Você está na página 1de 9

Manual do Professor

ana maria machado

O mistério da ilha
Ilustrações:

Zeflávio Teixeira
Manual do Professor
ana maria machado

O mistério da ilha
Ilustrações:

Zeflávio Teixeira

1a edição, 2018

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Machado, Ana Maria


O mistério da ilha / Ana Maria Machado ;
ilustrações Zeflávio Teixeira. -- 1. ed. --
São José dos Campos, SP : Maxiprint, 2018.

Bibliografia.
1. Ficção juvenil I. Teixeira, Zeflávio.
II. Título.

18-17102 CDD: 028.5

Índices para catálogo sistemático:


1. Ficção : Literatura juvenil 028.5
Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964

ISBN 978-85-7837-951-3 (aluno)


ISBN 978-85-539-0014-5 (professor)
Introdução
Uma das funções mais importantes da escola, desde a sua criação como instituição, é ensinar a ler e
a escrever. Para cumprir essa tarefa com qualidade, é essencial que a leitura e a escrita apareçam, dentro
da sala de aula, no formato mais próximo possível daquele que é utilizado fora dela. Em outras palavras,
é preciso não apenas ensinar a ler e a escrever, mas a formar leitores e escritores competentes, que saibam
utilizar a linguagem escrita em suas práticas sociais.
Especificamente no âmbito da leitura, não há maneira mais eficiente de formar um leitor do que
por meio de seu contato com o texto literário. Por ser a literatura uma arte voltada, primordialmente, ao
entretenimento, ela se constitui em fonte de prazer. No entanto, para que crianças e jovens encontrem
esse prazer, é preciso que eles desenvolvam uma competência leitora ampla e eficaz.
Uma das dificuldades no trabalho com a literatura na escola está relacionada à questão do controle:
talvez pela necessidade de realizar avaliações e atribuir notas, ou pela própria tradição escolar, é relativa-
mente comum que o professor busque controlar, na medida do possível, a aprendizagem de seus alunos.
Contudo, um bom leitor é autônomo e sua leitura não depende de outrem. Conciliar esses dois aspectos
não é tarefa fácil. É possível, no entanto, pensar em alguns caminhos.
Segundo Delia Lerner (2002, p. 127):

Reconhecer a tensão entre a autonomia postulada e a dependência cotidiana faz duvidar


de soluções aparentemente simples e, por isso mesmo, tentadoras. [...] Para formar leitores
autônomos no âmbito da instituição escolar não basta modificar os conteúdos de ensino – in-
cluindo, por exemplo, estratégias de autocontrole da leitura – é necessário, além disso, gerar
um conjunto de condições didáticas que autorizem e habilitem o aluno a assumir sua respon-
sabilidade como leitor.
Portanto, não basta você, professor, ensinar a leitura propriamente dita; é preciso também ensi-
nar os comportamentos leitores. E, para ensiná-los, as condições didáticas de que fala a autora são
fundamentais.
Uma das condições didáticas que não pode faltar é a partilha coletiva do que é lido, o que cria na
escola uma verdadeira “comunidade de leitores”. Colocar seus alunos em roda para discutir o que leram
trará benefícios não apenas relacionados à leitura, mas à sua formação geral. Afinal, como afirma Mi-
chèle Petit (2008, p. 43):

Ao compartilhar a leitura, cada pessoa pode experimentar um sentimento de pertencer a


alguma coisa, a esta humanidade, de nosso tempo ou de tempos passados, daqui ou de outro
lugar, da qual pode sentir-se próxima. Se o fato de ler possibilita abrir-se para o outro, não é
somente pelas formas de sociabilidade e pelas conversas que se tecem em torno dos livros. É
também pelo fato de que ao experimentar, em um texto, tanto sua verdade mais íntima como
a humanidade compartilhada, a relação com o próximo se transforma. Ler não isola do mun-
do. Ler introduz no mundo de forma diferente.

Nesses momentos de discussão sobre a leitura, você tem um papel fundamental: o de mediador da
leitura, aquele que faz intervenções adequadas para que os alunos avancem em sua compreensão sobre
o que leram. Esse avanço é alcançado pela própria partilha das interpretações. Eliana Yunes (2009, p.
76) situa bem essa compreensão aprofundada que os alunos adquirem ao partilhar suas interpretações
individuais, quando afirma que

[...] na proposta do círculo de leitura, alcançamos, por assim dizer, as segundas histórias,
ou seja, um momento em que a recepção do texto não reflui a uma interioridade emotiva e de
perplexidade apenas, amparada na voz do outro, mas aqui já se desdobra uma interatividade
de ordem mais ampla entre o texto e diversos receptores, simultaneamente.

