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2.1 Conceito
Desde sua origem, o ser humano, ser social que é, aderiu à convivência
em comunidade para preservar sua vida e minimizar as agruras com a
manutenção de sua sobrevivência: primitivamente, a vida coletiva significava a
permanência da espécie.
Como consequência da vida do ser humano em comunidade, a aquisição
e a construção de valores acerca do bem e do mal, do justo e do injusto, do certo,
do incerto e do errado, por força da habitualidade, tornaram-se costumes, regras
aceitas, obedecidas por toda a comunidade e transmitidas por meio das gerações,
constituindo o domínio da ética e da moral (Felizardo, 2012, p. 3).
Nesse sentido, Cortella (2009, p. 102) ensina que a ética é o que marca a
fronteira da nossa convivência – em suas palavras, “é aquela perspectiva para
olharmos os nossos princípios e os nossos valores para existirmos juntos [...], é o
conjunto de seus princípios e valores que orientam a minha conduta”.
No que concerne a um assunto clássico dos filósofos e pensadores, Chauí
(1998, p. 25) afirma que a filosofia existe há 25 séculos, e que, nesse período, a
ética como um dos seus principais ramos esteve sempre presente e continua viva.
2
A ética é compreendida atualmente como parte da filosofia, cuja teoria
estuda o comportamento moral e relaciona a moral como uma prática, entendida
por Cortella (2009, p. 103) como o “exercício das condutas”. Além disso, é
entendida como um tipo ou qualidade de conduta que é esperada das pessoas
como resultado do uso de regras morais no comportamento social.
Academicamente, a ética é uma disciplina filosófica que estuda três famílias
de problemas, dividindo-se por isso em três áreas, conforme ensinamentos de
Murcho (2009):
O vocábulo ética tem sua origem no grego ethos, vernáculo que se refere
ao modo de ser do indivíduo ou ao caráter do ser humano. Na Grécia antiga
(século IV a.C.), os filósofos foram os primeiros a pensar o conceito de ética,
associando a tal palavra a ideia de moral e cidadania. Precisavam de honestidade,
fidelidade e harmonia entre cidadãos, uma vez que as cidades-estado estavam
em desenvolvimento.
Nesse sentido, Sócrates, Platão e Aristóteles são os pensadores gregos
mais estudados e citados no campo da ética. Pregavam virtude, firmeza moral e
outras atitudes pautadas nos conceitos advindos de ethos. Com o passar dos
séculos, diferentes escolas de pensamentos e filósofos construíram e
aperfeiçoaram os conceitos, e é fulcral que se faça uma breve incursão histórica.
3.1.1 Sócrates
4
estreitamente. O homem age retamente quando conhece o bem e, conhecendo-
o, não pode deixar de praticá-lo; por outro lado, aspirando ao bem, sente-se dono
de si mesmo e, por conseguinte, é feliz”.
Para Sócrates, “virtude é sabedoria (sofia) e conhecimento. Já o vício é o
resultado da ignorância. Assim, o saber fundamental é o saber a respeito do
homem. Sobre essa ideia, o pensador teria dito suas frases mais conhecidas como
‘conhece-te a ti mesmo’ e ‘sei que nada sei’” (Egg, 2012, p. 6).
Desse modo, “o homem enquanto integrado ao modo político de vida deve
zelar pelo respeito absoluto às leis comuns a todos, mesmo em detrimento da
própria vida” (Bittar, 2017, p. 6). Assim, “o ato de descumprimento da sentença
imposta pela cidade representava para Sócrates a derrogação de um princípio
básico do governo das leis, qual seja, a eficácia”. Segundo Sócrates, com a
eficácia das leis comprometida, a desordem social reinaria (Bittar, 2017, p. 6).
Devido à sua liberdade de expressão e às fortes críticas que fazia à política
da Grécia, foi acusado de corromper os jovens da época e condenado a beber
cicuta. Morreu no ano 399 a.C.
3.1.2 Platão
Platão viveu entre os anos 428 a.C. e 347 a.C. e foi um destacado filósofo
grego, considerado um dos principais pensadores de sua época. Discípulo de
Sócrates, procurava transmitir uma profunda fé na razão e na verdade, adotando
o lema “o sábio é o virtuoso” do referido filósofo. Escreveu diversos diálogos
filosóficos, entre eles “A República”, obra dividida em dez volumes.
Ele propõe uma ética transcendente: o fundamento de sua proposta ética
não é a realidade empírica do mundo, nem mesmo as condutas humanas ou as
relações humanas, mas, sim, o mundo inteligível. O filósofo centra suas
indagações na ideia perfeita, boa e justa que organiza a sociedade e dirige a
conduta humana.
As ideias formam a realidade platônica e são os modelos segundo os quais
os homens têm seus valores, leis, moral. Conforme o conhecimento das ideias,
das essências, o homem obtém os princípios éticos que governam o mundo social.
O uso reto da razão é entendido como o meio de alcançar os valores
verdadeiros que devem ser seguidos pelos homens. No mito da caverna, o filósofo
expõe a condição de ignorância na qual se encontra o homem ao lidar com o
conhecimento das aparências.
5
Somente pelo conhecimento racional o homem pode elevar-se até as
ideias, até o ser e conhecer a verdade das coisas. Isso se dá por meio do método
dialético, o qual elimina as aparências e encontra as essências, a verdade no
conhecimento das coisas.
Esse método filosófico tem por finalidade libertar os homens da ignorância
e levá-los ao conhecimento de ideia em ideia, até alcançar o conhecimento da
ideia suprema: o bem. As outras ideias participam desta e devem sua existência
a ela (Vaz, 2017).
