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OS PROCESSOS DE REETINIZAÇÃO DA UMBANDA NO CEARÁ *


ISMAEL POROEUSJR.**

"aumentou minha convicção de que mais do que qualquer dos numerosos fatores que influenciam o desenvolvimento dos países, na
maioria dos casos é principalmente a cultura que explica por que alguns se desenvolvem mais rápida e homogeneamente que outros."
Lawrence HARRISON

"De subfator secundário, de longínqua e negligenciável conseqüência, as mentalidades tornar-se-ão o centro em torno do qual tudo
gravita: motor essencial do desenvolvimento, ou obstáculo intransponível.»
Alain PEYREFITTE

O
presente ensaio RESUMO A Umbanda seria, as-
trata dos proces- sim, um espaço de ree-
Este ensaio trata de processos de reetinização da Umbanda no Ceará entre
sos de reetiniza- grupos indígenas que reivindicam o reconhecimento étnico. Este lenômeno tinização utilizado por
ção da Umbanda nos de reetinização é observado entre os Pitaguari e os Tremembé, este último esses grupos no Ceará.
loi o grupo étnico a ser reconhecido em primeiro pela FUNAI. A dança do
grupos indígenas que Venho, há algum
Toré, que loi considerada, em determinado momento, como "coisa de índio
reivindicam sua etnici- velho", tornou-se um indicador da identidade indígena. Quando membros tempo, refletindo sobre
dade no Ceará. Esse fe- dos Pitaguari e Tremembé aderiram às práticas de Umbanda, passaram a a problemática das
utilizá-Ia como sendo uma das manilestações culturais diacríticas de re-
nômeno pode ser ob- construção da etnicidade indígena. E encontraram nessas práticas religio- identidades, caboclo/
servado entre os sas, um terceiro espaço, onde os símbolos culturais poderiam ser índio, assim como sobre
reinterpretados e selecionados para um lim em particular objetivado por
Pitaguari nas cercanias esses grupos.
a necessidade de nossas
de Fortaleza, e os pesquisas acrescenta-
Tremembé, primeiro ABSTRACT rem a estas questões de
THE CULTURALCHANGEPROCESSOF UMBANDA IN THE STATEOFCEARA
grupo a ser reconheci- reetinização da
do pela FUNAI, no This essay evaluates the cultural change process 01 Umbanda as it is lound Umbanda as especifi-
among indigenous groups that claim their ethnic recognization in the State 01
município de Itarema, Ceara.This phenomenon is observed among the Pitaguaris, in the outskirts 01 cidades culturais do
litoral oeste do estado. Fortaleza, and the Tremembes, who live in the county 01 Itarema, the latter Ceará e do imaginário
being the lirst group to be recognized by FUNAI. The Tore dance, which was referente à religião
Até há alguns anos, a
claimed, at a certain time, by some, as a "thing 01old Indians", became an
dança doTorém, na indicator 01 Indian identity. When members 01 the Pitaguaris and Tremembes umbandista. Essas pre-
qual é utilizado o joined the Umbanda religious practices, this process was consolidated as ocupações, bastante re-
diacritical mark to the reconstruction 01the Indians' ethnic identity, and lound
mocororó (fermentação in it a road to differentiate lrom Catholicism, that is, they lound a third space correntes em meus tra-
do suco do caju), era where cultural symbols can be reinterpreted and set apart lor a particular balhos, foram por mim
purpose, a purpose 01 their own.
considerada "coisa de tratadas, recentemente,
índio velho", servindo, . Comunicação apresentada,em primeira versão,no Fórum Reiigiões de Transe em um ensaio na cole-
assim, como sinal no Brasil Contemporâneo: problemas de interpretação. Olinda(PE), XXIVReu- tânea "Ceará: Terra da
nião Brasileira de Antropologia., 2004.
diacrítico de indianida- Luz, Terra dos Índios"
* * Prolessor Titular - Universidade Federal do Ceará
de. Com a adesão de (pordeus Jr. 1., 2002f
membros desses gru- Procuro demonstrar
pos Tremembé e Pitaguary à Umbanda, proces- que, como categoria social, o caboclo faz parte de
sam-se práticas religiosas, que irão reforçar, com uma estratégia utilizada pelos grupos dominantes
esses sinais, a reconstrução da identidade étnica. no processo de espoliação das terras indígenas.

