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Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE

Curso de Habilitação de Oficiais Bombeiros Militares – CHO/BM


ÉTICA, CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS

SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL - SSPDS

DELCI Carlos TEIXEIRA


SECRETÁRIO DA SSPDS

POLÍCIA MILITAR DO CEARÁ - PMCE

Geovani PINHEIRO da SIlva - Cel PM


COMANDANTE-GERAL DA PMCE

ACADEMIA ESTADUAL DE SEGURANÇA PÚBLICA DO CEARÁ – AESP|CE

José Herlínio DUTRA – Cel PM


DIRETOR-GERAL DA AESP|CE

Lucio Ponte Torres DPC


SECRETÁRIO EXECUTIVO DA AESP|CE

Antonio CLAIRTON Alves de Abreu – Ten Cel PM


COORDENADOR GERAL DE ENSINO DA AESP|CE

Amarílio LOPES Rebouças – Cel BM


COORDENADOR PEDAGÓGICO

Francisca ADEIRLA Freitas da Silva – Cap PM


SECRETÁRIA ACADÊMICA DA AESP|CE

HELANA Paula Nascimento do Carmo


ORIENTADORA DA CÉLULA DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA DA AESP|CE

CURSO DE HABILITAÇÃO DE OFICIAIS POLICIAIS MILITARES – CHO/PM

DISCIPLINA
ÉTICA, CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS

CONTEUDISTA
Demóstenes Carvalho Rolim Cartaxo – DPC

REVISÃO DE COERÊNCIA DIDÁTICA


Francisco MATIAS Filho – ST PM
Jose Walter ANDRADE JUNIOR – CAD PM
Leandro Gomes PIRES – SD PM
MARCOS Aurélio Costa GOMES – IPC
VIRGINIA Magda Alexandre Munhoz – IPC

FORMATAÇÃO
JOELSON Pimentel da Silva – 3º Sgt PM

• 2016 •
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
Curso de Habilitação de Oficiais Bombeiros Militares – CHO/BM
ÉTICA, CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO............................................................................................................................................................7
CAPÍTULO I....................................................................................................................................................................7
1. FUNDAMENTOS DA ÉTICA. .......................................................................................................................................7
1.1 Os Filósofos Gregos e a Ética. .............................................................................................................................7
2. DIREITOS HUMANOS ................................................................................................................................................8
2.1 Aspectos Introdutórios .......................................................................................................................................8
2.2 Definições ...........................................................................................................................................................8
2.3 Características.....................................................................................................................................................9
2.4. Os Sujeitos .........................................................................................................................................................9
2.5 Dimensões ou Gerações ...................................................................................................................................10
Direitos da 1ª Dimensão ........................................................................................................................................10
Direitos da 2ª Dimensão.........................................................................................................................................10
Direitos da 3ª Dimensão ou Direitos à Solidariedade ............................................................................................10
Direitos da 4ª Dimensão ou Direitos Coletivos da Humanidade ............................................................................10
Direitos da 5ª Dimensão.........................................................................................................................................11
2.6 Não deixe de se indignar ..................................................................................................................................11
2.7 A Polícia Militar e os Direitos Humanos ...........................................................................................................11
3. DIREITOS FUNDAMENTAIS DA PESSOA HUMANA..................................................................................................11
3.1 Considerações iniciais.......................................................................................................................................11
3.2. Direitos Fundamentais.....................................................................................................................................11
3.2.1 Direito à vida..................................................................................................................................................11
3.2.2 Direito à liberdade.........................................................................................................................................12
3.2.3 Direito à igualdade.........................................................................................................................................12
3.2.4 Direito à segurança........................................................................................................................................12
3.2.5 Direito à propriedade ....................................................................................................................................12
3.2.6 Direito ao trabalho ........................................................................................................................................12
3.3. Garantias Constitucionais ................................................................................................................................13
3.3.1 Habeas Corpus - HC ......................................................................................................................................13
3.3.2 Mandado de Segurança - MS.........................................................................................................................13
CAPÍTULO II.................................................................................................................................................................13
4. CIDADANIA..............................................................................................................................................................13
4.1 Considerações iniciais.......................................................................................................................................13
4.2. Valores Básicos ................................................................................................................................................13
4.3 Princípios Básicos..............................................................................................................................................14
5. O MEMBRO DA POLÍCIA MILITAR COMO EXEMPLO DE ÉTICA E PROMOTOR DA CIDADANIA E DIREITOS
HUMANOS ..................................................................................................................................................................15
5.1 Considerações iniciais.......................................................................................................................................15
5.2 A busca do bem comum ...................................................................................................................................15
5.3 O dever de agir .................................................................................................................................................15
5.4 Reflexão: direitos e deveres .............................................................................................................................15
6. OS DIREITOS HUMANOS À LUZ DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS DA ONU - 1948 E DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE 1988. .........................................................................................................16
6.1 Considerações iniciais.......................................................................................................................................16
6.2 Análise Comparativa ........................................................................................................................................16
CAPÍTULO III................................................................................................................................................................20
7. CÓDIGO DE CONDUTA PARA OS FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELA APLICAÇÃO DA LEI (CCEAL) ....................20
8. TREZE REFLEXÕES SOBRE POLÍCIA E DIREITOS HUMANOS.....................................................................................20
8.1 Considerações iniciais.......................................................................................................................................21
PRIMEIRA: Cidadania, Dimensão Primeira .............................................................................................................21
SEGUNDA: Policial: Cidadão Qualificado ................................................................................................................21
TERCEIRA: Policial: Pedagogo Da Cidadania ...........................................................................................................21

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QUARTA: A Importância da Auto-Estima Pessoal e Institucional ..........................................................................21


QUINTA: Polícia E ‘Superego’ Social ......................................................................................................................22
SEXTA: RIGOR versus VIOLÊNCIA............................................................................................................................22
SÉTIMA: Policial Versus Criminoso: Metodologias Antagônicas ............................................................................22
OITAVA: A ‘Visibilidade Moral’ Da Polícia: Importância do Exemplo .....................................................................22
NONA: “Ética” Corporativa Versus Ética Cidadã.....................................................................................................23
DÉCIMA: Critérios De Seleção, Permanência e Acompanhamento........................................................................23
DÉCIMA PRIMEIRA: Direitos Humanos Dos Policiais — Humilhação Versus Hierarquia........................................23
DÉCIMA SEGUNDA: Necessidade De Hierarquia ....................................................................................................24
DÉCIMA TERCEIRA: A Formação Dos Policiais ........................................................................................................24
9. OBSERVAÇÕES FINAIS.............................................................................................................................................24
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................................................................25
PORTARIA INTERMINISTERIAL SEDH/MJ Nº 2, DE 15 DE DEZEMBRO DE 2010 - DOU 16.12.2010 ............................26

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APRESENTAÇÃO CAPÍTULO I

O conteúdo de Ética, Direitos Humanos, 1. FUNDAMENTOS DA ÉTICA.


Cidadania e Segurança Pública é voltado para os
Profissionais da Segurança Pública dentre estes os O termo ética tem origem no vocábulo grego
Policiais Militares. Tem por objetivo fortalecer a ethos e significa costume. No latim, os costumes
doutrina e prática da Ética e dos Direitos Humanos, populares eram representados pelo termo mos, moris
com vistas a que os profissionais venham a e daí é que originou-se a palavra moral.
desempenhar com ainda mais zelo o seu ímpar mister, O Dicionário Aurélio on line,
sob a visão de que na condição de servidores púbicos www.dicionariodoaurelio.com, apresenta as seguintes
devem ser antes de mais nada promotores dos Direitos disposições para Ética e Moral:
Fundamentais da Pessoa Humana.
Os temas serão desenvolvidos em capítulos que Ética:
abordarão aspectos voltados para a formação e 1 Parte da Filosofia que estuda os fundamentos
conscientização acerca destas imprescindíveis áreas. da moral.
Por meio de uma linha sistêmica o conhecimento foi 2 Conjunto de regras de conduta.
assim organizado: Fundamentos da Ética; conceitos de 3 Ética médica: Conjunto dos problemas postos
Direitos Humanos Fundamentais; aspectos gerais de pela responsabilidade moral dos profissionais de saúde
Direitos Humanos; apresentação da Declaração em relação aos pacientes.
Universal dos Direitos, com um breve resumo e artigos
da Constituição Federal Brasileira vigente e do Código Moral: 1. Relativo aos bons costumes 2.
de Conduta dos Encarregados da Aplicação da Lei. comportamento moral. 3. Que tem bons costumes.
Também destaque no material é a reflexão que
o professor Ricardo Brisola Balestreri faz acerca da Diante das definições apresentadas pode-se
relação entre os profissionais direta ou indiretamente dizer que a Ética é a ciência do comportamento
ligados a Segurança pública e o seu poder/dever de humana, sob a ótica do bem e do mal, com vistas à
efetivamente trabalhar com vistas a promoção dos felicidade individual e coletiva.
direitos e como verdadeiros propagadores e Perceba que não se fala em campo teórico e sim
defensores dos Direitos Humanos. prático, no sentido de que se volta para a atitude do
Desejamos um excelente aprendizado! ser humano diante de ações e decisões que
cotidianamente tem que lidar.

1.1 Os Filósofos Gregos e a Ética.

Os filósofos gregos apresentaram uma visão


bastante peculiar acerca da ética, observação esta que
até hoje influencia os estudos e discussões acerca da
temática.
Para Sócrates o conhecimento da ética e por sua
vez da bondade é tão significativo para o homem que,
ao conhecê-la não teria como desvirtuar-se deste
caminho, ou seja, em sua ótica basta saber o que é
bondade para que se seja bom.
A PAZ E A JUSTIÇA COMEÇAM EM NÓS! Para Platão o sentido da ética é a busca por uma
sociedade perfeita, que deveria ser a busca maior do
Material construído pelo conteudista com base ser humano, ou seja, o equilíbrio entre o interesse
em experiência profissional, pesquisa científica, individual e o coletivo.
doutrina, legislação e em outros conteúdos Finalmente, para Aristóteles, a ética apresentada
didático/pedagógicos já existentes no domínio da como construída naturalmente e oriunda de uma
AESP/CE. sociedade perfeita, é algo utópico, por isso entende
que as instituições devem ter instrumentos para
nortear comportamentos e disciplinar o que é ético ou
não, neste sentido, moldaria os comportamentos no
rumo da ética.

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2. DIREITOS HUMANOS após a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945). Na


ONU formulou-se a Declaração Universal dos Direitos
2.1 Aspectos Introdutórios Humanos, espalhando seus efeitos para todo o Mundo.
Para uma melhor fixação do conteúdo e
Os regramentos normativos nacionais e ampliação do aprendizado assista o vídeo no link:
internacionais de Direitos Humanos como princípios, www.youtube.com/watch?v=uCnIKEOtbfc
tratados e leis, são aspectos que conduzem para as
boas práticas, essenciais para o serviço público de 2.2 Definições
qualidade.
Direitos Humanos relaciona-se com a dignidade O vocábulo Direitos Humanos destaca aspectos
e valor natural do ser humano, sendo tais garantias inerentes ao integrante da espécie humana (homo
universais, inalienáveis e igualitárias. Pode-se dizer sapiens)1 e busca garantir fatores como vida,
nesta perspectiva que são inerentes a cada indivíduo liberdade, igualdade e fraternidade.
humano, não podendo ser retirados ou alienados por Pertinente observar definições apresentadas por
quem quer que seja. Todos possuem esta garantia doutrinadores nesta área do saber, neste sentido diz o
independente credo, condição social, de raça, cor, professor João Baptista Herkenhoff:
orientação sexual, etc.
A consolidação dos Direitos Humanos é fruto de Por Direitos Humanos ou direitos do homem são,
um longo período de lutas e avanços sociais e culturais modernamente, entendidos aqueles direitos
fundamentais que o homem possui pelo fato de ser
que não se findam, pois, cotidianamente conquistas e homem, por sua própria natureza humana, pela
desafios são apresentados. dignidade que a ela é inerente. São direitos que não
De forma histórica é possível destacar que “O resultam de uma concessão da sociedade política.
Cilindro de Ciro” aparece com um dos mais antigos Pelo contrário, são direitos que a sociedade política
tem o dever de consagrar e garantir. (HERKENHOFF,
registros de Direitos Humanos. Este Rei Persa, por
2002).
volta de 500 anos antes de Cristo, estabeleceu
aspectos como abolição dos escravos e a livre escolha Conforme a definição de Cees de Rover, então
de religião. consultor Especial do Secretário das Nações Unidas,
conceitua-se Direitos Humanos como:

