Enfoque: Reflexão Contábil

ISSN: 1517-9087
eduem@uem.br
Universidade Estadual de Maringá
Brasil

Assofra Sperandio, Lucianne; Trindade, Marcelo; Favero, Hamilton Luiz

UMA INTRODUÇÃO À DISCUSSÃO DO PASSIVO AMBIENTAL
Enfoque: Reflexão Contábil, vol. 24, núm. 2, julio-diciembre, 2005, pp. 5-18
Universidade Estadual de Maringá
Paraná, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=307124210001

Como citar este artigo

Número completo
Sistema de Informação Científica
Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal
Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

UMA INTRODUÇÃO À DISCUSSÃO DO PASSIVO AMBIENTAL
RESUMO
A contabilidade tem por objetivo colocar a disposição
dos interessados, informações para o processo
decisório. O trabalho do contador volta-se para a pro-
dução de informações sobre a situação econômica e
financeira da entidade. A ciência contábil, como uma
área específica do saber científico, deve acompanhar
e estar aberta à evolução tecnológica e às rápidas
mudanças do mundo moderno. Por isso, faz-se ne-
cessário que ela insira-se no contexto da realização
prática do desenvolvimento sustentável, gerando
modelos contábeis eficazes, assim como, orientar os
empresários na aplicação prática desses modelos para
satisfazer as necessidades da empresa e conseqüen-
temente os interesses de toda a sociedade, em espe-
cífico, a preservação do meio ambiente natural.
Pode-se afirmar que o passivo ambiental representa
as obrigações relacionadas à preservação, recupera-
ção e proteção do meio-ambiente, objetivando a
comparabilidade entre o desenvolvimento econômi-
co e o equilíbrio ecológico. Percebe-se que, estas
obrigações podem originar tanto de ações preventi-
vas, quanto das corretivas e ainda serem agravadas
por sanções impostas devido às condutas inadequa-
das frente às leis ambientais. O passivo ambiental se
constitui no cotidiano da empresa em que se pese as
alterações ambientais provocadas pelas suas ativida-
des econômicas. Tanto a sociedade precisa da em-
presa quanto à empresa precisa da sociedade a qual
está inserida. Mas, vale destacar que a empresa ne-
cessita bem mais da sociedade, pois sem o seu con-
sentimento a empresa terá vida curta. É por meio do
balanço social que a empresa presta informações à
sociedade e é através deste instrumento que a em-
presa deve provar que o ônus que traz à sociedade é
vantajoso, ou por acrescentar valor à economia local
e à sociedade, ou respeitando os direitos humanos
dos colaboradores, ou ainda, prestando serviço à pre-
servação do meio ambiente.
Palavras-chave: Meio ambiente, desenvolvimento,
responsabilidade.
ABSTRACT
Availability of information to the community
1
Alunos do 4º ano do curso de Ciências Contábeis do CESUMAR
2
Professor dos cursos de Ciências Contábeis da UEM e CESUMAR e coordenador dos cursos de Ciências Contábeis da
UNIVALE e FCV.
Vol.24 - N.2 Julho-Dezembro/2005
5
Lucianne Assofra Sperandio1
Marcelo Trindade1
Hamilton Luiz Favero2
interested in the decision process is one of the aims
of Accountancy as a science. The focus of the
accountant’s work is the production of information
concerning both, the economical and the financial
situation of the entity. The accounting science, as a
specific area of human knowledge, should go forward
parallelly with the advances of technology, thus,
should be open to its evolution and to the so fast
changes of the modern world. Due to that,
accountancy needs to be inserted in the context of
practical accomplishment of the sustainable
development, thus generating efficient accounting
models, as well as, driving entrepreneurs towards a
practical application of such models in order to satisfy
the needs of the enterprise and, consequently, the
interest of the society, particularly, in relation to the
preservation of the natural environment. It can be
stated that the environmental liability represents the
obligations regarding preservation, recovery and
protection of the environment, aiming at fitting the
economical development to the ecological balance.
Such obligations can emerge from preventive actions
and from corrective policies, and the obligation can
get serious when environmental laws are not
respected and sanctions are imposed. The
environmental liability is constituted in the daily life of
the enterprise, which should always evaluate the
environmental changes caused by the exploitation
of its economical activities. In fact, the local society
needs the enterprise, but on the other hand, the
enterprise needs the support of the society in which
it is inserted. Nevertheless, it should be emphasized
that the needs of the company regarding counting
on the support of the local society is larger, once
without the consent of society the company will not
last longer in the business market. It is by means of
the social balance sheet that the companies render
information to the society, and it is through that
instrument that the company must prove that the onus
it brings to society is advantageous for reasons such
as, aggregating values to the local economy and to
the local society, for respecting the worker’s human
rights, or for playing an important role in the
preservation of the local environment.
Key-words: Environment; Development; Liability.
Periodicidade Semestral Pág. 05-18
6
Lucianne Assofra Sperandio • Marcelo Trindade • Hamilton Luiz Favero
1 INTRODUÇÃO
As questões ligadas ao meio ambiente foram,
por muito tempo, ignoradas visando à evolução eco-
nômica. O lixo químico depositado em nosso solo e
o abuso de nossas riquezas naturais é uma verda-
deira impressão digital dos seus autores que, agora,
começam ser “procurados”. A partir do final dos anos
sessenta a questão ambiental veio assumindo uma
importância crescente e significativa nas dimensões
econômicas, sociais e jurídicas antes não imagina-
das, com isso gerando a adoção de estratégias para
a redução dos desperdícios de material, energia e
mão-de-obra.
Segundo Iudícibus, (2003, p.10) “A proteção
ao meio ambiente vem se tornando uma preocupa-
ção de muitas empresas, de formadores de opinião
e de uma parcela significativa da população em vá-
rias partes do mundo. Isto decorre do elevado nível
do Patrimônio Ambiental da humanidade que leva
as organizações a se adaptarem para que haja uma
convivência equilibrada com o meio ambiente”.
Para evitar, compensar ou minimizar impac-
tos ambientais negativos, as atividades econômicas
potencialmente poluidoras são objetos de legislações
específicas, disciplinadoras de procedimentos
tecnológicos e operacionais capazes de eliminar ou
reduzir poluentes, resultando na materialização das
obrigações que integram o passivo ambiental.
No Brasil, o meio ambiente passou a ser acei-
to como direito à vida e à saúde sendo um direito
fundamental do homem, consagrado na Constitui-
ção Federal de 1988. Com esse sentido de legislar,
controlar e punir as ações de “predadores” do meio
ambiente, em 12 de fevereiro de 1988 passou a vi-
gorar a Lei nº 9.605, denominada Lei dos Crimes
Ambientais, onde quem concorre para a prática de
crimes ambientais está sujeito a adquirir penas, na
medida de sua culpabilidade, que aplicam ao infra-
tor multas que podem atingir a soma de cinqüenta
milhões de reais, além de impor a reparação de da-
nos, a apreensão de bens e prestação de serviços à
comunidade, usando o princípio de “poluidor paga-
dor”.
A Norma ISO 14001 surgiu para servir de fer-
ramenta às empresas que almejavam um processo
de produção em consonância com o desenvolvimento
sustentável. A certificação é feita por órgãos nacio-
nais e internacionais, que atestam sua imple-
mentação e adequação à norma, abrangendo desde
Vol.24 - N.2 Julho-Dezembro/2005
os fornecedores da empresa, passando por seus cli-
entes, estendendo-se até ao ciclo de vida dos seus
produtos. Esse sistema já é disseminado e adotado
em 90 países, tendo considerável importância na
regulação da relação entre cliente e fornecedor.
As normas contribuem para melhorar a quali-
dade e a competitividade das empresas, produtos e
serviços, protegendo o meio ambiente e o bem estar
da sociedade no seu conjunto. As empresas com
visão de futuro e que fazem da implementação do
desenvolvimento sustentável um objetivo estratégi-
co, serão as maiores beneficiadas. Isto significa que,
aplicando práticas saudáveis de gerenciamento
ambiental, produzindo sem poluir, diminuindo seus
resíduos industriais ou orgânicos, utilizando eficien-
temente os recursos naturais, respeitando as preo-
cupações ecológicas dos clientes, dos acionistas, dos
empregados e das comunidades locais, as empre-
sas estarão vantajosamente colocadas num merca-
do cada vez mais consciente das responsabilidades
comuns dos negócios e da sociedade como um todo.
O Passivo Ambiental é um tema que abrange
aspectos muito complexos e a maior parte da socie-
dade brasileira não lhe dá a devida importância. A
evidenciação desse fato pode ser notada por estar-
se discutindo hoje o Balanço Social - inclusive atra-
vés do Projeto de Lei nº 32-A, na Câmara dos
Deputados – sem a devida contemplação desse as-
pecto que reputamos de fundamental importância.
O citado projeto dedica apenas um inciso à questão
ambiental tratando o assunto de forma genérica e
superficial.
O Balanço Social é um instrumento de infor-
mação da empresa para a sociedade, por meio do
qual a justificativa para sua existência deve ser
explicitada. Em síntese, esta justificativa deve pro-
var que o seu custo-benefício é positivo porque agre-
ga valor à economia e à sociedade, porque respeita
os direitos humanos de seus colaboradores e ainda
porque desenvolve todo o seu processo operacional
sem agredir o meio ambiente.
Para Tinoco e Kraemer (2003, p.12), “A Con-
tabilidade, como ciência da avaliação do Patrimônio
das organizações, pode demonstrar o inter-relacio-
namento entre as entidades e o meio ambiente, evi-
denciando como o Patrimônio é afetado pelas causas
ambientais e como se pode agir para reduzir ou eli-
minar as agressões ao meio ambiente, promovendo
a sustentabilidade”.
Periodicidade Semestral Pág. 05-18

