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PROVA
Protocolo: 657149
Exame
Curso: Letras-Português/Inglês
Disciplina: Literaturas de Língua Portuguesa III
Ano: 20212
Semestre: 4
Questão 2
A PALAVRA (Rubem Braga)
Tanto que tenho falado, tanto que tenho escrito - como não imaginar que, sem querer, feri alguém? Às vezes
sinto, numa pessoa que acabo de conhecer, uma hostilidade surda, ou uma reticência de mágoas. Imprudente
ofício é este, de viver em voz alta.
Às vezes, também a gente tem o consolo de saber que alguma coisa que se disse por acaso ajudou alguém a se
reconciliar consigo mesmo ou com a sua vida de cada dia; a sonhar um pouco, a sentir uma vontade de fazer
alguma coisa boa.
Agora sei que outro dia eu disse uma palavra que fez bem a alguém. Nunca saberei que palavra foi; deve ter
sido alguma frase espontânea e distraída que eu disse com naturalidade porque senti no momento - e depois
esqueci.
Tenho uma amiga que certa vez ganhou um canário, e o canário não cantava. Deram-lhe receitas para fazer o
canário cantar; que falasse com ele, cantarolasse, batesse alguma coisa ao piano; que pusesse a gaiola perto
quando trabalhasse em sua máquina de costura; que arranjasse para lhe fazer companhia, algum tempo, outro
canário cantador; até mesmo que ligasse o rádio um pouco alto durante uma transmissão de jogo de futebol...
mas o canário não cantava.
Um dia a minha amiga estava sozinha em casa, distraída, e assobiou uma pequena frase melódica de
Beethoven - e o canário começou a cantar alegremente. Haveria alguma secreta ligação entre a alma do velho
artista morto e o pequeno pássaro cor de ouro?
Alguma coisa que eu disse distraído - talvez palavras de algum poeta antigo - foi despertar melodias esquecidas
dentro da alma de alguém. Foi como se a gente soubesse que de repente, num reino muito distante, uma
princesa muito triste tivesse sorrido. E isso fizesse bem ao coração do povo, iluminasse um pouco as suas
pobres choupanas e as suas remotas esperanças. (Disponível
em http://geminianas.blogspot.com.br/2008/03/palavra.html Acesso em 19/03/2015).
O final do texto expressa uma reflexão do escritor acerca do poder da sua escrita, a partir da menção a uma
princesa e a um povo.Essa menção sugere, principalmente, que o escritor deseja que suas palavras tenham o
poder de:
Questão 3
FMTM) O romance Dom Casmurro, de Machado de Assis:
a) filia-se à corrente naturalista, uma vez que o autor, entusiasmado pelas teses cientificistas da época, elegeu
o meio e a hereditariedade como as forças básicas de construção do seu universo ficcional.
b) é considerado um representante tardio do romance social urbano, na linha inaugurada por José de Alencar,
pelo tratamento ousado e direto dado ao tema do adultério.
c) representa um dos pontos altos do Realismo brasileiro, pois ultrapassa os limites de um banal caso de
adultério e tem, na condição humana, captada pelo viés da ironia, a matéria de sua narrativa.
d) deve ser encarado como uma produção independente em relação à nossa tradição literária, visto que
inaugura a chamada prosa poética de cunho introspectivo, precursora do romance intimista dos anos 30.
e) está comprometido com os postulados da estética pré-modernista, não só pela escolha corajosa do tema,
mas também pela linguagem agressiva, de denúncia, que investe contra os valores burgueses.
Questão 4
Com base na leitura de Dom Casmurro, e considerando a importância de Machado de Assis para a
literatura brasileira, identifique a opção correta:
a) Escrito nos moldes do Realismo, Dom Casmurro é antes um “romance filosófico” que um “romance social”.
b) Ao contrário de diversas heroínas românticas, punidas com a morte por comportamentos inadequados para
os padrões de sua época, a principal personagem feminina de Dom Casmurro não morre no final da narrativa.
c) Ainda que acreditasse não ser pai de Ezequiel, Bento Santiago não deixou que isso interferisse na relação
pai-filho, e sempre quis ter o rapaz muito perto de si.
d) Assim como em Esaú e Jacó, a presença do Imperador e as referências à vida política brasileira são
constantes em Dom Casmurro e interferem nos acontecimentos narrados.
e) Não há afirmativa correta.
