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Clubes de Leitura pelo Brasil: Negrita, São Paulo (ENTREVISTA)

Dando continuidade ao nosso projeto de enaltecer os Clubes de Leitura pelo país,


conheceremos o Negrita, de São Paulo (capital). Criado em 2017, o grupo já conta com mais de
20 encontros presenciais e, em razão da pandemia, adaptou-se para as reuniões por meios
virtuais. Mas, além da discussão de livros e leitura, o Negrita compartilha amor, afetividade e
união.
O Negrita busca trazer em suas discussões pondo a Literatura Negra em foco,
divulgando nomes tanto de autores como outros meios culturais que possam advir dessa
discussão (filmes, documentários, poemas, nomes relevantes). Além disso, em seu espaço, é
feita a narrativa de acolhimento. Como a criadora do Clube, Bruna Tamires, revela: ali é um
espaço de pertencimento, além de nos encontrarmos e/ou identificarmos com o que foi
apreciado, também busca tornar possível entender seu espaço no mundo com o que foi lido ou
se emocionar com o que foi discutido, revelado, compartilhado nos encontros.
É essencial que todos que participem do grupo sintam-se confortáveis em estar ali. Por
isso uma das poucas “exigências” – por falta de termo melhor – é a não-violência. Ou seja,
ainda que muitos dos temas tratados possam ser sensíveis à subjetividade de seus participantes –
afinal, temas como racismo e o que advém a partir de como solidão, violência e injúrias – é
preciso que ali todos tenham o sentimento de conforto para exporem suas experiências e que,
também, sinta-se confortáveis para acolher aos que também forem compartilhar suas vivências.
Mas não somente desses tópicos o grupo há de tratar. Resistência, poder, autoestima,
amor próprio e autoestima também são alvos de discussão no grupo. A literatura é imensa, tanto
com ficção e não-ficção, os títulos e nomes são infinitos e o que não faltará são tópicos a serem
debatidos. Ainda mais havendo a negritude como ponto central do Negrita.
Abaixo, leiam a entrevista que Bruna Tamires e Negrita concederam para a Delirium Nerd:

1- Gostaríamos de saber quem e quantas são as pessoas que idealizaram o Clube Negrita e
como surgiu a ideia:

O Clube foi idealizado por mim (Bruna Tamires), mas sempre é feito por muitas mãos.
Costumo dizer que eu seguro o núcleo e as outras pessoas (que ajudam na produção ou que
participam dos encontros) seguram o todo e me seguram também.

Nesse processo posso citar Dora Lia (@dillasete), Ingrid Passos (@formataí), Richner
Allan, Carla Andrade, Mulheres Negras na Biblioteca, Monomito e muitas outras pessoas ou
coletivos que passaram pelo clube.

A ideia do Clube Negrita surgiu do amor. Eu e a pessoa que eu amava costumávamos


ler juntas, uma ouvindo a voz da outra e lendo com a outra.

Dessa leitura compartilhada de livros de autoria negra ou de autores da América Latina


vinha um sentimento tão gostoso de nutrição e completude que eu não pude mantê-lo somente
na relação.

Criar o Clube Negrita foi e é a minha forma de expandir esse sentimento com mais
pessoas, nutrir os pensamentos através da literatura e da cultura. Quando a gente lê uma história
junto de outras pessoas, os pensamentos fluem, as viagens acontecem e os laços são refeitos, até
fortalecidos.
2- A partir disso, como o Negrita surgiu. De onde veio o nome? Como é a dinâmica de
leitura? Quantas leituras por mês, se são por temas ou autores. Enfim, como escolhem
vossas leituras?

Negrita porque a pessoa amada me chamava de Negrita (risos). Veja, o Clube Negrita é
totalmente afetivo. Outro ponto é que negritar é, por definição, deixar os traços mais grossos e
escuros, dar o destaque no texto. Tem tudo a ver com o objetivo do clube: incentivar o consumo
da literatura negra e pensar a sociedade a partir do ponto de vista das pessoas negras.

A curadoria dos livros se dá por minha pesquisa ou por sugestão das pessoas que
participam do clube. Optamos por duas formas de mediação: uma em que todos leem
previamente o livro (ou conto) e depois nos encontramos para a conversa, e outra em que lemos
juntos, no dia do encontro, um trecho de livro ou uma história mais curta.

Antes da pandemia tínhamos uma periodicidade. Contudo, pelo esgotamento do formato


livre, demos uma pequena pausa e agora vamos voltar ao modo presencial, porém restrito, em
28 de Novembro, com o Manual do Guerrilheiro Urbano, de Marighella.

3- Descrevam um pouco sobre o público alvo e o objetivo central do clube.

É difícil especificar um público para o clube quando a nossa meta é trazer cada vez mais
pessoas para a leitura, mas posso dizer que nós nos direcionamos às pessoas negras, jovens
adultas que têm interesse em arte e cultura, mesmo que não diretamente em literatura.

O objetivo central é incentivar as pessoas a se nutrirem com a literatura negra,


comprando os livros, conhecendo quem escreve e abrindo espaço na mente para pensar a
sociedade a partir das histórias compartilhadas, literatura é ficção, é criação artística, mas
também é um registro histórico do tempo em que ela foi escrita.

Trabalhamos com isso para aproximar as pessoas da luta pelo bem viver coletivo.

4- Possuem regras? Como funcionam os encontros, se são físicos (ou seja, se encontram em
algum lugar) ou atuam na modalidade virtual.

O Clube Negrita necessita da presença. Nessa pandemia ficou nítido para nós o fato que
o virtual não supre nossa necessidade de troca, de gesto, de vibração.

Desde 2017 nós fazemos encontros presenciais (estamos no 22º) e em 2020 nós
fizemos um ciclo de clubes virtuais, em novembro agora (2021) vamos voltar com o presencial
nos parques da cidade e assim ficaremos. Talvez o virtual entre em momentos específicos na
nossa trajetória.

A regra geral do clube é a não violência, na conversa tentar sempre entender os pontos
de vista como oportunidades para o diálogo, sem tratar mal as pessoas. Em alguns encontros as
pessoas discordam sobre uma história compartilhada, as discordâncias abrem espaço para mais
trocas de ideias.

Confiram abaixo, algumas das leituras favoritas do Negrita:


O Negrita lhe servirá como um abraço acolhedor em momentos alegres, tristes, reflexivos, mas
sempre essenciais. Agradecemos infinitamente pelo privilégio que foi ter feito essa entrevista!
Não deixem de acompanhar o Clube pelo Instagram!

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