Neste trabalho, abordou-se os aspectos teóri-
cos que demonstram a viabilidade da aplicação das
técnicas contábeis como um instrumento para se
explicitar o passivo ambiental no contexto do balan-
ço social. Relatou-se, também, alguns casos con-
cretos envolvendo passivos ambientais que
ganharam importância através da imprensa brasilei-
ra, como forma de ilustrar e salientar a importância
que a questão ambiental assume no cenário econô-
mico nacional.
Este trabalho foi desenvolvido através de pes-
quisas bibliográficas, onde foram coletados elemen-
tos teóricos fundamentais para a abordagem do tema,
assim como as perspectivas de autores que já trata-
ram especificamente da questão ambiental sob o
ponto de vista contábil.
Por se tratar de um assunto muito recente
abordado na literatura científica brasileira, uma gran-
de parte dos materiais foi encontrada e extraída de
publicações feitas na internet.
2 DEFINIÇÃO
Em termos contábeis, passivos vem a ser obri-
gações das empresas com terceiros, sendo que, tais
obrigações, mesmo sem uma cobrança formal ou
legal, devem ser reconhecidas.
Em 1962, Sprouse e Moonitz (apud Ribeiro,
1992, p. 97) afirmavam que “Passivos são obriga-
ções que exigem a entrega de ativos ou prestação
de serviços em um momento futuro, em decorrência
de transações passadas ou presentes”.
Por conseguinte, poderíamos inferir que os
passivos ambientais normalmente são contingên-
cias formadas em longo período, sendo, às vezes,
despercebidos pela administração da própria empre-
sa. São obrigações que exigirão a entrega de ativos
ou prestação de serviços em um momento futuro,
em decorrência das transações passadas ou presen-
tes e que envolveram a empresa e o meio ambiente,
ou seja, o passivo ambiental representa os danos
causados ao meio ambiente, representando, assim,
a obrigação, a responsabilidade social da empresa
com aspectos ambientais, ressaltando que, nem
sempre, tais obrigações são contraídas de forma
voluntária, sendo que a algum tempo atrás, podia-
se afirmar que muitas eram originadas de forma in-
consciente, uma vez que os efeitos nocivos da
exposição dos resíduos das atividades econômicas
não eram conhecidos, reconhecidos ou divulgados.
Vol.24 - N.2 Julho-Dezembro/2005
7
UMA INTRODUÇÃO À DISCUSSÃO DO PASSIVO AMBIENTAL
A expressão Passivo Ambiental tornou-se co-
nhecida especialmente nas três últimas décadas por
tornar famosos os passivos ambientais provocados
pelo petroleiro Exxon-Valdez, no Alasca, pelos resí-
duos de materiais nucleares em Chernobyl, na
Rússia, pelo vazamento de gás na Vila Socó, em
Cubatão, São Paulo, pelo vazamento de 1.200 mil
litros de óleo na Bahia da Guanabara, no Rio de Ja-
neiro, em 17 de janeiro de 2000.
Segundo Maisa Ribeiro (2005, p. 75), “Passi-
vo Ambiental quer se referir aos benefícios econô-
micos ou aos resultados que serão sacrificados em
razão da necessidade de preservar, proteger e recu-
perar o meio ambiente, de modo a permitir a compa-
tibilidade entre este e o desenvolvimento econômico,
ou em decorrência de uma conduta inadequada em
relação a estas questões”.
Na verdade, o termo passivo ambiental não
pode ser associado apenas aos desastres ocorridos
que afetaram o eco-sistema de forma grotesca, as-
sim como as obrigações de outras naturezas, os
passivos ambientais nem sempre tem as penalida-
des por agressão ao meio ambiente como origem.
Existem muitos casos em que a responsabilidade
social da companhia gera a execução de medidas
preventivas para evitar impactos ao meio ambiente,
sendo que os conseqüentes efeitos econômico-finan-
ceiros dessas medidas é que geram o passivo
ambiental.
Considera-se que a obrigação deva existir no
presente em decorrência de um fato, evento ou tran-
sações passadas, de onde se depreende que a mera
intenção de realização de gastos futuros, de nature-
za preventiva, não gera qualquer obrigação, há de
se ter a ocorrência de um fato gerador, como uma
compra, um consumo normal ou anormal. Ressalta-
se que, não é necessária uma cobrança externa para
que se configure a obrigação, mas sim, a consciên-
cia de que, o meio ambiente foi afetado pelos resí-
duos da atividade operacional da empresa e que tal
efeito precisa ser revertido, constituindo-se, portan-
to, um passivo ambiental, independentemente de
haver ou não uma cobrança legal de terceiros para a
restituição da qualidade do meio.
Para a ONU (apud Ribeiro, 1998, p. 75)
“(...)existem pelo menos três tipos de obrigações: as
legais provenientes de instrumentos de força legal;
as construtivas: quando a empresa, imbuída de uma
consciência de responsabilidade social, esteja dis-
posta a usar todos os meios necessários e disponí-
veis para proporcionar o bem-estar da comunidade
Periodicidade Semestral Pág. 05-18
8
Lucianne Assofra Sperandio • Marcelo Trindade • Hamilton Luiz Favero
circunvizinha; e as justas (equitable): que refletem
as obrigações que a empresa se vê obrigada a cum-
prir por fatores éticos e morais, independente de lei”.
A mensuração de passivos ambientais envol-
vem variáveis complexas, dificultando o seu reco-
nhecimento, sendo atribuído a diversos fatores tais
como: inexistência de técnicas adequadas para
identificá-los; ausência de identificação de quem os
gerou efetivamente, inexistência de tecnologia ade-
quada para a recuperação dos danos provocados
pelo homem; falta de definição do montante de
insumos que seria utilizado para combater a degra-
dação. No cálculo de estimativa de gastos devem
ser incluídos apenas os valores relativos aos traba-
lhos de recuperação que sejam de responsabilidade
da companhia, caso haja mais de um responsável.
Como forma de identificação e mensuração
dos passivos ambientais usam-se duas maneiras,
que se referem ao trabalho direcionado para a iden-
tificação de todos os aspectos econômicos, finan-
ceiros e físicos que estejam afetando, ou poderão
vir a afetar a situação patrimonial da companhia.
Nesse contexto, as variáveis ambientais serão alvo
de atenção. Tal trabalho deve ser executado por uma
equipe de pessoal externo e especializado.
3. ORIGEM E CLASSIFICAÇÃO DOS PASSIVOS
AMBIENTAIS
3.1 Origens dos Passivos Ambientais
As obrigações decorrentes da relação entre
empresa e meio ambiente surgem de várias formas,
dentre elas com remediação devido ao não cumpri-
mento da legislação ambiental vigente ou ainda de
problemas de manutenção ou falhas humanas rela-
cionadas às etapas de produção, potenciais causa-
dores de acidentes. Surge também em decorrência
da proteção e manutenção do meio ambiente, mul-
tas e penalidades por infrações legais, ressarcimen-
to a terceiros por danos ocorridos, estimativos de
gastos para recuperação e restauração de áreas
degradadas. O fato gerador das obrigações
ambientais ocorre quando o meio ambiente é degra-
dado. O problema é que ao longo do desenvolvimen-
to das atividades econômicas esta questão é
ignorada ou omitida. A causa desta omissão é a falta
de conhecimento, de conscientização, legislação,
tecnologia ou interesse. Existe então a figura das
obrigações ambientais não reconhecidas, na qual o
fato gerador já ocorreu e a empresa não contabilizou
esta obrigação em seu passivo ou, porque não foi
obrigada legalmente a reconhecer, ou não está
Vol.24 - N.2 Julho-Dezembro/2005
disposta a reparar o prejuízo provocado ou não pos-
sui uma estimativa razoável do montante da provi-
são a contabilizar.
Segundo Ribeiro e Lisboa ( 2000, p. 179), “Os
passivos ambientais podem ter como origem qual-
quer evento ou transação que reflitam a interação
da empresa com o meio ecológico, cujo sacrifício de
recursos econômicos se dará no futuro”.
Alguns exemplos que temos como origens que
amenizam problemas ambientais:
· Aquisição de ativos para contenção dos impactos
ambientais (chaminés, depuradores de águas
químicas, etc.);
· Aquisição de insumos que serão inseridos no pro-
cesso operacional para que estes não produzam
resíduos tóxicos;
· Despesas de manutenção e operação do “depar-
tamento” de gerenciamento ambiental (inclusive
mão-de-obra);
· Gastos para recuperação e tratamento de áreas
contaminadas (máquinas, equipamentos, mão-de-
obra, insumos em geral, etc.);
· Pagamento de multas por infrações ambientais;
A essência do passivo ambiental está no con-
trole e reversão dos impactos das atividades econô-
micas sobre o meio natural, envolvendo, portanto,
todos os custos das atividades que sejam desenvol-
vidas nesse sentido.
Segundo Tinoco e Kraemer (2004), um Passi-
vo Ambiental deve ser reconhecido quando existe
uma obrigação por parte da empresa que incorreu
em um custo ambiental ainda não desembolsado,
desde que atenda o critério de reconhecimento como
uma obrigação. Este tipo de passivo é definido como
uma obrigação presente da empresa, porém, decor-
rente de eventos passados.
3.2 CLASSIFICAÇÃO DO PASSIVO AMBIENTAL
O passivo ambiental é classificado como pas-
sivo ambiental normal e passivo ambiental anormal.
3.2.1 Passivo Ambiental Normal
Entende-se por passivo ambiental normal o de-
corrente do processo produtivo, onde existe a emis-
são de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, com
possibilidade de controle, prevenção e, em alguns
casos, de reaproveitamento. Com investimentos em
equipamentos que melhorem a queima de combus-
tíveis líquidos associados a filtros catalisadores, por
exemplo, pode ser melhorado o rendimento desses
Periodicidade Semestral Pág. 05-18