Nesse sentido, a virtude platônica é entendida como a
3.1.3 Aristóteles
6
A ética aristotélica, em oposição à ética de seu mestre, é imanente, tendo
suas bases na realidade empírica do mundo, no questionamento acerca das
condutas humanas e na organização social. As exigências com relação à vida na
polis e a realidade do homem formam o conteúdo das ideias, e são ambas as
responsáveis pela escolha dos valores, pela moralidade e pelas leis, pela
definição das condutas dos homens. Sua teoria ética era realista e empirista, em
contrapartida à visão idealista e racionalista de Platão, devendo ser lida dentro de
sua teoria política.
A ética aristotélica inicia-se com o estabelecimento da noção de
felicidade. Nesse sentido, pode ser considerada eudemonista por buscar o que é
o bem agir em escala humana, o agir segundo a virtude – diferentemente de
Platão, que buscava a essência das ideias de felicidade e da ideia do bem sem
relacioná-las diretamente à prática.
A felicidade é definida como uma certa atividade da alma que vai de acordo
com uma perfeita virtude: a busca do sumo bem. Partindo dessa definição, faz-se
necessário um estudo sobre o que é uma virtude perfeita e, assim, também sobre
a natureza da virtude moral.
A virtude é definida pelo estagirita como hábito ou disposição racional
constante, sendo um hábito que torna o homem bom e o capacita para a boa
execução de sua função. Essa definição se mostra oposta à de Platão: a virtude
é definida como capacidade de realizar uma função determinada, inerente a
alguma parte da alma humana ou da cidade ideal (Vaz, 2017).
Por sua vez, a virtude moral seria a disposição de agir de forma
deliberada, com a ação de acordo com a reta razão. Assim, a virtude moral é
adquirida como resultado do hábito, que determina nosso comportamento como
bom ou ruim.
Para Aristóteles, diferentemente da lógica platônica, nenhuma das virtudes
morais surge nos homens por natureza, pois o que é natural não pode ser alterado
pelo hábito. Assim, “virtudes e artes são adquiridas pelo exercício, ou seja, a
prática das virtudes é um pré-requisito para que se possa adquiri-las. Sem a
prática, não há a possibilidade de o homem ser bom, de ser virtuoso” (Vaz, 2017).
A virtude intelectual, por sua vez, seria aquela “adquirida através do
ensino, e, assim, necessita de experiência e tempo” (Vaz, 2017). É devido ao
hábito que tomamos a justa medida com relação a nós. Logo, a mediania é
7
imposta pela razão com relação às emoções e é relativa às circunstâncias nas
quais a ação se produz.
Nesse sentido, Medeiros (2016) destaca:
8
sempre sua conformidade com a natureza até se tornar no homem uma
disposição uniforme e constante, ou seja, uma virtude, a qual é
verdadeiramente o único bem. Além dos bens (virtudes), existem outras
coisas que são dignas de serem escolhidas. Para indicar o conjunto
desses bens e coisas, os estoicos adotaram a palavra valor (axia).
Por volta do século III a.C., o Império Romano passou por uma enorme
crise econômica e política que culminou em corrupção sem precedentes instalada
no Senado, agravada pelos gastos exorbitantes com artigos de luxo que
escassearam os recursos a serem investidos no exército romano.
Assim, “com o enfraquecimento da instituição militar romana, somado à
crise política avassaladora, no ano de 395 a.C., o império Teodósio resolveu dividir
os limites de seu império” (Egg, 2012, p. 10). Dava-se, com isso, o fim da
Antiguidade e o início da Idade Média.
Na Idade Média, com a ascensão do catolicismo na Europa Ocidental, a
ética passa a se vincular à religião e aos dogmas cristãos, dominando a
epistemologia entre os séculos XI e XIX, a despeito de mudanças significativas
9
com o renascimento e, depois, a entrada na modernidade e o iluminismo (Egg,
2012, p. 10).
Desta feita, como se passará a desenhar, ganham ênfase as revelações
dos livros sagrados traduzidos pelo clero e, a partir deles, passam a ser
determinadas as regras de condutas sociais. A figura de Jesus de Nazaré ganha
espaço central para a construção dessa nova ética: a do amor ao próximo. A igreja
católica e seus dogmas se mantiveram por muitos anos (Egg, 2012, p. 10).
10
Nesse contexto, destaca-se Martinho Lutero, religioso que viveu entre os
séculos XV e XVI e lutou pela reforma da igreja católica, sendo responsável pela
Reforma Protestante, que acabou por gerar as quebras de paradigma que
possibilitaram a queda do catolicismo.
Lutero, no seu movimento reformista, promoveu a educação para todos,
inclusive para camponeses e mulheres. Traduziu a bíblia do latim para o alemão,
dando a oportunidade para que todos a conhecessem. O aperfeiçoamento da
imprensa por Gutenberg também ajudou a divulgar a sagrada escritura dos
cristãos (Egg, 2012, p. 10).
Vale enfatizar que, na Idade Moderna, foram consideráveis as
transformações de “ordem social, econômica e política, como as viagens às Índias
e às Américas e a Revolução Científica, proporcionada por Nicolau Copérnico,
Galileu Galilei, Newton, dentre outros” (Egg, 2012, p. 10), evolução que gerou
novas reflexões e visões das interações humanas, impactando diretamente na
leitura da ética até então centrada nas lógicas cristãs.
Assim, “os filósofos modernos resgataram aspectos do pensamento
filosófico greco-romano no tocante à necessidade de toda a humanidade alcançar
a sabedoria e a felicidade, principalmente pautando-se no equilíbrio e na razão”
(Egg, 2012, p. 10), afastando, então, a ética cristã até então posta.
A exemplo, cita Egg (2012, p. 10):
5.2 Bioética
Tais matérias estão intimamente ligadas, pois a sociologia trata das leis que
regem o desenvolvimento e a estrutura das sociedades humanas. Notoriamente,
a ética sociológica impacta diretamente na construção das gestões públicas e,
igualmente, na idealização e na implementação de políticas públicas.
