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e Exercício Profissional
Autora: Profa. Lidiana Flora Vidôto da Costa
Colaboradoras: Profa. Raquel Machado Coutinho
Profa. Renata Guzzo
Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano
Professora conteudista: Lidiana Flora Vidôto da Costa
É professora titular da Universidade Paulista (UNIP) desde 2004, graduada em Enfermagem pela Pontifícia
Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP), em 1988, mestre em Enfermagem pela Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), em 2008, e doutora em Patologia Ambiental e Experimental pela Universidade Paulista (UNIP), em
2015. Ministra as disciplinas de Ética em Enfermagem e Exercício Profissional no curso de graduação em Enfermagem
da UNIP e de Aspectos Éticos, Filosóficos, Políticos e Legais em Saúde nos cursos de pós-graduação em Enfermagem
em Obstetrícia, Enfermagem em Urgência e Emergência e Enfermagem do Trabalho.
116 p., il
CDU 616-083
U502.21 – 19
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Giovanna Oliveira
Rose Castilho
Sumário
Ética em Enfermagem e Exercício Profissional
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8
Unidade I
1 ÉTICA PROFISSIONAL...................................................................................................................................... 13
1.1 Ética e Moral........................................................................................................................................... 13
1.2 Fundamentos da Ética......................................................................................................................... 16
1.2.1 Consciência................................................................................................................................................ 17
1.2.2 Valores.......................................................................................................................................................... 17
1.2.3 Autonomia e liberdade.......................................................................................................................... 19
1.2.4 Responsabilidade e verdade................................................................................................................ 20
1.2.5 Respeito e reciprocidade....................................................................................................................... 21
1.3 Responsabilidades ética e legal....................................................................................................... 22
1.3.1 Responsabilidade civil............................................................................................................................ 23
1.3.2 Responsabilidade penal......................................................................................................................... 27
1.3.3 Responsabilidade ética.......................................................................................................................... 31
2 ÉTICA PROFISSIONAL E AS PRINCIPAIS LEGISLAÇÕES...................................................................... 32
2.1 Conceitos.................................................................................................................................................. 32
2.1.1 Deontologia................................................................................................................................................ 32
2.1.2 Diceologia................................................................................................................................................... 33
2.1.3 Imprudência............................................................................................................................................... 33
2.1.4 Negligência................................................................................................................................................. 35
2.1.5 Imperícia...................................................................................................................................................... 36
2.2 Lei do Exercício Profissional.............................................................................................................. 37
2.3 Resoluções relevantes do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen)............................. 39
2.3.1 Resolução Cofen nº 390/2011............................................................................................................. 39
2.3.2 Resolução Cofen nº 389/2011............................................................................................................. 39
2.3.3 Resolução Cofen nº 388/2011............................................................................................................. 40
2.3.4 Resolução Cofen nº 381/2011............................................................................................................. 40
2.3.5 Resolução Cofen nº 376/2011............................................................................................................. 41
2.3.6 Resolução Cofen nº 516/2016............................................................................................................ 43
2.3.7 Resolução Cofen nº 487/2015............................................................................................................ 43
2.4 Código de Ética dos profissionais de enfermagem e os dilemas éticos.......................... 45
2.5 Entidades de classe e a Enfermagem............................................................................................ 49
2.5.1 Sindicatos.................................................................................................................................................... 50
2.5.2 Associações e sociedades de especialistas..................................................................................... 50
2.5.3 Conselhos de Enfermagem.................................................................................................................. 53
3 ÉTICA E PESQUISA EM SAÚDE..................................................................................................................... 55
4 LEGISLAÇÃO, DEONTOLOGIA E AS INTERFACES COM A ENFERMAGEM E O CLIENTE........... 61
4.1 Direitos do paciente............................................................................................................................. 61
Unidade II
5 ENFERMAGEM E BIOÉTICA........................................................................................................................... 65
5.1 Conceito e história................................................................................................................................ 65
5.2 Princípios da bioética.......................................................................................................................... 68
5.2.1 Justiça........................................................................................................................................................... 68
5.2.2 Autonomia.................................................................................................................................................. 69
5.2.3 Beneficência............................................................................................................................................... 71
5.2.4 Não maleficência..................................................................................................................................... 71
6 PRINCIPAIS DILEMAS ÉTICOS E AS INTERFACES COM A ENFERMAGEM................................... 72
6.1 Aborto........................................................................................................................................................ 73
6.1.1 Conceitos..................................................................................................................................................... 73
6.1.2 História do aborto................................................................................................................................... 73
6.1.3 A legalização do aborto no mundo e no Brasil........................................................................... 74
6.1.4 Aborto: prevalência no mundo, dilemas éticos e políticos..................................................... 76
6.1.5 O aborto, o enfermeiro e a ética profissional............................................................................... 78
6.2 Violência, discriminação étnica e social....................................................................................... 80
6.3 Transfusão sanguínea e as filosofias religiosas......................................................................... 83
6.4 Doação e transplante de órgãos..................................................................................................... 86
6.5 Bioética diante das questões da morte e do processo de morrer..................................... 89
6.5.1 Eutanásia..................................................................................................................................................... 89
6.5.2 Distanásia.................................................................................................................................................... 90
6.5.3 Ortotanásia................................................................................................................................................. 91
7 GENÉTICA E DILEMAS ÉTICOS..................................................................................................................... 93
7.1 Células-tronco de embriões.............................................................................................................. 93
7.2 Alimentos transgênicos...................................................................................................................... 94
8 DESCOBERTA DO MAPEAMENTO GENÉTICO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES ÉTICAS............. 95
8.1 Nanotecnologia...................................................................................................................................... 96
APRESENTAÇÃO
Ao final do curso, o aluno deverá ser capaz de construir significados a partir da abordagem dos
fundamentos da Ética, de caracterizar as responsabilidades profissionais, destacando a questão da
autonomia e dos dilemas éticos da profissão, e promover reflexões éticas sobre as questões de saúde
e da vida humana. Deverá, ainda, ser capaz de promover discussões sobre o Código de Ética dos
Profissionais de Enfermagem e sobre as tomadas de decisões éticas enquanto classe, no exercício
ético legal da profissão.
• conhecer as distinções entre Ética e Moral e os fundamentos da Ética, além de discutir seus
principais conceitos;
INTRODUÇÃO
Caro aluno, pode ser que, no decorrer do curso, as disciplinas técnicas-operativas sejam as que
mais atraiam sua atenção e, consequentemente, sua dedicação aos estudos. É importante saber como
atender a uma parada cardiorrespiratória, como administrar um medicamento, realizar uma sondagem
vesical ou um curativo. É sabido que esses interesses ocorrem à maioria dos alunos que passam pela
graduação do curso, porém, é sabido também que a prática de enfermagem inclui dois componentes
igualmente importantes: o técnico-operativo e o ético-moral (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007, p. 13).
Como futuro profissional, lembre-se sempre de que o enfermeiro não pode focar suas atividades
diárias apenas no fazer pelo fazer, ou idealizar as rotinas estabelecidas e as normas técnicas dos serviços
de saúde e educação.
No ensino da Enfermagem, a Ética faz parte do currículo, sendo uma disciplina com conteúdo que
deve permitir a criação de espaços para a reflexão, com a característica de fazer “parar para pensar”.
Seu objetivo é fazer o profissional raciocinar adequadamente bem para conduzir com competência,
comprometimento e responsabilidade sua profissão.
A Ética pode ser definida como saber que agrega e integra as várias disciplinas do currículo de
enfermagem, para que todos tenham uma linguagem comum, relacionada aos princípios éticos que
norteiam nossa profissão (FORTES, 1998, p. 32).
A prática assistencial e a Ética profissional caminham juntas, equilibrando-se, tendo como único
objetivo a relação intrínseca que existe entre a evolução e a qualidade dos processos de cuidar de
enfermagem e os aspectos de excelência técnico-científica e éticos-morais desses cuidados idealizados
e prestados.
