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Ética em Enfermagem

e Exercício Profissional
Autora: Profa. Lidiana Flora Vidôto da Costa
Colaboradoras: Profa. Raquel Machado Coutinho
Profa. Renata Guzzo
Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano
Professora conteudista: Lidiana Flora Vidôto da Costa

É professora titular da Universidade Paulista (UNIP) desde 2004, graduada em Enfermagem pela Pontifícia
Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP), em 1988, mestre em Enfermagem pela Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), em 2008, e doutora em Patologia Ambiental e Experimental pela Universidade Paulista (UNIP), em
2015. Ministra as disciplinas de Ética em Enfermagem e Exercício Profissional no curso de graduação em Enfermagem
da UNIP e de Aspectos Éticos, Filosóficos, Políticos e Legais em Saúde nos cursos de pós-graduação em Enfermagem
em Obstetrícia, Enfermagem em Urgência e Emergência e Enfermagem do Trabalho.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

C837e Costa, Lidiana Flora Vidôto da.

Ética em Enfermagem e Exercício Profissional. / Lidiana Flora


Vidôto da Costa. – São Paulo: Editora Sol, 2016.

116 p., il

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2-078/16, ISSN 1517-9230.

1. Enfermagem e bioética. 2. Ética profissional. 3. Dilemas Éticos.


I. Título.

CDU 616-083

U502.21 – 19

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Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
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Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Giovanna Oliveira
Rose Castilho
Sumário
Ética em Enfermagem e Exercício Profissional

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8

Unidade I
1 ÉTICA PROFISSIONAL...................................................................................................................................... 13
1.1 Ética e Moral........................................................................................................................................... 13
1.2 Fundamentos da Ética......................................................................................................................... 16
1.2.1 Consciência................................................................................................................................................ 17
1.2.2 Valores.......................................................................................................................................................... 17
1.2.3 Autonomia e liberdade.......................................................................................................................... 19
1.2.4 Responsabilidade e verdade................................................................................................................ 20
1.2.5 Respeito e reciprocidade....................................................................................................................... 21
1.3 Responsabilidades ética e legal....................................................................................................... 22
1.3.1 Responsabilidade civil............................................................................................................................ 23
1.3.2 Responsabilidade penal......................................................................................................................... 27
1.3.3 Responsabilidade ética.......................................................................................................................... 31
2 ÉTICA PROFISSIONAL E AS PRINCIPAIS LEGISLAÇÕES...................................................................... 32
2.1 Conceitos.................................................................................................................................................. 32
2.1.1 Deontologia................................................................................................................................................ 32
2.1.2 Diceologia................................................................................................................................................... 33
2.1.3 Imprudência............................................................................................................................................... 33
2.1.4 Negligência................................................................................................................................................. 35
2.1.5 Imperícia...................................................................................................................................................... 36
2.2 Lei do Exercício Profissional.............................................................................................................. 37
2.3 Resoluções relevantes do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen)............................. 39
2.3.1 Resolução Cofen nº 390/2011............................................................................................................. 39
2.3.2 Resolução Cofen nº 389/2011............................................................................................................. 39
2.3.3 Resolução Cofen nº 388/2011............................................................................................................. 40
2.3.4 Resolução Cofen nº 381/2011............................................................................................................. 40
2.3.5 Resolução Cofen nº 376/2011............................................................................................................. 41
2.3.6 Resolução Cofen nº 516/2016............................................................................................................ 43
2.3.7 Resolução Cofen nº 487/2015............................................................................................................ 43
2.4 Código de Ética dos profissionais de enfermagem e os dilemas éticos.......................... 45
2.5 Entidades de classe e a Enfermagem............................................................................................ 49
2.5.1 Sindicatos.................................................................................................................................................... 50
2.5.2 Associações e sociedades de especialistas..................................................................................... 50
2.5.3 Conselhos de Enfermagem.................................................................................................................. 53
3 ÉTICA E PESQUISA EM SAÚDE..................................................................................................................... 55
4 LEGISLAÇÃO, DEONTOLOGIA E AS INTERFACES COM A ENFERMAGEM E O CLIENTE........... 61
4.1 Direitos do paciente............................................................................................................................. 61

Unidade II
5 ENFERMAGEM E BIOÉTICA........................................................................................................................... 65
5.1 Conceito e história................................................................................................................................ 65
5.2 Princípios da bioética.......................................................................................................................... 68
5.2.1 Justiça........................................................................................................................................................... 68
5.2.2 Autonomia.................................................................................................................................................. 69
5.2.3 Beneficência............................................................................................................................................... 71
5.2.4 Não maleficência..................................................................................................................................... 71
6 PRINCIPAIS DILEMAS ÉTICOS E AS INTERFACES COM A ENFERMAGEM................................... 72
6.1 Aborto........................................................................................................................................................ 73
6.1.1 Conceitos..................................................................................................................................................... 73
6.1.2 História do aborto................................................................................................................................... 73
6.1.3 A legalização do aborto no mundo e no Brasil........................................................................... 74
6.1.4 Aborto: prevalência no mundo, dilemas éticos e políticos..................................................... 76
6.1.5 O aborto, o enfermeiro e a ética profissional............................................................................... 78
6.2 Violência, discriminação étnica e social....................................................................................... 80
6.3 Transfusão sanguínea e as filosofias religiosas......................................................................... 83
6.4 Doação e transplante de órgãos..................................................................................................... 86
6.5 Bioética diante das questões da morte e do processo de morrer..................................... 89
6.5.1 Eutanásia..................................................................................................................................................... 89
6.5.2 Distanásia.................................................................................................................................................... 90
6.5.3 Ortotanásia................................................................................................................................................. 91
7 GENÉTICA E DILEMAS ÉTICOS..................................................................................................................... 93
7.1 Células-tronco de embriões.............................................................................................................. 93
7.2 Alimentos transgênicos...................................................................................................................... 94
8 DESCOBERTA DO MAPEAMENTO GENÉTICO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES ÉTICAS............. 95
8.1 Nanotecnologia...................................................................................................................................... 96
APRESENTAÇÃO

A disciplina Ética em Enfermagem e Exercício Profissional busca fornecer elementos para a


capacitação para a tomada de decisão ético-legal no exercício da profissão.

Ao final do curso, o aluno deverá ser capaz de construir significados a partir da abordagem dos
fundamentos da Ética, de caracterizar as responsabilidades profissionais, destacando a questão da
autonomia e dos dilemas éticos da profissão, e promover reflexões éticas sobre as questões de saúde
e da vida humana. Deverá, ainda, ser capaz de promover discussões sobre o Código de Ética dos
Profissionais de Enfermagem e sobre as tomadas de decisões éticas enquanto classe, no exercício
ético legal da profissão.

A disciplina tem como objetivos:

• conhecer as distinções entre Ética e Moral e os fundamentos da Ética, além de discutir seus
principais conceitos;

• compreender e utilizar o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem no embasamento de


atos éticos decisórios;

• reconhecer dilemas éticos e legais no exercício da Enfermagem;

• conhecer as responsabilidades éticas e legais do profissional de enfermagem;

• diferenciar as diversas entidades representativas da Enfermagem e suas finalidades científicas,


técnicas e culturais;

• avaliar as influências de códigos e leis, nacionais e estaduais, na garantia de direitos de grupos


populacionais, consumidores e usuários de serviços de saúde;

• construir conhecimentos sobre Ética, deontologia e bioética;

• conhecer e discutir os princípios fundamentais da bioética e os envolvimentos com as profissões


de saúde;

• construir o saber em Enfermagem, relacionando a necessidade do conhecimento para a atuação


responsável do enfermeiro, respeitando os princípios de Ética e bioética;

• conhecer os aspectos éticos e legais na pesquisa de Enfermagem;

• discutir e conhecer as perspectivas do exercício da Enfermagem atual;

• discutir os significados de autonomia, privacidade, confidencialidade e as inter-relações voltadas


à realidade das ações assistenciais desenvolvidas nas instituições de saúde;
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• discutir a atuação ética e legal do profissional enfermeiro frente às questões: eutanásia, aborto,
transplante de órgãos, planejamento familiar, reprodução assistida, engenharia genética;

• conhecer o Código de Defesa do Consumidor e os direitos do paciente e suas implicações éticas


e legais;

• conhecer os aspectos éticos e legais envolvendo a pesquisa de enfermagem em seres humanos e


suas implicações éticas e legais;

• conhecer as diretrizes da formação e da atuação da comissão de Ética em enfermagem nas


instituições de saúde;

• identificar as perspectivas do exercício profissional de enfermagem.

INTRODUÇÃO

Caro aluno, pode ser que, no decorrer do curso, as disciplinas técnicas-operativas sejam as que
mais atraiam sua atenção e, consequentemente, sua dedicação aos estudos. É importante saber como
atender a uma parada cardiorrespiratória, como administrar um medicamento, realizar uma sondagem
vesical ou um curativo. É sabido que esses interesses ocorrem à maioria dos alunos que passam pela
graduação do curso, porém, é sabido também que a prática de enfermagem inclui dois componentes
igualmente importantes: o técnico-operativo e o ético-moral (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007, p. 13).

Como futuro profissional, lembre-se sempre de que o enfermeiro não pode focar suas atividades
diárias apenas no fazer pelo fazer, ou idealizar as rotinas estabelecidas e as normas técnicas dos serviços
de saúde e educação.

No ensino da Enfermagem, a Ética faz parte do currículo, sendo uma disciplina com conteúdo que
deve permitir a criação de espaços para a reflexão, com a característica de fazer “parar para pensar”.
Seu objetivo é fazer o profissional raciocinar adequadamente bem para conduzir com competência,
comprometimento e responsabilidade sua profissão.

A Ética pode ser definida como saber que agrega e integra as várias disciplinas do currículo de
enfermagem, para que todos tenham uma linguagem comum, relacionada aos princípios éticos que
norteiam nossa profissão (FORTES, 1998, p. 32).

Precisamos buscar a percepção e a reflexão de nossas ações, conhecendo as consequências de cada


uma delas para os nossos pacientes, a sociedade profissional e a comunidade institucional. E devemos
fazê-lo de acordo com as fundamentações da Ética e da bioética para que nossas ações se reflitam numa
assistência de equilíbrio: não puramente técnica ou puramente focada em legislações e na boa vontade
do cuidar.

Precisamos, prezado aluno, buscar desenvolver nossas atividades profissionais embasadas no


conhecimento científico e no respeito ao indivíduo, sempre permeadas pela Ética. Essa é uma postura
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que deve ser adotada pelos profissionais, assumindo a responsabilidade social e respeitando o direito à
cidadania. Nesse contexto, faz-se necessário que a Enfermagem avalie sua postura e suas práticas não
apenas sob a perspectiva deontológica, mas que, ao contrário, analise sua atuação compreendendo a
complexidade dos fatores envolvidos – cultura, religião e ciência – pautada no diálogo, na tolerância e
no respeito a todas as partes envolvidas (COFEN, 2015).

A prática assistencial e a Ética profissional caminham juntas, equilibrando-se, tendo como único
objetivo a relação intrínseca que existe entre a evolução e a qualidade dos processos de cuidar de
enfermagem e os aspectos de excelência técnico-científica e éticos-morais desses cuidados idealizados
e prestados.

O conhecimento do enfermeiro sobre a legislação acerca de sua profissão e das atividades que a
permeia, assim como das regras e das diretrizes, possibilita-lhe compreender e questionar os reflexos
de suas atividades, as consequências de suas ações, seus direitos e deveres, suas responsabilidades e,
inclusive, suas obrigações. Conhecer as resoluções dos órgãos representativos de sua profissão, como o
Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e o Conselho Regional de Enfermagem (Coren), implica estar
sempre atento às mudanças, às discussões e aos pensamentos da categoria.

Se, por um lado, temos as diretrizes dos conselhos, temos, por outro, as ciências e as técnicas
modernas, que produzem mudanças qualitativas no agir do homem.

As novas tecnologias engendram crescimento brutal dos poderes do homem, tornando-o


objeto de suas técnicas. Tudo isso pode se converter em ameaça, exigindo reformulação Ética
para o nosso tempo. As antigas e as novas tendências dessas novas tecnologias devem ser vistas
sob o ponto de vista da bioética e dos seus possíveis impactos à população assistida, às gerações
que virão e, por que não, ao planeta em que vivemos. Como exemplo, temos a genética e a
nanotecnologia, que são temas atuais e de evidência na sociedade técnico-científica, e podem
impactar a sociedade em que vivemos.