O Direito é um título. É uma reivindicação que uma


pessoa pode fazer para com outra de maneira que,
ao exercitar esse direito, não impeça que outrem
possa exercitar o seu. Os Direitos Humanos são
títulos legais que toda pessoa possui como ser
humano. São universais e pertencem a todos, rico
ou pobre, homem ou mulher. (ROVER, 2005)

O Cilindro de Ciro foi feito em barro onde constam No campo específico dos Direitos Humanos
valoroso escritos Internacionais, válido observar a definição apontada
por DE SIMONI:
Esta evolução de respeito a vida, a dignidade e a
liberdade, foi avançando com o passar dos anos e Consiste en el cuerpo de reglas internaiconales,
séculos e tomando impulso com aspectos religiosos procedimientos e instituiciones elaboradas para
implementar lãs ideas de que todo país tiene la
com o Cristianismo.
obligación d e respestar los Derechos Humanos de
Já na idade moderna, dos séculos XVII e XVIII, sus ciudadanos y de que las otras naciones y la
fortaleceu-se o ideário de que todos os homens são comunidad internacional tiene la obligacíon y el
por natureza livres e detentores de direitos invioláveis derecho de vigilar el cumplimiento de esa
como a vida. Estes ideais levaram a acontecimentos obligación. (DE SIMONI, 2003).
como a Independência dos Estados Unidos (1776), a
Revolução Francesa (1789) e a própria Declaração dos À luz dos doutrinadores citados, é possível
Direitos do Homem e do Cidadão, proclamada na entender de forma geral que os Direitos Humanos,
França, também em 1789.
Marco significativo nesta história foi a Criação da 1
Homo sapiens – Segundo a ciência o ser humano é a única espécie animal
Organização das Nações Unidas – ONU, instituição que de primata bípede do gênero Homo ainda viva. Os humanos
anatomicamente modernos originaram-se na África há cerca de 200 mil
tem como pressuposto a busca pela paz. Surgiu logo anos, atingindo o comportamento moderno há cerca de 50 mil anos.

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refletem as garantias inerentes à pessoa humana, que


buscam resguardar a integridade física e psicológica 2.3.5 Universalidade: Os direitos fundamentais
perante seus semelhantes e perante o Estado. aplicam-se a todos os indivíduos, independentemente
Na prática tratam-se de princípios e leis que de sua nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção
protegem os bens necessários para que o ser humano político-filosófica.
possa ter uma existência, desenvolvimento dentro da
mais plena realização e felicidade. 2.3.6 Efetividade: O Poder Público deve atuar de
Neste contexto em 2005 o então Secretário modo a garantir a efetivação dos direitos e garantias
Geral da Organização das Nações Unidas, KOFI ANAN 2 fundamentais, usando inclusive mecanismos
expressou: coercitivos quando necessário, porque esses direitos
não se satisfazem com o simples reconhecimento
We will not enjoy development without security, we abstrato.
will not enjoy security without development and we
will not enjoy either without respect for human
rights. 2.4. Os Sujeitos

Traduzindo temos que: Nós não teremos De forma geral todos os indivíduos humanos são
desenvolvimento sem segurança, nós não teremos sujeitos de Direitos Humanos. Porém, mesmo nesta
segurança sem desenvolvimento e não desfrutaremos condição de igualdade, apresentam características
de ambos se não respeitarmos os Direitos Humanos. peculiares e posicionamentos diversos senão vejamos:
Os Direitos Humanos pelo conjunto apresentado
são por assim dizer o único caminho para a plenitude 2.4.1 Sujeitos Promotores: São pessoas físicas e
do ser humano e para a paz entre os povos. jurídicas, de direito público, nacional ou internacional,
ou de direito privado, que promovem os Direitos
2.3 Características Humanos A maior deficiência encontrada é justamente
na formação jurídica para o reconhecimento dos tipos
Os Direitos Humanos, pelo seu valor e pelos de direitos e dos meios legais de proteção que podem
campos que busca proteger possuem algumas ser valer nessa missão.
características próprias, senão vejamos:
2.4.2 Sujeitos Violadores: São pessoas físicas e
2.3.1 Imprescritibilidade: Os Direitos Humanos jurídicas que violam os Direitos Humanos consagrados
fundamentais não se perdem pelo decurso de prazo. ou não nas leis internas, ou que impedem a sua
Eles são permanentes. implementação prática.

2.3.2 Inalienabilidade: Não se transferem de 2.4.3 Sujeitos Vítimas: Pessoas físicas que têm
uma para outra pessoa os direitos fundamentais, seja seus Direitos Humanos violados. Todos os seres
gratuitamente, sejam mediante pagamento. humanos são vítimas em potencial.

2.3.3 Irrenunciabilidade: Os Direitos Humanos 2.4.4 Sujeitos Indiferentes: São aqueles que
fundamentais não são renunciáveis. Não se pode exigir agem com indiferença frente aos Direitos Humanos.
de ninguém que renuncie à vida (não se pode pedir a Ressalta-se que a indiferença gera o risco e não deixa
um doente terminal que aceite a eutanásia, por de ser uma forma de negligência que pode levar a
exemplo) ou à liberdade (não se pode pedir a alguém implicação de uma culpa, por omissão.
que vá para prisão no lugar de outro) em favor de
outra pessoa. 2.4.5 Sujeitos Contrários: São as pessoas físicas
ou jurídicas que de qualquer modo atuam em desfavor
2.3.4 Inviolabilidade: Nenhuma lei dos Direitos Humanos.
infraconstitucional e nenhuma autoridade podem
desrespeitar os direitos fundamentais de outrem, sob Os sujeitos contrários a Direitos Humanos são,
pena de responsabilização civil, administrativa e na prática, pelo mal que prestam à humanidade quase
criminal. violadores, eis que incitam, ainda que indiretamente, o
seu desrespeito.
2
Kofi Atta Annan é um diplomata de Gana. Foi, entre 1 de janeiro de 1997 e
1 de janeiro de 2007, o sétimo secretário-geral da Organização das Nações
Unidas, tendo sido laureado com o Nobel da Paz em 2001.

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2.5 Dimensões ou Gerações O ser humano, para desenvolver-se precisa de


condições adequadas, portanto, carece dos direitos
É possível dizer que os Direitos Humanos fundamentais como: trabalho; alimentação; habitação;
formam um só corpo, porém, para fins didáticos é educação; cultura/ciência; nível de vida adequado;etc.
possível “separá-los” e apresentar dimensões ou
gerações, como exposto a seguir: Direitos da 3ª Dimensão ou Direitos à
Solidariedade
Direitos da 1ª Dimensão

Corresponde aos direitos consagrados até à Apresentam-se como direitos coletivos, de


Declaração Universal dos Direitos Humanos - 1948. grupos, corporativos, de solidariedade ou ainda, de
Dizem respeito aos direitos individuais, civis e políticos. fraternidade.
Fortaleceram-se com após a segunda guerra
Dentre estes direitos pode-se citar: mundial.
Proteção da vida e da liberdade; É possível exemplificar com integrantes desta
Segurança e integridade física e moral da dimensão: direito de reconhecimento do indivíduo e
pessoa; dos povos como sujeitos de direito internacional;
Direito de não ser submetido a torturas ou democracia; ambiente sadio e sem poluição; uso
tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes; pacífico do patrimônio comum da humanidade;
desenvolvimento econômico sustentável; a paz
Igualdade diante da lei, não ser submetido à
escravidão e à servidão; mundial, a autodeterminação dos povos; etc.
Liberdade de opinião, de reunião e de
associação. Direitos da 4ª Dimensão ou Direitos Coletivos
da Humanidade
Direitos da 2ª Dimensão

São aqueles referentes ao acesso e resultados do


uso das novas tecnologias, como: a modificação,
Na segunda dimensão acham-se aspectos reprodução e condicionamento genéticos em bancos
voltados para trabalho e cultura. Resultam das de espécies (biotecnologia e bioengenharia); os
conquistas políticas do operariado, a partir das recursos informáticos, telemáticos e cibernéticos, com
chamadas Revoluções Industriais do século XIX. seus diversos benefícios.
Buscam implantar ou realizar uma efetiva igualdade,
não só jurídica, mas também econômica, social e
cultural.

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Direitos da 5ª Dimensão interessado no respeito aos direitos da pessoa, já que,


na realidade no cumprimento de sua missão
constitucional de garantir a paz social e o policiamento
ostensivo, torna-se efetivamente protetora dos
Direitos Humanos.
A preocupação da Polícia Militar com o absoluto
respeito aos Direitos Humanos é natural, já que, como
dito, tem o dever de fazer cumprir as leis e por meio
de seu trabalho contribuir para a pacificação social.
Sendo assim, no âmbito da Polícia Militar, do
soldado ao coronel, não há espaço para aqueles que
Corresponde aos sentimentos nossos e dos não respeitam os Direitos Humanos, pois é uma
outros. Trata-se dos respeito às escolhas, demonstra exigência intrínseca resultante do amadurecimento da
que a única diferença entre nós e as máquinas que própria sociedade. Os eventuais infratores certamente
construímos é a inteligência emocional, capacidade estarão sujeitos as sanções legais pertinentes.
mental que propicia o recondicionamento de nossas Neste condão a Polícia Militar exige de seus
racionalidades. integrantes o reconhecimento aos direitos de todas as
pessoas, entendendo que todos possuem direitos
2.6 Não deixe de se indignar inerentes à sua pessoa. Em consequência todos os
responsáveis pela Segurança Pública devem saber que
A mídia tem difundido sequência de fatos acusado e vítima merecem ser tratados com o máximo
registrados na sociedade, que chocam e chegam a respeito e dignidade.
parecer inacreditáveis como estupros, sequestros,
execuções sumárias, massacres, etc. Estas exibições 3. DIREITOS FUNDAMENTAIS DA PESSOA HUMANA
em alguns programas leva a banalização da violência e
aos poucos a população vai achando tudo “normal”. 3.1 Considerações iniciais
O contato do profissional integrante da
Segurança Pública com estas duras cenas é constante, A pessoa necessita da garantia de vários direitos
porém, não se pode perder a sensibilidade humana e, para que possa manter sua existência e desenvolver-se
neste sentido, cada um deve juntar-se às campanhas com dignidade.
da sociedade, no sentido de atuar nas causas contra a O art. 5º da Constituição Brasileira vigente prevê
violência e, principalmente, de que não se pode perder a garantia dos direitos à vida, à liberdade, à igualdade,
a capacidade de indignação com a violência aos à segurança e à propriedade para todas as pessoas.
Direitos Humanos. Vale destacar que desses direitos fundamentais
O homem, de modo geral, não pode ficar omisso derivam-se vários outros também indispensáveis à
com a violência que o cerca, pois a indiferença a dignidade humana, uma vez que, para a pessoa viver
qualquer conduta que infrinja os direitos da pessoa só com dignidade, deve ter liberdade, saúde, educação e
nos trará prejuízo. O integrante da Segurança Pública habitação dentre outros.
deve estar convicto de que os direitos da pessoa estão
acima de tudo. Assim, não deve se deixar levar por 3.2. Direitos Fundamentais
aparente apoio popular à condutas ilegais.
Mesmo mediante manifestações de apoio por 3.2.1 Direito à vida
parte de parcela da sociedade, no sentido de que a
violência deva ou possa ser aplicada até de forma É o principal direito, pois sem a vida qualquer
exacerbada, você como agente do Estado deve estar outro direito sequer existiria.
preparado para não se envolver com esse “pseudo- Para a atividade de Segurança Pública, seja
apoio”, visto que o respeito ao ser humano deve interna ou na rua, é necessária a conscientização de
prevalecer. que toda pessoa tem o direito de estar viva, e que deve
lutar pelo viver, isso ajudará a entender algumas ações
2.7 A Polícia Militar e os Direitos Humanos ou reações de pessoas envolvidas com a prática de
crimes ou graves acidentes.
A Polícia Militar, como uma das vinculadas da Destaca-se que a pena de morte è vedada no
Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Brasil, onde só se admite discutí-la em caso de guerra
Estado do Ceará – SSPDS/CE, é órgão extremamente

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externa oficialmente declarada. (Observe o artigo 84 que todas as pessoas merecem o mesmo tratamento,
inciso XIX da Constituição Federal Brasileira). logo, risque do seu dicionário palavras agressivas como
“vagabundo e suas derivações”.
3.2.2 Direito à liberdade No mesmo esteio dispa-se de seus julgamentos e
preconceitos para só então lidar com as pessoas.
A liberdade desdobra-se em vários direitos,
todos assegurados pela Constituição Federal. 3.2.4 Direito à segurança
Locomover-se livremente consiste no direito que
todas as pessoas têm de ir, vir e ficar sem serem Em sentido amplo, o principal instrumento de
incomodadas. segurança que a pessoa tem é a lei. Por meio dela
É claro que esse direito não poderia ser estão em tese assegurados a todas as pessoas as
absoluto, pois uma pessoa não pode entrar livremente garantias constitucionais necessárias a sua proteção e
em propriedades privadas. desenvolvimento.
Mesmo o profissional de Segurança pública não Os operadores de Segurança Pública nos seus
pode entrar em casa alheia, sem observar as exceções mais variados campos de atuação, ou seja, Polícia
do inc. XI, Art. 5º, da Carta. Ostensiva, Polícia Judiciária, Atividade Pericial e
Diante do direito a liberdade, o profissional de Atividade Bombeirística, possuem como missão maior
segurança deve estar preparado e devidamente a proteção da sociedade.
esclarecido para que possa exercer a sua atividade
preventiva sem cercear ilegalmente a liberdade da 3.2.5 Direito à propriedade
pessoa ou até mesmo socorrer alguém.
Pelo quadro passado é interessante destacar que
no cumprimento das atividades profissionais é
necessário manter a serenidade, pois submeter alguém
a uma situação vexatória desnecessária caracteriza
conduta punível pela lei, por abuso de autoridade (Lei
Federal 4.898/95).

