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12 a 15/09/06 Goiânia, GO
Pesquisa Operacional na Sociedade: Educação, Meio Ambiente e Desenvolvimento
RESUMO
Este artigo tem como objetivo mostrar que simulação computacional é uma opção
viável e segura para o dimensionamento da infraestrutura de centros de controle operacional
(CCO) em empresas de saneamento. Nesta abordagem, foram tratadas as características básicas
de um CCO (processos e recursos principais) da Companhia de Saneamento do Paraná
(SANEPAR). Com o modelo de simulação do CCO considerado, pôde-se verificar que a atual
infraestrutura não atenderá de forma satisfatória a área a ser servida pelo centro de operações.
Vários modelos de CCO foram criados e diversos experimentos de simulação foram executados a
fim de se saber como o futuro CCO deve ser dimensionado de forma a atender o crescimento da
demanda prevista para os próximos anos.
Palavras-chave: Simulação computacional, saneamento, tratamento e distribuição de água,
centro de controle operacional.
ABSTRACT
This paper aims at showing that computer simulation is a viable and safe option for
evaluation of the infrastructure of operation control centers (CCO) at water utility companies. In
this approach, basic characteristics of a CCO (main processes and resources) at the Companhia
de Saneamento do Paraná (SANEPAR) were considered. With the computer model for the CCO
considered, one can verify that the current CCO infrastructure will not satisfactorily meet the
future demands of the expanded region to be served by the current CCO. Several CCO
configurations were created to find out the right size for the new CCO to serve the demand
growth expected to take place in the next years.
Keywords: Computer simulation, water utility and distribution, operation control center.
1. INTRODUÇÃO
Um Centro de Controle Operacional (CCO) de Distribuição de Água é responsável pela
operação da rede do sistema de tratamento e distribuição de água de uma determinada região. Os
serviços prestados por um CCO devem atender prazos e qualidade adequados, por isso sua
operação tem evoluído rapidamente nos últimos anos com a introdução de ferramentas de
monitoramento e controle automatizados. Esta evolução, entretanto, não tem levado em
consideração mudanças nos processos internos de um CCO e nem na infraestrutura de trabalho ao
nível de perfil e das atividades dos profissionais envolvidos. Tais alterações devem ser
cuidadosamente avaliadas antes de sua implantação de fato.
Simulação computacional tem se mostrado uma excelente opção para avaliação do
impacto que alterações podem causar no desempenho de um sistema vigente, tanto em sistemas
produtivos como em empresas de serviço e nas mais variadas áreas (AGUILAR & PATER, 1999;
BERTRAND & FRANSOO, 2002; BRAGA, 1999; INGALLS, 1998; INGALLS & KASALES,
1999; MATWIJEC, 1999; MORAES & FRANZESE, 2000; MOUSAVI & HINDI, 2000;
OTTMAN, 1999; ROWLANDS, 2000; SEPPANEN, 2000; SCHUMACHER & LALSARE,
2000). Até este momento, entretanto, esta ferramenta ainda não tem sido muito utilizada em
empresas de saneamento, apesar de alguns trabalhos já começarem a aparecer (ALENCAR &
SEEMANAPALLI, 1999; LUNA et al., 1999; SANTANA et al., 2001; SANTANA et al., 1999;
WALSKI et al., 2002). Neste trabalho, mostra-se como simulação computacional pode ser usada
na avaliação do dimensionamento da infraestrutura de centros de controle operacional em
empresas de saneamento. Mais especificamente, trata-se da avaliação da infraestrutura de um
CCO recentemente automatizado na Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR) que, em
futuro próximo, estará servindo uma região maior do que a atual área atendida.
O Sistema de Abastecimento de Água Integrado de Curitiba (SAIC), pertencente a
SANEPAR, opera sob supervisão de um único CCO. Este SAIC é constituído por 24
reservatórios, totalizando uma capacidade de 180.000 metros cúbicos de água, e 42 estações
elevatórias, compondo 69 zonas de pressão em malha de distribuição de aproximadamente 8.000
km de redes, anéis, adutoras e subadutoras, e abrange os municípios de Curitiba, Colombo,
Pinhais, São José dos Pinhais e Araucária.
