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Universidade Escola de Engenharia

Do Minho Departamento de Engenharia Mecânica

Disciplina de
Tecnologia da Conformação

Licenciatura em Engenharia Mecânica


(3º Ano, 2º Semestre)

Defeitos eventuais
dos
conformados a quente

Trabalho realizado Nº 40559, Marco Daniel Malheiro Dourado


por:

Guimarães, Junho de 2007


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Do Minho Departamento de Engenharia Mecânica

Índice
Índice.......................................................................................................................................................2
Preâmbulo................................................................................................................................................3
Conformação...........................................................................................................................................4
Classificação dos processos de conformação mecânica......................................................................4
Principais processos de conformação..................................................................................................7
Aspectos de temperatura na conformação.............................................................................................13
Temperatura na conformação............................................................................................................13
Geração de calor na conformação mecânica.....................................................................................15
Faixas de temperaturas admissíveis no trabalho a quente.................................................................16
Conformação a quente...........................................................................................................................19
Forjamento a quente..........................................................................................................................19
Defeitos provocados pelo forjamento a quente.............................................................................20
Laminagem a quente.........................................................................................................................21
Defeitos provocados pela laminagem a quente.............................................................................22
Extrusão a quente..............................................................................................................................23
Defeitos provocados pela extrusão a quente.................................................................................23
Conclusão..............................................................................................................................................26
Glossário................................................................................................................................................27
Bibliografia............................................................................................................................................30
Anexos...................................................................................................................................................32

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Preâmbulo

No âmbito da disciplina da Tecnologia da Conformação foi-me proposto


pelo respectivo docente a realização de uma monografia cujo tema é “Defeitos
eventuais dos conformados a quente”.
O trabalho começa com uma introdução à tecnologia da conformação e a
alguns dos seus principais processos. Faço também uma referência aos aspectos
de temperatura na conformação. E, entrando mais no tema da monografia,
acabo por falar da conformação a quente e seus processos, e claro, dos defeitos
nos conformados associados à utilização desses mesmos processos.
A minha pesquisa foi efectuada recorrendo a livros da biblioteca da
Universidade e á internet a maior “biblioteca” do mundo.

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Conformação
A conformação mecânica, também denominada conformação plástica,
representa um conjunto de processos em que a modificação da forma e das
dimensões da peça metálica ocorre pela acção de tensões mecânicas que
causam a deformação plástica dessa peça, sem que haja remoção de material,
como ocorre na maquinagem. Assim, nos processos de conformação não há
variação do volume das peças conformadas. Desta forma, um dos aspectos
interessantes da conformação é a economia de matéria-prima e a redução do
tempo total de fabrico.
Os processos de fabrico de peças metálicas por conformação mecânica
são responsáveis pela produção de um grande número de produtos.
Diversos materiais podem ser conformados, destacando-se os aços, as
ligas de alumínio, as ligas de cobre e as ligas de titânio, entre os materiais
empregados industrialmente.
Os produtos conformados apresentam uma grande gama de geometrias,
desde as mais simples até as mais complexas, representadas pelos produtos de
grandes comprimentos como perfis, chapas, folhas, tubos, barras e peças
diversas como eixos, engrenagens, bielas, recipientes e outros.

Classificação dos processos de conformação mecânica


Os processos de conformação podem ser classificados de acordo com
vários critérios:
- tipo de esforço predominante;
- temperatura de trabalho;
- forma do material trabalhado ou do produto final;
- tamanho da região de deformação (localizada ou geral);
- tipo de fluxo de material (estacionário ou intermitente);
- tipo de produto obtido (semi-acabado ou acabado).

Classificação quanto ao tipo de esforço predominante:


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- por compressão directa;


- por compressão indirecta;
- por tracção;
- por cisalhamento;
- por flexão.

