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Agenciamentos tecnosemiológicos e produção

ARTIGO ARTICLE
de subjetividade: contribuição para o debate
sobre a trans-formação do sujeito na saúde

Techno-semiotics assemblage and subjectivity


production: a discussion about the trans-formation
of the subject in the health area

Ricardo Rodrigues Teixeira 1

Abstract This article intends to raise a few Resumo Este artigo se propõe a levantar al-
points to be debated, about the transformation gumas questões para o debate em torno da te-
of the subject in the health area. It offers a con- mática da transformação do sujeito no campo
ceptual frame that seems to be especially useful da saúde, oferecendo um quadro conceitual
to explore the relationships between some “ob- particularmente útil para explorar as relações
jective conditions” that we produce as social entre algumas “condições objetivas” que pro-
workers – and will be treated in terms of a duzimos como trabalhadores sociais, tratadas
techno-semiotic environment –, and the col- em termos de um meio tecnosemiológico, e os
lective processes of subjectivity production. processos coletivos de produção da subjetivi-
Key words Subjectivity, Technologies, Semi- dade.
otics, Communication, Health Palavras-chave Subjetividade, Tecnologias,
Semiótica, Comunicação, Saúde

1 Departamento de
Medicina Preventiva,
Centro de Saúde Escola
Samuel B. Pessoa,
Faculdade de Medicina
da USP. Av. Dr. Arnaldo,
455/2o andar – 01246-903
– São Paulo – SP
ricarte@usp.br
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Teixeira, R. R.

Há liberdade para o homem todas as vezes que de vista, nas conversas – reais e imaginárias –
ele chegar, intelectualmente ou afetivamente, à que mantemos com possíveis interlocutores.
mais íntima relação que existe entre Sujeito e A presente intervenção, como mais um mo-
Objeto. Agostinho da Silva mento dessa conversa, é privilegiadamente di-
rigida aos “trabalhadores sociais” (cf. infra de-
Este texto foi originalmente elaborado para finição de Guattari & Rolnik, 1986), particular-
apoiar minha exposição oral no debate sobre mente àqueles que vêm atuando no campo da
“A trans-formação do sujeito na saúde”, du- saúde coletiva, oferecendo-lhes uma possível
rante o VI Congresso Brasileiro de Saúde Co- “imagem para se pensar” (Deleuze & Guatta-
letiva (Salvador, de 28 de agosto a 1o de setem- ri, 1991), uma possível imagem para pensar
bro de 2000). Apresento, a seguir, sua adapta- como, com seu trabalho, com suas ações, par-
ção para um artigo, mas conservando seu ca- ticipam da formação (que é sempre trans-for-
ráter original de uma peça dirigida a levantar mação) do sujeito.
questões para o debate. Faço um pouco mais Essas conversas são, igualmente, o diapa-
que isso: traço um quadro prévio, do qual pre- são em que afinamos as elevadas motivações
tendo fazer que derivem as autênticas ques- ético-políticas que dominam o campo da saú-
tões para o debate. de coletiva e que sustentam a compreensão
Esse quadro prévio é, no fundo, a explici- mais amplamente partilhada, por essa comu-
tação do modo como entendo estar substan- nidade de atores sociais e políticos, do senti-
tivamente colocada a questão mais geral da do geral dessa trans-formação. Foi assim, por
trans-formação do sujeito. Ofereço, como é exemplo, que, num outro momento dessa in-
inevitável, um ponto de vista particular sobre finita conversa, considerei como um desafio
o problema. Esclarecerei, rapidamente, de que especialmente endereçado a este debate, a ques-
lugar falo e a quem me dirijo e, desse modo, tão lançada por Carmem Teixeira (2000), no
justifico um pouco a particularidade da mi- último boletim da Comissão Organizadora do
nha contribuição. Congresso: “como formar o sujeito da saúde
A questão do sujeito interessa-me central- coletiva?” Sua feliz colocação não apenas nos
mente, mas minha aproximação do tema de- lembra da formidável tarefa formadora que ca-
corre, em grande medida, da posição que ocu- be ao campo da saúde coletiva, mas ressalta,
po, como trabalhador e pesquisador, no am- uma vez mais, que a idéia de trans-formação
plo universo da saúde coletiva, que eu defini- contém a idéia de formação. Na mesma linha
ria como uma posição marcada por um inten- de preocupação, coloca uma questão ainda
so interesse pela problemática da inovação tec- mais fundamental: como criar “o espaço pe-
nológica (particularmente na área da preven- dagógico capaz de estabelecer um olhar sin-
ção e dos cuidados primários em saúde). Um gular, inovador?” Não seria incorreto dizer que
intenso interesse pelos processos culturais (ma- minha contribuição para o debate se restringe
teriais e imateriais) em jogo (e, mais especifi- a procurar responder a essa única indagação,
camente, pelas chamadas questões de comu- já que é possível se dizer que o meu principal
nicação e de educação em saúde). Dito de um esforço é o de examinar as reciprocidades que
modo ainda mais genérico, trata-se da proble- se estabelecem entre um dado “espaço peda-
mática propriamente humana das técnicas, das gógico” e a constituição de um olhar, que é
diferentes culturas tecnológicas, o meu princi- sempre de um sujeito e, oxalá, que possa ser
pal foco de preocupações. É dessa perspecti- singular e inovador... E poderia começar pela
va, de quem transita pelo campo da saúde com própria idéia de um “espaço pedagógico”, que
tais preocupações, que foi se delineando um nos remete imediatamente a um conceito in-
certo olhar e um certo modo de levar em con- troduzido por um dos autores que mais tem
ta a questão do sujeito, da sua formação, da sua iluminado a compreensão das questões trata-