O conhecimento do enfermeiro sobre a legislação acerca de sua profissão e das atividades que a
permeia, assim como das regras e das diretrizes, possibilita-lhe compreender e questionar os reflexos
de suas atividades, as consequências de suas ações, seus direitos e deveres, suas responsabilidades e,
inclusive, suas obrigações. Conhecer as resoluções dos órgãos representativos de sua profissão, como o
Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e o Conselho Regional de Enfermagem (Coren), implica estar
sempre atento às mudanças, às discussões e aos pensamentos da categoria.
Se, por um lado, temos as diretrizes dos conselhos, temos, por outro, as ciências e as técnicas
modernas, que produzem mudanças qualitativas no agir do homem.
Você pode se perguntar: de que forma? Vamos refletir: Não é maravilhoso pensar que genes
específicos para determinados tipos de câncer e drogas que, com modificações moleculares,
poderão agir especificamente nesse tipo de célula cancerígena, estão prestes a ser descobertos
e que, assim, o tratamento será muito mais eficiente do que os que existem atualmente? Qual o
ponto de vista dos cientistas? O que pensam os religiosos? Todos os pacientes portadores desse
tipo de câncer poderão pagar por este tratamento? E qual será o impacto desse tratamento
para a saúde pública? Será que alguns tipos de neoplasias malignas deixarão de ter taxas de
morbidade e mortalidade altas no planeta? Será que todos os países do planeta poderão oferecer
esse tratamento à população? Todos esses questionamentos deverão ser discutidos em uma esfera
ampla, pluralista, de acordo com os princípios da benevolência, da não maledicência, da autonomia
e da justiça, e é isso que denominamos “bioética”.
Outros temas importantes de bioética que valem a pena discutir são: o aborto, a violência, os transplantes
de órgãos, a discriminação racial e social, a eutanásia e tantos outros que trataremos neste livro.
9
Assim, como tudo na vida, as experiências e os novos conhecimentos fazem a evolução do ser
humano, e podemos afirmar que o mesmo ocorre na Enfermagem. Os avanços tecnológicos e científicos
contribuem constantemente para as mudanças de conduta no fazer e pensar das profissões, e a
Enfermagem está incluída nessa jornada de transformações.
A figura seguinte demonstra uma estudante de enfermagem atendendo uma criança na década de
1940. E hoje? Você se vê assim? O ambiente hospitalar mudou? E o uso de equipamentos de proteção
individual? Onde estão as luvas para que a enfermeira aplique a medicação? Será que as luvas para
procedimentos já existiam? O que fez com que mudanças ocorressem com o passar do tempo? A
resposta, como você pode imaginar, é: conhecimentos e tecnologia.
Agora resta pensar: devido ao fato de os conhecimentos dos mecanismos de transmissões de doenças
e das tecnologias estarem em constante evolução, tornou-se uma diretriz do trabalho da enfermagem o
uso das luvas para procedimentos. O mercado de artigos hospitalares dispõe desse material com opções
de tamanhos, contendo matéria-prima antialérgica, com luvas produzidas por diversas opções de
materiais, em látex e até mesmo em silicone, entalcadas ou sem talco, enfim, é a tecnologia atendendo
aos avanços da ciência.
Nesse simples exemplo, vale salientar que, além das diretrizes nacionais e internacionais voltadas
para as medidas de segurança ocupacional para evitar que os profissionais da saúde fiquem expostos
às doenças em seu ambiente de trabalho, existem as leis que asseguram essas diretrizes, exigindo, por
exemplo, que os empregadores forneçam os materiais necessários para o trabalhador.
Mas será que todos os profissionais de saúde, atualmente, utilizam essa tecnologia, esses
conhecimentos e os benefícios das diretrizes e das leis para a utilização das luvas para procedimentos,
como exemplificada, ou para qualquer outra conduta necessária para o atendimento do paciente,
ou para as relações com as equipes de trabalho, a família e a comunidade? Será que muitos
profissionais de enfermagem ainda adotam bases técnicas e procedimentos arraigados em épocas
primitivas do saber?
Com todas as melhorias e anteparos técnicos, científicos e legais criados com a evolução da
humanidade, há garantias de que todos os profissionais de enfermagem façam respeitar as condutas
desejadas para a assistência prestada? A resposta é simples: claro que não.
Muitas vezes, mesmo dispondo da tecnologia e da ciência a seu favor, alguns profissionais de
enfermagem se apropriam desses privilégios. Poderão faltar os insumos necessários para o trabalho,
o interesse pela atualização profissional e, principalmente e mais importante, a consciência das
consequências de suas decisões para as condutas adotadas.
Acredita-se que a conduta humana é muito complexa. O processo de conduta não é apenas racional,
pois dependerá de diversos fatores distintos para cada um. A consciência, as percepções, as crenças e
os valores, mesmo na presença da evolução do conhecimento e da tecnologia, poderão tramitar entre
a razão e a objeção.
10
Figura 1
Portanto, caro aluno, fazemos o convite para que você participe de alguns ensinamentos acerca
dessas temáticas, para que possamos exercitar o poder de ter uma mente livre, interessada pelos
conhecimentos e aprimoramentos, de modo a favorecer a compreensão e o discernimento para o
exercício profissional pleno.
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ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Unidade I
1 ÉTICA PROFISSIONAL
Desde a Antiguidade, os homens têm se preocupado com as questões éticas e morais, vinculadas
à natureza, à política, às regras de convivência social e ao comportamento humano. As concepções
sobre o ajuizamento ético têm evoluído ao longo da história da humanidade (OGUISSO, 2012, p. 45).
A situação histórica atual é bem diferente daquela da época de Aristóteles, Platão e Sócrates, na qual
o bem era a preservação da ordem natural, ou dos ensinamentos judaicos e cristãos, na qual o bem
equivalia à obediência às orientações divinas.
A Moral e a Ética não possuem um significado rígido e estático na história da Filosofia. A Moral
está associada aos costumes, regras, convenções e tabus estabelecidos pela sociedade. Já a Ética
está associada aos valores morais que dão orientação ao comportamento humano na sociedade
(BOFF, 2003, p. 2).
Esses dois termos possuem origens etimológicas distintas e, inicialmente, nos primórdios, Ética e
Moral tinham praticamente o mesmo significado, diferindo apenas na semântica.
A palavra “moral” é originária do termo latino “morales”, que significa “relativo aos costumes”, isto
é, aquilo que se consolidou como verdadeiro do ponto de vista da ação. A Moral pode ser definida como
o conjunto de regras aplicadas no cotidiano e que são utilizadas constantemente por cada cidadão. Tais
regras orientam cada indivíduo que vive na sociedade, norteando os seus julgamentos sobre o que é
certo ou errado, moral ou imoral, e as suas ações. A Moral é construída por uma sociedade com base nos
valores históricos e culturais.
Como exemplo, podemos dizer que, na sociedade em que vivemos hoje, quando avistamos casais de
namorados andando de mãos dadas pelas ruas, julgamos ser algo bonito, inspirador, terno, porém, em
outros tempos, nessa mesma sociedade, isso poderia ser considerado imoral. Portanto, a consciência e
os valores morais podem mudar com o tempo.
Quando falamos de Moral, podemos pensar em um outro exemplo. A Moral pode ser distinta
quando comparamos, em uma mesma época, dois ou mais grupos de pessoas que convivem. É comum
encontramos populações ou até mesmo grupos que possuem opiniões distintas sobre determinado
assunto ou comportamento social e costumes diferentes. Podemos dizer que o que são consideradas
atitudes e costumes “normais”, corriqueiros e cotidianos para uma população, podem ser “aberrações”
para outra. Um exemplo claro disso seria o costume do traje usado pela mulher em público. De acordo
com a interpretação dos talibãs do livro sagrado dos muçulmanos, o Alcorão, os homens e as mulheres
13
Unidade I
devem viver com modéstia e discrição máximas enquanto estiverem expostos em público. Portanto, o
uso da burca, uma peça do vestuário tradicional das mulheres muçulmanas, principalmente as afegãs,
caracterizada por cobrir todo o corpo, o cabelo e o rosto, começou a ser considerado obrigatório pelas
mulheres no Afeganistão entre 1995 e 2001 (período do regime do talibã).