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- Compressão directa: predomina a solicitação externa por compressão
sobre a peça de trabalho. Nesse grupo podem ser classificados os
processos de forjamento (livre e em matriz) e laminagem (plana e de
perfis).
- Compressão indirecta: as forças externas aplicadas sobre a peça
podem ser tanto de tracção quanto de compressão, mas as que
efectivamente provocam a conformação plástica do metal são de
compressão indirecta, desenvolvidas pela reacção da matriz sobre a
peça. Exemplos: trefilagem e extrusão de fios e tubos, e estampagem
profunda (embutimento) de chapas (parcial). No processo de trefilagem,
a solicitação externa é de tracção, enquanto nos processos de extrusão
e embutimento de chapas, é de compressão. Nesse último processo,
porém, somente parte da peça (a aba) é submetida a esse tipo de
esforço.
- Conformação por tracção: o estiramento de chapas, no qual a peça
toma a forma da matriz através da aplicação de forças de tracção nas
suas extremidades, é o principal exemplo.
- Conformação por cisalhamento: envolvem forças cisalhantes
suficientes ou não para romper o metal no seu plano de cisalhamento.
Os melhores exemplos deste tipo de processo são a torção de barras e o
corte de chapas.
- Conformação por flexão: as modificações de forma são conseguidas
mediante a aplicação de um momento flector. Esse princípio é utilizado
para dobrar chapas, barras e outros produtos. Como exemplo, pode-se
citar os processos de dobragem livre, dobragem de borda, e dobragem
de matriz e calandragem.

Classificação quanto à temperatura de trabalho:


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Quando a temperatura de trabalho é maior que a temperatura que


provoca a recristalização do metal, o processo é denominado trabalho a
quente e, abaixo desta temperatura, trabalho a frio.
No trabalho mecânico a frio, provoca-se o aparecimento do efeito
de encruamento do metal, ou seja, o aumento da resistência mecânica
com a deformação plástica. O trabalho mecânico a frio permite
aumentar a resistência mecânica de certos materiais não-ferrosos que
não são endurecíveis por tratamentos térmicos.
No trabalho mecânico a quente, a deformação plástica é realizada
numa faixa de temperatura, e durante um determinado tempo, em que
o encruamento é eliminado pela recristalização do metal. Um metal na
sua condição encruada possui energia interna elevada em relação ao
metal não-deformado plasticamente. Aumentando-se a temperatura, há
uma tendência do metal de retornar à condição mais estável de menor
energia interna. O tratamento térmico para obter este efeito é
denominado recozimento e, além da recuperação da estrutura cristalina
do metal, este tratamento provoca a diminuição da resistência mecânica
e a elevação da ductilidade.

Principais processos de conformação


O número de diferentes processos de conformação mecânica,
desenvolvidos para aplicações específicas, atinge actualmente algumas
centenas. Não obstante, é possível classificá-los num pequeno número
de categorias, com base em critérios tais como: o tipo de esforço que
provoca a deformação do material, a variação relativa da espessura da
peça, o regime da operação de conformação, etc..
Basicamente, os processos de conformação mecânica podem ser
classificados em:

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. Forjamento: conformação por esforços compressivos tendendo a


fazer o material assumir o contorno da ferramenta conformadora,
chamada matriz. O forjamento pode ser livre ou em matriz fechada.
O forjamento livre é realizado entre matrizes planas ou de formas
muito simples. É empregado em peças de grande porte ou quando o
número de componentes é pequeno. Frequentemente, o forjamento livre
é usado para preparar a forma da peça (esboço) para o forjamento em
matriz.

Figura 1 – Exemplos de componentes obtidos por meio de forjamento livre.


Fonte:http://www.dalmolim.com.br/EDUCACAO/MATERIAIS/Biblimat/siderurgia3.pdf

No forjamento em matriz fechada, a peça é deformada entre duas


metades de matriz que dão a forma desejada ao metal, sendo possível
obter tolerâncias dimensionais mais estreitas que no processo de
forjamento livre.

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Figura 2 – Exemplos de componentes obtidos por meio de forjamento em matriz


fechada.
Fonte:http://www.dalmolim.com.br/EDUCACAO/MATERIAIS/Biblimat/siderurgia3.pdf

. Laminagem: conjunto de processos em que se faz o material


passar através da abertura entre cilindros que giram, modificando-lhe
(em geral reduzindo) a secção transversal; os produtos podem ser
placas, chapas, barras de diferentes secções, trilhos, perfis diversos,
anéis e tubos.