Questão 5
Intertextualidade é quando percebemos a presença de um texto em outro texto, Observe os excertos a seguir.
I. Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai Carlos! Ser “gauche" na vida
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964)
II. Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim.
(BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia das Letras, 1989)
III. Quando nasci um anjo esbelto
Desses que tocam trombeta, anunciou:
Vai carregar bandeira.
Carga muito pesada pra mulher
Esta espécie ainda envergonhada.
(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986)
Marque a opção que traduza o tipo de intertextualidade estabelecida por Adélia Prado e por Chico Buarque, em
relação a Drummond.
Questão 6
Assinale a alternativa que não indica um tema abordado em O primo Basílio, de Eça de Queirós:
Questão 7
Sobre a origem da poesia, Arnaldo Antunes : A origem da poesia se confunde com a origem da própria
linguagem.Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de ser poesia. Ou: qual a
origem do discurso não-poético, já que, restituindo laços mais íntimos entre os signos e as coisas por eles
designadas, a poesia aponta para um uso muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua
ocorrência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões, discursos, ensaios ou
telefonemas.Como se ela restituísse, através de um uso específico da língua, a integridade entre nome e coisa
— que o tempo e as culturas do homem civilizado trataram de separar no decorrer da história.A manifestação
do que chamamos de poesia hoje nos sugere mínimos flashbacks de uma possível infância da linguagem, antes
que a representação rompesse seu cordão umbilical, gerando essas duas metades — significante e
significado.Houve esse tempo? Quando não havia poesia porque a poesia estava em tudo o que se dizia?
Quando o nome da coisa era algo que fazia parte dela, assim como sua cor, seu tamanho, seu peso? Quando os
laços entre os sentidos ainda não se haviam desfeito, então música, poesia, pensamento, dança, imagem,
cheiro, sabor, consistência se conjugavam em experiências integrais, associadas a utilidades práticas, mágicas,
curativas, religiosas, sexuais, guerreiras?Pode ser que essas suposições tenham algo de utópico, projetado
sobre um passado pré-babélico, tribal, primitivo. Ao mesmo tempo, cada novo poema do futuro que o presente
alcança cria, com sua ocorrência, um pouco desse passado.Lembro-me de ter lido, certa vez, um comentário de
Décio Pignatari, em que ele chamava a atenção para o fato de, tanto em chinês como em tupi, não existir o
verbo ser, enquanto verbo de ligação. Assim, o ser das coisas ditas se manifestaria nelas próprias
(substantivos), não numa partícula verbal externa a elas, o que faria delas línguas poéticas por natureza, mais
propensas à composição analógica.Mais perto do senso comum, podemos atentar para como colocam os índios
americanos falando, na maioria dos filmes de cowboy — Eles dizem "maçã vermelha", "água boa", "cavalo
veloz"; em vez de "a maçã é vermelha", "essa água é boa", "aquele cavalo é veloz". Essa forma mais sintética,
telegráfica, aproxima os nomes da própria existência — como se a fala não estivesse se referindo àquelas
coisas, e sim apresentando-as (ao mesmo tempo em que se apresenta).No seu estado de língua, no dicionário,
as palavras intermediam nossa relação com as coisas, impedindo nosso contato direto com elas. A linguagem
poética inverte essa relação pois vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma via de acesso sensível mais
direto entre nós e o mundo.Segundo Mikhail Bakhtin, (em "Marxismo e Filosofia da Linguagem") "o estudo das
línguas dos povos primitivos e a paleontologia contemporânea das significações levam-nos a uma conclusão
acerca da chamada 'complexidade' do pensamento primitivo. O homem pré-histórico usava uma mesma e única
palavra para designar manifestações muito diversas, que, do nosso ponto de vista, não apresentam nenhum elo
entre si. Além disso, uma mesma e única palavra podia designar conceitos diametralmente opostos: o alto e o
baixo, a terra e o céu, o bem e o mal, etc". Tais usos são inteiramente estranhos à linguagem referencial, mas
bastante comuns à poesia, que elabora seus paradoxos, duplos sentidos, analogias e ambiguidades para gerar
novas significações nos signos de sempre.Já perdemos a inocência de uma linguagem plena assim. As palavras
se desapegaram das coisas, assim como os olhos se desapegaram dos ouvidos, ou como a criação se
desapegou da vida. Mas temos esses pequenos oásis — os poemas — contaminando o deserto da
referencialidade. ( Disponível em http://www.arnaldoantunes.com.br/new/sec_textos_list.php?page=1&id=27
Acesso em 23/03/2015).