Sabe-se que aproximadamente 60% das mulheres afegãs atualmente continuam utilizando a burca,
seja por tradição ou por medo de represálias dos pequenos núcleos de muçulmanos extremistas que
permanecem na região. Dessa forma, podemos dizer que essa população atribui preceitos morais a
esse costume e que caso uma mulher habituada a diferentes costumes para se vestir não use a burca,
provavelmente será vista como uma pessoa agindo de modo imoral.
E o contrário também pode acontecer. O costume de uma mulher afegã pode ser visto por uma
comunidade que não tem esse hábito como um ato que reduz a mulher à servidão e ameaça a sua
dignidade. Ou seja, sua vestimenta, assim, não seria vista como um sinal de religião, mas de subserviência.
Nesse caso, estão sendo questionados o princípio da laicidade e o da ponderação entre o direito à
liberdade religiosa e o direito à igualdade de gênero.
Assim, podemos concluir que um costume considerado moral, como um determinado “modelo ideal
de boa conduta socialmente estabelecida”, que reflete certa forma de vida, pode se alterar em um
período de tempo diferente ou diferir de uma população para outra.
Lembrete
A Filosofia foi a primeira a surgir, antes de se tratar da Ética propriamente dita, emergindo quando se
concluiu que a verdade do mundo e dos humanos não era algo secreto e misterioso, que precisasse ser
revelado por divindades a alguns escolhidos, mas que, ao contrário, podia ser conhecida por todos, através
da razão, que é a mesma em todos. Surgiu, dessa forma, quando se descobriu que tal conhecimento
depende do uso correto da razão ou do pensamento e que, além de a verdade poder ser conhecida por
todos, podia, pelo mesmo motivo, ser ensinada ou transmitida a todos (CHAUÍ, 2000, p. 20).
A Ética como teoria filosófica tem por objetivo estudar o comportamento dos indivíduos frente aos
apelos morais da sociedade em que estes vivem. Ela se manifesta de diferentes maneiras conforme a
14
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
cultura, costumes e hábitos de determinadas populações. Traduz, assim, a maneira de buscar a harmonia
entre todos os indivíduos, uma forma de conviver e viver com outras pessoas, de modo que cada um
buscasse seus interesses e todos ficassem satisfeitos.
Lembrete
Nesse sentido, pode-se considerar a Ética um tipo de postura que se refere a um modo de ser,
à natureza da ação humana. Trata-se de uma maneira de lidar com as situações da vida e do modo
como estabelecemos relações com outra pessoa. Quais são as nossas responsabilidades pessoais em uma
relação com o outro? Como lidamos com as outras pessoas em sociedade? Uma conduta Ética pode ser
um tipo de comportamento mediado por princípios e valores morais.
Assim, Ética é a parte da Filosofia que estuda a Moral, pois reflete e questiona as regras morais,
compreendendo que a Ética por si só não avalia se um ato é correto ou incorreto.
Contudo, apesar de esses conceitos serem distintos, existe uma estreita articulação entre si, na
medida em que a Ética tem como objeto de estudo a própria Moral. Embora a Ética e a Moral estejam
interligadas, são independentes (PEDRO, 2014).
Saiba mais
O filme a seguir, baseado em um dos mais famosos livros sobre a
Filosofia, é excelente para se entender questões filosóficas, Ética e Moral, e
pode propiciar uma inter-relação com o conteúdo sobre Ética e Moral:
O MUNDO de Sofia. Dir. Erik Gustavson. Noruega; Suécia: Audiovisuellt
Produksjonsfond, 1999. 113 minutos.
Leia também o texto a seguir:
PEDRO, A. P. Ética, moral, axiologia e valores: confusões e ambiguidades
em torno de um conceito comum. Kriterion, Belo Horizonte, v. 55, n. 130, p.
483-498, 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0100-512X2014000200002&lng=en&nrm=iso>. Acesso
em: 1 ago. 2016.
Quem pratica a Ética são sujeitos éticos, que devem ter liberdade de pensamento, sem serem coagidos
por forças internas ou externas para que os atos éticos sejam livres, voluntários e conscientes.
15
Unidade I
Hoje em dia, Ética tem se confundido com ideologia, política, entre outros conceitos, porém a
abordagem da Ética contemporânea difere da tradicional, pois origina-se de uma sociedade secular
e democrática, afastando-se das conotações das morais religiosas, e respira em preceitos pluralistas,
aceitando a diversidade de enfoques, posturas e valores.
Observação
Como já foi mencionado anteriormente, o homem é um ser social que aprende com suas experiências,
aprendizagem que exige tempo e maturidade.
A cultura significa todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a
Moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano. Ela muda com o tempo,
evoluindo continuamente e mudando a forma de pensar e agir em sociedade. Com isso, por exemplo,
assumem-se diferentes valores na forma de viver, relacionar-se, comer, vestir, comemorar.
E seguindo aqui a máxima de Aristóteles dita na Ética a Nicômaco e repetida em seu pensamento
sobre a Moral de forma geral: “somos o resultado de nossas escolhas”.
Portanto, a Ética possui elementos importantes nos quais se fundamenta e eles devem nos
estruturar como seres humanos, resultando, positivamente ou não, em nossas escolhas.
1.2.1 Consciência
Consciência é a capacidade de julgar o que é correto e o que não é, de acordo com valores morais,
de conhecimento e de sabedoria.
Sendo racionais, os seres humanos têm a capacidade de sentir a própria identidade, podendo
interpretar o presente, o futuro e o passado. Portanto, quanto maior o conhecimento, a paciência para
compreender a situação, melhor será o julgamento entre o correto e o não correto, o que deve e não
deve ser feito, e as consequências dos próprios atos.
A pessoa que possui consciência e vontade pode compreender o que se passa ao redor melhor do
que aquela que não as possui. Portanto, o conhecimento, a experiência e a reflexão fazem com que o
indivíduo desenvolva em seu percurso, na vida, consciência de seus próprios atos.
Porém, viver em sociedade representa as relações do homem com o mundo e com outros homens,
primordiais para a evolução. Ele não evolui sozinho, não constrói sua identidade sem essas experiências,
seja com o outro ou com o mundo.
Observação
1.2.2 Valores
Os valores são fundamentais para a formação da conduta moral e da Ética na vida do ser humano,
pois os atribuímos aos objetos (naturais ou não naturais), aos sentimentos e às emoções, uma vez que o
agir humano é uma forma de expressar valores.
17
Unidade I
A manifestação de uma pessoa ou de um grupo dependerá dos valores atribuídos por eles mesmos,
e, dessa forma, a manifestação dependerá de um juízo de valor. Exemplo: note a diferença entre as duas
descrições a seguir:
• “O paciente tem um bom preparo físico”, por outro lado, é um juízo de valor, pois as características
físicas “baixo e musculoso” foram avaliadas como sendo próprias de pessoas consideradas “com
bom preparo físico”.
Portanto, a tomada de decisão estará embasada nos valores éticos agregados, que poderão diferir de
pessoa para pessoa, de comunidades para comunidades, de populações para populações, entre outros.
Essas atitudes estão ligadas a valores que orientam e justificam tais comportamentos. Um valor é uma
experiência transmitida ou vivida que elegemos para dar sentido à nossa vida cotidiana.
Esse valor é considerado uma referência justa, verdadeira e, portanto, necessária. Como os valores
são constantes, orientam nossa conduta – valor moral – pela vida inteira. E é pelo valor ético que nossa
vontade é controlada, independentemente da presença do outro (TRANCOSCO, 2013).
Lembrete
Exemplo de aplicação
Para refletir: o enfermeiro possui valores agregados em sua vida desde sua infância. Com as
experiências e conhecimentos adquiridos em sua formação acadêmica e posteriormente profissional,
amplia, muda e concebe novos e importantes valores profissionais e éticos. Pensando nisso, reflita:
18
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Autonomia é um termo de origem grega cujo significado está relacionado com independência,
liberdade ou autossuficiência. O antônimo de autonomia é heteronomia, palavra que indica
dependência, submissão.
Liberdade significa o direito de agir segundo o seu livre-arbítrio, de acordo com a própria vontade
(desde que não se prejudique outra pessoa), é a sensação de estar livre e não depender de ninguém.