Figura 3 – Arranjos típicos de rolos em laminadores.


Fonte:http://www.dalmolim.com.br/EDUCACAO/MATERIAIS/Biblimat/siderurgia3.pdf

. Trefilagem: redução da secção transversal de uma barra, fio ou


tubo, “puxando-se” a peça através de uma ferramenta (fieira) com
forma de canal convergente.

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Figura 4 – Da esquerda para a direita: Trefilagem de barras; trefilagem de tubos


com o auxilio de mandril, e trefilagem de tubos sem o emprego de mandril
(redução de diâmetro).
Fonte:http://www.dalmolim.com.br/EDUCACAO/MATERIAIS/Biblimat/siderurgia3.pdf

. Extrusão: processo em que a peça é “empurrada” contra a


matriz conformadora, com redução da sua secção transversal. A parte
ainda não extrudida fica contida num recipiente ou cilindro; o produto
pode ser uma barra, perfil ou tubo.

Figura 5 – Exemplo de extrusão.


Fonte:http://www.dalmolim.com.br/EDUCACAO/MATERIAIS/Biblimat/siderurgia3.pdf

. Conformação de chapas: Compreende as operações de:

- Embutidura – Trata-se do processo utilizado para fazer com que


uma chapa plana adquira a forma de uma matriz (fêmea), imposta pela
acção de um punção (macho). Na estampagem profunda, um disco
metálico (esboço) é comprimido perifericamente por dois dispositivos – a

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matriz e o cerra-chapas – quando sujeito a uma força vertical, actuante


na zona central, garantida pelo corpo cilíndrico chamado punção. Logo
que é iniciado o processo a chapa é deformada plasticamente a ritmo
lento para que o material se adeqúe às solicitações aplicadas. O punção
vai exercendo força sobre a chapa para que esta se escoe para dentro
do fosso central da matriz e tome a geometria do fosso;

- Estiragem – É um processo de conformação que consiste num


afinamento de uma massa de fibras através da diferença de velocidade
periférica dos cilindros de saída (velocidade maior) e o de entrada
(velocidade menor). Por exemplo transformar um tarugo em arame;

- Calandragem – É o processo utilizado para a confecção de chapas e laminados. A


principal vantagem é obter um material com espessura constante e com um excelente
acabamento. Dependendo da tecnologia utilizadas as calandras podem ter números
diferentes de cilindros. Normalmente, a calandra tem quatro rolos de tamanhos distintos,
que giram a velocidades ligeiramente diferentes para formar a chapa ou laminados. O
material passa por um cabeçote tipo “flat dye”, que o distribui a um sistema de rolos
conferindo espessura e aspecto final ao laminado/chapa;

- Quinagem – É o processo de deformação plástica de chapa que


permite o fabrico de superfícies planificáveis de geometria cilíndrica,
cónica ou prismática. Para realizar a operação utiliza-se um cunho e uma
matriz montados numa máquina ferramenta designada por Quinadora. O
seu princípio de funcionamento é semelhante ao de uma prensa
hidráulica ou mecânica;

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Figura 6 – Da esquerda para a direita: Embutidura; estiragem; calandragem, e


quinagem (em V).
Fonte:http://www.dalmolim.com.br/EDUCACAO/MATERIAIS/Biblimat/siderurgia3.pdf

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Aspectos de temperatura na conformação

Temperatura na conformação
É muito comum classificar os processos de conformação em
operações de trabalho a quente, a morno, e a frio. O trabalho a quente é
definido como a deformação sob condições de temperatura e taxa de
deformação tais que os processos de recuperação e recristalização
ocorrem simultaneamente com a deformação. De outra forma, o
trabalho a frio é a deformação realizada sob condições em que os
processos de recuperação e recristalização não são efectivos. No
trabalho a morno ocorre recuperação, mas não se formam novos grãos
(não há recristalização).
No trabalho a quente, devido à intensa vibração térmica – que
facilita muito a difusão de átomos e a mobilidade e aniquilamento das
discordâncias – o encruamento e a estrutura distorcida dos grãos
produzida pela deformação, são rapidamente eliminados pela formação
de novos grãos livres de deformação, como resultado da recristalização.
É possível conseguir grandes níveis de deformação, uma vez que os
processos de recuperação e recristalização acompanham a deformação.
Ela ocorre a uma tensão constante. E como a tensão de escoamento
plástico decresce com o aumento da temperatura (Figura 7), a energia
necessária para a deformação é geralmente muito menor para o
trabalho a quente do que para o trabalho a frio ou a morno.