insumos utilizados no processo, reduzindo a emis-
são de resíduos gasosos à atmosfera. A substitui-
ção de insumos por outros menos poluentes é uma
forma de redução ou eliminação de passivos
ambientais.
Um exemplo de passivo ambiental, citado
por Paiva (2003, p.180), refere-se aos pneus,
grandes poluentes em seu ciclo de vida final, pois
eram transformados em depósitos de insetos
transmissores de doenças e incendiados liberam
poluentes no ar. Atualmente são reaproveitados,
gerando a borracha desvulcanizada em pó,
destinada ao mercado de produtos novos, como
pneus e pisos.
3.2.2 Passivo Ambiental Anormal
Como o nome já diz anormal é o decorrente
de situações não passível de controle pela empresa
e fora do contexto das operações. Exemplifica-se com
um acidente ocorrido em um reservatório de materi-
al tóxico ou altamente poluente, provocado por raio,
terremoto, furacão ou outro evento aleatório. Nestas
circunstâncias ocorrem perdas inesperadas, poden-
do em alguns casos, dada a gravidade do desastre
e os gastos para a recuperação, ocasionar sérias
dificuldades para manutenção da atividade da em-
presa ou até da sua descontinuidade.
4 CRITÉRIO DE RECONHECIMENTO E
MENSURAÇÃO DO PASSIVO AMBIENTAL
Figura 01 - Reconhecimento dos Passivos Ambientais
1. Consistente com a definição de
Passivo Ambiental?
Se sim Se não
Mensuração - Evidenciar?
de Passivos - Passivo contingente
2. Longo prazo para
descontinuar?
Se sim, pode ultrapassar o Se não, reconhecer as
necessidades identificadas
tempo de vida da operação?
para ações de recuperação
3. Reconhecer no período 4. Ativar?
Fonte: Ferreira, Contabilidade Ambiental (2003, p. 105).
Vol.24 - N.2 Julho-Dezembro/2005
9
UMA INTRODUÇÃO À DISCUSSÃO DO PASSIVO AMBIENTAL
Um Passivo Ambiental deve ser reconhecido
quando existe uma obrigação por parte da empresa
que incorreu em um custo ambiental ainda não de-
sembolsado, desde que, atenda o critério de reco-
nhecimento como uma obrigação. O reconhecimento
ocorre tanto na tomada de consciência de potencial
risco de impacto ambiental negativo, quanto no mo-
mento da efetiva agressão ao meio ambiente.
Um passivo ambiental deve ser reconhecido
a partir do momento da ocorrência do fato gerador,
independente de qualquer cobrança externa, o que
significa dizer que a obrigação não se configura ape-
nas com a existência de um auto de infração, uma
nota fiscal ou um contrato. Quando se toma conhe-
cimento que o meio natural sofreu impactos nocivos
em decorrência do processo operacional, deve-se
procurar imediatamente informações técnicas que
subsidiem a determinação do valor da obrigação que
já existe de fato.
O IASC, por meio do seu International
Accounting Standard nº 10, recomenda que deva ser
provisionado o passivo sempre que houver a proba-
bilidade estimável de ocorrerem perdas contingen-
tes. As notas explicativas das demonstrações
contábeis deverão ser utilizadas para notificar as
contingências e eventos ocorridos após a data de
encerramento do balanço, bem como perdas espe-
radas cujos valores possam ser superiores aos
provisionados. Enquadram-se, na situação, exem-
plos como o caso Petrobrás, cujo vazamento de
1.200 mil litros de óleo na Baia da Guanabara, no
Rio de Janeiro, que ocorreu em 17 de janeiro de
2.000, mas as demonstrações contábeis referentes
ao ano de 1999, publicadas em março de 2000, trou-
xeram explicações sobre o ocorrido, o volume de
gastos preventivos realizados no ano de 1999 e o
montante despendido na contenção dos efeitos do
referido vazamento (R$ 118 milhões).
Ribeiro (1992, p. 184) afirma que “(...)as pro-
visões caracterizam o reconhecimento de
exigibilidades, perdas ou expectativas de perdas
dentro do devido regime de competência, ou a partir
da constatação de responsabilidade sobre o fato
gerador ocorrido (vez que nem sempre o conheci-
mento de tal fato é imediato), ainda que sem prévio
conhecimento de seu valor preciso”.
No Brasil começa–se a implantar, nos meios
empresariais, a consciência de que o levantamento
do passivo ambiental é um procedimento dos mais
recomendáveis. Esse é um serviço novo tanto no
Brasil como no resto do mundo.
Periodicidade Semestral Pág. 05-18
10
Lucianne Assofra Sperandio • Marcelo Trindade • Hamilton Luiz Favero
Segundo Tinoco e Kraemer (2004), “Passivo
Ambiental deve ser reconhecido também em relató-
rios financeiros se é de ocorrência provável e pode
ser razoavelmente estimado, existindo vários padrões
de contingências que devem ser usados para carac-
terizar o que seria um evento de ocorrência prová-
vel. Se existir dificuldade para estimar o seu valor,
deverá ser provisionado um valor estimado, regis-
trando os detalhes desta estimativa em notas
explicativas”. Segue o esquema de mensuração dos
Passivos Ambientais:
1. Estimativa razoável?
Figura 02 - Mensuração dos Passivos Ambientais
1. Estimativa razoável?
Se sim Se não
2. Definida como de - Evidenciar?
curto prazo? - Passivo contingente
Se sim Se não
3. Longo prazo para
Evidenciar detalhes descontinuar?
Se sim 4. Ativar?
Pode ultrapassar o tempo Valor presente ou
de vida de operação custo corrente
Fonte: Ferreira, Contabilidade Ambiental (2003, p 105).
A mensuração de passivos ambientais geral-
mente, envolve variáveis complexas, dificultando o
seu reconhecimento, sendo atribuído diversos fato-
res tais como: inexistência de técnicas adequadas
para identificá-los; ausência de identificação de quem
os gerou efetivamente, inexistência de tecnologia
adequada para a recuperação dos danos provoca-
dos pelo homem; falta de definição do montante de
insumos que seria utilizado para combater a degra-
dação.
Com isso, pode-se observar que muitos dos
reais passivos não serão reconhecidos, seja porque
não existem técnicas adequadas para identificá-
los, seja porque, uma vez identificados, não se conse-
Vol.24 - N.2 Julho-Dezembro/2005
gue definir com segurança quem os gerou efetiva-
mente, e ainda pode ser porque não existe a
tecnologia adequada para a recuperação do meio-
ambiente de todos os danos provocados pelo ho-
mem; e ainda por não poder se definir o montante
de insumos que seria utilizado para combater a de-
gradação.
Assim sendo, o passivo ambiental se restrin-
ge ao que pode ter o seu valor reconhecido e
mensurado pelos conhecimentos técnicos já existen-
tes, o que esta longe de ser representado à verda-
deira degradação do meio-ambiente gerada pelo
homem. O reconhecimento de um passivo exige a
identificação do montante do sacrifício de recursos
que será realizado. Em alguns casos, a exigibilidade
existe e a empresa possui parâmetros para determi-
nar ou estimar razoavelmente o valor desembolsa-
do, classificando-o dentro do devido regime de
competência. Outras vezes, a empresa precisa re-
correr a cálculos estimativos para estabelecer o va-
lor da obrigação.
Levando para a prática, a empresa pode ad-
quirir, a prazo, de terceiros, insumos ou equipamen-
tos antipoluentes, necessários à adequada operacio-
nalização de suas atividades, recebendo destes uma
nota fiscal-fatura que fundamentará o registro contábil
da exigibilidade ambiental. Nos casos em que a
empresa mantém um corpo de funcionários dedica-
dos, exclusivamente, à operacionalização e manu-
tenção de seus equipamentos antipoluentes, ela
dispõe dos parâmetros legais para a determinação
do valor dos salários e encargos sociais, decorren-
tes da remuneração desse pessoal. Ou ainda, medi-
ante o controle de horas das tarefas executadas por
seus funcionários, poderá segregar o volume de tem-
po utilizado nas atividades relacionadas ao controle
ambiental, dado que estas ocorrem nas diversas áre-
as da empresa, e não somente na área de controle
ambiental.
Segundo Ribeiro e Lisboa (2000, p. 184), “An-
tes apenas o Mercado Internacional solicitava que a
empresa usasse métodos para identificação e
mensuração dos passivos ambientais, agora diante
de repercussões de alguns desastres ambientais de
grandes proporções ocorridas no Brasil, os órgãos
financeiros nacionais também passaram a requerer
o salvo-conduto de um relatório de due diligencie
sobre riscos ambientais relacionados às atividades
da companhia. Com isso, destinam linhas de crédi-
tos às empresas que se preocupam em preservar os
recursos naturais”.
Periodicidade Semestral Pág. 05-18