No último parágrafo (linhas 33 a 35), o autor se refere à plenitude da linguagem poética, fazendo, em seguida,
uma descrição que corresponde à linguagem não poética, ou seja, à linguagem referencial.Pela
descrição apresentada, a linguagem referencial teria, em sua origem, o seguinte traço fundamental:
a) o desgaste da intuição.
b) a dissolução da memória.
c) a fragmentação da experiência.
d) o enfraquecimento da percepção.
Questão 8
Leia o excerto abaixo e marque a opção correta. (1.0)
“Encostou a cabeça à mão com uma lassidão. Mil pensamentozinhos corriam-lhe no cérebro como os pontos de
luz que correm num papel que se queimou. [...] Fechou a janela, espreguiçou-se; e sentada na causeuse, no seu
depressa aquele cismar começou a quebrar-se a cada momento como uma tela que se esgarça em rasgões
largos, e, por trás, aparecia logo com uma intensidade luminosa e forte a ideia do primo Basílio." (O primo
Basílio, Eça de Queirós)
I - O emprego do diminutivo em "pensamentozinhos" revela, em tom sarcástico, que, por trás do pensamento
no marido, já se viam as segundas intenções de Luísa.
II - Os termos "lassidão", "espreguiçou-se" e "imobilidade" revelam a ociosidade a que em que Luísa vive.
III - O narrador procura ressaltar a ideia de que Luísa não é culpada, uma vez que, frequentemente, não apenas
pensa em Jorge como tem a intenção de pedir que venha vê-la.
IV - A ideia de que os pensamentos de Luísa são superficiais e passageiros são claramente revelados pelas
comparações feitas nesse excerto.
Está correto o que se afirma apenas em:
a) I e II
b) II, III e IV
c) I, III e IV
d) I, II e IV
e) II e III
Questão 9
Pode-se definir “metalinguagem” como a linguagem que comenta a própria linguagem, fenômeno
presente na literatura e nas artes em geral. O quadro “Van Gogh pintando girassóis”, de Paul Gauguin, é um
exemplo de metalinguagem porque:
Questão 10
(FUVEST-SP) A narração dos acontecimentos com que o leitor se defronta no romance Dom Casmurro,
de Machado de Assis, se faz em primeira pessoa, portanto, do ponto de vista da personagem Bentinho. Seria,
pois, correto dizer que ela se apresenta:
Questão 11
Canção do vento e da minha vida (Manuel Bandeira)O vento varria as folhas, O vento varria os
frutos, O vento varria as flores... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De frutos, de flores, de
folhas. [...] O vento varria os sonhos E varria as amizades... O vento varria as mulheres... E a minha vida
ficava Cada vez mais cheia De afetos e de mulheres. O vento varria os meses E varria os teus sorrisos... O
vento varria tudo! E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De tudo.
Na aula 3, você estudou sobre alguns dos recursos mais utilizados pelos poetas.Na estruturação desse texto,
Bandeira destacou:
Questão 12
Considere as seguintes afirmativas sobre Dom Casmurro, de Machado de Assis e, a seguir, marque a
alternativa que apresenta a ordem CORRETA conforme seja verdadeiro (V) ou falso (F).
I. O romance é narrado em terceira pessoa, e o narrador é um crítico mordaz dos acontecimentos. II. Tematiza a
traição - decorrência do pessimismo do autor, de sua visão descrente das relações humanas.
III. É um romance de visão sentimentalista do mundo, representando o exemplo máximo de prosa poética em
nossa literatura.