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Figura 7 – Variação da tensão de compressão com a deformação em função da


temperatura para um aço de baixo teor em carbono.
Fonte:http://construtor.cimm.com.br/cgi-win/construt.cgi?configuradorresultado+516

No trabalho a frio, como o encruamento não é aliviado, a tensão


aumenta com a deformação. Assim a deformação total – que é possível
obter sem causar fractura – é menor no trabalho a frio do que no
trabalho a quente e a morno. Excepto quando se realizam tratamentos
térmicos de recozimento para aliviar os efeitos do encruamento.
No trabalho a morno, ocorre uma recuperação parcial da
ductilidade do material e a tensão de conformação situa-se numa faixa
intermédia entre o trabalho a frio e a quente. Costuma-se definir, para
fins práticos, as faixas de temperaturas do trabalho a quente, a morno e
a frio baseadas na temperatura homóloga, que permite a normalização
do comportamento do metal (Figura 8). Num metal puro, que não sofre
transformação de fase no estado sólido, os pontos de referência em
termos de temperatura são: o zero absoluto e o ponto de fusão. Estes
pontos, traduzidos em graus Kelvin, estabelecem os extremos da escala
homóloga de temperaturas.

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Figura 8 – Representação da temperatura homóloga e das faixas de temperatura:


trabalho a frio (TF), a morno (TM) e a quente (TQ).
Fonte:http://construtor.cimm.com.br/cgi-win/construt.cgi?configuradorresultado+516

Em termos de conformação mecânica, chama-se


trabalho a quente (TQ) aquele que é executado em temperaturas acima
de 0,5Tf
trabalho a morno (TM) aquele que é executado na faixa compreendida
entre 0,3 e 0,5 Tf e trabalho a frio (TF) aquele que é executado entre 0 e
0,3 Tf.
É importante compreender que a distinção básica entre TQ e TF é
portanto, função da temperatura em que se dá a recristalização efectiva
do material. Assim, embora para muitas ligas comerciais a temperatura
do TQ seja realmente elevada em relação à ambiente, para metais como
chumbo e estanho, que recristalizam rapidamente à temperatura
ambiente após grandes deformações, a conformação à temperatura
ambiente é TQ. Por outro lado, a conformação a 1100oC é TF para o
tungsténio, cuja temperatura de recristalização é superior a esta,
embora seja TQ para o aço.

Geração de calor na conformação mecânica


Nos processos de conformação, tanto a deformação plástica como
o atrito contribuem para a geração de calor. Da energia empregada na

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deformação plástica de um metal, apenas 5 a 10% ficam acumulados na


rede cristalina, sob a forma de energia interna, sendo os restantes 90 a
95% convertidos em calor. Em algumas operações de conformação
contínua, como extrusão e trefilagem, efectuadas a altas velocidades, a
temperatura pode aumentar centenas de graus. Uma parte do calor
gerado é dissipada (transmitido às ferramentas ou perdido para a
atmosfera), mas o restante permanece na peça, elevando-lhe a
temperatura. Em condições idealmente adiabáticas e sem atrito, o
máximo acréscimo teórico de temperatura devido à deformação plástica
é dado pela expressão:

Fonte:http://construtor.cimm.com.br/cgi-win/construt.cgi?configuradorresultado+516