Você pode se perguntar: de que forma? Vamos refletir: Não é maravilhoso pensar que genes
específicos para determinados tipos de câncer e drogas que, com modificações moleculares,
poderão agir especificamente nesse tipo de célula cancerígena, estão prestes a ser descobertos
e que, assim, o tratamento será muito mais eficiente do que os que existem atualmente? Qual o
ponto de vista dos cientistas? O que pensam os religiosos? Todos os pacientes portadores desse
tipo de câncer poderão pagar por este tratamento? E qual será o impacto desse tratamento
para a saúde pública? Será que alguns tipos de neoplasias malignas deixarão de ter taxas de
morbidade e mortalidade altas no planeta? Será que todos os países do planeta poderão oferecer
esse tratamento à população? Todos esses questionamentos deverão ser discutidos em uma esfera
ampla, pluralista, de acordo com os princípios da benevolência, da não maledicência, da autonomia
e da justiça, e é isso que denominamos “bioética”.

Outros temas importantes de bioética que valem a pena discutir são: o aborto, a violência, os transplantes
de órgãos, a discriminação racial e social, a eutanásia e tantos outros que trataremos neste livro.

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Assim, como tudo na vida, as experiências e os novos conhecimentos fazem a evolução do ser
humano, e podemos afirmar que o mesmo ocorre na Enfermagem. Os avanços tecnológicos e científicos
contribuem constantemente para as mudanças de conduta no fazer e pensar das profissões, e a
Enfermagem está incluída nessa jornada de transformações.

A figura seguinte demonstra uma estudante de enfermagem atendendo uma criança na década de
1940. E hoje? Você se vê assim? O ambiente hospitalar mudou? E o uso de equipamentos de proteção
individual? Onde estão as luvas para que a enfermeira aplique a medicação? Será que as luvas para
procedimentos já existiam? O que fez com que mudanças ocorressem com o passar do tempo? A
resposta, como você pode imaginar, é: conhecimentos e tecnologia.

Agora resta pensar: devido ao fato de os conhecimentos dos mecanismos de transmissões de doenças
e das tecnologias estarem em constante evolução, tornou-se uma diretriz do trabalho da enfermagem o
uso das luvas para procedimentos. O mercado de artigos hospitalares dispõe desse material com opções
de tamanhos, contendo matéria-prima antialérgica, com luvas produzidas por diversas opções de
materiais, em látex e até mesmo em silicone, entalcadas ou sem talco, enfim, é a tecnologia atendendo
aos avanços da ciência.

Nesse simples exemplo, vale salientar que, além das diretrizes nacionais e internacionais voltadas
para as medidas de segurança ocupacional para evitar que os profissionais da saúde fiquem expostos
às doenças em seu ambiente de trabalho, existem as leis que asseguram essas diretrizes, exigindo, por
exemplo, que os empregadores forneçam os materiais necessários para o trabalhador.

Mas será que todos os profissionais de saúde, atualmente, utilizam essa tecnologia, esses
conhecimentos e os benefícios das diretrizes e das leis para a utilização das luvas para procedimentos,
como exemplificada, ou para qualquer outra conduta necessária para o atendimento do paciente,
ou para as relações com as equipes de trabalho, a família e a comunidade? Será que muitos
profissionais de enfermagem ainda adotam bases técnicas e procedimentos arraigados em épocas
primitivas do saber?

Com todas as melhorias e anteparos técnicos, científicos e legais criados com a evolução da
humanidade, há garantias de que todos os profissionais de enfermagem façam respeitar as condutas
desejadas para a assistência prestada? A resposta é simples: claro que não.

Muitas vezes, mesmo dispondo da tecnologia e da ciência a seu favor, alguns profissionais de
enfermagem se apropriam desses privilégios. Poderão faltar os insumos necessários para o trabalho,
o interesse pela atualização profissional e, principalmente e mais importante, a consciência das
consequências de suas decisões para as condutas adotadas.

Acredita-se que a conduta humana é muito complexa. O processo de conduta não é apenas racional,
pois dependerá de diversos fatores distintos para cada um. A consciência, as percepções, as crenças e
os valores, mesmo na presença da evolução do conhecimento e da tecnologia, poderão tramitar entre
a razão e a objeção.

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Figura 1

Portanto, caro aluno, fazemos o convite para que você participe de alguns ensinamentos acerca
dessas temáticas, para que possamos exercitar o poder de ter uma mente livre, interessada pelos
conhecimentos e aprimoramentos, de modo a favorecer a compreensão e o discernimento para o
exercício profissional pleno.

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ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

Unidade I
1 ÉTICA PROFISSIONAL

1.1 Ética e Moral

Desde a Antiguidade, os homens têm se preocupado com as questões éticas e morais, vinculadas
à natureza, à política, às regras de convivência social e ao comportamento humano. As concepções
sobre o ajuizamento ético têm evoluído ao longo da história da humanidade (OGUISSO, 2012, p. 45).
A situação histórica atual é bem diferente daquela da época de Aristóteles, Platão e Sócrates, na qual
o bem era a preservação da ordem natural, ou dos ensinamentos judaicos e cristãos, na qual o bem
equivalia à obediência às orientações divinas.

A Moral e a Ética não possuem um significado rígido e estático na história da Filosofia. A Moral
está associada aos costumes, regras, convenções e tabus estabelecidos pela sociedade. Já a Ética
está associada aos valores morais que dão orientação ao comportamento humano na sociedade
(BOFF, 2003, p. 2).

Esses dois termos possuem origens etimológicas distintas e, inicialmente, nos primórdios, Ética e
Moral tinham praticamente o mesmo significado, diferindo apenas na semântica.

A palavra “moral” é originária do termo latino “morales”, que significa “relativo aos costumes”, isto
é, aquilo que se consolidou como verdadeiro do ponto de vista da ação. A Moral pode ser definida como
o conjunto de regras aplicadas no cotidiano e que são utilizadas constantemente por cada cidadão. Tais
regras orientam cada indivíduo que vive na sociedade, norteando os seus julgamentos sobre o que é
certo ou errado, moral ou imoral, e as suas ações. A Moral é construída por uma sociedade com base nos
valores históricos e culturais.

Como exemplo, podemos dizer que, na sociedade em que vivemos hoje, quando avistamos casais de
namorados andando de mãos dadas pelas ruas, julgamos ser algo bonito, inspirador, terno, porém, em
outros tempos, nessa mesma sociedade, isso poderia ser considerado imoral. Portanto, a consciência e
os valores morais podem mudar com o tempo.

Quando falamos de Moral, podemos pensar em um outro exemplo. A Moral pode ser distinta
quando comparamos, em uma mesma época, dois ou mais grupos de pessoas que convivem. É comum
encontramos populações ou até mesmo grupos que possuem opiniões distintas sobre determinado
assunto ou comportamento social e costumes diferentes. Podemos dizer que o que são consideradas
atitudes e costumes “normais”, corriqueiros e cotidianos para uma população, podem ser “aberrações”
para outra. Um exemplo claro disso seria o costume do traje usado pela mulher em público. De acordo
com a interpretação dos talibãs do livro sagrado dos muçulmanos, o Alcorão, os homens e as mulheres
13
Unidade I

devem viver com modéstia e discrição máximas enquanto estiverem expostos em público. Portanto, o
uso da burca, uma peça do vestuário tradicional das mulheres muçulmanas, principalmente as afegãs,
caracterizada por cobrir todo o corpo, o cabelo e o rosto, começou a ser considerado obrigatório pelas
mulheres no Afeganistão entre 1995 e 2001 (período do regime do talibã).

Sabe-se que aproximadamente 60% das mulheres afegãs atualmente continuam utilizando a burca,
seja por tradição ou por medo de represálias dos pequenos núcleos de muçulmanos extremistas que
permanecem na região. Dessa forma, podemos dizer que essa população atribui preceitos morais a
esse costume e que caso uma mulher habituada a diferentes costumes para se vestir não use a burca,
provavelmente será vista como uma pessoa agindo de modo imoral.

E o contrário também pode acontecer. O costume de uma mulher afegã pode ser visto por uma
comunidade que não tem esse hábito como um ato que reduz a mulher à servidão e ameaça a sua
dignidade. Ou seja, sua vestimenta, assim, não seria vista como um sinal de religião, mas de subserviência.
Nesse caso, estão sendo questionados o princípio da laicidade e o da ponderação entre o direito à
liberdade religiosa e o direito à igualdade de gênero.

Assim, podemos concluir que um costume considerado moral, como um determinado “modelo ideal
de boa conduta socialmente estabelecida”, que reflete certa forma de vida, pode se alterar em um
período de tempo diferente ou diferir de uma população para outra.

Lembrete

Valores morais são os conceitos, juízos e pensamentos considerados


“certos” ou “errados” por determinada pessoa ou por um determinado
grupo na sociedade.

A palavra “Ética” é proveniente do grego “ethos”, significa, literalmente, “morada”, “hábitat”,


“refúgio”, ou seja, o lugar onde as pessoas habitam, caráter, modo de ser de uma pessoa. O filósofo
Aristóteles acreditava que a Ética era caracterizada pela finalidade e pelo objetivo a ser atingido, que
seria viver bem, ter uma boa vida. A palavra “Ética” também pode ser definida como um conjunto de
conhecimentos extraídos da investigação do comportamento humano na tentativa de explicar as regras
morais de forma racional e fundamentada. Nesse sentido, trata-se de uma reflexão sobre a Moral.

A Filosofia foi a primeira a surgir, antes de se tratar da Ética propriamente dita, emergindo quando se
concluiu que a verdade do mundo e dos humanos não era algo secreto e misterioso, que precisasse ser
revelado por divindades a alguns escolhidos, mas que, ao contrário, podia ser conhecida por todos, através
da razão, que é a mesma em todos. Surgiu, dessa forma, quando se descobriu que tal conhecimento
depende do uso correto da razão ou do pensamento e que, além de a verdade poder ser conhecida por
todos, podia, pelo mesmo motivo, ser ensinada ou transmitida a todos (CHAUÍ, 2000, p. 20).

A Ética como teoria filosófica tem por objetivo estudar o comportamento dos indivíduos frente aos
apelos morais da sociedade em que estes vivem. Ela se manifesta de diferentes maneiras conforme a
14
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

cultura, costumes e hábitos de determinadas populações. Traduz, assim, a maneira de buscar a harmonia
entre todos os indivíduos, uma forma de conviver e viver com outras pessoas, de modo que cada um
buscasse seus interesses e todos ficassem satisfeitos.

Lembrete

Do ponto de vista da Filosofia, a Ética se dedica a pensar sobre as ações


humanas e seus fundamentos, refletindo, portanto, sobre os valores e
princípios morais de uma sociedade e seus grupos.

Nesse sentido, pode-se considerar a Ética um tipo de postura que se refere a um modo de ser,
à natureza da ação humana. Trata-se de uma maneira de lidar com as situações da vida e do modo
como estabelecemos relações com outra pessoa. Quais são as nossas responsabilidades pessoais em uma
relação com o outro? Como lidamos com as outras pessoas em sociedade? Uma conduta Ética pode ser
um tipo de comportamento mediado por princípios e valores morais.

Assim, Ética é a parte da Filosofia que estuda a Moral, pois reflete e questiona as regras morais,
compreendendo que a Ética por si só não avalia se um ato é correto ou incorreto.

Contudo, apesar de esses conceitos serem distintos, existe uma estreita articulação entre si, na
medida em que a Ética tem como objeto de estudo a própria Moral. Embora a Ética e a Moral estejam
interligadas, são independentes (PEDRO, 2014).

Saiba mais
O filme a seguir, baseado em um dos mais famosos livros sobre a
Filosofia, é excelente para se entender questões filosóficas, Ética e Moral, e
pode propiciar uma inter-relação com o conteúdo sobre Ética e Moral:
O MUNDO de Sofia. Dir. Erik Gustavson. Noruega; Suécia: Audiovisuellt
Produksjonsfond, 1999. 113 minutos.
Leia também o texto a seguir:
PEDRO, A. P. Ética, moral, axiologia e valores: confusões e ambiguidades
em torno de um conceito comum. Kriterion, Belo Horizonte, v. 55, n. 130, p.
483-498, 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0100-512X2014000200002&lng=en&nrm=iso>. Acesso
em: 1 ago. 2016.

Quem pratica a Ética são sujeitos éticos, que devem ter liberdade de pensamento, sem serem coagidos
por forças internas ou externas para que os atos éticos sejam livres, voluntários e conscientes.

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Unidade I

Hoje em dia, Ética tem se confundido com ideologia, política, entre outros conceitos, porém a
abordagem da Ética contemporânea difere da tradicional, pois origina-se de uma sociedade secular
e democrática, afastando-se das conotações das morais religiosas, e respira em preceitos pluralistas,
aceitando a diversidade de enfoques, posturas e valores.

Observação

Platão, Aristóteles e Sócrates foram filósofos inauguradores da filosofia


ocidental como a que concebemos ainda hoje, em muitos aspectos. O
período em que despontaram é considerado o período áureo da Filosofia,
dada a sua imensa contribuição para o avanço do pensamento filosófico e
ético na época e até mesmo na atualidade.

1.2 Fundamentos da Ética

Como já foi mencionado anteriormente, o homem é um ser social que aprende com suas experiências,
aprendizagem que exige tempo e maturidade.