O SAIC passou nestes últimos três anos por um processo intenso de implantação de
tecnologias de automação e controle das unidades que o compõe. Esta transformação ocorreu
também ao nível de CCO, através da reestruturação de processos internos (criação e eliminação
de processos) e de alteração no perfil (capacitação e aperfeiçoamento) dos profissionais que
atuam nesta área.
Algumas destas mudanças foram, por exemplo:
• Funções de operação local de unidades de abastecimento foram eliminadas e
substituídas por operação remota via Sistema de Controle Supervisório e de
Aquisição de Dados (SCADA);
• Processos de controle feitos localmente foram substituídos por acionamentos
remotos a partir do CCO;
• Processos de manutenção que eram acompanhados por operadores locais
passaram a ser feitos pelo CCO que agora tem que se deslocar até a unidade
com problemas;
• Processo de registro de ocorrências que era feito de forma manual passou a ser
feito com uso de microcomputadores; e
• Processos de cadastro de variáveis também foram passados automaticamente
para o sistema de informação, possibilitando sua análise pelo CCO.
Anteriormente esta análise era inviável, demandando um tempo maior de
trabalho com dados sendo registrados de forma manual.
A estrutura funcional existente no CCO opera com quatro escalas de revezamento e
cada escala é comporta por um engenheiro, um supervisor e dois operadores. Este CCO foi
criado para um processo fortemente dedicado às atividades de campo e com a operação das
unidades feitas por operadores locados em cada reservatório, com muito pouca atividade de
escritório e, conseqüentemente, pouca análise e avaliação do comportamento hidráulico do SAIC.
Com unidades automatizadas, a ação local dos operadores ficou reduzida ou eliminada, exigindo
uma presença maior das escalas no Centro de Controle trabalhando junto ao sistema SCADA.
A SANEPAR tem em andamento um programa de expansão do sistema de distribuição
existente para o ano de 2005. Espera-se que até este ano, o Sistema de Abastecimento de Água
Integrado de Curitiba seja expandido de forma significativa. Estas mudanças implicarão em uma
série alterações nos processos e também nas formas com que os serviços e operações são
atualmente executados. Desta vez, entretanto, simulação computacional poderá ser usada na
avaliação de desempenho, os impactos possíveis, e estimar a infraestrutura do novo CCO tendo
em vista a manutenção dos atuais índices de desempenho no sistema futuro.
2. EVENTOS E ÍNDICES DE DESEMPENHO DE UM CCO
Os principais eventos que devem ser atendidos por um Centro de Controle Operacional
de empresa de saneamento são resumidos como:
• Ocorrência de alarmes SCADA. Envolve a operação do sistema de controle
supervisório e de aquisição de dados. A equipe do CCO deve acompanhar o
comportamento do sistema; reconhecer e analisar situações fora de padrões pré-
estabelecidos; ir até o local quando os problemas exigirem intervenção local; e
cadastrar as situações que exijam intervenção física no sistema.
• Ocorrência de reclamação de falta de água. Acompanhamento da ocorrência de
reclamações de falta de água não previstas ou não justificáveis; verificar o
motivo das reclamações; acionar equipe de manutenção; cadastrar ocorrências e
acompanhar sua solução.
• Operação no sistema SCADA. O time do CCO deve verificar periodicamente a
situação do sistema distribuição, além de executar outras atividades menores
como comunicação com o campo via rádio.
• Atividade programada de ida a campo. O CCO deve acompanhar manutenções
na rede de distribuição e nos dispositivos eletromecânicos programadas (ou de
emergências) que afetam o abastecimento. Deve também acompanhar
intervenções de manutenção no sistema hidráulico e eletromecânico quando
estas ocasionam paradas significativas causadas por rompimentos de adutoras,
queima de bombas e transformadores, limpeza de reservatórios, substituição
componentes de grande diâmetro como válvulas e medidores, etc.
