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SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL

TÉCNICO EM ELETROTÉCNICA

DIEGO DANTAS
EDUARDO DE OLIVEIRA BACELAR
FRANDSON MICKAEL DOS SANTOS BARROS
HENRIQUE SILVA BORGES DOS SANTOS
JOÃO GABRIEL MARQUES DANTAS LIMA
MAILSON RAMOS DA SILVA

ENERGIA GEOTÉRMICA
UM PANORAMA GERAL SOBRE ENERGIA GEOTÉRMICA PARA GERAÇÃO DE
ELETRICIDADE

CAMAÇARI-BA
2021
DIEGO DANTAS
EDUARDO DE OLIVEIRA BACELAR
FRANDSON MICKAEL DOS SANTOS BARROS
HENRIQUE SILVA BORGES DOS SANTOS
JOÃO GABRIEL MARQUES DANTAS LIMA
MAILSON RAMOS DA SILVA

ENERGIA GEOTÉRMICA
UM PANORAMA GERAL SOBRE ENERGIA GEOTÉRMICA PARA GERAÇÃO DE
ELETRICIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso realizado no


curso técnico em eletrotécnica, da escola
técnica Serviço Nacional de Aprendizagem
industrial, orientado pelo professor Fábio
Wojtysiak Cruz, objetivando à aprovação da
disciplina e obtenção do diploma técnico.

CAMAÇARI-BA
2021
RESUMO

A energia em forma de calor certamente foi uma das primeiras formas


observadas e utilizadas pelos seres humanos em sua existência. Com o domínio do
fogo foi possível gerar calor no momento que fosse oportuno, cozer alimentos,
produzir ferramentas, aquecer locais em noites frias, dentre outros. Com o passar
dos séculos, a civilização fora capaz de aproveitar a energia oriunda da terra para
outros fins além do aquecimento de fluídos, a produção de energia elétrica também
poderia ser oriunda de uma fonte de energia térmica, no caso mais específico:
geotérmica. No artigo proposto são apresentadas as formas de utilização da energia
geotérmica, as aplicações para uso direto, também são destacadas as vantagens e
desvantagens da geração geotérmica seja em uso indireto ou direto. A situação no
mundo quando a disponibilidade de fontes de energia geotérmica também é tratada
no artigo. Ao Brasil, mostra-se o potencial energético que se tem disponível. E por
fim, os impactos ambientais da geração geotérmica, bem como as questões de
tecnologias empregadas e os investimentos necessários.

Palavras-chaves: energia geotérmica; produção de energia; impactos ambientais.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................... 2

