œ›ž™’Ÿ˜œDz
ŸǼȱ ›’œŒ˜ȱŽȱ šžŽŠȱŽȱ šžŠ•’ŠȱŽ ˜ȱ™›˜ž˜ȦœŽ›Ÿ’³˜ȱȯȱ Œ˜–ȱ Šȱę¡Š³¨˜ȱ
Š›’ęŒ’Š•ǰȱ˜ȱ™›Ž³˜ȱ™Ž›Žȱž—³¨˜ȱŽȱœ’—Š•’£Š³¨˜ȱŽȱŽȱ™ž—’³¨˜ȱ˜œȱŠŽ—Žœȱ Žȱ –Ž›ŒŠ˜ȱ šžŽȱ
—¨˜ȱ Œ˜—œŽžŽ–ȱ Œ˜–™Ž’›ȱ ™˜›ȱ ž–Šȱ ’—ŽęŒ’¹—Œ’Šȱ —Šȱ ™›ŽœŠ³¨˜ȱ ˜ȱ œŽ›Ÿ’³˜ǯȱ
œœ’–ǰȱ Œ›’ŠȬœŽȱ Š›’ęŒ’Š•–Ž—Žȱ ž–Šȱ Ž—¹—Œ’Šȱ ¥ȱ queda de qualidade do
mercado como um todo, pela acomodação dos Œ˜—Œ˜››Ž—ŽœDz
vi) risco de desvio de demanda para outros serviços (substituilidade),
™˜›ȱ ŸŠ—Š“˜œ’ŠȱŽ Œ›’ŠŠȱ ™˜›ȱ œž™Ž›™›ŽŒ’ęŒŠ³¨˜ȱ ˜žȱ œž‹™›ŽŒ’ęŒŠ³¨˜ȱ
Š›’ęŒ’Š•ȱȯȱ˜ȱŽœŸ’˜ȱŽȱŽ–Š—Šȱœž›ŽȱŒ˜–˜ȱž–Šȱ ›ŽŠ³¨˜ȱ Š˜œȱŒžœ˜œȱ
Š›’ęŒ’Š•–Ž—ŽȱŽœŠ‹Ž•ŽŒ’˜œȱŽȱ¥ȱšžŽŠȱŠȱšžŠ•’ŠȱŽ ˜ȱœŽ›Ÿ’³˜ȱŒ˜–˜ȱž–ȱ todo (perda de
otimização do custo-benefício), e geram no horizonte de longo prazo o
risco de enfraquecimento do próprio mercado relevante daquele
produto/serviço pela perda de interesse dos consumidores em
Ž•ȱœŽȱž’•’£Š›ǯȱ Š•ȱŒ’›Œž—œ¦—Œ’Šȱ·ȱÇ™’ŒŠȱŽ–ȱœ’žŠ³äŽœȱŽȱŠž–Ž—˜ȱŽȱ
˜Ž›ŠȱŽ–ȱž–ȱŒ˜—Ž¡˜ȱŽȱ™›·Ȭœ˜‹›Ž˜Ž›Šȱ ǻ’—Œ›Ž–Ž—˜ȱŽȱ˜Ž›Šȱ—ž–ȱ
ŒŽ—¤›’˜ȱŽ–ȱšžŽȱŠȱŽ–Š—Šȱ“¤ȱ—¨˜ȱŠ‹œ˜›Ÿ’ŠȱŠȱ˜Ž›Šȱ™›Ž¡Ž ’œŽ—ŽǼǯ