O mistério da ilha 2
Para realizar essa mediação, não existe uma “receita pronta”, mas alguns princípios que podem ser
seguidos. O primeiro é fazer perguntas mais “abertas”, que convidem os alunos a uma reflexão. Como,
muitas vezes, eles estão mais preocupados em dar uma resposta rápida a refletir sobre o que foi pergun-
tado, é importante fazer perguntas do tipo:
¡ “O que chamou sua atenção neste trecho?”
¡ “O que você pensa sobre a atitude deste personagem?”
Nesses casos, a própria natureza da pergunta obriga os alunos à reflexão.
O segundo princípio a ser seguido para uma boa mediação é procurar pontos de interesse dos alu-
nos. Em uma obra como O mistério da ilha, por exemplo, alguns alunos podem se interessar mais pela
aventura dos meninos de saírem sozinhos ao mar; outros, pela relação de subserviência entre Carlos e
Chico; outros, ainda, pela cultura africana personificada na figura de Luana, etc. Perceber o que mais
mobiliza a turma é uma boa estratégia para atrair ainda mais o interesse de todos pela leitura.
Na mediação, deve-se também estar atento ao sentido que os alunos dão à história. Alguns deles
podem não compreender plenamente o enredo e, nesses casos, é preciso fazer perguntas direcionadas
para revisar os aspectos principais da trama. Você também precisa estar atento para verificar se os alunos
entendem suas perguntas e, se notar que alguns não compreendem suas questões, reformule-as.
Finalmente, é necessário lembrar que parte da estratégia de mediação é estabelecer conexões
pessoais entre a história e a realidade dos alunos.
As questões e as atividades propostas ao longo deste Manual visam apoiá-lo no processo de atuar
como mediador da leitura.
A atuação aqui sugerida está de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), pois
busca a promoção de um leitor capaz não apenas de fruir os textos, mas também de compreendê-los e
atribuir-lhes sentido, que é um dos objetivos propostos na BNCC no campo artístico-literário. A prática
de realizar rodas de leitura para partilhar o que foi lido é uma das habilidades previstas na Base (EF69LP46),
“participar de práticas de compartilhamento de leitura/recepção de obras literárias/manifestações artísticas
como rodas de leitura, clubes de leitura, eventos de contação de histórias, de leituras dramáticas [...]”.
O mistério da ilha é uma obra que, além de agradar aos leitores pelo enredo envolvente, também
contempla possibilidades de trabalho para atingir diferentes habilidades previstas na BNCC.
A relação entre Carlos e Chico, por exemplo – que é permeada não apenas pela amizade que une os
garotos, mas também pela relação hierárquica de trabalho entre seus pais –, contempla o que é previsto
na habilidade EF69LP44, pois permite ao leitor

inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em


textos literários, reconhecendo nesses textos formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as
identidades, sociedades e culturas [...]. (BNCC, 2017, p. 155)

O fato de a obra possuir dois planos de narrativa – o da realidade vivida e o da realidade sonhada,
que só são descobertos pelo leitor ao final do enredo (pois, até então, tudo parece realidade) – abre uma
possibilidade para você levar os alunos a

analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes formas de composição próprias de cada


gênero, os recursos coesivos que constroem a passagem do tempo e articulam suas partes, a
escolha lexical típica de cada gênero para a caracterização dos cenários e dos personagens [...].
(BNCC, 2017, p. 157)

É o que sugere a habilidade EF69LP47. Essa leitura com dois planos da narrativa não é tão
comum e exige uma proficiência leitora razoável, pois, como preconiza a habilidade EF69LP49,
trata-se de um texto que rompe com seu universo de expectativas e que representa um desafio às
experiências anteriores de leitura.

O mistério da ilha 3
Antes da leitura
Professor, seu trabalho de mediação não se inicia com a leitura propriamente dita, mas antes dela.
A contextualização do autor e da obra, o levantamento dos conhecimentos prévios e a motivação para o
ato de ler são fundamentais para uma leitura bem-sucedida.