A cultura significa todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a
Moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano. Ela muda com o tempo,
evoluindo continuamente e mudando a forma de pensar e agir em sociedade. Com isso, por exemplo,
assumem-se diferentes valores na forma de viver, relacionar-se, comer, vestir, comemorar.

O homem, tendo a consciência do universo em que vive, criando e modificando continuamente


esse ambiente, pode requisitar, interferir e criar sua evolução na história. Com isso, sente a liberdade de
conquistar novos pensamentos e criações.

Sabemos também que:

A Ética e a Moral devem partir de experiências originárias que se encontram


no cotidiano das pessoas para identificar seus fundamentos, como a
liberdade, os valores, o cuidar e o solidarizar-se com os outros. Desse modo,
a Ética e a Moral buscam fazer com que as pessoas sejam melhores e mais
responsáveis pelos seus próprios atos (OGUISSO, 2012, p. 49).

E seguindo aqui a máxima de Aristóteles dita na Ética a Nicômaco e repetida em seu pensamento
sobre a Moral de forma geral: “somos o resultado de nossas escolhas”.

Portanto, a Ética possui elementos importantes nos quais se fundamenta e eles devem nos
estruturar como seres humanos, resultando, positivamente ou não, em nossas escolhas.

Dentre estes fundamentos, encontram-se: consciência, valores, autonomia, liberdade,


responsabilidade, verdade, respeito e reciprocidade, que serão detalhados a seguir.
16
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

1.2.1 Consciência

Consciência é a capacidade de julgar o que é correto e o que não é, de acordo com valores morais,
de conhecimento e de sabedoria.

Sendo racionais, os seres humanos têm a capacidade de sentir a própria identidade, podendo
interpretar o presente, o futuro e o passado. Portanto, quanto maior o conhecimento, a paciência para
compreender a situação, melhor será o julgamento entre o correto e o não correto, o que deve e não
deve ser feito, e as consequências dos próprios atos.

A pessoa que possui consciência e vontade pode compreender o que se passa ao redor melhor do
que aquela que não as possui. Portanto, o conhecimento, a experiência e a reflexão fazem com que o
indivíduo desenvolva em seu percurso, na vida, consciência de seus próprios atos.

Porém, viver em sociedade representa as relações do homem com o mundo e com outros homens,
primordiais para a evolução. Ele não evolui sozinho, não constrói sua identidade sem essas experiências,
seja com o outro ou com o mundo.

Observação

Para refletir: o enfermeiro possui sua consciência, formada com base


em suas experiências construídas no decorrer de sua vida. A equipe de
saúde, a família do paciente e o próprio paciente também a possuem.
Contudo, será que todos compartilham de uma mesma consciência? Será
que ao compartilharmos essas experiências e ao procurarmos compreender
a identidade alheia, estamos facilitando a convivência e o entendimento
entre as pessoas?

1.2.2 Valores

Os valores são fundamentais para a formação da conduta moral e da Ética na vida do ser humano,
pois os atribuímos aos objetos (naturais ou não naturais), aos sentimentos e às emoções, uma vez que o
agir humano é uma forma de expressar valores.

[O valor é uma] qualidade abstrata e secundária de um objeto, estado ou


situação que, ao satisfazer uma necessidade de um sujeito, suscita nele
interesse ou aversão por essa qualidade.

[...] O valor radica no objeto, mas sem o interesse de um sujeito, o objeto


deixaria de ter valor. Os valores ideais são ideias consistentes e objetivas do
mundo racional humano (CABANAS, 1999).

17
Unidade I

A manifestação de uma pessoa ou de um grupo dependerá dos valores atribuídos por eles mesmos,
e, dessa forma, a manifestação dependerá de um juízo de valor. Exemplo: note a diferença entre as duas
descrições a seguir:

• “O paciente é baixo e musculoso” é um juízo real, pois apresenta as características físicas da


pessoa, assim como de fato é.

• “O paciente tem um bom preparo físico”, por outro lado, é um juízo de valor, pois as características
físicas “baixo e musculoso” foram avaliadas como sendo próprias de pessoas consideradas “com
bom preparo físico”.

Portanto, a tomada de decisão estará embasada nos valores éticos agregados, que poderão diferir de
pessoa para pessoa, de comunidades para comunidades, de populações para populações, entre outros.
Essas atitudes estão ligadas a valores que orientam e justificam tais comportamentos. Um valor é uma
experiência transmitida ou vivida que elegemos para dar sentido à nossa vida cotidiana.

Esse valor é considerado uma referência justa, verdadeira e, portanto, necessária. Como os valores
são constantes, orientam nossa conduta – valor moral – pela vida inteira. E é pelo valor ético que nossa
vontade é controlada, independentemente da presença do outro (TRANCOSCO, 2013).

O modo de pensar, a vontade e agir religam os elementos construtivos da tomada de decisão,


mostrando, mediante o ato em si, a identidade de cada pessoa, pois o homem existe para criar e realizar
coisas, e dessa forma construindo o modo de viver, aprendendo a cuidar de si do outro e do mundo.

Lembrete

O valor é uma variável da mente que ajuda a pessoa a tomar decisões


(OGUISSO; SCHIMIDT, 2007, p. 33).
Os valores atribuídos diferem significativamente entre as pessoas,
sociedades e populações, diferenciando as tomadas de decisão sobre um
mesmo dilema ético.

Exemplo de aplicação

Para refletir: o enfermeiro possui valores agregados em sua vida desde sua infância. Com as
experiências e conhecimentos adquiridos em sua formação acadêmica e posteriormente profissional,
amplia, muda e concebe novos e importantes valores profissionais e éticos. Pensando nisso, reflita:

• Você acredita que o conhecimento e a experiência profissional transformam e melhoram a


capacidade do enfermeiro de compreender sua equipe e o próprio paciente?
• Quais são os valores envolvidos?

18
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

1.2.3 Autonomia e liberdade

Autonomia é um termo de origem grega cujo significado está relacionado com independência,
liberdade ou autossuficiência. O antônimo de autonomia é heteronomia, palavra que indica
dependência, submissão.

Liberdade significa o direito de agir segundo o seu livre-arbítrio, de acordo com a própria vontade
(desde que não se prejudique outra pessoa), é a sensação de estar livre e não depender de ninguém.

Os significados desses dois vocábulos correspondem a uma determinada corrente filosófica, a


da liberdade incondicional. Com respeito às suas diferenças, pode-se sustentar que a liberdade é a
capacidade do sujeito de agir com autonomia. Desse modo, por exemplo, a autonomia profissional pode
ser vista como um componente da liberdade do enfermeiro (PRZENYCZKA et al., 2012, p. 428).

Pensando em autonomia como o direito de governar-se pelas próprias regras, de forma independente,
deve-se aceitar que sua ação, de responsabilidade própria, deve também reportar-se à comunidade
(OGUISSO; SCHIMIDT, 2007 p. 35).

O homem é um ser de decisões, colocando-se diante de diversas alternativas para escolhas em


relação às suas ações, tomando decisões com base na orientação que buscou. Assim, vai construindo e
realizando, o que condiz com a liberdade.

Observação

Aqueles que conservarem mais conhecimento, certamente, estarão


numa posição vantajosa para o exercício de sua autonomia. E quanto mais
os enfermeiros são expostos aos conceitos e ideias de outras disciplinas,
como a Antropologia, a Sociologia e a Filosofia, seguramente, maior será a
assimilação satisfatória e razoavelmente rápida desses conceitos na prática
da enfermagem (PRZENYCZKA et al., 2012, p. 430).

A liberdade é o poder incondicional da vontade para determinar a si mesma; sem constrangimentos


internos ou externos, o agente é totalmente pleno em suas ações.

19
Unidade I

Saiba mais

As referências a seguir podem propiciar uma inter-relação com o


conteúdo de liberdade e autonomia:

CRASH: no limite. Dir. Paul Haggis. Alemanha; EUA: Bob Yari Productions,
2004. 112 minutos.

LIMA, G. G. Criança: objeto a liberado? Educação em Revista, Belo


Horizonte, v. 25, n. 1, p. 203-218, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982009000100011&lng=e
n&nrm=iso>. Acesso em: 30 jun. 2016.

PRZENYCZKA, R. A. et al. O paradoxo da liberdade e da autonomia


nas ações do enfermeiro. Texto Contexto Enferm., Florianópolis, v. 21, n.
2, p. 427-431, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tce/v21n2/
a22v21n2>. Acesso em: 23 jun. 2016.

LARANJA mecânica. Dir. Stanley Kubrick. Reino Unido; EUA: Warner


Bros., 1971. 136 minutos.

1.2.4 Responsabilidade e verdade

Verdade significa aquilo que está intimamente ligado a tudo o que é sincero, que é verdadeiro, é a
ausência da mentira, é a afirmação do que é correto, do que é seguramente o certo e está dentro da
realidade documentada e vivida. O que é verdade? Verdade é aquilo em que você acredita.

O valor da verdade é que, a partir de nossas interpretações sobre os fatos, a forma como pensamos
se incorpora em nossas estruturas sociais e individuais, transformando vidas. A verdade tem valor
significativo no dia a dia, nas políticas de saúde, de educação, economia, religiosidade, entre tantos
outros seguimentos.

As verdades surgem quando vamos interpretar os fatos da vida cotidiana. Então alguém vai dizer:
“A enfermeira não administrou o medicamento corretamente, merece ser processada”. Outro vai dizer:
“O que leva o enfermeiro a fazer isso: falta de recursos ou jornada dupla de trabalho para sustentar os
filhos e ganhar tão pouco?”. Veja, são interpretações diferentes do mesmo fato, o que nos leva a afirmar
que essas pessoas têm valores diferentes, e, portanto, suas verdades são distintas.

Saber o que é verdadeiro na profissão dependerá de disciplina, de pensamentos, experiências e


discussões com a classe profissional, além de conhecimento e aprimoramento contínuos. A percepção,
a sensibilidade e a investigação contribuirão para a verdade.

20
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

As verdades que advêm de múltiplas experiências têm grande valor, e, com base nessa compreensão,
o homem deve tornar-se responsável por aquilo que escolhe ao criar algo em torno de si (OGUISSO;
SCHIMIDT, 2007, p.37). Ser responsável significa assumir a própria vida, jamais justificar seus erros, muito
menos atribuindo a culpa às circunstâncias ou a qualquer outra pessoa, pois nada que não tenhamos
permitido nos acontece, consciente ou inconscientemente.

A responsabilidade é o dever de arcar com as consequências do próprio comportamento ou do


comportamento de outras pessoas. Ser responsável é assumir não somente os próprios acertos, mas
também os próprios erros, sem se envergonhar, mas tirando proveito disso.

1.2.5 Respeito e reciprocidade

Respeito significa consideração, deferência, apreço e reverência. O respeito é um dos valores mais
importantes da convivência entre os seres humanos, e tem grande importância na interação social.
Pensando nas inter-relações da enfermagem, sabemos que o respeito deve ser reverenciado nas ações
diárias, tanto nos relacionamentos multidisciplinares, como no atendimento prestado ao paciente e
na atenção às normas, diretrizes e legislações da profissão. O respeito impede que uma pessoa tenha
atitudes reprováveis em relação à outra.

O enfermeiro deve falar sobre um tema com respeito (como diferentes religiões, crenças e condutas)
e falar de forma ponderada e sensível. Respeitar envolve ouvir o que o outro tem a dizer, buscando
interpretar o que ouvimos, ter compaixão, ser tolerante, honesto e atencioso; é entender a necessidade
do autoconhecimento para poder respeitar a si próprio e, então, respeitar o outro.

A reciprocidade, por sua vez, significa correspondência mútua, recíproca e está intimamente
relacionada ao respeito.

Veja, se o enfermeiro agir com respeito, favorecerá a reciprocidade. É fácil entender. Quando
demonstramos respeito por alguém, por uma situação vivenciada, pela instituição em que trabalhamos,
ocorre a reciprocidade, ou seja, a credibilidade de que nossas ações são dignas de confiança e de respeito.

O contrário também ocorre. Agir com desrespeito resultará na reciprocidade, ou seja, trará àquele
que age assim a imagem de ser um profissional com atitudes não confiáveis perante os olhos do próximo
(paciente, equipe, comunidade) e, logo, indigno de respeito.

Exemplo de aplicação

Sobre respeito e reciprocidade na assistência de enfermagem e de acordo com os princípios éticos-


humanistas, reflita:

• Como enfrentar as dificuldades radicais que se apresentam diante de nós?

• Como atuar no novo cenário em que coisas que fazíamos tão bem precisam ser reaprendidas?

21
Unidade I

• Como lutar sem deixar valores fundamentais?

• Como saber a medida exata no momento certo?

• Como responder aos questionamentos anteriores com respeito e reciprocidade?

Figura 2 – Respeito e reciprocidade

1.3 Responsabilidades ética e legal

A palavra responsabilidade tem origem nas palavras latinas: repondere e responsus e significa
responder ou ser responsável.