3.2.3 Direito à igualdade

A Constituição Federal é extremamente No Estado Democrático de Direito, a garantia de


preocupada com a igualdade de tratamento entre as propriedade particular é indispensável para que se
pessoas. possa manter a cidadania.
Destaca-se que o caput do Art. 5º da Carta No Brasil, a propriedade é um dos pontos
Magna inicia confirmando o princípio de isonomia, e fundamentais da organização econômico-social e
ainda entre os direitos fundamentais está consagrado política.
o direito à igualdade. A Carta Magna, no seu Art. 5º, estabelece várias
O Agente de Segurança Pública, na condição de garantias individuais em relação à propriedade:
cidadão, deve exercer sua atividade respeitando todas a - “é garantido o direito de propriedade”; (inc.
as pessoas, pois embora existam diferenças de classe, XXII, do Art. 5º, da CF).
raça, cultura e poder, todos são iguais. b - “no caso de iminente perigo público, a
Dessa forma, deve-se lembrar que a igualdade autoridade competente poderá usar de propriedade
perante a lei refere-se as pessoas que estão em particular, assegurado ao proprietário indenização
situação idênticas diante dela. Assim, na medida das ulterior, se houver dano”, (inc. XXV, do art. 5º, da CF).
diferenças de cada situação, surgem as necessárias c - direito de herança;
desigualdades neste sentido, cuidados específicos d - direitos autorais, sobre obras literárias,
como mantença de algemas podem ser tomadas para artísticas ou científicas; e
proteção do examinado e do examinador. (Acerca das e - direitos do inventor.
algemas ver Súmula Vinculante 11 do Supremo
Tribunal Federal). 3.2.6 Direito ao trabalho
O comportamento do profissional de Segurança
Pública deve permanecer dentro dos parâmetros É uma extensão do direito à liberdade, que
legais, mesmo diante de situações que exija consagra a liberdade de trabalho em seu sentido
providências diferentes. Para isto, basta lembrá-lo de

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amplo, onde toda pessoa pode exercer livremente 3.3.2 Mandado de Segurança - MS
qualquer espécie de atividade socialmente útil e legal.
Para que, na prática, exista essa liberdade de No art. 5º inciso LXIX da Constituição Federal
trabalho é necessário que a lei exija não só a garantia vigente, encontra-se estabelecido que será concedido
de emprego, mas também, condições humanas e mandado de segurança para proteger direito liquido e
dignas para o exercício do trabalho. certo não amparado por habeas corpus ou habeas
O emprego é um dos maiores bens que o data, desde que o responsável pela ilegalidade ou pelo
cidadão pode ter, pois sem ele a pessoa fica incapaz de ato abusivo seja autoridade pública ou gente de pessoa
satisfazer suas necessidades e as sua família. jurídica no exercício de atribuições do poder público.
Para evitar graves prejuízos à população, a Para evitar prejuízos irreparáveis, ao receber o
Constituição diz que uma lei definirá os servidores e as mandado de segurança, antes de julgar o mérito, o juiz
atividades que serão consideradas essenciais, além de poderá conceder “medida liminar”, garantindo
estabelecer critérios para que, em caso de greve, não temporariamente o direito solicitado.
seja interrompido o atendimento das necessidades Vale lembrar que o fato do juiz conceder medida
inadiáveis da população. liminar não significa que a decisão será tendente ao
O profissional de Segurança Pública deve solicitado. A liminar visa tão somente evitar prejuízos
valorizar o trabalho de todo cidadão, principalmente decorrentes da demora do julgamento do mérito.
aqueles mais simples que, em regra, são desenvolvidos
pelas pessoas menos favorecidas. CAPÍTULO II

3.3. Garantias Constitucionais 4. CIDADANIA

A Constituição Federal não só prevê os direitos 4.1 Considerações iniciais


que garantem à dignidade da pessoa, como dá os
remédios jurídicos para a manutenção ou resgate dos O Integrante da Polícia Militar é antes de tudo
mesmos. uma pessoa, e como tal, deve ser tratado e deve tratar
Como instrumento para garantir o respeito aos seus semelhantes. A sociedade espera que o servidor
direitos das pessoas, a Constituição prevê dentre público seja equilibrado, coerente, legalista,
outros o Habeas Corpus, Mandado de Segurança, respeitoso, e principalmente tenha orgulho em exercer
Mandado de Injunção, o Habeas Data e a Ação sua atividade.
popular. Para que o integrante da Segurança Pública
Por estarem mais relacionados a atividade dos desenvolva seu labor dentro dos parâmetros da
profissionais de segurança, observa-se neste estudo o excelência, deve observar vários princípios como os
Habeas Corpus e o Mandado de Segurança. expostos no artigo 37 da Constituição Federal, ou seja,
Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e
3.3.1 Habeas Corpus - HC Eficiência.
A cidadania além de ser um princípio
O Habeas Corpus, previsto no art. 5º, inciso fundamental, sob o aspecto formal, é um status ligado
LXVIII da Constituição Brasileira, pela celeridade ao regime político, onde a pessoa adquire seus direitos
processual e pela simplicidade da elaboração, é o mais mediante o alistamento eleitoral, na forma da lei.
eficiente remédio para a correção do abuso de Nos Estados democráticos, como o Brasileiro, a
autoridade que comprometa a liberdade de Cidadania vai além do direito de escolha dos
locomoção. governantes ou do poder de ser escolhido governante.
A sua finalidade é a proteção da liberdade física, A plenitude da Cidadania implica numa situação
de ir, vir e ficar, quando essa for atingida ou ameaçada onde cada pessoa possa viver com decência e
por ato ilegal ou abusivo. dignidade, por meio de direitos e deveres
Conceder-se-á HC sempre que alguém tenha sua estabelecidos pelas necessidades e responsabilidade
liberdade de locomoção cerceada ou ameaçada por do Estado e das pessoas.
ato ilegal, entendendo como ilegal todos os atos que
não tenham amparo na lei, para privar ou não 4.2. Valores Básicos
conceder a liberdade a alguém.
A atividade do operador da Segurança Pública
por estar relacionada com os direitos das pessoas,
depende da observação de certos conceitos e valores

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indispensáveis. Neste contexto a Cidadania está 4.3 Princípios Básicos


relacionada dentre outros aspectos aos seguintes
conceitos e valores: Para que integrante da Polícia Militar possa
Direito - Quando falamos em direito, estamos conscientizar-se da importância de sua atividade e que
preocupados com o relacionamento entre as pessoas. ela está diretamente relacionada com o respeito à
Assim, direito é um conjunto de normas e regras Cidadania é necessário refletir sobre alguns princípios.
impostas ou convencionadas, com a finalidade de
disciplinar a convivência das pessoas na sociedade. 4.3.1 Princípio da dignidade: Este princípio é
Legalidade: A legalidade pressupõe que as essencial para fazer clarear a ideia de que a pessoa
condutas estejam dentro dos parâmetros está acima das convicções e condutas dos indivíduos.
estabelecidos na lei, ou por ela não proibidos.
O agente de Segurança Pública que apresenta Este princípio visa garantir o respeito à
comportamento violento, corrupto, ou que aja fora dos dignidade da pessoa, mesmo quando ela comete
parâmetros da lei deve ser denunciado tanto pela infrações puníveis. Assim, diante de um crime você
sociedade como pela própria corporação, já que, faz deve tomar as providências legais que aquela conduta
mal para ele, para terceiros, para a instituição e para a requer, mas jamais poderá desrespeitar a dignidade
coletividade. das pessoas.
Moral: A moral é mais ampla que o direito. Independente do que façam as pessoas têm o
Trata-se de um valor interno. Enquanto no direito a direito de ser tratados com respeito, não devendo ser
preocupação é com o relacionamento entre as violada sua intimidade, sua honra, sua imagem, sua
pessoas, a moral trata da relação da pessoa consigo vida privada, suas correspondências escritas ou
mesma. telegráficas, etc.
Respeito: O respeito é reconhecimento, a Quem fere qualquer desses direitos, está sujeito
manutenção e a reverência aos direitos das pessoas. à responsabilidade penal e ainda a reparar possíveis
Toda pessoa deve ser valorizada e respeitada, sem danos.
qualquer discriminação por sexo, raça, idade, função
etc. 4.3.2 Princípio da legalidade: O membro da
Honra: É o valor interno da cada pessoa, e como Segurança Pública deve ser uma pessoa serena e
se trata de um valor individual, varia de pessoa para convicta da importância da sua atividade para a
pessoa. A honra pode ser tratada como o valor ligado à sociedade. Esta convicção requer entendimento de que
dignidade da pessoa. a todos é permitido fazer o que norma jurídica não
Reciprocidade: A reciprocidade impõe que proíbe, e a não fazer o que a lei não manda.
devemos tratar as pessoas da forma de como Quando você age dentro dos parâmetros legais,
gostaríamos de ser tratados por elas. Assim, quem não está defendendo os interesses da sociedade, da sua
gosta de ser injustiçado, não comete injustiça com os corporação e os seus próprios.
semelhantes. Enfim, todas as pessoas merecem o
mesmo tratamento que se deseja para cada um. 4.3.3-Princípio da inocência: Como importante
Moderação: A moderação é um valor guardião dos Direitos Humanos, o profissional de
importante para a busca de equilíbrio. Assim, deve-se Segurança Pública deve ter preparo físico, intelectual e
agir de forma moderada, evitando a precipitação e a emocional para manter a serenidade mesmo atuando
intolerância. O integrante da Polícia Militar que assim em situações complexas/estressantes e tendo contato
não agir, tem grande possibilidade de desrespeitar os com pessoas aflitas, com problemas e necessidades.
direitos da pessoa, incorrendo no abuso da autoridade. Lembre-se que o art. 5º inciso LVII da
Bondade: Trata-se de um valor simples, onde Constituição Federal Brasileira diz que: “ninguém será
uma pessoa sente prazer em ajudar outra. O considerado culpado até o trânsito em julgado de
profissional de Segurança Pública deve ser provido de sentença penal condenatória;”
bondade, sempre procurando aos demais e jamais os Neste sentido, deve-se partir do princípio de que
maltratando. todas as pessoas são inocentes, porém, considerar
Deve ter alegria e sentir a satisfação em ser útil à alguém inocente não implica em deixar de tomar as
sociedade, em poder colaborar com as pessoas. necessárias medidas de segurança pessoal.
A inobservância desse princípio pode levar ao
cometimento de abuso de autoridade por
constrangimento ou violência arbitrária.