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Assim sendo, essa categoria é também situacional, missionários utilizavam cânticos e danças como
sendo utilizada de acordo com as circunstâncias. veículos das pregações cristãs conforme sublinha
A nomeação da categoria caboclo, em um Clastres: "Os cânticos entrelaçados de frases não
primeiro momento, está presa a um determinado cantadas, tornavam-se a ocasião das narrações
tempo histórico e econômico, a uma atividade rela- miticas, a ordem do mundo e a promessa de uma
cionada à implantação do Pacto Colonial nos ser- terra nova" (CLASTRES, 1962: xx).
tões do que hoje é designado de Ceará. Em outro A fixação do caboclo à terra tornou-se difícil
momento, o caboclo/índio encontraria no Espiri- por uma série de fatores, dentre eles, o fato de a
tismo de Umbanda a possibilidade situacional de terra haver-se tornado objeto de cobiça e de luta
teatralizar, no imaginário dos grupos religiosos, a entre os fazendeiros; e as longas estiagens que leva-
permanência da identidade indígena perdida, sem ram os caboclos a se deslocar de um lugar a outro.
sofrer a dominação cultural em substituição à vio- Tais fatores provocaram o fracionamento das anti-
lência e à coerção dos grupos hegemônicos. gas linhagens indígenas, numa dispersão atomizada,
pondo fim às relações de ajuda mútua. A destrui-
De índio a caboclo: a identidade fragmentada ção dessas relações de solidariedade tornou estes
indígenas cada vez mais dependentes dos fazendei-
N este artigo, procuro explicar o ros, que os utilizaram como mão-de-obra desam-
engajamento progressivo da população indígena parada e desejosa de recuperar parte da solidarieda-
no processo econômico colonial do novo país, em de perdida, necessária a todas as comunidades do-
benefício de um não especificado caboclo - serta- mésticas. Ao mesmo tempo, foram envolvidos por
nejo, marginalizado, espoliado e sem rosto. uma relação de parentesco fictício tirado da ideolo-
Em um estudo antropológico sobre o gia cristã: o compadrio (DELAUNAY, 1988: 110).
campesinato nordestino, especificamente sobre o E os que não aceitaram a imposição da nova or-
caso cearense, Daniel Delaunay (1988), tendo tra- dem, da nova visão de mundo e da identidade cabo-
balhado, exaustivamente, sobre os clássicos da cla, a que ficaram reduzidos? Durante mais de sé-
historiografia que tratam da colonização no Cea- culo e meio, após a conquista (1680-1840), a Coroa
rá, demonstrou como aconteceram os processos se esforçou para reunir e fixar os indivíduos e os
de mutação da população indígena e as transfor- grupos que recusavam a integração da ordem colo-
mações desse contingente em caboclos. Para o au- nial e, posteriormente, do Estado recém criado:
tor, o primeiro momento desse processo diz res-
peito à ligação missionário/ neófito que escondia ''Índios em estado de vagabundagem pelas flo-
a relação política de características carismáticas, e restas, que as mãos sem calosidade,indicavam
à missão ou redução onde ocorria o processo de a ausência ao trabalho, são chamados de tem-
sedentarização das tribos indígenas. Apoiando-se pos em tempos para algum serviço no campo
em Metraux (1943) e em Haubert (1967), Delaunay, ou outros trabalhos manuais (...) Indicando as-
na sua interpretação, procura demonstrar a seme- sim a falta de hábito de trabalho diário"
lhança entre pajés e missionários e a ascendência (THEBERGE, apud Delaunay, 1988: 115).
destes últimos. Os primeiros missionários possu-
em a virtude dos chefes - eloqüência, generosida- Outro viajante, por volta de 1837, fala de
de e magia, além da promessa da "terra sem ma- tribos em vias de extinção,
les" - e impõem-se por um discreto recurso à co-
erção. Ao longo do tempo, serão aceitos ao gerir "vivendo em condições precárias, acusadas
uma sociedade indígena desorganizada pela con- de roubo de gado. Manifestam sinais de
quista (DELAUNAY, 1988: 64). Sabe-se que os degenerescência bio-psicossocial através de

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comportamentos eticamente desviantes" parte dos grandes proprietários, expulsando, defi-


(GARDNER, 4'udDELAUNAY, 1988: 105). nitivamente, os índios de suas terras.

