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Curso: Reaprendizagem Jurídica

Disciplina: Teorias Constitucionais Contemporâneas

Professor: Bernardo Gonçalves

Monitor: Marina Moreira

Aula: Constituição Simbólica – Bloco 14

Sumário

1 CONSTITUIÇÃO SIMBÓLICA 2

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1 CONSTITUIÇÃO SIMBÓLICA

A passagem do fenômeno da legislação simbólica para o da


constitucionalização simbólica, significa dizer que há uma Constituição, porém
é notável a ausência de concretização normativa de seu texto, marcada pela
inaplicabilidade do texto constitucional a realidade social.

A Constituição simbólica acaba por ser mais grave do que


uma tipologia simbólica, a Constituição ser simbólica representa uma alta
gravidade para a ordem jurídica, primeiro porque a Constituição representa o
fundamento de validade de todo o ordenamento jurídico, e segundo que a
Constituição funciona como um acoplamento estrutural entre o direito e a
política.

Ferdinand Lassalle, exemplifica muito bem a constituição


simbólica, ao falar em constituição de papel, e que nela o texto normativo não
ganha vida, não há concretização ou materialização do texto constitucional, há
uma mitigação no que tange aos direitos e garantias fundamentais, a dignidade
da pessoa humana, a liberdade e igualdade, dentre outros aspectos pregados
no texto constitucional que no entanto são banalizados frente a sua eficácia.

Desta feita a constituição simbólica emerge uma ideologia


negativa, o que chamamos de aspecto negativo, que é o déficit de
concretização jurídico normativa, levando a perda da capacidade da
constituição de generalizar a expectativa de comportamento, que é uma função
básica do direito.

Por outro lado, exprime um aspecto positivo, que é a


transformação da Constituição em uma instância reflexiva.

Para Marcelo Neves “não se deve interpretar a


constitucionalização simbólica como um jogo de soma zero na luta política pela
ampliação ou restrição da cidadania”. A esperança de materialização futura da
norma constitucional ou mesmo da norma álibi alimenta a participação das
pessoas no sistema, alimenta a cidadania e, se utilizada de forma a construir
grupos de pressão, pode ser efetivada.

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A ideia de poder ressaltando a constituição como garantidora
de direitos fundamentais, transforma-se em mero discurso retórico, uma vez
que a realidade é totalmente diferente, assim, aqueles que não se favorecem
do texto

constitucional, frente a inaplicabilidade concreta de seus mandamentos,


sentem a necessidade de cobrar seus direitos, surgindo a construção de
grupos de pressão, movimentos sociais reformistas, e assim há a possibilidade
da constituição simbólica gerar instância reflexiva a partir da perspectiva da
não concretização de direitos, tem também a possibilidade de um aspecto
positivo em busca da afirmação de direitos sociais, busca pela ampliação da
cidadania, a medida que a dignidade da pessoa humana é cada vez mais
aviltada, na medida em que a cidadania é cada vez mais restringida.

Há um risco de a Constituição simbólica criar um simulacro da


realidade, o que gerará uma apatia das massas sociais e um fortalecimento de
um cinismo pela classe política, perda da relevância normativo jurídico dos
textos constitucionais como elementos de orientação das expectativas
normativas.

Desde tempos idos, a política se utiliza da lei para impor suas


vontades. “A Constituição na acepção moderna é fator e produto da
diferenciação funcional entre direito e política como subsistemas da sociedade”
(NEVES, Marcelo 2007). Apesar de não se enfocar a perspectiva lassaleana,
vale a apropriação da expressão “fatores reais de poder” para definir a
funcionalidade do texto constitucional nas mãos do Estado-legislador
(LASSALE, 1998). Aqueles que detêm o “poder” constituinte podem muito
facilmente utilizá-lo em seu favor, buscando atingir objetivos de um grupo
exclusivo.

A Constituição simbólica desenvolve a figuras do subcidadão


e do sobrecidadão, este último tem os direitos constitucionais respeitados e
concretizados possuindo determinados privilégios em determinadas situações.

Em razão da alopíese do sistema e do predomínio do sistema


político, a atuação da constituição federal de 1988 detém uma concretização de
direitos limitada a classe dominante, restando a classe marginalizada apenas

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esperança de concretização dos direitos no futuro. Temos um enorme déficit de
satisfação dos serviços sociais básicos aos grupos sociais menos favorecidos.

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