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EQUITY RESEARCH
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A incidência de chuvas no Brasil tem sido afetada por um fenômeno conhecido por El Niño
Oscilação Sul (ENOS), dividido em duas partes: El Niño e La Niña. No primeiro, nota-se um
aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico tropical, causando estia-
gem em alguns lugares das regiões Nordeste e Norte do país. Por sua vez, o La Niña carac-
teriza-se por um esfriamento anormal nas águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical, o
que tem gerado estiagem nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
Tal fenômeno influenciou drasticamente o último período úmido, que teve início tardio em
janeiro (dois meses depois) e encerrou em março de 2021, um mês antes. Com baixo vo-
lume de chuvas, os reservatórios do principal subsistema brasileiro, Sudeste/Centro-Oes-
te, acabou ficando bastante pressionado. Espera-se que este subsistema encerre outubro
próximo a 10% de toda sua capacidade, situação bastante critica.
Com isto, a atenção para o período úmido de 2021/22 redobra. Os modelos meteorológicos
do CPC (Climate Prediction Center) em parceria com o IRI (International Research Institute
for Climate and Society) apontam uma maior probabilidade de ocorrência de La Niña no-
vamente. Caso tenhamos um período úmido mais curto e/ou com menor volume de chuvas
novamente, podemos esperar uma situação ainda mais desafiadora para todo o ano de
2022, com maior uso das térmicas e altos custos para o sistema.
Probabilidade de La Niña em 09/09/21
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ASO SON OND NDJ DJF JFM FMA MAM AMJ
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La Niña La Niña
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ja
Oferta de Energia
A matriz elétrica brasileira conta com três principais fontes: hídrica, eólica e térmica, com a
solar em menor escala. Para entender a capacidade de produção total, analisemos o poten-
cial/expectativa de cada fonte.
Capacidade Instalada (MW)
4.078, 2% 19.553, 11%
38.769, 22%
115.624,
65%
Eólica Hidráulica Térmica Solar Fotovoltaica
Fonte: CCEE
Eólica
A atual capacidade instalada da fonte eólica soma 19,5 GW e deve crescer cerca de 8%
ainda este ano, mas com alta concentração na região Nordeste. Um ponto importante é que
a geração é mais intensa no período seco, com queda de performance no período úmido.
A ONS apresenta a curva do fator de capacidade mensal histórico e ao multiplicá-lo pela
capacidade instalada temos a seguinte expectativa de geração para os próximos meses:
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A queda mais abrupta no início do quarto trimestre em diante indica o momento mais deli-
cado de todo o sistema. Mesmo com a queda sazonal, salientamos que a fonte eólica é de
suma importância para garantir a oferta do sistema, ajudando, inclusive a minimizar o risco
de racionamento de energia elétrica. Um outro ponto de atenção, a queda de performance
durante o dia, que é justamente quando a demanda apresenta seus picos de consumo.
Geração média horária em
2020 (MWm)
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Fonte: ONS
Fonte térmica
A capacidade instalada das térmicas soma cerca de 39 MW e esperamos crescimento para
este ano ainda de quase 5%. Com uma das piores hidrologias da história e insuficiência de
geração hídrica, o uso das térmicas precisou ser estendido. Lembramos que ao longo do
período úmido, as usinas precisam entrar em processo de manutenção. Diante disto, a ONS
traçou dois possíveis cenários, considerando rodízio para paradas técnicas, com expecta-
tiva de entrega dos seguintes volumes:
20.000
15.000
10.000
5.000
0
Set Out Nov
Caso A Caso B
Fonte: ONS
O estudo do regulador traz projeções até novembro, mês no qual se inicia o período úmido.
Vemos probabilidade de que haja uma atualização do estudo até meados de abril, mês de
encerramento do período úmido. Em razão do extensivo uso das térmicas este ano, inclu-
ímos no radar a possibilidade de falhas ou pontos de estresse nestas usinas, podendo
haver necessidade de parada não programada, comprometendo a capacidade do siste-
ma.
Fonte térmica
A capacidade instalada da geração hídrica soma 115 MW, com previsão de expansão de
0,5% para o final deste ano. Contudo, com a hidrologia bem desfavorável, o potencial de
produção ficou comprometido.
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Fonte: ONS
Além disso, o mês de outubro deve ser o pico de estresse do sistema, em nossa opinião,
com a Energia Natural Afluente (ENA) – a geração via fluxo natural dos rios – ainda em nível
muito baixo, somado à queda sazonal da geração eólica e um menor despacho das térmicas
(cenário B), além da estabilidade dos bons níveis de consumo de energia, podendo existir
um descompasso entre oferta e demanda. Apesar de baixa a probabilidade, deixamos o
risco mapeado.