Pensando em autonomia como o direito de governar-se pelas próprias regras, de forma independente,
deve-se aceitar que sua ação, de responsabilidade própria, deve também reportar-se à comunidade
(OGUISSO; SCHIMIDT, 2007 p. 35).
Observação
19
Unidade I
Saiba mais
CRASH: no limite. Dir. Paul Haggis. Alemanha; EUA: Bob Yari Productions,
2004. 112 minutos.
Verdade significa aquilo que está intimamente ligado a tudo o que é sincero, que é verdadeiro, é a
ausência da mentira, é a afirmação do que é correto, do que é seguramente o certo e está dentro da
realidade documentada e vivida. O que é verdade? Verdade é aquilo em que você acredita.
O valor da verdade é que, a partir de nossas interpretações sobre os fatos, a forma como pensamos
se incorpora em nossas estruturas sociais e individuais, transformando vidas. A verdade tem valor
significativo no dia a dia, nas políticas de saúde, de educação, economia, religiosidade, entre tantos
outros seguimentos.
As verdades surgem quando vamos interpretar os fatos da vida cotidiana. Então alguém vai dizer:
“A enfermeira não administrou o medicamento corretamente, merece ser processada”. Outro vai dizer:
“O que leva o enfermeiro a fazer isso: falta de recursos ou jornada dupla de trabalho para sustentar os
filhos e ganhar tão pouco?”. Veja, são interpretações diferentes do mesmo fato, o que nos leva a afirmar
que essas pessoas têm valores diferentes, e, portanto, suas verdades são distintas.
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ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
As verdades que advêm de múltiplas experiências têm grande valor, e, com base nessa compreensão,
o homem deve tornar-se responsável por aquilo que escolhe ao criar algo em torno de si (OGUISSO;
SCHIMIDT, 2007, p.37). Ser responsável significa assumir a própria vida, jamais justificar seus erros, muito
menos atribuindo a culpa às circunstâncias ou a qualquer outra pessoa, pois nada que não tenhamos
permitido nos acontece, consciente ou inconscientemente.
Respeito significa consideração, deferência, apreço e reverência. O respeito é um dos valores mais
importantes da convivência entre os seres humanos, e tem grande importância na interação social.
Pensando nas inter-relações da enfermagem, sabemos que o respeito deve ser reverenciado nas ações
diárias, tanto nos relacionamentos multidisciplinares, como no atendimento prestado ao paciente e
na atenção às normas, diretrizes e legislações da profissão. O respeito impede que uma pessoa tenha
atitudes reprováveis em relação à outra.
O enfermeiro deve falar sobre um tema com respeito (como diferentes religiões, crenças e condutas)
e falar de forma ponderada e sensível. Respeitar envolve ouvir o que o outro tem a dizer, buscando
interpretar o que ouvimos, ter compaixão, ser tolerante, honesto e atencioso; é entender a necessidade
do autoconhecimento para poder respeitar a si próprio e, então, respeitar o outro.
A reciprocidade, por sua vez, significa correspondência mútua, recíproca e está intimamente
relacionada ao respeito.
Veja, se o enfermeiro agir com respeito, favorecerá a reciprocidade. É fácil entender. Quando
demonstramos respeito por alguém, por uma situação vivenciada, pela instituição em que trabalhamos,
ocorre a reciprocidade, ou seja, a credibilidade de que nossas ações são dignas de confiança e de respeito.
O contrário também ocorre. Agir com desrespeito resultará na reciprocidade, ou seja, trará àquele
que age assim a imagem de ser um profissional com atitudes não confiáveis perante os olhos do próximo
(paciente, equipe, comunidade) e, logo, indigno de respeito.
Exemplo de aplicação
• Como atuar no novo cenário em que coisas que fazíamos tão bem precisam ser reaprendidas?
21
Unidade I
A palavra responsabilidade tem origem nas palavras latinas: repondere e responsus e significa
responder ou ser responsável.
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ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Na linguagem jurídica, responsabilidade significa violação do direito, o que obriga ao dever da reparação,
com admissão das consequências que o dano cause, conduzindo a uma ordem jurídica na sociedade.
Como enfermeiros, precisamos conhecer e compreender esses conceitos para que a tomada de
decisão tenha não somente o respaldo técnico-científico, mas também a inferência das normas, das
diretrizes e das legislações vigentes.
Observação
No caso de o enfermeiro ou de qualquer membro da equipe de
enfermagem ser responsável por algum dano, seja de ordem física
ou psíquica, a alguém, decorrente das práticas de seu exercício
profissional, poderá responder perante a responsabilidade civil, penal
e ética, distintamente.
A responsabilidade civil parte do posicionamento de que todo aquele que violar um dever jurídico
através de um ato lícito ou ilícito tem o dever de reparar o dano, pois todos temos um dever jurídico
originário: o de não causar danos a outrem. Ao violar esse dever jurídico originário, passamos a ter um
dever jurídico sucessivo, o de reparar o dano que foi causado (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 2).
Chama-se direito civil o ramo do direito que trata do conjunto de normas reguladoras dos direitos
e obrigações de ordem privada concernente às pessoas, aos seus direitos, obrigações, bens e relações
enquanto membros da sociedade.
Em outros tempos, como na época medieval, a resposta a um descumprimento das regras estabelecidas,
mesmo que causado por uma única pessoa, resolvia-se através da vingança coletiva, como as guerras
entre reinos, e com a morte de inúmeros inocentes.
Saiba mais
O filme a seguir pode propiciar uma inter-relação com o conteúdo
sobre a responsabilidade civil reparada por meio de uma guerra. Trata-se
de Troia, filme épico de guerra baseado na Ilíada, célebre poema do autor
grego Homero sobre a guerra de Troia.
TROIA. Dir. Wolfgang Petersen. EUA; Malta; Reino Unido: Warner Bros.,
2004. 163 minutos.
23
Unidade I
Sabe-se também que o homem, em outros tempos, já tratou das reparações dos danos por meio de
sistemas de penas pelos quais o autor de um delito devia sofrer castigo igual ao dano por ele causado.
Eram os tempos daquela que ficou conhecida como a Lei de Talião.
A existência da Lei de Talião foi descoberta por meio do Código de Hamurabi, conjunto de leis
escritas escritas em 1780 a.C., no reino da Babilônia.
Observação
O sistema legislativo que tem como base a Lei de Talião serviu de modelo por séculos, vigorando em
muitas legislações remotas, predominante e comumente na Idade Média.
A Lei de Talião era interpretada não só como um direito, mas até como uma exigência social de
vingança em favor da honra pessoal, familiar ou tribal. A expressão: “olho por olho, dente por dente”
fora vivenciada em quase todas as leis das diversas nações, embora vista por nossos olhos atualmente
como absurda e até passível de causar indignação.
Contudo, temos que ter em mente que se tratava de outra época, em que o homem era
“bárbaro”, tinha pouca ou nenhuma consciência do que era o respeito ao seu semelhante, e
que só era contido pelo medo dos castigos, tão ou mais cruéis do que o ato passível de punição
(MARQUES, 2000). Entre as penas estabelecidas pelo modelo de Lei de Talião, podem-se citar: a
morte, a mutilação através do corte de membros, o tormento, a prisão, o açoite e a multa. Os
crimes sexuais praticados por homens, por exemplo, poderiam ser condenados à castração ou à
amputação do pênis.
Lembrete
24
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
A reparação natural ou específica consiste em reparar o dano causado por meio da indenização de
forma integrável, ou seja, se quebrar um vaso alheio, o responsável comprará outro igual para fazer a
reposição, ou de forma monetária, que possibilitará ao prejudicado adquirir o mesmo vaso.
Por exemplo, imagine um enfermeiro que verifica que o paciente está com uma prótese dentária
que precisa ser retirada para a realização de um exame. O enfermeiro se descuida e perde a prótese do
paciente. Ele, então, de acordo com o Código Civil, irá ressarcir o paciente, para que seja providenciada
nova prótese.
Porém, existem danos que são irreparáveis da forma natural, e a indenização, nesses casos, é feita por
meio de um novo “estado”, o que mais se aproximar do anterior. Ocorre então a reparação denominada
“pecuniária” ou por equivalência, ou seja, um valor monetário é atribuído aos danos de modo que
permita, de forma justa, reparar o dano. Esse preço não é pensado para amenizar a dor, mas para ser
um meio de atenuar as consequências da lesão, pois se sabe que não há equivalência para a dor sofrida
com certos danos.