Segundo Egg (2012, p. 12):
12
A sociologia estuda o indivíduo inserido no meio social, de quem se
espera um comportamento ético para o bem coletivo. As transformações
sofridas nos tempos modernos atingem o homem em sociedade. A
evolução das máquinas no campo e na indústria causam o alto índice de
desemprego, a evasão rural e a superpopulação das cidades. A
sociologia por sua vez está cada vez mais próxima da ética para
encontrar soluções para esses problemas presentes na vida do indivíduo
contemporâneo.
Acerca da íntima relação entre direito e ética, bem coloca Egg (2012, p.
13):
13
com a ordem estatal e participa dos debates públicos, espaço em que a ética
ganha especial relevância. Tais relações serão melhor exploradas futuramente.
LEITURA COMPLEMENTAR
14
REFERÊNCIAS
BITTAR, E. C. B. Curso de Ética Jurídica. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
16
AULA 2
2
Nesse sentido, destaca-se o art. 5º da Declaração e Programa de Ação de
Viena, de 1993:
1.2.1 Universalidade
Arion Romita (2009) nos informa que esses direitos são variáveis, a
depender de cada sociedade, porém há o reconhecimento no mundo da existência
de um mínimo de direitos conferidos a todas as pessoas. Existe uma corrente
chamada de relativismo cultural a qual contesta a universalidade dos direitos
humanos, considerando que não há direitos universais, e defende o pluralismo
cultural, pois cada povo teria uma ótica diferente acerca do que seriam os direitos
3
fundamentais os quais dependeriam da sua cultura e da época para tal definição.
Dessa forma, a universalidade dos direitos humanos significaria a imposição da
cultura ocidental pelo mundo, causando a extinção da diversidade cultural
(Piovesan, 2009).
Porém, na Primeira Parte da Declaração de Viena de 1993, o art. 5º
demonstra claramente as características dos direitos humanos, afirmando o seu
caráter universal ao adotar a teoria universalista.
Dessa maneira, “apesar de não existir uma unanimidade a respeito da
característica da universalidade, entende-se a maioria dos doutrinadores,
inclusive as declarações, como a Declaração de Viena, a universalidade dos
Direitos Humanos” (Almeida, 2017).
4
TEMA 2 — DIREITOS HUMANOS DE PRIMEIRA DIMENSÃO
5
TEMA 3 — DIREITOS HUMANOS DE SEGUNDA DIMENSÃO
Artigo XXII
6
após a Segunda Guerra Mundial, tais direitos foram introduzidos em todas as
Constituições.
7
TEMA 5 — SISTEMA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS
HUMANOS
A Segunda Guerra Mundial foi que fez mais vítimas e provocou mais
mudanças na história mundial, com o início da era atômica e a dizimação de mais
de 50 milhões de seres humanos. Tais situações, de gravidade sem precedentes,
8
significou verdadeira ruptura da ordem internacional com os direitos humanos. A
violação desses direitos durante a guerra foi tamanha que, com seu fim, a
comunidade internacional se viu obrigada a novamente voltar os olhos para o
tema. Sobre isso, afirmou Almeida (2017):
9
objetivos da ONU, destacam-se a manutenção da paz e da segurança
internacionais, o alcance da cooperação internacional nos planos econômico,
social e cultural, a proteção internacional dos direitos humanos.
Dessa forma, inaugura-se, então, uma nova ordem internacional,
preocupada não só com a manutenção da paz entre os Estados, mas também em
grande escala com a promoção universal dos direitos humanos (Almeida, 2017).
Assim, consolidou-se a universalização dos direitos humanos, promovida e
protegida não apenas pela própria ONU, mas também por diversos organismos e
mecanismos de proteção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais,
“direcionados a todas as pessoas, independente de raça, sexo, religião e
nacionalidade” (Piovesan, 2012).
10
LEITURA COMPLEMENTAR
11
REFERÊNCIAS
ALMEIDA. F. B. de. Teoria geral dos direitos humanos. Porto Alegre: Sergio
Antônio Fabris Editor, 1996.
ALMEIDA, K. Direitos humanos no ordenamento jurídico brasileiro. Jus.
Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/61538/direitos-humanos-no-ordena
mento-juridico-brasileiro>. Acesso em: 4 dez. 2018.
ALVARENGA, R. Z. de. O direito do trabalho como dimensão dos direitos
humanos. São Paulo: LTr, 2009.
ARENDT, H. As origens do totalitarismo, trad. Roberto Raposo, Rio de Janeiro:
Documentário, 1979.
BOBBIO, N. Era dos direitos, trad. Carlos Nelson Coutinho, Rio de Janeiro:
Campus, 1988.
COMPARATO, F. K. Afirmação histórica dos direitos humanos. São Paulo:
Saraiva, 2004.
FACHIN, M. G. Direitos humanos e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Renovar,
2015.
FERRAJOLI, L. In: ADORNO, R. dos S. Da inalienabilidade dos direitos
humanos. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp
?id=726>. Acesso em: 4 dez. 2018.
_____. Los Fundamentos de los Derechos Fundamentales. In: FACHIN, M. G.
Direitos humanos e desenvolvimento. Rio de Janeiro, Renovar, 2015.
FLORES, J. H. A (re)invenção dos direitos humanos. Florianópolis: Boiteux,
2009.
HENKIN, L. In: ALVARENGA, R. Z. de. O direito do trabalho como dimensão
dos direitos humanos. São Paulo: LTr, 2009.
PIOVESAN, F. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 10.
ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
_____. In: BARSTED, L.; PITANGUY, J. (orgs). O progresso das mulheres no
Brasil: 2003-2010. Rio de Janeiro: Cepia; Brasília: ONU Mulheres, 2011.
ROMITA, A. S. Direitos fundamentais nas relações de trabalho. 3. ed. São
Paulo: LTr, 2009.