ENA Sudeste/centro-oeste (MWm)
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umido periodo umido
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Entretanto, mesmo com os reservatórios bem pressionados, entendemos que entre no-
vembro deste ano e abril de 2022, o risco de insuficiência de produção do sistema é menor,
dado que a geração hídrica deverá suprir a cadeia, mesmo que o nível de chuvas fique
novamente bem abaixo da média histórica. A ENA tem volume bem maior após novembro.
Os empreendimentos no rio Madeira (Santo Antônio e Jirau) e a Usina de Belo Monte são
fatores que contribuem para geração hídrica no período úmido, mesmo sendo a fio d’água
(não possuem reservatórios), por terem uma alta capacidade instalada, acabam gerando
quantidade significativa de energia no período úmido.
A luz no fim do túnel, em nossa visão, será o despacho térmico. Mesmo com um rodízio
para manutenção das usinas, a expectativa é de um despacho térmico muito acima do que
é comumente realizado no período úmido. Assim, mesmo com a queda sazonal da perfor-
mance da geração eólica, uma incidência de chuvas menor do que a média e manutenção
de um bom patamar no consumo de energia, podemos observar uma recuperação no
nível dos reservatórios, dado que a vazão dos rios entre os períodos úmido e seco é bem
diferente, acrescido da maior utilização das usinas térmicas.
Diante de todas estas variáveis, o governo deu início a medidas de forma preventiva, com o
intuito de amenizar possíveis impactos e adentrar o período úmido no melhor cenário pos-
sível. O primeiro, talvez o mais importante programa até agora, foi oferecer incentivos para
a redução voluntária da demanda aos players do Ambiente de Contratação Livre (ACL). De
forma ampla, os grandes consumidores de energia podem, ao reduzir o consumo, vender
esta mesma quantidade para o sistema, com o preço estabelecido semanalmente, me-
diante oferta mínima de 5 MW. Observamos de forma muito positiva tal medida nos atuais
tempos de crise, dado o alívio à parte da carga do sistema.
R$ 3.0 00
R$ 2.5 00
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R$ 1.5 00
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jan-19 mai-19 set-19 jan-20 mai-20 set-20 jan-21 mai-21 set-21
vo, uma vez que o volume total, mesmo que atingindo os 20%, representa pouca economia.
Uma outra medida foi a flexibilização dos limites de intercâmbio de energia entre os subsis-
temas. O critério que estava sendo adotado era o N-2, passando agora para o N-1, podendo
chegar a N-0 no futuro. Tal situação facilita o escoamento da energia elétrica e a disponibili-
dade entre os subsistemas. As regiões Norte e Nordeste são as principais exportadoras de
energia para o Sudeste/Centro-Oeste. Se por um lado a flexibilização do sistema ajuda na
oferta de energia, por outro vemos redução na confiabilidade, o que poderia levar a falhas
na rede, de forma isolada (os famosos “apagões”).
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Por fim, destacamos duas medidas com impacto direto no consumidor cativo: (i) a criação
de uma bandeira tarifária de escassez hídrica, com custo adicional de R$ 14,20 a cada 100
KWh consumidos que visa a desestimular o consumo de energia, dado que a bandeira ver-
melha patamar 2 tem um custo adicional de R$ 9,49 a cada KWh, e (ii) desconto na conta
de luz, de R$ 0,50 por KWh, para quem reduzir o consumo de energia entre 10% e 20%. A
medida vale entre setembro e dezembro de 2021, sendo o período de comparação os mes-
mos meses de 2020.
Conclusão.
Diante disto, em nossa opinião, o risco de racionamento ainda é baixo, apesar de maior/
menor probabilidade a depender do recorte. No período úmido, após novembro deste ano
até abril de 2022, entendemos que a crise hídrica terá pouco impacto, mesmo com condi-
ções de chuvas muito adversas.
Entretanto, vemos medidas extras (como o racionamento) com probabilidade maior de se-
rem adotadas em outubro, bem como no período seco de 2022, dada nossa visão de maior
estresse nestes períodos. Mas, mesmo em um momento delicado, não observamos ponto
de ruptura. Para o próximo ano, o cenário ainda está em aberto, a depender do nível de
chuvas e da utilização das térmicas.
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ag
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Demanda de Energia Oferta não hídrica Necessidade de oferta hídrica
Fonte: EPE, ONS Inter Research
Por um outro lado, os riscos de “apagões” são maiores. Dois argumentos base sustentam
nossa tese: i) a flexibilização da transmissão de energia de N-2 para N-1, bem como uma
maior importação de energia dos subsistemas Nordeste e Norte para o Sudeste/Centro-O-
este podem levar a falhas na rede, causando falta de luz em regiões isoladas no Brasil, ii) o
consumo de energia no intraday se acelera na parte da tarde e faz pico próximo às 20 horas
e, na contramão, como foi apresentado, a fonte eólica tem produção menor durante o dia
e maior na madrugada, podendo levar à insuficiência de geração de energia no horário de
pico, e, portanto, apagões de forma isolada.
Consumo de Energia no Intraday
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Fonte: ONS
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