2.1 A ENERGIA GEOTÉRMICA ...................................................................... 2

2.2 FORMAS DE UTILIZAÇÃO ....................................................................... 3

2.2.1 APLICAÇÕES DO USO DIRETO ........................................................... 3

2.3 GEOTERMIA PARA GERAÇÃO DE ELETRICIDADE .............................. 4

2.3.1 VANTAGENS DA EXPLORAÇÃO DO USO INDIRETO ........................ 6

2.3.2 DESVANTAGENS DO USO INDIRETO ................................................ 7

2.4 ENERGIA GEOTÉRMICA NO MUNDO .................................................... 7

2.5 ENERGIA GEOTÉRMICA NO BRASIL ..................................................... 9

2.6 OS EMPECILHOS DA ENERGIA GEOTÉRMICA .................................. 10

2.6.1 FALTA DE INVESTIMENTO ................................................................. 11

2.6.2 TECNOLOGIA ...................................................................................... 11

2.6.3 IMPACTO AMBIENTAL ........................................................................ 12

3. DISCUSSÃO ................................................................................................... 13

4. CONCLUSÃO ................................................................................................. 17

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 18


1

1. INTRODUÇÃO

A energia elétrica é imprescindível para o desenvolvimento de um país,


todo avanço tecnológico e econômico se deve a ela já que a maioria dos
sistemas produtivos se utiliza de eletricidade. Contudo, o impacto ambiental
causado pelas grandes usinas geradoras é um problema significativo.
De acordo com a IEA (International Energy Agency, 2020), somente 25,9%
da matriz elétrica mundial corresponde a fontes renováveis. Os outros 74,1% são
provenientes de fontes não-renováveis como carvão, petróleo, gás natural e
urânio (no caso das usinas nucleares), ou seja, mais da metade da população
depende exclusivamente dos combustíveis fósseis para geração de eletricidade.
Porém, as desvantagens do uso de fontes não regeneráveis são imensas, além
do seu reabastecimento vir a demorar milhões de anos, seus impactos
ambientais também são graves tendo em vista que emitem altas concentrações
de gases do efeito estufa na atmosfera.
Uma alternativa para esse problema é o uso de energia renovável que
além de ser praticamente inesgotável, é pouco poluente. Dentre as fontes
naturais, há uma pouco explorada e relativamente conhecida, a geotérmica,
energia primária proveniente do calor do interior da Terra, que pode ser utilizada
de maneira direta para turismo e abastecimento direto com água quente ou de
maneira indireta para geração de eletricidade.
Esse trabalho dará ênfase no uso indireto da energia geotérmica,
motivado pelo questionamento: Por que uma das fontes de energia mais limpas é
pouco explorada, considerando que mais da metade da população precisa de
energia impoluta e sustentável?
Neste artigo constam conceitos e aplicações da energia geotérmica,
regiões que apresentam potenciais para o uso indireto da mesma, sistemas de
geração, componentes utilizados em usinas geotérmicas, além da viabilidade
técnica e econômica desse tipo de energia. Através dessa pesquisa, é possível
auxiliar estudantes e pesquisadores em seus estudos acadêmicos, e bem como
revisar as possibilidades de geração através do calor da Terra.
2

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A ENERGIA GEOTÉRMICA

Geotérmica, palavra de origem grega onde geō significa Terra, e thermós,


calor. O calor que vem do coração da Terra (Enel green power).
O interior da Terra é formado basicamente por três camadas com
propriedades físicas diferentes, são elas: crosta, parte superficial do planeta
composto por grandes blocos rochosos; manto, região entre a litosfera e o núcleo,
constituída majoritariamente por rocha em estado líquido denominado magma e
outros minerais em estados sólidos; e núcleo, feito de metais como ferro e níquel
fundidos (KEMP,1991). À medida que se aumenta a profundidade, ou seja, se
aproxima do núcleo, a temperatura também se eleva devido ao gradiente térmico
(variação de temperatura em função do aumento de altitude ou profundidade em
relação a superfície da terra).
Figura 1 – Camadas do interior da Terra

Fonte: disponível em: <https://geografiafundamental.wordpress.com/2015/04/03/as-camadas-


internas-do-planeta/>. Acesso em 23 mar. 2021

O calor originado do interior da Terra em combinação com o movimento de


placas tectônicas estabelece em algumas regiões da crosta terrestre fortes
gradientes de temperatura. A presença de rachaduras em rochas permite que a
água da superfície se infiltre em reservatórios de quilômetros de profundidade,
retornando aquecida até a superfície em forma de jatos d‘água em alta temperatura.
A esse fenômeno deu-se o nome geysers, e dele é possível extrair o calor da Terra
3

para utilizar em atividades diárias da humanidade, incluindo gerar eletricidade


(KEMP,1991).
Em algumas regiões, os geysers não surgem devido à falta de um elevado
gradiente térmico, mas ainda assim é possível utilizar da temperatura elevada do
interior do planeta através dos reservatórios de águas subterrâneas como acontece
com o Sistema Aquífero de Guarani (aquífero que se expande por quatro países da
América do Sul: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) onde a geotermia já é
utilizada em águas termais (Revista do Departamento de Geografia – USP, Vol. 26,
2013).
A energia geotérmica é basicamente o aproveitamento desse calor que vem
do âmago da Terra através de geysers e aquíferos e pode ser convertido em outras
formas de energia na superfície terrestre. É uma das mais limpas fontes disponíveis
atualmente, tendo em vista sua baixa emissão de gases na atmosfera e nenhuma
necessidade de queima de combustíveis fósseis.

2.2 FORMAS DE UTILIZAÇÃO

O critério básico que define o modo de utilização do calor da Terra é a


entalpia, que é basicamente energia em forma de calor existente na matéria e em
reações (ANTUNES, 2013). Baseado nesse parâmetro, é possível utilizar da
geotermia de duas formas: uso direto, com baixa entalpia que fica abaixo de 50°C e
média entalpia entre 50°C e 150°C, já a forma indireta necessita de temperaturas
acima de 150°C e seu uso é voltado exclusivamente para geração de eletricidade
(Revista do Departamento de Geografia, Vol. 26, 2013).

APLICAÇÕES DO USO DIRETO

As águas em baixa e média temperatura fornecem condições para o


desenvolvimento de várias atividades, entre elas, aquecimento de água em parques
aquáticos, uso doméstico da água quente onde a mesma é diretamente distribuída
nas residências e industrias, e refrigeração onde as águas termais trocam calor em
torres de resfriamento (HAMZA, 2010). Essas aplicações reduzem o processo de
combustão e o uso de energia elétrica para aquecer à água em residências fazendo
assim um uso responsável e sustentável de energia. Todavia, a transmissão desse
4

calor fica limitado a pequenas distâncias devido as altas perdas no processo de


transferência, pois o calor tende a ser naturalmente dissipado no ambiente externo
aos canais de distribuição.