12
AULA 3
2
Nesse sentido, o professor Ingo Wolfgang Sarlet (2006, p. 35) vai além ao
valer-se do espaço e a efetividade como significativos fatores responsáveis pela
diferença terminológica:
Desta feita, até o presente momento nos referíamos aos Direitos Humanos
por estarmos tratando de direitos abarcados pelo direito internacional, sendo que,
doravante, ao abordar direitos e garantias similares, porém dentro do
ordenamento jurídico nacional, vamos nos referir a Direitos Fundamentais.
Assim, em apertada síntese, “enquanto os direitos humanos são aqueles
declarados como inerentes ao ser humano, com pretensões de universalidade”,
os direitos fundamentais são “apenas daqueles direitos os reconhecidos e
positivados na Constituição de um determinado Estado, havendo, assim,
pretensões de territorialidade, ou seja, de âmbito nacional” (Moreira, 2011),
relacionando-se profundamente, mas não confundindo-se.
De tal modo, os direitos fundamentais se desenvolvem e se firmam com a
Constituição na qual foram reconhecidos e assegurados: aqui no Brasil, com o
advento da Constituição Federal de 1988.
3
TEMA 2 – DIREITOS FUNDAMENTAIS NA HISTÓRIA BRASILEIRA
4
2.2 Constituição de 1981
6
Constituição apresentado pelo Presidente da República” – em um
procedimento inelutavelmente autoritário de outorga da Constituição.
Por sua vez, tanto o rol de direitos individuais (art. 150) quanto o rol de
direitos sociais (art. 158) não foram modificados em suas estruturas, não
obstante a recorrente menção à necessidade de lei para sua
implementação implicasse, na prática, dicotomia entre a ordem normativa
e a realidade.
No que concerne aos direitos sociais, não houve alteração estrutural dos
dispositivos anteriormente vigentes, com a mesma nota de que muitos
deles tinham sua eficácia condicionada a uma futura eventual legislação
integradora.
7
básico para a realização do princípio democrático, uma vez que exercem uma
função democratizadora” (Moraes, 2003).
Nesse sentido, aduz Flavia Piovesan (2019):
Por sua vez, construir uma sociedade livre, justa e solidária, garantir o
desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a marginalização, reduzir
as desigualdades sociais e regionais e promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação, constituem os objetivos fundamentais do Estado, conforme consta
do art. 3º da Constituição Brasileira.
Como bem aponta Moraes (2003):
8
humanos, pelo qual o valor da liberdade se conjuga ao valor da
igualdade, não sendo possível dissociar o elenco desses direitos.
Importante referir que a Carta de 1988 prevê, ao lado dos direitos
individuais, os direitos coletivos, pertinentes a determinada classe ou
categoria, e os direitos difusos, pertinentes a todos e a cada um. Assim,
a Constituição Brasileira, ao mesmo tempo em que consolida a extensão
de titularidade de direitos a novos sujeitos de direitos, também consolida
o aumento da quantidade de bens merecedores de tutela, com a
ampliação de direitos sociais, econômicos e culturais. (Moraes, 2003).
9
Nitidamente perceptível que somente o aspecto formal não é suficiente
para uma identificação de todos os direitos fundamentais previstos na
CRFB/1988, uma vez que há direitos fundamentais fora do seu Título II; por essa
razão, o aspecto material é basal para a identificação dos direitos fundamentais
alheios ao catálogo expresso do Título II da CRFB/1988.
Nesse sentido:
10
TEMA 4 – DIREITOS FUNDAMENTAIS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: ANÁLISE
EM ESPÉCIE
Neste tema, realizaremos uma breve incursão nos direitos e nas garantias
fundamentais previstos constitucionalmente (Título II), que foram divididos em
cinco capítulos: direitos individuais e coletivos, direitos sociais, nacionalidade,
direitos políticos e partidos políticos.
Assim, tem-se, conforme extração realizada por Pestana (2017) sobre os
direitos individuais e coletivos:
11
4.1 Conclusões
13
os direitos internacionais constantes dos tratados de direitos humanos
apenas vêm a aprimorar e fortalecer, jamais restringir ou enfraquecer, o
grau de proteção dos direitos consagrados pela ordem normativa
constitucional. Portanto, em caso de conflito entre o Direito Internacional
dos Direitos Humanos e o Direito interno, propugna-se pela prevalência
da norma mais favorável à vítima. Reitera-se que a escolha da norma
mais benéfica ao indivíduo cabe fundamentalmente às cortes nacionais
e a outros órgãos aplicadores do direito, no sentido de assegurar a
melhor proteção possível ao ser humano. (Moraes, 2003)
FINALIZANDO
14
concepções sobre Direitos Humanos e Direitos Fundamentais, à luz dos tratados
internacionais, da Constituição Federal e de diplomas legais correlatos ao tema.
Ainda, buscamos construir a ausência de hierarquia entre diplomas legais
nacionais e internacionais, rememorando que a prevalência será sempre da
norma que melhor proteger os direitos consagrados da pessoa humana.
Leituras complementar
MACHADO, A.; GOERCH, A. B. Os Direitos Fundamentais sob a perspectiva
dos Direitos Humanos: uma abordagem acerca da Declaração Universal dos
Direitos Humanos e do Sistema Interamericano. Disponível em:
<https://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/sidspp/
article/download/15794/3693>. Acesso em: 24 mar. 2019.
15
REFERÊNCIAS
NUNES JÚNIOR, V. S. Direitos sociais. In: NUNES JÚNIOR, V. S.; ZOCKUN, M.;
ZOCKUN, C. Z.; FREIRE, A. L. (Coord.). Enciclopédia jurídica da PUC-SP. Tomo:
Direito Administrativo e Constitucional. São Paulo: PUC-SP, 2017. Disponível em:
<https://enciclopediajuridica.pucsp.br/pdfs
/controle-interno_59224567dda34.pdf>. Acesso em: 24 mar. 2019.
16
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.589755&seo=1>. Acesso em:
24 mar. 2019.
SILVA, J. A. da. Curso de direito constitucional positivo. 28 ed. rev. e atual. São
Paulo: Malheiros, 2007. p. 170.
17
AULA 4
3
aceitável desde que a igualdade de cidadania fosse reconhecida
(Oliveira, S.d., online).
Sem embargo, vale anotar que a cidadania não era vazia em termos de
significado político, pois, apesar de não conferir um direito, reconhecia uma
capacidade: a do sufrágio. No Século XX, associou-se os direitos políticos direta
e independentemente à cidadania como tal com a adoção do sufrágio universal,
transferindo a base dos direitos políticos do substrato econômico para o status
pessoal (Oliveira, S.d., online).
Desta sorte, o status diferencial, dominado pelos direitos civis que conferem
a liberdade de lutar pelos bens que o indivíduo gostaria de possuir, sem, no
entanto, garantir nenhum deles. Pode-se concluir que essas desigualdades
gritantes não eram resultantes das falhas dos direitos civis, mas a falta dos direitos
sociais (Oliveira, S.d., online).
5
1.1.4 Conclusões iniciais
Um dos conceitos que melhor demonstra essa reabsorção dos bens sociais
pelo conjunto dos cidadãos – que melhor expressa, portanto, a democracia – é
precisamente o conceito de cidadania. Cidadania é a capacidade conquistada por
6
alguns indivíduos, ou, no caso de uma democracia efetiva, por todos eles, de se
apropriarem dos bens socialmente criados, atualizando as potencialidades de
realização humana possibilitadas pela vida social em cada contexto histórico
(Coutinho,1999, p. 42).
Como bem anotado por Coutinho (1999, p. 42), a cidadania “não é dada
aos indivíduos de uma vez para sempre, não é algo que vem de cima para baixo,
mas é resultado de uma luta permanente, travada quase sempre a partir de baixo,
das classes subalternas, implicando um processo histórico de longa duração”.
Assim, a identidade será sempre um aspecto importante da cidadania, que
habilita os excluídos a se organizarem em movimentos sociais e em grupos de
interesse, de forma que possam participar como cidadãos com direitos legais,
políticos e sociais. Os direitos de cidadania são “o resultado de movimentos
sociais que objetivam se expandir ou defender a definição de agrupamento social”.
Eles acreditam que as consequências, em longo prazo, desses movimentos
sociais foram o incentivo e a universalização dos direitos de cidadania para um
conjunto crescente de pessoas (Oliveira, S.d., online).
7
(nobreza, clero e camponeses), tendo as diferentes classes direitos e privilégios
distintos – não havia, assim, como se falar propriamente em conceito de
cidadania.
A conjuntura somente se modificou com os estados nacionais, no período
denominado Baixa Idade Média, em que reapareceu a noção de estado
centralizado e com ele a clássica visão da cidadania, ligada aos direitos políticos
(Melo, 2013, online). Inobstante, a cristianização passou a exigir reformulação do
conceito de cidadania que já não atendia às demandas, surgindo o embrião do
que viria a ser o ideal de igualdade.
Adiante, com o advento da era iluminista, passou-se a viver tempos de
transmutações “políticas, econômicas, artísticas, contribuindo também para o
despertar do ideal de liberdade” (Melo, 2013, online). Neste sentido:
8
TEMA 4 – A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA NO BRASIL
9
sua definição como conquista democrática e comprometeram em parte sua
contribuição para o desenvolvimento de uma cidadania ativa.
Em 1964, com a imposição de mais um regime ditatorial, os direitos civis e
políticos foram restringidos pela violência: a censura à imprensa eliminou a
liberdade de opinião; não havia liberdade de reunião; os partidos eram
regulados e controlados pelo governo; os sindicatos estavam sob constante
ameaça de intervenção; era proibido fazer greves; o direito de defesa era
cerceado pelas prisões arbitrárias; a justiça militar julgava crimes civis; a
inviolabilidade do lar e da correspondência não existia; a integridade física
era violada pela tortura nos cárceres do governo; o próprio direito à vida
era desrespeitado. Ao mesmo tempo em que se cerceavam os direitos
políticos e civis, os governos militares investiram na expansão dos direitos
sociais. Na avaliação deste período, sob o ponto de vista da cidadania,
destaca-se a manutenção do direito do voto combinada com o
esvaziamento de seu sentido e a expansão dos direitos sociais em
momento de restrição de direitos civis e políticos. No entanto, as
desigualdades, ao fim do regime, tinham crescido ao invés de diminuir.
O auge da mobilização popular foi a campanha pelas eleições diretas em
1984, que, sem sombra de dúvida, foi a maior mobilização popular da
história do país. Como consequência da abertura, os direitos civis foram
restituídos, mas continuaram beneficiando apenas parcela reduzida da
população, os mais ricos e os mais educados. Dos direitos que compõem
a cidadania, no Brasil são ainda os civis que apresentam as maiores
deficiências em termos do seu conhecimento, extensão e garantias. A falta
de garantia dos direitos civis se verifica, sobretudo, no que se refere à
segurança individual, à integridade física, ao acesso à justiça.
A maioria da população ou desconhece seus direitos ou não tem condição
de exercê-los efetivamente. Do ponto de vista da garantia dos direitos civis,
os cidadãos brasileiros podem ser divididos em classes: os de primeira
classe, os privilegiados e os doutores que estão acima da lei, que sempre
conseguem defender seus interesses pelo poder do dinheiro e do prestígio
social; ao lado dessa elite privilegiada, existe uma grande massa de
cidadãos simples, de segunda classe, que estão sujeitos aos rigores e
benefícios da lei; finalmente, há os cidadãos de terceira classe, que
correspondem à população marginalizada das grandes cidades,
10
"elementos" que são parte da comunidade política nacional nominalmente,
pois na prática ignoram seus direitos civis ou os têm sistematicamente
desrespeitados por outros cidadãos, pelo governo, pela polícia.
é possível haver direitos civis sem direitos políticos, mas o contrário não é
viável, pois sem os direitos civis, especialmente a liberdade, os direitos
políticos, sobretudo o voto, podem existir formalmente, mas ficam
esvaziados de conteúdo e servem somente para justificar governos e não
para representar cidadãos;
direitos sociais colocam cada indivíduo em condições de ter o poder para
fazer aquilo que é livre para fazer, isto é, são pressupostos ou precondições
para o efetivo exercício dos direitos de liberdade;
a brutal desigualdade e a ausência de educação colocam em perigo o
exercício dos direitos civis, políticos, uma vez que cala a voz do cidadão,
11
estimula o temor e permite que a lei do mais forte prevaleça (Oliveira, S.d.,
online).
12
o sentido de participação política, bem como a garantia de efetivação dos direitos
fundamentais” (Oliveira, S.d., online), explanando assim que
13
LEITURA COMPLEMENTAR
14
REFERÊNCIAS
15
PESTANA, B. M. Direitos fundamentais: origem, dimensões e características.
Conteúdo Jurídico, Brasília-DF, 17 out. 2017. Disponível em:
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.589755&seo=1>. Acesso
em: 21 mar. 2019.
SILVA, J. A. da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 28ª ed. rev. e atual.
São Paulo: Malheiros, 2007, p. 170.
16
AULA 5
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes.
2
fundamentais e pressupostos da realização dos direitos da cidadania e realização
democrática.
Tal princípio é ainda replicado no art. 4º, inciso VIII, que descreve a
igualdade racial; no art. 5º, I, que versa sobre a igualdade de gênero; do art. 5º,
inciso VIII, que trata da igualdade de credo religioso; do art. 5º, inciso XXXVIII,
que trata da igualdade na prestação jurisdicional; do art. 7º, inciso XXXII, que
cuida da igualdade trabalhista; do art. 14, que monta a igualdade política ou ainda
do art. 150, inciso III, que dispõe a igualdade tributária.
Ainda, conforme Moraes (2002, p. 65), o princípio opera em dois planos
distintos. Inicialmente, a igualdade opera nas variadas produções normativas,
frente ao legislador ou mesmo ao próprio Poder Executivo, prevenindo que
possam criar tratamentos demasiadamente diferenciados a pessoas que se
encontram em situação análoga. Ainda, reflete-se na obrigatoriedade de aplicar a
lei e atos normativos de maneira igualitária, sem estabelecimento de distinções
em razão de sexo, religião, convicções filosóficas ou políticas, raça e classe social
(Moraes, 2002, p. 65). A esta igualdade formal que nos referimos quando
utilizamos a expressão “tratar os iguais como iguais”.
Noutro vértice, o mesmo artigo constitucional possui garantia mais ampla
do que a mera igualdade formal perante a lei: tem como escopo uma igualdade
material que se baseia em determinados fatores:
3
b) Art. 7º XVIII que dispõe sobre a licença à gestante em período superior à
licença-paternidade;
c) Art. 40, parágrafo 1º, III, a e b e art. 201, parágrafo 7º da Constituição
Federal, que dão tratamento diferenciado à mulher, diminuindo o tempo
necessário para se aposentar.
4
alguns critérios repetem-se com bastante frequência, a exemplo da
vulnerabilidade, caracterizada pela ausência de suficiente amparo nas estruturas
governamentais e legais vigentes, tornando-se especialmente dificultosa a
realização dos direitos fundamentais para aquele grupo.
Importante ressaltar que tal vulnerabilidade jamais é intrínseca, mas sim
possui caráter histórico e cultural: em cada região ou país, diferentes grupos
podem ser considerados minoritários a depender das estruturas sociais locais,
podendo o mesmo grupo ser dominante em determinada sociedade e dominado
em outro. Veja-se, por exemplo, os judeus, grupo hegemônico em Israel e
minoritário em outros países. O mesmo ocorre com o povo curdo e o povo turco.
Como pudemos observar, os Direitos Humanos, entendidos como direitos
fundamentais quando internalizados constitucionalmente, devem ser garantidos a
absolutamente todos os indivíduos. Como estamos observando, no caso das
minorias tal consideração é especialmente importante, posto que se tratam de
grupos já discriminados e tratados de modo desigual pela parte maioritária: nosso
país é o que mais mata a população LGBT, o que tem maior incidência de
feminicídios e um dos últimos países do mundo em representatividade política
feminina, como veremos nos próximos estudos.
Em estudos anteriores pudemos verificar a preocupação com as minorias
no âmbito internacional, com Pactos, Declarações e Convenções internacionais
que tratam dos direitos e proteção das minorias. Rememoramos a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, de 1948; a Convenção da Unesco para
Eliminação da Discriminação na Educação, de 1960, e a Declaração dos Direitos
das Pessoas pertencentes a Minorias Nacionais ou Étnicas, Religiosas e
Linguísticas, de 1992.
Na legislação brasileira, além dos dispositivos da Constituição Federal já
destacados anteriormente, avultamos legislações fulcrais a todas as minorias:
5
c) Lei n. 7.716/1989 – define os crimes resultantes de preconceito de raça
ou de cor.
d) Lei n. 7.716/89 – estabelece punições para crimes resultantes de
discriminação relacionada a raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional. Alguns dos crimes são: impedir acesso a serviços públicos,
negar contratação, impedir acesso a cargos públicos, deixar de atender
cliente, impedir acesso a transportes públicos, entre outros, por motivos
de discriminação já citados. Como já foi comentado, as minorias são
alvos de discriminação e preconceito, portanto, ao buscar punir esses
crimes, o Estado protege os grupos minoritários.
e) Lei n. 9.474/1997 – define mecanismos para a implementação do
Estatuto dos Refugiados de 1951 e determina outras providências.
f) Lei n. 9.455/1997 – define os crimes de tortura e dá outras providências.
g) Lei n. 12.847/2013 – responsável por instituir o Sistema Nacional de
Prevenção e Combate à Tortura; cria o Comitê Nacional de Prevenção e
Combate à Tortura e o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à
Tortura; e dá outras providências.
6
igualdade racial, direitos da mulher, juventude, crianças e adolescentes, pessoas
com deficiência, idosos, meio ambiente etc.
Em seu art. 2º, o Decreto aduz que o PNDH-3 será implementado de acordo
com os seguintes eixos orientadores e suas respectivas diretrizes
8
se como os mais populosos o povo Potiguar e o povo Tupinambá,3 que, somados,
constituíam quase 200 mil indivíduos).
As violências foram sistemáticas durante todo o período colonial e pós-
colonial. Durante o processo de ocupação e colonização, as sociedades indígenas
foram desconsideradas e a política indigenista foi planejada e aplicada com fito
de anular todo o sistema indígena local, cultural, política e juridicamente (Pacheco,
2004). A mesma conduta se seguiu no período pós-colonial, com uma política que
não admitia a existência de grupos sociais com identidades próprias, com uma
política de integração à comunhão nacional (Pacheco, 2004, p. 5).
No fim dos anos 1950 até 1968, o Estado brasileiro submeteu seus povos
indígenas às tentativas violentas para integrar, pacificar e aculturar suas
comunidades. Neste aspecto, o relatório da Comissão Nacional da Verdade, de
2014, apontou, por exemplo, que tribos no Maranhão foram completamente
erradicadas no Mato Grosso, entre 1946 e 1988, período que pautou as
investigações sobre graves violações de direitos humanos.
O documento atesta ainda uma série de crimes de genocídio contra os
povos indígenas do Brasil, incluindo assassinatos em massa, tortura e guerra
bacteriológica e química, relatava escravidão e abuso sexual que ocorreram nos
períodos de 1947 a 1988. O relatório revela que o Serviço de Proteção ao Índio
havia escravizado povos indígenas, torturado crianças e roubado terras, razão
pela qual restou banido.
Mais de trinta anos depois, a violência contra o povo indígena em território
brasileiro pouco se alterou: no ano de 2018, o Brasil foi denunciado na
Organização das Nações Unidas em virtude do “risco de genocídio indígena”. De
acordo com o relatório, houve uma profunda extinção da população indígena
brasileira no último século, passando de 4% da população para apenas 0,4%.
A violência especialmente dirigida a este grupo minoritário é inegável: a
taxa de homicídio na população Guarani-Kaiowá, em Dourados-MT, é de 88 para
cada cem mil pessoas, quase o triplo da taxa média de homicídios no Brasil.4
3 IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro,
2000. Apêndice: Estatísticas de 500 anos de povoamento. p. 222. Disponível em:
<https://brasil500anos.ibge.gov.br/estatisticas-do-povoamento/grupos-indigenas-extintos.html>. Acesso em:
31 mar. 2019.
4 Disponível em: <https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,na-onu-entidade-denuncia-brasil-por-risco-de-
Saiba mais
Para aprofundamento do conhecimento da situação indígena atual,
indicamos o site da ONG Survival. Disponível em:
<https://www.survivalbrasil.org/povos/indios-isolados-brasil). Acesso em: 31 mar.
2019.
10
entre povos indígenas e Estados. Vejamos a pertinente síntese realizada pelo
Instituto Socioambiental – ISA:
11
legislar sobre as populações indígenas, reconhecendo seu direito de preservação
da identidade étnica e organização interna.
Nas questões culturais, o art. 215 assegura a educação bilíngue,
garantindo-lhes a utilização de suas línguas e processos próprios de
aprendizagem.
Os parágrafos dos art. 231 e 232 dispõe as bases dos direitos indígenas e
ressaltam o reconhecimento da identidade própria e diferenciada, assim como dos
direitos originários. Ainda, determina a demarcação das terras indígenas e
reconhece as estruturas de organização social como partes legítimas para
ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses.
Para além das disposições constitucionais, em 1996 foi editado o Decreto
n. 1.775/96 – Lei das Terras Indígenas, que igualmente regula este direito à terra
e preservação cultural.
Ainda quanto ao índio, no âmbito administrativo, destaca-se a Lei n. 5.371,
que criou a Fundação Nacional do Índio – Funai, o órgão administrativo de
proteção aos interesses indígenas. Assim se define a Funai em seu site
institucional:5
5
Disponível em: <http://www.funai.gov.br/index.php/participacao-indigena-na-construcao-de-politicas-
publicas?start=1#>. Acesso em: 31 mar. 2019.
12
TEMA 5 – PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
14
Finalmente, há de se destacar que a Lei Brasileira da Inclusão concebeu
novas prioridades e reforçou algumas prioridades já existentes. Nesse sentido,
dispõe o art. 9º:
LEITURA COMPLEMENTAR
15
PAULA, C. E. A.; SILVA, A. P.; BITTAR, C. M. L. Vulnerabilidade legislativa de
grupos minoritários. DOI: 10.1590/1413-812320172212.24842017. Revista
Saúde e Ciência Coletiva, 2017. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/csc/v22n12/1413-8123-csc-22-12-3841.pdf>. Acesso
em: 26 mar. 2019.
16
REFERÊNCIAS
DINIZ, D.; BARBOSA, L.; SANTOS, W. R. dos. Disability, Human Rights and
Justice. Sur – International Journal on Human Rights, São Paulo, v. 6, n. 11, p.
64-77, dec. 2009. ISSN 1806-6445. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/S1806-64452009000200004>. Acesso em: 31 mar.
2019.
_____. Uma Nova Defensoria Pública pede Passagem: Reflexões sobre a Lei
Complementar 132/09. Obra Coletiva. Editora Lumen Juris, 2012.
18
AULA 6
2
O caminho para a abolição foi percorrido a duras penas, após longa
pressão internacional:
Para consultar e fazer o download da íntegra do Estatuto da Igualdade Racial (e outras leis
4
5
cumprimento dos direitos dos cidadãos. A Ouvidoria Nacional da Igualdade
Racial pode ser acessada por diversos meios, disponíveis no website
envolvendo o sistema de denúncias do Disque 1006.
6
serviços sociais (73,3%), educação (66,6%) e alimentação (57,6%)7. Em 2010,
38,7% dos 57,3 milhões de domicílios registrados no IBGE já eram comandados
por mulheres8 (Bertholdi, 2018).
A expressiva representatividade da mulher, no entanto, não vem sendo
traduzida em direitos: as mulheres brasileiras seguem dentre as mais violentadas
do mundo. Somos o 5.º lugar em número de feminicídios9, possuímos baixíssima
representatividade política e seguimos recebendo salários em média 30%
menores que o dos homens10.
É evidente, portanto, que as mulheres representam grupo que merece uma
maior tutela do Poder Público, constituindo incontestável minoria.
2.1 Legislação
<https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2018/04/11/desigualdade-salarial-homem-mulher-
ibge.htm>. Acesso em: 14 abr. 2019.
7
2.2 Lei Maria da Penha
9
Assim, em 7 de agosto de 2006, o então presidente Luiz Inácio Lula da
Silva sancionou a Lei n. 11.340, mais conhecida como Lei Maria da
Penha.
13Idem.
14Ao tratar do tema, Vergo e Schuck apontam que a proposta de democracia paritária surge como
marco estratégico ao combate do monopólio masculino no exercício do poder em todas as esferas
de tomadas de decisões. In: VERGO, T. M. Woelffel; SCHUCK, E. de O. A representação política
das mulheres enquanto desafio à qualidade da democracia. V Congresso Uruguaio de Ciência
Política. Outubro de 2014, p. 3-4.
10
Não por outra razão, organismos internacionais vêm se engajando na
divulgação de dados e relatórios sobre o assunto, defendendo, inclusive, a
instituição de cotas de gênero para garantir que as mulheres venham a constituir,
pelo menos, “minorias críticas”, que constituíram de 30% a 40% dos Parlamentos
nacionais (Dahlerup, 2017). Atualmente, estima-se que metade dos países se
utilizem de algum tipo de quota eleitoral de gênero15, justamente com o escopo de
realização implementação progressiva de políticas de igualdade proposta por
Diamond e Morlino ao tratar da qualidade da democracia.
Como já anotamos anteriormente:
Tal fato fica nítido dos bancos de dado da Justiça Eleitoral: apesar de as
cotas estarem em vigor desde 199517, adquirindo o formato atual em 201018, as
evoluções vêm sendo bastante tímidas: de 5% de cadeiras no Parlamento
Brasileiro em 1990, passamos para 9,9% em 2016.
15 Idem.
16 Anotação da Advogada Raquel Preto na VI Conferência Estadual da Advocacia Paranaense,
em agosto de 2017.
17 A Lei n. 9.100/1995 prescrevia a exigência do registro de no mínimo 20% de candidaturas
redação dada pela Lei nº 12.034/2009, estabelece a observância obrigatória dos percentuais
mínimo e máximo de cada sexo, o que é aferido de acordo com o número de candidatos
efetivamente registrados. Conteúdo disponível em: <http://temasselecionados.tse.jus.br/temas-
selecionados/registro-de-candidato/reserva-de-vaga-por-sexo>. Acesso em: 14 abr. 2019.
11
TEMA 3 – IMIGRANTES E REFUGIADOS
12
cidadania e a dignidade da pessoa humana, razão pela qual entende-se como
abarcada a integral proteção aos refugiados.
O Brasil foi, ainda, pioneiro na América Latina ao elaborar uma lei
específica sobre refugiados, a Lei n. 9.474 de 1997. A chamada Lei de Refúgio
estabelece padrões para avaliação das razões de requerimento de refúgio
considerando as condições políticas do país de origem do refugiado.
3.1 Atualidades
13
anual começou a ser elaborado pela entidade, há 38 anos19. Os dados de 2017
representam um aumento de 30% em relação a 2016, quando foram registrados
343 casos.
Assim, a população Lésbica, Gay, Bissexual, Transexual e Travesti (LGBT),
diante do contexto social sexista, machista, lesbofóbico, homofóbico, bifóbico e
transfóbico que ainda persiste em todo mundo – e especialmente no Brasil –
enfrenta grandes desafios na realização de seus direitos mais básicos e no acesso
às políticas públicas, fatos que acabam por limitar o exercício da cidadania.
Quando o primeiro desafio é sobreviver, realizar torna-se ainda mais dificultoso.
15
Procuramos, igualmente, demonstrar a importância de se construir uma cidadania
eticamente comprometida com a realidade e a transformação social.
Buscamos desenhar uma Política de Direitos Humanos com base na ética
e na participação cidadã, que garanta aos indivíduos a condição de ser, no plano
econômico, um cidadão sadio; no plano político, um cidadão participante; no plano
intelectual, um cidadão consciente das relações de poder; no plano da ética, um
cidadão comprometido com a realidade social.
Flavia Piovesan (2009, p. 189) comenta as motivações que levam à
necessidade de organização e ação pública no sentido de promover o acesso aos
direitos humanos fundamentais:
LEITURA COMPLEMENTAR
16
MACHADO, M. de T. A proteção constitucional de crianças e adolescentes e
os direitos humanos. 2002. 414 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2002.
17
REFERÊNCIAS
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