Nos dicionários de língua portuguesa Houaiss e Michaellis, encontramos as seguintes definições


para “responsabilidade”:

1. obrigação de responder pelas ações próprias ou dos outros. 2. caráter ou


estado do que é responsável (HOUAISS; VILLAR, 2009).

Dever jurídico de responder pelos próprios atos ou de outrem, sempre que


estes violem os direitos de terceiros protegidos por lei e de reparar os danos
causados [...] Dever de dar conta de alguma coisa que fez ou mandou fazer,
por ordem pública ou particular [...] Imposição legal ou Moral de reparar ou
satisfazer qualquer dano ou perda (POLITO, 2008).

22
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

Na linguagem jurídica, responsabilidade significa violação do direito, o que obriga ao dever da reparação,
com admissão das consequências que o dano cause, conduzindo a uma ordem jurídica na sociedade.

Como enfermeiros, precisamos conhecer e compreender esses conceitos para que a tomada de
decisão tenha não somente o respaldo técnico-científico, mas também a inferência das normas, das
diretrizes e das legislações vigentes.

Estudaremos três tipos de responsabilidades para o exercício profissional do enfermeiro: a


responsabilidade civil, a penal e a ética.

Observação
No caso de o enfermeiro ou de qualquer membro da equipe de
enfermagem ser responsável por algum dano, seja de ordem física
ou psíquica, a alguém, decorrente das práticas de seu exercício
profissional, poderá responder perante a responsabilidade civil, penal
e ética, distintamente.

1.3.1 Responsabilidade civil

A responsabilidade civil parte do posicionamento de que todo aquele que violar um dever jurídico
através de um ato lícito ou ilícito tem o dever de reparar o dano, pois todos temos um dever jurídico
originário: o de não causar danos a outrem. Ao violar esse dever jurídico originário, passamos a ter um
dever jurídico sucessivo, o de reparar o dano que foi causado (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 2).

Chama-se direito civil o ramo do direito que trata do conjunto de normas reguladoras dos direitos
e obrigações de ordem privada concernente às pessoas, aos seus direitos, obrigações, bens e relações
enquanto membros da sociedade.

Em outros tempos, como na época medieval, a resposta a um descumprimento das regras estabelecidas,
mesmo que causado por uma única pessoa, resolvia-se através da vingança coletiva, como as guerras
entre reinos, e com a morte de inúmeros inocentes.

Saiba mais
O filme a seguir pode propiciar uma inter-relação com o conteúdo
sobre a responsabilidade civil reparada por meio de uma guerra. Trata-se
de Troia, filme épico de guerra baseado na Ilíada, célebre poema do autor
grego Homero sobre a guerra de Troia.
TROIA. Dir. Wolfgang Petersen. EUA; Malta; Reino Unido: Warner Bros.,
2004. 163 minutos.

23
Unidade I

Sabe-se também que o homem, em outros tempos, já tratou das reparações dos danos por meio de
sistemas de penas pelos quais o autor de um delito devia sofrer castigo igual ao dano por ele causado.
Eram os tempos daquela que ficou conhecida como a Lei de Talião.

A existência da Lei de Talião foi descoberta por meio do Código de Hamurabi, conjunto de leis
escritas escritas em 1780 a.C., no reino da Babilônia.

Observação

O Código de Hamurabi é um conjunto de 280 leis talhadas numa rocha


de diorito, criadas na Mesopotâmia, por volta do século XVIII a.C, pelo Rei
Hamurabi, da primeira dinastia babilônica. Tendo como objetivo principal
unificar o reino através de um código de leis comuns, Hamurabi mandou
espalhar cópias desse código em várias regiões do reino. O código é baseado
na Lei de Talião: “olho por olho, dente por dente”.

O sistema legislativo que tem como base a Lei de Talião serviu de modelo por séculos, vigorando em
muitas legislações remotas, predominante e comumente na Idade Média.

A Lei de Talião era interpretada não só como um direito, mas até como uma exigência social de
vingança em favor da honra pessoal, familiar ou tribal. A expressão: “olho por olho, dente por dente”
fora vivenciada em quase todas as leis das diversas nações, embora vista por nossos olhos atualmente
como absurda e até passível de causar indignação.

Contudo, temos que ter em mente que se tratava de outra época, em que o homem era
“bárbaro”, tinha pouca ou nenhuma consciência do que era o respeito ao seu semelhante, e
que só era contido pelo medo dos castigos, tão ou mais cruéis do que o ato passível de punição
(MARQUES, 2000). Entre as penas estabelecidas pelo modelo de Lei de Talião, podem-se citar: a
morte, a mutilação através do corte de membros, o tormento, a prisão, o açoite e a multa. Os
crimes sexuais praticados por homens, por exemplo, poderiam ser condenados à castração ou à
amputação do pênis.

Lembrete

Antigamente, a resposta civil se dava através da vingança coletiva,


como as guerras entre reinos, por exemplo. Posteriormente, o conceito de
vingança evoluiu para uma reação individual, como a justiça pelas próprias
mãos, como no caso da Lei de Talião: “olho por olho, dente por dente”.
Atualmente, para se viver em sociedade e reparar um dano causado a
outrem, no Brasil, amparamo-nos pela lei federal, denominada Código de
Direito Civil.

24
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

Em um país há duas leis fundamentais: a Constituição e o Código Civil. A primeira estabelece a


estrutura e as atribuições do Estado em função do ser humano e da sociedade civil; a segunda se refere
à pessoa humana e à sociedade civil como tais, abrangendo suas atividades essenciais. O Código Civil é
“a Constituição do homem comum”, do homem que vive em sociedade, assegurando-lhe, por exemplo,
as reparações aos danos causados por outros, seja direta ou indiretamente.

A reparação de danos, prevista na lei, pode ocorrer de duas formas:

• reparação natural ou específica;

• reparação pecuniária ou por equivalência.

A reparação natural ou específica consiste em reparar o dano causado por meio da indenização de
forma integrável, ou seja, se quebrar um vaso alheio, o responsável comprará outro igual para fazer a
reposição, ou de forma monetária, que possibilitará ao prejudicado adquirir o mesmo vaso.

Na enfermagem, quando causamos um dano a um paciente, a outra pessoa da equipe de trabalho


ou até mesmo à instituição, se esse dano for reparável de forma natural, a substituição ou ressarcimento
monetário serão suficientes.

Por exemplo, imagine um enfermeiro que verifica que o paciente está com uma prótese dentária
que precisa ser retirada para a realização de um exame. O enfermeiro se descuida e perde a prótese do
paciente. Ele, então, de acordo com o Código Civil, irá ressarcir o paciente, para que seja providenciada
nova prótese.

Porém, existem danos que são irreparáveis da forma natural, e a indenização, nesses casos, é feita por
meio de um novo “estado”, o que mais se aproximar do anterior. Ocorre então a reparação denominada
“pecuniária” ou por equivalência, ou seja, um valor monetário é atribuído aos danos de modo que
permita, de forma justa, reparar o dano. Esse preço não é pensado para amenizar a dor, mas para ser
um meio de atenuar as consequências da lesão, pois se sabe que não há equivalência para a dor sofrida
com certos danos.

Exemplo de aplicação

Considere a reparação pecuniária ou por equivalência decorrente de um dano causado acidentalmente,


sem intenção, por um enfermeiro, a um paciente, e que lhe traga, por exemplo, como consequência, a
perda de um dos membros inferiores. Como esta fatalidade poderá ser reparada?

Antes de responder, reflita: trata-se apenas da invalidez? Como podemos reparar os danos
referentes aos seus sentimentos sobre a mudança dos hábitos e da rotina à qual ele tentará se adaptar?
Como reparar o tempo que levará para o paciente se reabilitar e a perda de um membro funcional?
As atividades profissionais exercidas pelo paciente antes do dano continuarão sendo realizadas? Ele
perderá o emprego? E a ansiedade e o medo do enfrentamento dessa nova situação? Como ficará o
deslocamento do paciente para as atividades da vida diária? Como ele enfrentará a sociedade? Poderá
25
Unidade I

tornar-se improdutivo? Terá depressão? Como cuidará de sua família? Ele possui carteira profissional e
é registrado no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), órgão federal pertencente ao Ministério da
Previdência Social, para receber os seus benefícios?

Para ser obrigada a reparar um dano, a pessoa deve ser juridicamente capaz de fazê-lo. De acordo com
o artigo 5º do Código Civil Brasileiro (BRASIL, 2002), são considerados civilmente incapazes indivíduos
menores de 16 anos, e aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tenham necessário
discernimento para a prática desses atos e aqueles que, mesmo por causa transitória, não possam
exprimir sua vontade. Essa incapacidade cessa para os menores por:

• concessão dos pais;

• casamento;

• colação de grau no ensino superior;

• exercício de emprego público efetivo;

• estabelecimento civil ou comercial, desde que o menor, ao completar 16 anos, tenha


economia própria.

Pontos relevantes relacionados à responsabilidade do enfermeiro para se conhecer no Código


Civil brasileiro:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-
lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

[...]

Art. 944: A indenização mede-se pela extensão do dano.

Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da


culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.

[...]

Art. 951: O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de
indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional,
por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente,
agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho
(BRASIL, 2002).
26
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

Como exemplo, o enfermeiro responsável pelo dano físico ou outro ao paciente, de acordo com
o Código Civil, poderá arcar com as despesas do novo tratamento, indenizando o cliente, inclusive
referente aos lucros cessantes, até o fim de sua convalescença. Se houver danos permanentes, poderá,
além disso, ser condenado ao pagamento de pensão vitalícia ao paciente, e decorrendo morte, arcar
com as despesas do funeral, bem como com pensão aos dependentes do falecido (OGUISSO, 2012).

O fato de o enfermeiro ser responsabilizado na esfera civil não afasta a possibilidade de se ver
responsabilizado também na esfera penal e na ético-administrativa (no âmbito do Conselho Federal
de Enfermagem). Deduz-se, portanto, que a responsabilização do enfermeiro pode vir nas três esferas
anteriormente mencionadas, pois são independentes entre si, conforme a legislação vigente.

Saiba mais
Leia os textos a seguir:
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
Brasília, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 15 jul. 2016.
CAVALIERI FILHO, S. Programa de Responsabilidade Civil. 10. ed. São
Paulo: Atlas, 2012.
MARQUES, A. A Lei de Talião ainda sobrevive para o autor do crime
de estupro. 2000. Disponível em: <http://www.soleis.com.br/artigos_taliao.
pdf>. Acesso em: 20 jun. 2016.
RAMOS, V. Responsabilidade civil no direito brasileiro: pressupostos
e espécies. 2014. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/
exibir/8754/Responsabilidade-civil-no-Direito-brasileiro-pressupostos-e-
especies>. Acesso em: 20 jun. 2016.

1.3.2 Responsabilidade penal

O profissional de enfermagem pode ser chamado a responder na esfera penal se for responsável
por danos, lesões físicas ou maus-tratos causados a outras pessoas direta ou indiretamente, mesmo
que sem intenção.

A responsabilidade penal significa a obrigação ou o direito de responder perante a lei por um fato
cometido, fato este considerado pela lei vigente como um crime ou uma contravenção, ou seja, é um
atributo jurídico.

Para ser responsável penalmente por um determinado delito, são necessárias três condições básicas:
ter efetivamente praticado o delito à época do fato, ter tido entendimento do caráter criminoso da ação
e ter sido livre para escolher entre praticá-lo ou não (BRASIL, 1940).
27
Unidade I

Alguns pontos relevantes do Código Penal brasileiro aos quais devemos atentar no exercício
profissional de enfermagem são a coautoria e a falsidade ideológica, por serem infrações que o
enfermeiro pode estar arriscado a cometer em seu dia a dia.

Coautoria significa autoria coletiva, pluralidade de agentes de um crime; sua característica é a


simultaneidade de dois ou mais agentes na prática do mesmo delito, ou seja, quando mais de uma
pessoa, ciente ou voluntariamente, participa da mesma infração penal.

Regras comuns às penas privativas de liberdade

Art. 29 – Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas
a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.

§ 1º – Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída


de um sexto a um terço.

§ 2º – Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave,


ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na
hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave (BRASIL, 1940).

O enfermeiro, como líder de equipe, responde tecnicamente pela equipe e, portanto, se algum técnico
de enfermagem cometer qualquer erro, o enfermeiro será corresponsável pelo ato.

O técnico de enfermagem, por exemplo, poderá alegar que cometeu o delito por nunca ter sido
orientado na instituição sobre esse procedimento. Embora seja obrigação do profissional conhecer e
realizar suas atividades fundamentando-se nas normas técnico-científicas, o juiz poderá interpretar
que a ausência de capacitações e de treinamentos durante o período em que o técnico exerceu suas
atividades na instituição facilitou a ocorrência, e como responsável técnico, o enfermeiro poderá
responder o processo como coautor.