trans-formação – o que se reflete, por exem- das a seguir: o filósofo francês Michel Serres
plo, na busca de certas referências teóricas, no (1995). Ele define a sociedade contemporânea
estudo de determinados autores, num mergu- precisamente como uma “sociedade pedagó-
lho em linhagens filosóficas bem específicas. gica” (Teixeira & Costa, 2000). Na concepção
É claro que nossos pontos de vista e nos- desse autor, todo “espaço social”, todo “espa-
sas falas também são, em outra boa medida, ço de relações sociais” se constituiria e opera-
moldados “de fora”, no entrechoque com ou- ria um pouco como um “espaço pedagógico”.
tros discursos, no diálogo com outros pontos Eu parto de concepções assemelhadas, que,
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ademais, nos aproximam da idéia grega antiga mais tratou da questão do sujeito propriamen-
de paidéia (étimo da palavra “pedagogia”), que te dita. Ele fala no cogito, no pensamento, na
significava a educação das crianças e o ensino consciência, na alma, na interioridade. Quem
das técnicas, mas também a idéia de cultura, transformou o cogito cartesiano em sujeito foi
aquilo que definia a especificidade da cultura o idealismo alemão: foi Kant, foi Fichte. No
grega frente a todos os outros povos da Anti- século XVII, “sujeito” não era um tema muito
güidade, conforme nos ensina Werner Jaeger em voga. E não é que ainda não fosse um tema
(1995), em seu célebre tratado sobre a “forma- em voga, um tema que só apareceria mais tar-
ção do homem grego”. O modo como pretendo de. Segundo os estudiosos de história da filo-
abordar o problema vai nessa direção, mas se sofia, a noção de sujeito faz sua primeira apa-
serve de conceitos próprios, imanentes a um rição ainda na Idade Média, quando Guilher-
campo de problemas próprios, e que serão su- me de Ockham introduziu a idéia de “direito
mariamente apresentados a seguir. subjetivo” – que, de resto, ainda não cessamos
Afinal, que contribuição pode dar para am- de explorar, como na idéia de um “sujeito de
pliar a compreensão da problemática do su- direitos”, tão fundamental para as concepções
jeito, alguém que se diz fundamentalmente in- contemporâneas de democracia (Chauí, 1997).
teressado pela problemática das técnicas, uma Digo isso, apenas para nos precavermos contra
vez que não se discute que as técnicas encon- o “novidadismo” e percebermos que o concei-
tram-se situadas no pólo oposto ao dos sujei- to tem história, marcada por irrupções e sub-
tos, isto é, no campo dos objetos? mersões e que a força que ganha neste final de
Bem, de um modo simplificador, impreci- século, ela mesma precisa ser compreendida.
so, mas válido como provocação introdutória, Mas, enfim, no esquema básico instaura-
posso dizer que minha contribuição para o de- do por Descartes, filtrado pelo idealismo ale-
bate consiste exatamente em falar sobre as mão e do qual pretendo me afastar, temos que:
trans-formações do sujeito através das trans- (1) o sujeito é sempre um indivíduo, um ho-
formações nos objetos ou, mais amplamente, mem em carne e osso; (2) esse sujeito indivi-
nas chamadas dimensões “objetais” da reali- dual é sempre um sujeito universal, isto é, ain-
dade... Para lograr meu intento, precisarei mi- da que esse sujeito corresponda sempre a um
nimamente expor não uma teoria, porque não homem com todas as suas propriedades par-
é a ocasião para isso, mas um breve mapa con- ticulares, é preciso que não corresponda a tal
ceitual alternativo àquele que dispomos mais ou qual homem em particular, mas àquilo que
consensualmente para tratar dessas questões. no homem é idêntico em todos: a razão uni-
Com ele, ficará logo visível que é a própria uti- versal. Essa concepção de sujeito, não é demais
lidade das noções tão familiares de sujeito e lembrar, corresponde perfeitamente à cisão
objeto que estará sendo, de uma certa forma, corpo/espírito, onde só o espírito é universal.
questionada. E isso, em favor de duas noções Aqui, essa concepção será contestada em blo-
alternativas, que pretendo demonstrar serem co. É do “sujeito transcendental” kantiano que
mais adequadas para o tratamento das ques- pretendo me afastar e, sobretudo, não parti-
tões em foco: a noção de subjetividade, por um lharei da preocupação extremada deste filóso-
lado, e a noção de agenciamentos tecnosemioló- fo em separar aquilo que se refere ao sujeito
gicos, por outro. Procurarei ser tão claro quan- daquilo que pertence ao objeto. Por outro la-
to possível, tendo que ser ao mesmo tempo do, isso não quer dizer que saltarei automati-
breve. camente para o sujeito heideggeriano, o sujei-
Comecemos pela noção de “sujeito”. Ou to da filosofia pós-“giro lingüístico”, esse su-
melhor, por que não “sujeito”? Ou, ainda me- jeito que não é mais origem, mas um efeito se-
lhor, de que “sujeito” não tratarei? cundário da linguagem, já em aberta afronta
Não tratarei aqui, antes de mais nada, do às concepções metafísicas de sujeito. Aqui, pro-
sujeito como algo do domínio de uma supos- curarei abandonar o terreno cultivado pela
ta natureza humana, conforme determinadas metafísica por outras vias. De um certo mo-
concepções oriundas da filosofia clássica e que do, e fazendo justiça a um predecessor de Hei-
marcaram toda uma tradição das ciências hu- degger, os meus caminhos seguem muito mais
manas. Do mesmo modo, não se trata do su- as pistas pioneiramente abertas na moderni-
jeito como a peça fundamental da teoria do dade por aquele que, de fato, iniciou a demo-
conhecimento, conforme a invenção cartesia- lição “a golpes de martelo” do edifício meta-
na, ainda que, devemos lembrar, Descartes ja- físico: Nietzsche (Pelbart, 1997).
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Teixeira, R. R.

