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O Fenômeno Bullying e suas consequências psicológicas

Stetina Trani de Meneses e Dacorso*

O termo Bullying vem da literatura anglo-saxônica, sem uma tradução literal no português,
conceitua comportamentos agressivos e anti-sociais. Não há termo equivalente na língua
portuguesa, podemos nos referir a “um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e
repetitivas, adotado por um ou mais alunos contra outros, causando dor, angustia e sofrimento”.

É um conceito especifico e muito bem definido e não se deixa confundir com outras formas de
violência. Apresenta características próprias, onde a pior é causar traumas no psiquismo de suas
vitimas. Ocorre em vários outros contextos, além do escolar: nas famílias, nas forças armadas,
nos locais de trabalho (denominado de assédio moral), nos asilos de idosos, nas prisões, nos
condomínios residenciais, enfim onde existem relações interpessoais.

As causas podem ser variadas e o problema é mundial. Nas pesquisas realizadas as causas mais
comuns para o comportamento de bullying são: carência afetiva, ausência de limites, modo de
afirmar poder e superioridade, necessidade de chamar a atenção para si, desejo de pertencer a
um grupo.

Todos nos sentimos inferiores por alguma razão e/ou por uma característica da nossa
personalidade. O agressor, aquele que precisa humilhar, vai usar de sua percepção em relação a
este traço que provoca sentimento de inferioridade para praticar sua agressividade.

Estamos numa sociedade onde o nível de exigência é muito alto. Tem de ser bem sucedido,
magro, bonito, boa situação financeira, possuir um grande grupo de amigos e que sejam
interessantes, ser popular, extrovertido, inteligente, não se deixar abater, ser um lutador na vida,
criativo... A lista se estende ao infinito. Naturalmente, TODAS as pessoas conseguem cumprir
ALGUMAS destas exigências porque fazem parte de sua personalidade. Mas não todas!!!!
Ninguém consegue cumprir todas! É a condição de nossa humanidade!!!
Nossa sociedade com este leque de exigências age de forma tirana. O diferente é desrespeitado o
tempo todo, não se procura conhecê-lo mas destruir. E isto pode ser feito com as várias faces
que a agressividade pode assumir.

Aquele(s) que pratica o bullying não gosta de se perceber humano, portanto faltante em algumas
destas características. Recusa-se a olhar para dentro de si e conviver consigo mesmo. Ou veio de
um ambiente com nível de exigência alto, onde as faltas eram tratadas com desprezo ou
violência. Mas é bom frisar que esta é uma hipótese oriunda de pesquisas. Nem todas as pessoas
que passaram por uma educação deste teor praticam o bullying ou serão vitimas em potencial.
Esta pessoa que não suporta se olhar, vai projetar no outro toda a sua incapacidade de se aceitar
e toda a raiva decorrente da possibilidade de ser diferente da forma como se imagina ou gostaria
de ser. Vai usar de sua força física, de sua autoridade, de sua arrogância e/ou popularidade ( os
grupos sempre transmitem força) para descarregar em outros, percebidos por ele(s) como
inferiores, toda a sua agressividade. É como se este outro(s) percebido como menos ficasse
imbuído de todo o terror, que existe dentro de si, de se perceber com a sensação de abaixo seja
lá no que for.

Estudiosos do comportamento de bullying entre escolares identificam e classificam alguns


papeis desempenhados por seus protagonistas: a)vitima típica, aquele que serve de bode
expiatório para o grupo; b) vitima provocadora, o que provoca determinadas reações e não tem
habilidades para lidar com elas; c)vitima agressora, aquele que reproduz maus-tratos sofridos;
d)agressor, o que vitimiza os mais fracos; e)espectador, presencia os maus-tratos, mas não o
sofre diretamente e nem o pratica.(FANTE,2008)

As consequências para as vitimas são uma ansiedade constante, dificuldade de se relacionar;


baixo rendimento escolar; baixa imunologia que deixa a porta aberta para doenças oportunistas;
tristeza constante; desânimo; evita a convivência com outras pessoas. Os transtornos
psicológicos vão variar de pessoa para pessoa, mas o certo é que as consequências são muito
doídas e profundas.
Aqueles que sofrem na maioria das vezes não reclamam porque ficam envergonhados de serem
agredidos e humilhados, temem represálias, receiam não serem acreditados. Uma situação que
exige atenção dos pais e dos professores para perceber o que esta ocorrendo.

Em relação ao bullying nas escolas, o movimento que tem surgido é o esclarecimento para todos
do que é o bullying através de palestras, aulas, filmes, formas lúdicas e criativas de levar a todos
a discutir o assunto. Procurando dar forças àqueles que o sofrem para fazer a denuncia.

Não podemos esquecer que vivemos numa sociedade extremamente violenta. O acesso a todas
as cenas é imediato devido aos meios de comunicação avançados que nos coloca frente ao
ocorrido em tempo real. São guerras, agressões gratuitas, ações policiais tão violentas quanto as
dos delinqüentes. A TV, Internet, celulares, todos são artefatos que fazem sobressair na mídia o
sujeito violento, malévolo, de estopim curto, com ações de desrespeito ao outro. Nos adultos
esta situação pode provocar uma sensação de esgotamento e banalidade da violência. Nos seres
que o aparelho psíquico esta em construção e que possuem uma predisposição interna a
externar a violência, a situação de bullying pode ser a saída para descarregar suas questões
internas e se fazer notar.

Junto ao esclarecimento feito nas escolas, é louvável orientar no respeito às diferenças que
existem entre as pessoas, o fortalecimento dos vínculos de amizade baseados no respeito e
solidariedade. Que as escolas possam orientar que algumas diferenças são assustadoras, podem
não ser muito agradáveis nem bonitas mas, que na maioria das vezes não são destrutivas. Uma
ação com possibilidade de produzir frutos seria se as escolas – e todas as instituições onde o
bullying pode ocorrer- convidassem os familiares quando os eventos para estes esclarecimentos
fossem de grande porte como palestras, teatros, shows. Desta forma a família também se orienta
sobre o bullying . E assim vai se formando um grande movimento de orientação: escola, família,
comunidade.
 Psicologa-Psicanalista.Profa.do curso de Psicologia do Centro de Ensino Superior de Juiz
de Fora.Mestre Letras CES_JF.Mestre Psicologia-Psicanálise AWU-USA.Vice-presidente
Circulo Brasileiro de Psicanálise – RJ. Vive-presidente Sobrap-JF.
 Contato: stetina-dacorso@ig.com.br

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