Faixas de temperaturas admissíveis no trabalho a


quente
O limite inferior de temperatura para o trabalho a quente de um
metal é a menor temperatura para a qual a taxa de recristalização é
rápida o bastante para eliminar o encruamento quando o metal está
submetido àquela temperatura. Para um dado metal ou liga metálica a
menor temperatura de trabalho a quente dependerá de factores tais
como a quantidade de deformação e o tempo em que o material estará
submetido a temperatura em questão. Uma vez que quanto maior o
nível de deformação menor é a temperatura de recristalização, o limite
inferior de temperatura para o trabalho a quente diminuirá para grandes

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deformações. Um metal trabalhado com elevada velocidade de


deformação e resfriado rapidamente irá requerer uma temperatura de
trabalho a quente maior do que se este for deformado e arrefecido
vagarosamente, para a obtenção de um mesmo nível final de
deformação.
O limite superior de trabalho a quente é determinado pela
temperatura em que ocorre o início de fusão ou o excesso de oxidação.
Geralmente, a temperatura mais elevada de trabalho a quente é
limitada bem abaixo do ponto de fusão devido a possibilidade de
fragilização a quente (existência de compostos com menor ponto de
fusão). Basta uma pequena quantidade de um filme de constituinte com
baixo ponto de fusão nos contornos de grão para fazer um material
desagregar-se quando deformado (fragilidade a quente). Geralmente
emprega-se Tmáx > Tf - 55oC para evitar esta possibilidade.
Para uma dada condição de pressão e temperatura de trabalho
haverá uma quantidade máxima de deformação que pode ser fornecida
à peça (limitação esta baseada na resistência ao escoamento, e não na
ductilidade).
Se a temperatura de pré – aquecimento do tarugo inicial aumenta, a
resistência diminui e a deformação aumenta para uma dada pressão
aplicada; assim, as curvas "isobáricas" aumentam com a temperatura,
que obviamente será sempre inferior à linha de “solidus”.
A fragilização a quente limita a temperatura de trabalho a valores
inferiores á temperatura “solidus”. E visto que com taxas de deformação
altas ficará retido mais calor na peça, a temperatura da peça deverá ser
menor para evitar que ela atinja a faixa de fragilidade a quente.

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Figura 9 - Diagrama esquemático dos efeitos de temperatura, pressão e taxa de


deformação sobre a faixa de trabalho admissível na conformação a quente.
Fonte:http://construtor.cimm.com.br/cgi-win/construt.cgi?configuradorresultado+516

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Conformação a quente

Forjamento a quente
No forjamento a quente, o processo ocorre a uma temperatura
acima da temperatura de recristalização do material. Na etapa de
conformação final, ocorre a formação de rebarba, devido ao excesso de
material. Ao iniciar-se a formação da rebarba, em virtude da presença
do estrangulamento ou garganta da rebarba entre as duas matrizes, as
tensões compressivas na cavidade das matrizes elevam-se
consideravelmente e causam o preenchimento de todos os espaços
dessa cavidade.
As funções da rebarba, são duas:
- Actuar como "válvula de segurança" para o excesso de metal na cavidade das
matrizes;
- Regular o escoamento do metal, aumentando a resistência ao escoamento do
sistema de modo que a pressão cresça até valores elevados, assegurando que o metal
preencherá todos os espaços da cavidade.

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Figura 10 – Forjamento a quente.


Fonte:http://www.prdfasteners.co.uk/images/hotforge.jpg

Defeitos provocados pelo forjamento a quente

Os produtos forjados também apresentam defeitos típicos. Eles


são:
- Falta de redução caracterizada pela penetração incompleta do
metal na cavidade da
ferramenta. Isso altera o formato da peça e acontece quando são usados
golpes
rápidos e leves do martelo;
- Trincas superficiais causadas por alguma fragilidade a quente;
- Trincas na rebarbas causadas pela presença de impurezas nos
metais ou porque as
rebarbas são pequenas. Elas iniciam-se nas rebarbas e podem penetrar
na peça
durante a operação de rebarbagem;

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- Trincas internas que têm origem no interior da peça, como


consequência de tensões originadas por grandes deformações;
- Gotas frias que são descontinuidades originadas pela dobra das
superfícies, sem a
ocorrência de soldagem. Elas são causadas por fluxos anormais de
material quente
dentro das matrizes, incrustações de rebarbas, colocação inadequada do
material na matriz, etc.…;
- Incrustações de óxidos causadas pela camada de óxidos que se
formam durante o
aquecimento;
- Descarbonização caracterizada pela perda de carbono na
superfície do aço,
causada pelo aquecimento do metal.

Laminagem a quente
No processo de laminagem a quente, o produto de partida é um
lingote ou uma placa, isto é, simplesmente um bloco de metal
solidificado que será mais tarde deformado por conformação para
produzir a chapa. Durante o processo mecânico, a forma é
permanentemente modificada. Portanto as tensões aplicadas devem
estar acima do limite de escoamento, e, por isso o processamento sobre
o lingote é feito a altas temperaturas, onde o material é tipicamente
mais macio e mais dúctil. A laminagem a quente realiza-se a
temperaturas acima da temperatura de recristalização do metal. Cada
passo do laminador reduz o tamanho do grão, o qual cresce novamente

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assim que a pressão é retirada. O tamanho de grão final é determinado


pela temperatura e pela percentagem de redução da última passagem.
Durante o processo, os cilindros são componentes de destaque inegável
na elaboração dos laminados, visto que mantêm contacto directo com o
produto acabado, sendo responsáveis pela sua forma e aspecto. Por isso
devem possuir todos os requisitos necessários para um bom
acabamento, pois estão sujeitos à acção do desgaste e ao efeito das
tensões de compressão (sofrendo achatamento local).

Figura 11 – Laminagem a quente.


Fonte:http://meusite.mackenzie.com.br/carlosmonezi/seminarios/1o_semestre/1_2002/lamin
acao/laminacao.htm

Defeitos provocados pela laminagem a quente

Os principais defeitos dos laminados a quente são:


- A rugosidade que afecta toda a largura da chapa, e que é
constituída por finas partículas de carepa engastada na superfície, que
desaparecem depois da decapagem, deixando um aspecto áspero;
- As marcas dos cilindros que tem origem na irregularidade
superficial do cilindro de trabalho, e que a cada rotação são
reproduzidas na superfície do metal;

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- Incrustações de óxidos causadas pela camada de óxidos que se


formam durante o
aquecimento. Essas incrustações normalmente desprendem-se, mas
ocasionalmente
podem ficar presas nas peças;
- Ondulações que resultam de uma tensão muito fraca, da má planeza ou perfil
assimétrico da tira do acabador.

Extrusão a quente
A extrusão a quente é semelhante ao processo de extrusão a frio,
sendo a ductilidade do material a ser trabalhado o principal parâmetro
na escolha do processo. A extrusão a quente é semelhante ao processo
de injecção, onde o produto é injectado a alta pressão e temperatura
numa forma, ou passa através de um molde de injecção contínua,
ficando com a forma da peça sólida semi-acabada, para posteriormente
ser cortada conforme o comprimento desejado.

Defeitos provocados pela extrusão a quente

Os principais defeitos que advêm da extrusão a quente são:


- As trincas causadas por temperaturas muito elevadas que
provocam fusão localizada no material, gerando trincas devido à perda
de resistência mecânica;
- Arrancamento e acumulação de material causados pela fractura
localizada em consequência das imperfeições da camada estacionária
de alumínio, retida no “container” e que adere à matriz. Assim como as
trincas, o arrancamento e a acumulação de material são causados por

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uma excessiva temperatura emergente (temperatura de saída do


produto extrudido). A acumulação de material pode ser minimizado por
uma homogeneização eficiente, que melhore a configuração (refine) as
partículas intermetálicas ricas em ferro;
- Anel de óxido que ocorre devido à inexistência de lubrificação
que provoca uma deformação não uniforme. O centro do tarugo move-se
mais rapidamente do que a periferia. Após uma parte do tarugo ser
extrudida, a sua superfície move-se para o centro e começa a fluir pela
matriz. Como esta porção do material superficial contém a casca
oxidada, formada devido ao vazamento durante a fundição do tarugo e
durante a homogeneização e o reaquecimento, esse tipo de fluxo
provoca o surgimento de linhas internas de óxido, que não permitem a
soldagem das partes adjacentes de material. A única maneira de evitar
o surgimento desse tipo de defeito é descartar cerca de 4 a 15 %
(dependendo do tipo de tarugo) da porção final do material extrudido.
Esse material descartado constitui o chamado “talão” do tarugo;
- Bolhas: as bolhas aparecem devido ao ar aprisionado ou a
lubrificantes voláteis. O tipo mais comum é aquele que aparece no início
da extrusão, devido principalmente ao ar aprisionado durante a entrada
do tarugo na bucha. Para evitar esse problema existe o chamado ciclo
desgaseificador, que consta de uma pequena movimentação do
“container” após o início da pressão do pistão, permitindo a saída de ar.
Cuidados para reduzir a incidência de bolhas incluem a redução da
diferença de diâmetro entre o tarugo e a bucha o tanto quanto possível,
e a introdução de um gradiente de temperatura ao longo do
comprimento do tarugo. Poros em excesso nos tarugos também são
causadores de bolhas, pois actuam como sítios de nucleação do
hidrogénio gasoso;

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- Camada superficial de grãos grosseiros devido a que os produtos extrudidos


podem resistir à recristalização, mesmo quando sujeitos a temperaturas de solubilização.
Por outro lado, pode-se encontrar grãos crescidos recristalizados numa estreita camada logo
abaixo da superfície. A explicação é o facto de que a deformação redundante é muito mais
concentrada nas camadas superficiais dos produtos extrudidos do que na região mais
interna do perfil. Este encruamento efectivo pode ultrapassar o valor do encruamento
crítico necessário à recristalização, para uma dada combinação de tempo e temperatura,
recristalizando a superfície e mantendo o interior do produto deformado. Nessas condições
os grãos recristalizados são muito grosseiros.

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Conclusão
Depois de realizada esta monografia, tenho que concluir que a
pesquisa para a realização da mesma, não se revelou tarefa fácil.
Embora os processos de conformação a quente sejam muito
utilizados, as informações relativamente aos defeitos que os seus
produtos poderão apresentar são muito escassas. Apresentar uma
monografia de 25 páginas a falar apenas dos eventuais defeitos dos
conformados a quente era uma tarefa difícil de concretizar. Por isso,
para preencher estas páginas tive que me desviar um pouco do
assunto, e falar não apenas dos defeitos dos conformados a quente,
mas também da tecnologia da conformação no seu geral, e seus
processos.
Assim como a conformação a frio, e embora a conformação a frio permita obter
um melhor acabamento superficial dos produtos, a conformação a quente também faz
com que os “seus” produtos apresentem defeitos, a maioria deles superficiais. Contudo
com a conformação a quente pode-se conformar peças com menos gasto de energia
(mais produtividade) e não é necessário efectuar um tratamento térmico, pois a
conformação a quente é feita com temperaturas acima do ponto crítico do diagrama
ferro-carbono, e a essa temperatura a estrutura recristaliza simultaneamente com a
deformação sofrida.

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Glossário
Aço – Liga ferro-carbónica endurecida pela têmpera.
Adiabático – Qualidade relativa ao limite a partir do qual não ocorre transmissão de
energia térmica.
Atrito – Que tem atrição
Biela – Peça de máquina que serve para comunicar ou transformar o
movimento rectilíneo alternativo em circular contínuo.
Calor – Elevação de temperatura de um corpo.
Deformação plástica – Quando a tensão não é mais proporcional à deformação
ocorrendo então uma deformação não recuperável e permanente.
Descarbonização – Acção ou efeito de descarbonizar.
Ductilidade – Propriedade física dos materiais em suportar a deformação plástica, sob
a acção de cargas, sem se romperem ou fracturar.
Encruamento – Endurecimento de um metal por deformação plástica.
Engrenagem – Elemento mecânico composto por rodas dentadas que se ligam a um
eixo rotativo, ao qual imprimem movimento.
Grão – Cristal isolado na matéria em estado sólido.
Liga de alumínio – Alumínio combinado com outros metais,
normalmente o cobre, magnésio, e o silício.
Liga de cobre – Cobre combinado com outros metais, onde se
destacam o zinco, estanho, alumínio, e níquel.
Lingote – Massa de metal ou de um material semicondutor, que após ter sido aquecida
a uma temperatura superior ao seu ponto de fusão é vertida num molde, tomando uma
forma que torna mais fácil o seu manuseamento, geralmente uma barra ou um bloco.
Linha de “solidus” – Curva de transição entre a fase líquida mais fase
sólida, e a fase sólida.