Assim, devo esclarecer, de maneira abre- de uma noção de subjetividade que não se
viada, que “sujeito” é esse que não é um indi- prende verticalmente a qualquer “ontologia”
víduo (e nem mesmo está centrado no indiví- particular, ela não reconhece instância algu-
duo), que não é universal (e nem sequer cons- ma de determinação dominante que guie as
titui uma totalidade), que não se separa com outras instâncias segundo uma causalidade
precisão de seus “objetos” (e, de fato, estão va- unívoca; os elementos que engendram a sub-
riavelmente acoplados) e que nem se prende jetividade não mantêm relações hierárquicas
verticalmente a uma “ontologia” particular (e, obrigatórias e definitivas, o que não quer di-
de fato, se produz em processos multíplices e zer que não haja, a cada vez, em cada situação
heterogêneos, que se dão em vários níveis e es- concreta, uma hierarquia de determinação ou,
calas diferentes). Para isso, para tratar desse melhor dizendo, uma hierarquização dos fa-
outro “sujeito”, darei preferência à noção de tores condicionantes dos modos possíveis de
subjetividade. subjetivação. Trata-se, portanto, de uma hie-
Temos, então, em primeiro lugar, a subje- rarquização intensamente contextual, varian-
tividade como algo não passível de totalização do por completo no tempo e no espaço, jamais
e nem centrada no indivíduo. Uma coisa é a submetida a uma regra universal da psicogê-
individuação do corpo, outra é a multiplici- nese ou da antropogênese (Guattari, 1992). O
dade dos processos que modelam a subjetivi- que quer dizer que, no meu entender, qual-
dade. Nesse sentido, o indivíduo situa-se no quer “ciência da subjetividade” só pode fun-
entrecruzamento de múltiplos componentes cionar no “regime” ou no “paradigma da com-
de subjetividade, ou melhor, de múltiplos ve- plexidade”...
tores de formação da subjetividade. Quando Um último ponto, que ainda considero es-
digo que a subjetividade é concebida como al- sencial abordar nesta breve discussão sobre a
go modelado, fabricado, produzido, por pro- noção de subjetividade, diz respeito à sua rela-
cessos que não se dão no indivíduo, mas que ção com o chamado “mundo objetivo”. É cla-
o atravessam, processos esses que podem ser ro que a contrapartida desse desmanche da vi-
ditos coletivos e sociais, não quero fazer desa- são de um “sujeito-substância ativo” de um la-
parecer nem diminuir as dimensões indivi- do só pode ser o desmantelamento da visão de
duais nos processos de subjetivação. Numa um “mundo objetivo inerte” de outro. O es-
síntese, poderia dizer que a subjetividade é quema, que ora apresento, propõe uma visão
produzida tanto por instâncias individuais, da realidade como autênticos “encaixes frac-
quanto coletivas e institucionais. O mais im- tais de subjetividade e objetividade” (Lévy,
portante, em todo caso, é essa idéia de algo 1993). O deslocamento de uma visão a outra
produzido. Ela é inteiramente simétrica à refu- passa por compreender o quanto os chamados
tação bergsoniana das teses da fenomenologia “objetos” são “sujeitos” ou, pelo menos, “ato-
que definiam a consciência como “consciên- res”, no mesmo movimento em que se busca
cia de alguma coisa” e a sua proposição de que compreender que a chamada subjetividade se
a consciência não é “consciência de”, a cons- compõe de múltiplas dimensões “objetais”.
ciência é “coisa” (Bergson, 1997); aqui tam- Ora, tudo aquilo que produz diferença em
bém, não se trata apenas do sujeito como “su- uma rede, em um sistema, enfim, no mundo,
jeito de alguma coisa” ou “de uma ação”, mas pode ser considerado um ator e todo ator se
da subjetividade como “coisa” e “coisa produ- definirá a si mesmo pela diferença que pro-
zida” (Deleuze, 1988; Foucault, 1990). duz. Dentro dessa definição, creio que seria
Quando, no princípio, me propus a tratar até certo ponto desnecessário se estender de-
as transformações do “sujeito” a partir das mais demonstrando o quanto, por exemplo,
transformações na esfera “objetiva”, muitos objetos técnicos (estes de uma maneira parti-
podem ter imaginado que iria repetir os siste- cularmente flagrante) são efetivamente atores
mas de determinação do marxismo clássico, nos processos sociais em que estão envolvidos.
do tipo “infra-estrutura material/supra-estru- O que me parece fundamental é discutir co-
tura ideológica”. Mas, já ao considerar a subje- mo “atuam” os objetos técnicos.
tividade sob o ângulo da produção, temos que Mas, antes de passarmos a essa discussão
ela recai, de maneira surpreendente, muito sobre os objetos técnicos, ponto central e final
mais no campo da “infra-estrutura” do que da da minha intervenção, abandonemos este re-
“supra-estrutura”, onde seria classicamente si- gistro excessivamente teórico e abstrato e sal-
tuada. Além disso, como já disse, trata-se, aqui, temos para um plano de exemplos prosaicos,
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para que me faça melhor entender. Escolho, (Um parêntese: à pergunta – como criar um
aliás, o exemplo mais popular possível para espaço pedagógico capaz de estabelecer um olhar
nós, brasileiros: o futebol. singular e inovador? – poderia acrescer: como
O exemplo não é meu; aparentemente, seu fazer-sociedade de maneira flexível, intensa e
autor é o já citado Serres (como tenho um co- inventiva, sem fundar o coletivo no ódio do di-
nhecimento restrito de sua vastíssima produ- ferente ou sobre algum mecanismo vitimizador
ção, lamento desconhecer se este exemplo é, ou na referência a uma lei ou indivíduo trans-
eventualmente, mencionado em alguma de cendentes? Pois bem, voltemos aos gramados...)
suas obras) e nos é relatado por um de seus jo- Em campo, não basta detestar o adversá-
vens discípulos, o também filósofo francês rio. É preciso estudá-lo, compreendê-lo, prevê-
Pierre Lévy, que o definiu como um perfeito lo, adivinhá-lo; é preciso, sobretudo, coorde-
“teorema antropológico dos estádios” (Lévy, nar-se com os seus pares “em tempo real” (se
2000). Ele opera por uma comparação polari- me permitem o jargão “informático”); é pre-
zada entre o que eu, no presente contexto, cha- ciso reagir fina e rapidamente “como um úni-
maria uma “subjetividade das arquibancadas” co homem” (não é assim que se diz no jargão
e uma “subjetividade do gramado”. Notem que futebolístico?) ...
não me refiro a uma “subjetividade dos torce- A questão é: quem permite esta genial si-
dores” nem a uma “subjetividade dos jogado- nergia em campo?
res”, o que seria uma generalização indevida. Um objeto singular: a bola. Em campo, o
Mas há algo como uma produção coletiva de que vincula e faz a mediação social não é algo
subjetividade fundamentalmente distinta nes- transcendente, nem está fora de alcance. Pelo
tes dois contextos, na total dependência de de- contrário, é algo que passa de mão em mão, ou
terminadas “condições objetivas”. O exemplo melhor, de pé em pé. A viva unidade dos joga-
tem a imensa virtude da simplicidade. Come- dores (que faz de cada equipe “um único ho-
cemos, observando o que se passa em cada caso. mem”) se organiza em torno de um “objeto”,
Inicialmente, o que se passa nas arquiban- por assim dizer, imanente. Trata-se de um ser
cadas? Os torcedores de um mesmo time, to- que circula entre todos; trata-se do “centro”
dos juntos, em uníssono, gritam ao mesmo da partida, mas um centro móvel e que desig-
tempo, as mesmas palavras de ordem. Neste na, a cada momento, cada jogador, como o pi-
caso, os atos individuais não se distinguem, vô transitório do time, este grupo inteligente
nem se entrelaçam para fazer história. (infinitamente mais inteligente como grupo,
O que é totalmente distinto do que se pas- do que o grupo que temos reunido nas arqui-
sa no gramado! Ali, cada jogador realiza ações bancadas!), porque só tem a si mesmo como
nitidamente diferentes das dos outros, ainda referência. A bola pode ser considerada o pro-
que todas elas visem à coordenação, todas elas tótipo de um “objeto-vínculo”, um objeto ca-
busquem se co-responder, busquem fazer sen- talisador da subjetividade coletiva, de um cer-
tido umas em relação às outras. Ali, cada ação to tipo de subjetividade coletiva. Serres (1995)
intervém numa história coletiva, cada jogador denomina este tipo de objeto de um “quase-
com seus atos intervém diferentemente no cur- objeto”. No contexto da presente intervenção,
so de uma partida não decidida. Em campo, é um tal objeto corresponde àquilo que venho
preciso estar atento não apenas aos atos dos chamando simplesmente de “objeto” e, segun-
adversários, mas também – e isso é fundamen- do Lévy (2000), este “objeto” não é algo co-
tal! – àquilo que se trama na sua própria equi- nhecido pelos animais...
pe, para que os atos de seus companheiros não Nesse sentido, os animais não têm “obje-
sejam em vão. to”. Eles podem ter uma presa que, de uma cer-
Enquanto isso, nas arquibancadas, os tor- ta forma, é um “proto-objeto”. E a caça susci-
cedores, evidentemente, não têm qualquer ta relações que podem ser de cooperação ou
ação possível no jogo que, entretanto, os reú- disputa, sendo, assim, uma espécie de opera-
ne ali, naquele instante. O campo lhes está in- dor primitivo da socialização. Mas o destino
teiramente fora de alcance. Pode-se dizer que da presa é ser devorada, é ser incorporada, ser
aquilo que os vincula no estádio é algo absolu- assimilada por esse “proto-sujeito”. Felizmen-
tamente transcendente em relação ao coletivo te para nós, um jogador só devora a bola, num
a que pertencem. Pode-se dizer que, neste ca- sentido figurado.
so, fazer-sociedade se resume a ser a favor ou Os animais também mantêm fortes rela-
contra, a amar alguns e a vaiar outros. ções com um território, demarcando-o com
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Teixeira, R. R.