2.3 GEOTERMIA PARA GERAÇÃO DE ELETRICIDADE

A produção de energia elétrica por meio de geração geotérmica é viável


quando há a existência de fontes termais cujas temperaturas girem acima de 150°C.
Há três sistemas disponíveis para esse tipo de geração de energia elétrica, sendo
que a aplicação de um desses depende exclusivamente da natureza da fonte
geotérmica disponível no local.
Segundo Rabelo et al. (2002), o primeiro sistema é o dry steam (DS), no qual
a fonte produz diretamente o vapor através do poço; a single flash (1F) é utilizado
em casos onde os recursos geotérmicos produzem águas com temperaturas
elevadas ou uma combinação de água e vapor aquecidos, que são separados,
aproveitando o último para realizar a propulsão dos geradores elétricos; o terceiro é
conhecido como binário (B), esse pode trabalhar em fontes com temperaturas
médias ou até baixas, nesse sistema o vapor que movimenta a turbina não é o fluído
geotérmico mas sim um refrigerante que circula por um caminho fechado. Esse
último sistema elimina o uso extensivo de água, uma vez que ao término do
processo, o fluído é reinjetado no poço. O fato de ser um sistema fechado também
permite seu uso em pequenas instalações, podendo produzir entre 200 e 1000 kW.
Há também um processo chamado Hot Dry Rock (HDR) que consiste em
extrair grande quantidade de calor oriunda de rochas que estão em profundidades
acima de 3000 a 6000 m. Esse sistema possibilita a utilização indireta da geotermia
em qualquer região do mundo, isso porque ele funciona com a criação de poços
artificias onde são injetados água que posteriormente é aquecida no subsolo e
retornando a superfície no estado adequado para o funcionamento de uma usina,
em outras palavras, é um reservatório geotérmico criado artificialmente. Todavia, o
HDR é limitado pelos altos custo com perfuração, pois 60% do valor total da usina é
utilizado para alcançar as profundezas do solo.
Em uma usina geotérmica, independente do sistema que seja utilizado as
características construtivas da usina em si não variam muito. O vapor captado ou
produzido no(s) poço(s) é canalizado para movimentar as pás da turbina que é
5

acoplada ao gerador elétrico, com isso, por meio das transformações de energia
(térmica/mecânica/magnética/elétrica), o gerador produzirá a energia a ser injetada
no sistema elétrico. Em alguns casos de usinas que possua sistema fechado, há a
presença de câmaras de condensação ou radiadores para que o vapor condense e
seja devolvido ao sistema para que novamente seja produzido o vapor e este dê
continuidade ao processo.

Figura 2 – Representação de uma usina geotérmica

Fonte: disponível em: < https://www.enelgreenpower.com/pt/learning-hub/energias-


renoveveis/energia-geotermica>. Acesso em 14 abr. 2021

FLUÍDO GEOTERMAL – Fluído composto majoritariamente por água e outras


substâncias no estado gasoso. Esse vapor em alta pressão que será utilizado para
girar as turbinas do gerador elétrico.
VAPORDUTO – Duto instalado entre a superfície e o interior da Terra. Através dele
o vapor será conduzido até as turbinas.
POÇOS DE EXTRAÇÃO – Conjunto de vapordutos responsáveis por extrair calor do
interior da Terra e conduzir pelo resto da usina.
6

TURBINA A VAPOR – Componente responsável por transformar energia potencial


em energia cinética e auxiliar no funcionamento do compressor.
COMPRESSOR – Equipamento que tem como finalidade aumentar a pressão do
fluído e transportar o mesmo até o condensador.
ALTERNADOR – Conversor de energia cinética em energia elétrica.
POÇOS DE REINJEÇÃO – Duto pelo qual o fluído será reinjetado no subsolo.
CONDENSADOR – Parte responsável pelo processo de condensação, ou seja,
substância gasosa voltando ao estado líquido.
TORRE DE RESFRIAMENTO – Auxilia na troca de calor para que o fluído entre no
estado líquido.
TRANSFORMADOR – Responsável por elevar a tensão para o minimizar as perdas
durante o processo de transmissão de energia elétrica.
REDE – Sistema de transmissão de eletricidade para o consumo.