Tanto Theberge (1969) quanto Gardner fa- "O governo provincial, a partir de 1861, afir-
lam de índios insubmissos, sem contar inúmeras ma, reiteradamente, em resposta às deman-
famílias caboclas procurando o isolamento das das do governo imperial, que não há mais
vilas e fazendas. 'tribos selvagens' no Ceará, que as aldeias
Alguns elementos diacríticos permaneceram foram extintas e os índios estão confundi-
entre a chamada população cabocla, como as dan- dos com a massa da população" (pORTO
ças, até meados do século XX. Toma-se como ALEGRE, 1992: 33).
exemplo a "Festa dos Caboclos da Porangaba".
Esses caboclos saíam em procissão até Caucaia, A luta dos índios por suas terras continua, e
antigo reduto indigena hoje fazendo parte da Re- no final do século XIX, nenhum remanescente
gião Metroplitana de Fortaleza. dessas etnias é reconhecido pelos órgãos encarre-
Por outro lado, na perspectiva de Gerson gados da política indigenista:
Oliveira, a permanência da dança do Torém en-
tre os Tremembé de Almofala, em um primeiro "(...) No caso de dizer que no Ceará não existiu
momento, é adotada posteriormente por outros índio, isso é menos verdade. Índio, não; índio a gente
grupos étnicos que lutam por seu reconhecimen- acredita que é um 4'e/idojpoVOS, né? Por exemplo,
to, como os Pitaguary em Maracanaú e Mulungu, nós somos Povo Tremembé, Povo Tremembé e que os
passando a ser utilizada como "afirmação étni- índios joram disseram que deixaram de existir atra-
ca" (OLIVEIRA Jr., 2000: xx). vés do decreto declarado em mil... acho que vocés sa-
bem, em 1863. Esse decreto joi que decretou que
o caboclo: uma identidade situacional não existia mais índio. O que foi que aconteceu?
Nós ficamos parado, escondido por detrás dos decre-
Em pesquisa realizada em arquivos sobre tos, após a Constituição (1988), que nos veio com
as terras indígenas, existentes entre 1706 e 1744, vários direitos legais que deu, como bem, a segurança
ylvia Porto Alegre fez um inventário mostrando aos povos indígenas serem reconhecidos como índio.
er esse o período de implementação dos Aí joi que nós tivemos todos, tivemos a jorça, por
aldeamentos indígenas. No Ceará, posteriormen- causa dos nossos ancestrais e vencemos hqje e temos
e, com a expulsão da Companhia de Jesus, uma terra; a primeira terra demarcada e muitas
áreas sem nenhum problema dentro da nossa área ... JJ

"os aldeamentos missionários foram trans- (entrevista concedida pelo pajé Mãe Preta-
formados em cinco vilas de índios: Tremembé a Gilmar de Carvalho, 2004).
Arranches (atual Parangaba), Messejana,
Soure (atual Caucaia), Monte-Mor-o-Novo Somente na década de 80 do século XX, a
(atual Baturité) e Vila-Viçosa-Real (atual Vi- questão de etnicidade no Ceará é reaberta, assim
çosa). Sem estatuto de vila foram mantidos, como em todo o Nordeste, e aponta a identifica-
ainda, os aldeamentos de Almofala, Monte- ção de grupos considerados extintos que volta-
Mor-o-Velho (atual Pacajus) e São Pedra de ram a "falar", organizando-se em busca de seus
Ibiapina" (pORTO ALEGRE, 1992: 31). direitos. É o caso, no Ceará, dos povos Tremembé,
Tapeba, Genipapo-Kanindé, Potiguara e Pitaguary,
A incorporação paulatina da maior parte das identificados em dez áreas, em 1990, pelo Conse-
terras indígenas ocorreu entre 1854 e 1858, por lho Indigenista Missionário-Regional Nordeste.