seus odores corporais ou com a extensão de seu por isso mesmo, nenhuma definição coincide
canto, como no caso dos pássaros. Mas, neste mais perfeitamente com a definição, que vi-
caso também, o território ainda não é um “ob- mos construindo até aqui, de um “objeto” emi-
jeto”, pois ele funciona como um elemento de nentemente humano, do que a definição mais
apropriação e identificação exclusiva. Tam- geral de um objeto técnico: todo e qualquer ar-
pouco já vimos um jogador que pretendesse a tefato que passe de “mão em mão” durante os
apropriação exclusiva da bola (quando o faz, trabalhos e a vida coletiva, catalisando as re-
dizemos que é “fominha”, e só é perdoado des- lações sociais.
sa “falha” se fizer uma bela jogada individual; Esse “objeto” pode ser, por exemplo, um
isso também se dá em certas atitudes “infan- objeto referido a um “espaço de conhecimen-
tis”, mas que são situações que significam jus- to”, como uma “mensagem” ou uma “informa-
tamente o fim do jogo). Para que um objeto ção” (e não faltam esquemas teóricos para con-
seja um “objeto” num sentido eminentemen- siderar os objetos técnicos em termos de “co-
te humano, é preciso que passe de mão em nhecimento”, “mensagem” ou “informação” –
mão, de sujeito a sujeito, e por isso a bola ilus- o exemplo mais banal é a cibernética, mas pen-
tra tão maravilhosamente bem este “objeto” so, em primeiro lugar, na obra do mais impor-
(um outro protótipo deste tipo de “objeto” – tante filósofo da técnica neste século: Gilbert
é quase impossível não lembrá-lo neste pon- Simondon [1989], sem falar na atualidade das
to – é o dinheiro, a moeda. E bastaria que to- ferramentas de informática em nossas vidas
dos a guardassem num cofre ou embaixo do cotidianas, fazendo a mais espetacular de-
colchão, isto é, bastaria a sua apropriação ex- monstração prática da natureza informacio-
clusiva e a interrupção da sua circulação, para nal dos objetos técnicos; e também não nos fal-
por fim ao jogo, para fazer ruir toda a estru- tam teorias para pensar todo “conhecimento”,
tura econômica). “mensagem” ou “informação” como artifícios,
Contudo, neste “objeto” não queremos ape- artefatos, como algo construído). Nesse terre-
nas destacar a sua propriedade “hominizado- no, também podemos identificar um certo ti-
ra” e “socializante” em geral, mas enfatizar, so- po de desdobramento da polaridade observa-
bretudo, que estas propriedades são da ordem da no “teorema antropológico dos estádios”.
da modalidade, isto é, que um “objeto-víncu- Os exemplos são sempre muito simples. Pen-
lo” particular não instaura nenhuma “humani- semos apenas em dois contextos técnicos dis-
dade” ou “sociedade humana” em geral, mas tintos: num, a “mensagem” passa (é difundi-
diferentes modos de “ser humano” e “fazer-so- da) por um meio eletrônico de radiodifusão,
ciedade”. como o rádio ou a televisão (as chamadas re-
A história da humanidade (começando pe- des de broadcasting), noutro, passa (é distri-
lo seu nascimento) pode ser contada como uma buída) por um meio eletrônico onde produ-
sucessão de surgimentos de “objetos” (come- tores e exploradores das “mensagens” se con-
çando, segundo os paleoantropólogos, pelo fundem, como na internet (nas chamadas re-
surgimento de um objeto técnico), cada um de- des interativas ou de “hipertextualização”): a
les indissociáveis de uma particular dinâmica diferença em termos das socialidades que ins-
social e subjetiva, indissociáveis de um parti- tauram e das subjetividades que induzem po-
cular “regime de subjetividade” ou, melhor de ser a diferença entre os torcedores impo-
(para dar um acento marxiano!), de um par- tentes e os jogadores com suas pluripotencia-
ticular “modo de produção de subjetividade”. lidades. É interessante notar, entretanto, que
Na duração antropológica, objetos, sujeitos e estes meios técnicos induzem, mas não deter-
sociedades se criam no mesmo movimento. To- minam absolutamente as formas de socialida-
da mudança social e trans-formação dos “su- de ou subjetividade, já que tudo depende dos
jeitos” implica a invenção de novos “objetos”. agenciamentos coletivos com que vêm se ar-
Para progressivamente irmos nos reapro- ticular, já que raras vezes podemos levar em
ximando da proposição inicial – de levar em conta um meio técnico isolado e tudo funcio-
conta fundamentalmente as dimensões tecno- na muito mais em termos de agenciamentos
lógicas do trabalho em saúde, para pensarmos compósitos e redes técnicas heteróclitas. Dou
o problema da trans-formação dos sujeitos –, exemplos: sabemos que o celular possibilitou
consideremos agora o objeto por excelência uma transformação completa da socialidade
da “hominização”, da “socialização humana”: imposta pelo rádio – do meio de difusão por
o objeto técnico (Leroi-Gourhan, 1964). Ora, excelência do fascismo nos anos 30 (McLuhan,
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1971), ao meio interativo produtor de uma es- di, que com lucidez apaixonada tratou o espa-
pécie de inteligência coletiva na hora do rush ço arquitetônico-urbanístico como um autên-
nas grandes megalópoles engarrafadas –; por tico “espaço pedagógico” e fez de sua ativida-
outro lado, sabemos que existem várias tenta- de construtora uma potente ferramenta de
tivas de captura da rede interativa pela “ideo- trans-formação e emancipação do homem, já
logia” do broadcasting introduzindo na rede havia compreendido tudo isso há mais de trin-
mundial a chamada tecnologia push dos ca- ta anos e tentou tocar-nos com sua especial
nais de web, ou ainda, as tentativas de intro- sensibilidade, antes que os antigos e pobres
duzir sistemas de controle na rede, como ten- moradores do belo Pelourinho, em Salvador,
tam fazer os cookies e sistemas de data-mining, fossem despejados. O que se despejou foi to-
amaldiçoados pelos internautas libertários. da uma poderosa força de produção de subje-
São batalhas tecnopolíticas ainda não decidi- tividade da qual permanecemos, muitos de
das! E existem ainda as falsas “interatividades”, nós, infinitamente distantes, alheios, aliena-
as coisas que mudam para não mudar, reve- dos. O Pelourinho continua belo, mas sua be-
lando a vocação regressiva de certos meios “de leza é outra e instauradora de outras subjetivi-
massa”, quando por exemplo a interação pro- dades. A beleza do Pelourinho hoje tem algo
posta é do tipo “você decide”: o que temos sem- da beleza de uma locação cinematográfica e
pre é uma “subjetividade de arquibancada”, do parece mais relacionada a uma “subjetividade
tipo sim ou não, contra ou a favor. de flanneur”, de turista, a um olhar superficial,
Notem que, até aqui, todas as considera- de passagem. Pouco restou dos outros olhares
ções sobre os diferentes meios técnicos tomam que já habitaram os sobradões... O que não im-
como relativamente indiferente os conteúdos pede, é claro, que outros vetores de subjetiva-
das “mensagens” (no melhor estilo mcluha- ção se instalem, que novas subjetividades sin-
niano, do tipo “o meio é a mensagem”!). Para gulares, em permanente reinvenção, venham
tentar esclarecer mais esse ponto, salto de repovoá-los.
exemplos referidos a um “espaço de conheci- Mas, antes de encerrar, deveria ainda dar
mento”, “imaterial”, para pelo menos um exem- algum exemplo que tocasse a especificidade da
plo referido ao nosso “espaço físico” ou de exis- nossa área, já que não somos nem arquitetos,
tência “material”: o espaço urbano (todos, em nem trabalhadores da mídia ou jogadores de
conjunto, constituindo os já mencionados “es- futebol (embora, talvez, sejamos também um
paços pedagógicos”...). pouco tudo isso). Mas, a grande questão, afi-
Pensemos, por exemplo, num cortiço ou nal, é exatamente esta: de que modo os objetos
favela como espaços arquitetônico-urbanísti- técnicos que pomos no mundo – com suas espe-
cos e nos estados cognitivos e afetivos extre- cificidades, tão impressionantemente marcan-
mamente marcantes que induz em nós, visi- tes, já que tocam o mais profundamente pos-
tantes e, ainda mais profundamente, naqueles sível a nossa relação com o próprio corpo e o
que nela vivem. Contudo, em primeiro lugar, corpo alheio, com a dor, com o prazer, com o
é preciso realizar um relativo esvaziamento de cuidado de si, com o cuidado do outro, com o
“conteúdos”, principalmente daqueles que ar- sofrimento, com a felicidade, já que tocam o
rastam consigo uma forte carga de julgamen- mais profundamente possível o âmago da pró-
tos, como é o caso de seus “conteúdos” de po- pria vivência do “subjetivo” –, de que modo es-
breza, miséria e precariedade, todos bastante ses “objetos” que inventamos e disponibilizamos
reais. Mas é igualmente real – e é isso que eu participam dos processos coletivos de produção
gostaria de destacar agora – que a “espaciali- de subjetividade? É esse que me parece ser, sem
dade” própria dos cortiços e favelas está asso- dúvida, o questionamento fundamental.
ciada a formas de socialidade e subjetividade Creio já haver discutido, até aqui, o bas-
intensamente mais fraternas e solidárias, do tante a respeito desse “objeto”, para que já pos-
mesmo modo que, nas ruas “tranqüilas” e de- sa iniciar a substituição desse conceito por ou-
sertas (como se fosse possível ficar tranqüilo tro, que, como prometi no início, me parece
num deserto) dos bairros ricos e condomínios bem mais útil: à noção de “sujeito” contrapus
fechados, com seus escassos encontros de vi- a noção de subjetividade; à noção de “objeto”,
zinhos e a hostilidade ostensiva dos aparatos contraponho a noção, que esclarecerei agora,
de segurança, germina o que eu chamaria de de agenciamentos tecnosemiológicos.
uma “subjetividade hobbesiana”... A arquite- Já propus o abandono da idéia de um “ob-
ta italiana, naturalizada brasileira, Lina Bo Bar- jeto inerte”, uma vez que é possível perceber
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Teixeira, R. R.

suas características de “ator” nos processos de posto de interfaces tecnosemiológicas, permito


que participa (definindo “ator” como tudo que nossa reflexão se beneficie das explorações
aquilo que produz diferenças no mundo e des- de Lévy (1993) sobre aquele conceito. E quais
tacando esta propriedade, especialmente, nos são suas idéias básicas?
objetos técnicos). A noção de interface, antes de mais nada,
Ora, a idéia de agenciamento, em primei- remete às operações de passagem entre dois
ro lugar, afirma esse seu caráter “agente” nos “elementos” heterogêneos e que incluem os
processos coletivos de produção de subjetivi- transportes, transmissões, traduções, trans-
dade, retira-os de uma dimensão de “exterio- formações, que se dão no encontro, contato,
ridade inerte”, na qual estão habitualmente lan- comunicação, entre esses dois “elementos”. A
çados. Em segundo lugar, designá-los por es- interface pode ser definida como a “operadora
sa fusão semântica de técnicas e signos, já in- da passagem”.
sinua uma pretendida unificação das dimen- Dentro dessa definição, a interface é con-
sões “objetais” (isto é, das dimensões que se cebida como uma realidade da ordem do mo-
“obstam” à nossa consciência). Numa metáfo- lecular. Já os dispositivos aos quais pretendo
ra ecológica, poderíamos falar em meio tecno- estender este conceito são quase todos da or-
semiológico. Não poderei desenvolver exten- dem do molar, isto é, compreendem estrutu-
samente essa idéia, no momento, mas espero ras compostas e complexas que operam, na
deixá-la implicitamente clara no que exporei a realidade, como uma rede de interfaces. Todas
seguir. O que pomos efetivamente no mundo as técnicas, por exemplo, podem ser analisadas
como objetos técnicos não são meramente tec- em redes de interfaces. Armas, ferramentas, di-
nologias materiais, mas grandes sistemas com- ferentes máquinas, como os dispositivos de ins-
postos e complexos, indistintos e indissociá- crição ou de transmissão, são concebidos preci-
veis de técnicas e signos. samente para se imbricarem o mais intimamen-
O que nos importa, então, é examinar de te possível com módulos cognitivos, circuitos sen-
que maneira se acopla a idéia de produção de soriomotores, porções de anatomia humana e
subjetividade à idéia de um meio tecnosemio- outros artefatos em múltiplos agenciamentos de
lógico (Maturana & Varela, 1998). É nessa dire- trabalho, de guerra ou comunicação (Lévy, 1993).
ção que venho procurando estudar estes últi- Mas não só artefatos são interfaces. Tudo
mos, os diferentes meios tecnosemiológicos; pa- que é da ordem da tradução, do contato, da ar-
ra isso, é importante uma compreensão, ao ticulação, pode ser dito uma interface (por
mesmo tempo, ampla e minuciosa da proble- exemplo, a passagem de um código a outro, um
mática das técnicas. De fato, tem sido de gran- momento de um processo, um fragmento de
de valia considerá-las num plano que pode ser atividade etc.)
dito “microfísico”, isto é, num plano em que o E quais são as características mais funda-
que se leva em conta são suas características mentais do “funcionamento” de uma interface?
de interface, de uma operadora da “passagem”: Toda interface condiciona o modo da cap-
num plano em que são suas propriedades de tura da “informação” que é oferecida aos ato-
“condução” as que primordialmente interes- res da “comunicação” que ela torna possível.
sam. Tenho assumido como tarefa fundamen- Ela abre ou fecha e, sobretudo, ela orienta os
tal realizar uma espécie de “microfísica das domínios de ação e significação (emoções e
passagens”, reconhecer as moleculações que se linguagem), as utilizações possíveis daquele
processam neste nível e seus efeitos sobre os “meio” que “interfaceia”. Em outras palavras, a
modos de produção de subjetividade. É por aí interface define a dimensão pragmática do “en-
que chego a conceber que diferentes “modelos contro”, isto é, aquilo que pode ser feito com
tecnológicos” possam ser vistos como diferen- a interface, aquilo que pode ser negociado nas
tes políticas de interfaces, cada qual dando ex- fronteiras, no encontro: ...de um ponto de vis-
pressão a distintas poéticas sociais. Acho essen- ta pragmático, todas (as interfaces) são condu-
cial que, para além de toda consideração so- tores deformantes em um coletivo heterogêneo,
bre sua “eficácia”, um dado “modelo tecnológi- cosmopolita. Os mais diversos agenciamentos
co” seja, sobretudo, apreciado e avaliado em compósitos podem interfacear, ou seja, articu-
termos da poética social que propõe e carrega. lar, transportar, difratar, interpretar, desviar,
Quando introduzo o conceito de interface transpor, traduzir, trair, amortecer, amplificar,
para realizar a análise “microfísica” do meio filtrar, inscrever, conservar, conduzir, transmi-
tecnosemiológico, chegando ao conceito com- tir ou parasitar... (Lévy, 1993).
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Dessa perspectiva, podemos dizer que qua- vistas como autênticas secreções do nosso cor-
se tudo é interfaceamento, “porque quase na- po coletivo (Teixeira & Costa, 2000), que ope-
da fala a mesma língua nem segue a mesma ram como desvios, deslocamentos, passagens
norma”, nenhuma “mensagem” se transmite que difratam os fluxos à nossa volta, para pro-
tal qual por um condutor considerado neutro, duzir estados de bem viver (Serres, 1997). Ao
porque atravessa descontinuidades que a trans- fazê-lo, intermedeiam nossa relação com o
formam. Jamais, por exemplo, uma “deman- mundo, com os outros, com nós mesmos, com
da de saúde” se apresenta a um “serviço de saú- o nosso corpo, com essa ou aquela função; al-
de”, num encontro assistencial, sem ser afeta- teram nossas percepções e acabam operando
da pela “forma desta relação”, sem que a captu- “espiritualmente” conosco, sendo co-intérpre-
ra dessa “informação” (a demanda de saúde) tes do nosso mundo. De fato, as tecnologias po-
já não signifique uma metamorfose no seu dem ser vistas como autênticas hermenêuticas.
conteúdo... De uma perspectiva pragmática radical,
E quais as vantagens de se pensar as dimen- pode-se considerar que toda interpretação é,
sões “objetais”, os agenciamentos tecnosemio- a rigor, uma (re)utilização do material lingüís-
lógicos, como interfaces? tico, mas também, inversamente, toda utiliza-
Primeiramente, de modo simétrico ao pró- ção é, no fundo, uma (re)interpretação de ma-
prio conceito de produção de subjetividade aci- terial prévio. É nesse sentido, antes de mais
ma apresentado, essa noção de interface tam- nada, que podemos entender as tecnologias –
bém quebra com a tendência do pensamento toda e qualquer tecnologia! – como herme-
de essencializar as realidades e concebe suas nêuticas. As técnicas, mesmo as mais modernas,
dimensões “objetais” como uma multiplicida- são todas constituídas de bricolagem, reutiliza-
de conectada. Além disso, ela afasta a ilusão ção e desvio (Lévy, 1993). As tecnologias “in-
de que as “informações” possam mudar de su- terpretam” os agenciamentos disponíveis,
porte conservando a sua identidade e faz per- criando novos agenciamentos, heterogêneos
ceber que o que chamamos de “informação” ou não.
é, em grande medida, o efeito das interfaces, Contudo, ao lado desse entendimento mais
dos suportes. genérico das técnicas como hermenêuticas, há
Seguindo essa direção geral, a proposta é um outro que diz respeito, especificamente, às
refletir sobre os possíveis efeitos de subjetivi- tecnologias que afetam mais diretamente a
dade que se produzem nas redes de interfaces. nossa experiência corporal.
E acompanhando as teses de Lévy, também Numa série de conferências sobre o “enig-
penso que esta é fundamentalmente uma re- ma da saúde”, o filósofo alemão Hans Georg
flexão ético-política, já que uma rede de agen- Gadamer (1996) faz reflexões que, a meu ver,
ciamentos tecnosemiológicos, isto é, uma rede iluminam meridianamente esta segunda pers-
de interface, dada essa sua incidência sobre a pectiva de unificação da hermenêutica com a
dinâmica subjetiva e social, é sempre imedia- práxis. Isso porque, seguindo os passos da tra-
tamente uma política de interfaces... dição fenomenológica pós-Husserl, atribui im-
Se quisermos estender radicalmente este portância nuclear à “experiência corporal”, co-
tipo de abordagem ao tratamento das ques- nectando o conhecimento, a compreensão do
tões relacionadas ao complexo “promoção- mundo e, até certo ponto, a subjetividade, “ao
saúde-doença-cuidado”, devemos não apenas modo como a experiência corporal está feno-
rever a separação ontológica sujeito-objeto, menologicamente dada”. Ora, como já advo-
mas igualmente a separação corpo-técnica (nas guei, as tecnologias todas que “secretamos” e
quais se fundam boa parte das concepções bio- com as quais passamos a viver de uma forma
logicistas de saúde) e conceber a saúde como acoplada, modificam, em graus variáveis de
um estado global de equilíbrio instável de di- profundidade, “o modo como a experiência
versos elementos conectados: corpos, ações, corporal está fenomenologicamente dada”. Is-
sensações, sintomas, sinais, signos, técnicas, so já bastaria para que as considerássemos to-
elementos naturais e dispositivos os mais va- das, “tecnologias de conhecimento”.
riados, que se rearranjam continuamente, na Numa de suas belas conferências, Gada-
busca de um estado de saúde que jamais se es- mer cita Rainer Maria Rilke (“Oh life, life, re-
tabiliza. Ponto de equilíbrio móvel, fugidio: maining always outside”), quando este trata
reinvenção permanente da (idéia de) saúde. do movimento de afastamento do mundo ex-
No limite, as técnicas (de saúde) podem ser terior e de “internalização” (inwardization),
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Teixeira, R. R.

que acompanha os estados de dor física inten- rando as características “microfísicas” de um


sa. Para os fins da nossa presente reflexão, o dispositivo técnico bem circunscrito e isola-
fundamental parece estar contido na indagação do, quando, talvez, só passemos a divisar cla-
do filósofo que encerra a passagem: Que con- ramente as grandes linhas de formação cole-
tribuição especificamente humana nós podemos tiva da subjetividade, avançando para planos
dar a estes problemas quando, como médicos, mais molares, considerando não um ou outro
estamos em posse de uma capacidade crescente dispositivo técnico isolado, mas as tecnologias
de controle instrumental sobre o corpo? de organização das grandes redes técnicas, o
Numa recente pesquisa sobre o parto, en- modo, enfim, como funcionam os grandes sis-
volvendo obstetras, obstetrizes e parturientes, temas compósitos e heterogêneos de interfa-
lembro-me de ouvir com freqüência um dis- ces tecnosemiológicas, dos quais é exemplo
curso em favor da analgesia no parto, que afir- privilegiado a grande rede de serviços volta-
mava que, sem a dor, a parturiente “participa” dos para a satisfação de necessidades básicas
mais do parto, pelo menos do que se passa “ex- de saúde.
teriormente”... Não se trata, no momento, de É justamente com este exemplo, dos mais
ser nem contra, nem a favor da analgesia no pertinentes à atualidade do campo da saúde
parto, mesmo porque, não seria essa a discus- coletiva, que gostaria de encerrar esta inter-
são adequada (o que realmente deveria estar venção, e através dele esclarecer mais algumas
sob julgamento e escolha é, por exemplo, de das reciprocidades que se estabelecem entre
que modo a parturiente deseja “participar” do os processos coletivos de produção de subjeti-
acontecimento, entre outras opções vivenciais vidade e a rede de agenciamentos tecnosemio-
que se dissimulam sob escolhas técnicas). lógicos disponíveis.
Ocorre apenas que o exemplo me parece dos Tomemos um serviço de atenção primária
mais privilegiados para se fazer ver o modo à saúde como uma rede de interfaces tecnose-
como uma dada “tecnologia do corpo” partici- miológicas. Dada a impossibilidade, no mo-
pa do processo de conhecimento, podendo ser mento, de se proceder a uma descrição por-
dita, nesse sentido, uma autêntica “tecnologia menorizada de todas suas características de
de conhecimento”, condicionando (isto é, não interface, de suas principais propriedades de
exatamente determinando, mas pré-restrin- “condução”, de toda a complexa rede de flu-
gindo) as possibilidades de conhecimento do xos, passagens, desvios, bloqueios, parasitis-
parto, com ou sem a técnica. Na realidade, a mos, amplificações, traduções, difrações, trans-
questão é ainda mais complexa, porque não se portes (que refazem, sem cessar, algumas das
trata apenas da técnica reinterpretar aquele linhas de interpretação coletiva da existência
acontecimento na medida em que se escolhe por uma comunidade humana), que corres-
utilizá-la. A simples existência da possibilida- ponde a uma unidade de prestação de cuida-
de técnica da analgesia durante o parto ressig- dos básicos de saúde, proponho-me a exami-
nifica completamente a “opção” pelo parto sem nar um dispositivo parcial dessa rede, mas um
a técnica (com dor)... A técnica reinterpreta dispositivo especial, visto que corresponde a
definitivamente o acontecimento e, dessa ma- uma espécie de protocolo geral de comunica-
neira, põe “travas de irreversibilidade” no tem- ção entre todos os elementos que compõem a
po, que só passa agora numa direção: a da rein- rede: a atividade ou, melhor definindo, o con-
terpretação infinita da nossa existência. teúdo de atividade assistencial que passo a de-
Pois bem, já vimos que uma técnica co-in- nominar de acolhimento-diálogo ou acolhimen-
terpreta o mundo, conosco, e que sua simples to dialogado.
presença já é, em si, uma (re)interpretação do Para maior brevidade e poder de síntese,
mundo. É de fundamental importância com- recorro a uma representação gráfica (Figura
preender essa co-atuação das técnicas no mo- 1): trata-se do fluxograma da rede técnica as-
do como experimentamos o mundo, já que o sistencial do Setor de Adultos do Centro de
que está sempre em jogo, em última instância, Saúde Escola Samuel B. Pessoa (Departamen-
é como interpretamos o mundo e o que faze- to de Medicina Preventiva da FMUSP), num
mos com nossos corpos. dado momento de sua evolução (2000), que
Porém, até aqui, os exemplos só examina- não nos interessará por suas especificidades,
ram os “efeitos” produzidos pelos agenciamen- sendo tomado apenas por sua forma geral abs-
tos tecnosemiológicos num plano que pode trata, como um caso de rede técnica assisten-
ser dito molecular, isto é, apenas se conside- cial de uma unidade básica de saúde, em que
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Figura 1
Fluxograma da rede técnica assistencial

visita domiciliar (408) “informações de saúde”


vigilância epidemiológica estatística
parto
163
grupo de resultado dor nas
aleitamento contracepção costas
143 “papa 2”
160
327
auto
cuidado
a. sex. consulta médica agendada 108
30 total = 6.862 queixas
mudanças gestantes = 2.620 (531 c.n.) digestivas
156 crônicos = 2.227 (244 c.n.) 85
mulheres = 1.562 (742 “papas”)
adolescentes = 246 (107 c.n.) a. e. de
tuberculose = 62 (8 c.n.) coleta confirmação
a. s. a “papa 1” 149
entes diabetes
dolesc 412
a lh o com a Butantã 65
b
tra escolas d o
nas a. e. de
a. e. gestante
343 407
a. e. de
adola aferição
p. a.
4 ~230
4.298
(46 sessões)
sala de espera
vacinas
~3.000
7.562 adultos
(151 sessões)
(26.457)

recepção dos não-agendados

recepção geral

cada nó da rede corresponde a um “encontro” des que podem vir a ser satisfeitas. Contudo,
assistencial (individual ou grupal), um mo- é mais do que evidente que essa atividade não
mento de “conversa” envolvendo uma série de se restringe a determinados espaços formal-
atividades técnicas específicas. mente designados para a sua realização, pro-
Os diferentes “encontros” formalmente dis- liferando por todos os encontros assistenciais
postos ao longo da trajetória de um usuário que marcam a passagem de um usuário pelo
pelo serviço podem ser vistos como os mo- serviço, já que nunca se cessa efetivamente de
mentos “sinápticos” de uma fluxografia orga- investigar/elaborar/negociar as necessidades
nizacional em rede, cujos fluxos multidirecio- que podem vir a ser satisfeitas pelo serviço. E
nais, multicombinatórios e flexíveis, interli- é para que não se confunda esse já bem dife-
gam diferentes “módulos de atenção”. renciado conteúdo de atividade com o primei-
O funcionamento ótimo desta rede depen- ro contato de um usuário com o serviço, que
de sobremaneira do desempenho da chamada ele foi distintivamente denominado de acolhi-
atividade de recepção do usuário no serviço, mento-diálogo. Ele desempenha um papel cen-
entendida como espaço primordial de inves- tral no funcionamento da rede, ou, mais exa-
tigação/elaboração/negociação das necessida- tamente, um papel original. E original, não no
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Teixeira, R. R.

sentido de primeiro encontro com o serviço, rísticas “microfísicas” dessa interface, deve
mas porque traduz a ação (passível de se rea- também levar em conta suas dimensões “de-
lizar e que se realiza em qualquer dos encon- clarativas”. Só então aparece com maior clare-
tros através do serviço e não apenas no pri- za o modo como o acolhimento-diálogo defi-
meiro encontro) que origina, que deflagra os ne a dimensão pragmática do encontro, os do-
diferentes possíveis trânsitos dos usuários pe- mínios de ação (emoções), de significação (lin-
lo serviço, por seus diferentes “módulos de guagem) e as utilizações possíveis da própria
atenção”. O acolhimento-diálogo, da perspec- interface. Muito sumariamente, poderia des-
tiva do desempenho global da rede, pode ser crevê-la considerando dois traços principais, já
visto como uma espécie de distribuidor, de indicados nos dois componentes de sua desig-
operador da distribuição, onipresente em to- nação: primeiramente, o acolhimento, que põe
dos os pontos da rede. Sendo tais encontros, em relevo, antes de mais nada, o caráter de um
momentos pautados pelo espírito do entendi- acolhimento “moral” da pessoa (usuária do
mento e da negociação permanente das neces- serviço) e suas demandas (que pode envolver,
sidades a serem satisfeitas, é neles que se de- muitas vezes, um sofrimento importante). Es-
cide a trajetória “necessária” de cada usuário se gesto “receptivo” se faz acompanhar (den-
através do serviço. tro dos limites dados pelas circunstâncias con-
Vê-se, aqui, a total adequação da metáfora cretas, como o bom senso faz supor) de um
da “sinapse”, já que é nelas também que se de- diálogo, que é o segundo traço descritivo des-
cide o essencial da plasticidade desse sistema ta interface. Este diálogo orienta-se pela bus-
de “fluxos” que é o sistema nervoso. No nosso ca de um maior “conhecimento” das necessi-
caso – de um sistema de “módulos de atenção dades de que o usuário se faz portador e dos
à saúde” interligados –, a plasticidade favore- modos de satisfazê-las, o que revela a, talvez,
ce a diversidade de singularizações possíveis, mais fina característica da operação de passa-
já que a maior possibilidade de diferentes gem promovida por esta interface e que está
usuários realizarem diferentes combinatórias dada no pressuposto geral, a pautar todas as
de “atenção” oferece uma margem maior de práticas de “conhecimento” que se dão no ser-
adaptabilidade a estruturas de necessidades viço (das atividades educativas stricto sensu a
bastante diversas, uma maior possibilidade de todas as formas de “conversa” em que se “pes-
se diversificarem as modalidades de acopla- quisa” alguma coisa), de que as nossas neces-
mento estrutural ao sistema (Maturana & Va- sidades não nos são sempre imediatamente
rela, 1998). A diversificação dos usos... Dife- transparentes e nem jamais definitivamente
rentes usuários, diferentes usos. definidas. O papel do acolhimento-diálogo na
(Se houvesse mais espaço para continuar dinâmica organizacional deve ser entendido
estes comentários, poderia ainda falar nas mu- como o resultado de um encontro pautado por
danças que se processam na “sensibilidade” de tais disposições “morais” e “cognitivas”.
uma organização de atenção à saúde, que sofra Creio que já expus o suficiente, até aqui,
uma tal evolução estrutural, nas suas novas para compor um quadro geral que permita
potencialidades “perceptivas”... A biologia con- (re)pensarmos o “sujeito” (ou antes, a proprie-
temporânea também nos ensina que a percep- dade de ser sujeito: a subjetividade) e o papel
ção é inteiramente dependente da estrutura desempenhado pelos “objetos” (entendidos
do organismo que percebe [Maturana & Va- como agenciamentos, como interfaces tecnose-
rela, 1998]. No nosso caso, isso pode signifi- miológicas) na trans-formação do nosso mo-
car, por exemplo, novas possibilidades de ex- do de ser sujeitos.
pressões de demandas... Novos ouvidos, no- Vejo vantagens nesse modo de se colocar
vas vozes.) o problema da trans-formação do sujeito no
Notemos que, até aqui, a descrição das ca- campo da saúde, porque não é pequena a par-
racterísticas de interface do agenciamento tec- ticipação dos “objetos” que pomos no mundo
nosemiológico representado pelo acolhimen- nos processos coletivos de produção de sub-
to-diálogo levou em conta apenas o que se po- jetividade. Essa é, afinal, a definição de “tra-
deria chamar de uma dimensão “procedural”, balhadores sociais” que nos é proposta por Fé-
isto é, de sua participação num agenciamen- lix Guattari: todo aquele que atua de alguma
to sistêmico, de seus efeitos na dinâmica da re- maneira na produção de subjetividade,... tra-
de. Contudo, a descrição completa de suas pro- balhando para o funcionamento desses processos
priedades de “condução”, isto é, das caracte- na medida de suas possibilidades e dos agencia-
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mentos que consigam pôr para funcionar, tudo ver modos de subjetivação singulares, aquilo que
dependendo ... de sua capacidade de se articu- poderíamos chamar de “processos de singulari-
lar com os agenciamentos que assumam sua res- zação”: uma maneira de recusar todos esses mo-
ponsabilidade no plano micropolítico. dos de encodificação preestabelecidos, todos es-
E conclui: Mas, também, quem não traba- ses modos de manipulação e de telecomando, re-
lha na produção de subjetividade? (Guattari & cusá-los para construir, de certa forma, modos
Rolnik, 1986). de sensibilidade, modos de relação com o outro,
Em meio a tantos discursos sobre o sujeito modos de produção, modos de criatividade que
da ação, pretendi dar maior importância à ação produzam uma subjetividade singular. Uma sin-
que cria o sujeito (ou melhor, a ação de pro- gularização existencial que coincida com um de-
duzir a subjetividade). Ousaria afirmar que a sejo, com um gosto de viver, com uma vontade
produção de subjetividade talvez seja mesmo de construir o mundo no qual nos encontramos,
a ação por excelência, a práxis fundamental. com a instauração de dispositivos para mudar
A essa máquina de produção de subjetivida- os tipos de sociedade, os tipos de valores que não
de eu oporia a idéia de que é possível desenvol- são os nossos (Guattari & Rolnik, 1986).

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