Exemplo de aplicação
Antes de responder, reflita: trata-se apenas da invalidez? Como podemos reparar os danos
referentes aos seus sentimentos sobre a mudança dos hábitos e da rotina à qual ele tentará se adaptar?
Como reparar o tempo que levará para o paciente se reabilitar e a perda de um membro funcional?
As atividades profissionais exercidas pelo paciente antes do dano continuarão sendo realizadas? Ele
perderá o emprego? E a ansiedade e o medo do enfrentamento dessa nova situação? Como ficará o
deslocamento do paciente para as atividades da vida diária? Como ele enfrentará a sociedade? Poderá
25
Unidade I
tornar-se improdutivo? Terá depressão? Como cuidará de sua família? Ele possui carteira profissional e
é registrado no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), órgão federal pertencente ao Ministério da
Previdência Social, para receber os seus benefícios?
Para ser obrigada a reparar um dano, a pessoa deve ser juridicamente capaz de fazê-lo. De acordo com
o artigo 5º do Código Civil Brasileiro (BRASIL, 2002), são considerados civilmente incapazes indivíduos
menores de 16 anos, e aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tenham necessário
discernimento para a prática desses atos e aqueles que, mesmo por causa transitória, não possam
exprimir sua vontade. Essa incapacidade cessa para os menores por:
• casamento;
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-
lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
[...]
[...]
Art. 951: O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de
indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional,
por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente,
agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho
(BRASIL, 2002).
26
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Como exemplo, o enfermeiro responsável pelo dano físico ou outro ao paciente, de acordo com
o Código Civil, poderá arcar com as despesas do novo tratamento, indenizando o cliente, inclusive
referente aos lucros cessantes, até o fim de sua convalescença. Se houver danos permanentes, poderá,
além disso, ser condenado ao pagamento de pensão vitalícia ao paciente, e decorrendo morte, arcar
com as despesas do funeral, bem como com pensão aos dependentes do falecido (OGUISSO, 2012).
O fato de o enfermeiro ser responsabilizado na esfera civil não afasta a possibilidade de se ver
responsabilizado também na esfera penal e na ético-administrativa (no âmbito do Conselho Federal
de Enfermagem). Deduz-se, portanto, que a responsabilização do enfermeiro pode vir nas três esferas
anteriormente mencionadas, pois são independentes entre si, conforme a legislação vigente.
Saiba mais
Leia os textos a seguir:
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
Brasília, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 15 jul. 2016.
CAVALIERI FILHO, S. Programa de Responsabilidade Civil. 10. ed. São
Paulo: Atlas, 2012.
MARQUES, A. A Lei de Talião ainda sobrevive para o autor do crime
de estupro. 2000. Disponível em: <http://www.soleis.com.br/artigos_taliao.
pdf>. Acesso em: 20 jun. 2016.
RAMOS, V. Responsabilidade civil no direito brasileiro: pressupostos
e espécies. 2014. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/
exibir/8754/Responsabilidade-civil-no-Direito-brasileiro-pressupostos-e-
especies>. Acesso em: 20 jun. 2016.
O profissional de enfermagem pode ser chamado a responder na esfera penal se for responsável
por danos, lesões físicas ou maus-tratos causados a outras pessoas direta ou indiretamente, mesmo
que sem intenção.
A responsabilidade penal significa a obrigação ou o direito de responder perante a lei por um fato
cometido, fato este considerado pela lei vigente como um crime ou uma contravenção, ou seja, é um
atributo jurídico.
Para ser responsável penalmente por um determinado delito, são necessárias três condições básicas:
ter efetivamente praticado o delito à época do fato, ter tido entendimento do caráter criminoso da ação
e ter sido livre para escolher entre praticá-lo ou não (BRASIL, 1940).
27
Unidade I
Alguns pontos relevantes do Código Penal brasileiro aos quais devemos atentar no exercício
profissional de enfermagem são a coautoria e a falsidade ideológica, por serem infrações que o
enfermeiro pode estar arriscado a cometer em seu dia a dia.
Art. 29 – Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas
a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
O enfermeiro, como líder de equipe, responde tecnicamente pela equipe e, portanto, se algum técnico
de enfermagem cometer qualquer erro, o enfermeiro será corresponsável pelo ato.
O técnico de enfermagem, por exemplo, poderá alegar que cometeu o delito por nunca ter sido
orientado na instituição sobre esse procedimento. Embora seja obrigação do profissional conhecer e
realizar suas atividades fundamentando-se nas normas técnico-científicas, o juiz poderá interpretar
que a ausência de capacitações e de treinamentos durante o período em que o técnico exerceu suas
atividades na instituição facilitou a ocorrência, e como responsável técnico, o enfermeiro poderá
responder o processo como coautor.
De acordo com a Lei do Exercício Profissional (Lei n° 7.498, de 25 de junho de 1986), ficam claras as
funções privativas do enfermeiro:
I – privativamente:
28
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Outros exemplos caberiam também, como delegar uma atividade que envolva tecnologia nova
sem preparo ou capacitação prévia da equipe para o uso do novo equipamento. Nesse caso, se algum
integrante da equipe de enfermagem realizar um procedimento com o equipamento em questão que
cause algum dano ao paciente por uso inadequado, o enfermeiro será considerado coautor.
Portanto, fica clara a participação indireta do enfermeiro como líder de equipe e responsável por ela,
sendo vulnerável, no caso, a cometer esse tipo de crime.
Embora seja esperado que essas ações sejam inerentes no trabalho do enfermeiro, vale a pena
ressaltar que essas três ações distintas permitirão que o enfermeiro trabalhe com segurança legal,
quando pensamos na defesa de algum eventual processo envolvendo crime de coautoria.
Outro tipo de crime previsto no Código Penal brasileiro é a falsidade ideológica. É importante
falarmos a respeito, visto que o enfermeiro, no cotidiano de sua profissão, deve ficar atento, pois poderá
facilmente cometê-lo, tanto por indução quanto por coerção.
29
Unidade I
Exemplo de aplicação
Será que a falta de tempo, a pressa e as demandas de pacientes de alta complexidade com
dimensionamento de pessoal inadequado, ou até mesmo as superpopulações despejadas nas enfermarias
e nos prontos-socorros, ultrapassando a capacidade prevista de atendimento, não expõem a qualidade
do atendimento, podendo levar à falta de registros ou até mesmo a registros incompletos?
Outro tema importante previsto no Código Penal brasileiro são os maus-tratos que o enfermeiro
ou algum membro da equipe de enfermagem possa cometer ao deixar de assistir as necessidades do
paciente sob sua responsabilidade, tratando-se especificamente do caso de negligenciar o cuidado.
Verifique que a lei é abrangente, pois considera maus-tratos não apenas a privação da condição física
do cuidado, mas também a privação da educação, guarda ou vigilância ao paciente e à família.
Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade,
guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou
custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis
(BRASIL, 1940).
Observação
30
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Observação
Somente o ser humano é constituído como ser ético, por causa do uso da razão, capacidade,
liberdade e consciência de seus próprios atos, envolvendo a si mesmo, o outro e a sociedade de acordo
com a interiorização das convicções pessoais. Assim, cada indivíduo possui sua própria Ética (OGUISSO;
SCHIMIDT, 2007, p. 45).
Figura 3 – He that Entereth not by the Door, Udo Keppler (Áustria, 1838-1894), ilustração, 1898
31
Unidade I
2.1 Conceitos
Portanto, é fundamental que a formação do enfermeiro seja desenvolvida por meio de competências
e habilidades, necessitando, assim, de experiências e oportunidades do ensino-aprendizagem que vão
além do cognitivo. Por meio da formação por competências, espera-se que o futuro profissional seja
capaz de articular diversos conhecimentos na solução de problemas do cotidiano, relacionando cultura,
sociedade, saúde, Ética e educação, garantindo capacitação de profissionais com autonomia para
assegurar a integralidade da assistência prestada (BARBOSA; FERNANDES; RIGITANO, 2004).