2.3.1 VANTAGENS DA EXPLORAÇÃO DO USO INDIRETO

A energia geotérmica, apesar de ser ainda pouco explorada no cenário


energético mundial para fins “indireto”, ou seja, para a geração de eletricidade, é
considerada uma energia limpa por ser uma fonte de energia que não propicia a
emissão de poluentes nocivos durante a produção de energia, além disso sua
capacidade de utilização independe de condições climáticas, nesse quesito passa a
frente de outras fontes de energia como por exemplo, a eólica e a solar que
dependem de condições meteorológicas para seu funcionamento. Entre as
vantagens com o recurso geotérmico destacam-se também o fato de que o fluido
extraído da crosta terrestre é reinjetado novamente na mesma, tornando assim o
recurso geotermal uma fonte de energia renovável. Outro benefício é que a
introdução da energia geotérmica na matriz energética reduz custos com a
exploração e utilização de fontes não-renováveis, como o carvão mineral e o
petróleo, por exemplo, e contribui para a sustentabilidade do planeta. Com relação
aos aspectos econômicos, o preço da energia vendida pelas usinas geotérmicas em
2015 variava entre USD 0,03 a USD 0,05 por kWh gerado, enquanto o preço
ofertado pelas usinas hidrelétricas girava em torno de USD 0,12 informações obtidas
da (PESQUISA UNIFICADA, 2015).
7

É importante destacar que para a implementação de uma usina não é


necessário desmatamento e desvio do curso de rios. Além disso, não há riscos
associados a contaminação por vazamento de qualquer tipo de compostos (a usina
opera basicamente com o aproveitamento dos recursos geotermais), assim como
não há poluição atmosférica, uma vez que o vapor liberado para a atmosfera é
composto majoritariamente de água.

2.3.2 DESVANTAGENS DO USO INDIRETO

Entretanto, o recurso geotérmico também apresenta algumas desvantagens,


entre elas são destacadas as condições de atuação das usinas que, só podem ser
construídas em locais geologicamente propícios existente em menos de 10% do
planeta (uma das causas de ser pouco explorada), o custo inicial elevado para
perfuração do poço, os estudos para a implantação da usina, poluições sonoras
existentes na fase de implantação da usina, dentre outros.
Outro fator importante é em relação ao alto custo estimado para a instalação
de uma usina onde, os gastos iniciais são estimados entre USD 3000 a USD 5000
por kW instalado (para uma usina pequena <1MW), (PESQUISA UNIFICADA, 2015).
Dentre os principais impactos ambientais decorrente da exploração da
energia geotérmica com a geração de eletricidade estão a liberação de gases
dissolvidos na atmosfera, como o H2S (sulfeto de hidrogênio), o aluimento da terra,
poluição sonora, além do aumento da temperatura nos arredores onde está
instalada a usina provocado pela liberação de vapores na atmosfera. Embora a
liberação de gases desmanchados na atmosfera ser irrelevante, os gases são
liberados na fase de perfuração do poço, durante um tempo médio de 25 minutos,
quando a perfuratriz alcança a profundidade adequada para extração do fluido e
vapor, depois disso apenas água quente é extraída.

2.4 ENERGIA GEOTÉRMICA NO MUNDO

No cenário mundial a energia geotérmica já está presente em todos os


continentes com exceção da Antártida. De acordo com o Portal Energia, em 2015 o
potencial geotérmico instalado chegou aos 13,3GW e havia projetos com estimativas
8

de produção de energia em 18,4GW para o ano de 2021. Esses números são


pequenos se comparados com outras fontes primárias, porém segundo a GEA
(Geothermal Energy Association) considerando a tecnologia e o conhecimento
atual há uma conjectura de mais de 200GW de potencial geotérmico disponível a
nível mundial, ou seja, baseado nos estudos atuais somente 6 a 7% da energia
geotérmica é aproveitada para atividades.
“No momento, talvez estejamos explorando apenas 6% da energia
geotérmica.” 1(ADNAN Z. AMIN, 2017)
Esses 6 a 7% são explorados nos 6 continentes para o uso direto e geração
de eletricidade. A tabela abaixo apresenta informações referentes a capacidade
instalada de cada país e seus respectivos preço em kw/h.

