Os direitos desta obra foram cedidos à Universidade Nove de Julho
Aula 14: A nova ordem social (Paulo Niccoli Ramirez)
A política de bem-estar social (welfare state) foi difundida pelos países
capitalistas principalmente logo após a crise de 1929 nos EUA, mas foi principalmente depois da Segunda Guerra Mundial (1945) que foi amplamente empregada por eles. A Revolução Russa, ocorrida em 1917 através do movimento socialista daquele país, lutava contra alguns dos princípios que regem o sistema capitalista: a propriedade privada, o lucro concentrado nas mãos dos empresários, a exploração do trabalhador que se dá por meio de jornadas de trabalho degradantes e cansativas e as péssimas condições de vida dos cidadãos. Ao combaterem o capitalismo, os socialistas defendiam a igualdade social, o acesso gratuito e de qualidade à educação, saúde, cultura, saneamento básico e afins. Essas ideias rapidamente se espalharam pelo mundo e os países capitalistas rapidamente preocuparam-se em barrar essa expansão, pois isso poderia representar a perda do poder político e econômico das elites burguesas. Foi assim que, para competir e evitar o desejo dos trabalhadores em obter os benefícios que eram prometidos pelos socialistas que os países capitalistas decidiram criar a política de bem-estar social. Com essa política os trabalhadores poderiam ter acesso à qualidade de vida e a políticas sociais sem que fosse necessário a implementação do socialismo. Os interesses dos empresários foram mantidos ao mesmo tempo em que os cidadãos obtiveram benefícios sociais. Getúlio Vargas, no Brasil, por exemplo, durante o seu primeiro governo (1930- 45) criou as leis trabalhistas (salário mínimo, FGTS, previdência social e afins) exatamente com o objetivo de evitar a expansão das concepções socialistas no Brasil e garantir a consolidação do capitalismo. Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo foi dividido em dois polos de influência: de um lado, os interesses dos EUA, que defendiam a disseminação do capitalismo pelo globo; de outro lado, A URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) comandada pela Rússia, que defendia o socialismo e, portanto, a extinção do capitalismo. Esse confronto, entre 1945 a 1989, foi conhecido como “Guerra Fria”, pois nunca houve uma guerra armada direta entre esses dois blocos econômicos distintos. Houve, na verdade, uma intensa corrida armamentista (bombas nucleares) e espacial (foguetes, satélites, viagem à Lua), ao mesmo tempo em que ambos buscavam influenciar outros países do mundo a seguirem os seus respectivos modelos econômicos e políticos. No entanto, os intensos gastos públicos da URSS em armas, tecnologia e políticas sociais levou-a a sua falência generalizada e incapacidade de manter domínio sobre outras nações, o que se tornou visível no ano de 1989 com a famosa “Queda do Muro de Berlim” e dois anos mais tarde quando se deu o fim definitivo da própria URSS, tornando a Rússia e outras nações agregadas a ela em países capitalistas. Do mesmo modo, os países capitalistas (EUA, França, Inglaterra, Itália, Brasil, entre outros) ao perceberem que o socialismo havia chegado ao fim, abandonaram a política de bem-estar social, dando origem à nova ordem social, ou seja, um mundo em que o socialismo tornou-se extinto, o que possibilitou também a construção definitiva da globalização e do neoliberalismo (estes conceitos foram expostos no Saiba Mais). Em outras palavras, os estados capitalistas se deram conta de que haviam vencido a “Guerra Fria” contra a URSS e os gastos na área social foram imediatamente abandonados, assim como outros gastos públicos com empresas estatais (levando-as à privatização) sem que em países menos desenvolvidos, como é o caso do Brasil, todos os problemas sociais e os ambientais (que entraram em pauta mais ou menos nesse mesmo período) tivessem sido resolvidos. A nova ordem mundial tirou o Estado capitalista de cena enquanto principal responsável por políticas sociais, econômicas e também ambientais. E o mercado, vitorioso no final do século XX e início do XXI, transformou-se no agente transformador da sociedade. Dessa forma, a responsabilidade social e ambiental realizada pelas empresas está diretamente associada à nova ordem mundial.