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11 de Novembro de 2020

2º Grau

Tribunal de Justiça do Paraná TJ-PR -


PROCESSO CRIMINAL - Petição : PET 0006333-
62.2018.8.16.0083 PR 0006333-
62.2018.8.16.0083 (Acórdão) - Inteiro Teor

Processo
PET 0006333-62.2018.8.16.0083 PR 0006333-62.2018.8.16.0083 (Acórdão)

Órgão Julgador
3ª Câmara Criminal

Publicação
04/10/2019

Julgamento
30 de Setembro de 2019

Relator
Desembargador Gamaliel Seme Scaff

Inteiro Teor

Íntegra do Acórdão
Ocultar Acórdão
Atenção: O texto abaixo representa a transcrição de Acórdão. Eventuais
imagens serão suprimidas.

/
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
3ª CÂMARA CRIMINAL - PROJUDI
Praça Nossa Senhora de Salette - Centro Cívico - 80.530-912 - Curitiba - PR
Autos nº. 0006333-62.2018.8.16.0083

Petição Criminal n° 0006333-62.2018.8.16.0083


Vara de Corregedoria dos Presídios de Francisco Beltrão
Ministério Público do Estado do ParanáRequerente(s):
CLAUDIOMIRO CHAGASRequerido(s):
Relator: Desembargador Gamaliel Seme Scaff

RECURSO DE AGRAVO EM EXECUÇÃO - DECISÃO OBJURGADA QUE


ACOLHEU PEDIDO DE TRANSFERÊNCIA PARA APAC - REFORMA -
COMETIMENTO DE CRIME HEDIONDO (ART. 213, § 1º C/C ART. 226,
INC. II,
E ART. 71, TODOS DO CP) CUJA VÍTIMA FOI O PRÓPRIO FILHO -
PARECER
PSICOLÓGICO FAVORÁVEL - INSUFICIÊNCIA - NECESSIDADE DE SE
PONDERAR ACERCA DAS PARTICULARIDADES DO CASO EM
CONCRETO
- ALEGADA PROXIMIDADE COM FAMILIARES - VÍNCULO FAMILIAR
NÃO
DEMONSTRADO - REMOÇÃO PARA A COMARCA ONDE OCORREU O
DELITO - POSSIBILIDADE DA VÍTIMA ESTAR NO MESMO LOCAL -
TRANSFERÊNCIA PREMATURA E TEMERÁRIA, SEGUNDO OS
PRINCÍPIOS
DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE - DECISÃO
REFORMADA.
I - No Estado do Paraná, tanto a Resolução Conjunta nº 007/2012 e quanto
a Lei
Estadual nº 17.138/2012, que tratam a respeito dos convênios com as
entidades
civis de direito privado sem fins lucrativos e Associações de Proteção e
(APAC)Assistência aos Condenados , não preveem critérios a serem
observados
para a inserção dos reeducandos nessas instituições. Dessa feita, cumpre ao
Juiz
da execução, atentando-se para as finalidades da sanção penal - já que os
condenados possuem uma dívida com a sociedade por terem violado um
/
bem
jurídico sensível, motivo pelo qual devem cumprir satisfatoriamente a
reprimenda -
analisar todas as circunstâncias que permeiam o caso, pautando-se nos
princípios
da razoabilidade e da proporcionalidade, para assim decidir sobre a
viabilidade da
transferência pleiteada.
II - , não obstante a conclusão do parecer psicológico tenha sido
favorável àIn casu
transferência do apenado para a APAC, nota-se que o agravado não
comprovou a
existência de vínculo familiar na cidade de Pato Branco, tampouco que seu
filho,
vítima do crime de estupro a que foi condenado, não reside nessa
localidade.
Destarte, não se revela recomendável sua remoção, porque em
APAC’smaxime
inexiste vigilância policial. Necessário que a r. decisão que eventualmente
defira
novamente o benefício, enfrente essas ponderações de modo a guardar a
devida
cautela em relação a todo o contexto dos fatos.
RECURSO DE AGRAVO PROVIDO.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Agravo sob nº


0006333-62.2018.8.16.0083, da Vara de Corregedoria dos Presídios da
Comarca de Francisco
Beltrão, em que é MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ e
Recorrente Requerido
CLAUDIOMIRO CHAGAS.

I – RELATÓRIO:
Trata-se de agravo em execução interposto pelo Ministério Público do
em face da decisão acostada no mov. 36.1, dos autos de
TransferênciaEstado do Paraná
Entre Estabelecimentos Penais nº 0006333-62.2018.8.16.0083, que
deferiu o pedido de
transferência formulado pelo reeducando para a Associação de Proteção e
/
Assistência aos
Condenados (APAC) de Pato Branco, desde que haja vaga na APAC e
inexistam outros presos
em lista de espera aguardando a transferência.
A representante do sustentou (mov. 53.1) que embora aParquet
institucionalização de condenados em APAC’s no Estado do Paraná não
obedeça requisitos
objetivos e, sim, à discricionariedade do Juízo, a decisão deve ser pautada
nos princípios da
razoabilidade e proporcionalidade. Porém, segundo a recorrente, o
objurgadodecisum
considerou apenas dois critérios: a quantidade de pena cumprida e o bom
comportamento
carcerário, os quais reputa insuficientes, já que a periculosidade também
merece ser
aquilatada, com vistas ao modelo adotado nas unidades APAC’s, em que os
detentos são
responsáveis pela própria ressocialização.
In casu, destaca que o agravado foi condenado por ter abusado
sexualmente de seu filho, assim “a conduta do sentenciado caracteriza-se
por acentuada
reprovabilidade e denota a sua periculosidade, representando, sem dúvida,
risco para o próprio
filho e outros menores, não sendo recomendável que seja transferido para
unidade de menor
vigilância e segurança como é a APAC neste momento do cumprimento da
pena – note-se que
o sentenciado cumpriu apenas 27% de uma pena que totaliza vinte anos de
reclusão, o que
corresponde a pouco mais de 05 anos de pena cumprida” e “para além
disso, entende-se que
admitir a transferência do sentenciado para a APAC do local dos fatos e
onde a vítima e seus
familiares residem representa providência extremamente temerária, pois
poderá vir a colocar
em risco a segurança dos familiares e das vítimas, bem como a sua condição
psicológica ao
saberem do retorno do sentenciado a local próximo de si”.
Destarte, em que pese o parecer psicológico tenha sido favorável , pede a
/
reforma da decisão, pois não pode ele prevalecer em relação às
particularidades do caso
concreto.
A defesa apresentou contrariedade ao recurso (mov. 59.1), postulando o
seu não provimento.
Em juízo de retratação, o d. Juízo manteve a decisão por seus própriosquo
fundamentos (mov. 61.1).
O d. Procurador de Justiça opinou pelo provimento doWaldir Franco Félix
recurso (mov. 12.1-TJPR).
É o relatório.

II - VOTO E SUA FUNDAMENTAÇÃO:

O recurso é tempestivo e reúne todos os pressupostos de admissibilidade,


intrínsecos e extrínsecos, pelo que deve ser conhecido.

Insurge-se o Ministério Público contra a decisão que deferiu a transferência


do agravado da Penitenciária Estadual de Francisco Beltrão para a
Associação de Proteção e
Assistência aos Condenados (APAC) de Pato Branco/PR, porquanto as
particularidades do
caso concreto indicam que a transferência é “ ”.temerária e não
recomendada
Razão lhe assiste.
Da acurada análise dos autos, depreende-se que Claudiomiro Chagadas foi
condenado pela prática do crime de estupro qualificado (art. 213, § 1º c/c
art. 226, II c.c art. 71,
todos do Código Penal) a umapena de 20 anos de reclusão em regime
fechado,em decorrência
dos seguintes fatos constantes na exordial acusatória:

“No dia 27/03/13, por volta das 16:00 horas, na Rua Iva, nº 527, bairro
Santo Antônio,
nesta cidade e comarca, o denunciado CLAUDIOMIRO CHAGAS,
consciente e
voluntariamente, mediante violência presumida pela menoridade da
vítima, seu filho Yurik
Ravel Chagas (14 anos de idade), a fim de realizar seu propósito dissoluto,
dirigiu-se até o
/
quarto onde a vítima dormia e mandou que a mesma tirasse a roupa. Em
seguida, estando
ambos deitados na cama, o denunciado despiu-se e praticou ato libidinoso
com o menor,
penetrando-o no ânus, conforme positivado no Laudo de Exame de Ato
Libidinoso de fls.
(certidão fls. 34).
Registre-se que de acordo com as declarações prestadas pela vítima na
delegacia de
polícia, fls. 13/15, tais fatos vêm acontecendo desde o ano de 2011, tendo o
denunciado,
em atos sucessivos, mantido relações libidinosas com seu próprio filho. ”

Cumpridos 27% (vinte e sete por cento) da reprimenda corporal aplicada, o


agravado pleiteou, de próprio punho, sua transferência para a APAC de
Pato Branco,
justificando que estaria mais próximo de seus familiares, os quais não
possuem condições
financeiras para visitá-lo na Penitenciária Estadual de Francisco
Beltrão/PR.
Malgrado manifestação ministerial pelo indeferimento do pedido (mov.
14.1), o juízo asseverou, na decisão vergastada, restarem preenchidos os
seguintesa quo
requisitos para o deferimento de transferência à APAC: “a) Cumprir pena
em regime fechado;
b) Possuir familiares na Comarca da APAC ou em localidade que fique
territorialmente mais
próxima da sede da APAC do que de Francisco Beltrão/PR, limitado a 100
(cem) km de
distância; c) Ter cumprido pena por pelo menos 01 (um) ano na
Penitenciária Estadual de
Francisco Beltrão/PR ou em outra Penitenciária do Estado do Paraná; d)
Não tenha cometido
. Por esta razão, deferiu o pedido denenhuma falta grave durante o
cumprimento de pena.”
transferência do agravado da Penitenciária Estadual de Francisco
Beltrão/PR para a APAC de
Pato Branco/PR.
Pois bem.
/
As APAC’s são entidades civis que visam a recuperação e reintegração
social de condenados a penas privativas de liberdade por meio de 12
elementos: 1.
Participação da comunidade; 2. Recuperando ajudando recuperando; 3.
Trabalho; 4.
Espiritualidade; 5. Assistência Jurídica; 6. Assistência à saúde; 7.
Valorização Humana; 8.
Família; 9. O voluntário e o curso para sua formação; 10. Centro de
Reintegração Social - CRS;
11. Mérito; 12. Jornada de Libertação com Cristo.[i]
Em suma, a APAC trata-se de entidade sem fins lucrativos que visa a
recuperação e reinserção social dos condenados. Para tanto, emprega
método ressocializador
firmado na autodisciplina e responsabilidade, sem a vigilância policial.
No Estado do Paraná, tanto a Resolução Conjunta nº 007/2012 e quanto a
Lei Estadual nº 17.138/2012, que tratam a respeito dos convênios com as
entidades civis de
direito privado sem fins lucrativos e Associações de Proteção e Assistência
aos Condenados
(APAC), não preveem critérios a serem observados para a inserção dos
reeducandos nessas
instituições. Dessa feita, cumpre ao Juiz da execução, atentando-se para as
finalidades da
sanção penal - já que os condenados possuem uma dívida com a sociedade
por terem violado
um bem jurídico sensível, motivo pelo qual devem cumprir
satisfatoriamente a reprimenda -
analisar todas as circunstâncias que permeiam o caso, pautando-se nos
princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, para assim decidir sobre a
viabilidade da transferência
pleiteada.
Examinando-se a presente hipótese, entende-se ser prematuro transferir o
agravado, embora conste no parecer psicológico de mov. 30.1 que ele se
encontra “(...) apto à
adaptação ao regime da instituição, que por sua vez, pode lhe oferecer
acompanhamento
eficaz para a manutenção de uma conduta social adequada, reduzindo
assim os riscos de litígio
/
entre o referido e seus familiares, e ainda caracteres pessoais que podem
estar envolvidos na
prática do ilícito”.
Ocorre que foi desconsiderado no que o réu cometeu crimedecisum
hediondo (estuprou o próprio filho por aproximadamente dois anos) na
Comarca em que
pretende ser transferido, o que certamente se revela temerário, pois nos
presentes autos não
há informações de que seus filhos não residem na cidade de Pato
Branco/PR, como
consignado no parecer psicológico . Assim, assiste razão à agravante
quando aduz:

“(...) entende-se que admitir a transferência do sentenciado para a APAC do


local dos
fatos e onde a vítima e seus familiares residem representa providência
extremamente
temerária, pois poderá vir a colocar em risco a segurança dos familiares e
das vítimas,
bem como a sua condição psicológica ao saberem do retorno do
sentenciado a local
próximo de si”.

Outrossim, vê-se dos autos de execução da pena


(0009304-93.2013.8.16.0083) que ele cumpriu 34% da pena imposta até a
presente data,
devendo permanecer por mais tempo sob a custódia repressiva do Estado.
No mais, o pedido de transferência para a APAC de Pato Branco/PR foi
formulado com o objetivo de estar mais próximo de seus parentes. Porém, o
agravado não
comprova a existência de vínculo familiar naquela localidade, o que
também obstaculiza o
deferimento de seu pedido, conforme já decidiu esta C. Câmara em caso
similar ao ora tratado:

RECURSO DE AGRAVO - EXECUÇÃO PENAL – TRANSFERÊNCIA DO


SENTENCIADO
À ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA AOS CONDENADOS
(APAC) DE
/
PATO BRANCO – INVIABILIDADE – MODELO DE PRISÃO QUE
PRESSUPÕE
DISCIPLINA E RESPONSABILIDADE – MENOR VIGILÂNCIA DOS
SENTENCIADOS –
GRAVIDADE DO CRIME (NATUREZA HEDIONDA), PERICULOSIDADE
DO AGENTE E
QUANTUM PEQUENO DE CUMPRIMENTO DA PENA – INAPTIDÃO DO
PRESO, POR
ORA, PARA CUMPRIR A REPRIMENDA EM ESTABELECIMENTO
ALTERNATIVO –
ALEGADA APROXIMAÇÃO DA FAMÍLIA – NÃO COMPROVAÇÃO DO
VÍNCULO
FAMILIAR NA LOCALIDADE – INEXISTÊNCIA, ADEMAIS, DE DIREITO
ABSOLUTO –
PREVALÊNCIA DOS INTERESSES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA –
PRECEDENTES
JURISPRUDENCIAIS – DECISÃO MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO.
(TJPR - 3ª
C.Criminal - 0006774-77.2017.8.16.0083 - Francisco Beltrão - Rel.:
Desembargador José
Cichocki Neto - J. 11.10.2018).

E, de mais a mais, obtempera-se que o direito à aproximação familiar no


cumprimento da pena não é absoluto, conforme lição de Renato Marcão,
trazida nas razões de
recurso pela d. Promotora de Justiça:

Determina o art. 103 da Lei de Execução Penal que cada comarca deverá
dispor de pelo“
menos uma cadeia pública, com o objetivo de resguardar o interesse da
Administração da
Justiça Criminal, visando, ainda, a permanência do preso me local próximo
ao seu meio
social e familiar, fato de ressocialização e assistência. Tal regra, entretanto,
não retira do
juiz da execução o poder dever de avaliar, caso a caso, a conveniência de
manter o preso
em um ou outro estabelecimento, já que não constitui direito absoluto do
preso o
/
cumprimento de sua pena neste ou naquele lugar, ou, por exemplo, no local
de sua
residência”.

E, por arremate, como bem pontuado pelo d. Procurador de Justiça:

“Não fosse isso, a distância entre as cidades de Francisco Beltrão e Pato


Branco é
pequena (aproximadamente, 55 km), não constando, dos autos, elementos
que
comprovem que seus parentes não possuam condições financeiras para
visitá-lo”.

Destarte, entende-se que deve ser modificada a decisão objurgada, para


fins de manter Claudiomiro Chagas na Penitenciária Estadual de Francisco
Beltrão.
CONCLUSÃO

À luz do exposto, proponho que seja ao recurso dedado provimento


agravo em execução.

É como voto.

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 3ª Câmara Criminal do


TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO
O RECURSO DE PARTE E
PROVIDO o recurso do Ministério Público do Estado do Paraná.

O julgamento foi presidido pelo (a) Desembargador Paulo Roberto


Vasconcelos, com voto, e
dele participaram Desembargador Gamaliel Seme Scaff (relator) e
Desembargador Sérgio Roberto Nóbrega
Rolanski.

23 de setembro de 2019

Desembargador Gamaliel Seme Scaff


Relator
/
(BE)
[i] Disponível na internet: .
Acessohttp://www.fbac.org.br/index.php/pt/como-fazer/apac-o-que-e
em ago. 2019.

Disponível em: https://tj-pr.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/835079626/processo-criminal-


peticao-pet-63336220188160083-pr-0006333-6220188160083-acordao/inteiro-teor-835079636

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