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4.3.4 Princípio do autoquestinamento: Para 5.2 A busca do bem comum


manter sua atividade sempre dentro dos parâmetros
legais e do esperado respeito à dignidade humana, A incessante procura pelo bem comum, justiça e
deve fazer constante autoquestionamento verificando pacificação social são a finalidade da atividade policial
o que é correto, o que é legal, o que é ético, e militar. Neste sentido, devem seus integrantes atentar
decidindo sempre a favor do respeito aos direitos da para os princípios da Administração Pública (Art. 37 CF)
pessoa. Cuidado, pois, a rotina tende a enfraquecer o como norte para que com olho na moral e no direito
autoquestinamento, e aí, por desatenção, pode cumpram sua missão.
inconscientemente agir de forma não adequada aos Todo ato advindo de pessoa que represente a
Direitos Humanos, como os xingamentos. administração pública deve ter como foco o
atendimento das necessidades da comunidade. O
5. O MEMBRO DA POLÍCIA MILITAR COMO EXEMPLO membro da Polícia Militar, age em nome desta e, neste
DE ÉTICA E PROMOTOR DA CIDADANIA E DIREITOS sentido, deve obviamente ter como meta o alcance da
HUMANOS justiça e o bem comum.
O Princípio da finalidade impõe que cada
servidor público atue sempre com a finalidade pública,
impedindo a liberdade de buscar o atendimento de
interesses particulares ou de terceiros em prejuízo do
interesse público.
A defesa e o respeito aos Direitos Humanos está
dentro do que a sociedade espera. Logo, defender a
dignidade humana, mesmo nas situações adversas, é o
maior benefício que se pode fazer à sociedade.
O servidor público deve lembrar-se de que a
sociedade espera que ele não só o defenda, mas
também que respeite a dignidade da cada pessoa e
busque o seu melhor. Só assim, estará visando o
5.1 Considerações iniciais perfeito bem comum e consequentemente agindo
dentro do principio da finalidade.
O integrante da Polícia Militar é antes de tudo
um canal para a defesa dos Direitos Humanos, já que, 5.3 O dever de agir
na condição de servidor público deve obediência às leis
e, ademais, pela sua proximidade com a tragédia Toda sociedade deve buscar o respeito aos
humana, deve ser sensível a dor sem perder o foco do Direitos Humanos, pois sem respeito à dignidade das
seu profissionalismo no auxílio para a busca da pessoas, não há tranquilidade e abre-se espaço para
verdade e por consequência, pacificação social. busca por ações reprováveis como a “justiça pelas
Neste sentido, deve zelar pela correção de suas próprias mãos”.
atitudes, enaltecendo a imparcialidade e a justiça, Enquanto para os cidadãos em geral o dever de
principalmente no atendimento de ocorrências lutar para o respeito aos Direitos Humanos é uma
criminais, no atendimento ao público e, enfim, por faculdade, para o integrante da Polícia Militar é uma
meio de trabalho de policiamento ostensivo obrigação, vez que tem como missão a busca pela
protegendo a sociedade e viabilizando a paz social. verdade e construção da justiça.
Os integrantes da Polícia Militar por meio de Com essa obrigação, deve-se agir diante de
suas diversas áreas de atuação são indubitavelmente qualquer ofensa aos direitos da pessoa, e isso implica
garantidores e promotores dos Direitos Humanos, pois em afirmar que cada membro da Polícia Militar é um
vinte e quatro horas por dia, encontram-se disponíveis Guardião dos Direitos Humanos.
para o bem servir.
Neste aspecto, você é peça fundamental, pois, 5.4 Reflexão: direitos e deveres
por meio de seu trabalho, promove seu
desenvolvimento pessoal, profissional e institucional, Todo dia, antes da assumir o trabalho o servidor
bem como, viabiliza a construção de uma sociedade púbico deve refletir sob a sua forma de atuar, e o que
cada vez harmônica. cada pessoa espera dele. Assim estará consciente do
vínculo necessário entre sua atividade, e a esperada
proteção à liberdade e à dignidade de todos.

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Não são suficientes as leis estabeleceram 6.2 Análise Comparativa


direitos e garantias. É necessário entender que todos
estão sujeitos a essas regras. Elas garantem direitos e Artigos Resumo CFB/88
atribuem deveres, inclusive os seus, para que seja Art. 1º Todas as pessoas
nascem livres e iguais em “Quando os seres
possível alcançar os ideais da igualdade e dignidade. dignidade e direitos. São humanos nascem,
Não há cidadania sem a valorização da pessoa, e Art. 5º,
dotadas de razão e consciência são livres e iguais, e
I
a Polícia Militar desenvolve uma função importante e e devem agir em relação umas assim devem ser
indispensável neste âmbito, pois, cotidianamente às outras com espírito de tratados. “
acha-se ao dispor da coletividade na busca da verdade fraternidade.
Art. 2º Toda pessoa tem
e da promoção da paz. capacidade para gozar os
“Todo mundo tem
Uma sociedade sem cidadania é uma sociedade direito a possuir ou
direitos e as liberdades
desfrutar o que aqui
sem liberdade, sem dignidade, sem solidariedade e estabelecidas nesta Declaração,
se proclama;-
principalmente sem respeito. sem distinção de qualquer
mesmo que não
espécie, seja de raça, cor, sexo,
Na condição de profissional da Polícia Militar, falem a mesma
língua, religião, opinião política
deve atentar para o fato de que, apesar do sistema língua,- mesmo que
ou de outra natureza, origem
não tenham a
legal prever proteção plena aos direitos fundamentais nacional ou social, riqueza,
mesma cor de pele,- Art.5º
de todas as pessoas, é preciso a fiscalização, através de nascimento, ou qualquer outra
mesmo que não ...
uma vigilância constante, para recusar e denunciar os condição.
pensem com nós,- VIII e
Não será tampouco feita
atos ilegais de quem quer que seja, porque desse qualquer distinção fundada na
mesmo que não XLI, I - a
modo, cada pessoa estará protegendo os direitos de tenham a mesma
condição política, jurídica ou
religião ou as
todos. internacional do país ou
mesmas idéias,-
território a que pertença uma
mesmo que sejam
pessoa, quer se trate de um
6. OS DIREITOS HUMANOS À LUZ DA DECLARAÇÃO mais ricos ou mais
território independente, sob
UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS DA ONU - 1948 pobres,- mesmo que
tutela, sem governo próprio,
não sejam do
E DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE 1988. quer sujeito a qualquer outra
mesmo país.”
limitação de soberania.

“Cada um tem
Art. 3º Toda pessoa tem direito à
o direito de Art. 5º
vida, à liberdade e à segurança
viver livre e em ..
pessoal.
segurança“
“Ninguém tem
Art. 4º Ninguém será mantido em o direito de
Art.1º...
escravidão ou servidão; a escravidão tomar outro
II, III e
e o tráfico de escravos serão ser humano
IV
proibidos em todas as suas formas. como escravo.
6.1 Considerações iniciais “
“Ninguém será
Art. 5º Ninguém será submetido a
A Assembléia Geral das Nações Unidas instituiu torturado ou
tortura, nem a tratamento ou Art. 5º;
um dos textos mais significativos do século: a maltratado
castigo cruel, desumano ou III
Declaração Universal dos Direitos Humanos, que no com crueldade.
degradante.

ano pretérito de 2012 completou sessenta e quatro
anos. Art.
A Declaração é um dos mais belos documentos Artigo 6º Toda pessoa “Cada um tem direito,
1º...
tem o direito de ser, em desde seu nascimento, a
já produzidos pelo ser humano. Escrita em um todos os lugares, ter um nome, uma
II – a
momento delicado e crucial da história da c/c
reconhecida como pessoa nacionalidade e a ser
Art.5º...
humanidade. perante a lei. alojado. “
LXXVI, a
Os Direitos Humanos são fundamentais para a
existência e a coexistência humana, paralelo a isso Artigo 7º Todos são iguais
tudo há também uma legislação pátria concernente a perante a lei e têm direito, sem
“A lei é a mesma
direitos e garantias individuais e sociais. qualquer distinção, a igual
para todo mundo,
Para uma melhor compreensão da Declaração e proteção da lei. Todos têm
deve ser aplicada da Art.5º,I
direito a igual proteção contra
da Constituição Brasileira, faz-se uma análise qualquer discriminação que
mesma maneira para
comparativa conforme observa-se no quadro a seguir. todos, sem distinção.
viole a presente Declaração e

contra qualquer incitamento a
tal discriminação.

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Artigo 13º “Cada pessoa tem


Artigo 8º da pessoa tem direito
Art. 1. a pessoa tem direito à direito a circular
a receber dos tribunais
“Toda pessoa deve 5º... liberdade de locomoção e livremente em
nacionais competentes remédio Art.5 º.
ser protegida pela lei XXXV, residência dentro das fronteiras seu país. Tem
efetivo para os atos que violem ...XV
e pela justiça de seu XXXVI de cada Estado. direito a sair para
os direitos fundamentais que
país. “ e 2.Toda pessoa tem o direito de outro país e a
lhe sejam reconhecidos pela
XXXVII deixar qualquer país, inclusive o voltar quando
constituição ou pela lei.
próprio, e a este regressar. quiser. “

“Não se tem o Artigo 14º


direito de colocar 1.Toda pessoa, vítima de
uma pessoa na perseguição, tem o direito de
Artigo 9º nguém será “A lei é a mesma
prisão ou mandá- procurar e de gozar asilo em
arbitrariamente preso, detido Art.5º..LXI. para todo
la para fora de outros países.
ou exilado. mundo, deve ser
seu país 2.Este direito não pode ser Art.5 º. ...
injustamente e aplicada da
invocado em caso de LII
sem razão. “ mesma maneira
perseguição legitimamente
para todos, sem
Artigo 10º da pessoa tem “Se alguém tem motivada por crimes de direito
direito, em plena igualdade, a que ser julgado, distinção.”
comum ou por atos contrários
uma audiência justa e pública deverá ser aos propósitos e princípios das
por parte de um tribunal julgado em Nações Unidas.
Art. 5º...
independente e imparcial, para público. Os juízes
LIII e LIV
decidir de seus direitos e não podem Artigo 15º “Cada um tem
deveres ou do fundamento de deixar-se 1.Toda pessoa tem direito a direito a
qualquer acusação criminal influenciar por uma nacionalidade. pertencer a um Art.5 º. …
contra ela. ninguém. “ 2.Ninguém será país e não pode Art.12. I, a) ,
arbitrariamente privado de sua ser impedido de b), c) II -a) b)
Artigo 11º nacionalidade, nem do direito mudá-lo se assim e §1º §2º
1.essoa acusada de um ato de mudar de nacionalidade. o desejar. “
delituoso tem o direito de ser “Desde o
“Se alguém é
presumida inocente até que a sua momento em que
acusado, sempre
culpabilidade tenha sido provada tenha a idade
tem o direito de Art.
de acordo com a lei, em para ter filhos,
se defender. Não 5º. Artigo 16º
julgamento público no qual lhe cada um tem
se pode dizer que ...LV e 1.Os homens e mulheres de
tenham sido asseguradas todas as direito a casar-se
alguém é culpado, XXXIX maior idade, sem qualquer
garantias necessárias à sua defesa. e a formar uma
antes que isso seja restrição de raça, nacionalidade
2.Ninguém poderá ser culpado por famíla. Para isso,
provado. Não se At.5º. ou religião, têm o direito de
qualquer ação ou omissão que, no nem a cor da
tem direito a ... II contrair matrimônio e fundar
momento, não constituíam delito pele, nem a
condená-lo ou ,XL e uma família. Gozam de iguais
perante o direito nacional ou nacionalidade
apená-lo por algo LXXV direitos em relação ao
internacional. Tampouco será tem importância. Art.226. ...
que não tenha casamento, sua duração e sua
imposta pena mais forte do que O homem e a §§1 a 8.
feito. “ dissolução.
aquela que, no momento da mulher tem os
prática, era aplicável ao ato 2.O casamento não será válido
mesmos direitos,
delituoso. senão como o livre e pleno
estejam casados
consentimento dos nubentes.
ou separados.
3.A família é o núcleo natural e
Artigo 12º inguém será sujeito a “Não existe direito a Não se pode
fundamental da sociedade e
interferências na sua vida entrar na casa de forçar ninguém a
tem direito à proteção da
privada, na sua família, no seu alguém se este não Art. casar-se. Tudo
sociedade e do Estado.
lar ou na sua correspondência, estiver de acordo. 5º. ...X deve ser feito de
nem a ataques à sua honra e Também não se e XI maneira que cada
reputação. Toda pessoa tem poderá ler suas família viva
direito à proteção da lei contra cartas, espioná-lo ou normalmente. “
tais interferências ou ataques. falar mal dele. “
Artigo 17º
“Cada um tem
Toda pessoa tem direito à Art. 5º…
direito a possuir
propriedade, só ou em XII, XXIII,
coisas e ninguém
sociedade com outros. XXIV e
tem o direito de
Ninguém será arbitrariamente XXVI
tirá-las.”
privado de sua propriedade.