De acordo com a Lei do Exercício Profissional (Lei n° 7.498, de 25 de junho de 1986), ficam claras as
funções privativas do enfermeiro:

Art. 11. O Enfermeiro exerce todas as atividades de enfermagem, cabendo‑lhe:

I – privativamente:

a) direção do órgão de enfermagem integrante da estrutura básica da


instituição de saúde, pública e privada, e chefia de serviço e de unidade de
enfermagem;

c) planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos


serviços da assistência de enfermagem;

28
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

j) prescrição da assistência de enfermagem;

l) cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com risco de vida


(BRASIL, 1986);

Outros exemplos caberiam também, como delegar uma atividade que envolva tecnologia nova
sem preparo ou capacitação prévia da equipe para o uso do novo equipamento. Nesse caso, se algum
integrante da equipe de enfermagem realizar um procedimento com o equipamento em questão que
cause algum dano ao paciente por uso inadequado, o enfermeiro será considerado coautor.

Portanto, fica clara a participação indireta do enfermeiro como líder de equipe e responsável por ela,
sendo vulnerável, no caso, a cometer esse tipo de crime.

E o que fazer para evitar essa vulnerabilidade?

É aconselhável que o enfermeiro tenha um planejamento das atividades desenvolvidas na unidade


em que trabalha, quer seja um hospital, uma unidade básica de saúde ou até mesmo uma empresa.
Nesse planejamento, estão engajados:

• a construção de normas técnicas assistenciais e administrativas, atualizadas de acordo com as


diretrizes vigentes.

• o treinamento e a capacitação técnica da equipe perante as normas descritas, com anuência do


funcionário por meio dos registros dessas práticas educativas.

• a avaliação do profissional capacitado durante as atividades profissionais, da mesma forma,


documentada.

Embora seja esperado que essas ações sejam inerentes no trabalho do enfermeiro, vale a pena
ressaltar que essas três ações distintas permitirão que o enfermeiro trabalhe com segurança legal,
quando pensamos na defesa de algum eventual processo envolvendo crime de coautoria.

Outro tipo de crime previsto no Código Penal brasileiro é a falsidade ideológica. É importante
falarmos a respeito, visto que o enfermeiro, no cotidiano de sua profissão, deve ficar atento, pois poderá
facilmente cometê-lo, tanto por indução quanto por coerção.

A questão concerne os registros de enfermagem. Por meio desses instrumentos, os profissionais de


enfermagem diariamente anotam todas as atividades assistenciais realizadas no cliente ou planejadas
para ele durante o atendimento. Cabe também lembrar que, além das anotações, o enfermeiro,
privativamente, realiza o planejamento das ações de enfermagem para cada paciente, conhecido
como Sistematização da Assistência de Enfermagem. Deixar de registrar informações, por omissão ou
esquecimento, e registrar informações não verdadeiras ou diferentes do ocorrido em encontro com o
paciente poderão ser consideradas infrações penais, ou seja, crime de falsidade ideológica.

29
Unidade I

O Código Penal refere-se ao crime de falsidade ideológica como:

Art 299. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele


devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da
que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante (BRASIL, 1940).

A penalidade prevista é de reclusão de um a cinco anos e multa, se o documento for público; e de


um a três anos, se o documento for particular.

Exemplo de aplicação

Reflita sobre as possibilidades de o enfermeiro ou qualquer outro profissional da equipe de


enfermagem cometer falsidade ideológica.

Será que a falta de tempo, a pressa e as demandas de pacientes de alta complexidade com
dimensionamento de pessoal inadequado, ou até mesmo as superpopulações despejadas nas enfermarias
e nos prontos-socorros, ultrapassando a capacidade prevista de atendimento, não expõem a qualidade
do atendimento, podendo levar à falta de registros ou até mesmo a registros incompletos?

O medo de descrever no prontuário do paciente uma situação vivenciada no ambiente profissional


que possa comprometer a instituição, ou a equipe médica, por exemplo, e de sofrer retaliações pode
levar o enfermeiro a omitir informações importantes?

Outro tema importante previsto no Código Penal brasileiro são os maus-tratos que o enfermeiro
ou algum membro da equipe de enfermagem possa cometer ao deixar de assistir as necessidades do
paciente sob sua responsabilidade, tratando-se especificamente do caso de negligenciar o cuidado.
Verifique que a lei é abrangente, pois considera maus-tratos não apenas a privação da condição física
do cuidado, mas também a privação da educação, guarda ou vigilância ao paciente e à família.

Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade,
guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou
custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis
(BRASIL, 1940).

Observação

Reflita sobre as possibilidades do enfermeiro ou de qualquer outro


profissional da equipe de enfermagem cometer maus-tratos.

As consequências dessas privações, sob o ponto de vista das ações de


enfermagem, podem levar o paciente e a família a lesões físicas e psicológicas.

30
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

Como exemplos dessas consequências, podemos citar desconforto,


infecções, sofrimento ou agravamento da doença e até mesmo antecipação
da morte.

1.3.3 Responsabilidade ética

Ética profissional é o conjunto de normas éticas que formam a consciência do profissional e


representam imperativos de sua conduta.

Observação

O conjunto de valores de uma profissão está expresso nos códigos


de Ética. Na enfermagem, esses valores podem ser a promoção da saúde,
a prevenção das enfermidades, a recuperação da saúde e o alívio do
sofrimento (OGUISSO; SCHIMIDT, 2007).

Somente o ser humano é constituído como ser ético, por causa do uso da razão, capacidade,
liberdade e consciência de seus próprios atos, envolvendo a si mesmo, o outro e a sociedade de acordo
com a interiorização das convicções pessoais. Assim, cada indivíduo possui sua própria Ética (OGUISSO;
SCHIMIDT, 2007, p. 45).

Figura 3 – He that Entereth not by the Door, Udo Keppler (Áustria, 1838-1894), ilustração, 1898

31
Unidade I

2 ÉTICA PROFISSIONAL E AS PRINCIPAIS LEGISLAÇÕES

2.1 Conceitos

A enfermagem compreende um componente próprio de conhecimentos científicos e técnicos, construído


e reproduzido por um conjunto de práticas sociais, éticas e políticas que se processa pelo ensino, pesquisa e
assistência. Realiza-se na prestação de serviços à pessoa, família e coletividade, no seu contexto e circunstâncias
de vida. O aprimoramento do comportamento ético do profissional passa pelo processo de construção de uma
consciência individual e coletiva e pelo compromisso social e profissional configurado pela responsabilidade no
plano das relações de trabalho com reflexos no campo científico e político (COFEN, 2007).

Portanto, é fundamental que a formação do enfermeiro seja desenvolvida por meio de competências
e habilidades, necessitando, assim, de experiências e oportunidades do ensino-aprendizagem que vão
além do cognitivo. Por meio da formação por competências, espera-se que o futuro profissional seja
capaz de articular diversos conhecimentos na solução de problemas do cotidiano, relacionando cultura,
sociedade, saúde, Ética e educação, garantindo capacitação de profissionais com autonomia para
assegurar a integralidade da assistência prestada (BARBOSA; FERNANDES; RIGITANO, 2004).

Saiba mais

Com relação a esse tema, leia:

LIMA, J. O. R. et al. A formação ético-humanista do enfermeiro: um olhar


para os projetos pedagógicos dos cursos de graduação em enfermagem de
Goiânia, Brasil. Interface, Botucatu, v. 15, n. 39, p. 1.111-1.125, out./dez.
2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/icse/2011nahead/aop3211.
pdf>. Acesso em: 23 jun. 2016.

2.1.1 Deontologia

Deontologia é uma filosofia que faz parte da filosofia moral contemporânea, que significa ciência
do dever e da obrigação.

A deontologia é um tratado dos deveres e da Moral. É uma teoria sobre as escolhas dos indivíduos, o
que é moralmente necessário e serve para nortear o que realmente deve ser feito.

Além disso, a deontologia também pode ser o conjunto de princípios e regras de conduta ou deveres
de uma determinada profissão, ou seja, cada profissional deve ter a sua deontologia própria para regular
o exercício da profissão, lembrando que ela deve estar de acordo com o Código de Ética de sua categoria.

Na enfermagem, o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e o Conselho Regional de Enfermagem


(Coren) são responsáveis por nortear e elaborar as normas deontológicas da profissão.

32
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

Observação

O termo “deontologia” (grego “déontos”, que significa “o que é


obrigatório, necessário”) foi criado, no ano de 1834, pelo filósofo inglês
Jeremy Bentham, para falar sobre o ramo da Ética em que o objeto de
estudo é o fundamento do dever e das normas. A deontologia é ainda
conhecida como “Teoria do Dever”.

2.1.2 Diceologia

Diceologia significa o conjunto dos direitos de uma determinada classe social.

O termo disceologia ou diceologia (do grego dikaio + logía) está relacionado, portanto, aos estudos
dos direitos profissionais.

É importante conhecermos essas terminologias, para que vários conceitos de nossa área possam ser
melhor compreendidos.

2.1.3 Imprudência

Segundo o Dicionário Online de Português (2016a), o termo “imprudência” significa “sem prudência;
ausência de cautela”. Dirigir bêbado, por exemplo, é uma imprudência.

Além disso, a imprudência também compreende “comportamento, ação ou discurso da pessoa imprudente;
particularidade ou característica de imprudente” (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2016a).

Sob o aspecto jurídico, imprudência significa “ação irresponsável; falta de observação daquilo que
poderia evitar um mal” (DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2016a).

A seguir incluímos alguns exemplos de uso do termo:

Os integrantes do consórcio e do Metrô foram acusados pelo Ministério


Público Estadual de negligência e de imprudência, com a argumentação de
não terem tomado providências que poderiam evitar a cratera. Folha de São
Paulo, 23/07/2009.

Ele disse ver imprudência e excesso de confiança dos responsáveis e afirmou


que o correto, nesse tipo de situação, é esvaziar o barco antes do reparo.
Folha de São Paulo, 23/07/2009.

Em sua imprudência, sem medo de curvas perigosas, permanecem


trafegando alucinadamente pela via elevada. Folha de São Paulo, 09/08/2009
(DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS, 2016).
33
Unidade I

Na enfermagem, podemos usar o termo imprudência quando realizamos algum ato com afoiteza,
sem considerar as regras, as normas técnicas e deontológicas.

O caso a seguir, retirado de um trecho de uma sentença divulgada no jornal Carta Forense, em 10 de
dezembro de 2002, é um exemplo de imprudência que pode ocorrer na enfermagem.

Imprudência de profissional de enfermagem leva à condenação de hospital

Os desembargadores da 6ª Câmara Cível do TJRS mantiveram parcialmente a condenação


do Hospital Círculo Operário Caxiense e o Círculo Operário Caxiense a indenizarem os pais
pela morte de sua filha em decorrência de erro no atendimento pós-operatório.

[...]

Em julho de 2009, os pais levaram a filha de um ano para realizar uma cirurgia de
gastrostomia. No procedimento cirúrgico, seria criado um orifício artificial externo ao
estômago da menina para auxiliar na alimentação e suporte nutricional. Os autores da
ação narraram que a bebê também apresentava início de pneumonia, de forma que foram
orientados a realizar, também, uma traqueostomia no Hospital Círculo Operário Caxiense,
em Caxias do Sul.

A medida era para facilitar a respiração da menor que sofria de uma síndrome. A
cirurgia durou cerca de uma hora. Na troca de plantão, no turno da noite, a enfermeira que
ingressou insistiu em dar banho na criança, mesmo advertida pela mãe sobre as orientações
do médico de não realizá-lo. Após o banho, o cordão da traqueostomia da paciente ficou
solto e a técnica de enfermagem, achando que resolveria sozinha, constatou que a criança
estava cianótica. Buscou, então, ajuda com a médica plantonista e outra enfermeira, que
tentaram reverter o quadro, mas a menina teve uma parada cardíaca, que a levou à morte,
devido ao deslocamento da cânula.

Fonte: Ascom-TJ/RS (2012).

No caso anterior, podemos perceber que, ao agir com afoiteza, sem questionar o que deveria ser
realizado, a técnica de enfermagem tomou a frente e realizou cuidados que, mesmo sem intenção de
prejudicar a criança, acabaram levando a assistência prestada a um resultado desastroso.

34
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

Saiba mais

Consulte a reportagem na íntegra:

ASCOM-TJ/RS. Imprudência de profissional de enfermagem leva à


condenação de hospital. Carta Forense, 10 dez. 2012. Disponível em: <http://
www.cartaforense.com.br/conteudo/noticias/imprudencia-de-profissional-
de-enfermagem-leva-a-condenacao-de-hospital/9594?fb_comment_id=
397113500368385_979885365424526#f2c73c5aa9324c>. Acesso em: 4
ago. 2016.