Due Diligencie é um trabalho realizado por
especialistas ambientais que identifica os aspectos
econômicos, financeiros e físicos, dentre os quais
fazem parte as variáveis ambientais que estejam afe-
tando, ou poderão vir afetar a situação patrimonial
de uma companhia.
5 CONTINGÊNCIAS
O termo contingências refere-se a possíveis
efeitos decorrentes de ações passadas ou presen-
tes que não necessariamente se realizarão.
Segundo Martins (1995, p. 404), “Uma contin-
gência é uma situação de risco já existente e que
envolve um grau de incerteza quanto à efetiva ocor-
rência e que, em função de um evento futuro, pode-
rá resultar em um ganho ou perda para a empresa”.
Ribeiro (1992, p.102), afirma que “(...) a con-
tingência caracteriza-se nos casos em que a respon-
sabilidade da empresa, na consumação do fato
gerador, depende da efetivação de um evento futu-
ro, por exemplo, a perda de uma ação judicial. A pro-
visão contábil está preocupada com a expectativa
futura de recebimentos e pagamentos no processo
de reconhecimento de ativos, passivos, receitas,
despesas, perdas ou ganhos”.
O IBRACON – Instituto Brasileiro de Contado-
res, em seu pronunciamento XXII – Contingências,
diz respeito a certas condições ou situações de so-
lução indefinida à data de encerramento do exercí-
cio social ou período a que se referem às
demonstrações contábeis de uma entidade e, como
tal, dependente de eventos futuros que poderão ou
não ocorrer.
Dentro deste pronunciamento em generalida-
des refere-se à contingência como:
· Contingências podem resultar em efeitos futuros,
favoráveis ou desfavoráveis; podem originar gan-
hos ou perdas os quais, à época do balanço, se
revelem apenas potenciais.
· Em muitos casos, o provável montante de contin-
gência é determinável e, portanto, passível de
registro contábil ou simples divulgação por meio
de notas explicativas às demonstrações contábeis.
Em várias outras situações, o seu real efeito fi-
nanceiro somente pode ser estabelecido quando
conhecido e definido os aspectos relevantes do
assunto; não obstante, estimativas podem ser uti-
lizadas, nesses casos, para cálculos de provável
montante da contingência.
Vol.24 - N.2 Julho-Dezembro/2005
11
UMA INTRODUÇÃO À DISCUSSÃO DO PASSIVO AMBIENTAL
· Uma contingência pode estar relacionada a fatos
ocorridos, não definidos com precisão à época do
balanço e que sejam de amplo ou razoável
conhecimento por parte da administração da
empresa.
· A estimativa das possíveis conseqüências e dos
respectivos efeitos financeiros de uma contingên-
cia dependerá, também, do julgamento da admi-
nistração da empresa. Esse julgamento será
exercício à vista dos fatos e informações disponí-
veis à época do preparo e conseqüentes publica-
ções das demonstrações contábeis, e deverá levar
em conta a experiência anterior adquirida em
situações semelhantes além de outros fatores
igualmente úteis.
O Financial Accounting Standards (1975, p.
3084), classifica contingências, segundo a probabili-
dade de sua ocorrência, como prováveis, razoavel-
mente possíveis ou remotas.
Os cálculos para as provisões são feitos pela
própria empresa, sendo esperado que os resultados
obtidos sejam bastante aproximados da realidade,
já que existem os elementos necessários para tais
cálculos.
As contingências ambientais passivas podem
apresentar as seguintes características:
· Cumprimento de exigências legais. Trata-se, ba-
sicamente, de atender às imposições da legisla-
ção ou fazer face às penalidades por
inobservância das referidas exigências legais em
algum momento passado (recuperação ambiental,
multa por infração a legislação pertinente à con-
servação do meio ambiente etc);
· Indenização, a terceiros, por prejuízos causados.
É o caso de deposição de resíduos ou elementos
tóxicos em geral no meio ambiente, voluntária ou
involuntariamente, que poderão originar a obri-
gação de ressarcimento do meio afetado, como
ocorreu no já citado derramamento de óleo na
Baía da Guanabara, em que a Petrobrás teve que
indenizar a comunidade de pescadores pela per-
da que estes tiveram em função do impedimento
das suas atividades econômicas – pesca - além
de reposição dos instrumentos de trabalho perdi-
dos com o acidente – barcos, redes etc. As inde-
nizações a terceiros ocorrem, normalmente,
quando julgada ou acordada a questão entre as
partes. Atualmente podemos perceber manifes-
tações mais rápidas das empresas no sentido de
eliminar o quanto antes quaisquer efeito de
Periodicidade Semestral Pág. 05-18
12
Lucianne Assofra Sperandio • Marcelo Trindade • Hamilton Luiz Favero
danos ambientais provocados por suas ativida-
des ou por falhas na operacionalização destas.
· Prevenção em relação a eventos inesperados. No
caso das indústrias consideradas poluentes, a
prevenção se faz dentro da organização na medi-
da em que se criam meios para evitar a
externalização da poluição. Muitas empresas im-
plantaram ou estão em fase de implantação de
sistemas de gerenciamento ambiental, para fazer
face aos parâmetros de qualidade ambiental exi-
gidos por seus clientes ou pela consciência de
suas responsabilidades. Antecipam-se, assim, os
possíveis reclamos de terceiros, providenciando
a reparação de conseqüências negativas advindas
de suas atividades operacionais.
Então temos que, se existir um valor provável
para uma exigibilidade, mesmo sendo uma provisão,
este deveria ser estimado e registrado.
6 A QUESTÃO DA EVIDENCIAÇÃO DO PASSIVO
AMBIENTAL
A evidenciação do Passivo Ambiental dá-se a
partir do momento em que haja a percepção do fato
gerador. As atitudes da empresa devem se materia-
lizar no sentido de interação com o meio ambiente,
ou seja, ações devem ser postas em prática propor-
cionando defesa, conservação e recuperação do
mesmo. A postura de caráter preventivo passa a ser
delineada e toda e qualquer ação por parte da em-
presa deve ser revelada aos clientes atuais e poten-
ciais, assim como aos fornecedores e outros usuários
das informações contábeis.
Para Martins e Ribeiro (1995 p.1-7.) Como for-
ma de evidenciação de fatos relacionados com a
contabilidade ambiental, revelam duas maneiras:
“Propõe a implementação de um novo relatório
apenso às demonstrações contábeis, tratando
somente das questões ambientais; e outra sugere a
inclusão destes dados nas atuais demonstrações
mantendo o padrão já utilizado, mas apresentando
contas e notas explicativas efetivas”.
O Passivo ambiental deve ter menção
segregada nas demonstrações contábeis, sobretu-
do, quando, individualmente relevantes. Tais passi-
vos podem ser apresentados líquidos, de paga-
mentos que foram antecipados e de despesas
diferidas que guardem relações com eles, desde que
mencionados em notas explicativas. Deve ser expos-
to ainda o montante da obrigação a cada um dos
próximos cinco anos.
Vol.24 - N.2 Julho-Dezembro/2005
A contabilidade ambiental tem por objetivo re-
gistrar e controlar toda e qualquer atividade desen-
volvida ou em desenvolvimento, ocorrido ou a
incorrer, não importando se em maior ou menor rele-
vância, desde que, mensurável em moeda que cau-
se ou possa vir causar qualquer tipo de dano ao meio
ambiente, bem como, toda e qualquer ação destina-
da a amenizar e/ou extinguir tais danos, devendo ser
registrada em contas contábeis específicas, na data
de sua ocorrência, em consonância com o disposto
nos Princípios Fundamentais de Contabilidade me-
diante adoção de procedimentos específicos, con-
forme estabelece a Resolução 750/93, do CFC.
A clara evidenciação dos gastos decorrentes
da questão ambiental constitui uma das principais
preocupações da contabilidade ambiental. Para que
os investimentos nesta área sejam demonstrados de
maneira adequada, é necessária a utilização dos
relatórios contábeis, principalmente do Balanço So-
cial, que tem como objetivo principal demonstrar o
grau de envolvimento das organizações em relação
à sociedade que as acolhe, devendo-se, através dele,
provar que o seu custo-benefício é positivo porque
agregam valores à economia e à sociedade, respei-
tam os direitos humanos de seus colaboradores e,
ainda, desenvolvem seu processo operacional sem
agredir o meio ambiente.
Na demonstração de resultados, os impactos
ambientais estão refletidos pelos custos dos insumos
adicionais para combater a produção de resíduos
poluentes, da depreciação de equipamentos e má-
quinas utilizadas no processo de proteção e preser-
vação ambiental, da mão-de-obra especializada, etc.
Entre as despesas operacionais do período podem
ser encontrados valores referentes à taxas e
emolumentos exigidos por legislação ambiental,
materiais de escritório, mão-de-obra de suporte da
área administrativa, equipamento e toda sorte de
consumos exigidos pelo planejamento, organização
e gerenciamento do processo de controle e preser-
vação do meio ambiente. Ainda é válido ressaltar que,
dentre os gastos não operacionais, pode haver pe-
nalidades impostas em decorrência dos danos cau-
sados ao meio ambiente e a terceiros de forma geral.
Mesmo representando importante instrumen-
to de divulgação, uma pesquisa realizada por Martins
(1995, p. 11) verificou que “(...) as informações refe-
rentes ao meio ambiente são as que menos são evi-
denciadas no Balanço Social, constatando também
que foram encontradas poucas informações que le-
vassem as conclusões sólidas sobre como as em-
presas estão investindo, em termos de conservação,
recuperação e melhoria do meio ambiente”.
Periodicidade Semestral Pág. 05-18

