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Relato de um Cruzado
Aires A. Nascimento
Introdução de
Relato de um Cruzado
DE EXPUGNATIONE LYXBONENSI
A CONQUISTA DE LISBOA
Relato de um Cruzado 1
O. Saudação.
5. A cidade de Lisboa.
pio, de tal modo que não ficaria bem que, estando ligados
por um pacto de solidariedade humana e por um vínculo
de concórdia da mãe de todos, nós vivêssemos
desagradados'" uns com os outros.
Nós, pela nossa parte, não vimos a esta cidade, que está
na vossa posse, para vos lançar fora daqui nem para vos
espoliar. Uma coisa tem, efectiva-mente, sempre consigo
a inata benignidade dos cristãos, é que, embora
reivindique o que é seu, não rouba o alheio. O território
desta cidade reivin-dicamo-lo como sendo nosso por
direito; e, por certo, se em vós alguma vez tivesse
medrado a justiça natural, sem vos fazerdes rogados, com
as vossas bagagens, com haveres e pecúlios, com
mulheres e crianças, vos poríeis a caminho da terra dos
mouros de onde viestes, deixando a nossa para nós.
Por ora, ide-vos daqui, pois não vos está aberto o acesso à
cidade se não 0 forcejardes à espada. Efectivamente, de
nada valem para nós as vossas ameaças e a vozearia de
bárbaros, cuja valentia conhecemos melhor que a língua.
Quanto às ameaças de desgraças fatídicas e irrefragáveis
que augu-rais, dependem do futuro, se é que alguma vez
hão-de acontecer; e, por certo, seria loucura viver em
angústia demasiada quanto ao futuro e não seria outra
coisa que atrair misérias sobre si sem necessidade. Há
que dispensar, pois, os bons oficios do vosso consolo e
diferir o que, embora não se podendo resolver, a timidez
do nosso espírito nos aconselhe a experimentar. É que o
temor quando é persistente e de tal maneira pungente
que roça pelas reali-dades extremas estimula os
entorpecidos a serem audazes e o valor toma-se tanto
mais vivo quanto é fustigado por uma necessidade
inevitável.
Aconteceu com isso algo que provoca riso, como foi o caso
de uns fla-mengos que montavam vigia no interior das
ruínas de umas casas e, depois de terem comido figos até
ficarem saciados, deixaram uma porção deles naquele
sítio; aperceberam-se disso quatro mouros e como aves
que se pre-cipitam para o isco, às escondidas e pé ante
pé, aproximaram-se; advertindo nisso, os flamengos (que
era para os atraírem que costumavam com bastante
frequência espalhar restos daquela natureza por aqui e
por ali), acabaram, no caso, por estender umas redes nos
sítios costumados e apanharam três dos mouros que
nelas se deixaram envolver. O caso foi depois motivo de
grande galhofa.
NOTÍCIA DA FUNDAÇÃO
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