Com relação a esse tema, leia o texto a seguir:

FREITAS, G. S.; OGUISSO, T. Ocorrências éticas na Enfermagem. Revista


Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 56, n. 6, p. 637-639, 2003. Disponível
em: <http://www.scielo.br/pdf/reben/v56n6/a09v56n6.pdf>. Acesso em: 23
jun. 2016.

No Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, encontram-se reunidas as normas e


princípios, direitos e deveres pertinentes à conduta ética do profissional, e, entre elas, no Capítulo
1, Sessão I, como dever do profissional de enfermagem, prevê-se: “Art. 12 – Assegurar à pessoa,
família e coletividade assistência de enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia,
negligência ou imprudência” (COFEN, 2007). Esse artigo é importante porque estabelece o
compromisso entre o profissional da enfermagem e o seu cliente, para que o melhor seja feito, de
acordo com as diretrizes técnico-científicas e éticas.

2.1.4 Negligência

A negligência pode ser definida como inércia psíquica, a indiferença do agente que, podendo tomar
as devidas cautelas exigíveis, não o faz por displicência ou preguiça mental (DICIONÁRIO ONLINE DE
PORTUGUÊS, 2016b).

Portanto, negligenciar o atendimento de um paciente é um ato grave, podendo implicar muitas


vezes em consequências sérias. Como exemplo: um paciente queixa-se de dor e o enfermeiro ignora esta
queixa e não o medica. Dizemos que ele negligenciou as queixas de dor do paciente, que sofrerá em seu
leito, mesmo havendo em sua prescrição médica uma conduta que o livraria desse desfortuno.

Outro exemplo, com consequência mais grave, seria identificar que o paciente está com sinais e
sintomas de choque hemorrágico e ignorar uma conduta, levando o paciente a óbito, para o qual
responderá nas esferas civil, penal e ética.

35
Unidade I

É importante que o enfermeiro esteja sempre atento para o desempenho de suas funções/
atribuições, exercendo sua profissão com domínio técnico e científico, sendo pró-ativo, interessado
e compromissado com a equipe e com os pacientes.

2.1.5 Imperícia

Imperícia é sinônimo de inaptidão, ignorância, falta de qualificação técnica, teórica ou prática, ou


ausência de conhecimentos elementares e básicos da profissão. É a falta de habilidade para praticar
determinados atos que exigem certo conhecimento na área. Um enfermeiro que, ao realizar o curativo
em uma ferida no paciente, utilize produtos contraindicados a essa lesão, pode ser acusado de imperícia.

Seria importante ressaltar que a falta de atualização por parte do profissional de enfermagem pode
fazer com que ele faça procedimentos errados e cause danos ao paciente, o que é considerado imperícia.
O que em um determinado momento pode ser considerado um procedimento adequado, pode passar a
não sê-lo mais com a evolução da tecnologia e do conhecimento científico. Descobertas trarão novas
recomendações e diretrizes, das quais o profissional tem a responsabilidade de se informar, aprimorando-
se por meio da capacitação e atualização científica.

Um exemplo pode ser visto na figura a seguir: a enfermeira aparece oferecendo ao recém-nascido
uma mamadeira com leite. Atualmente, essa imagem já não condiz com as diretrizes de saúde mundial
em relação ao cuidado com o recém-nascido, pois preconiza-se o aleitamento materno exclusivo e
abomina-se o uso de bicos e intermediários.

Um profissional de enfermagem que tenha recebido essas informações em sua graduação e depois
não se atualize, visto que a tecnologia e os conhecimentos avançam dia a dia, poderá estar cometendo
imperícia ao oferecer como primeira escolha a mamadeira ao recém-nascido.

Figura 4

36
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

Saiba mais

Leia o texto a seguir:

FAKIH, F. T.; FREITAS, G. F.; SECOLI, S. R. Medicação: aspectos ético-legais no


âmbito da enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, Associação Brasileira
de Enfermagem, v. 62, n. 1, p. 132-135, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672009000100020&lng=pt&n
rm=iso>. Acesso em: 29 jun. 2016.

2.2 Lei do Exercício Profissional

Depois de um processo de quase 10 anos de luta pela atualização do exercício profissional da


enfermagem, da Lei n° 2.604, de 17 de setembro de 1955, no dia 8 de junho de 1987, o Presidente da
República assinou o Decreto n° 94.406, que regulamenta a Lei n° 7.498, de 25 de junho de 1986, que
dispõe sobre o exercício profissional da enfermagem.

Mas o que isso significa para os profissionais da enfermagem, principalmente para o enfermeiro?

Trata-se da lei mais importante de nossa categoria profissional, a Lei do Exercício Profissional (Lei nº
7.498/1986), que regulamenta o exercício da Enfermagem, reconhecendo o diploma do enfermeiro em
todo o território nacional.

Ela reconhece as categorias profissionais de enfermagem, como o enfermeiro, o técnico e o auxiliar


de enfermagem, estabelecendo as principais atribuições para o exercício profissional de cada uma.

Para o enfermeiro, essa lei define e assegura especificamente suas atividades, inclusive considerando
algumas privativas, ou seja, atividades que só podem ser exercidas pelo enfermeiro, garantindo e
assegurando seu diploma e estabelecendo a finalidade de seu trabalho.

Art. 11. O Enfermeiro exerce todas as atividades de Enfermagem, cabendo‑lhe:

I – privativamente:

a) direção do órgão de enfermagem integrante da estrutura básica da


instituição de saúde, pública ou privada, e chefia de serviço e de unidade
de Enfermagem;

b) organização e direção dos serviços de enfermagem e de suas atividades


técnicas e auxiliares nas empresas prestadoras desses serviços;

c) planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos


serviços de assistência de enfermagem;

37
Unidade I

[...]

h) consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre matéria de Enfermagem;

i) consulta de Enfermagem;

j) prescrição da assistência de enfermagem;

l) cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com risco de vida;

m) cuidados de Enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam


conhecimentos de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas
(BRASIL, 1986).

Além disso, a Lei do Exercício Profissional define também as atividades que o enfermeiro deverá
exercer perante a equipe de saúde, estabelecendo que lhe cabe:

II – Como integrante da equipe de saúde:

a) participação no planejamento, execução e avaliação da programação


de saúde;

b) prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde


pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde;

c) prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde


pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde;

d) participação em projetos de construção ou reforma de unidades internação;

e) prevenção e controle sistemático de infecção hospitalar e de doenças


transmissíveis em geral;

[...]

g) assistência de enfermagem à gestante, parturiente e puérpera;

h) acompanhamento da evolução e do trabalho de parto;

i) execução do parto sem distocia (BRASIL, 1986);

Embora essa legislação assegure as condições e as atividades de uma profissão, refletindo a


situação objetiva das relações entre os profissionais de enfermagem que ela representa, e não do
desejo de um grupo isolado de enfermeiros ou de seus dirigentes, atendendo as situações dadas,
38
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

é preciso continuar conquistando e discutindo nossa profissão para podermos fortalecer cada vez
mais o que já foi conquistado.

Não será a lei que vai trazer, por si só, pela chamada “força da lei”, a
conquista das nossas aspirações e reivindicações. Poderemos ter leis mais
ou menos avançadas, porém, elas não substituem a nossa força concreta,
resultado do nosso grau de organização, no contexto da sociedade. Esse
entendimento é fundamental para orientar a nossa análise e considerações
sobre a legislação de enfermagem (LORENZETTI, 1987).

2.3 Resoluções relevantes do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen)

As resoluções são atos administrativos normativos que partem de autoridades superiores e não
podem diferir ou modificar os regulamentos e os regimentos da legislação, mas explicá-los.

Dessa forma, a seguir incluiremos alguns exemplos de resoluções importantes no exercício profissional
do enfermeiro, e procurar tornar clara a relevância dessas normas.

2.3.1 Resolução Cofen nº 390/2011

Essa resolução normatiza a execução pelo enfermeiro da punção arterial tanto para fins de
gasometria como para monitorização de pressão arterial invasiva, considerando a punção arterial para
fins de gasometria e monitorização de pressão arterial invasiva como um procedimento complexo, que
demanda competência técnica e científica em sua execução.

Saiba mais

Leia a resolução na íntegra:

CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Resolução nº


390/2011. Normatiza a execução, pelo enfermeiro, da punção arterial
tanto para fins de gasometria como para monitorização de pressão arterial
invasiva. Brasília, 2011. Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/resoluo-
cofen-n-3902011_8037.html>. Acesso em: 28 jul. 2016.

2.3.2 Resolução Cofen nº 389/2011

Atualiza, no âmbito do Sistema Cofen, os procedimentos para registro de título de pós-graduação


lato e stricto sensu concedido a enfermeiros, e lista as especialidades, considerando que compete ao
Cofen manter atualizado o registro cadastral de seus profissionais inscritos, e que tais assentamentos
devem retratar o perfil da população de enfermeiros a fim de estabelecer políticas de qualificação do
exercício profissional, comforme dita o artigo 1:
39
Unidade I

Ao Enfermeiro detentor de títulos de pós-graduação (lato e stricto sensu) é


assegurado o direito de registrá-los no Conselho Regional de Enfermagem
de sua jurisdição, conferindo legalidade para atuação na área especifica do
exercício profissional (COFEN, 2011d).

Saiba mais

Leia a resolução na íntegra:

CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Resolução nº 389/2011.


Atualiza, no âmbito do Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem,
os procedimentos para registro de título de pós-graduação lato e stricto
sensu concedido a enfermeiros e lista as especialidades. Brasília, 2011.
Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-n-3892011_8036.
html>. Acesso em: 28 jul. 2016.

2.3.3 Resolução Cofen nº 388/2011

Normatiza a execução, pelo enfermeiro, do acesso venoso, via cateterismo umbilical, considerando o
acesso venoso, via cateterismo umbilical, como um procedimento complexo, que demanda competência
técnica e científica em sua execução.

Saiba mais

Leia a resolução na íntegra:

CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Resolução nº 388/2011.


Normatiza a execução, pelo enfermeiro, do acesso venoso, via cateterismo
umbilical. Brasília, 2011. Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/resoluo-
cofen-n-3882011_8021.html>. Acesso em: 28 jul. 2016.

2.3.4 Resolução Cofen nº 381/2011

Normatiza a execução, pelo enfermeiro, da coleta de material para colpocitologia oncótica pelo
método de Papanicolau, considerando:

[...] o Artigo 11, inciso I, alínea ” m “, da Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986,


segundo o qual o Enfermeiro exerce todas as atividades de Enfermagem,
cabendo-lhe, privativamente, a execução de cuidados de enfermagem de

40
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

maior complexidade técnica e que exijam conhecimentos de base científica


e capacidade de tomar decisões imediatas;

[...]

[e considerando] a magnitude epidemiológica, econômica e social do câncer


do colo do útero, e a Portaria GM/MS nº 2.439, de 8 de dezembro de 2005,
que institui a Política Nacional de Atenção Oncológica (COFEN, 2011b);

Saiba mais

Leia a resolução na íntegra:

CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Resolução nº


381/2011. Normatiza a execução, pelo enfermeiro, da coleta de material
para colpocitologia oncótica pelo método de Papanicolau. Brasília, 2011.
Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-n-3812011_7447.
html>. Acesso em: 28 jul. 2016.

2.3.5 Resolução Cofen nº 376/2011

Dispõe sobre a participação da equipe de enfermagem no processo de transporte de pacientes em


ambiente interno aos serviços de saúde, considerando as possíveis intercorrências que põem em risco a
integridade do paciente durante o transporte em ambiente interno aos serviços de saúde.

Art. 1° Os profissionais de Enfermagem participam do processo de transporte


do paciente em ambiente interno aos serviços de saúde, obedecidas as
recomendações deste normativo:

I – na etapa de planejamento, deve o Enfermeiro da Unidade de origem:

a) avaliar o estado geral do paciente;

b) antecipar possíveis instabilidades e complicações no estado geral do paciente;

c) prover equipamentos necessários à assistência durante o transporte;

d) prever necessidade de vigilância e intervenção terapêutica durante


o transporte;

e) avaliar distância a percorrer, possíveis obstáculos e tempo a ser despendido


até o destino;

f) selecionar o meio de transporte que atenda às necessidades de segurança


do paciente;
41
Unidade I

g) definir o(s) profissional(is) de Enfermagem que assistirá(ão) o paciente


durante o transporte; e

h) realizar comunicação entre a Unidade de origem e a Unidade receptora


do paciente;

II – na etapa de transporte, compreendida desde a mobilização do paciente


do leito da Unidade de origem para o meio de transporte, até sua retirada
do meio de transporte para o leito da Unidade receptora:

a) monitorar o nível de consciência e as funções vitais, de acordo com o


estado geral do paciente;

b) manter a conexão de tubos endotraqueais, sondas vesicais e nasogástricas,


drenos torácicos e cateteres endovenosos, garantindo o suporte
hemodinâmico, ventilatório e medicamentoso ao paciente;

c) utilizar medidas de proteção (grades, cintos de segurança, entre outras)


para assegurar a integridade física do paciente; e

d) redobrar a vigilância nos casos de transporte de pacientes obesos, idosos,


prematuros, politraumatizados e sob sedação;

III – na etapa de estabilização, primeiros trinta a sessenta minutos pós


transporte, deve o Enfermeiro da Unidade receptora:

a) atentar para alterações nos parâmetros hemodinâmicos e respiratórios do


paciente, especialmente quando em estado crítico.