Embora no Brasil não exista obrigatoriedade
na publicação dos efeitos ambientais que uma em-
presa provoque, Ribeiro e Lisboa (1999, p. 2-7)
“(...)sugerem duas formas de evidenciar as contas
ambientais: a primeira, através da estrutura tradicio-
nal do Balanço Patrimonial e Demonstração de Re-
sultados, incluindo-se as contas de natureza
ambiental; e segunda, através de uma Demonstra-
ção Ambiental, segregando-se dados econômicos e
financeiros relacionados à área ambiental,
objetivando, somente, refletir os esforços para ame-
nizar seus impactos sobre o patrimônio ecológico e
mostrando, também, dados de natureza física”.
As organizações que lidam com recursos pú-
blicos precisam prestar contas de suas ações à co-
munidade, tornando possível calcular o esforço feito
pelo poder público na execução de programas e po-
líticas sociais e permitindo um controle social mais
efetivo, tendo o cidadão muito mais condições de
cobrar, exigir e fiscalizar.
Contudo, as dificuldades experimentadas pe-
las empresas privadas acontecem, até com maior
intensidade, nas organizações públicas, especial-
mente aquelas regidas pela Lei 4.320/64, que adota
sistemática completamente diversa da utilizada pela
iniciativa privada, com balanços e demonstrativos que
não possuem, em seu plano de contas, previsão para
esta espécie de registro.
Assim é que, de uma maneira geral, o poder
público não evidencia em seus balanços ou em seus
relatórios as contas de natureza ambiental, não ela-
borando, também, o Balanço Social ou Ambiental,
deixando de exercer desta forma a tão necessária
transparência exigida pela contabilidade, especial-
mente em se tratando de entidades que utilizam re-
cursos públicos trabalham em prol da coletividade.
Atualmente, as formas de evidenciação de fa-
tos ou transações ambientais são as tradicionalmente
utilizadas, compostas pelo relatório da administra-
ção e notas explicativas, e as formas alternativas,
ainda incipientes, encontradas em páginas da
Internet e divulgações esporádicas em revistas de
grande circulação.
7 BALANÇO SOCIAL
O Balanço social é um instrumento de gestão
de informação que visa evidenciar, de forma mais
transparente possível, informações contábeis, eco-
nômicas, ambientais e sociais, do desempenho das
entidades, aos mais diferentes usuários.
Vol.24 - N.2 Julho-Dezembro/2005
13
UMA INTRODUÇÃO À DISCUSSÃO DO PASSIVO AMBIENTAL
Segundo Tinoco e Kraemer (2004 p. 89) “O
Balanço Social contempla também uma série de in-
formações de caráter qualitativo: dentre as mais im-
portantes, destacam-se as relativas à ecologia, em
que se evidenciam os esforços que as empresas vem
realizando para não afetar a fauna, a flora e a vida
humana, vale dizer as relações da entidade com o
meio ambiente”.
Está cada vez mais difundida nos diversos
setores da sociedade a idéia de que a atual situação
do mundo requer atenção especial das empresas
para sua dimensão social. Várias empresas do Bra-
sil desenvolvem, há vários anos, nos diferentes cam-
pos, projetos sócio-culturais: educação, meio
ambiente, crianças de rua, geração de renda, cine-
ma, teatro, música, literatura, patrimônio, artes plás-
ticas, entre outros.
As empresas, públicas ou privadas são agen-
tes sociais no processo de desenvolvimento. A di-
mensão delas não se restringe apenas a determinada
sociedade, cidade, país, mas ao modo com que se
organiza e principalmente atua, por meio de ativida-
des essenciais.
Nos países desenvolvidos, de economia de
mercado, as empresas introduzem variáveis sociais
nos critérios de gestão e desenvolvimento. Cada vez
mais fica evidenciada a necessidade de demonstrar
à sociedade que não se progride sem a pureza do
ar, a preservação das florestas e a dignidade da po-
pulação.
No Brasil, para a grande maioria de nossos
empresários, o conceito de Balanço Social ainda é
algo novo.
O Balanço Social é uma avaliação da empre-
sa para medir e julgar os fatos sociais vinculados à
empresa, tanto internamente como externamente.
Para os dirigentes, oferece os elementos essenciais
para as decisões sobre programas e responsabili-
dades sociais que a empresa venha a desenvolver.
Os empregados têm a garantia de que as expectati-
vas cheguem até os patrões de maneira sistemati-
zada e quantificada.
Todo o processo chega até os consumidores,
que verificam a qualidade dos produtos. Passando a
existir maior aproximação entre a empresa e o mer-
cado consumidor. Quanto ao Estado, cabe a con-
cessão de subsídios, importantes para a elaboração
de normas legais que regulamentam, de maneira
mais adequada, a atividade das empresas para o
Periodicidade Semestral Pág. 05-18
14
Lucianne Assofra Sperandio • Marcelo Trindade • Hamilton Luiz Favero
bem-estar individual e da comunidade. Sem distin-
ção, chegando ao lucro sem ultrapassar os limites
sociais. Por conseqüência, mais lucro, maior satisfa-
ção dos funcionários e consumidores.
O Balanço Social possui pelo menos três ver-
tentes que são: a de Recursos Humanos; a
Ambiental, que será tratada isoladamente, pois se
relaciona com o tema escolhido para o desenvolvi-
mento de nosso trabalho; e a de Valor Adicionado.
A autorização para constituição da empresa e
para sua continuidade deve estar condicionada aos
resultados da avaliação dos seus impactos sobre o
meio ambiente. A avaliação deve ocorrer de forma
periódica até pouco tempo antes do encerramento
das atividades da empresa, para que eventuais
poluidores tenham de restaurar o local antes de seu
abandono.
Em termos ideais uma empresa somente po-
deria exercer suas atividades se o custo-benefício
da sua existência fosse positivo. A empresa que agri-
de o meio ambiente, conseqüentemente coloca em
risco a continuidade da vida humana ou reduz a qua-
lidade desta; aquela que não propicia condições ade-
quadas de trabalho contribui para a degeneração
psicológica e social dos trabalhadores; e aquelas que
não adicionam valor à economia local fazem com
que a aplicação de recursos governamental não te-
nha o esperado retorno para a região.
O Balanço Social envolve a demonstração da
interação da empresa com os elementos que a cer-
cam ou que contribuem para sua existência, incluin-
do o meio ambiente natural, a comunidade, a
economia local e os recursos humanos. A seguir
apresentaremos o balanço social da maior indústria
de calçados femininos do Brasil, é uma das cinco
maiores do mundo a “Azaléia SA”.
Nesta empresa, a gestão ambiental foi insta-
lada e implantada no ano de 1999, na Estação de
Tratamento de Efluentes da Galvanoplastia e na casa
de Caldeiras respectivamente. Foram investidos em
equipamentos de tratamento de água US$ 1,1 mi-
lhão, reduzindo assim o consumo de água em 23 mil
litros diários, o que equivale ao consumo médio diá-
rio de 60 famílias. Dentro desse sistema também são
feitas reciclagens da matéria-prima utilizada reduzin-
do assim a retirada de petróleo e evitando a derru-
bada de pés de eucaliptos.
A Azaléia, ainda com o intuito de preservar o
meio-ambiente, possui um sistema de reflorestamen-
to com incentivo do IBAMA, e um projeto complexo
Vol.24 - N.2 Julho-Dezembro/2005
hidrelétrico que está em fase de conclusão sempre
priorizando as questões ambientais.
Abaixo a estrutura do Balanço Social da em-
presa Azaléia SA.
BALANÇO SOCIAL
1. Base de Cálculo
Receita Líquida / Lucro Operacional / Folha de
Pagamento Bruto
2. Indicadores Laborais
Alimentação / Encargos Sociais / Saúde /
Educação / Participação dos Empregados nos
Lucros / Outros Benefícios
3. Indicadores Sociais
3.1.1 Municipais
3.1.2 Estaduais
3.1.3 Federais
3.2 Contribuições para a Sociedade
3.2.1 Educação e Cultura
3.2.2 Saúde
3.2.3 Outros
3.3 Investimentos em Meio Ambientes
3.3.1 Relacionados com Operações da Empresa
3.3.2 Programas e Projetos Externos
4. Indicadores do Corpo Funcional
4.1 Nº de Empregados ao Final do Período
4.2 Nº de Admissões Durante o Período
4.3 Nº de Mulheres que Trabalham na Empresa
4.4 Nº de Cargos de Chefia
4.5 Percentual de Cargos de Chefia Ocupados por
Mulheres
4.6 Nº de Empregados Portadores de Deficiência
4.7 Nº Mensal de Empregados Temporários
4.8 Nº de Dependentes dos Colaboradores
Esta empresa através dos seus demonstrati-
vos investe, em média, 5% dos lucros operacionais
no meio ambiente.
Pressupondo que a informação e a transpa-
rência têm o poder de inibir práticas ilícitas e estimu-
lar comportamentos e procedimentos corretos, a
Contabilidade, objetiva evidenciar a situação econô-
mico-financeira das empresas e o desempenho pe-
riódico das mesmas através do Balanço Patrimonial.
O Balanço Patrimonial apresenta a situação
financeira e patrimonial de uma empresa em deter-
minada data. Exibe os recursos obtidos pela entida-
de e os investimentos realizados, ordenados segundo
sua liquidez.
Periodicidade Semestral Pág. 05-18