Saiba mais
2.1.1 Deontologia
Deontologia é uma filosofia que faz parte da filosofia moral contemporânea, que significa ciência
do dever e da obrigação.
A deontologia é um tratado dos deveres e da Moral. É uma teoria sobre as escolhas dos indivíduos, o
que é moralmente necessário e serve para nortear o que realmente deve ser feito.
Além disso, a deontologia também pode ser o conjunto de princípios e regras de conduta ou deveres
de uma determinada profissão, ou seja, cada profissional deve ter a sua deontologia própria para regular
o exercício da profissão, lembrando que ela deve estar de acordo com o Código de Ética de sua categoria.
32
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Observação
2.1.2 Diceologia
O termo disceologia ou diceologia (do grego dikaio + logía) está relacionado, portanto, aos estudos
dos direitos profissionais.
É importante conhecermos essas terminologias, para que vários conceitos de nossa área possam ser
melhor compreendidos.
2.1.3 Imprudência
Segundo o Dicionário Online de Português (2016a), o termo “imprudência” significa “sem prudência;
ausência de cautela”. Dirigir bêbado, por exemplo, é uma imprudência.
Além disso, a imprudência também compreende “comportamento, ação ou discurso da pessoa imprudente;
particularidade ou característica de imprudente” (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2016a).
Sob o aspecto jurídico, imprudência significa “ação irresponsável; falta de observação daquilo que
poderia evitar um mal” (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2016a).
Na enfermagem, podemos usar o termo imprudência quando realizamos algum ato com afoiteza,
sem considerar as regras, as normas técnicas e deontológicas.
O caso a seguir, retirado de um trecho de uma sentença divulgada no jornal Carta Forense, em 10 de
dezembro de 2002, é um exemplo de imprudência que pode ocorrer na enfermagem.
[...]
Em julho de 2009, os pais levaram a filha de um ano para realizar uma cirurgia de
gastrostomia. No procedimento cirúrgico, seria criado um orifício artificial externo ao
estômago da menina para auxiliar na alimentação e suporte nutricional. Os autores da
ação narraram que a bebê também apresentava início de pneumonia, de forma que foram
orientados a realizar, também, uma traqueostomia no Hospital Círculo Operário Caxiense,
em Caxias do Sul.
A medida era para facilitar a respiração da menor que sofria de uma síndrome. A
cirurgia durou cerca de uma hora. Na troca de plantão, no turno da noite, a enfermeira que
ingressou insistiu em dar banho na criança, mesmo advertida pela mãe sobre as orientações
do médico de não realizá-lo. Após o banho, o cordão da traqueostomia da paciente ficou
solto e a técnica de enfermagem, achando que resolveria sozinha, constatou que a criança
estava cianótica. Buscou, então, ajuda com a médica plantonista e outra enfermeira, que
tentaram reverter o quadro, mas a menina teve uma parada cardíaca, que a levou à morte,
devido ao deslocamento da cânula.
No caso anterior, podemos perceber que, ao agir com afoiteza, sem questionar o que deveria ser
realizado, a técnica de enfermagem tomou a frente e realizou cuidados que, mesmo sem intenção de
prejudicar a criança, acabaram levando a assistência prestada a um resultado desastroso.
34
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Saiba mais
2.1.4 Negligência
A negligência pode ser definida como inércia psíquica, a indiferença do agente que, podendo tomar
as devidas cautelas exigíveis, não o faz por displicência ou preguiça mental (DICIONÁRIO ONLINE DE
PORTUGUÊS, 2016b).
Outro exemplo, com consequência mais grave, seria identificar que o paciente está com sinais e
sintomas de choque hemorrágico e ignorar uma conduta, levando o paciente a óbito, para o qual
responderá nas esferas civil, penal e ética.
35
Unidade I
É importante que o enfermeiro esteja sempre atento para o desempenho de suas funções/
atribuições, exercendo sua profissão com domínio técnico e científico, sendo pró-ativo, interessado
e compromissado com a equipe e com os pacientes.
2.1.5 Imperícia
Seria importante ressaltar que a falta de atualização por parte do profissional de enfermagem pode
fazer com que ele faça procedimentos errados e cause danos ao paciente, o que é considerado imperícia.
O que em um determinado momento pode ser considerado um procedimento adequado, pode passar a
não sê-lo mais com a evolução da tecnologia e do conhecimento científico. Descobertas trarão novas
recomendações e diretrizes, das quais o profissional tem a responsabilidade de se informar, aprimorando-
se por meio da capacitação e atualização científica.
Um exemplo pode ser visto na figura a seguir: a enfermeira aparece oferecendo ao recém-nascido
uma mamadeira com leite. Atualmente, essa imagem já não condiz com as diretrizes de saúde mundial
em relação ao cuidado com o recém-nascido, pois preconiza-se o aleitamento materno exclusivo e
abomina-se o uso de bicos e intermediários.
Um profissional de enfermagem que tenha recebido essas informações em sua graduação e depois
não se atualize, visto que a tecnologia e os conhecimentos avançam dia a dia, poderá estar cometendo
imperícia ao oferecer como primeira escolha a mamadeira ao recém-nascido.
Figura 4
36
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Saiba mais
Mas o que isso significa para os profissionais da enfermagem, principalmente para o enfermeiro?
Trata-se da lei mais importante de nossa categoria profissional, a Lei do Exercício Profissional (Lei nº
7.498/1986), que regulamenta o exercício da Enfermagem, reconhecendo o diploma do enfermeiro em
todo o território nacional.
Para o enfermeiro, essa lei define e assegura especificamente suas atividades, inclusive considerando
algumas privativas, ou seja, atividades que só podem ser exercidas pelo enfermeiro, garantindo e
assegurando seu diploma e estabelecendo a finalidade de seu trabalho.
I – privativamente:
37
Unidade I
[...]
i) consulta de Enfermagem;
Além disso, a Lei do Exercício Profissional define também as atividades que o enfermeiro deverá
exercer perante a equipe de saúde, estabelecendo que lhe cabe:
[...]
é preciso continuar conquistando e discutindo nossa profissão para podermos fortalecer cada vez
mais o que já foi conquistado.
Não será a lei que vai trazer, por si só, pela chamada “força da lei”, a
conquista das nossas aspirações e reivindicações. Poderemos ter leis mais
ou menos avançadas, porém, elas não substituem a nossa força concreta,
resultado do nosso grau de organização, no contexto da sociedade. Esse
entendimento é fundamental para orientar a nossa análise e considerações
sobre a legislação de enfermagem (LORENZETTI, 1987).
As resoluções são atos administrativos normativos que partem de autoridades superiores e não
podem diferir ou modificar os regulamentos e os regimentos da legislação, mas explicá-los.
Dessa forma, a seguir incluiremos alguns exemplos de resoluções importantes no exercício profissional
do enfermeiro, e procurar tornar clara a relevância dessas normas.
Essa resolução normatiza a execução pelo enfermeiro da punção arterial tanto para fins de
gasometria como para monitorização de pressão arterial invasiva, considerando a punção arterial para
fins de gasometria e monitorização de pressão arterial invasiva como um procedimento complexo, que
demanda competência técnica e científica em sua execução.
Saiba mais
Saiba mais
Normatiza a execução, pelo enfermeiro, do acesso venoso, via cateterismo umbilical, considerando o
acesso venoso, via cateterismo umbilical, como um procedimento complexo, que demanda competência
técnica e científica em sua execução.
Saiba mais
Normatiza a execução, pelo enfermeiro, da coleta de material para colpocitologia oncótica pelo
método de Papanicolau, considerando:
40
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
[...]
Saiba mais
Saiba mais
42
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Saiba mais
[...]
43
Unidade I
Essa resolução normatiza e ampara uma situação corriqueira que o profissional de enfermagem
vivencia em seu dia a dia, principalmente no âmbito hospitalar. Não é incomum identificar que o
paciente está com dor. Nesse caso, o profissional de enfermagem poderá medicá-lo, para tratar
este sintoma e amenizar o sofrimento do paciente. Porém, o enfermeiro, ou outro profissional
de enfermagem habilitado somente poderá administrar esta medicação caso esteja prevista e
prescrita pelo médico.
Imagine, por exemplo, que, ao verificar que o analgésico não está prescrito, o enfermeiro entra em
contato telefônico com o médico responsável pelo paciente. O médico, ao perceber que se esqueceu de
planejar o analgésico para o paciente, solicita que o enfermeiro administre a droga ao paciente. Como
o enfermeiro deverá proceder?
É importante entender que essa situação é conflitante, pois o enfermeiro tem, entre outras funções, a
de avaliar a dor do paciente, intervir e avaliar a sua intervenção. Isso porque a Resolução 487/2015 deixa
clara a inviabilidade de medicar um paciente por outras vias que não a escrita e assinada pelo médico,
salvo os protocolos firmados nos estabelecimentos de saúde privados e nas secretarias municipais de
saúde. Essa resolução assegura o exercício profissional e a segurança do paciente, evitando a ocorrência
de eventuais erros técnicos, que, por ventura, possam ser negados pelo médico.
É importante esclarecer que o enfermeiro poderá prescrever determinadas drogas, desde que estejam
protocoladas nas instituições de saúde.
Assim, com o art. 4º da RDC n° 20/2011, fica claro que a prescrição medicamentosa é de
atribuição de todo e qualquer profissional regularmente habilitado, não se tratando, portanto,
de ato exclusivamente médico. Através dessa Resolução da Anvisa, ficou estabelecido o que a
legislação federal já previa: que o enfermeiro realiza prescrições de medicamentos pertencentes
ao programa de saúde pública, tendo em vista também a relação de medicamentos certos e
previstos no programa ou rotina da instituição.
protocolos de saúde pública ou rotinas aprovadas pela instituição de saúde, por exemplo, Ministério da
Saúde, secretarias municipais e estaduais de saúde.
Nessa ordem de ideias, todo e qualquer cidadão que tenha sido atendido por enfermeiro em
algum programa de saúde e esteja portando um receituário com pedido de medicamentos que
prescreva antimicrobianos não pode ter negada a venda ou entrega do medicamento, pois a nova
Resolução 20/2011 da Anvisa está em plena conformidade com o estatuído no artigo 11, II, “c”
da Lei 7.498/86.
Saiba mais
O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem reúne normas e princípios, direitos e deveres
pertinentes à conduta ética do profissional, que deverá ser assumida por todos, e levar em consideração,
prioritariamente, a necessidade e o direito da assistência de enfermagem à população, os interesses do
profissional e da sua organização.
O Código está centrado na clientela e pressupõe que os agentes de trabalho de enfermagem estejam
aliados aos usuários na luta por uma assistência de qualidade, sem riscos, e acessível a toda a população:
O Cepe foi atualizado em 2007 e encontra-se descrito na Resolução 311/2017 do Cofen. Ele é um
documento de fundamental importância por tratar das diretrizes éticas do exercício profissional da
enfermagem e nele encontram-se 132 artigos distribuídos em sete capítulos, que podem ainda aparecer
subdivididos em seções.
• Capítulo I: trata das relações profissionais e contempla quatro sessões, concentrando a maioria
dos artigos (80, dos 132).
46
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
DIREITOS
[...]
RESPONSABILIDADES E DEVERES
[...]
PROIBIÇÕES
Podemos observar que o mesmo padrão de construção encontra-se presente nas demais sessões e
capítulos do código, e que os artigos aparecem em ordem numérica, sequencial, independente do capítulo.
Um fato importante sobre o Cepe é que ele ampara o enfermeiro nas tomadas de decisão, assim
como aponta normas e princípios que orientam as práticas de Enfermagem, assegurando a qualidade
da assistência prestada ao paciente, à família e à comunidade.
Estudo de caso
Observe um dilema ético que vamos tomar como exemplo para a aplicação prática dos
recursos e da utilização do Cepe.
47
Unidade I
Porém cabe ressaltar que a tomada de decisão de Maria tem que ser bem pensada,
visto que também é previsto no Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem que
é proibido colocar em risco a vida do paciente, principalmente se ele estiver com risco
de morte:
Dessa forma, fica claro que a tomada de decisão, mesmo que amparada pelos preceitos
éticos normatizados, implica uma reflexão e julgamento prévios para que a conduta
escolhida contribua para melhorar ou amenizar o problema em questão, e não o contrário.
Esse exercício é fundamental para se atender às necessidades recomendadas, sem causar
danos a outrem.
Talvez a melhor decisão de Maria, embora amparada pelo Código de Ética dos
Profissionais de Enfermagem, seja, em um momento oportuno, relatar verbalmente
essas ocorrências contínuas de falta de profissionais para atendimento ao paciente
48
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Saiba mais
Consulte:
49
Unidade I
2.5.1 Sindicatos
Os sindicatos são órgãos responsáveis pela defesa dos direitos do trabalhador. No Brasil, surgiram
com a industrialização e receberam tratamento especial da Constituição de 1988, que lhes concedeu
autonomia e lhes atribuiu o direito de recolhimento anual de contribuição sindical, destinado a manter
o sindicato em atividade.
As funções primordiais do sindicato são trabalhar para fornecer orientação jurídica ao profissional e
lutar por melhores condições de trabalho.
Saiba mais
A Aben é a primeira associação da categoria e permanece operante até os dias atuais em todo o
território nacional. Ela tem como princípios a defesa e a consolidação da enfermagem como prática
social essencial na assistência à saúde e na organização e funcionamento dos serviços de saúde. De
acordo com seu caráter cultural, científico e político, oferece apoio às organizações de enfermagem
brasileiras – autárquicas, sindicais e/ou científicas.
Tem como compromisso ético, político e técnico propor e defender políticas e programas que visem
à melhoria da qualidade de vida da população, a um maior grau de resolutividade dos seus problemas
de saúde e à garantia do acesso universal e equânime aos serviços de saúde (ABEN, 2012).
Ela foi criada em 12 de agosto de 1926, no Rio de Janeiro, com outra denominação, porém com os
mesmos propósitos dos atuais:
50
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Observação
A partir da Aben, inúmeras outras associações e sociedades de especialistas surgiram em todo Brasil,
fortalecendo a profissão.
Observação
É importante que o enfermeiro conheça o significado desse conselho e suas finalidades. O Cofen é
responsável por normatizar e fiscalizar o exercício da profissão de enfermeiros, técnicos e auxiliares de
enfermagem, zelando pela qualidade dos serviços prestados e pelo cumprimento da Lei do Exercício
Profissional da Enfermagem, conforme já mencionamos.
[...]
[...]
[...]
Têm também o papel de orientar, notificar para que haja melhorias e capacitar os profissionais de
enfermagem, em caso de dificuldades recorrentes.
53
Unidade I
Há um conselho regional em cada estado ou território nacional, com sede na respectiva capital e no
Distrito Federal.
Na ocasião do término da graduação, o enfermeiro deverá apresentar seu diploma, entre outros
documentos pessoais, ao Coren de referência de seu município para obter a carteira de identidade
profissional, a qual o habilita a exercer a profissão no estado de obtenção da carteira.
O sistema Cofen-Coren
Saiba mais
É interessante que você acesse também o site do Cofen para saber mais
sobre essa entidade de classe:
<http://www.cofen.gov.br/>.
54
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Para se realizar uma pesquisa científica envolvendo seres humanos, existem atualmente
órgãos governamentais e não governamentais que protegem e asseguram o reconhecimento e
a afirmação da dignidade, da liberdade e da autonomia quando se trata de pesquisa envolvendo
seres humanos.
Para se conhecer um pouco da evolução histórica da temática, sabe-se que em 1852, Claude Bernard
tratou a moralidade das observações científicas e, no livro An Introduction to the Study of Experiment
Medicine, já afirmava que “o princípio da moralidade médica” consistia em nunca causar dano ao ser
humano, ainda que o resultado fosse altamente vantajoso para a ciência ou para a sociedade (BERNARD
apud FIGUEIREDO, 2011, p. 3).
