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Tema 6 - Psicologia Jurídica aplicada ao

Direito do Trabalho
Introdução
Neste último capítulo abordaremos a Psicologia Jurídica aplicada ao
Direito do Trabalho, as relações que se estabelecem no trabalho e nas
organizações estão sujeitas a vários tipos e formas de abuso de poder e a
todos os tipos de violência, mesmo que ocasionais, podem ser muito
agressivas e desorganizar emocionalmente suas vítimas.

Começamos os estudos abordando a temática do Assédio Moral no


Trabalho (ATM), como um comportamento de expressão de extrema
violência e abuso de poder, que se caracteriza por ser uma conduta
sistemática, com desigualdade de posições, sendo manifestas ou invisíveis,
que geram no trabalhador sentimentos de desqualificação, humilhação e
constrangimento.

O Assédio sexual, outro tema que será debatido, diz respeito a uma
das formas mais conhecidas de abuso de poder nas organizações de
trabalho, é indesejado por parte da vítima e assediador numa condição
hierárquica superior sente-se protejido contra possíveis denúncias.

Outra temática a ser explorada neste capítulo, diz respeito a algumas


doenças ocupacionais que podem estar relacionadas ao trabalho como:
Estresse laboral e Síndrome de Burnout, podendo ser a expressão de
reações psíquicas e físicas, geradas pelas dificuldades para lidar com as
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mudanças ou ameaças do bem-estar decorrentes das relações e pressões
no mundo do trabalho,

Essas ações violentas geram impactos na saúde mental do


trabalhador, por isso da necessidade de entender os danos causados nas
suas vítimas, que atinge a integridade e a saúde mental dos envolvidos: o
dano moral e dano psicológico, próximo tema abordado.

O potencial danoso do mundo nas organizações e das relações


trabalhistas tem gerado muitas demandas processuais no âmbito do Poder
Judiciário e aos operadores do Direito. Aos profissionais da
Psicologia, podem ser solicitados para auxiliar na avaliação dos casos, para
estabelecer a conexão entre o trabalho e a saúde mental do indivíduo, na
condição de perito da justiça ou como assistente técnico de uma das partes.

O exercício do trabalho, sua organização e produção, geram


consequências na qualidade da saúde das pessoas. As condições, as
exigências, a competitividade e a intensidade do trabalho, refletem nos
distúrbios e decomposição física e psicológica dos trabalhadores.

Os distúrbios de fadiga mental, estresse, Síndrome de Burnout, a


violência e os transtornos mentais relacionados ao local de trabalho, bem
como a violação de contratos psicológicos, têm implicação direta na
qualidade de vida de indivíduos. As relações de trabalhos estão sujeitas a
vários tipos de violência e de abuso de poder, envolvendo a intimidade, a
vergonha e a humilhação.
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As ações envolvendo as relações de trabalho, tem sido um tema
recorrente e demanda muitos processos no âmbito do Poder Judiciário,
principalmente as que envolvem a violência no contexto laboral. No trabalho
e nas organizações, várias atitudes podem ser consideradas como
violentas.

A direção da violência pode ser identificada em várias direções:

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Independente da direção da agressão, ela sempre gera muito
sofrimento, sendo um processo doloroso, causando consequências no
desempenho do trabalhador e deteriorando as relações no trabalho e o
ambiente organizacional é afetado.

Assédio Moral no Trabalho


A definição de Assédio moral nas relações de trabalho está
relacionada às transformações culturais, aos contextos históricos e com as
circunstâncias que o evento acontece. Sempre sendo caracterizado com
uma extrema violência psicológica.

O assédio, significa para Trindade (2017), envolver, cercar,


importunar e perseguir de modo impróprio, inadequado e insistente as
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demonstrações de desejos e vontades. Esses comportamentos podem ser
muito sutis e até invisível, mas devem ocorrer de maneira sistemática, o
assédio configura-se pela repetição dos comportamentos de humilhação.

Para o mesmo autor, o assediar no trabalho causa na vítima


humilhação, constrangimento e desconforto emocional, ficando destruída e
abalada emocionalmente.

O abuso de poder deve estar presente neste tipo de violência,


caracterizando por uma relação assimétrica entre as partes, o agressor
possui uma posição de mais recursos, apoio ou poder diante da vítima.
Existe uma desigualdade, que pode estar relacionada: a hierarquia, força
física, traço de personalidade, antiguidade no trabalho, influência e controle
das relações pessoais.

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Essa relação assimétrica que é característica do assédio, torna a
defesa por parte dos trabalhadores que estão sofrendo muito difícil, pois
está relacionada com o medo, com um ambiente competitivo e pouco
solidário no ambiente de trabalho.

Ao caracterizar o Assédio Moral no Trabalho (AMT), de acordo com


Soboll (2017), dois elementos devem estar presentes: o primeiro, os atos
hostis e o segundo, a vivência de humilhação e ofensa à dignidade
humana.

Ainda é importante no AMT, identificar a intencionalidade, quem está


praticando as ações deve estar consciente de estar causando mal, a sua
intenção é de excluir e prejudicar o trabalhador afetado.

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Assédio sexual
Outra forma de abuso de poder no ambiente de trabalho é o Assédio
Sexual, caracterizado por comportamento, indesejados, que afeta a vítima
no seu desempenho no trabalho e emocionalmente. As atitudes indevidas e
ameaçadoras veladas ou explícitas, seguidas de esquivas gera um
ambiente de hostilidade e persecutório.

O assédio sexual é definido pelo Código Penal como um ato de:

“constranger alguém, com o intuito de obter vantagem ou favorecimento


sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico
ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”
(Código Penal, art. 216).

Alguns desses comportamentos que caracterizam o assédio sexual


são:

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Estresse Laboral e Síndrome de Burnout
A saúde do trabalhador, é um dos temas muito debatidos no âmbito
jurídico, principalmente no que diz respeito ao estresse laboral. O estresse
pode ser definido como “um processo pelo qual alguém percebe e responde
a eventos que são julgados como desafiadores ou ameaçadores.”
(STRAUB, 2013, p. 132). O estresse faz parte da vida de todos os
indivíduos, mas em elevados níveis pode ocasionar várias doenças:
depressão, ansiedade, exaustão emocional e física e as doenças cardíacas.

Já o estresse laboral é aquele que está relacionado com questões


organizacionais e de trabalho, acontecendo quando o trabalhador não
consegue atender às exigências solicitadas por seu trabalho, gerando
sofrimento psíquico, mal-estar, distúrbios do sono e mudanças de
comportamento.

As consequências do estresse laboral, se equivale ao estresse


derivado das demais situações, embora dependa das condições de trabalho
e da maneira como o indivíduo compreende suas demandas.

O estresse laboral advém da sobrecarga de trabalho ou trabalhos


com alto índice de riscos, como aqueles em que o indivíduo manipula
dinheiro ao longo do expediente, atua em locais de risco ou à noite, por
exemplo. Dentre os estressores relacionados a sobrecarga, podemos
destacar as jornadas excessivas de horas trabalhadas, os locais
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inadequados ou desfavoráveis ao trabalho, a sobrecarga de
responsabilidade em suas tarefas ou dificuldade de controle sobre suas
demandas.

Quando o estresse laboral for crônico, persistindo os sintomas,


frequentemente provoca diminuição no desempenho e pode desencadear
uma reação negativa como o Estresse Pós-Traumático ou a Síndrome de
Burnout.

O termo de origem inglesa burnout pode ser traduzido como “queima


total” e compreendido por “exaustão”. Representa um estado de
esgotamento completo do sujeito que deixa de ocupar sua posição de pleno
funcionamento e passa a não responder em virtude da exaustão após
excessiva demanda de energia.

Embora este termo tenha sido utilizado pela primeira vez em 1997 por
Maslach, desde 1974 este fenômeno vinha sendo estudado por

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Freudenberger, médico americano. Segundo Vieira (2010), os três maiores
fatores compreendidos pela síndrome são: esgotamento emocional,
despersonalização e perda da realização pessoal no ambiente de
trabalho. Somam ao esgotamento emocional, o físico e o mental,
ocasionado pelo demasiado envolvimento em situações emocionalmente
complexas. Atualmente esta síndrome pode ser compreendida como
uma reação negativa ao estresse laboral crônico, caracterizado pelo
esgotamento físico, mental e emocional extremo.

Diferente do estresse clássico, burnout está sempre relacionada ao


estresse laboral, causado em ambiente de trabalho. O estado emocional do
sujeito é diretamente afetado pela extrema exigência no âmbito profissional,
acarretando sobrecarga psicológica e emocional.

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A Síndrome de Burnout manifesta-se por um conjunto de sintomas
físicos e psíquicos, como falta de energia, fadiga, dificuldade de
relacionamento, impaciência, insensibilidade, indiferença, irritabilidade,
sensação de solidão, depressão, além de sentimentos de incapacidade,
baixa realização pessoal, despersonalização e distanciamento afetivo. Para
a Saúde Mental, a síndrome faz associações negativas com depressão e
ansiedade, assim como abuso de álcool e drogas.

Os fatores determinantes do burnout são essencialmente questões


da organização do trabalho, como:

★ Falta de suporte social para realização das tarefas.


★ Acontecimentos estressantes ligados ao trabalho;
★ Interações profissional-cliente ou profissional-organização
intensas e exigentes;
★ Situações emocionalmente demandantes (sobrecarga e falta de
autonomia.

Em geral, a Síndrome de Burnout acomete as pessoas com alto


padrão de exigências, seja interna ou externamente. As exigências internas
estão relacionadas à baixa capacidade de admissão de quaisquer erros ou
atraso em tarefas. Os fatores externos dizem respeito aos prazos e
cobranças excessivas em cima do trabalhador. Isto vem à tona quando o
sujeito julga não ser capaz de atingir seu ideal.

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DANO MORAL E DANO PSICOLÓGICO NO MUNDO
JURÍDICO
No mundo jurídico, segundo Diniz (2020), o dano é caracterizado com
o prejuízo causado à pessoa, de natureza material ou moral, e se refere
aos interesses juridicamente protegidos, fundamental para que se possa
caracterizar uma responsabilidade civil, seja de ordem objetiva ou subjetiva,
a fim de haver uma indenização ou ressarcimento.

A possibilidade de reparação, no âmbito jurídico, só será possível se


o dano for definido como certo, os reflexos desse dano afetam o indivíduo e
o seu mundo social.

O dano moral diz respeito à violação de direitos que não podem ser
medidos economicamente, pois atingem o indivíduo na sua dignidade

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No dano psicológico existe a deterioração das funções psicológicas,
de maneira súbita ou inesperada, que surgem a partir da ação culposa ou
deliberada de alguém e traz prejuízos à vítima. A saúde mental fica
comprometida pelo evento estressante e traumático, que desencadeia um
impacto no psicológico e no corporal, gerando muito sofrimento ou
adoecimento psíquico.

De acordo com a Constituição Federal, as pessoas têm os direitos


invioláveis da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem, sendo
assegurado o direito a indenização por dano material ou moral decorrente
da sua violação.

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Referências
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade
civil. 34ª ed, vol. 7. São Paulo: Saraiva, 2020.

FIORELLI, José Osmir. MANGINI, Rosana Cathya Ragazzoni. Psicologia


Jurídica. 10ª ed. São Paulo: Atlas, 2020.

HUTZ, Claudio Simon (et al). Avaliação Psicológica no Contexto


Forense. Porto Alegre: Artmed, 2020.

PINHEIRO, Carla. Psicologia Jurídica (col. Direito Vivo). São Paulo:


Saraiva, 2019.

SOBOLL, Lisa Andréa Pereira. Intervenções em assédio moral e


organizacional. São Paulo: LTr, 2017.
STRAUB, Richard O. Psicologia da Saúde. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed,
2013.
TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do
direito. 8ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2017.
VIEIRA, Isabela. Conceito(s) de burnout: questões atuais da pesquisa e a
contribuição da clínica. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São
Paulo, 2010. Disponível em:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0303-
76572010000200009. Acesso em 05 de set. de 2020.

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