Segundo Maísa Ribeiro, a estrutura de Balan-
ço Patrimonial contendo o passivo ambiental, pode
ser da seguinte forma:
BALANÇO PATRIMONIAL
Ativo
Ativo Circulante
Estoques de Insumos Ambientais
Demais Elementos do Ativo Circulante
Realizável a Longo Prazo
Estoques de Insumos Ambientais
Demais Elementos do Realizável a Longo Prazo
Ativo Permanente
Imobilizado
Bens em Uso no processo de proteção, controle, pre-
servação e recuperação ambiental deduzidos do
valor das perdas aceleradas em função da exposi-
ção à poluição.
Demais elementos do Ativo Permanente
Total do Ativo
Passivo
Passivo Circulante
Passivos Ambientais
Demais elementos do Passivo Circulante
Exigível a Longo Prazo
Passivos Ambientais
Demais elementos do Exigível a Longo Prazo
Patrimônio Líquido
Reservas Contingências de Natureza Ambiental
Demais elementos do grupo Patrimônio Líquido
Total do Passivo + Patrimônio Líquido
A identificação e divulgação do passivo
ambiental, além de ser útil na evidenciação da res-
ponsabilidade social das empresas é de grande re-
levância para avaliação das perspectivas de
continuidade destas, bem como dos riscos ofereci-
dos pela sua manutenção, passíveis de afetarem
aqueles que lhes confiam recursos.
8 EIA E RIMA
O EIA: Estudo de Impacto Ambiental e o RIMA:
Relatório de Impacto Ambiental, sempre que a ativi-
dade de uma empresa possa ter um impacto sobre o
meio ambiente, ela, para poder instalar-se, precisa
apresentar ao órgão competente estes dois docu-
mentos.
EIA, Estudo de Impacto Ambiental, é um con-
junto de análises que estuda todos os possíveis im-
pactos ambientais decorrentes da instalação (ou
ampliação) de uma atividade sobre seu entorno. Os
estudos de impacto ambiental são avaliados desde
Vol.24 - N.2 Julho-Dezembro/2005
15
UMA INTRODUÇÃO À DISCUSSÃO DO PASSIVO AMBIENTAL
a localização do projeto quanto a comprometimento
do lençol freático até dados de emissões aéreas do
processo, geração de efluentes, ou programas de de-
posição de resíduos perigosos. Enfim, trata-se de um
levantamento completo da possível relação do proces-
so produtivo da empresa com o meio ambiente.
RIMA: Relatório de Impacto Ambiental. É o
documento final que reúne dados do EIA, apresen-
tado à Agência de Meio Ambiente do Estado no qual
se localiza a empresa.
Os últimos anos têm trazido grandes modifi-
cações à organização econômica mundial. A mudan-
ça mais radical, porém, parece ser a compreensão
de que o homem precisa de seu planeta para sobre-
viver, que este é seu insumo básico de qualidade de
vida. Precisamos de ar puro para respirar bem; be-
ber água limpa para não ficarmos doentes. Foi o
homem que poluiu o ar, a terra e a água. Agora, cons-
ciente da necessidade de não poluir, passou a orga-
nizar instrumentos para proteção, controle e
fiscalização do meio ambiente. EIA e RIMA são par-
tes destes instrumentos.
9 ANÁLISE DOS RESULTADOS
A consciência dos gestores das empresas vem
mudando em relação a sua integração com o meio
que ela está inserida, porém essas mudanças se dão
de forma lenta, pois possuímos resquícios de uma
mentalidade que foi constituída a partir da Revolu-
ção Industrial.
Atualmente, as organizações sofrem muitas
pressões para gerenciar e melhorar seu desempe-
nho ambiental: atuar em conformidade com a legis-
lação mais rigorosa e satisfazer as demandas dos
clientes.
A legislação demanda um melhor desempe-
nho através da Lei de Proteção Ambiental e legisla-
ção de autorização, como a Lei de Controle da
Poluição Integrada e diretrizes de responsabilidade
sobre os resíduos. A nova legislação segue o princí-
pio de “poluidor pagador”, aumentando a pressão
sobre as empresas para garantir a divulgação e a
manutenção de seus níveis de poluição nos valores
mais baixos possíveis.
Infelizmente, o que vemos na teoria nem sem-
pre é aplicado à prática e o fator mais relevante para
as empresas na hora de se adaptar e aplicar as
mudanças, o que inclusive gera benefício à empre-
sa são as multas que a empresa enfrenta caso não
se adapte a nova realidade.
Periodicidade Semestral Pág. 05-18
16
Lucianne Assofra Sperandio • Marcelo Trindade • Hamilton Luiz Favero
As técnicas e procedimentos para avaliar a
adequação das atividades aos preceitos ambientais
existem, porém ainda não coíbem a ação humana,
essas técnicas envolvem:
· Levantamento das exigências legais.
· Aplicação de normas técnicas da ABNT.
· Levantamento de informações em documentos
disponíveis.
· Levantamento de informações nas unidades e
instalações.
· Vistorias específicas.
· Prospecção de pendências ambientais em órgãos
federais, estaduais e municipais.
· Obtenção de certidões negativas nos Cartórios
Distribuidores de Comarca.
· Obtenção de certidões negativas na Justiça Fe-
deral e Estadual.
· Coleta de informações na vizinhança e nas co-
munidades.
· Consultas a organizações não-governamentais
(ONG).
· Obtenção de informações complementares em
fontes genéricas e específicas.
· Realização de análises físico-químicas de água,
solo, ar, instalações (paredes, forros).
· Levantamento de informações complementares
no “data room”.
· Organização e análise dos dados levantados.
· Avaliação qualitativa e quantitativa do passivo
ambiental.
· Elaboração do relatório de avaliação do passivo
ambiental.
· Elaboração de planos e programas para eliminar
as pendências ambientais existentes.
· Adoção e práticas de atitudes pró-ativas para evi-
tar a formação de novos passivos ambientais.
Elementos auxiliares e de apoio
· Legislação ambiental e normas técnicas.
· Listas de verificação ambiental.
· AA - Auditoria Ambiental.
Vol.24 - N.2 Julho-Dezembro/2005
· EIA/RIMA - Estudo e Relatório de Impacto
Ambiental.
· PBA – Programa Básico Inicial.
· AAI – Avaliação Ambiental Inicial.
· ADA – Avaliação de Desempenho Ambiental.
· ACV – Análise do Ciclo de Vida.
· ARA – Análise de Risco Ambiental.
Mesmo existindo todas essas técnicas, pro-
cedimentos, elementos auxiliares e de apoio, o abu-
so do meio ambiente ainda é grande. Um bom
exemplo deste fato é a reportagem feita por Fábio
Massali da equipe do jornal O Diário que foi publica-
do no dia 20 de setembro de 2005, onde apontam
tipos de crimes ambientais cometidos contras às ár-
vores de Maringá. São infrações condenadas com
multa por Leis Federais (Lei 9.605/98 e Decreto Lei
3.179/99) e Municipais (complementar 09/03, 2.585/
89, 4.780/99 e decreto 1358/02). A matéria publicada
denuncia árvores sendo utilizadas – ou, agredidas?
- de diversas formas. Além dos pregos usados para
pendurar sacolas de lixo ou fixar cartazes e faixas,
ainda apresentam algumas situações que beiram o
absurdo. “Um deles é uma árvore sendo utilizada
para emplacamento do nome de rua. Um outro caso
é um ipê na Arlindo Planas que foi cortado e perfura-
do para matar a planta, mas, mesmo assim continua
vivo e dando flores”. “Também criticou o projeto de
um Natal de Luz em Maringá. Segundo ele, não faz
sentido o poder público autorizar - contra a legisla-
ção municipal e federal - a utilização de árvores para
sustentar as iluminações natalinas.”
“Não sou contra um Natal de Luz, mas que
seja feito em lojas ou outro sistema que agüentem a
eletricidade. É uma coisa que no futuro será conde-
nado. A árvore não foi desenhada para ser um su-
porte natalino. Quem tem obrigação de fazer cumprir
a lei não pode desrespeitá-la por questões comer-
ciais. O poder público deve estar sempre dentro da
legalidade”.
O que devemos observar com trechos da ma-
téria publicada é que a distância entre a teoria exis-
tente e a prática é grande, pois se o próprio município
não as segue e não dá o exemplo, como irá cobrar
que as empresas as cumpram e com que fundamento
irá multá-las sendo que o próprio município esta co-
metendo infrações ao abusar do meio ambiente para
o seu benefício.
Periodicidade Semestral Pág. 05-18

10 CONCLUSÃO
As empresas devem planejar os seus gastos
na área ambiental, nas atividades preventivas de
controle ou de recuperação, o que gera um impacto
sobre o patrimônio das empresas, tendo que ter um
estudo bem elaborado para que gere e garanta o
sucesso dos sistemas de gerenciamento ambiental
e a continuidade dos seus negócios.
O passivo ambiental deve ser reconhecido
contabilmente, pois representam expectativa de sa-
crifício de benefícios futuros impostas por legislações
e regulamentações ambientais, como taxas, contri-
buições, multas e penalidades por infrações legais
e, ainda, em decorrência de ressarcimento a tercei-
ros por danos provocados, estimativos de gastos para
recuperação e restaurações de áreas degradadas,
seja por iniciativa própria, por exigência legal ou de
terceiros. Enfim, todos os compromissos que impli-
quem no provável consumo de recursos futuros para
fazer face às obrigações decorrentes de questões
ambientais devem ser contabilizados.
A concepção que tínhamos das fontes de re-
cursos naturais serem inacabadas foi alterada, pas-
samos do sistema tradicional, que surgiu com a
Revolução Industrial, onde se liberava todos os de-
tritos em rios, aterros sanitários ou valas comuns para
o fluxo de economia de ciclo fechado, onde ocorre o
tratamento e a reciclagem dos materiais, nesse pro-
cesso ainda há restos que vão para o lixo, porém em
número inferior, degradando menos e respeitando
mais o meio-ambiente em que está inserida.
A idéia de que a atual situação do mundo re-
quer atenção especial das empresas para sua di-
mensão social está cada vez mais difundida nos
diversos setores da sociedade. Com esse enfoque,
elas utilizam o balanço social, que é uma avaliação
da empresa, para medir e julgar os fatos sociais vin-
culados à empresa, tanto internamente como exter-
namente, oferecendo aos dirigentes os elementos
essenciais para as decisões sobre programas e res-
ponsabilidades sociais que a empresa venha a de-
senvolver, que é o caso da inclusão do passivo
ambiental como elemento constitutivo desta demons-
tração contábil. Com essas informações o cidadão
reconhecerá que a empresa está preocupada com o
contexto social em que está inserida e que está
interagindo com o meio ambiente. Sem tais informa-
ções, torna-se impossível reconhecer o verdadeiro
valor social da empresa.
Vol.24 - N.2 Julho-Dezembro/2005
17
UMA INTRODUÇÃO À DISCUSSÃO DO PASSIVO AMBIENTAL
A empresa deve contribuir e precisa investir
em preservação ambiental, mas, faz-se necessário
o incentivo por parte dos poderes públicos, pois, se-
gundo a Constituição Federal, é um direito humano
fundamental.
Hoje, é necessário que haja harmonia entre
os homens e o eco-sistema no qual estamos inseri-
dos, para que possamos, a partir desta integração, ir
à busca da evolução sem destruição e do objetivo
maior que é o da sobrevivência digna da própria es-
pécie sobre a Terra, sendo que este deve ser o valor
supremo a nortear as discussões políticas e científi-
cas numa sociedade que visa o desenvolvimento.
REFERÊNCIAS
DYLLICK, GILGEN, HÄFLIGER & WASMER. 2000.
Guia da Série de Normas ISO 14001. Sistemas
de Gestão Ambiental. Edifurb. Blumenau, SC.
FERREIRA, Araceli Cristina de Sousa. Contabilida-
de Ambiental: Uma Informação para o Desenvol-
vimento Sustentável. São Paulo, Editora Atlas,
2003, 138p.
FINANCIAL ACCOUNTING STANDARDS BOARD –
FASB. Statement of Financial Accounting
Standards nº 5, 6 e 10 – Accounting for
Contingencies.
FOLADORI, Guillermo e TOMMASINO, Humberto.
2001. Controvérsias sobre sustentabilidade.
Internet: Universidade Federal do Paraná.
IBRACON – Instituto Brasileiro de Contadores. 1994.
Princípios Contábeis: Normas e Procedimentos de
Auditoria. Atlas. São Paulo.
IUDICIBUS, Sérgio de. 1997. Teoria da Contabilida-
de. Atlas. São Paulo
MARTINS, Eliseu e RIBEIRO, Maísa de Souza. 1995.
A Informação como Instrumento de Contribuição
da Contabilidade para a Compatibilização entre o
Desenvolvimento Econômico e a Preservação do
Meio Ambiente. Boletim do IBRACON nº 208, p.
1-7.
MASSALI, Fábio, Jornal O Diário, 20 de setembro
de 2005,
PAIVA, Paulo Roberto. 2003. Contabilidade
Ambiental. Evidenciação dos Gastos Ambientais
com Transparência e Focada na Prevenção. São
Paulo, Editora Atlas, 2003, 154p.
Periodicidade Semestral Pág. 05-18
18
Lucianne Assofra Sperandio • Marcelo Trindade • Hamilton Luiz Favero

RIBEIRO, Maísa de Souza e LISBOA, Lázaro Pláci-

do. 1999. Balanço Social. Revista Brasileira de
Contabilidade, nº 115, p. 72-81.

RIBEIRO, Maísa de Souza e LISBOA, Lázaro Pláci-

do. 2000. Passivo Ambiental. Trabalho premiado
no XVI Congresso Brasileiro de Contabilidade.
Goiânia.

RIBEIRO, Maísa de Souza. 1998. Custeio das

Atividades de Natureza Ambiental. Tese de Dou-
torado. FEA/USP.

RIBEIRO, Maísa de Souza. 1998. Tratamento

Contábil dos Gastos de Natureza Ambiental pelo
Custeio por Atividades. Revista de Contabilidade
do CRC – SP, nº 7, p. 26-31.

RIBEIRO, Maisa de Souza. Contabilidade Ambiental.

São Paulo, Editora Atlas, 2005, 220p

SÁ, Antônio Lopes de. 1998. Teoria da Contabilida-

de. Atlas. São Paulo.

SÁ, Antônio Lopes de. 1999. Aspectos Doutrinários

da Contabilidade Aplicada ao Meio Ambiente Na-
tural. Internet: http://www.lopesdesa.com.

SÁ, Antônio Lopes de. 1999. Considerações Gerais

sobre a Contabilidade Aplicada ao Meio Ambien-
te Natural. 1999. Internet: http: //
www.lopesdesa.com.

SÁ, Antônio Lopes de. 1999. Contabilidade e Balan-

ço Social. Internet: http://www.lopesdesa.com.

SÁ, Antônio Lopes de. 1999. Introdução à Contabili-

dade Aplicada ao Meio Ambiente Natural. Internet:
http: //www.Lopesdesa.com

SÁ, Antônio Lopes de. 1999. Neopatrimonialismo

como Pensamento Moderno em Contabilidade.
Internet: http://www.lopesdesa.com.

SÁ, Antônio Lopes de. 1999. Nova Visão da Conta-

bilidade. Internet: http://www.lopesdesa.com.

SILVA, César Tiburcio e FREIRE, Fátima Souza.

Balanço Social Teoria e Prática. Atlas, São Paulo,
2001.

TINOCO, João Eduardo Prudêncio, KRAEMER,

Maria Elisabeth Pereira. Contabilidade e Gestão
Ambiental, São Paulo, Editora Atlas, 2004, 303p.

Vol.24 - N.2 Julho-Dezembro/2005 Periodicidade Semestral Pág. 05-18