Matéria-prima – Nome dado a um material que sirva de entrada para um sistema de


produção qualquer.

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Matriz – Molde que, depois de ter recebido uma determinada


impressão em oco ou em relevo, permite reproduzir essa mesma
impressão sobre vários objectos.
Molde – É uma ferramenta construída com o objectivo de moldar peças.
Oxidação – Combinar com oxigénio.
Ponto de fusão – Designa a temperatura à qual uma substância passa do estado
sólido ao estado líquido.
Rebarba – Intervalo entre duas linhas regulares de composição
tipográfica.
Recozimento – Tratamento térmico que consiste no aquecimento até
à temperatura crítica, seguido de um estágio durante tempo
predeterminado, e um arrefecimento.
Recristalização – Método de purificação de compostos orgânicos que
são sólidos a temperatura ambiente.
Rede cristalina – Designação dada ao conjunto de propriedades que resultam da forma
como estão espacialmente ordenados os átomos ou moléculas que o constituem.

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Dicionário trilingue

Português Inglês Francês


Aço Steel Acier
Adiabático Adiabatic Adiabatique
Atrito Attrition Attrition
Biela Knuckle Bielle
Calor Heat Chaleur
Deformação plástica Plastic deformation Déformation plastique
Descarbonização Decarbonisation Décarburation
Ductilidade Ductility Ductilité
Encruamento Strain hardening Crudité
Engrenagem Gear Pignon
Grão Grain Grain
Liga de alumínio Aluminum alloy Ligue d’aluminium
Liga de cobre Copper league Ligue de cuivre
Lingote Ingot Lingot
Linha de “solidus” Line of solidus Ligne de solidus
Mtéria-prima Raw material Matière-première
Matriz Matrix Matrice
Molde Mold Moule
Oxidação Oxidation Oxydation
Ponto de fusão Fusing point Point de fusion
Rebarba Barb Bavure
Recozimento Annealing Recuisson
Recristalização Recrystallization Recristallisation
Rede cristalina Crystalline net Filet cristallin

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Bibliografia

.Azevedo, Domingos, “Grande Dicionário Português – Francês”,


Livraria Bertrand, 11ªEdição.

.Azevedo, Domingos, “Novo Michaelis Dicionário Ilustrado Português –


Inglês”, Livraria Bertrand.

.Buecken, Francisco J., “Vocabulário Técnico”, Livraria Interciência


LTDA., 5ªEdição.

.Pais, Santos, “”, Universidade do Minho

.http://pt.wikipedia.org/wiki/Conforma%C3%A7%C3%A3o

.http://www.rrisso.unifei.edu.br/EME53/aula_I.doc

.
http://www.dalmolim.com.br/EDUCACAO/MATERIAIS/Biblimat/siderurgi
a3.pdf

.http://construtor.cimm.com.br/cgi-win/construt.cgi?
configuradorresultado+516

.
http://meusite.mackenzie.com.br/carlosmonezi/seminarios/1o_semest
re/1_2002/laminacao/laminacao.htm

.http://www.infomet.com.br/al_processos_fabricacao.php

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.http://pt.wikipedia.org/wiki/Extrus%C3%A3o

.http://sbrt.ibict.br/upload/sbrt5179s.html

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Anexos

Anexo 1 – Esquema simplificado dos processos de conformação.


Fonte: http://www.rrisso.unifei.edu.br/EME53/aula_I.doc

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Anexo 2 – Processos e produtos típicos da conformação plástica.


Fonte: http://www.rrisso.unifei.edu.br/EME53/aula_I.doc

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