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Vale ressaltar que, tendo havido uma política dências se encontram localizadas na Grande For-
institucional de trazer à existência uma categoria taleza. Parangaba e Messejana são hoje distritos,
populacional como o caboclo, impondo-se princí- Caucaia e Pacajus são municípios da região me-
pios e visão de mundo que levaram à construção tropolitana. Às margens do rio Ceará, divisa dos
de uma identidade situacional única, vê-se que hoje municípios de Caucaia e Fortaleza, estão instala-
o caminho é inverso. dos os Tapeba, que reivindicam a demarcação de
Essas populações procuram, através de suas terras, assim como os Pitaguary, em
instituições que gozam de credibilidade, como Maracanaú.
a Igreja Católica, a FUNAI e certas Organiza-
ções Não-Governamentais (ONGs), fazer o ca- As linhas de caboclos no espiritismo de umbanda
minho de volta à identidade negada. Isto ocor-
re porque esse processo necessita do apoio A nomeação da categoria "caboclo", em um
institucional para legitimar a identidade étni- primeiro momento, está relacionada a uma ativi-
ca [2]. A pertença religiosa vai ser utilizada dade produtiva. Em outro momento, o índio/
nesse processo: caboclo encontra no Espiritismo de Umbanda a
possibilidade de lançar sua duplicidade no gru-
"É,pra nós a nossa religião é a verdade, é a crença, po religioso, trabalhando na magia. A religião
né? Se nós continuamos com a crença, com a verda- umbandista é o espaço situacional onde vai ocor-
de, então nósformamos assim um grupo, uma aldeia, rer a reapropriação social, a reconquista do po-
épra sejuntar, né? Com aquela crença nós chega lá. der de reconstruir a identidade indígena. Assim
Dentro da nossa comunidade, dentro da nossa reli- sendo, penso poder dispensar maiores explica-
gião, nós conseguimos a terra" (entrevista conce- ções sobre outras representações do panteão
dida pelo pajé Mãe Preta-Tremembé a Gilmar umbandista e me detenho na categoria caboclo e
de Carvalho, 2004). suas linhas, pois essa categoria identifica-se com
a categoria "índio".
Esta fala remete-me diretamente a Ernest A fundadora da Federação de Umbanda do
Cassirer (1992), para quem a consciência teórica, Ceará, "mãe Júlia", em entrevista que me conce-
a prática e a estética, o mundo da linguagem e do deu, em 1979, falando das linhas, dizia:
conhecimento, as formas fundamentais da comu-
nidade e do Estado encontram-se, em sua ori- "( ...) agente trabalha com São João Batista nafolangt
gem, assentadas na consciência mítico-religiosa. de Ogum; vem afalange dos caboclos, que é da mata,
Essa consciência religiosa será utilizada, dentre e tem ainda afalalTge de São Sebastião que morreu
outros elementos, como sinal dia crítico para de- em Laranjeiras [referência à Guerra do
marcar a etnicidade. Paraguai]; todo mundo sabe disso e sua banda per-
Importante ressaltar que todas essas popu- tence à mata. Quem diZ Orixá diZ santo, é a mes-
lações que reivindicam sua etnicidade tiveram ma coisa; a gente dá nome de caboclo, mas é índio. E
contato direto ou indireto com as práticas de um médio formado não pode trabalhar sem saudar a
Umbanda, na medida em que essa religião, ten- eles, recebem instruções dele e as doutrinas."
do-se transculturado para Fortaleza, nos princí-
pios da década de 50 do século :xx (pordeus JR., A fala de "mãe Júlia", como de outras mães
2.002), foi-se difundindo pelas principais cidades de santo, esclarece bastante a questão da resse-
do interior do Ceará nesses últimos cinqüenta mantização índio/caboclo entre os umbandistas.
anos. Muitos grupos étnicos têm suas fronteiras D. Neide, mãe de santo, nos diz: ''A Umbanda é
espaciais diluídas, na medida em que suas resi- um culto sagrado aos Orixás; só que a gente tra-

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Y.liha com caboclo" (entrevista concedida por D. força de Umbanda vem precisamente do caboclo.
_-eide ao autor, 1979). Repete, nas entrelinhas, a historiografia oficial acer-
Em nossas pesquisas, encontramos seis ca- ca do papel do índio na economia colonial cearense,
:egorias de caboclos, organizadas por linhas. Aqui, como mostrei anteriormente. E conclui fazendo
:e faz necessário observar: referência à música: " ...pros caboclos a gente tem
que tocar com maracá e com o triângulo, pois é
"O Orixá não baixa pra trabalhar; quem vem com esse som que eles baiam na eira" (pORDEUS,
trabalhar são os caboclos seus enviados. 2002). Também neste discurso encontro caboclos/
Então, Iemanjá tem os caboclos da linha dela, pretos velhos, como é o caso de N êgo Gérson e,
da linha do mar. Xangô tem os dele, na li- ainda, caboclos/Exu, que trabalham tanto em
nha das pedreiras. Oxossi tem os dele, da Umbanda como em Quimbanda, como podemos
linha das matas, que são os índios ..." (entre- observar nestas carimbas:
vista concedida por D. Neide ao autor, 1985).
"Folha por folha / Nessa mata tem Sibamba
Deixo as demais categorias de caboclo dos / Folha por folha, nessa mata tem Sibamba
orixás fora de minha análise apoiado nesse argumen- / A velha macumba já rolou / A velha ma-
o de D. Neide, segundo o qual todo Orixá tem seus cumba vai rolar / Tapuia com seu Sibamba
caboclos. Sobre essa linha de caboclo, a de Oxossi, o vai trabalhar". Seu Sibamba encontra-se na
pai de santo José Maria, de Sobral, afirma: categoria de Exu. Deve-se, ainda, destacar
que esses caboclos cruzados trabalham na
"O caboclo é um espírito de luv é um Orixá que é encruzilhada: ''Virei, virei, virei / E vou vi-
curador; dono das matas que é o Orixá da cura, do rar / Vou dá sete voltas, vou virar na encru-
conhecimento das ervas, das raízes, das folhas, enti- zilhada / Entrando na minha aldeia flecha
dade poderosa que trabalha para desmanchar traba- até os inocentes / Eu atirei, atirei e vou ati-
lhos de magia negra. Seu Tapinaré é chife de aldeia rar" (D. Lourdes, in PORDEUS, 2002).
e trabalha nas matas, é dono da minha cabeça"
(pORDEUS, 2000). As informações etnográficas nos mostram
as tipologias das seis linhas de caboclos e demons-
D. Lourdes, falando da linha de caboclo, diz: tram que, no panteão e no espaço ritual, essa iden-
tidade indígena encontra-se na situação onde se
'1ndio bruto é só o que tem aqui no Ceará; aforça diluem as fronteiras simbólicas, um terceiro espa-
daqui é determinada mais por índio zangado. Esse ço no qual, sendo Índio Caboclo e Caboclo sendo
povo desprendido, porque a língua é muito despren- Índio, pode desabrochar, em toda sua vitalidade, o
dida; índio não tem fé, não tem nada. A gente tem processo de individuação da possessão dos adep-
que acalmar ele, doutrinar; dá luZ. Tem deles que tos de Umbanda. Assim como o Índio teria sua
chega e não quer conversa com ninguém, chega pra identidade reconhecida, identidade esta que fora
dá recado, é todo alvoroçado, quem quiser que en- perdida no teatro da possessão, essa identidade é
tenda" (entrevista concedida por D. Lourdes reafirmada pela recodificação no trabalho da ma-
ao autor, 1979). gia, repensado a partir de outra lógica corporificada
em personagens míticos e religiosos.
Encontro no discurso de D. Lourdes toda Desse modo, a Umbanda seria o lugar a "par-
uma visão romântica do índio: "povo desprendi- tir do qual algo começa a se fazer presente em
do, índio não tem fé, não tem nada ...". Mas, ao movimentos ambivalentes, que não é nem um novo
mesmo tempo, D. Lourdes diz que, no Ceará, a horizonte nem um abandono do passado" [3].