2
Tabela 1 – Capacidade instalada de usinas geotérmicas nos países (2015).

CAPACIDADE 3
PREÇO
CONTINENTE PAÍSES INSTALADA
DO KW/H
(GW)
China 0,027 $ 0,08
Filipinas 1,9 $ 0,18
Ásia Indonésia 1,4 $ 0,10
Japão 0,53 $ 0,27
Rússia 0,097 $ 0,06
Nova Zelândia 0,973 $ 0,25
Oceania
Papua-Nova Guiné 0,056 --
Alemanha 0,04 $ 0,37
Islândia 0,665 $ 0,14
Europa
Itália 0,944 $ 0,26
Portugal 0,029 $ 0,28
Quênia 0,608 $ 0,21
África
Etiópia 0,008 $ 0,008
México 1,1 $ 0,085
Estados Unidos 3,6 $ 0,150
Costa Rica 0,204 $ 0,149
América do Norte
El Salvador 0,205 $ 0,176
Guatemala 0,042 $ 0,250
Nicarágua 0,109 $ 0,213
América do Sul Chile 0,048 $ 0,201

1
Diretor-Geral da IRENA (International Renewable Energy Agency)
2
A tabela foi construída com base nos dados retirados do Portal Energia disponível em: <
https://www.portal-energia.com/mercado-global-da-industria-geotermica/>. Acesso em: 23 abr. 2021
3
Fonte: Disponível em: < https://pt.globalpetrolprices.com/electricity_prices/>. Acesso em: 23 abr.
2021
9

Fonte: Autoria própria

Através da tabela é possível perceber que os Estados Unidos é líder quando


se trata de capacidade de geração elétrica através da geotermia, seguido por
Filipinas e Indonésia. Já na América do Sul, o Chile é único país com capacidade
instalada, porém, alguns estudos já mostraram que existe um potencial inexplorado
no continente sul-americano, incluindo o Brasil.

2.5 ENERGIA GEOTÉRMICA NO BRASIL

De acordo com LUND; BOYD (2016) o Brasil possui um uso anual de


6.622,4TJ ano em energia térmica. É importante destacar que a energia que é
coletada através dessa fonte termal em sua grande escala é utilizada no Brasil para
fins turísticos e recreação, os locais que estão considerados comuns a esse tipo de
atividade são, Caldas Novas (GO), Piratuba (SC), entre outros (VICHI; MANSOR,
2009).
Ainda em concordância com LUND; BOYD (2016), na localidade de Cornélio
Procópio (PR) uma indústria faz a utilização da energia geotérmica com o uso direto
da água térmica desde 1980, a mesma é bombeada de dois poços subterrâneos e
utilizada no pré-aquecimento de caldeiras para fabricação de café, em Taubaté (SP)
no período de (1970 e 1980) também foi usada a água termal no tratamento
industrial de madeira. Esses dados demonstram que a energia geotérmica já é
utilizada por meios diretos no Brasil, mas para a geração de eletricidade ainda é
apenas um objeto de estudo onde há somente teorias limitadas em regiões do país
que apresentam temperaturas elevadas.
Pesquisas foram realizadas na região de Minas Gerais com o intuito de
avaliar o potencial geotérmico do estado, e assim os resultados que foram
apresentados das regiões de maior excesso de temperaturas são a Bacia do São
Francisco, o triângulo Mineiro e pequenos trechos da região Sul e Sudeste do
estado que aguçam temperaturas entre 150ºC e 180ºC. Considerando essa faixa de
temperatura podemos afirmar que há potencial ainda não explorado em função do
uso indireto da energia geotérmica. Em conformidade com os autores, o potencial de
exploração em grande escala de água com baixa temperatura geotérmica para
utilização industrial e aquecimentos de espaços, é considerado significativo na parte
10

central da bacia Paraná (situada nas regiões Sul e Sudeste do Brasil). De acordo
com Hamza, Alfaro e Cardoso (2010) os recursos geotérmicos esmiuçados no Brasil
são estimados em 250MWt (Mega Watt Termal).
Os primeiros estudos de avaliação de recursos geotermais no Brasil de
acordo com (Gomes), foram realizados pelos trabalhos de Hamza (1983) e Eston
(1981), mas recentemente estudos em escalas regionais têm acometido a avaliação
e o aproveitamento do recurso geotermal, tanto no uso direto como em seu uso
indireto, com isso destacam-se os trabalhos realizados por Alexandrino, Couy e
Rodrigues (2012), Gomes e Hamza (2005), Gomes (2009), Souza Filho(2012) e
Rabelo et al. Na Bacia de Taubaté, Souza Filho realizou estudos para viabilizar a
geração de energia elétrica, através da injeção de fluidos circulantes no meio
fraturado de rochas sedimentares, que ao serem aquecidos retornam a superfície
em forma de vapor e assim serem utilizados.
Em compêndio, o autor concluiu que havia duas áreas no vale do Paraíba que
despertaram interesse e posteriormente seriam objetos de novas pesquisas. Gomes
e Hamza publicaram resultados de estudos geotérmicos realizados com 72
localidades na avaliação de gradientes de temperatura e a corrente geotérmica da
crosta superior no Estado do Rio de Janeiro, os autores concluíram que de acordo
com os dados dos estudos atuais, o Rio de Janeiro se destacou como estado
brasileiro com a maior densidade de dados para medições de energia geotérmica no
Brasil. Contudo, apesar dos estudos apontarem certo potencial, o Brasil ainda não
tem nenhuma usina geotérmica instalada e nenhum projeto de instalação, o uso da
geotermia fica limitado a forma direta de utilização.

