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(des) continuidade

Wittgenstein, para além de reconhecer ter se equivocado na sua abordagem patente no


Tratactus logico-Phillosophicus, aconselha que as investigações Filosóficas tenham
como pano de fundo o TLP, visto que elas são uma resposta aos enganos que
Wittgenstein apresenta no TLP. É a obra investigações Filosóficas uma superação ao
modo de pensar de Wittgenstein no Tratactus, portanto, as investigações devem ser lidas
tendo em mente o Tratactus.

Há quatro anos tive ocasião de voltar a ler o meu primeiro livro (o Tractatus-
Logico-Philosophicus) e de explicar as suas teses. De súbito, pareceu - me então
que devia publicar conjuntamente a minha velha com a minha nova maneira de
pensar: que esta só podia ser verdadeiramente iluminada pelo contraste· e contra
o campo de fundo daquela (Wittgenstein, 2015, p.166).

Segundo Fann citado em Cavassane, Wittgenstein chegou a considerar o método e as


doutrinas do tratactus como um paradigma da Filosofia tradicional.

Na sua teoria pictórica da linguagem, Wittgenstein defende que a linguagem faz-se


imagem do mundo e para fundamentar essa posição, Wittgenstein busca algo de comum
entre a linguagem e o mundo e, o que é para ele comum entre estes dois domínios é a
forma lógica.

Sobre os objectos simples

Baseando-se na teoria clássica que se encontra no diálogo platónico “Teeteto”, segundo


a qual o mundo é formado por elementos simples e que cada nome corresponde a esses
elementos simples, Wittgenstein formulou a sua teoria pictórica (da figuração). Os
elementos simples do diálogo platónico são, segundo Wittgenstein (S46, I.F) os
individuals de Russell e também os objectos do T. L.P (da teoria da figuração) que,
estando numa relação tal com o estado de coisas constituem os factos que compõem o
mundo. “Estes protoelementos eram os «individual » de Russell e também os meus
«objectos» ( Tractatus Logico-Philosophicus)” (S46, p. 208)

Na linguagem, os elementos simples equivalem às palavras que, quando organizadas,


constituem as proposições que compõem o mundo, pois, a proposição corresponde a
uma situação possível no mundo. A relação entre as proposições e os factos é de
isomorfismo, é uma relação de partilha da forma, esta forma é para Wittgenstein do
T.L.P a forma lógica. Assim sendo, o sentido de uma proposição está em ela expressar
uma situação possível. Com essa ideia, é possível encontrar no Tratactus-Logico-
Philosophicus a distinção das proposições em aquelas com sentido e proposições sem
sentido. Somente as proposições das ciências naturais são as com sentido pois, estas
podem representar uma situação possível do mundo. Resta aqui apresentar uma
discussão detalhada sobre o que Wittgenstein entende por mundo.
Erros da teoria pictórica da realidade

1. Acerca dos objectos (os protoelementos de Teeteto)

Citando Wittgenstein, (S46, p. 208) “[…] para os protoelementos-se me permitem a


expressão - a partir dos quais nós próprios e tudo o resto é composto, não existe uma
explicação; porque tudo o que existe em e por si só pode ser designado com nomes”
Wittgenstein vai dizer que a única coisa que temos dos protoelementos é o seu nome,
ainda na proposição S46 Wittgenstein diz
“Mas como aquilo que se compõe a partir destes protoelementos é em si próprio
um encadeamento complexo, assim as suas designações nesta cadeia tornam-se
em linguagem descritiva, cuja essência é, pois, o encadeamento dos nomes”
Depois dessas constatações, na proposição seguinte Wittgenstein vai perguntar quais
são as partes constituintes simples de que a realidade se compõe? Ele vai concluir que
não se pode de absoluto falar de objectos simples, esse constitui um golpe para a teoria
pictórica da linguagem, visto que não se pode de todo falar de objectos simples e,
portanto não se pode falar de tal correspondência e de tal isomorfia “Não tem qualquer
sentido falar em absoluto das «partes constituintes simples de uma cadeira»” (S47, p.
209).

O Erro dos nomes

Logo nos primeiros parágrafos das Investigações Filosóficas Wittgenstein discute sobre
os nomes e na proposição (S15,p. 181) vai dizer que designar uma coisa é pendurar-lhe
uma etiqueta e, mais adiante, na proposição (S27, p. 192) vai dizer que

“Damos nomes às coisas e assim podemos falar acerca delas, referirmo-nos


verbalmente a «elas» – como se com a acto de dar um nome fosse dado aquilo
que faremos a seguir. Como se «falar de coisas» fosse univocamente
determinado, quando de facto fazemos as coisas mais variadas com as nossas
proposições.

Dar nome é apenas um processo que permite falarmos dos objectos, como ele diz, é
pendurar uma etiqueta aos objectos e, “quando dizemos «cada palavra da linguagem
designa algo»” (S13, p. 181) ainda de facto não dissemos nada, visto que podemos fazer
variadas coisas com as palavras. Nas investigações filosóficas Wittgenstein mostra que a
linguagem possui várias utilidades, para além de ser aplicada para falar sobre coisas.
Apresenta as exclamativas, as interrogativas entre outras, ele deixa evidente que um
nome pode fazer mais do que nomear algo visto que não demos todo o uso possível da
palavra. Ex: Socorro! água! água? “chamamos «nomes». a coisas muito diferentes; a
palavra «nome» caracteriza muitas espécies, diferentes, do uso de uma palavra” (S38, p.
202).

Sobre a denotação

Na proposição (S59, p. 222) Wittgenstein vai dizer:

«Os nomes designam apenas. aquilo que é elemento da realidade. Aquilo que
não pode ser destruído; o que permanece imutável». Mas o que é isso? É o que
ao pronunciarmos a frase já temos em mente! Já pomos em palavras uma
concepção · completamente determinada. Uma: imagem determinada que
queremos utilizar. Porque de facto a experiência não nos revela estes elementos.

Sobre a forma geral da proposição

Nas investigações Filosóficas Wittgenstein apresenta um exemplo de linguagem usada


por um pedreiro e seu servente, cuja forma consiste em ordens que o pedreiro dá ao seu
servente, essas ordens não constituem frases completas, o servente, ao ouvir laje, bloco,
etc. ele passa ao mestre os respectivos objectos e, Wittgenstein vai dizer:

“Se queres dizer que, por esse motivo, não são completas, então pergunta-te se a
nossa linguagem é completa; - Se o era antes de a notação da Química e de a
notação do cálculo infinitesimal terem sido nela incorporados, uma vez que estes
são, por assim dizer, os subúrbios da nossa Linguagem” (S18, p. 183)

O que Wittgenstein procura mostrar é que são concebíveis linguagens que consistam em
ordens, expressões para afirmação e negação e muitas outras cuja natureza das
expressões são proposições elípticas, por proposição elíptica wittgenstein entende como
sendo a proposição em forma de palavra, ou seja, uma proposição abreviada. Por
exemplo, na linguagem do pedreiro e seu servente, quando o pedreiro diz “bloco” ele dá
a ordem “traz-me um bloco”, essa expressão é perceptível somente por aqueles que
jogam esse jogo de linguagem. “A frase não é «elíptica», por deixar algo de fora,
aquilo que queremos dizer algo quando pronunciamos, mas porque está abreviada em
comparação com um certo paradigma da nossa gramática” (S20, p. 176).

Wittgenstein defende que a proposição pode tomar a forma de palavra ou a de uma


frase, dependendo da aplicação dos nomes ou palavras, portanto, a proposição pode
apresentar-se como uma “frase degenerada” (S19, p. 184).
Poderia aqui dizer-se – embora isto conduza facilmente a toda a espécie de
superstições filosóficas – que um símbolo «E » ou «P», etc., pode umas vezes ser
uma palavra outras vezes uma proposição. Mas se «é uma palavra ou uma frase»
depende da situação em que é pronunciada ou escrita. (S49. p. 213).
Para Wittgenstein, se uma palavra é realmente palavra ou uma frase abreviada nota-se
na sua aplicação, sobre a forma da proposição Wittgenstein vai dizer que isso nota-se,
acrescentando que pode conceber-se uma linguagem em que todas as suas asserções
tivessem a forma e tom de perguntas retóricas.
Como havíamos afirmado anteriormente que Wittgenstein do T. L. P equipara os seus
objectos aos protoelementos do diálogo platónico Teeteto, nas investigações Filosóficas
(S48) ele concebe um jogo de linguagem cuja função é representar combinações de
quadrados de cor sobre ua superfície, os quadrados constituem um complexo com a
forma de um tabuleiro de xadrez. Nessa linguagem, as palavras descrevem um arranjo
dos quadrados que, usando a expressão tratactiana, correspondem ao estado de coisas
nesse jogo de linguagem, mas a validade desse jogo implica, primeiro, estabelecer o
sentido de que se pode dizer que os objectos são simples e também as condições em que
os nomes são representação dos mesmos, pois, o que garante esta representatividade é o
seguir as regras. A Quimica e a tabela periódica
Sobre a forma lógica

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