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Homi K. Bhabha ressalta que ao se reencenar o agora, no momento, nós somos assim um grupo que,
passado, este traz à tona outras temporalidades quando nos fala assim bem com as nossas crença nós
culturais na invenção da tradição, como posso per- estamos junto, e mostrando sempre opapel que a Igre-
ceber no caso da Umbanda aqui examinado. A ja feZ ..." (entrevista concedida pelo pajé Mãe-
Umbanda seria o espaço no qual se cria uma idéia Preta- Tremembé a Gilmar de Carvalho, idem).
do novo, como ato insurgente da tradição cultu-
ral, onde se pode encontrar um retorno ao passa- Nesse processo de reetnização, a construção
do, como causa social ou precedente estético, mas, do campo religioso vai requerer práticas que distin-
ao mesmo tempo, refigurando o passado, como gam esses grupos do catolicismo. É com a adesão
um "entre-lugar" contingente, espaço do "além", destes à Umbanda, que irão se processar práticas re-
fronteiras visíveis e invisíveis, sociais ou culturais. ligiosas, para reforçar a reconstrução da identidade
étnica; conseqüentemente, levando à intercessão de
A umbanda no processo de reetnização dois campos - o religioso e o político. Assim, a
Umbanda é levada, tanto por instrumentos políti-
A religião umbandista, como venho ressal- cos como religiosos, a uma reetinização, como ve-
tando, é o terceiro espaço que servirá de apoio à mos na fala do Pajé Barbosa dos índios Pitaguary.
conformação do mundo, à reetinização: Ainda que na narração de "Mãe Preta", pajé
Tremembé, encontrem-se referências indiretas à prá-
"( ...) nós tinha essa força e qual seria minha reli- tica de Umbanda, deixo-as de lado pela necessidade
gião, eufaleipra eles que pelo meu entendimento que de estender o leque das questões mencionadas.
eu entendia de consciência e espiritualidade, eu vou Passo, então, a explorar a fala do pajé Bar-
vou subi o serrote, é a gente tem a nossa terra de um bosa, em conversa que tivemos em sua residência
lado e do outro é serrote, atravessa um córrego e um em Mulungu-Ce. Tento compreender na sua fala a
serrote, eufaçoJaço minhas obrigação lá, debaixo de relação entre a religião e a luta política levada pe-
um pé de árvore ou numa pedra, com todas facilida- los índios Pitaguary no processo de reetinização e
des de resolver as coisa, agente fala, eufalo isso nem o panteão das suas práticas religiosas.
só de mim, mas tudo que eu aprendi ..." (Entrevis- Fazendo referência à população e à luta
ta concedida pelo Pajé Mãe Preta- Tremembé empreendida, diz:
a Gilmar de Carvalho, 2004).
na área Pitaguary de Monguba, nós somo
Ao mesmo tempo, "Mãe Preta" afirma setecentos e dois índios, nós damos uma
suas práticas religiosas e marca a fronteira com média ... as família, eu acredito que seja uma
o catolicismo: oitenta família. E nós tentamos levantar aqui
nossa bandeira que é a de uma cultura que o
"( ...) a Igrqa Católica tem papéis horrível no meio da tempo destruiu, né? A política implantada
gente, né? Eles teve um papel muito mim, que foi no Brasil, no Ceará, também destruiu ...
tirar o que era de bom da gente, num respeitar a
cultura da gente, que nossa religião era coisa que não Quando estimulado a narrarsobre a religião
existia só acreditava se salvar a gente se nos passasse pajé Barbosa relaciona a Pajelança, o Torém, a
para a religião deles, nem tanto era isso, porque eu Macumba e a U mbanda como sendo o que ficou
ainda sigo a mesma religião de antes (dos ances- dos antepassados, associado ao "pai Tupã":
trais), com certeza ainda eu sigo meu mesmo pensa-
mento é o de antes. E é, a gente sente que o nossa, o '54 macumba, ela permaneceu no nosso meio, assim
nosso sagrado é envolver a todos com o tempo, porque como o Toré; o Toréficou dos nossos antepassados; às