2.6 EMPECILHOS DA ENERGIA GEOTÉRMICA

A energia geotermia atualmente é praticamente inexplorada considerando que


seu potencial energético, corresponde à 0,3% da capacidade global instalada (DW
ENERGIA RENOVÁVEL, 2017). Há vários motivos que impedem o desenvolvimento
desse tipo de energia, como falta de investimento, tecnologias e o impacto
ambiental. "Precisamos desenvolver novas tecnologias e encorajar novos
investimentos, a fim de assegurar que cobriremos essa lacuna", enfatizou o ministro
italiano do Meio Ambiente, Gian Luca Galletti, na cúpula em Florença.
11

2.6.1 FALTA DE INVESTIMENTO

A IRENA (International Renewable Energy Agency) divulgou relatórios


mostrando que a maior barreira no avanço geotérmico é o acesso de solo
favorável para a perfuração, levando em conta que esse é processo mais caro de
toda a construção de uma usina geotérmica. “A energia geotérmica está
emergindo como uma joia oculta entre os recursos africanos de energia
renovável, e precisamos cooperar para assegurar que ela cumpra o seu
4
potencial", diz Abou-Zeid. Um país que não carece de compromissos de
investimento no setor é a Indonésia, com 4 MW de capacidade adicional
planejada para os próximos anos, em seguida vêm os Estados Unidos, Turquia e
Quênia (DW ENERGIA RENOVÁVEL, 2017). A lista de países que investem no
uso indireto da geotermia é pequena, o que causa um atraso no desenvolvimento
de informações e tecnologia. Esse é um obstáculo a ser superado à medida que
mais nações investem no estudo da geotermia.

2.6.2 TECNOLOGIAS

Atualmente a tecnologia mais avançada para o uso da geotermia é o Hot


Dry Rock. O método é semelhante ao usado pela geotérmica vulcânica, porém o
HDR possibilitará a geração de energia elétrica abundante, em tese, em qualquer
lugar do planeta. O trabalho dos engenheiros é criar gêiseres artificiais, por meio
de injeções de água em falhas geológicas de rochas aquecidas.
Na Alsácia, essas perfurações chegam a 5KM de profundidade, a água
aquecida chega à superfície a 163°C, suficiente para alimentar as duas turbinas,
cada uma com 25MW (PORTAL APRENDIZ, 2008). Dessa forma, garante
produção de eletricidade de uma fonte limpa e renovável, já que as camadas
rochosas do subsolo são reaquecidas pelos fluxos térmicos da Terra. "Com a
procura de investidores, verificada desde a inauguração da central, imagino que o
sucesso comercial da energia geotérmica de rochas profundas já possa ser
alcançado em 20 anos", disse ao Estado o geólogo Albert Gender, coordenador
científico do projeto. Todavia a ÚNICA tecnologia que é viável tecnicamente em

4
Amani Abou-Zeid – Comissária de infraestrutura e energia da Comissão de União Africana.
12

todo lugar da Terra, em alguns casos se torna inviável economicamente por conta
dos custos de perfuração.

2.6.3 IMPACTOS AMBIENTAIS

Nas mesmas experiências realizadas na Alsácia, o risco de 5microssismos


revelou-se o maior empecilho técnico. O desafio é encontrar um meio de impedir
que as injeções de água em baixa temperatura não causem rachaduras na
camada de rochas aquecidas. Os resultados estimulantes obtidos por
experiências como a Central Geotérmica de Soultz-sous-Forêt, a revista britânica
The Economist não hesitou em apontar a energia geotérmica, em um relatório
publicado em junho, como uma das cinco fontes de energia do futuro. Apesar do
custo de exploração ser um problema, o maior entrave à viabilidade comercial é
outro: geólogos e engenheiros ainda não sabem como dominar os terremotos
(Europeus buscam energia nas rochas, 2008) "Há risco de que zonas geológicas
estáveis enfrentem mudanças de sismicidade. Ainda não conseguimos responder
a essa questão", diz Philippe Duma, delegado do Conselho Europeu de Energia
Geotérmica. Esse obstáculo é o desafio dos próximos anos e a maior barreira
para o desenvolvimento da energia geotérmica para geração de eletricidade.

5
Movimento muito pequeno da crosta terrestre registrado por um sismógrafo.
13

3. DISCUSSÃO
CONCEITO BÁSICO – FLUXO DE CALOR GEOTÉRMICO

Segundo o Brasil Escola, fluxo de calor trata-se da troca de calor entre


dois sistemas com temperaturas diferentes, onde o calor tende a fluir do
corpo mais quente para o corpo mais frio. Sua unidade de medida é mW/m².
Mapas de fluxo de calor geotermal serve como base para
identificarmos potencial existente nas regiões.

Figura 3 – Mapa do fluxo de Térmico da Terra (2008)

Fonte: Grupo de Geotermia do Observatório Nacional

Observando o mapa acima podemos notar a existência de um alto fluxo de


calor próximo a América do Sul. No entanto se comparado a escala do mapa global,
é imperceptível a presença de potencial em localidades como o Brasil, país no qual
daremos ênfase nessa discussão.
Para isso, vamos nos aproximar mais da América do Sul, assim podemos
perceber que há sim a presença de um alto fluxo de calor em algumas partes do
continente.
14

Figura 4 – Mapa de fluxo Calor da América do Sul

Fonte: Revista Espacios

Esse calor é aproveitado no continente Sul-Americano apenas para fins


diretos, com exceção do Chile. No Brasil, além do que já foi citado em 2.5
ENERGIA GEOTÉRMICA NO BRASIL, vale ressaltar que o Sistema Aquífero de
Guarani (Citado em 2.1 ENERGIA GEOTÉRMICA) é o principal meio de extrair o
calor do interior da Terra. No entanto, os estudos mencionados também no item
2.5, demonstrou que há localidades no Brasil com potencial para geração de
eletricidade. Se considerarmos o fluxo de calor, o gradiente térmico e a entalpia,
existem diversas outras regiões em que seria possível a exploração indireta da
geotermia.
A tabela a seguir apresentam dados geotérmicos referentes aos estados
nordestinos Brasileiro.

Tabela 2 – Dados geotérmicos de cidades Brasileiras (Adaptada)

DADOS GEOTÉRMICOS
LOCALIDAD ESTAD
E O GRAD. FLUXO
°C/km mW/m²
15

Caraiba BA 14,4 300


Caruaru PE 34,8 299
Caridade CE 99,1 259
Fortaleza CE 99,8 248
Crateus CE 86,2 237
Quixadá CE 82,7 229
Paramoti CE 79,1 165
Camindé CE 76,2 165
Maranguape CE 54,9 152
Pacatu CE 55,1 118
Baturité CE 50,5 105
Salgado SE 39,3 105
Macau RN 40,5 104
Itataia CE 35 102
Fazenda Nova PE 51 91
Natal RN 26 84
Mossoró RN 21,3 77
Parazinho RN 21,4 73
Jandaira RN 26 72
Água Grande BA 29,8 66
Araçás BA 25,2 57
Poço de Fora BA 20,2 56
Itapicuru BA 18,7 51
Caetiti BA 17,5 51
Jacobina BA 7,2 47
Cipó BA 15,7 38
Arraial BA 10,8 38
Pedra Grande RN 9,6 38
Itaparica BA 12,7 32
Santa Luz BA 8,9 28
Monteiro PB 7 21
Fonte: Revista Brasileira de Geociências, volume 19, pág. 312

Como podemos notar, no Brasil existem os recursos naturais necessários


para construção de uma usina geotérmica, isso fica evidente nas três primeiras
localidades da tabela 2, onde vemos que os dados geotérmicos apresentam valores
elevados o suficiente para a utilização do método binário ou Hot Dry Rock. Porém, o
acesso a esses recursos é mais difícil do que em regiões com uma geologia
favorável, o que nos limita apenas a tecnologia HDR. Como já mencionado em 2.3
GEOTERMIA PARA GERAÇÃO DE ELETRICIDADE, essa tecnologia é
extremamente cara, principalmente as perfurações do solo. Não foram encontrados
dados comparativos suficiente e valores exatos para podermos orçar o custo de
16

instalação de uma usina geotérmica no Brasil, apenas valores inicias e descrições


do suposto alto investimento. O que sabemos é que a natureza reage a todo tipo de
modificação do homem em seu terreno, e a criação de poços artificiais
eventualmente causaria um problema maior; microssismos.

Figura 5 – Exemplo de sismos e microssismos

Fonte: SlideShare – disponível em: <https://pt.slideshare.net/s1lv1alouro/sismos-


7257742> Acesso em 21 de maio de 2021

As ondas sísmicas originadas pela falha geológica ao criar poços


artificias são definitivamente a causa principal para o pouco uso em regiões
com geologia desfavorável, ou no caso do Brasil, nenhum uso. Mudanças de
sismicidades podem gerar consequências imprevisíveis, e como dito em
2.6.3 IMPACTOS AMBIENTAIS os estudiosos ainda não sabem como
controlar os terremotos. O Brasil está numa zona geológica cuja a ocorrência
de terremotos é muito baixa e se consideramos os estudos realizado em
Alsácia e que os países com terreno favorável a esse tipo de energia têm
intensa atividade tectônica, podemos excogitar que a criação de
reservatórios artificias levaria ao aumento de ocorrências de
tremores/terremotos e tsunamis.

Baseado no que foi discutido e o fato de que o Brasil tem outras


fontes primárias renováveis de energia para gerar eletricidade, os estudos e
desenvolvimentos para geração de eletricidade vinda do calor da terra não
17

terão êxito no país Sul-Americano. Podemos dizer que o recurso geotermal


existe, mas sua utilização ainda não se faz necessário.

4. CONCLUSÃO

A pesquisa desenvolvida possibilita a formulação das seguintes conclusões:


 A energia geotérmica, por mais impoluta que seja e exprima
vantagens consideráveis perante outras fontes primárias, ainda é considerada
tecnicamente “desconhecida” e economicamente inviável em regiões que
retratam outras fontes de energia;
 A tecnologia que possibilita o uso da geotermia em qualquer
parte do planeta, também pode acarretar alterações no comportamento
sísmico do subsolo.
 No Brasil, apesar de apresentar potencial os altos custos e
impactos ambientais não compensam tendo em vista a variedade de outros
recursos no país;
 A utilização da energia geotérmica para fins de eletricidade em
termos de recurso geotérmico é viável no Brasil, levando em consideração
que é necessário a existência de fontes termais que apresentem
temperaturas acima de 150 ºC.
 Um contexto benéfico está no fato de que se introduzida a
energia geotérmica na matriz energética reduzirá drasticamente o consumo e
a exploração de fontes não renováveis, além de contribuir para a
sustentabilidade do planeta.
 Os recursos geotérmicos são desvantajosos por conta dá
instalação só ser bem-sucedida se instalada em locais geologicamente
propícios, que se restringem em menos de 10% do planeta.
 É necessário um alto investimento inicial para implantação de
uma usina geotérmica, principalmente na perfuração que é realizada
contendo de 3000 m a 6000 m no subsolo, além de um elevado custo em
estudo do terreno.
 A exploração da energia geotérmica traz consigo impactos
ambientais sendo eles: a poluição sonora e o aumento de temperatura onde
está será instalada por conta da liberação de vapores na atmosfera.
18

 Existe um alto potencial para extração e utilização da geotermia


a nível mundial, porém, além dos investimentos iniciais são necessários
estudos aprofundados para uma melhor concretização do projeto.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 Kemp, Richard. The Picture Atlas of The World. Londres: Dorling


Kindersley, 1991.
 ENEL GREEN POWER. Energia Renováveis, Energia Geotérmica.
Disponível em: <https://www.enelgreenpower.com/pt/learning-
hub/energias-renoveveis/energia-geotermica> Acesso em 20 de
mar. 2021
 Revista do Departamento de Geografia – USP, Vol. 26, 2013. CAMPOS,
Adriana Fiorotti; SCARPATI, Cynthia de Barros Lima; SANTOS, Luan
Tolentino; PAGEL, Uonis Raasch; SOUZA, Victor Hugo Alves.
 Revista Espacios - Um panorama sobre a energia geotérmica no
Brasil e no Mundo: Aspectos ambientais e econômicos,
Vol. 38, 2017. RABELO, Jorge L.; OLIVEIRA, Jefferson N.; Rezende,
Rosemiro J.; WENDLAND, Edson.
 APROVEITAMENTO DA ENERGIA GEOTÉRMICA DO SISTEMA
AQÜÍFERO GUARANI - ESTUDO DE CASO. NEVES, Luís; PEREIRA,
Alcides; DIAS, José Matos.
 Os Sistemas Geotérmicos Estimulados (EGS/HDR): um
desafio para o século XXI.
 ANTUNES, Murilo Tissoni. Química Ensino Médio 2° ano. São Paulo,
2° Edição, 2013.
 PORTAL ENERGIA. Mercado Global da Iindústria Geotérmica.
Disponível em: <https://www.portal-energia.com/mercado-global-da-
industria- geotermica/> Acesso em 25 mar. 2021
 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ. Europeus buscam energia
das rochas.
Disponível em: <http://uece.br/nit/index.php> Acesso em 15 mai. 2021

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