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Artigo 18º Artigo 22º Toda pessoa,


“Cada um tem o
Toda pessoa tem direito à como membro da
direito de escolher
liberdade de pensamento, sociedade, tem direito à
livremente uma
consciência e religião; este segurança social e à
religião ou de mudá-
direito inclui a liberdade de Art. realização, pelo esforço Toda pessoa tem o
la, de praticá-la e Art.3º.
mudar de religião ou crença e a 5º. .. nacional, pela cooperação direito de ser
divulgá-la como (...)IV;
liberdade de manifestar essa IV e VI internacional de acordo protegida pela
desejar, sozinho ou Art.4º.(...)
religião ou crença, pelo ensino, com a organização e sociedade em todos
com outras pessoas. Parágrafo
pela prática, pelo culto e pela recursos de cada Estado, os seus direitos
Também tem direito único e
observância, isolada ou dos direitos econômicos, (econômicos, sociais,
a não ter religião Art.6º..
coletivamente, em público ou sociais e culturais culturais).
alguma.”
em particular. indispensáveis à sua
dignidade e ao livre
Artigo 19º desenvolvimento da sua
“Cada um tem direito a personalidade.
Toda pessoa tem direito à
pensar o que quiser, a
liberdade de opinião e
dizê-lo e escrevê-lo, e
expressão; este direito inclui Artigo 23º
ninguém poderá
a liberdade de, sem 1.Toda pessoa tem direito
impedi-lo. Cada um Art.5º...
interferência, ter opiniões e ao trabalho, à livre escolha “Cada um tem
deve poder IX e XIV
de procurar, receber e de emprego, a condições direito ao trabalho e
intercambiar, por
transmitir informações e justas e favoráveis de a escolher
todos os meios, idéias
ideias por quaisquer meios e trabalho e à proteção contra livremente sua
e notícias com pessoas
independentemente de o desemprego. profissão; a receber
de outros países.”
fronteiras. 2.Toda pessoa, sem o salário que lhe Art.6º;
qualquer distinção, tem permita viver, a ele e
direito a igual remuneração sua família. Se um Art.7º-(
Artigo 20º “Todo mundo tem Art. por igual trabalho. homem e uma ...) IV, XX,
1.Toda pessoa tem direito à direito a organizar 5º. . 3.Toda pessoa que trabalha mulher fazem o XXVII e
liberdade de reunião e reuniões e participar .XVI, tem direito a uma mesmo trabalho, XXXI;
associação pacíficas. de reuniões se desejar. XVII, remuneração justa e devem receber
2.Ninguém pode ser obrigado A ninguém se pode XVIII, satisfatória, que lhe salário igual. Todas Art.8º I ,II
a fazer parte de uma obrigar a participar de XIX e assegure, assim como à sua as pessoas que e III;
associação. um grupo. “ XX família, uma existência trabalham têm
compatível com a dignidade direito a agrupar-se Art.37.(...)
humana, e a que se para explicar e VI
acrescentarão, se reclamar pelo que
“Cada um tem direito necessário, outros meios de não anda bem em
Artigo 21º
de participar proteção social. seu trabalho e obter
1.Toda pessoa tem o direito
ativamente na direção 4.Toda pessoa tem direito a aquilo que
de tomar parte no governo
dos assuntos públicos organizar sindicatos e neles necessitem. “
de seu país, diretamente ou
de seu país - elegendo Art. 1º. (. ingressar para a proteção de
por intermédio de
as pessoas políticas .) seus interesses.
representantes livremente
que tenham suas Parágrafo
escolhidos.
mesmas idéias; - único.
2.Toda pessoa tem igual “A duração da jornada
votando livremente Artigo 24º Toda pessoa tem Art.7º.
direito de acesso ao serviço de trabalho não deve
para indicar sua direito a repouso e lazer, (...)
público do seu país. ser muito longa porque
escolha; - cada um Art. 37. inclusive a limitação razoável XIII,
3.A vontade do povo será a cada um tem direito a
deve ter (...) I das horas de trabalho e a XIV,
base da autoridade do descansar e deve poder
oportunidade de férias periódicas XV.( ..)
governo; esta vontade será tirar férias anuais, que
participar do governo. remuneradas. e XVII
expressa em eleições serão remuneradas”
Ninguém pode ser Art.14 I, II
periódicas e legítimas, por
afastado de e III
sufrágio universal, por voto
umtrabalho a serviço
secreto ou processo
do Estado por causa
equivalente que assegure a
de suas idéias ou pela
liberdade de voto.
cor de sua pele.“

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“Toda pessoa tem Artigo 27º “A arte, a ciência, a


direito a possuir, para 1. Toda pessoa tem direito cultura, não são
Art.208.
ela e para sua família, de participar livremente da reservados a uns
… IX ,
o que seja vida cultural da poucos. Todo mundo
XXVII,
necessário:para não comunidade, de fruir as deve poder desfrutar
Artigo 25º XXVIII -
ficar doente e para se artes e de participar do delas. As descobertas
1.Toda pessoa tem direito a a) b) e
curar se estiver progresso científico e de científicas devem servir
um padrão de vida capaz de XXIX
doente; para não ter seus benefícios. a todos. Um sábio, um
assegurar a si e a sua família Art.7º.
fome; para não ter 2. Toda pessoa tem direito artista, um escritor
saúde e bem-estar, inclusive (...) II At. 1º(.
frio;para ter à proteção dos interesses deverão ser fellicitados
alimentação, vestuário, (...) )
alojamento digno. morais e matérias e pagos por sua
habitação, cuidados médicos XXIV IV
Toda pessoa tem decorrentes de qualquer contribuição e ninguém
e os serviços sociais (...)
direito a ser ajudada produção científica, tem direito a tomar
indispensáveis, e direito à XXVIII Art. 218
se não pode literária ou artística da qual para si a invenção do
segurança em caso de
trabalhar; porque seja autora. outro.”
desemprego, doença,
está desempregada;
invalidez, viuvez, velhice ou Art.203.
porque está doente; Artigo 28º Toda pessoa “Toda pessoa tem o
outros casos de perda dos I II III IV
porque está muito tem direito a uma ordem direito de exigir que a
meios de subsistência em eV
velha; porque sua social e internacional em organização de cada Art.4º.(.
circunstâncias fora de seu Art.227.
mulher ou seu marido que os direitos e liberdades país e do mundo .) VI -
controle. (...) §6º
morreram; porque estabelecidos na presente permita o respeito (...)IX
sofre graves Declaração possam ser destes direitos e destas
2.A maternidade e a infância Art.229.
inconvenientes não plenamente realizados. liberdades. “
tem direito a cuidados e
desejados ou
assistência especiais. Todas Art.230
procurados.
as crianças, nascidas dentro §1º §2º Artigo 29º Toda pessoa tem deveres
A mãe que vai ter um
ou fora de matrimônio, para com a comunidade, em que o livre
bebê, e seu filho,
gozarão da mesmo proteção e pleno desenvolvimento de sua
quando nascer,
social. personalidade é possível. No exercício
deverão ser ajudados.
Todas as crianças tem de seus direitos e liberdades, toda
“É por isto também que
os mesmos direitos, pessoa estará sujeita apenas às
cada pessoa tem
mesmo que a mãe limitações determinadas por lei,
deveres para com os
não esteja casada.” exclusivamente com o fim de assegurar
demais, entre os quais
o devido reconhecimento e respeito
vive, e que lhe
dos direitos e liberdades de outrem e
Artigo 26º Toda pessoa tem permitem, também,
de satisfazer às justas exigências da
direito à instrução. A instrução uma convivência em
“Todas as crianças moral, da ordem pública e do bem-
será gratuita, pelo menos nos paz.”
do mundo devem estar de uma sociedade democrática.
graus elementares e Esses direitos e liberdades não podem,
poder ir
fundamentais. A instrução em hipótese alguma, ser exercidos
gratuitamente à
elementar será obrigatória. A contrariamente aos propósitos e
escola; continuar
instrução técnico-profissional princípios das Nações Unidas.
seus estudos
será acessível a todos, bem
enquanto o desejem
como a instrução superior,
e aprender um Artigo 30º Nenhuma disposição da
esta baseada no mérito. A “Nenhum país,
ofício. Na escola, presente Declaração pode ser
instrução será orientada no nenhuma sociedade,
deverá aprender o Art.205. interpretada como o reconhecimento a
sentido do pleno nenhum ser humano
que as fará pessoas qualquer Estado, grupo ou pessoa, do
desenvolvimento da em todo mundo pode
felizes. A escola Art.208. direito de exercer qualquer atividade
personalidade humana e do permitir-se destruir os
também deve ajudar I, II, III, ou praticar qualquer ato destinado à
fortalecimento do respeito direitos e as liberdades
cada um entender-se IV, V, VI destruição de quaisquer dos direitos e
pelos Direitos Humanos e que aqui se declaram. “
com seus e VII.§§ liberdades aqui estabelecidos.
pelas liberdades
semelhantes, a 1º,2 e
fundamentais. A instrução
conhecer a respeitar 3º.
promoverá a compreensão, a
sua maneira de
tolerância e a amizade entre
viver, sua religião ou
todas as nações e grupos
o país do qual
raciais ou religiosos, e
procedem. Os pais
coadjuvará as atividades das
têm direito a
Nações Unidas em prol da
escolher o tipo de
manutenção da paz.
educação que
Os pais têm prioridade de
querem dar a seus
direito na escolha do gênero
filhos. “
de instrução que será
ministrada a seus filhos.

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CAPÍTULO III ART. 4º As informações de natureza confidencial


em poder dos funcionários responsáveis pela aplicação
7. CÓDIGO DE CONDUTA PARA OS FUNCIONÁRIOS da lei devem ser mantidas em segredo, a não ser que o
RESPONSÁVEIS PELA APLICAÇÃO DA LEI (CCEAL) cumprimento do dever ou as necessidades da justiça
estritamente exijam outro comportamento.
O CCEAL encontra-se entre os dispositivos legais
voltados para a orientação de como os Estados e seus ART. 5º Nenhum funcionário responsável pela
agentes devem se comportar quando precisem da aplicação da lei pode infligir, instigar ou tolerar
força em desfavor de outras pessoas, sem afastar-se qualquer ato de tortura ou qualquer outra pena ou
do respeito aos Direitos Humanos. Esta foi adotado a tratamento cruel, desumano ou degradante, nem
partir da Assembleia Geral das Nações Unidas na sua invocar ordens superiores ou circunstanciais
resolução 34/169, de 17 de Dezembro de 1979. excepcionais, tais como o estado de guerra ou uma
Também interessante observar os Princípios ameaça à segurança nacional, instabilidade política
Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo interna ou qualquer outra emergência pública como
pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei justificação para torturas ou outras penas ou
regramento que surgiu por meio do Oitavo Congresso tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
da Organização das Nações Unidas sobre Prevenção do
Delito e Tratamento do Delinqüente. O Evento ocorreu ART. 6º Os funcionários responsáveis pela
em na Capital Cubana – Havana, em 1990. aplicação da lei devem assegurar a proteção da saúde
O CCEAL é organizado em oito artigos e não é das pessoas à sua guarda e, em especial, devem tomar
um Tratado, mas pertence à categoria dos medidas imediatas para assegurar a prestação de
instrumentos legais que orientam os governos sobre cuidados médicos sempre que tal seja necessário.
questões relacionadas com Direitos Humanos e Justiça
criminal,servindo de parâmetro para diversas ART. 7º Os funcionários responsáveis pela
legislações. aplicação da lei não devem cometer qualquer ato de
As práticas da aplicação da lei devem estar em corrupção. Devem, igualmente, opor-se rigorosamente
conformidade com os princípios da legalidade, e combater todos os atos desta índole.
necessidade e proporcionalidade.
Qualquer prática da aplicação da lei deve estar ART. 8º Os funcionários responsáveis pela
fundamentada no arcabouço legal. aplicação da lei devem respeitar a lei e o presente
O emprego da força só deve ser utilizado Código. Devem, também, na medida das suas
quando deve ser inevitável, dadas as circunstâncias de possibilidades, evitar e opor-se vigorosamente a
um determinado caso em questão, e seu impacto deve quaisquer violações da lei ou do Código.
estar de acordo com a gravidade do delito e o objeto
legítimo a ser alcançado. Os funcionários responsáveis pela aplicação da
lei que tiverem motivos para acreditar que se produziu
ART. 1º Os funcionários responsáveis pela ou irá produzir uma violação deste Código, devem
aplicação da lei devem cumprir, a todo o momento, o comunicar o fato aos seus superiores e, se necessário,
dever que a lei lhes impõe, servindo a comunidade e a outras autoridades com poderes de controlo ou de
protegendo todas as pessoas contra atos ilegais, em reparação competentes.
conformidade com o elevado grau de responsabilidade
que a sua profissão requer. 8. TREZE REFLEXÕES SOBRE POLÍCIA E DIREITOS
HUMANOS
ART. 2º No cumprimento do seu dever, os
funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem Importante construção doutrinária e reflexiva foi
respeitar e proteger a dignidade humana, manter e proporcionada pelo professor Ricardo Brisola Balestreli
apoiar os direitos fundamentais de todas as pessoas. em sua Obra intitulada Direitos Humanos Coisa de
Polícia.
ART. 3º Os funcionários responsáveis pela Esta Obra consta da bibliografia consultada para
aplicação da lei só podem empregar a força quando tal este trabalho e encontra-se disponível para consulta na
se afigure estritamente necessário e na medida exigida biblioteca da Academia Estadual de Segurança Pública
para o cumprimento do seu dever. do Ceará – AESP/CE.