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vezagentefala "Umbanda'' e não viu o que agente "Eu não sabia que tinha nascido pqjé, porque esse
falou da macumba e não viu o que a gente falou da tempo, fez com que euficasse muito distante do nosso
pajelança, porque antes dessas duas palavra, era um pqjé que era o Zé, e eu tive que recorrer a um
mito chamado pqjelança, a cultura das mata, dos umbandista, chamado Francisco. Mas, naquele dia
nossos antepassados; dos nossos espíritos, das pedras aconteceu um fato bem interessante: eujá taua sen-
dos nossos espíritos dos rios, dos nossos espírito do tindo certos tipo de sintoma das forças oculta e vaga-
fogo e - por que nãofalar apalavra-chave - do nosso va à noite; eu andava à noite sem destino e até, penso
pai Tupã? .. A Umbanda, dentro de sua lingua- eu, até invisível, porque nos canto que eu andava
gem, é a força mais positiva que temos nas mata, nunca me aconteceu nada, graças a Deus. E, na-
porque é lá que tá todo o campo magnético junta- quele dia, não sei, né, uma entidade me chamou, ia
mente da água, dos canto dos pássaro, do zumbindo passando e me chamou efez o relato do que eu taua
dos vôo dos besouro, dos gritos dos macaco, e é onde tá passando no momento ... A entidade é Mana, né,
a força mais rica que nós temos no mundo que é a Maria Pomba-Gira, que pegaram essa chama, de
força da natureza, que nos dá vida, né, que nos dá Pomba-Gira ou Pombinha, né? E elafez um relato
paiJ que dá essa força da gente também qjudar o do que taua acontecendo, que era necessário tomar
próximo" (entrevista concedida por peje Bar- uma posição, e que eu correria risco até de ser morto
bosa ao autor, idem). ou de ser louco, né? Então foi quando eu comecei,
assim em 84" (entrevista concedida por pajé
Na busca por construir uma memória, uma Barbosa ao autor, idem).
tradição, "pai Barbosa" atribui à Macumba e à
Umbanda uma pertença indígena, como é o caso O relato de adesão à Umbanda não difere
do Toré e da Pajelança. Em outro trecho, fala do de tantos outros que encontramos em inumerá-
papel do Pajé: veis narrações de adeptos da religião umbandista.
Vale ressaltar que a revelação vem através de uma
"( ...) é um lado virado,justamente, pros morto, que personagem da Um banda, a Pomba Gira, que se
é chamado umbanda, que é chamado o candomblé, encontra na categoria de Exu feminino. Essa
que é chamado a nossa macumba, né, que é o nosso questão me remete diretamente à relação das per-
tambor. .. E às vezes diZ: 'por que macumba, pqjé?: .. sonagens recebidas por pajé Barbosa e com as
Porque opqjé é esse tambor mesmo, você vê opqjé ... quais trabalha:
eu mesmo, se você me vê, você vai dizer o que? Se você
ver meu dia-a-dia, você vai ver o tipo de som que esse "(...) vamo com Seu Arranca Toco, Seu Rom-
tambor Barbosa, né - que é opqjé - exala. É uma pe Mata; vamo por Seu Sete Flecha; vamo
cura de quebrante, é uma dor de cabeça, é um aleuanto, por Pena Branca, né, e tudo são gente da
é um abrimento de caminho, é um qjuntamento de Jurema mesmo, da mata ...". E canta um
casal que, às veiJ é só o diálogo ... É uma coisa de carimba: "ai pisa, pisa vamo pisar / A folha
outras fontes ... " (entrevista concedida ao au- da Jurema do ReiJurumbá". E se volta para
tor, idem). os Pretos Velhos: "... vamo um pouquinho
pros velho, dá muito velho, são muito velho
Os termos quebrante, alevanto, abrimento de e, portanto, eu gosto muito de trabalhar com
caminho demonstram a pertença do pajé Barbo- esse povo, Vovó Sinhá, Mãe Tutu, Mãe Ma-
sa à linguagem utilizada na Umbanda. Tendo ria, Mãe Quiné, Mãe Quitéria, Mãe Alcina...
nascido em 1967, a sua adesão à Umbanda foi Vem variados povo, né, que vem nos aju-
na adolescência, anterior a ter conhecimento de dar..." (entrevista concedida por pajé Barbo-
que era pajé: sa ao autor, idem).

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Ao povo de Exu, além da Pomba Gira, à "( ...) épor isso que diZ Umbanda e épor isso que
qual já havia feito referência, pajé Barbosa acres- diZ Macumba, porque se eu não juntar tambor
centa outros exus: pra fazer tanto do som diferente, né, como eu aca-
bei de falar, eu falei agora, praticamente quatro
"Sibamba também vê essepovo, também, da riqueza linha, e não pára, né, não pára porque não tem
que não dá valor à riqueza, prefere a humildade, fim ... A Macumba é como número, a Pqjelança é
que é o caso do Sibamba. A história do Sibamba é aquele número, não tem fim ... E às vez eu sou
um pouco parecida com a história de São Francisco interpretado mal porque o povo acha que a Paje-
aqui, opovo dele, os pai deles é reis, é rico, mas ele lança é Pajelança e a Macumba é outra coisa e a
prefere tá nos cantos mais humilde, bebendo seu ape- Umbanda é outra coisa. Não, é a mesma coisa, só
ritivo e conversando e tudo ...E também tem essapar- que com nomes diferentes. "
te que é, uma de linha de bebo e também de linha de
Jurema e Xangô, porque o Sibamba, ele é uma pes- Na linguagem do Pajé, todas essas religi-
soa especial, também, porque pinta, também, em vá- ões são a mesma, mudariam apenas as designa-
rias linhas, na linha de exu, elejá muda de nome, ções. Como tentar sair, pois, do entrelaçamen-
não é Sibamba, é Exu Brasa, né? O Sibamba na to, do labirinto de uma estéril relação de nome
linha do mato, né, aí já vem o povo de Ogum, né, de religião, de linhas, de mitos, de ações? Tão
Ogum (...). Ogum Miramar, tá entendendo? Aí íntimas são as conexões, na linguagem do Pajé,
vem esse mito bem gostoso. Ogum também representa entre essas religiões, que é impossível se confi-
opovo da mata também, porque aqueles guerreiros gurar e conceber o universal, distinguir qual
mortos, às ve;Vpor picada de cobra ou sede ou algu- delas encabeça a "religião do Índio". No entan-
ma história bem assim, que havia atritos entre uma to, poderia se pensar que aqui se encontraria o
aldeia e outra, então muitas daquelas entidade guer- caminho inverso da religião da Umbanda no
reira é chamada de Ogum também, né. .. Nessa li- Ceará, que havia antropofagizado a visão de
nha de Ogum virado pra mata, vem Seu Quebra mundo e as práticas existentes. Tendo, ainda, se
Barreira, né, Seu Vira Mundo, Seu Liro, tá en- ressemantizado, como manifesto na categoria do
tendendo? Seu Sete também vem com Seu Sete Onda, "caboclo". Na lógica do Pajé, os nomes, as li-
né? Têm flmeas também, Mulambo também, ela nhas, os atos da Umbanda vão ser, por sua vez,
faz essaparte de mata e exu; e mar também. Então incluídos na "religião do Índio". A Umbanda,
com Jurema vem... dopovo da Jurema, né, Iracema, segundo o pajé Barbosa, permanecerá, de uma
que é uma história que opovo gosta de badalar, mas maneira genérica, entre essas etnias emergentes,
da cabocla Iracema tem a cabocla [urema, tem a como a religião que irá servir de sinal diacrítico
cabocla Julinha, a cabocla Jacira ... E, de certafor- de etnicidade. E, assim, poderíamos pensar a
ma, são variadas pessoas que vêem ..." (entrevista Umbanda: reetinicizada.
concedida por pajé Barbosa ao autor, idem). Penso, pois, dentro da perspectiva "das fron-
teiras", quando Homi K Bhabha faz referência a um
Na narração, emergem os nomes das enti-
dades com as quais trabalha, um reino onde se "espaço novo onde a sutileza e a abertura
entrelaçam exus, caboclos, pretos velhos e orixás, predominam, esse espaço permite estra-
em uma infinidade de personagens que encontram tégias de resistência e desenvolvimento.
relações plausíveis no pano de fundo de uma reli- Será necessário examinar essas rupturas
giosidade difusa, como difusa é a definição que das convenções e das práticas da escrita
apresenta pajé Barbosa entre Pajelança, Toré, Ma- que romperiam com o realismo para abrir
cumba e Umbanda, como ressaltei anteriormente: outros espaços".