Art. 3º Não compete aos profissionais de Enfermagem a condução do meio


(maca ou cadeira de rodas) em que o paciente está sendo transportado.

Parágrafo Único. As providências relacionadas a pessoal de apoio (maqueiro)


responsável pela atividade a que se refere o caput deste artigo não são de
responsabilidade da Enfermagem (COFEN, 2011a).

Saiba mais

Leia a resolução na íntegra:

CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Resolução nº


376/2011. Dispõe sobre a participação da equipe de Enfermagem no
processo de transporte de pacientes em ambiente interno aos serviços de
saúde. Brasília, 2011. Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/resoluo-
cofen-n-3762011_6599.html>. Acesso em: 28 jul. 2016.

42
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

2.3.6 Resolução Cofen nº 516/2016

Normatiza a atuação e a responsabilidade do enfermeiro, enfermeiro obstetra e obstetriz na


assistência às gestantes, parturientes, puérperas e recém-nascidos nos serviços de obstetrícia, centros
de parto normal e/ou casas de parto e outros locais onde ocorra essa assistência. Além disso, estabelece
critérios para registro de títulos de Enfermeiro Obstetra e Obstetriz no âmbito do Sistema Cofen/Coren,
e dá outras providências.

Essa resolução assegura o exercício profissional do enfermeiro na assistência ao parto normal e


natural com uma abordagem humanizada, além da assistência à mulher, ao recém-nascido, à família e
abre as portas para a atuação em um espaço importante no cenário da saúde materno-infantil no Brasil.

Saiba mais

Leia a resolução na íntegra:

CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Resolução n° 516/2016.


Normatiza a atuação e a responsabilidade do enfermeiro, enfermeiro
obstetra e obstetriz na assistência às gestantes, parturientes, puérperas e
recém-nascidos nos Serviços de Obstetrícia, Centros de Parto Normal e/
ou Casas de Parto e outros locais onde ocorra essa assistência; estabelece
critérios para registro de títulos de Enfermeiro Obstetra e Obstetriz no âmbito
do Sistema Cofen/Coren, e dá outras providências. Brasília, 2016. Disponível
em: <http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-05162016_41989.html>.
Acesso em: 28 jul. 2016.

2.3.7 Resolução Cofen nº 487/2015

Veda aos profissionais de Enfermagem o cumprimento da prescrição médica a distância e a execução


da prescrição médica fora da validade.

Art. 1º É vedado aos profissionais de Enfermagem o cumprimento de


prescrição médica a distância fornecida por meio de rádio, telefones fixos
e/ou móveis, mensagem de SMS (short message service), correio eletrônico,
redes sociais de internet ou quaisquer outros meios onde não conste o
carimbo e assinatura do médico.

[...]

Art. 3º É vedado aos profissionais de Enfermagem a execução de prescrição


médica fora da validade.

43
Unidade I

Art. 4º Findada a validade da prescrição médica, os profissionais de


Enfermagem poderão adotar as seguintes providências:

I – Em caso de prescrições médicas hospitalares com mais de 24


horas ou protocolos de quimioterapia finalizados, informar ao médico
plantonista, ou médico supervisor/coordenador da clinica/unidade ou
responsável pelo corpo clínico da instituição para tomar providências
cabíveis (COFEN, 2015).

Essa resolução normatiza e ampara uma situação corriqueira que o profissional de enfermagem
vivencia em seu dia a dia, principalmente no âmbito hospitalar. Não é incomum identificar que o
paciente está com dor. Nesse caso, o profissional de enfermagem poderá medicá-lo, para tratar
este sintoma e amenizar o sofrimento do paciente. Porém, o enfermeiro, ou outro profissional
de enfermagem habilitado somente poderá administrar esta medicação caso esteja prevista e
prescrita pelo médico.

Imagine, por exemplo, que, ao verificar que o analgésico não está prescrito, o enfermeiro entra em
contato telefônico com o médico responsável pelo paciente. O médico, ao perceber que se esqueceu de
planejar o analgésico para o paciente, solicita que o enfermeiro administre a droga ao paciente. Como
o enfermeiro deverá proceder?

É importante entender que essa situação é conflitante, pois o enfermeiro tem, entre outras funções, a
de avaliar a dor do paciente, intervir e avaliar a sua intervenção. Isso porque a Resolução 487/2015 deixa
clara a inviabilidade de medicar um paciente por outras vias que não a escrita e assinada pelo médico,
salvo os protocolos firmados nos estabelecimentos de saúde privados e nas secretarias municipais de
saúde. Essa resolução assegura o exercício profissional e a segurança do paciente, evitando a ocorrência
de eventuais erros técnicos, que, por ventura, possam ser negados pelo médico.

É importante esclarecer que o enfermeiro poderá prescrever determinadas drogas, desde que estejam
protocoladas nas instituições de saúde.

A Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reconhece a atribuição do enfermeiro sobre a


prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina aprovada pela
instituição de saúde, conforme a Lei nº 7.498/86.

Assim, com o art. 4º da RDC n° 20/2011, fica claro que a prescrição medicamentosa é de
atribuição de todo e qualquer profissional regularmente habilitado, não se tratando, portanto,
de ato exclusivamente médico. Através dessa Resolução da Anvisa, ficou estabelecido o que a
legislação federal já previa: que o enfermeiro realiza prescrições de medicamentos pertencentes
ao programa de saúde pública, tendo em vista também a relação de medicamentos certos e
previstos no programa ou rotina da instituição.

Os gestores de cada unidade de dispensação não podem negar-se a fornecer o medicamento


prescrito pelo enfermeiro, uma vez que este esteja vinculado à instituição que contenha programa,
44
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

protocolos de saúde pública ou rotinas aprovadas pela instituição de saúde, por exemplo, Ministério da
Saúde, secretarias municipais e estaduais de saúde.

Nessa ordem de ideias, todo e qualquer cidadão que tenha sido atendido por enfermeiro em
algum programa de saúde e esteja portando um receituário com pedido de medicamentos que
prescreva antimicrobianos não pode ter negada a venda ou entrega do medicamento, pois a nova
Resolução 20/2011 da Anvisa está em plena conformidade com o estatuído no artigo 11, II, “c”
da Lei 7.498/86.

Saiba mais

Leia a resolução na íntegra:

CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Resolução nº 487/2015.


Veda aos profissionais de Enfermagem o cumprimento da prescrição
médica a distância e a execução da prescrição médica fora da validade.
Brasília, 2015. Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-
no-4872015_33939.html>. Acesso em: 28 jul. 2016.

2.4 Código de Ética dos profissionais de enfermagem e os dilemas éticos

O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem reúne normas e princípios, direitos e deveres
pertinentes à conduta ética do profissional, que deverá ser assumida por todos, e levar em consideração,
prioritariamente, a necessidade e o direito da assistência de enfermagem à população, os interesses do
profissional e da sua organização.

O Código está centrado na clientela e pressupõe que os agentes de trabalho de enfermagem estejam
aliados aos usuários na luta por uma assistência de qualidade, sem riscos, e acessível a toda a população:

A enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde e a


qualidade de vida da pessoa, família e coletividade.

O profissional de enfermagem atua na promoção, prevenção,


recuperação e reabilitação da saúde, com autonomia e em consonância
com os preceitos éticos e legais. O profissional de enfermagem
participa, como integrante da equipe de saúde, das ações que visem
satisfazer as necessidades de saúde da população e da defesa dos
princípios das políticas públicas de saúde e ambientais, que garantam
a universalidade de acesso aos serviços de saúde, integralidade da
assistência, resolutividade, preservação da autonomia das pessoas,
participação da comunidade, hierarquização e descentralização
político-administrativa dos serviços de saúde.
45
Unidade I

O profissional de enfermagem respeita a vida, a dignidade e os


direitos humanos, em todas as suas dimensões.

O profissional de enfermagem exerce suas atividades com competência


para a promoção do ser humano na sua integralidade, de acordo com
os princípios da ética e da bioética (COFEN, 2007).

O Código de Ética do Profissional de Enfermagem (Cepe) teve como referência os postulados


da Declaração Universal dos Direitos do Homem, promulgada pela Assembleia Geral das Nações
Unidas em 1948 e adotada pela convenção de Genebra da Cruz Vermelha em 1949. Constam
ainda como suas referências as diretrizes contidas no Código de Ética do Conselho Internacional
de Enfermeiros (1953) e no Código de Ética da Associação Brasileira de Enfermagem (1975). São
referências, ainda, o Código de Deontologia de Enfermagem do Conselho Federal de Enfermagem
(1976), as normas internacionais e nacionais sobre pesquisa em seres humanos (Declaração de
Helsinque, de 1964, revista em Tóquio, em 1975), e a resolução nº 1 do Conselho Nacional de
Saúde, Ministério da Saúde, 1988.

O Cepe foi atualizado em 2007 e encontra-se descrito na Resolução 311/2017 do Cofen. Ele é um
documento de fundamental importância por tratar das diretrizes éticas do exercício profissional da
enfermagem e nele encontram-se 132 artigos distribuídos em sete capítulos, que podem ainda aparecer
subdivididos em seções.

• Capítulo I: trata das relações profissionais e contempla quatro sessões, concentrando a maioria
dos artigos (80, dos 132).

• Capítulo II: trata do sigilo profissional.

• Capítulo III: trata do ensino, da pesquisa e da produção técnico-científica.

• Capítulo IV: trata da publicidade.

• Capítulo V: trata das infrações e das penalidades.

• Capítulo VI: trata da aplicação das penalidades.

• Capítulo VII: trata das disposições gerais.

Dentro de cada capítulo, os artigos abordam cada normativa considerando os direitos, as


responsabilidades, os deveres e as proibições. Essas divisões facilitam para o profissional consultar suas
dúvidas sobre o exercício profissional, de acordo com o tema tratado em cada capítulo.

Segue um exemplo de como as diretrizes éticas da profissão de enfermagem estão estabelecidas e


disponibilizadas no Cepe, de acordo com os direitos, responsabilidades, deveres e proibições:

46
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

CAPÍTULO I – SEÇÃO I – DAS RELAÇÕES COM A PESSOA, FAMÍLIA E


COLETIVIDADE.

DIREITOS

Art. 10 – Recusar-se a executar atividades que não sejam de sua competência


técnica, científica, ética e legal ou que não ofereçam segurança ao
profissional, à pessoa, família e coletividade.

[...]

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 12 – Assegurar à pessoa, família e coletividade assistência de enfermagem


livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência.

[...]

PROIBIÇÕES

Art. 26 – Negar assistência de enfermagem em qualquer situação que se


caracterize como urgência ou emergência (COFEN, 2007).

Podemos observar que o mesmo padrão de construção encontra-se presente nas demais sessões e
capítulos do código, e que os artigos aparecem em ordem numérica, sequencial, independente do capítulo.

Um fato importante sobre o Cepe é que ele ampara o enfermeiro nas tomadas de decisão, assim
como aponta normas e princípios que orientam as práticas de Enfermagem, assegurando a qualidade
da assistência prestada ao paciente, à família e à comunidade.

Estudo de caso

Observe um dilema ético que vamos tomar como exemplo para a aplicação prática dos
recursos e da utilização do Cepe.

Maria é técnica de enfermagem em um hospital. Trabalha em uma enfermaria onde


frequentemente o número de internados ultrapassa a capacidade máxima de internação.
Em decorrência disso, o número de pacientes sob seus cuidados é o dobro do recomendado,
e ela percebe que seu trabalho, assim como de toda a equipe de enfermagem, não está
acontecendo da forma como precisaria acontecer, o que ocasiona riscos de ocorrerem
imprudências e até mesmo negligências, principalmente pela falta de tempo. Maria expôs
o problema à enfermeira responsável pelo plantão e aguarda a orientação da atitude que
deverá ser adotada com a equipe de trabalho.

No caso descrito, Maria poderia embasar-se no Cepe para recusar-se a continuar


atendendo os pacientes nessas condições?

47
Unidade I

A resposta é afirmativa. Verificando o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem,


é possível ver que Maria tem o direito de recusar-se a trabalhar nessas condições:

Capítulo I – Seção I – Art. 10 – Recusar-se a executar atividades que não sejam de


sua competência técnica, científica, ética e legal ou que não ofereçam segurança
ao profissional, à pessoa, família e coletividade (COFEN, 2007).

Porém cabe ressaltar que a tomada de decisão de Maria tem que ser bem pensada,
visto que também é previsto no Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem que
é proibido colocar em risco a vida do paciente, principalmente se ele estiver com risco
de morte:

Capítulo I – Seção I – Art. 21 – Proteger a pessoa, família e coletividade


contra danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência por
parte de qualquer membro da equipe de saúde.