Contextualização do autor e da obra


Ana Maria Machado é considerada uma autora clássica da literatura brasileira. Ocupa a cadeira de
número 1 da Academia Brasileira de Letras, da qual já foi presidente. Escreve há mais de quarenta anos e
possui mais de cem livros publicados. Sua obra contabiliza mais de 20 milhões de exemplares vendidos,
publicados em vinte idiomas e em 26 países. Já ganhou diversos prêmios nacionais e internacionais,
entre eles o prêmio Hans Christian Andersen, que corresponde ao Nobel da literatura infantojuvenil.
Dada sua relevância no cenário da literatura nacional, em particular da literatura infantojuvenil, apre-
sentá-la aos alunos é fundamental para inseri-los na cultura escrita do Brasil.
O mistério da ilha foi se construindo aos poucos e por vários anos. Começou com o interesse da
autora pela palavra “mandinga” e pela cultura africana a ela associada. A partir daí, ela escreveu um
conto, com algumas das ideias centrais do que se tornaria o enredo dessa obra. Anos depois, em uma
praia, ela ficou examinando um caranguejo e desejou escrever uma história que tivesse esse personagem.
Reuniu esse desejo à observação que fez da vida caiçara e dos pescadores às ideias do conto sobre man-
dinga, e assim nasceu O mistério da ilha, da reunião desses três elementos.
Essa é a história do livro contada pela própria autora na seção “Bastidores da criação”, que você
pode ler e explorar com seus alunos antes da leitura do livro propriamente dita. Para além dessa história,
porém, você e sua turma poderão desvelar outros sentidos para a narrativa, afinal, a leitura é um ato
dialógico, em que o leitor tem um papel ativo de atribuição de sentidos a tudo o que lê.

Motivação para a leitura


Para motivar seus alunos para a leitura da obra, algumas propostas são sugeridas:
1. Uma proposta lúdica para antes da leitura pode ser embalar o livro em plástico transparente,
lacrando-o com fita adesiva, de modo que ele possa ser visto e analisado por fora, mas não
possa ser aberto. Motive os alunos dizendo que, ali dentro, uma história os espera, e que a
tarefa inicial deles é tentar descobrir do que se trata. Para isso, deixe o livro (lacrado) circular
entre os alunos e faça perguntas do tipo:
¡ “O que o título sugere a respeito do enredo?”
Nesse momento, chame a atenção dos alunos para o fato de que a palavra “mistério” sugere a presença de um enigma durante
a narrativa, enquanto a palavra “ilha” indica um possível cenário onde se passa a trama.
¡ “Pelas ilustrações da capa, que informações podemos obter sobre a narrativa?”
Espera-se que os alunos percebam que as ilustrações indicam o cenário (a ilha), alguns personagens (os meninos) e o caranguejo.

¡ “Lendo a quarta capa e a motivação de leitura na página 5 do livro, as hipóteses levantadas


anteriormente foram confirmadas ou refutadas? Que informações adicionais essa leitura
traz?”
O texto da quarta capa e o texto de motivação de leitura indicam o nome dos meninos e oferecem mais algumas “pistas” sobre
o enredo. O de quarta capa traz também informações sobre a autora.

2. Depois dessa dinâmica, permita aos alunos que abram o livro, como um momento especial.
Estimule-os a observar as páginas 1 e 3. Peça a eles que comparem a ilustração da página 1
com a ilustração da quarta capa e deixe-os estabelecer alguma relação entre elas. Chame a
atenção dos alunos para o fato de que as ilustrações mostram barcos semelhantes – enquanto o
da quarta capa parece estar atracado, o da página 1 está tombado, como se tivesse naufragado.

O mistério da ilha 4
3. Antes de iniciar a leitura da narrativa, vá para a página 60 e estimule os alunos a ler o contexto
de produção textual, descrito pela autora na seção “Bastidores da criação”. Depois de ler, eles
poderão encontrar mais elementos sobre os meninos, o caranguejo, a ilha e, assim, corrobo-
rar ou refutar suas hipóteses iniciais.

Adequação temática, categoria e gênero literário


O mistério da ilha, indicado para a categoria 1 (6o e 7o anos do Ensino Fundamental – Anos
Finais), insere-se no tema “Encontros com a diferença”. Essa classificação deve-se ao fato de a trama
central da obra estar focada na relação entre dois meninos oriundos de diferentes realidades, culturas e
classes sociais. Essa característica permeia a relação, que se dá com base nessa distinção, mas começa a
ser questionada quando eles chegam à ilha. Além da diferença entre ambos os protagonistas, há também
o encontro com um novo povo, que traz elementos da cultura africana, o que também propicia um novo
encontro com a diferença.
Com relação ao gênero literário, trata-se de uma novela. No que concerne à extensão, situa-se entre
o conto e o romance. Possui pluralidade dramática, ou seja, o enredo é composto de vários episódios
sucessivos (o planejamento e a execução do passeio dos meninos; o sumiço das roupas; a exploração
da ilha; o encontro com Luana e seu povo; o despertar). Sua linguagem é clara e objetiva e, apesar de
possuir dois protagonistas (Carlos e Chico), engendra vários enredos paralelos que estabelecem cone-
xões entre si.