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8.1 Considerações iniciais


TERCEIRA: Policial: Pedagogo Da Cidadania
As reflexões do Professor Balestreri, o qual,
inclusive foi Secretário Nacional de Segurança Pública, Há, assim, uma dimensão pedagógica no agir
não são pertinentes apenas para os policiais e sim para policial que, como em outras profissões de suporte
tosos os integrantes do Sistema de Segurança Pública, público, antecede as próprias especificidades de sua
sejam eles policiais civis, policiais federais, bombeiros especialidade.
militares, integrantes da perícia, guardas municipais, Os paradigmas contemporâneos na área da
etc. educação nos obrigam a repensar o agente
Neste sentido façamos uma reflexão profunda educacional de forma mais includente. No passado,
com o intuito de agregar o máximo de conhecimento e esse papel estava reservado única-mente aos pais,
amadurecimento como verdadeiros promotores dos professores e especialistas em educação. Hoje é
Direitos Humanos. preciso incluir com primazia no rol pedagógico também
outras profissões irrecusavelmente formadoras de
PRIMEIRA: Cidadania, Dimensão Primeira opinião: médicos, advogados, jornalistas e policiais, por
exemplo.
O policial é, antes de tudo um cidadão, e na O policial, assim, à luz desses paradigmas
cidadania deve nutrir sua razão de ser. Irmana-se, educacionais mais abrangentes, é um pleno e legitimo
assim, a todos os membros da comunidade em educador. Essa dimensão é inabdicável e reveste de
direitos e deveres. Sua condição de cidadania é, profunda nobreza a função policial, quando
portanto, condição primeira, tornando-se bizarra conscientemente explicitada através de
qualquer reflexão fundada sobre suposta dualidade ou comportamentos e atitudes.
antagonismo entre uma “sociedade civil” e outra
“sociedade policial”. Essa afirmação é plenamente QUARTA: A Importância da Auto-Estima
válida mesmo quando se trata da Polícia Militar, que é Pessoal e Institucional
um serviço público realizado na perspectiva de uma
sociedade única, da qual todos os segmentos estatais O reconhecimento dessa “dimensão
são derivados. Portanto não há, igualmente, uma pedagógica” é, seguramente, o caminho mais rápido e
“sociedade civil” e outra “sociedade militar”. A “lógica” eficaz para a reconquista da abalada auto-estima
da Guerra Fria, aliada aos “anos de chumbo”, no policial. Note-se que os vínculos de respeito e
Brasil, é que se encarregou de solidificar esses solidariedade só podem constituir-se sobre uma boa
equívocos, tentando transformar a polícia, de um base de auto-estima. A experiência primária do
serviço à cidadania, em ferramenta para “querer-se bem” é fundamental para possibilitar o
enfrentamento do “inimigo interno”. Mesmo após o conhecimento de como chegar a “querer bem o
encerramento desses anos de paranóia, seqüelas outro”. Não podemos viver para fora o que não
ideológicas persistem indevidamente, obstaculizando, vivemos para dentro.
em algumas áreas, a elucidação da real função policial. Em nível pessoal, é fundamental que o cidadão
policial sinta-se motivado e orgulhoso de sua profissão.
SEGUNDA: Policial: Cidadão Qualificado Isso só é alcançável à partir de um patamar de “sentido
existencial”. Se a função policial for esvaziada desse
O agente de Segurança Pública é, contudo, um sentido, transformando o homem e a mulher que a
cidadão qualificado: emblematiza o Estado, em seu exercem em meros cumpridores de ordens sem um
contato mais imediato com a população. Sendo a significado pessoal-mente assumido como ideário, o
autoridade mais comumente encontrada tem, resultado será uma auto-imagem denegrida e uma
portanto, a missão de ser uma espécie de “porta voz” baixa auto-estima.
popular do conjunto de autoridades das diversas áreas Resgatar, pois, o pedagogo que há em cada
do poder. Além disso, porta a singular permissão para policial, é permitir a ressignificação da importância
o uso da força e das armas, no âmbito da lei, o que lhe social da polícia, com a conseqüente consciência da
confere natural e destacada autoridade para a nobreza e da dignidade dessa missão.
construção social ou para sua devastação. O impacto A elevação dos padrões de auto-estima pode ser
sobre a vida de indivíduos e comunidades, exercido por o caminho mais seguro para uma boa prestação de
esse cidadão qualificado é, pois, sempre um impacto serviços.
extremado e simbolicamente referencial para o bem Só respeita o outro aquele que se dá respeito a
ou para o mal-estar da sociedade. si mesmo.

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mocinho”, com procedimentos e atitudes coerentes


QUINTA: Polícia E ‘Superego’ Social com a “firmeza moralmente reta”, oposta
radicalmente aos desvios perversos do outro arquétipo
Essa “dimensão pedagógica”, evidentemente, que se lhe contrapõe: o bandido.
não se confunde com “dimensão demagógica” e, Ao olhar para uns e outros, é preciso que a
portanto, não exime a polícia de sua função técnica de sociedade perceba claramente as diferenças
intervir pre-ventivamente no cotidiano e metodológicas ou a “confusão arquetípica”
repressivamente em momentos de crise, uma vez que intensificará sua crise de moralidade, incrementando a
democracia nenhuma se sustenta sem a contenção do ciranda da violência. Isso significa que a violência
crime, sempre fundado sobre uma moralidade mal policial é geradora de mais violência da qual, muito
constituída e hedonista, resultante de uma comumente, o próprio policial torna-se a vítima.
complexidade causal que vai do social ao psicológico. Ao policial, portanto, não cabe ser cruel com os
Assim como nas famílias é preciso, em “ocasiões cruéis, vingativo contra os anti-sociais, hediondo com
extremas”, que o adulto sustente, sem vacilar, limites os hediondos. Apenas estaria com isso, liberando,
que possam balizar moralmente a conduta de crianças licenciando a sociedade para fazer o mesmo, a partir
e jovens, também em nível macro é necessário que de seu patamar de visibilidade moral. Não se ensina a
alguma instituição se encarregue da contenção da respeitar desrespeitando, não se pode educar para
sociopatia. preservar a vida matando, não importa quem seja. O
A polícia é, portanto, uma espécie de superego policial jamais pode esquecer que também o observa o
social indispensável em culturas urbanas, complexas e inconsciente coletivo.
de interesses conflitantes, contenedora do óbvio caos
a que estaríamos expostos na absurda hipótese de sua OITAVA: A ‘Visibilidade Moral’ Da Polícia:
inexistência. Possivelmente por isso não se conheça Importância do Exemplo
nenhuma sociedade contemporânea que não tenha
assentamento, entre outros, no poder da polícia. Zelar, Essa dimensão “testemunhal”, exemplar,
pois, diligentemente, pela segurança pública, pelo pedagógica, que o policial carrega irrecusavelmente é,
direito do cidadão de ir e vir, de não ser molestado, de possivelmente, mais marcante na vida da população do
não ser saqueado, de ter respeitada sua integridade que a própria intervenção do educador por ofício, o
física e moral, é dever da polícia, um compromisso com professor.
o rol mais básico dos Direitos Humanos que devem ser Esse fenômeno ocorre devido à gravidade do
garantidos à imensa maioria de cidadãos honestos e momento em que normalmente o policial encontra o
trabalhadores. cidadão. À polícia recorre-se, como regra, em horas de
Para isso é que a polícia recebe desses mesmos fragilidade emocional, que deixam os indivíduos ou a
cidadãos a unção para o uso da força, quando comunidade fortemente “abertos” ao impacto
necessário. psicológico e moral da ação realizada.
Por essa razão é que uma intervenção incorreta
SEXTA: RIGOR versus VIOLÊNCIA funda marcas traumáticas por anos ou até pela vida
inteira, assim como a ação do “bom policial” será
O uso legítimo da força não se confunde, sempre lembrada com satisfação e conforto.
contudo, com truculência. Curiosamente um significativo número de
A fronteira entre a força e a violência é policiais não consegue perceber com clareza a enorme
delimitada, no campo formal, pela lei, no campo importância que têm para a sociedade, talvez por não
racional pela necessidade técnica e, no campo moral, haverem refletido suficientemente a respeito dessa
pelo antagonismo que deve reger a metodologia de peculiaridade do impacto emocional do seu agir sobre
policiais e criminosos. a clientela. Justamente aí reside a maior força
pedagógica da polícia, a grande chave para a
SÉTIMA: Policial Versus Criminoso: redescoberta de seu valor e o resgate de sua auto-
Metodologias Antagônicas estima.
É essa mesma “visibilidade moral” da polícia o
Dessa forma, mesmo ao reprimir, o policial mais forte argumento para convencê-la de sua
oferece uma visualização pedagógica, ao antagonizar- “responsabilidade paternal” (ainda que não
se aos procedimentos do crime. paternalista) sobre a comunidade. Zelar pela ordem
Em termos de inconsciente coletivo, o policial pública é, assim, acima de tudo, dar exemplo de
exerce função educativa arquetípica: deve ser “o conduta fortemente baseada em princípios. Não há

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exceção quando tratamos de princípios, mesmo DÉCIMA: Critérios De Seleção, Permanência e


quando está em questão a prisão, guarda e condução Acompanhamento
de malfeitores. Se o policial é capaz de transigir nos
seus princípios de civilidade, quando no contato com Essa preocupação deve crescer à medida em que
os sociopatas, abona a violência, contamina-se com o tenhamos clara a preferência da psicopatia pelas
que nega, conspurca a normalidade, confunde o profissões de poder. Política profissional, Forças
imaginário popular e rebaixa-se à igualdade de Armadas, Comunicação Social, Direito, Medicina,
procedimentos com aqueles que combate. Magistério e Polícia são algumas das profissões de
Note-se que a perspectiva, aqui, não é refletir do encantada predileção para os psicopatas, sempre em
ponto de vista da “defesa do bandido”, mas da defesa busca do exercício livre e sem culpas de seu poder
da dignidade do policial. sobre outrem.
A violência desequilibra e desumaniza o sujeito, Profissões magníficas, de grande amplitude
não importa com que fins seja cometida, e não social, que agregam heróis e mesmo santos, são as
restringe-se a áreas isoladas, mas, fatalmente, acaba mesmas que atraem a escória, pelo alcance que têm,
por dominar-lhe toda a conduta. O violento se dá uma pelo poder que representam.
perigosa permissão de exercício de pulsões negativas, A permissão para o uso da força, das armas, do
que vazam gravemente sua censura moral e que, direito a decidir sobre a vida e a morte, exercem
inevitavelmente, vão alastrando-se em todas as irresistível atração à perversidade, ao delírio
direções de sua vida, de maneira incontrolável. onipotente, à loucura articulada.
Os processos de seleção de policiais devem
NONA: “Ética” Corporativa Versus Ética Cidadã tornar-se cada vez mais rígidos no bloqueio à entrada
desse tipo de gente. Igualmente, é nefasta a falta de
Essa consciência da auto-importância obriga o um maior acompanhamento psicológico aos policiais já
policial a abdicar de qualquer lógica corporativista. na ativa.
Ter identidade com a polícia, amar a corporação A polícia é chamada a cuidar dos piores dramas
da qual participa, coisas essas desejáveis, não se da população e nisso reside um componente
podem confundir, em momento algum, com acobertar desequilibrador. Quem cuida da polícia?
práticas abomináveis. Ao contrário, a verdadeira Os governos, de maneira geral, estruturam
identidade policial exige do sujeito um permanente pobremente os serviços de atendimento psicológico
zelo pela “limpeza” da instituição da qual participa. aos policiais e aproveitam muito mal os policiais
Um verdadeiro policial, ciente de seu valor diplomados nas áreas de saúde mental.
social, será o primeiro interessado no “expurgo” dos Evidentemente, se os critérios de seleção e
maus profissionais, dos corruptos, dos torturadores, permanência devem tornar-se cada vez mais exigentes,
dos psicopatas. Sabe que o lugar deles não é polícia, espera-se que o Estado cuide também de retribuir com
pois, além do dano social que causam, prejudicam o salários cada vez mais dignos.
equilíbrio psicológico de todo o conjunto da De qualquer forma, o zelo pelo respeito e a
corporação e inundam os meios de comunicação social decência dos quadros policiais não cabe apenas ao
com um marketing que denigre o esforço heróico de Estado mas aos próprios policiais, os maiores
todos aqueles outros que cumprem corretamente sua interessados em participarem de instituições livres de
espinhosa missão. Por esse motivo, não está disposto a vícios, valorizadas socialmente e detentoras de
conceder-lhes qualquer tipo de espaço. credibilidade histórica.
Aqui, se antagoniza a “ética da corporação” (que
na verdade é a negação de qualquer possibilidade DÉCIMA PRIMEIRA: Direitos Humanos Dos
ética) com a ética da cidadania (aquela voltada à Policiais — Humilhação Versus Hierarquia
missão da polícia junto a seu cliente, o cidadão).
O acobertamento de práticas espúrias O equilíbrio psicológico, tão indispensável na
demonstra, ao contrário do que muitas vezes parece, o ação da polícia, passa também pela saúde emocional
mais absoluto desprezo pelas instituições policiais. da própria instituição. Mesmo que isso não se
Quem acoberta o espúrio permite que ele enxovalhe a justifique, sabemos que policiais maltratados
imagem do conjunto da instituição e mostra, dessa internamente tendem a descontar sua agressividade
forma, não ter qualquer respeito pelo ambiente do sobre o cidadão.
qual faz parte. Evidentemente, polícia não funciona sem
hierarquia. Há, contudo, clara distinção entre
hierarquia e humilhação, entre ordem e perversidade.

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Em muitas academias de polícia (é claro que não Enquanto um melhor direcionamento não
em todas) os policiais parecem ainda ser “adestrados” ocorre em plano nacional, é fundamental que os
para alguma suposta “guerra de guerrilhas”, sendo estados e instituições da polícia civil direcionem
submetidos a toda ordem de maus-tratos (beber estrategicamente o processo de maneira a unificar sob
sangue no pescoço da galinha, ficar em pé sobre regras claras a conduta do conjunto de seus agentes,
formigueiro, ser “afogado” na lama por superior transcendendo a mera predisposição dos delegados
hierárquico, comer fezes, são só alguns dos recentes localmente responsáveis (e superando, assim, a
exemplos que tenho colecionado à partir da narrativa “ordem” fragmentada, baseada na personificação).
de amigos policiais, em diversas partes do Brasil). Além do conjunto da sociedade, a própria polícia civil
Por uma contaminação da ideologia militar será altamente beneficiada, uma vez que regras
(diga-se de passagem, presente não apenas nas objetivas para todos (incluídas aí as condutas internas)
PROFISSIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA mas também só podem dar maior segurança e credibilidade aos que
em muitas polícias civis), os futuros policiais são, precisam executar tão importante e ao mesmo tempo
muitas vezes, submetidos a violento estresse tão intrincado e difícil trabalho.
psicológico, a fim de atiçar-lhes a raiva contra o
“inimigo” (será, nesse caso, o cidadão?). DÉCIMA TERCEIRA: A Formação Dos Policiais
Essa permissividade na violação interna dos
Direitos Humanos dos policiais pode dar guarida à ação A superação desses desvios poderia dar-se, ao
de personalidades sádicas e depravadas, que usam sua menos em parte, pelo estabelecimento de um “núcleo
autoridade superior como cobertura para o exercício comum”, de conteúdos e metodologias na formação
de suas doenças. de ambas as polícias, que privilegiasse a formação do
Além disso, como os policiais não vão lutar na juízo moral, as ciências humanísticas e a tecnologia
extinta guerra do Vietnã, mas atuar nas ruas das como contraponto de eficácia à incompetência da
cidades, esse tipo de “formação” (deformadora) força bruta.
representa uma perda de tempo, geradora apenas de Aqui, deve-se ressaltar a importância das
brutalidade, atraso técnico e incompetência. academias de Polícia Civil, das escolas formativas de
A verdadeira hierarquia só pode ser exercida oficiais e soldados e dos institutos superiores de ensino
com base na lei e na lógica, longe, portanto, do e pesquisa, como bases para a construção da Polícia
personalismo e do autoritarismo doentios. Cidadã, seja através de suas intervenções junto aos
O respeito aos superiores não pode ser imposto policiais ingressantes, seja na qualificação daqueles
na base da humilhação e do medo. Não pode haver que se encontram há mais tempo na ativa. Um bom
respeito unilateral, como não pode haver respeito sem currículo e professores habilitados não apenas nos
admiração. Não podemos respeitar aqueles a quem conhecimentos técnicos, mas igualmente nas artes
odiamos. didáticas e no relacionamento interpessoal, são
A hierarquia é fundamental para o bom fundamentais para a geração de policiais que atuem
funcionamento da polícia, mas ela só pode ser com base na lei e na ordem hierárquica, mas também
verdadeiramente alcançada através do exercício da na autonomia moral e intelectual. Do policial
liderança dos superiores, o que pressupõe práticas contemporâneo, mesmo o de mais simples escalão, se
bilaterais de respeito, competência e seguimento de exigirá, cada vez mais, discernimento de valores éticos
regras lógicas e suprapessoais. e condução rápida de processos de raciocínio na
tomada de decisões.
DÉCIMA SEGUNDA: Necessidade De Hierarquia
9. OBSERVAÇÕES FINAIS.
No extremo oposto, a debilidade hierárquica é
também um mal. Pode passar uma imagem de descaso Chegamos ao final do conteúdo didático, porém,
e desordem no serviço público, além de enredar na o mais valioso será o reforço, as práticas profissionais e
malha confusa da burocracia toda a prática policial. pessoais de respeito aos Direitos Humanos.
A falta de uma Lei Orgânica Nacional para a Você, como de integrante da Polícia Militar, tem
polícia civil, por exemplo, pode propiciar um desvio poder/dever de contribuir no combate a impunidade e
fragmentador dessa instituição, amparando uma na promoção da justiça social.
tendência de definição de conduta, em alguns casos, O Estado coloca ao seu dispor diversos
pela mera junção, em “colcha de retalhos”, do instrumentos para que possa denunciar violações aos
conjunto das práticas de suas delegacias. Direitos Humanos. Um deles é o telefone gratuito 181
(Disque Denúncia).

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Na condição de membro da Polícia Militar, deve MANAUAL DA CIDADANIA DA POLÍCIA MILITAR –


procurar exercer seu mister de forma legal, legítima e Polícia Militar de São Paulo – M-18 –PROFISSIONAL DE
com respeito absoluto aos Direitos Humanos. Agindo SEGURANÇA PÚBLICA – 1998.
assim, dignifica sua pessoa, as pessoas que o
HERKENHOFF, Joao Baptista. Gênese dos Direitos
circundam e a sua Instituição.
Humanos. 2 ed. Aparecida/SP: Editora Santuário, 2002.
Para concluir seu estudo observe o link acerca
dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes ROVER, Cees de. Manual de Direitos Humanos. Para
link: www.youtube.com/watch?v=-h3XQQWtI_I servir e proteger. Direitos Humanos e Direito
Lembre-se: Internacional Humanitário para forças policiais e de
“O respeito aos Direitos Humanos é o caminho segurança: manual para instrutores. 4 ed. Trad. De
único para a Paz Social.” Sílvia Backes e Ernani S. Pilla – Genebra: Comitê
Internacional da Cruz Vermelha, 2005.
REFERÊNCIAS SÁ, Antônio Lopes de. Ética e valores humanos. 2 ed.
Curituba: Juruá, 2009.
AMARAL, Luiz Otávio de Oliveira. Direito e Segurança SIMONI, Luis Maria de. Código de Conducta para
Pública, a juridicidade operacional da polícia. O funcionários encargados de hacer cumplir la ley.
Manual do Policial. Brasília: CONSULEX, 2003 Buenos Aires: Editorial Policial, 2004.
ALVARENGA, Lúcia Barros Freitas de. Direitos SIQUEIRA, José do Carmo Alves. Manual de Direitos
Humanos, dignidade e erradicação da pobreza: uma Humanos: Declaração Universal dos Direitos
dimensão hermenêutica para realização Humanos. São Luís/MA: Movimento Nacional de
constitucional. Brasília: Brasília Jurídica, 1988. Direitos Humanos, 1998
BALESTERI, Ricardo Brisolla. Direitos Humanos: coisa ZACCARIOTTO, Pedro José. A Polícia Civil e a Defesa
de polícia. Passo Fundo/ RS: Capec, 2003. dos Direitos Humanos: Coletânea de Instrumentos
Internacionais de Proteção e Promoção dos Direitos
BOBBIO, Norberto. A era dos Direitos. Trad. Carlos
Humanos. São Paulo: Millenium, 2009.
Nélson Coutinho. Canpu, 1992.
PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS –
BONDARUK, Roberson Luiz, Coronel QOPROFISSIONAL
PNDH 3. Secretaria de Direitos Humanos da
DE SEGURANÇA PÚBLICA. Polícia comunitária, polícia
Presidência da República. Brasília, 2010.
cidadã para um povo cidadão. Curitiba: Comunicare,
2007.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO
BRASIL VIGENTE E SUAS ATUALIZAÇÕES.
CORDEIRO, Bernardete Moreira Pessanha. SILVA,
Suamy Santana da Silva. Direitos Humanos: Uma
perspectiva interdisciplinar e transversal – Referencial
prático para docentes do ensino policial. São Paulo:
Comitê Internacional da Cruz Vermelha – Escritório no
Brasil, 2003.
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – Lei
8069, de 13 de julho de 1990.
FOUCAULT, Michael. Vigiar e Punir. Petrópolis/RJ.
39.ed. Trad. De Raquel Ramalhete. Vozes, 2011.
LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE – Lei 4898, de 09 de
dezembro de 1965.
LEI DE TORTURA – Lei 9455, de 07 de abril de 1997.
LEONARDO, Martins. Liberdade e Estado
Constitucional. São Paulo: Atlas, 2012.

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PORTARIA INTERMINISTERIAL SEDH/MJ Nº 2, DE 15 3) Assegurar o exercício do direito de opinião e a


DE DEZEMBRO DE 2010 - DOU 16.12.2010 liberdade de expressão dos profissionais de segurança
pública, especialmente por meio da Internet, blogs,
Estabelece as Diretrizes Nacionais de Promoção e sites e fóruns de discussão, à luz da Constituição
Defesa dos Direitos Humanos dos Profissionais de Federal de 1988.
Segurança Pública.
4) Garantir escalas de trabalho que contemplem o
O MINISTRO DE ESTADO CHEFE DA SECRETARIA DE exercício do direito de voto por todos os profissionais
DIREITOS HUMANOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA e de segurança pública.
o MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA, no uso das
atribuições que lhes conferem os incisos I e II, do VALORIZAÇÃO DA VIDA
parágrafo único, do art. 87, da Constituição Federal de
1988, resolvem: 5) Proporcionar equipamentos de proteção individual e
coletiva aos profissionais de segurança pública, em
Art. 1º Ficam estabelecidas as Diretrizes Nacionais de quantidade e qualidade adequadas, garantindo sua
Promoção e Defesa dos Direitos Humanos dos reposição permanente, considerados o desgaste e
Profissionais de Segurança Pública, na forma do Anexo prazos de validade.
desta Portaria.
6) Assegurar que os equipamentos de proteção
Art. 2º A Secretaria de Direitos Humanos da individual contemplem as diferenças de gênero e de
Presidência da República e o Ministério da Justiça compleição física.
estabelecerão mecanismos para estimular e monitorar
iniciativas que visem à implementação de ações para 7) Garantir aos profissionais de segurança pública
efetivação destas diretrizes em todas as unidades instrução e treinamento continuado quanto ao uso
federadas, respeitada a repartição de competências correto dos equipamentos de proteção individual.
prevista no art. 144 da Constituição Federal de 1988.
8) Zelar pela adequação, manutenção e permanente
Art. 3º Esta Portaria entra em vigor na data de sua renovação de todos os veículos utilizados no exercício
publicação. profissional, bem como assegurar instalações dignas
em todas as instituições, com ênfase para as condições
PAULO DE TARSO VANNUCHI de segurança, higiene, saúde e ambiente de trabalho.
Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República 9) Considerar, no repasse de verbas federais aos entes
federados, a efetiva disponibilização de equipamentos
LUIZ PAULO TELES FERREIRA BARRETO de proteção individual aos profissionais de segurança
Ministro de Estado da Justiça pública.

ANEXO DIREITO À DIVERSIDADE

DIREITOS CONSTITUCIONAIS E PARTICIPAÇÃO CIDADÃ 10) Adotar orientações, medidas e práticas concretas
voltadas à prevenção, identificação e enfrentamento
1) Adequar as leis e regulamentos disciplinares que do racismo nas instituições de segurança pública,
versam sobre direitos e deveres dos profissionais de combatendo qualquer modalidade de preconceito.
segurança pública à Constituição Federal de 1988.
11) Garantir respeito integral aos direitos
2) Valorizar a participação das instituições e dos constitucionais das profissionais de segurança pública
profissionais de segurança pública nos processos femininas, considerando as especificidades relativas à
democráticos de debate, divulgação, estudo, reflexão e gestação e à amamentação, bem como as exigências
formulação das políticas públicas relacionadas com a permanentes de cuidado com filhos crianças e
área, tais como conferências, conselhos, seminários, adolescentes, assegurando a elas instalações físicas e
pesquisas, encontros e fóruns temáticos. equipamentos individuais específicos sempre que
necessário.

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12) Proporcionar espaços e oportunidades nas 21) Desenvolver programas de prevenção ao suicídio,
instituições de segurança pública para organização de disponibilizando atendimento psiquiátrico, núcleos
eventos de integração familiar entre todos os terapêuticos de apoio e divulgação de informações
profissionais, com ênfase em atividades recreativas, sobre o assunto.
esportivas e culturais voltadas a crianças, adolescentes
e jovens. 22) Criar núcleos terapêuticos de apoio voltados ao
enfrentamento da depressão, estresse e outras
13) Fortalecer e disseminar nas instituições a cultura alterações psíquicas.
de não discriminação e de pleno respeito à liberdade
de orientação sexual do profissional de segurança 23) Possibilitar acesso a exames clínicos e laboratoriais
pública, com ênfase no combate à homofobia. periódicos para identificação dos fatores mais comuns
de risco à saúde.
14) Aproveitar o conhecimento e a vivência dos
profissionais de segurança pública idosos, estimulando 24) Prevenir as conseqüências do uso continuado de
a criação de espaços institucionais para transmissão de equipamentos de proteção individual e outras doenças
experiências, bem como a formação de equipes de profissionais ocasionadas por esforço repetitivo, por
trabalho composta por servidores de diferentes faixas meio de acompanhamento médico especializado.
etárias para exercitar a integração intergeracional.
25) Estimular a prática regular de exercícios físicos,
15) Estabelecer práticas e serviços internos que garantindo a adoção de mecanismos que permitam o
contemplem a preparação do profissional de cômputo de horas de atividade física como parte da
segurança pública para o período de aposentadoria, jornada semanal de trabalho.
estimulando o prosseguimento em atividades de
participação cidadã após a fase de serviço ativo. 26) Elaborar cartilhas voltadas à reeducação alimentar
como forma de diminuição de condições de risco à
16) Implementar os paradigmas de acessibilidade e saúde e como fator de bem-estar profissional e auto-
empregabilidade das pessoas com deficiência em estima.
instalações e equipamentos do sistema de segurança
pública, assegurando a reserva constitucional de vagas REABILITAÇÃO E REINTEGRAÇÃO
nos concursos públicos.
27) Promover a reabilitação dos profissionais de
SAÚDE segurança pública que adquiram lesões, traumas,
deficiências ou doenças ocupacionais em decorrência
17) Oferecer ao profissional de segurança pública e a do exercício de suas atividades.
seus familiares, serviços permanentes e de boa
qualidade para acompanhamento e tratamento de 28) Consolidar, como valor institucional, a importância
saúde. da readaptação e da reintegração dos profissionais de
segurança pública ao trabalho em casos de lesões,
18) Assegurar o acesso dos profissionais do sistema de traumas, deficiências ou doenças ocupacionais
segurança pública ao atendimento independente e adquiridos em decorrência do exercício de suas
especializado em saúde mental. atividades.

19) Desenvolver programas de acompanhamento e 29) Viabilizar mecanismos de readaptação dos


tratamento destinados aos profissionais de segurança profissionais de segurança pública e deslocamento
pública envolvidos em ações com resultado letal ou para novas funções ou postos de trabalho como
alto nível de estresse. alternativa ao afastamento definitivo e à inatividade
em decorrência de acidente de trabalho, ferimentos ou
20) Implementar políticas de prevenção, apoio e seqüelas.
tratamento do alcoolismo, tabagismo ou outras formas
de drogadição e dependência química entre
profissionais de segurança pública.

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DIGNIDADE E SEGURANÇA NO TRABALHO ASSISTÊNCIA JURÍDICA

30) Manter política abrangente de prevenção de 39) Firmar parcerias com Defensorias Públicas, serviços
acidentes e ferimentos, incluindo a padronização de de atendimento jurídico de faculdades de Direito,
métodos e rotinas, atividades de atualização e núcleos de advocacia pro bono e outras instâncias de
capacitação, bem como a constituição de comissão advocacia gratuita para assessoramento e defesa dos
especializada para coordenar esse trabalho. profissionais de segurança pública, em casos
decorrentes do exercício profissional.
31) Garantir aos profissionais de segurança pública
acesso ágil e permanente a toda informação necessária 40) Proporcionar assistência jurídica para fins de
para o correto desempenho de suas funções, recebimento de seguro, pensão, auxílio ou outro
especialmente no tocante à legislação a ser observada. direito de familiares, em caso de morte do profissional
de segurança pública.
32) Erradicar todas as formas de punição envolvendo
maus tratos, tratamento cruel, desumano ou HABITAÇÃO
degradante contra os profissionais de segurança
pública, tanto no cotidiano funcional como em 41) Garantir a implementação e a divulgação de
atividades de formação e treinamento. políticas e planos de habitação voltados aos
profissionais de segurança pública, com a concessão de
33) Combater o assédio sexual e moral nas instituições, créditos e financiamentos diferenciados.
veiculando campanhas internas de educação e
garantindo canais para o recebimento e apuração de CULTURA E LAZER
denúncias.
42) Conceber programas e parcerias que estimulem o
34) Garantir que todos os atos decisórios de superiores acesso à cultura pelos profissionais de segurança
hierárquicos dispondo sobre punições, escalas, lotação pública e suas famílias, mediante vales para desconto
e transferências sejam devidamente motivados e ou ingresso gratuito em cinemas, teatros, museus e
fundamentados. outras atividades, e que garantam o incentivo à
produção cultural própria.
35) Assegurar a regulamentação da jornada de
trabalho dos profissionais de segurança pública, 43) Promover e estimular a realização de atividades
garantindo o exercício do direito à convivência familiar culturais e esportivas nas instalações físicas de
e comunitária. academias de polícia, quartéis e outros prédios das
corporações, em finais de semana ou outros horários
SEGUROS E AUXÍLIOS de disponibilidade de espaços e equipamentos.

36) Apoiar projetos de leis que instituam seguro 44) Estimular a realização de atividades culturais e
especial aos profissionais de segurança pública, para esportivas desenvolvidas por associações, sindicatos e
casos de acidentes e traumas incapacitantes ou morte clubes dos profissionais de segurança pública.
em serviço.
EDUCAÇÃO
37) Organizar serviços de apoio, orientação psicológica
e assistência social às famílias de profissionais de 45) Estimular os profissionais de segurança pública a
segurança pública para casos de morte em serviço. frequentar programas de formação continuada,
estabelecendo como objetivo de longo prazo a
38) Estimular a instituição de auxílio-funeral destinado universalização da graduação universitária.
às famílias de profissionais de segurança pública ativos
e inativos. 46) Promover a adequação dos currículos das
academias à Matriz Curricular Nacional, assegurando a
inclusão de disciplinas voltadas ao ensino e à
compreensão do sistema e da política nacional de
segurança pública e dos Direitos Humanos.

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47) Promover nas instituições de segurança pública ESTRUTURAS E EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS
uma cultura que valorize o aprimoramento profissional
constante de seus servidores também em outras áreas 56) Constituir núcleos, divisões e unidades
do conhecimento, distintas da segurança pública. especializadas em Direitos Humanos nas academias e
na estrutura regular das instituições de segurança
48) Estimular iniciativas voltadas ao aperfeiçoamento pública, incluindo entre suas tarefas a elaboração de
profissional e à formação continuada dos profissionais livros, cartilhas e outras publicações que divulguem
de segurança pública, como o projeto de ensino a dados e conhecimentos sobre o tema.
distância do governo federal e a Rede Nacional de
Altos Estudos em Segurança Pública (Renaesp). 57) Promover a multiplicação de cursos avançados de
Direitos Humanos nas instituições, que contemplem o
49) Assegurar o aperfeiçoamento profissional e a ensino de matérias práticas e teóricas e adotem o
formação continuada como direitos do profissional de Plano Nacional de Educação em Direitos
segurança pública.
Humanos como referência.
PRODUÇÃO DE CONHECIMENTOS
58) Atualizar permanentemente o ensino de Direitos
50) Assegurar a produção e divulgação regular de Humanos nas academias, reforçando nos cursos a
dados e números envolvendo mortes, lesões e doenças compreensão de que os profissionais de segurança
graves sofridas por profissionais de segurança pública pública também são titulares de Direitos Humanos,
no exercício ou em decorrência da profissão. devem agir como defensores e promotores desses
direitos e precisam ser vistos desta forma pela
51) Utilizar os dados sobre os processos disciplinares e comunidade.
administrativos movidos em face de profissionais de
segurança pública para identificar vulnerabilidades dos 59) Direcionar as atividades de formação no sentido de
treinamentos e inadequações na gestão de recursos consolidar a compreensão de que a atuação do
humanos. profissional de segurança pública orientada por
padrões internacionais de respeito aos Direitos
52) Aprofundar e sistematizar os conhecimentos sobre Humanos não dificulta, nem enfraquece a atividade
diagnose e prevenção de doenças ocupacionais entre das instituições de segurança pública, mas confere-lhes
profissionais de segurança pública. credibilidade, respeito social e eficiência superior.

53) Identificar locais com condições de trabalho VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL


especialmente perigosas ou insalubres, visando à
prevenção e redução de danos e de riscos à vida e à 60) Contribuir para a implementação de planos
saúde dos profissionais de segurança pública. voltados à valorização profissional e social dos
profissionais de segurança pública, assegurado o
54) Estimular parcerias entre universidades e respeito a critérios básicos de dignidade salarial.
instituições de segurança pública para diagnóstico e
elaboração de projetos voltados à melhoria das 61) Multiplicar iniciativas para promoção da saúde e da
condições de trabalho dos profissionais de segurança qualidade de vida dos profissionais de segurança
pública. pública.

55) Realizar estudos e pesquisas com a participação de 62) Apoiar o desenvolvimento, a regulamentação e o
profissionais de segurança pública sobre suas aperfeiçoamento dos programas de atenção
condições de trabalho e a eficácia dos programas e biopsicossocial já existentes.
serviços a eles disponibilizados por suas instituições.
63) Profissionalizar a gestão das instituições de
segurança pública, fortalecendo uma cultura gerencial
enfocada na necessidade de elaborar diagnósticos,
planejar, definir metas explícitas e monitorar seu
cumprimento.

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64) Ampliar a formação técnica específica para


gestores da área de segurança pública.

65) Veicular campanhas de valorização profissional


voltadas ao fortalecimento da imagem institucional
dos profissionais de segurança pública.

66) Definir e monitorar indicadores de satisfação e de


realização profissional dos profissionais de segurança
pública.

67) Estimular a participação dos profissionais de


segurança pública na elaboração de todas as políticas e
programas que os envolvam.

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