IV. O título se deve ao temperamento sisudo de Bentinho que, recolhido à sua casa, conta sua própria vida.
a) V, V, V, F
b) F, V, F, V
c) F, F, F, V
d) V, V, F, V
e) F, V, V, F
Questão 13
“ O POEMA QUE SE PERGUNTA SOBRE SI MESMO E, NESSE QUESTIONAMENTO, EXPÕE E DESNUDA A
FORMA COM QUE FEZ A PRÓPRIA PERGUNTA É UM POEMA MARCADO PELO SIGNO DA MODERNIDADE.
CONSTRÓI-SE CONTEMPLANDO ATIVAMENTE A SUA CONSTRUÇÃO.” (ABDALA JUNIOR; CAMPEDELLI, 2005, p. 42)
O EXCERTO ACIMA É UMA EXPLICAÇÃO SOBRE O QUE É
a) DENOTAÇÃO
b) METALINGUAGEM
c) ESCANSÃO
d) LITERARIEDADE
e) CONOTAÇÃO
Questão 14
(EU-Ponta Grossa) A ironia, apontada como uma das características marcantes da obra realista de
Machado de Assis, tem como fonte:
Questão 15
(CEFET-PR) Assinale a alternativa que melhor caracteriza o Realismo:
a) Preocupação em justificar, à luz da razão, as reações das personagens, seus procedimentos e os problemas
sentimentais e metafísicos apresentados.
b) A apresentação do homem como um ser dominado pelos instintos, taras, pela carga hereditária, em
detrimento da razão.
c) A preocupação em retratar a realidade como ela é, sem transformá-la. O autor, ao relatar, deverá estar
baseado na documentação e observação da realidade
d) amor é visto unicamente sob o aspecto da sexualidade e apresentado como uma mera satisfação de instintos
animais.
Questão 16
Nos trechos abaixo, de Dom Casmurro, de Machado de Assis, o narrador deixa de praticar a
metalinguagem em:
a) Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém, digamos os motivos que me põem
a pena na mão.
b) Tio Cosme vivia com minha mãe, desde que ela enviuvou. Já então era viúvo, como prima Justina; era a casa
dos três viúvos.
c) Releva-me estas metáforas; cheiram ao mar e à maré que deram morte ao meu amigo e comborço Escobar.
d) D. Sancha, peço-lhe que não leia este livro; ou, se o houver lido até aqui, abandone o resto.
e) Todos apresentam metalinguagem.
Questão 17
Motivo
Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa.Não sou alegre nem sou
triste:sou poeta.Irmão das coisas fugidias,não sinto gozo nem tormento.Atravesso noites e dias no vento.Se
desmorono ou se edifico,se permaneço ou me desfaço,— não sei, não sei. Não sei se ficou passo.Sei que canto.
E a canção é tudo.Tem sangue eterno a asa ritmada.E um dia sei que estarei mudo:— mais nada.
Cecília Meireles MEIRELES, C. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001.
O texto de Cecília Meireles:
Questão 18
LEIA AS AFIRMAÇÕES A SEGUIR:
I. Carnaval, de Bandeira, torna-se um livro marco do Modernismo graças a poemas como “Os sapos”, com o
qual conquista definitivamente a nova geração de São Paulo, que o declama na Semana de Arte Moderna,
ocorrida em fevereiro de 1922.
PORQUE
II. Bandeira adere, definitivamente, ao Modernismo, ao adotar o verso livre em “Sonho de uma terça-feira
gorda”, que fixa-se como um novo código diferente dos códigos parnasiano e simbolista. O pensamento que
passa a circular no Brasil da época está afinado com o que denominam valores estéticos de rompimento
defendidos pelas vanguardas internacionais.(FERREIRA JARDIM. Disponível em
revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/download/ Adaptado Acesso 16fev.2016).
MARQUE A OPÇÃO CORRETA.
Questão 19
Leia o poema abaixo de Ricardo Reis.
01. Quão breve a mais longa vida
02. E a juventude nela! Ah! Cloe, Cloe,
03. Se não amo, nem bebo,
04. Nem sem querer não penso,
05. Pesa-me a lei inimplorável, dói-me
06. A hora invita, o tempo que não cessa,
07. E aos ouvidos me sobe
08. Dos juncos o ruído
09. Na oculta margem onde os lírios frios
Questão 20
Assinale a alternativa incorreta em relação ao processo heteronímico de Fernando Pessoa: