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Vol.

26 – nº1
Janeiro | Fevereiro | Março | 2014

RELAÇÃO ENTRE POROSIDADE E


CORROSÃO PELO MÉTODO
BOTTOM SEAM POROSITY (BSP)
Daniela Mary Yamashita

Um dos problemas de grande relevância em uma embalagem metálica é a corrosão interna do material
metálico, seja ele fabricado com folha de flandres, folha cromada ou alumínio. O fenômeno da corrosão é
um processo eletroquímico que envolve a oxidação do material por interação com um ambiente que pode
ser reduzido. Em se tratando do interior de uma lata, o metal exposto ao produto acondicionado é oxidado,
perdendo elétrons que migram para a solução, reduzindo-a.
As características do alimento acondicionado podem interferir no processo de corrosão, inibindo ou
intensificando o fenômeno no interior da embalagem. Os alimentos e bebidas são sistemas bioquímicos
complexos pela presença de ácidos, oxigênio e pigmentos e seu pH e propriedades de tamponamento,
assim como a presença de ingredientes como sal, açúcar, condimentos e fosfatos, podem interferir na
qualidade e estabilidade do produto tanto durante o seu processamento, como durante o período de
estocagem até o consumo. Alimentos que possuem baixos valores de pH e presença de substâncias como
oxigênio, nitrato, compostos de enxofre, trietilaminas e antocianinas poderão acelerar o processo de
corrosão da lata (DANTAS, 1999).
Os alimentos podem ser classificados de diversas formas, como com relação à sua perecibilidade, ao pH e
acidez e quanto à agressividade. Com relação à interação lata-alimento, a classificação dos alimentos
quanto à sua agressividade é a mais adequada para elucidar melhor a questão. O conhecimento da
agressividade do alimento é um importante fator para definição do material de fabricação da lata, assim
como qual proteção será necessária para evitar interações entre o meio interno e o material metálico.
A acidez é o fator de grande importância para a agressividade do alimento à embalagem metálica. Seu
efeito não depende somente do pH do meio, mas também do tipo de ácido presente. Dois alimentos
distintos que possuem o mesmo valor de pH podem não ser igualmente corrosivos uma vez que o que irá
ditar a agressividade deles será a natureza do ácido orgânico presente (DANTAS, 1999).
Considerando a complexidade dos produtos naturais e a possível existência de uma mistura de diferentes
ácidos orgânicos e em concentrações variadas, a influência dos ácidos na questão da agressividade à lata
pode variar muito. Alguns exemplos de alimentos corrosivos, com diferentes graus de agressividade,
podem ser citados: sucos de frutas como maçã e uva, frutas em conserva como pêssego e frutas cítricas,
bebidas, bebidas carbonatadas e atomatados.
Pode-se considerar como alimentos não agressivos os produtos desidratados como o leite em pó e
achocolatados, por exemplo, e os óleos e gorduras pois eles não interagem com a embalagem metálica.

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A corrosão nos diferentes materiais metálicos utilizados para produção de latas para acondicionamento de
alimentos e bebidas acontece de forma distinta, devido aos metais presentes em cada uma delas. No caso
das folhas de flandres, diversas interações podem ocorrer entre o produto acondicionado e os diferentes
materiais constituintes da folha e ainda dos metais presentes na solda da costura lateral, podendo ocorrer
a formação de diferentes pilhas galvânicas, atuando o alimento ou a bebida como o eletrólito da reação de
corrosão. Em folhas cromadas o cromo metálico atua como barreira à corrosão e a camada de óxidos de
cromo impede a oxidação do cromo metálico e recobre suas descontinuidades. Ainda assim recomenda-se
que esse material seja usado com a presença do revestimento orgânico, pois é sabido que ele não possui
resistência à corrosão quando em contato com alimentos ácidos e, mesmo protegido por uma película de
verniz, não se recomenda que esse tipo de folha seja usada para acondicionar alimentos com essa
característica. Em se tratando de folhas de alumínio, o metal possui naturalmente a capacidade de se
proteger contra a corrosão pois em sua superfície é formada uma camada de óxidos de alumínio quando
em contato com o oxigênio do ar. Essa camada protetora é dissolvida quando entra em contato com meios
alcalinos ou fortemente ácidos, fazendo com que ocorra a corrosão do alumínio com alta evolução de
hidrogênio, causando o estufamento da lata. A produção de hidrogênio provocada pela corrosão do
alumínio é muito maior quando comparada com a corrosão da folha de flandres (DANTAS, 1999).
A presença do verniz nas latas protege ainda mais a superfície metálica, mas sua capacidade de proteger o
metal está diretamente relacionada à espessura da camada seca de verniz, à qualidade do envernizamento,
ao tipo de verniz utilizado, às características do produto acondicionado e à camada de passivação.
Normalmente a localização dos pontos de corrosão correspondem às áreas de falhas no verniz.
Existe também a corrosão chamada subpelicular, na qual ocorre o desestanhamento através da área de
contato metal/eletrólito. Como essa área de contato é pequena, o processo é lento, mas não deixa de ser
danoso à aparência da superfície interna da lata. A película de verniz permanece intacta mas perde a
aderência e há o aparecimento de coloração escura nestas regiões, a qual corresponde à exposição da
camada de liga FeSn2, mais passiva que o estanho e o ferro, impedindo a continuação do processo de
corrosão (DANTAS, 1999).
Outro tipo de corrosão encontrado é a corrosão por pite. Nesse fenômeno a corrosão desenvolve-se até o
aço base conduzindo, em casos extremos, à perfuração da lata. Ocorre na ausência de substâncias
complexantes do estanho ou pela presença de complexantes estáveis do ferro, onde mantém-se a ordem
teórica dos potenciais do par Sn/Fe, atuando o ferro como anodo da reação (DANTAS, 1999).
A porosidade existente em vernizes aplicados nas embalagens implica na exposição do metal ao produto
acondicionado, formando assim um ambiente propício para ocorrerem interações entre o substrato
metálico e o alimento ou bebida envasados, favorecendo a ocorrência dos fenômenos de corrosão.
O aparecimento das zonas onde não existe continuidade no verniz pode ter causa natural, como a
eliminação de solvente através da espessura de verniz, formando canais microscópicos, espessura
insuficiente da camada de verniz, baixa molhabilidade do verniz líquido na superfície metálica e qualidade
do processo de envernizamento. Podem também ser secundárias, nas quais as falhas no verniz são
causadas por danos ou defeitos na fabricação e manuseio da embalagem. A ocorrência da porosidade no
verniz na lata também é regida pelas características do alimento acondicionado. Determinados alimentos
podem exigir maior ou menor proteção, como citado anteriormente (DANTAS, 1996).
Os métodos mais utilizados para avaliação da porosidade de vernizes em embalagens metálicas são os
métodos químicos, os quais permitem a visualização direta das áreas metálicas expostas resultando em
uma estimativa suficientemente precisa para as necessidades industriais. O reagente usualmente utilizado
nos métodos químicos é o sulfato de cobre em meio ácido. Outras técnicas muito utilizadas são as
chamadas eletroquímicas, as quais oferecem resultados quantitativos da porosidade das latas. Os
resultados são expressos em corrente, podendo ser relacionados às áreas metálicas expostas, sendo úteis
nos testes de avaliação produto-embalagem (DANTAS, 1996).

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A experiência mostrou que as regiões próximas ao fundo e à tampa são mais solicitadas mecanicamente no
processo de fabricação da lata, principalmente na formação das recravações, tornando-as possivelmente
mais críticas quanto ao aparecimento de poros no verniz. Devido a esse fato, foi desenvolvido um método
de avaliação da exposição do material metálico pelo revestimento orgânico interno da embalagem
metálica, chamado de método Bottom Seam Porosity – BSP (HOLLAENDER, 1991), levando-se em
consideração somente a área da lata próxima à recravação do fundo/tampa e do fundo/tampa. Nesse
trabalho o autor observou uma boa correlação entre teor de ferro encontrado no produto e a porosidade
medida. Dessa forma, ficou estabelecido um parâmetro específico para caracterizar a resistência da lata a
interações da embalagem com o alimento/bebida contido.
A porosidade dos fundos e tampas é avaliada por método coulométrico, utilizando-se um sistema de
potenciostato/galvanostato. O método consiste na aplicação de um potencial através de um eletrodo de
calomelano, utilizado como referência, um contra eletrodo de grafite e, como eletrodo de trabalho, a
própria lata. Os eletrodos são mergulhados em uma solução de 1,5% de cloreto de sódio e 1% de ácido
acético, cobrindo a área da recravação do fundo ou das tampas até atingir 10 mm de altura. O potencial
aplicado deve ser ajustado para – 200 mV contra o eletrodo de referência durante 120 segundos. O cálculo
da área exposta é realizado aplicando-se um valor de densidade de corrente equivalente a 28,5 mA/cm2, de
acordo com a equação a seguir, devendo-se incluir também o valor de corrente obtido ao tempo final de
120 segundos. Desta forma, o resultado é expresso em área de metal exposto. O método recomenda que o
desvio padrão relativo (coeficiente de variação) deve estar na faixa entre 30-60% e que sejam testadas 20
latas por amostra.

A Tabela 1 apresenta os valores de porosidade obtidos no trabalho realizado por HOLLAENDER (1991) e as
faixas de valores típicos obtidos através do método BSP para latas de diferentes diâmetros. Os chamados
valores típicos representam um padrão da tecnologia de fabricação de latas.
TABELA 1. Faixas de porosidade obtidas no trabalho de HOLLAENDER (1991) e os valores típicos das latas
de diâmetro 73, 83 e 99 mm.
Porosidade BSP, em mm2
Diâmetro da lata, em mm
Faixa total obtida Valores típicos
73 0,09 – 7,3 0,1 – 1,2
83 0,07 – 17 0,1 – 2,4
99 0,04 – 9,0 0,1 – 3,2

Estão sendo levantados pelo laboratório de embalagens metálicas do CETEA dados de porosidade pelo
método BSP em latas encontradas no mercado brasileiro, a fim de se avaliar a resistência dos materiais
utilizados hoje pela indústria no acondicionamento de alimentos com diferentes características. Os
resultados serão divulgados no futuro próximo.

REFERÊNCIAS
DANTAS, S.T.; ANJOS, V. D. A. ; SEGANTINI, E.; GATTI. J.A.B. Avaliação da qualidade de embalagens
metálicas: aço e alumínio. Campinas: ITAL/CETEA, 1996. 317 p.
DANTAS, S.T.; ANJOS, V. D. A. ; GATTI, J.A.B.; SEGANTINI. E. Embalagens metálicas e a sua interação com
alimentos e bebidas. Campinas: ITAL/CETEA, 1999. 232 p.
HOLLAENDER. J. Assessment of can quality concerning interactions with canned food. In: INTERNATIONAL
CONGRESS ON CANNED FOODS, 10.. 1991. Paris. Proceedings... Paris: Comite International Permanent de
la Conserve, 1991.

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