86 REVISTA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS - VOWME 34 - NÚMERO 2 - 2003


ARTIGO

Como é o caso da Umbanda praticada pelo segurados e que há a necessidade de outros gru-
pajé Barbosa. Em seu livro O local da cultura, a pro- pos serem reconhecidos também.
pósito das diferenças culturais, ele fala de um es-
paço "intersticial" que "emerge" como uma inde- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
cisão à fronteira da "hibridação cultural".
Essa proposição teórica permite, no meu en- BHABHA, Homi K. (2001). O local da cultura. Belo
tender, se deixar o pensamento binário, pois o ter- Horizonte: Ed. UFMG.
ceiro espaço está longe de se constituir num tercei- CARVALHO, G. Entrevistas Mãe Preta
ro termo, mas sim fixar-se como "entre-lugar" que
o compreende e o ultrapassa. Seria uma dimensão CASSlRER, Ernest (1992). Linguagem e mito. São
que se abre "além" de uma inversão de termos opos- Paulo: Perspectiva.
tos (sujeito / objeto; dito / não-dito; senso / não-sen- CLASTRES, P. (1962). Échangeetpouvoir:philosophie
so) para escapar da tautologia e do logocentrismo. de Ia chefJerieindienne. Paris: L'homme, T. IlI, n. 1.
No entanto, se por um lado, a ordem rei-
nante é interrompida nesse terceiro espaço, a tra- DELAUNAY, Daniel (1988). La jragilité séculaire
dição vê suas práticas sociais reforçadas, como d'une prysannerie Nordestine le Ceará (Brési~. Paris:
se pode constatar na fala do pajé Barbosa, na Editions de l'Orstom.
oferta de trabalhos para solução dos problemas OLIVEIRA Jr., Gerson (2000). Toré: brincadeira dos
do cotidiano. índios velhos. Reelaboração cultural e cifirmação étnica entre
Pensaria que a Umbanda, tal como é prati- os Tremembé de Almofala. São Paulo: Annablume /
cada pelo pajé Barbosa, ocuparia esse terceiro es- Fortaleza: Secult.
paço, pois, a graus diversos, a ordem reinante in-
terrompe seu poder ou ver seu poder interrompi- METRAUX, A. (1943). Le caractêre de Ia conquête
do - Umbanda, Pajelança, Toré, Macumba - per- jésuitique. Acta Americana, v. 1.
cebem-se fissuras no espaço normalizado e PORTO ALEGRE, Maria Sylvia (1992). Fontes
normativo (pai de santo, pajé, macumbeiro). É, inéditas para a história indígena do Ceará. Série Es-
portanto, pelo fato de ser este terceiro espaço im- tudos e Pesquisas - Cadernos de Ciências Soci-
possível de ser representado em si, que ele vai ais, n. 20, NEPES / Mestrado em Sociologia -
montar as peças de um problema cujos pré-requi- UFC, Fortaleza.
sitos de solução encontram-se nas condições de
um discurso que passa a certeza de que, no que PORDEUS Jr., 1. (2002). Umbanda. O Ceará em tran-
tange aos símbolos culturais, não há unidade ou se. Fortaleza: Museu do Ceará.
fixação primordial, propiciando que estes sejam ______ (2002). O caboclo e a ressernan-
amplamente trabalhados em apropriações e tradu- tização étnica indígena na Umbanda, in Org.
ções e revisitados através da história. Joceny Pinheiro, Ceará: Terra da Lu~ Terra dos índi-
os. Fortaleza: MPF /FUNAI/IPHAN.
NOTAS
______ (2000). A magia do trabalho - ma-
Em 2002 realizou-se em Fortaleza o seminário cumba cearense efestas depossessão. São Paulo: Tercei-
"Ceará: terra da luz, terra dos índios", organizado ra Margem.
pelo Ministério Público Federal, FUNAI e a 4" SR
do IPHAN. O seminário teve como objetivo com- ______ (2003). Cearensidade. In CAR-
preender a situação das etnias indígenas, reconhe- VALHO, Gilmar de (org). Bonito pra chover- Ensai-
cendo que entre elas, os Tapeba, Tremembé, os sobre a cultura cearense. Fortaleza: Edições
Pitaguari,]enipapo-Canindé, têm seus direitos as- Demócrito Rocha.

PORDEUS JR., ISMAEL: Os PROCESSOS DE REETINIZAÇÃO DA UMBANDA NO CEARÃ p. 79 a 87 87

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