Depois da leitura
Durante e após a leitura, você pode propor aos alunos questões que os ajudem a compreender me-
lhor a trama e também a observar com atenção os efeitos linguísticos empregados pela autora.

O texto e o contexto: interpretação do texto


1. Pergunte aos alunos sobre a neblina que envolveu o barco: do que se tratava? Era uma neblina
de verdade?
Chame a atenção dos alunos para a descrição que a autora dá: uma “neblina esquisita”. Espera-se que eles percebam, a partir
do que descobriram no restante da narrativa, que a neblina não era um fenômeno climático, mas um símbolo para a entrada dos
meninos em um universo mágico.

2. Pergunte sobre as roupas que sumiam: por que isso acontecia?


O objetivo desta questão é garantir que os alunos percebam a relação entre o sumiço e o trabalho (cada um só ficava com aquilo
que possuía).

3. Leve os alunos a refletir sobre a relação entre os dois protagonistas: como era no início? Peça
que selecionem trechos da narrativa que indiquem como ela vai se modificando. Como ficou
no final?
A ideia é que os alunos percebam que a ilha tem um efeito sobre Chico, que passa a sair de sua condição de subserviência e
assumir uma relação mais igualitária com Carlos.

4. Ao conhecer Luana, Carlos acha que ela é uma princesa africana, e seu avô, um rei. Peça aos
alunos que analisem essa hipótese e encontrem trechos da narrativa que a confirmem ou a
refutem.
Apesar de o personagem ter essa impressão, a autora descreve Luana como uma personagem enigmática, que tanto pode ser
princesa quanto fada ou feiticeira, e apresenta, simultaneamente, elementos da cultura africana e “extraterrestres”. É um dos
personagens que guarda o mistério da ilha, e a indefinição de sua origem contribui para essa aura misteriosa.

5. Pergunte aos alunos qual era, afinal, o tesouro da ilha. Peça que reflitam sobre se já recebe-
ram, eles próprios, alguns “tesouros” desse tipo.
O tesouro da ilha era, na verdade, um ensinamento sobre igualdade e sobre a importância do esforço pessoal. Os alunos podem
citar outros ensinamentos morais que já tenham recebido, como “tesouros” análogos aos da narrativa.

O mistério da ilha 5
6. No trecho final do livro, Carlos aparece repentinamente em seu quarto. Peça aos alunos que
expliquem como isso se deu.
É importante garantir a compreensão de que a aventura na ilha fora, na verdade, um sonho do personagem.

7. Após a leitura do livro, estimule os alunos a expor o que acharam da obra. Deixe-os livres para
traçar suas considerações a respeito do enredo e estimule-os a comparar as interpretações
que cada um fez de cada trecho.

Linguagem
Além das questões anteriormente propostas, que dizem respeito ao conteúdo temático da obra, é
importante explorar o livro com os alunos fazendo questões referentes à linguagem utilizada. Algumas
perguntas que você pode fazer a eles são:
¡ “Por que a autora começa dizendo que Carlos não conseguia se lembrar do sonho que tive-
ra? Esse é um dado importante para a narrativa?”
Inicialmente, não parece um fato relevante. Ao ler o livro todo, porém, o aluno deve ser capaz de perceber que falar sobre esse
sonho no início foi um recurso linguístico utilizado pela autora para “dar uma pista” sobre o enredo. O sonho esquecido era a
própria aventura na Ilha Quilomba.
¡ “Na página 12, no trecho que diz ‘Dava para ver que Chico não tinha gostado da ideia’, a quem
o narrador se refere? Dava para quem ver isso?”
O objetivo aqui é aproximar os alunos da estratégia do discurso indireto livre, já que o narrador, onisciente, demonstra o desa-
grado de Chico e a percepção que Carlos tem dele.
¡ “Nas páginas 27 e 28, os meninos comparam as diferentes nomenclaturas que utilizam para
se referir àquela espécie de caranguejo: maria-farinha e goroçá. Proponha aos alunos que
pesquisem outros animais ou objetos que podem receber diferentes nomes no Brasil, de
acordo com a região, o grupo social, a idade de quem os nomeia, etc. Peça a eles que façam
a pesquisa não apenas na internet, mas também com pais, avós, pessoas de diferentes re-
giões, que certamente terão boas informações para contribuir nesse sentido.”
¡ “O que significa a palavra ‘mandinga’? Por que há um capítulo do livro com o título de ‘Mico
ou mandinga’?”
Mandinga é uma palavra de origem africana que está relacionada à magia, à feitiçaria. O capítulo tem esse título porque tudo
dá errado para Carlos. Entre outros “azares”, no final do capítulo, um mico come sua banana. Como a perda da fruta é o últi-
mo de uma série de insucessos do personagem na ilha, ele fica na dúvida quanto ao fato de o macaco ter comido ser mesmo
uma situação pontual motivada pela fome do animal, ou se é alguma espécie de feitiçaria.
¡ “Por que o nome da ilha é Quilomba?”
Se os alunos não conseguirem responder a essa pergunta, estimule-os a pesquisar sobre quilombos. Assim, eles perceberão a
analogia entre os quilombos como lugares históricos de residência de escravos foragidos e o nome da ilha.

Bate-papo e pesquisa
O livro trata bastante das temáticas da cultura afro-brasileira e das relações de trabalho (tanto no
período da escravidão quanto na contemporaneidade). Sugira aos alunos que façam uma pesquisa sobre
as relações de trabalho no Brasil, desde o período da escravidão até a atualidade. Algumas fontes de
pesquisa podem ser:
¡ Familiares: “Eles trabalham?”, “Como é sua relação de trabalho com os empregadores?”, “Que
tipo de contrato rege essa relação?”, “Quais os benefícios e dificuldades de ser um trabalhador no
Brasil?”.
¡ Escravo, nem pensar! Disponível em: <www.escravonempensar.org.br>. Acesso em: 29 maio 2018.
¡ Geledés. Disponível em: <www.geledes.org.br/escravidao-moderna-e-o-brasil-que-insiste-em-nao-
enxergar/?gclid=Cj0KCQjwgMnYBRDRARIsANC2dfm-SS3-jRWhKtINldkHh5L6f-vlEZbu
qs5-ztr2ToLhWdaGhbV_qwoaAqJaEALw_wcB>. Acesso em: 29 maio 2018.
¡ A história dos escravos, de Isabel Lustosa. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

O mistério da ilha 6
Produção de texto
Com o intuito de explorar ainda mais a relação entre os dois protagonistas da trama, divida a clas-
se em dois grupos: metade representará Carlos e a outra metade, Chico. Proponha que cada aluno,
colocando-se no lugar do personagem que lhe coube, escreva uma carta para o amigo (quem pegou
o papel de Carlos escreverá para o Chico e vice-versa). A produção deverá abordar alguns episódios
específicos:
¡ “Falar sobre como era a relação entre eles inicialmente e sobre como o remetente se sentia
com isso, se percebia a natureza dessa relação ou não, se a aceitava ou não, etc.”
¡ “Narrar a aventura vivida na ilha sob seu ponto de vista.”
¡ “Definir como gostaria que fosse a relação entre eles a partir de agora e o que fará para
garantir isso.”
De acordo com esses três aspectos, cada aluno poderá desenvolver sua produção imprimindo-lhe
características próprias. Dê liberdade à criatividade dos alunos, garantindo apenas que o conteúdo da
carta seja coerente com a narrativa lida.
Para elaborar essa produção, os alunos devem passar por três etapas:
¡ Planificação: lista dos itens que serão colocados na produção. Deve ser feita em tópicos breves,
apenas como forma de organizar o planejamento e orientar a textualização, a fim de que nenhum
episódio seja esquecido.
¡ Textualização: construção do texto propriamente dito. A partir da lista elaborada na etapa de
planificação, cada aluno vai desenvolver as ideias ali colocadas, utilizando recursos de coesão a
fim de garantir a coerência de sua carta.
¡ Revisão: se necessário, essa etapa pode ser feita em mais de um momento. Em determinada aula,
proponha que os alunos revisem a ortografia de seu texto; em outra, a paragrafação; em outra, o
conteúdo trabalhado; em outra, a coesão e a coerência; em outra, a adequação ao gênero carta, e
assim por diante. A revisão pode ser feita apenas pelo autor de cada produção, ou por um colega
que dê sugestões para melhorá-la.

Para saber mais


“A trajetória do trabalho no Brasil”, de Andrelize Aparecida Wosch. Disponível em: <https://
acervodigital.ufpr.br/handle/1884/42902>. Acesso em: 29 maio 2018.
O artigo traz um panorama interessante sobre as relações de trabalho que permeiam nossa
sociedade, e mostra como elas vêm se transformando desde a escravidão até a contemporanei-
dade. É uma boa fonte para você, professor, ampliar seu repertório e, assim, contribuir melhor
com as discussões acerca das relações entre Carlos e Chico e entre seus pais.
Mocambos e quilombos: uma história do campesinato negro no Brasil, de Flávio dos Santos Go-
mes. São Paulo: Claro Enigma, 2015.
Esse livro traz um retrospecto das comunidades negras no Brasil, narrando suas lutas e
conquistas desde a escravidão, passando pela criação dos quilombos e pela situação atual das
comunidades quilombolas. Sua leitura certamente vai ajudá-lo a dar mais repertório aos alunos
no momento da discussão sobre os quilombos, que aparecem na narrativa sob a forma da “Ilha
Quilomba”.

O mistério da ilha 7
Fazendo arte
Explore com os alunos as ilustrações da obra:
¡ “As imagens são bem definidas ou não? Será que essa foi a intenção do ilustrador?”
Aproveite esse momento para mostrar aos alunos que nem todos os movimentos artísticos têm a proposta de retratar a reali-
dade. Alguns, como o Impressionismo, por exemplo, têm como principal fundamentação a ideia de transmitir o modo como o
artista enxerga o mundo à sua volta.
¡ “Na ilustração da página 12 aparece, no canto, o rosto de um menino. Por que isso acontece?”
Leve os alunos a perceber que esse é o ponto da narrativa que “apresenta” o Chico, ou seja, a primeira vez que ele aparece. A
ilustração acompanha esse momento, também “apresentando” o menino.
¡ “Que elementos da cultura africana podem ser encontrados nas ilustrações?”
As ilustrações das páginas 34, 38, 39, 42 e 45 trazem elementos da cultura africana no vestuário dos personagens, nos objetos,
nos tecidos, nos cenários... Explore esses elementos com os alunos.

Entendendo os quilombos
Em um trabalho em conjunto com os professores de História e Geografia, aprofunde-se com seus
alunos no estudo dos quilombos. Esse assunto permitirá discutir, simultaneamente, várias temáticas:
a situação dos negros no Brasil; as relações de trabalho desde o período da escravidão; os impactos da
escravidão em nossa economia e nas organizações sociais coletivas.
Comece propondo que os alunos pesquisem quais foram os principais quilombos do Brasil. A partir
da pesquisa trazida por eles, promova uma discussão e, em seguida, peça que investiguem quais deles são
considerados, hoje em dia, áreas remanescentes de quilombos e quais abrigam comunidades quilombolas.
Socializadas as descobertas, discuta as formas de organização social: em uma comunidade quilom-
bola, tanto o trabalho quanto a produção econômica são coletivos. Quais as dificuldades e quais os
benefícios dessa prática?

Leia também
Um quilombo no Leblon, de Luciana Sandroni. Rio de Janeiro: Pallas, 2011.
Por meio da ficção, narram-se eventos que ajudam a delinear como foram os últimos anos
de escravidão no Brasil, com histórias de um quilombo no Leblon.
Bucala: a pequena princesa do Quilombo do Cabula, de Davi Nunes. São Paulo: Uirapuru, 2015.
Bucala, como o título do livro diz, é uma princesa quilombola. No quilombo onde vive com
seus pais, o que mais a encanta são as histórias contadas por um homem de barba branca.
O tesouro do quilombo, de Ângelo Machado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
Um garoto acostumado às paisagens urbanas conhece novos amigos quando vai à fazenda
de seu pai. Com eles, começa a descobrir coisas fantásticas sobre o Quilombo do Ambrósio, que
realmente existiu.

Referências bibliográficas
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília, DF, 2017.
Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/04/BNCC_19mar
2018_versaofinal.pdf>. Acesso em: 29 maio 2018.
LERNER, Delia. A autonomia do leitor. Uma análise didática. In: Revista Projeto. Revista da Educa-
ção, n. 4. Porto Alegre, maio de 2002. p. 127-142.
PETIT, Michèle. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. São Paulo: Editora 34, 2008.
YUNES, Eliana. Tecendo um leitor: uma rede de fios cruzados. Curitiba: Aymará, 2009.

O mistério da ilha 8

Você também pode gostar