Através de simulação computacional pode-se estimar o desempenho do sistema sem
que este tenha sido implantado ou que esteja em funcionamento. Entretanto, antes de se
desenvolver o modelo computacional do sistema a ser analisado, deve-se saber claramente como
que o desempenho será medido. Neste trabalho, dezoito índices de desempenho (IND) são
utilizados na análise da performance de centros de controle operacional. São eles:
♦ IND1 – Tempo médio entre a ocorrência de um alarme SCADA e o seu
fechamento.
♦ IND2 – Tempo médio de uma atividade programada de ida a campo.
♦ IND3 – Tempo média do intervalo de tempo medido entre a ocorrência de uma
reclamação de falta de água e o seu fechamento.
♦ IND4 – Média do tempo de espera total de um Alarme SCADA (média dos
máximos das replicações).
♦ IND5 – Média do tempo de espera total para cadastro de reclamações de falta
de água (média das replicações).
♦ IND6 – Média do tempo máximo de espera total de um Alarme SCADA (média
dos máximos das replicações).
♦ IND7 – Média do tempo máximo de espera total para cadastro de reclamações
de falta de água (média dos máximos).
Análise detalhada
S Necessita ida N
a campo?
Alarme
Solicita recursos Ida a campo Libera recursos Cadastramento do urgente
alarme resolvido
Atividade S
Equipe de Solicita Ida a campo Liberar
programa equipe de 1 (equipe de 1) Equipe de 1
de ida a 1?
Atividade
executada
N
Solicita Ida a campo Liberar
equipe de 2 (equipe de 2) Equipe de 2
Experimentos - Cenário I
Como dito anteriormente, as principais medidas de desempenho consideradas nesse
estudo foram relacionadas ao tempo médio entre a ocorrência (chegada) de um evento e o seu
fechamento, tempo máximo de espera por atendimento, número médio de eventos em filas de
espera e utilização dos recursos (funcionários, carros e computadores). Os dados de entrada e
resultados dos experimentos estão resumidamente mostrados na Tabela 1 e na segunda coluna da
Tabela 2, respectivamente.
A utilização dos recursos está num nível muito bom (média de 46,74%). Os carros
estão em uso em média 39,48% do tempo (IND14), os microcomputadores 54,42% do dia
(IND15), o engenheiro, supervisor e operários, ficam ocupados em média 32,03%, 50,82% e
56,97% por turno de oito horas (IND16, IND17 e IND18, respectivamente).
Experimentos - Cenário II
Com a expansão da área de atendimento do SAIC, as demandas por serviços e os seus
respectivos tempos irão crescer de forma significativa. Através da simulação do atual Centro de
Controle Operacional aplicado ao SAIC previsto, faz-se uma estimativa do desempenho do CCO
frente às futuras mudanças e mostra-se que seu redimensionamento será uma exigência. A
estrutura do modelo computacional, mostrada nas Figuras 1 a 4, permanece a mesma, apenas a
ocorrência dos eventos e os tempos de serviços serão aumentados.
Para a situação de ampliação do sistema, foram consideradas as seguintes modificações
para o futuro sistema (veja os novos valores na Tabela 3):
(a) Ampliação do número de unidades atendidas: mais treze reservatórios e dezenove
elevatórias. Isto amplia em 50% o número de unidades atualmente atendidas. Para
isto, foi estimado um acréscimo no número de alarmes em torno de 33%.
(b) Incorporação de outros sistemas pelo SAIC proveniente de outras localidades
(Fazenda Rio Grande, Piraquara, Quatro Barras, e Campina Grande do Sul). Esta
ampliação aumentará a distância entre dois pontos extremos do sistema, que hoje é
de 40 km, em mais 20 km, isto é, para 60 km - aumentado com isto o tempo médio
dos serviços de ida a campo. Devido aos controles locais, bem mais complexos e
eficientes do que os existentes atualmente, o número de ocorrências de ida a campo
deve seguir a distribuição inicial com aumento de apenas 25% e o tempo de
atendimento não deve crescer mais do que 30%.
(c) Haverá um aumento no tempo médio de supervisão do SCADA na ordem de 10%.
(d) Estima-se que o número de reclamações de falta de água será aumentado em 25%.
Tabela 4: Comparações entre os novos cenários em relação à situação atual (Cenário I):
Índice de Desempenho Cenário II Cenário III (a) Cenário III (b)
IND1 654,80% -71,44% -47,43%
IND2 150,07% 26,60% 13,31%
IND3 417,39% -45,69% -29,93%
IND4 679,23% -74,33% -49,80%
IND5 674,68% -73,84% -48,34%
IND6 490,96% -46,25% 13,11%
IND7 515,98% -42,98% 17,80%
IND8 912,41% -21,29% -13,58%
IND9 1037,56% -49,13% -21,01%
IND10 596,89% -28,11% -4,70%
IND11 846,71% -18,19% 69,65%
IND12 670,14% -16,45% 70,13%
IND13 1075,34% -80,96% -62,49%
IND14 87,50% 26,84% 14,30%
IND15 27,38% -15,02% -14,62%
IND16 93,51% 46,24% -3,67%
IND17 45,30% -26,15% 8,36%
IND18 37,86% -9,17% 4,12%
Média 500,76% -28,85% -4,71%
ida a campo com equipe de 2. Por isso, o valor médio de utilização do engenheiro (IND11) foi o
que apresentou uma degeneração mais acentuada (aumento de quase 50%). Outros dois índices
(IND2 e IND14) também tiveram seus valores piorados (tempo médio de atividade de ida a
campo e valor médio de utilização dos carros), entretanto, seus percentuais ficaram a baixo de
30%, o que pode ser aceitável na prática.
Todos os demais índices foram melhorados com relação aos índices do cenário atual,
principalmente a média do tempo máximo de espera total de um Alarme SCADA e a média do
tempo máximo de espera total para cadastro de reclamações de falta de água. Na média geral (de
todos os índices), o índices melhoraram 13,68%. Na média, esta infraestrutura apresentará uma
melhora nos índices de desempenho na ordem de quase 30%.
Considerando-se o cenário III (b), oito índices ficarão um pouco pior do que os atuais
valores (veja os percentuais maiores do que zero na última coluna da Tabela 4). Na média, a
melhora desta nova configuração em relação aos índices atuais será de apenas 5%, gerando
assim, praticamente o mesmo desempenho atualmente obtido. A explicação se dá pelo fato de
que o supervisor é mais utilizado do que o engenheiro (veja que no Cenário I, a utilização do
engenheiro é de 32% enquanto do supervisor é de aproximadamente 51%). Portanto, o aumento
do número de supervisores traz mais benefícios do que o aumento da quantidade de engenheiros.
Sugere-se, portanto, que para atender ao futuro sistema de abastecimento de água
integrado de Curitiba, o novo centro de controle operacional deverá contar com uma expansão de
aproximadamente 50% dos seus recursos, isto é, deverão ser adquiridos mais um carro e um
microcomputador, e contratados mais um supervisor e um operador.
A figura abaixo resume a comparação dos cenários II, III(a) e III(b) em relação ao
cenário atual.
1200,00%
Diferença em relação ao Sistema Atual
1000,00%
Cenário II
800,00%
Cenário III (a)
600,00% Cenário III (b)
400,00%
200,00%
0,00%
14
15
16
17
18
10
11
12
13
1
9
D
-200,00%
D
D
IN
IN
IN
IN
IN
IN
IN
IN
IN
IN
IN
IN
IN
IN
IN
IN
IN
IN
Índices de Desempenho
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