Douglas Augusto Lucas Matheus Priscila Rasteiro Introdução metodológica Muitas vezes e até num passado recente as investigações sobre as relações entre os europeus e as populações autóctones na América portuguesa assumiram o aspecto de uma confrontação abstrata entre uma população primitiva e homogênea e colonizadores europeus do início do renascimento. Ou seja, entre pessoas portadoras de culturas localizadas em etapas muito distantes da história da humanidade O século XVI não deve ser pensado a partir das reelaborações do século XVII nem do papel hegemônico assumido pelas teorias raciais e princípios evolucionistas hegemônicos no século XIX. A contemporaneidade das relações sociais pode ser resgatada através da recuperação analítica de quadros interativos concretos, atualizados por meio de situações sociais e históricas. A ocupação pré-histórica do Brasil Ainda hoje continua a ser uma referência para os antropólogos a classificação proposta por Julian Steward no famoso Handbook of South American Indians (5 volumes, editados entre 1946 e 1949). Baseado sobretudo na observação dos reflexos de diferenças ambientais nas estruturas sociais, ele delineia quatro tipos. O primeiro é o das “terras altas” (Andes), onde floresceram sociedades centralizadas e extremamente complexas, com um sistema econômico diferenciado e abrangendo vastas extensões territoriais, possuindo instituições políticas especializadas, que permitiam estabelecer paralelos com Impérios da antiguidade (Egito,Pérsia, Roma) e com processos de formação de estruturas estatais em curso na Europa do período dos descobrimentos Na classificação das terras baixas, no entanto, explicitava-se a postura teleológica do autor. Assim Steward falava de “cacicados”, sociedades que se localizariam nas ilhas e no litoral do Caribe, atingindo também o extremo norte da costa do Pacífico; de culturas “de floresta tropical”, que se espalhavam pela região amazônica, ao longo de toda a costa atlântica (até o Uruguai) e no litoral sul do Pacífico (do Peru ao Chile); e de tribos “marginais”, que ocupariam as savanas do Brasil Central, o Chaco, o cone sul do continente (Uruguai e Argentina) e algumas pequenas áreas dentro das florestas tropicais. O grande mérito da classificação de Steward para as investigações históricas é evidenciar a enorme diferenciação existente entre as populações autóctones já ao tempo das descobertas, permitindo-nos uma leitura mais rica da “literatura de testemunho” representada pelos cronistas e viajantes do século XVI. Muitos intérpretes posteriores procederam a simplificações, formulando generalizações nem sempre bem fundamentadas e, implícita ou explicitamente, fornecendo um paradigma único para as populações autóctones. A distinção entre indígenas da floresta tropical e tribos marginais de certa forma reproduz a clivagem entre tupis e tapuias que irá marcar grande parte da produção historiográfica até o primeiro quartel do século XX. Ao colocar as diferenças culturais em termos de estágios evolutivos, o discurso científico veio ao encontro de categorias que foram essenciais para o exercício das políticas coloniais no Brasil, o evolucionismo cultural do século XX funcionando, tal como o evolucionismo vitoriano, justaposto à ideologia colonial. Repensando a diversidade cultural (...) eram complexas e de larga escala, englobando a produção intensiva de plantas de raiz e de sementes em campos de poli ou monocultura, a caça e pesca intensiva, o amplo processamento de alimentos e a armazenagem por longos períodos. Havia investimentos consideráveis em estruturas substanciais e permanentes ligados à produção, tais como viveiros de tartarugas, represas com pesca, campos agrícolas permanentes, entre outras. A agricultura baseava-se mais na limpeza dos terrenos e nas culturas anuais do que na derrubada e queimada, o principal método utilizado hoje em dia. (Anna Roosevelt, 1992, p. 72) Os padrões etnográficos da subsistência indígena de cultivo itinerante, a caça e a pesca parecem, assim, representar um retorno a um modo de vida que existia na Amazônia antes do desenvolvimento das economias intensivas dos populosos cacicados. (Anna Roosevelt, 1992, p. 77) Dimensão Demográfica Os números disponíveis são muito díspares e torna-se indispensável vê-los com bastante cuidado. Dados demográficos do ano 1500 segundo:
Steward (1949) 1,5 milhão
Rosenblat (1954) 1 milhão
W. Denevan( Duas décadas depois) 3,6 milhões na Amazônia e 1 milhão no litoral
John Heming 2,4 milhões
Estimativas referente à América : Rosenblat América total de 13,8 milhões
Nathan Wachtel (Peru) 10 milhões
Borah 1960 100 milhões
Dobyns 1966 80 a 100 milhões
Denevan ( Décadas seguintes) 57,3 milhões nativos das Américas
PAU - BRASIL A DOUTRINA DA GUERRA JUSTA .
A DOUTRINA DA GUERRA JUSTA.
- A Doutrina se refere mais particulamente a guerra preventiva. GUERRA JUSTA Três Regimes da construção da Colônia
Através de fontes arqueológicas e etnológicas, iremos agora questionar a visão homogeneizada e
simplista das populações autóctones, enquadradas de forma genérica e primitivas e não enquanto integrantes efetivas do encontro colonial. ● Não são encontrados de maneira alguma nos fatos contemporâneos ao “achamento” do Brasil nem nas sete décadas que lhe sucederam, em que as relações estabelecidas com os indígenas foram essenciais para caracterizar os modelos de colonização adotados. ● Século XVI deverá ser visto como um período de experiências e mudanças. ● Estará compreendida em três contextos e pensados em sua especificidade sociais e logicamente separadas: 1° situação: Regimes das Feitorias
● Produção do pau-brasil baseada no escambo;
● Comércio centralizado; ● Relação colonizadores e colonizados: BIPARTIDA; ● Compra e venda de cativos: Carijós e guaianases; ● Figura essencial: Tradutores culturais a fim de aprender idiomas e os costumes nativos, operadores práticos das alianças. 2° Situação: Guerra de conquista
● Atores sociais são os mesmos;
● Portugal busca acabar com alianças comerciais e vai em busca de vassalos; ● Iniciada no segundo governo geral, sendo ● empreendida no terceiro governo com ● Mem de Sá (1550-1560). Objetivos da guerra
● Ocupação dos territórios indígenas
● Mobilização do trabalho: Construções públicas e funcionamento dos engenhos; ● Tratamento com os gentios de acordo com relatos: ● Manoel da Nóbrega ( jesuíta) ● José de Anchieta (jesuíta) ● André Thevet ( franciscano) ● Jean de Léry ( protestante) 3° Situação: Plantation Escravista
● Exportação de cana-de-açúcar e mão-de-obra africana;
● Guerra de Conquista da Costa do pau-brasil viabilizou a utilização de escravos nessa modalidade econômica ● Com a diminuição dos indígenas no campo, ● houve a crescente demanda por braços no ● engenho. ● Para Heming, em meados do século XVII, índios serão ⅓ do que eram em 1590 no litoral. ● Indígenas foram disponibilizados para atividades menos lucrativas. A necessária revisão de alguns pressupostos
● Dificuldade de estabelecer as causas da substituição da mão de obra indígena pela
africana; ● Nomadismo indígena; ● Relato de Gabriel Soares de Souza: haviam povos que vivam no interior das matas, aldeias e lavouras extensas. Os que viviam nas faixas litorâneas conheciam de agricultura e conheciam a arte da navegação e pesca. ● ¾ da população indígena estava concentrada na região da Bahia representando a força de trabalho na extração do pau-brasil e implantação de lavouras e engenhos. 2 Hipóteses a serem investigadas:
1° hipótes 2° hipótese
● Prefêrencia em investir em escravos ● Finalidades em relação à
negros, sugerindo uma via econômica; movimentação de indígenas e ● Indígenas eram temporários e com africanos; baixo custo no valor de venda. ● Disputa sobre o controle de trabalho indígena. Atribuições entre indígenas e africanos
Indígenas Africanos
Extração do pau-brasil Constituía bem de capital e patrimônio
pessoal
Inseridos em lavouras: Eram destinados para as plantations, cana
- mandioca e produção de seus de açúcar derivados
Escravidão indígena temporária Constituia bem de capital
Baixo preço em relação ao negro, Negro adquirido como mercadoria
processo de venda deveria ser camuflado Incorporação dos indígenas nas famílias portuguesas
● Visto como algo estritamente individual;
● Gilberto Freyre: a mestiçagem estav associada a mudança de status dos negros dentro da Casa- grande e relativo “branqueamento” de seus descendentes. No caso dos indígenas, a sua incorporação em famílias de portugueses não e traduziria no reconhecimento da mestiçagem nem em uma suposta diminuição de clivagens étinco-raciais, mas sim na acentuação dos estigmas quanto aos índios. É em decorrência de tais parâmetro ideológicos que as populações autóctones serão reiteradamente representadas a partir da imagem do “índio bravo”. Estando relacionado a condição tutelar que ocuparam em diferentes projetos nacionais. Ao aceitarem o batismo e a vassalagem não devem ser descritos de forma separada de outros súditos de El Rey, não devendo ser considerados iguais aqueles “índios bravos”. Sendo inexistente registros e coletividades indígenas, optaram por viver dentro da sociedade colonial, suas especificidades eram ignoradas e recusado também a continuidade com suas tradições culturais autóctones. Obrigado pela atenção !!!