Na ocasião, foi estabelecido um tribunal internacional que tinha como finalidade julgar os crimes
cometidos nessas experiências. E daí foi assinado um acordo em Londres, em agosto de 1945, entre os
Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a União Soviética e a França, estabelecendo um código de conduta que
ficou conhecido como Código de Nuremberg, obtido com o julgamento de oficiais e médicos nazistas
que desvirtuaram a Ética durante as atrocidades que haviam realizado.
Nesses julgamentos, os chefes da Alemanha de Hitler foram acusados formalmente de crimes contra
o direito internacional, como a opressão e a matança de populações inocentes. Quase todos foram
acusados, além do assassínio, de escravização, pilhagem e extermínio de etnias religiosas, entre elas os
judeus, principais vítimas do holocausto. A história dos julgamentos de Nuremberg, o mais importante
processo criminal já realizado, criou o princípio da responsabilidade individual de acordo com as normas
do direito internacional e que encerrou a Segunda Guerra Mundial, dando início à reconstrução da
Europa, iniciada em 8 de março de 1945.
55
Unidade I
Figura 5
O Código de Nuremberg é constituído por dez tópicos, dos quais o primeiro é o que melhor contempla
seus preceitos.
Código de Nuremberg
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ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
2. O experimento deve ser tal que produza resultados vantajosos para a sociedade, que
não possam ser buscados por outros métodos de estudo, mas não podem ser feitos de
maneira casuística ou desnecessariamente;
5. Não deve ser conduzido qualquer experimento quando existirem razões para acreditar
que pode ocorrer morte ou invalidez permanente; exceto, talvez, quando o próprio médico
pesquisador se submeter ao experimento;
6. O grau de risco aceitável deve ser limitado pela importância do problema que o
pesquisador se propõe a resolver;
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Unidade I
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Posteriormente, foram elaborados outros documentos voltados tanto para a defesa dos direitos
humanos, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos (de 1948), como para os aspectos éticos
das pesquisas clínicas, como no caso da Declaração de Helsinque.
A Declaração de Helsinque foi adotada em 1964 por decisão de uma assembleia médica mundial, na
Finlâdia (Helsinque), que tinha como objetivo fornecer orientações aos médicos envolvidos em pesquisa
clínica, inclusive quanto à responsabilidade dos pesquisadores com relação à proteção dos sujeitos da
pesquisa. O avanço da ciência médica e a promoção da saúde pública, portanto, ficam claramente
subordinados ao bem-estar dos sujeitos da pesquisa individual, conforme estabelecido pela declaração,
que passou a ser adotada como referência ética no mundo.
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ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Observação
Outros importantes acontecimentos que favoreceram a evolução dos preceitos éticos na pesquisa
envolvendo seres humanos são:
No Brasil, em 1996, o Ministério da Saúde, por meio do Conselho Nacional de Saúde, aprovou a
Resolução 196/96, que regulamenta a pesquisa em seres humanos no Brasil, referendada em vários
documentos nacionais e internacionais, inclusive a Declaração de Helsinque.
Em 2012, o Conselho Nacional de Saúde determina a Resolução nº 466, que aprova as diretrizes e
normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Essa resolução usa referenciais da
bioética, tais como autonomia, não maleficência, beneficência, justiça e equidade, entre outros, que
objetiva assegurar os direitos e deveres que dizem respeito aos participantes da pesquisa, à comunidade
científica e ao Estado.
O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (Cepe), como mencionado anteriormente, possui
um capítulo destinado apenas ao ensino, à pesquisa e à produção técnico-científica:
Responsabilidades e deveres:
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Unidade I
Portanto, o enfermeiro deve realizar e participar de atividades de ensino e pesquisa, pois é fundamental
que transmita ao meio acadêmico suas experiências e, da mesma forma, possa se enriquecer com as
informações e descobertas de outros, desde que respeitadas as normas ético-legais.
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ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Todo paciente tem direito a ser reconhecido e respeitado como cidadão, o que implica participar das
decisões relacionadas ao seu cuidado e tratamento.
No Brasil, embora existam vários textos legais abordando o assunto, incluindo leis, resoluções e
declarações de princípios, ainda não existe uma lei federal para tratar especificamente desse tema.
Em 2006, o Ministério da Saúde aprovou a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde, considerando a
necessidade do paciente de receber um atendimento humanizado, acolhedor e resolutivo, e garantindo
o direito às informações sobre seu estado de saúde de maneira clara, objetiva, respeitosa, adaptada
às suas condições culturais e respeitando os limites éticos para atendimento aos usuários da saúde
(BRASIL, 2006).
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Existem, em alguns estados brasileiros, legislações próprias que têm sido usadas para auxiliar
o processo de qualidade da assistência ao paciente e da sua segurança. Por exemplo, no estado
de São Paulo, há uma portaria (a Lei Estadual nº 10.241), que assegura, entre outras coisas, que
o paciente tenha um atendimento digno, atencioso e respeitoso, sendo identificado e tratado
pelo nome ou sobrenome, e não por números, códigos ou de modo genérico, desrespeitoso ou
preconceituoso. A mesma lei garante, além disso, ao paciente, o direito de receber informações
claras, objetivas e compreensíveis sobre hipóteses diagnósticas, diagnósticos realizados, exames
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Unidade I
Essa legislação garante a autonomia do paciente, pois assegura que ele possa consentir ou
recusar, de forma livre, voluntária e esclarecida, com adequada informação, procedimentos
diagnósticos ou terapêuticos.
Parece hilário que haja uma lei para assegurar essas condições, visto que não trata de inovações
éticas, contudo, de certa forma, ela auxilia a regular também o exercício profissional.
É sabido que:
O enfermeiro deve defender e fazer valer o direito do paciente de receber um atendimento atencioso
e respeitoso, garantir o sigilo profissional, fornecer as informações e orientações sobre seu tratamento e
prognóstico de forma clara, sanando suas dúvidas. A dignidade humana dever ser respeitada em todos
os sentidos, inclusive no que diz respeito às reclamações sobre aquilo de que ele venha a discordar sem
que a qualidade de seu tratamento seja alterada.
Cabe também ao enfermeiro ajudar o paciente a conhecer seus direitos, além de zelar por eles,
para que tenha a autonomia preservada e possa exigir essas condições durante seu atendimento, em
qualquer área de atenção à saúde: primária, secundária e terciária.
Resumo
Exercícios
Questão 1. (IFAL 2016) Os profissionais de enfermagem estão passíveis de cometer ou sofrer infrações
éticas que implicam ações, omissões ou conivências que desobedecem aos pressupostos e disposições
do Código de Ética Profissional de Enfermagem e são classificadas como leves, graves ou gravíssimas,
segundo a natureza do ato. A penalidade aplicada ao profissional que implica a cassação do direito ao
exercício da profissão é de competência de qual entidade de classe?
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: o Sindicato dos Enfermeiros atua nos direitos salariais e trabalhistas dos profissionais
de enfermagem.
B) Alternativa correta.
Justificativa: consta no Art. 18 – Aos infratores do Código poderão ser aplicadas seguintes penas:
I – advertência verbal; II – Multa; III – Censura; IV – Suspensão do exercício profissional; V – Cassação
do direito ao exercício profissional. As penalidades I, II, III e IV são da alçada dos Conselhos Regionais e
a V da alçada do Conselho Federal, ouvido o Conselho Regional interessado.
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C) Alternativa incorreta.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: a Aben é uma associação de caráter cultural, científico e político, com personalidade
jurídica própria, de direito privado e que congrega pessoas – Enfermeiras; Técnicas de Enfermagem;
Auxiliares de Enfermagem; estudantes de cursos de Graduação em Enfermagem e de Educação Profissional
de Nível Técnico em Enfermagem; Escolas, Cursos ou Faculdades de Enfermagem; Associações ou
Sociedades de Especialistas – que a ela se associam, individual e livremente, para fins não econômicos.
E) Alternativa incorreta.
Questão 2. (FCC 2015) De acordo com o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, é
responsabilidade e dever do profissional de enfermagem:
C) Comunicar à Agência Nacional de Vigilância Estadual fatos que infrinjam dispositivos legais e que
possam prejudicar o exercício profissional.
D) Obter desagravo público por ofensa que atinja a profissão, por meio do Comitê de Ética Institucional.
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