20. As consequências do tabelamento, como acima demonstradas, resul tam


na proteção da margem de lucro dos ofertantes de determinado serviço,
˜ȱšžŽǰȱ—˜ȱ‘˜›’£˜—ȱŽ –·’˜ǰȱ™˜ŽȱœŽ›ȱ™›Ž“ž’Œ’Š•ȱ’—Œ•žœ’ŸŽȱŠȱŽ•Žœȱ™›à™›’˜œǯ
21. Assim, o entendimento consolidado do CADE, estável em diversas
composições de seu tribunal, é a de que o tabelamento de preço constitui
uma infração à ordem econômica passível de condenação. Entre essas
decisões Žœ¨˜ǰȱ™˜›ȱŽ¡Ž–™•˜ǰȱŠȱŒ˜—Ž—Š³¨˜ȱŽȱŠ‹Ž•ŠȱŽȱ™›Ž³˜ȱŽȱœŽ›Ÿ’³˜œȱ–·’Œ˜œDzȱŽȱ
Š‹Ž•ŠȱŽȱ™›Ž³˜ȱŽȱ›ŽȱŽȱ›Š—œ™˜›ŽȱŽȱŒ˜–‹žœÇŸŽ’œDzȱŽȱŽ–ȱ˜ž›˜œȱ–Ž›ŒŠ˜œǰȱ como de
autoescolas e agências de viagens.
ŘŘǯȱ žŽœ¨˜ȱ’–™˜›Š—ŽȱŽȱœŽ›ȱ›ŽœœŠ•ŠŠȱ·ȱšžŽǰȱœŽž—˜ȱ˜ȱŽ¡˜ȱŠȱ ȱ
ŞřŘȦŘŖŗŞǰȱŽ–‹˜›ŠȱœŽ“ŠȱŠȱ ȱŠȱ ¹—Œ’ŠȱšžȱŽ ›Žž•Šȱ˜ȱ™›Ž³˜ȱ–Ç—’–˜ȱ˜ȱ›Žǰȱ
Ž–ȬœŽȱšžȱŽ ˜ȱ™›˜ŒŽœœ˜ȱŽȱę¡Š³¨˜ȱ˜œȱ™›Ž³˜œȱ–Ç—’–˜œȱŒ˜—Š›¤ǰȱŽȱŠ˜›ŠȱŽ–ȱ diante, com a
partic’™Š³¨˜ȱ Žȱ ’ŸŽ›œ˜œȱ Œ˜—Œ˜››Ž—Žœȱ ˜ȱ œŽ˜›ǰȱ ˜žȱ œŽ“Šǰȱ ˜œȱ representantes das
cooperativas de transporte de cargas e dos sindicatos

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 379-391, set./dez. 2018.


CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA (CADE) | Política de preços mínimos do transporte... 387

de empresas de transportes e de transportadores autônomos de cargas,


aumentando, assim, preocupações de caráter concorrencial derivadas de tais
tabelas mínimas de preço. Concorrentes, sentando à mesa, para debater
custos setoriais comuns, representam uma afronta ao Princípio da Livre
Concor-
›¹—Œ’ŠǰȱŽ¡™›Žœœ˜ȱ—Šȱ ˜—œ’ž’³¨˜ȱ Ž›Š•ȱ˜ȱ ›Šœ’•ǯ
23. Decisão recente do CADE corrobora essa preocupação. Na Consulta
o
n 08700.001540/2018-62, apresentada pelo Sindicato dos Transportadores
žâ—˜–˜œȱŽȱ ˜—¹’—Ž›ŽœȱŽ–ȱŽ›Š•ȱŽȱ
Š“ŠÇȱŽȱ Ž’¨˜ȱȯȱ
ȱŽȱ™Ž•˜ȱ ’—’ŒŠ˜ȱŠœȱ –™›ŽœŠœȱŽȱ ŽÇŒž•˜œȱŽȱ ›Š—œ™˜›ȱŽ Žȱ Š›ŠȱŽȱ ˜Çœ’ŒŠȱŽȱ
Š“ŠÇȱ e Região — SEVEICULOS para sanar dúvidas a respeito do
estabelecimento de tabela de preço mínimo de fretes, idealizada e acordada
entre as partes consultantes após paralisações no setor de transporte
rodoviários de cargas, ˜ȱ Ÿ˜˜ȱ Šȱ ˜—œŽ•‘Ž’›Šȱ Šž•Šȱ £ŽŸŽ˜ȱ Š—Š•’œ˜žȱ ‹›ŽŸŽ–Ž—Žȱ ˜ȱ ›˜“Ž˜ȱ
Žȱ Ž’ȱ Šȱ ¦–Š›Šȱ ŗŘŗȦŘŖŗŝȱ ǻ ȱ ŗŘŗȦŗŝǼǰȱ šžŽȱ œŽȱ Ž—Œ˜—›ŠŸŠȱ —˜ȱ Ž—Š˜ȱ œ˜‹ȱ
˜ȱ número 528/2015,6 com dicção muito semelhante à MP 832/2018. No
referido

ȱ
6
–ȱœŽžȱŸ˜˜ȱŠȱŒ˜—œŽ•‘Ž’›ŠȱŠę›–ŠDZȱ ˜—œ’Ž›Š—˜ȱŠȱœ’–’•Š›’ŠŽȱ˜œȱŽ–ŠœǰȱŠ™›˜ŸŽ’˜ȱ˜ȱŽ— œŽ“˜ȱ Šȱ
˜—œž•Šȱ™Š›Šȱ›ŠŠ›ȱ‹›ŽŸŽ–Ž— ȱŽ ˜ȱ ›˜“Ž˜ȱŽȱ Ž’ȱŠȱ ¦–Š›ŠȱŗŘŗȦŘŖŗŝȱǻ ȱŗŘŗȦŗŝǼǰȱšžŽȱœŽȱ
Ž— Œ˜—›ŠȱŽ–ȱ›Š–’Š³¨˜ȱ—˜ȱ Ž— Š˜ǰȱŠ™›˜ŸŠ˜ȱ—Šȱ ¦–Š›Šȱ˜œȱ Ž™žŠ˜œȱŒ˜–˜ȱ˜ȱ ›˜“Ž˜ȱŽȱ Ž’ȱ
śŘŞȦŘŖŗśǰȱšžŽȱ˜‹“Ž’ŸŠȱŒ›’Š›ȱŠȱ ˜•Ç’ŒŠȱŽȱ ›Ž³˜œȱ Ǘ’–˜œȱ˜ȱ ›Š—œ™˜›Žȱ ˜˜Ÿ’¤›’˜ȱŽȱ Š›Šœǯȱ ȱ
›˜“Ž˜ȱ’œ™äŽǰȱŽ–ȱœŽȱž Š›’˜ȱ5º, que “será editada pelo órgão competente, nos meses de
“Š—Ž’›˜ȱŽȱ“ž•‘˜ǰȱŠ‹Ž•ŠȱŒ˜–ȱ˜œȱŸŠ•˜›Žœȱ–Ç—’–˜œȱ›ŽŽ›Ž— ŽœȱŠ˜ȱšž’•â–Ž›˜ȱ›˜Š˜ȱ—Šȱ›ŽŠ•’£Š³¨˜ȱ
Žȱ›Žœǰȱ™˜›ȱŽ’¡˜ȱŒŠ››ŽŠ˜ǰȱŒ˜—œ’Ž›ŠŠœȱŠœȱŽœ™ŽŒ ’ęŒ’ŠŽœȱŠœȱŒŠ›ŠœȱŽę—’Šœȱ—˜ȱŠ›ǯȱ2º ŽœŠȱ Ž’Ȅǯȱ
·ȱšžŽȱŠ•ȱ—˜›–ŠȱœŽ“ŠȱŽ’ŠŠǰȱ˜ȱ›ŽŽ›’˜ȱ ›˜“Ž˜ȱ“¤ȱŽę—ŽȱŸŠ•˜›Žœȱ–Ç—’–˜œȱ™Š›Šȱ (i) carga geral, carga a granel
e carga neogranel em setenta centavos de real por quilômetro
›˜Š˜ȱ™Š›ŠȱŒŠŠȱŽ’¡˜ȱŒŠ››ŽŠ˜Dzȱ™Š›Šȱ ǻ’’ǼȱŒŠ›Šȱ ›’˜›’ęŒŠŠȱŽȱŒŠ›Šȱ™Ž›’˜œŠȱŽ–ȱ—˜ŸŽ— Šȱ
ŒŽ— ŠŸ˜œȱŽȱ›ŽŠ•ȱ™˜›ȱšž’â• –Ž›˜ȱ›˜Š˜ȱ™Š›ŠȱŒŠŠȱŽ’¡˜ȱŒŠ››ŽŠ˜ǰȱ—˜œȱ Ž›–˜œȱ˜ȱŠ›’˜ȱ8º, incisos I e II. Ainda,
o parágrafo único do artigo 8ºȱŽę—ŽȱšžŽǰȱŽ–ȱ ›ŽœȱŒž›˜œȱ ǻ›ŽŠ•’£Š˜œȱ
Ž–ȱ’œ¦—Œ’Šœȱ’—Ž›’˜›ŽœȱŠȱ˜’˜ŒŽ— ˜œȱšž’â• –Ž›˜œǼǰȱ˜œȱŸŠ•˜›Žœȱ˜œȱ’—Œ’œ˜œȱ–Ž— Œ’˜—Š˜œȱꌊ–ȱ
ŠŒ›ŽœŒ’˜œȱ Žǰȱ —˜ȱ –Ç—’–˜ǰȱ ŗśƖǯȱ œȱ ŸŠ•˜›Žœȱ Žœ’™ž•Š˜œȱ ™Ž•˜ȱ ǰȱ ’Ž›Ž— Ž–Ž— ȱŽ ˜ȱ šžŽȱ ocorre com os
valores estabelecidos pela Resolução 4.810/2015 da ANTT, não dizem respeito ao cálculo de
custo e não são meramente referenciais, mas, sim, vinculativos, de modo que a
—¨˜ȱ˜‹œŽ›Ÿ¦—Œ’Šȱ˜œȱ™Š›¦–Ž›˜œȱŽœŠ‹Ž•ŽŒ ’˜œȱŽ— œŽ“Š›¤ȱŠȱŠ™•’ŒŠ³¨˜ȱŽȱ™Ž— Š•’ŠŽœǰȱŒ˜—˜›–Žȱ disposto
no §2º do artigo 5ºǯȱ ȱ Ž¡’—Šȱ ŽŒ ›ŽŠ›’Šȱ Žȱ Œ˜–™Š—‘Š–Ž— ˜ȱ Œ˜—â–’Œ˜ȱ ǻ Ǽȱ
Ž–’’žȱ™Š›ŽŒ Ž›ȱšžŠ—˜ȱŠ˜ȱ ›˜“Ž˜ȱŽȱ Ž’ȱśŘŞȦŘŖŗśǰȱ—˜ȱšžŠȱ• Ž¡Ž›—˜žȱŠœȱ–Žœ–Šœȱ™›Ž˜Œž™Š³äŽœȱ Š™˜—ŠŠœȱ™Ž•˜ȱ
ȱ—˜œȱ“ž•Š–Ž— ˜œȱœ˜‹›ŽȱŠȱšžŽœ¨ ˜ǯȱ ȱ·™˜ŒŠǰȱŠȱ ŽŒ ›ŽŠ›’Šȱ˜‹œŽ›Ÿ˜žȱšžŽȱŠȱ
Žę—’³¨˜ȱŽȱŠ‹Ž•ŠȱŽȱ™›Ž³˜œȱ›ŽŽ›Ž— Œ’Š’œȱŠŠœŠ›’Šȱ˜ȱ–ŽŒ Š—’œ–˜ȱŽȱŽšž’•Ç‹›’˜ȱŽȱ™›Ž³˜œȱ™Ž•Šȱ interação entre
ofertantes e demandantes em um ambiente de livre mercado, de modo que: “o escopo de
competição entre os ofertantes seria reduzido, afetando-se o processo de barganha e a
potencial concessão de descontos, que adviria da gestão do agente econômico sobre os custos
ŽȱœžŠȱŠ’Ÿ’ŠǰŽ ȱ™˜›ȱ–Ž’˜ȱŽȱŠ³äŽœȱŒ˜–˜ȱ‹Š›Š—‘Šȱ“ž— ˜ȱŠȱ˜›—ŽŒ Ž˜›Žœǰȱ™˜•Ç’ŒŠȱŽȱŒ˜–™›Šœǰȱ seleção de
fornecedores e produtos substitutos”. Observou também que a demanda do serviço de
transporte rodoviário de cargas é caracterizada pela ausência de substitutos diretos, razão
pela qual haveria “certa rigidez na estrutura de custos das diversas atividades produtivas no
que se refere à substituição do insumo transporte rodoviário, de forma que eventuais
reduções na demanda seriam correlacionadas com reduções no nível dessas atividades
produtivas. Assim, a elevação do frete mínimo seria absorvida pelos consumidores”. Assim,
seu parecer foi

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 379-391, set./dez. 2018.


388 REVISTA DE DIREITO ADMINISTRATIVO

precedente, o CADE concluiu que tal tabela de preços mínimos, referida —˜ȱ
›˜“Ž˜ȱŽȱ Ž’ȱ śŘŞȦŘŖŗśǰȱŽ›Šȱ ȃŠ—˜œŠȱ Š˜ȱ Š–‹’Ž—Žȱ Œ˜—Œ˜››Ž—Œ’Š•ȱ Š˜ȱ ›Žž£’›ȱ Šȱ
Œ˜–™Ž’’Ÿ’ŠȱŽ Ž—›ŽȱŒ˜—Œ˜››Ž—Žœǰȱ™˜›ȱŠŽŠ›ȱ˜ȱ–ŽŒŠ—’œ–˜ȱŽȱŽšž’Ç• ‹›’˜ȱŽȱ™›Ž³˜œȱŽȱ
•’–’Š›ȱŠȱ™˜œœ’‹’•’ŠȱŽ Žȱ‹Š›Š—‘Šǰȱ–Ž˜ȱŠȱ™›Ž“ž’ŒŠ›ȱ˜œȱŒ˜—œž–’˜›Žœȱꗊ’œ”.
ŘŚǯȱ žȱœŽ“Šǰȱ˜ȱ ȱ“¤ȱŠ—Š•’œ˜žȱŽœŽȱ’™˜ȱŽȱœ’žŠ³¨˜ȱŽȱŠę›–˜žȱŽȱ–Š—Ž’›Šȱ muito
categórica de que há grande possibilidade deste tipo de tabela gerar
™›Ž“Ç ž £˜œȱ¥ȱœ˜Œ’ŽŠŽȱ‹›Šœ’•Ž’›Šǯȱ ¨˜ȱ‹ŠœŠœœŽȱ’œœ˜ǰȱŽœȱŽ ’™˜ȱŽȱ–˜Ÿ’–Ž—˜ȱŽȱ
ŽȱœŽ˜›ǰȱŽœ™ŽŒ’ęŒŠ–Ž—ǰŽ ȱ™˜œœž’ȱ•Š›˜ȱ‘’œà›’Œ˜ȱŽȱ™›¤’ŒŠœȱŠ—’Œ˜–™Ž’’ŸŠœǰȱ com
incentivos a prática de cartelização, o que a criação de uma tabela de preços
mínimos somente faz reforçar.
Řśǯȱ –ȱž–ŠȱŠ—¤•’œŽȱŠ’—Šȱœž™Ž›ęŒ’Š•ȱœ˜‹›Žȱ˜ȱŒ˜—Žø˜ȱŠȱ—˜›–ŠȱŠŠŒŠŠǰȱ o
CADE entende que há um risco real da tabela gerar um risco para os
™›à™›’˜œȱŒŠ–’—‘˜—Ž’›˜œǰȱœŽ“Šȱ™˜›šžȱŽ œŽȱŠž–Ž—Šȱ˜ȱ›’œŒ˜ȱŽȱ˜ȱŒ•’Ž—ŽȱŽŒ’’›ȱ
internalizar o serviço de frete, a depender dos custos mínimos impostos via
Š‹Ž•Šǰȱ œŽ“Šȱ ™˜›šžŽȱ œŽȱ Œ›’Šȱ Šȱ ™˜œœ’‹’•’ŠȱŽ Žǰȱ Ž–ȱ ž–ȱ ŒŽ—¤›’˜ȱ Œ˜–ȱ Ž¡ŒŽœœ˜ȱ de
oferta, parte dos caminhoneiros decidir, por sua própria vontade, não seguir
a tabela, criando distorções de competitividade dentro da própria classe de
transportadores, em que os cumpridores da norma irão perder
competitividade.
26. Além disso, com preços mais caros, com o frete não obedecendo a lei
de oferta e demanda, é esperada uma diminuição da demanda por produtos
ꗊ’œǰȱ ˜ȱ šžŽǰȱ ™˜›ȱ Œ˜—œŽšž¹—Œ’Šǰȱ ’–’—ž’›¤ȱ ˜ȱ —ø–Ž›˜ȱ Žȱ ›Žœȱ Žȱ ’–’—ž’›¤ȱ as
oportunidades de emprego disponíveis. Tal fenômeno é conhecido, em
–’Œ›˜ŽŒ˜—˜–’Šǰȱ Œ˜–˜ȱ Ž›Š³¨˜ȱ Žȱ ™Žœ˜ȱ –˜›˜ȱ œ˜Œ’Š•ǰȱ ˜žȱ œŽ“Šǰȱ ›ŠŠȬœŽȱ Šȱ situação
na qual há um desequilíbrio em que a demanda consome menos Žȱ
Šȱ˜Ž›ŠȱŒ˜—›ŠžŠ•’£Šȱ–Ž—˜œȱ˜ȱšžŽȱ œŽ›’Šȱ œ˜Œ’Š•–Ž—ȱŽ ŽœŽ“¤ŸŽ•ȱŽȱ˜ȱšžȱŽ ocorreria,
normalmente, caso não houvesse intervenção estatal na economia.
Řŝǯȱ ˜››˜‹˜›Š—˜ȱ Œ˜–ȱ Šœȱ ™›Ž˜Œž™Š³äŽœȱ Ž¡Ž›—ŠŠœȱ ŠŒ’–Šǰȱ ŽœŠšžȬ Ž œŽȱ
šžŽȱŽœž˜œȱ–˜œ›Š–ȱšžŽȱŠȱ›Žž•Š³¨˜ȱŠž–Ž—˜ȱž œ’—’ęŒŠ’ŸŠ–Ž—Žȱ˜œȱŒžœ˜œȱ e os fretes nos EUA
entre 1940 e 1980, quando havia uma regulamentação
Žœ™ŽŒÇꌊȱ™Š›Šȱ›Žœȱ›˜˜Ÿ’¤›’˜œǰȱŠȱ ŽȬ ž• ’—”•Žȱ ŒǰȱšžȱŽ Œ›’˜žȱ’–ž—’ŠŽȱ Š—’›žœŽȱ —˜ȱ œŽ˜›ǯȱ
Šȱ Žę—’³¨˜ȱ Šȱ Ž›Š•ȱ ›ŠŽȱ ˜––’œœ’˜—ȱȯȱ ǰȱ Šœȱ
Œ˜—›¤›’˜ȱ¥ȱŠ™›˜ŸŠ³¨˜ȱ˜ȱ ›˜“Ž˜ȱŽȱ Ž’ȱśŘŞȦŘŖŗśǰȱŒ˜—Œ•ž’—˜ȱšžŽȱ˜ȱ ›˜“Ž˜ȱŽ–ȱȃ˜ȱŒ˜—ȱ¨˜ȱŽȱ ›Žœ›’—’›ȱ
œ’— ’ęŒŠ’ŸŠ–Ž— Žȱ Šœȱ Œ˜—’³äŽœȱ Žȱ Œ˜–™Ž’³¨˜ȱ —˜ȱ œŽ˜›ȱ Žȱ ›Š—œ™˜›Žȱ ›˜˜Ÿ’¤ȱ›’˜ȱ Žȱ
ŒŠ›Šœǰȱ™˜’œǰȱŽȱž–ȱ–˜˜ȱŽ›Š•ǰȱ Šȱę¡Š³¨˜ȱŽȱ™›Ž³˜œȱ–Ç—’–˜œȱŽȱ ›Žȱ Œ˜››Žœ™˜—Ž›’Šȱ Šȱ
ž–Šȱ’—ŽęŒ’¹—Œ’ŠȱŠȱŠ•˜ŒŠ³¨˜ȱŽȱ›ŽŒ ž›œ˜œȱŽŒ ˜—â–’Œ˜œȱ—˜ȱ–Ž›ŒŠ˜ȱŽȱ›Š—œ™˜›Žœȱ›˜˜Ÿ’¤›’˜œȱ de
cargas”.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 379-391, set./dez. 2018.


CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA (CADE) | Política de preços mínimos do transporte... 389

Ž—Š’ŸŠœȱ Žȱ ›Žž•Š³¨˜ȱ ˜œȱ ›Žœȱ Ž›Š›Š–ȱ Ÿ¤›’Šœȱ ’—ŽęŒ’¹—Œ’Šœǰȱ ’—Œ•žœ’ŸŽȱ quanto ao
número de empregos no setor.7
ŘŞǯȱ ŽœŽȱ –˜˜ǰȱ Ž¡’œŽ–ȱ –ž’Šœȱ ŽŸ’¹—Œ’Šœȱ Žȱ šžŽȱ ˜ȱ šžŽȱ Žœ¤ȱ œŽ—˜ȱ proposto como
tabelamento do preço do frete é claramente contrário ao interesse dos
consumidores e dos próprios caminhoneiros, pois irá aumentar
˜œȱ™›Ž³˜œȱ˜œȱ‹Ž—œȱꗊ’œȱ—˜ȱŒž›˜ȱ™›Š£˜ȱŽȱŽ›Š›ȱ›ŠŸŽœȱ’œ˜›³äŽœȱ—Šȱ’—¦–’ŒŠȱ
concorrencial do transporte rodoviário de cargas no médio e longo prazo.
Mais ainda, ˜ȱŠ‹Ž•Š–Ž—˜ȱŽȱ™›Ž³˜œȱ–Ç—’–˜œȱŠŒŠ‹ŠȱŽ›Š—˜ǰȱŠ˜ȱꗊ•ǰȱ˜ȱ resultado
semelhante ao de uma cartelizaçãoǰȱ˜žȱœŽ“ŠǰȱŠȱž—’˜›–’£Š³¨˜ȱ˜œȱ preços de
agentes que deveriam concorrer no mercado por meio da oferta de melhores
serviços.

III. Livre concorrência × política pública — a isenção antitruste

Řşǯȱ ȱ Žœ™Ž’˜ȱ Žȱ ˜˜œȱ ŽœŽœȱ Ž’˜œȱ Ž•·›’˜œȱ Œ˜—‘ŽŒ’˜œǰȱ Šȱ “ž›’œ™›žȬ ¹—Œ’Šȱ ˜ȱ ȱ
›ŽŒ˜—‘ŽŒȱŽ šžȱŽ ‘¤ȱ œ’žŠ³äŽœȱ Žœ™ŽŒÇꌊœȱ Žȱ Ž¡ŒŽ™Œ’˜—Š’œȱ Ž–ȱ que a necessidade
de uma política pública estatal pode suplantar (e, portanto, mitigar) a
análise concorrencial, e assim confere o que pode ser nominado como
“isenção antitruste” aos agentes de mercados regulados, conforme descrito a
seguir.
30. Como mencionado acima, apesar de manter posição pública crítica
com relação aos efeitos concorrenciais e econômicos de determinadas formas
de regulação estatal (dentre elas, o tabelamento), o CADE reconhece que em
Ž›–’—ŠŠœȱœ’žŠ³äŽœȱŽœ™ŽŒÇꌊœȱ˜ȱ’—Ž›ŽœœŽȱ™ø‹•’Œ˜ȱœŽȱ–Š—’ŽœŠȱ™Ž•Šȱ–Š¡’Ȭ
mização de outros primados constitucionais que impõem uma atuação mais
™›ŽœŽ—ŽȦ’–™˜œ’’ŸŠȱ˜ȱ œŠ˜ǰȱ™˜›ȱ–Ž’˜ȱŽȱ ›Žž•Š³¨˜ȱŽ¡™›ŽœœŠȱŒ˜–ȱŽŒ˜›Ȭ rente mitigação do
ambiente concorrencial “ótimo”.
řŗǯȱ –ȱ Š’œȱ œ’žŠ³äŽœǰȱ Š’—Šȱ šžȱŽ œŽ“Š–ȱ–Š—’Šœȱ Šœȱ ›Š£äŽœȱŠœȱ™›Ž˜ŒžȬ pações nos
apontamentos supraelencados, o CADE entende que os agen tes de mercado
não podem ser sancionados pela autoridade antitruste, sob pena de uma
incoerência lógica na relação Estado-administrado (determinação

7
De acordo com Nancy L. Rose, Labor Rent Sharing and Regulation: Evidence from the
Trucking Industry, 95 ˜ž›—Š•ȱ ˜ȱ ˜•’’ŒŠ•ȱ Œ˜—˜–¢ȱ ŗŗŚŜȬŝŞȱ ǻŗşŞŝǼǰȱŸŽ›’ęŒ˜žȬœŽȱšžŽȱ Šȱ Š¡ŠȱŽȱ
emprego aumentou muito após a desregulamentação do setor. Em 1980, nos Estados Unidos,
havia 1.368 milhão de caminhoneiros. Após a desregulação, em 1987, tal número era 1.767
–’•‘¨˜ȱŽȱŒŠ–’—‘˜—Ž’›˜œȱǻž–ȱŠž–Ž— ˜ȱŽȱŘşǰŘƖǼǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 379-391, set./dez. 2018.


390 REVISTA DE DIREITO ADMINISTRATIVO

de uma conduta e, em seguida, apenamento em razão do cumprimento da


determinação).
32. Nestes casos, o Conselho tem aplicado o que é comumente chamado
de “isenção antitruste”, reconhecendo como foco do problema concorrencial
a própria arquitetura regulatória do mercado construída pelo Estado — en-
›ŽŠ—˜ǰȱ›ŽŒ˜—‘ŽŒȱŽ šžȱŽ ŽœŽœȱ Š˜›ŽœȱŽ¡àŽ—˜œȱ¥ȱšžŽœ¨ ˜ȱŒ˜—Œ˜››Ž—Œ’Š•ȱ ǻšžȱŽ
˜›’’—Š›Š–ȱŠȱ™˜•Ç’ŒŠȱ™ø‹•’ŒŠȱ›Žž•Šà›’ŠǼȱž—Š–Ž—Š–ȱŽȱ“žœ’ęŒŠ–ȱŠȱ˜™³¨˜ȱ estatal.
řřǯȱ ˜ȱŽ—Š—˜ǰȱ’–™˜›Šȱ–Ž—Œ’˜—Š›ȱšžȱŽ Šȱ“ž›’œ™›ž¹—Œ’Šȱ˜ȱ ȱŽ–ȱ entendido
que casos de isenção antitruste dependem do preenchimento/
demonstração de determinados requisitosǰȱŽę—’˜œȱŠȱ™Š›’›ȱŽȱ™Š›¦–Ž›˜œȱ
estabelecidos e seguidos pelas melhores agências antitrustes do mundo, se
gundo estudos da OCDE — Organização para Cooperação e Desenvolvi
mento Econômico resultantes da rodada de discussões (Roundtable) sobre o
tema em 2011:

AUTONOMIA (OU NÃO) DA EMPRESA NA CONDUTA — segundo


ŽœŽȱ ™Š›¦–Ž›˜ǰȱ Šȱ Œ˜—žŠȱ Ž›’Šȱ ’œŽ—³¨˜ȱ Šȱ Š—¤•’œŽȱ Œ˜—Œ˜››Ž—Œ’Š•ȱ quando
o comportamento fosse imposto pela regulação, não havendo
™˜œœ’‹’•’ŠȱŽ ŽȱŒ˜—žŠȱ’ŸŽ›œŠȱ™Ž•˜ȱŠŽ—ŽȱŽȱ–Ž›ŒŠ˜ȦŠ–’—’œ›Š˜Dz
EFETIVA SUPERVISÃO DO ENTE SETORIAL —ȱœŽž—˜ȱŽœŽȱ™Š›¦Ȭ –Ž›˜ǰȱ
·ȱ’–™˜›Š—Žȱ šžŽȱ ‘Š“Šȱ ™˜œœ’‹’•’ŠŽȱŽȱ ꜌Š•’£Š³¨˜ȱ Žȱ ™ž—’³¨˜ȱ pelo ente
setorial/autoridade regulatória daqueles que descumprirem
˜œȱ•’–’ŽœȱŒ˜—Œ˜››Ž—Œ’Š’œȱŠȱŒ˜—žŠDz
CLARA POLÍTICA SETORIAL DE IMUNIDADE ANTITRUSTE —
œŽž—˜ȱŽœȱŽ ™Š›¦–Ž›˜ǰȱ·ȱŽœŽ“¤ŸŽȱ• šžȱŽ Šȱ’œŽ—³¨˜ȱŠȱŠ—¤•’œŽȱŒ˜—Œ˜›Ȭ ›Ž—Œ’Š•ȱ ŽœŽ“Šȱ
Ž¡™•ÇŒ’Šȱ Œ˜–˜ȱ “žœ’ęŒŠ’ŸŠȱ Šȱ ™˜•Ç’ŒŠȱ ™ø‹•’ŒŠȱ œŽ˜›’Š•ȱ
(transparência), sendo mitigada em favor de outros princípios/bem
“ž›Ç’Œ˜œǯ

řŚǯȱ Žž’˜œȱ Š’œȱ ™Š›¦–Ž›˜œǰȱ œ’žŠ³äŽœȱ Žȱ’—Ž›ŸŽ—³¨˜ȱ ŽœŠŠȱ• —˜ȱ œŽ˜›ȱ privado
partiriam do balizamento de valores, estipulação de prioridades e
ę¡Š³¨˜ȱŽȱ˜‹“Ž’Ÿ˜œȱŽȱŒž—‘˜ȱŒ˜—œ’žŒ’˜—Š•ȱǻŽę—’˜œȱŽ–ȱ™˜•Ç’ŒŠœȱ™ø‹•’ŒŠœȱ ™Ž•˜ȱ ˜Ž›ȱ
¡ŽŒž’Ÿ˜ȱŽȱ Ž’œ•Š’Ÿ˜ǼȱšžŽȱ–’’Š›’Š–ȱ—Šȱ™›¤’ŒŠȱ˜ȱ™›’–Š˜ȱŠȱ livre concorrência. Por tal
razão, não haveria motivo legítimo para sancionar os agentes de mercado
que apenas operam dentro da regulação imposta sob pena de, além de dar
um sinal controverso aos administrados, adentrar ao mérito da própria
política pública para desincentivá-la.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 379-391, set./dez. 2018.


CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA (CADE) | Política de preços mínimos do transporte... 391

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livre concorrência. Ademais, recomenda-se que a aplicação das teorias de
“imunidade antitruste” levem em conta: (a) a análise do histórico
•Ž’œ•Š’Ÿ˜ǰȱǻ‹ǼȱŠȱŒ›’Š³¨˜ȱŽȱŠ™Š›Š˜ȱ꜌Š•’£Š˜›ȱ™Ž•Šȱ—˜›–Šȱ›Žž•Š˜›ŠȱŽȱǻŒǼȱ˜ȱ uso
desse aparato pelo agente regulador.
řŜǯȱ —Žȱ˜ȱŽ¡™˜œ˜ǰȱž–ŠȱŸŽ£ȱœŽž’˜œȱ˜œȱ™›Žœœž™˜œ˜œȱŠŒ’–ŠǰȱŠȱ™›’—ŒÇ™’˜ȱ não
caberia à autoridade antitruste adentrar no mérito da política pública setorial
adotada visando substituí-la. Contudo, mesmo nesse caso é importante que
a autoridade não se furte a apresentar as preocupações concorrenciais
derivadas de tal política e de seus graves efeitos deletérios ao consumidor,
tendo em vista o seu papel de advocacy em temas relacionados à defesa da
concorrência. No presente caso, a posição desta entidade é que o
tabelamento, com o estabelecimento de preços mínimos, não apresenta
benefícios ao ŠŽšžŠ˜ȱž—Œ’˜—Š–Ž—˜ȱ˜ȱ–Ž›ŒŠ˜ȱŽȱŠ˜ȱŒ˜—œž–’˜›ȱꗊ•ǰȱšžŽȱŠ›ŒŠ›¤ȱŒ˜–ȱ
os aumentos de preço decorrentes de tal medida.

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Atenciosamente,

ALEXANDRE BARRETO DE SOUZA


Presidente
(assinado eletronicamente)

ALEXANDRE CORDEIRO MACEDO


Superintendente-Geral
(assinado eletronicamente)
WALTER DE AGRA JUNIOR

Procurador-Chefe
(assinado eletronicamente)

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 379-391, set./dez. 2018.

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