Art. 26 – Negar assistência de enfermagem em qualquer situação que se


caracterize como urgência ou emergência (COFEN, 2007).

Dessa forma, fica claro que a tomada de decisão, mesmo que amparada pelos preceitos
éticos normatizados, implica uma reflexão e julgamento prévios para que a conduta
escolhida contribua para melhorar ou amenizar o problema em questão, e não o contrário.
Esse exercício é fundamental para se atender às necessidades recomendadas, sem causar
danos a outrem.

Nesse caso exemplificado, Maria poderia escolher simplesmente parar as atividades,


alegando estar amparada pelas normas do Código de Ética. Porém, será que sua
atitude traria os melhores resultados ou acarretaria uma piora na assistência que já se
encontra abalada?

Então, como resolver o problema? Aceitar as péssimas condições de trabalho e ficar


exposto a cometer um erro e ser responsabilizado por ele? Rezar para que nada aconteça e
que o plantão termine logo e, portanto, jogar com a sorte?

Muitas vezes, em nossas atividades diárias da profissão, estaremos expostos a alguns


dilemas éticos para aos quais não temos um caminho claro a seguir. A melhor escolha
surgirá após a análise do problema e das consequências das atitudes que serão tomadas.
Pensar e resolver com discernimento, procurando a melhor resposta para a situação, talvez
seja o mais sensato, pois a tomada de decisão pautada em impulsos, descontentamento e
rancor pode resultar em catástrofes.

Talvez a melhor decisão de Maria, embora amparada pelo Código de Ética dos
Profissionais de Enfermagem, seja, em um momento oportuno, relatar verbalmente
essas ocorrências contínuas de falta de profissionais para atendimento ao paciente
48
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

ao superior imediato. Poderia ainda, em seu relato, além de apontar as contínuas e


inconsistentes condições de trabalho e as possíveis consequências, sugerir melhorias,
pois a proatividade mostrará seu interesse em contribuir com a solução do problema.
Da mesma forma, deveria relatar as ocorrências, por escrito, documentando o ocorrido,
e enviar o documento protocolado a um responsável direto, que pode ser a supervisora,
a coordenadora ou até mesmo a diretora do serviço de enfermagem, de acordo com o
cronograma institucional.

Essas atitudes mostram o interesse em melhorar ou evitar o problema em questão,


evidenciando que a responsabilidade dessas falhas não será apenas de quem houver
realizado os cuidados diretamente aos pacientes, e sim da instituição como um todo.

Discutir um problema profissional, seja ele considerado simples ou de maior


intensidade, é fundamental para que se preserve a autonomia profissional, o respeito
e a reciprocidade a fim de que a tomada de decisão esteja a contento da maioria, traga
mais benefícios que malefícios aos envolvidos e, principalmente, garanta a segurança
do paciente.

Saiba mais

Consulte:

CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Resolução n° 311/2007.


Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Brasília, 2007. Disponível em:
<http://se.corens.portalCOFEn.gov.br/codigo-de-etica-resolucao-COFEn-
3112007>. Acesso em: 28 jul. 2016.

ALMEIDA, M. L. et al. Instrumentos gerenciais utilizados na tomada de decisão


do enfermeiro no contexto hospitalar. Texto Contexto Enfermagem, Florianópolis,
v. 20, número especial, p. 131-137, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072011000500017&lng=en&nrm
=iso>. Acesso em: 8 ago. 2016.

2.5 Entidades de classe e a Enfermagem

Há várias entidades que representam os profissionais de enfermagem, com a missão de integrar


a categoria e alcançar objetivos importantes, seja negociando com o empregador, seja com o poder
público e com a sociedade. Dentre elas, podemos citar: sindicatos, conselhos de enfermagem (federal e
estaduais) e as associações e sociedades de especialistas.

49
Unidade I

2.5.1 Sindicatos

Os sindicatos são órgãos responsáveis pela defesa dos direitos do trabalhador. No Brasil, surgiram
com a industrialização e receberam tratamento especial da Constituição de 1988, que lhes concedeu
autonomia e lhes atribuiu o direito de recolhimento anual de contribuição sindical, destinado a manter
o sindicato em atividade.

No Brasil, dependendo do estado, há sindicatos específicos para os enfermeiros.

As funções primordiais do sindicato são trabalhar para fornecer orientação jurídica ao profissional e
lutar por melhores condições de trabalho.

Saiba mais

Leia mais sobre as entidades de classe na enfermagem consultando:

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO (COREN-SP). Quais


são e para que servem: conheça as entidades de enfermagem e o que elas podem
fazer por você. Enfermagem Revista, p. 33-40, 2016. Disponível em: <http://
www.coren-sp.gov.br/sites/default/files/08-quais_sao_e_para_que_servem_0.
pdf>. Acesso em: 8 ago. 2016.

2.5.2 Associações e sociedades de especialistas

Associação Brasileira de Enfermagem (Aben)

A Aben é a primeira associação da categoria e permanece operante até os dias atuais em todo o
território nacional. Ela tem como princípios a defesa e a consolidação da enfermagem como prática
social essencial na assistência à saúde e na organização e funcionamento dos serviços de saúde. De
acordo com seu caráter cultural, científico e político, oferece apoio às organizações de enfermagem
brasileiras – autárquicas, sindicais e/ou científicas.

Tem como compromisso ético, político e técnico propor e defender políticas e programas que visem
à melhoria da qualidade de vida da população, a um maior grau de resolutividade dos seus problemas
de saúde e à garantia do acesso universal e equânime aos serviços de saúde (ABEN, 2012).

A associação possui capacidade jurídica própria, de direito privado, congrega profissionais da


enfermagem, estudantes da área, instituições de ensino de enfermagem e associações ou sociedades de
especialistas que a ela se associam. É regida por estatuto nacional e estatutos estaduais.

Ela foi criada em 12 de agosto de 1926, no Rio de Janeiro, com outra denominação, porém com os
mesmos propósitos dos atuais:
50
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

Em 1926, as primeiras Enfermeiras formadas pela Escola de Enfermeiras


do Departamento Nacional de Saúde Pública, atual Escola de Enfermagem
Anna Nery, no Rio de Janeiro, criaram a Associação Nacional de Enfermeiras
Diplomadas. Manteve esse nome até 1928, quando passou a ser denominada
de Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas, quando, então, foi
registrada juridicamente. Em 1954, Associação passou a denominar-se
Associação Brasileira de Enfermagem (Aben), mantendo-se com esse nome
até a atualidade (ABEN, [s.d.]).

Observação

A Aben tem como natureza ser pessoa jurídica de direito privado e


como principal atribuição promover o desenvolvimento técnico-científico,
cultural e político dos profissionais de enfermagem no País, pautando-se
em princípios éticos. Sua sede fica em Brasília, DF (COREN-SP, 2016).

Principais associações e sociedades de especialistas de enfermagem

A partir da Aben, inúmeras outras associações e sociedades de especialistas surgiram em todo Brasil,
fortalecendo a profissão.

Uma sociedade de especialistas visa ao reconhecimento profissional e ao aprimoramento do


exercício da profissão, através da interação científica e política entre seus membros. Oferece,
assim, assessoria jurídica, estudos, debates e seminários, além de benefícios, como convênios
de serviços.

Observação

As sociedades de especialistas têm como natureza ser pessoa jurídica de


direito privado e como principal atribuição oferecer possibilidades de troca
e compartilhamento de informações e experiências entre colegas da área
de especialização. Seus principais serviços incluem: boletins informativos,
palestras, painéis, fóruns e congressos, estudos e parcerias com cursos
profissionalizantes (variam de acordo com a sociedade). O valor da mensalidade
do associado oscila de acordo com a sociedade (COREN-SP, 2016).

Assim, é importante que o aluno da graduação conheça a vasta diversidade de sociedades de


especialistas e associações para que depois, como enfermeiro, escolha uma dessas áreas para se
especializar, ampliando seus domínios de conhecimentos, escolhendo a área de maior afinidade. Da
mesma forma, é importante que o enfermeiro se associe a uma dessas entidades de classe, mantendo
acesa a chama do conhecimento e do saber técnico-científico, assim como compartilhando experiências
e aprendizados, almejando melhorias na área escolhida.
51
Unidade I

Veja alguns exemplos de sociedades brasileiras de enfermeiros especialistas, de acordo com o


Conselho Federal de Enfermagem (COREN-SP, 2016):

• Sociedade Brasileira de Enfermagem em Home Care.

• Sociedade Brasileira de Enfermeiros em Infectologia.

• Sociedade Brasileira de Enfermagem em Nefrologia.

• Sociedade Brasileira de Enfermagem Cardiovascular.

• Sociedade Brasileira de Enfermagem em Dermatologia.

• Sociedade Brasileira de Enfermeiros Especialistas em Traumato-ortopedia.


• Sociedade Brasileira de Enfermeiros Pediatras.
• Sociedade Brasileira de Enfermagem em Saúde Coletiva e Família.

• Sociedade Brasileira de Enfermagem em Endocrinologia.

• Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Trauma.

• Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Terapia Intensiva.

• Sociedade Brasileira de Enfermeiros em Urologia.

• Sociedade Brasileira de Gerenciamento em Enfermagem.

• Sociedade Brasileira de Terapias Naturais na Enfermagem.

• Sociedade Brasileira de Educação Continuada em Enfermagem.

• Sociedade Brasileira de Enfermagem em Oftalmologia.

• Sociedade Brasileira de Enfermagem Aeroespacial e Aeromédica.

• Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de


Material e Esterilização.

• Sociedade Brasileira de Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental.

• Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral.

• Sociedade Brasileira de Enfermeiros Auditores em Saúde.

• Sociedade Brasileira de Educação em Enfermagem.

• Sociedade Brasileira de Enfermagem em Endoscopia Gastrointestinal.


52
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

2.5.3 Conselhos de Enfermagem

O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e os seus respectivos conselhos regionais de enfermagem


(Coren) foram criados em 1973, por meio da Lei n° 5.905 (BRASIL, 1973). Tendo como missão regular
o exercício profissional através das diversas atividades que as categorias profissionais de enfermagem
exercem, são órgãos de direito público e disciplinadores do exercício da profissão de enfermeiro e das
demais profissões compreendidas nos serviços de Enfermagem (BRASIL, 1973).

Além da legislação específica da área de enfermagem, os conselhos obedecem à legislação da área


da saúde e a correlatas (COREN-SP, 2016).

Conselho Federal de Enfermagem (Cofen)

É importante que o enfermeiro conheça o significado desse conselho e suas finalidades. O Cofen é
responsável por normatizar e fiscalizar o exercício da profissão de enfermeiros, técnicos e auxiliares de
enfermagem, zelando pela qualidade dos serviços prestados e pelo cumprimento da Lei do Exercício
Profissional da Enfermagem, conforme já mencionamos.

Art. 8º Compete ao Conselho Federal:

[...]

IV – baixar provimentos e expedir instruções, para uniformidade de


procedimento e bom funcionamento dos Conselhos Regionais;

[...]

VI – apreciar, em grau de recursos, as decisões dos Conselhos Regionais;

[...]

IX – aprovar anualmente as contas e a proposta orçamentária da autarquia,


remetendo-as aos órgãos competentes;

X – promover estudos e campanhas para aperfeiçoamento profissional


(BRASIL, 1973).

Conselhos estaduais de enfermagem

Os conselhos estaduais de enfermagem têm a função de fiscalizar e normatizar o exercício da


Enfermagem em âmbito estadual, garantindo que a profissão seja exercida com primazia técnica,
científica, humana e ética.

Têm também o papel de orientar, notificar para que haja melhorias e capacitar os profissionais de
enfermagem, em caso de dificuldades recorrentes.
53
Unidade I

Há um conselho regional em cada estado ou território nacional, com sede na respectiva capital e no
Distrito Federal.

Na ocasião do término da graduação, o enfermeiro deverá apresentar seu diploma, entre outros
documentos pessoais, ao Coren de referência de seu município para obter a carteira de identidade
profissional, a qual o habilita a exercer a profissão no estado de obtenção da carteira.

O sistema Cofen-Coren

Dentre as principais atividades de todos os Corens, encontram-se (BRASIL, 1973):

• deliberar sobre inscrição no conselho, bem como sobre o seu cancelamento;

• disciplinar e fiscalizar o exercício profissional, observadas as diretrizes gerais do Cofen;

• executar as resoluções do Cofen;

• expedir a carteira de identidade profissional, indispensável ao exercício da profissão, e válida em


todo o território nacional;

• fiscalizar o exercício profissional e decidir os assuntos atinentes à ética profissional, impondo as


penalidades cabíveis.

Saiba mais

Leia mais sobre as entidades de classe na enfermagem nos textos a seguir:

BRASIL. Lei nº 5.905, de 12 de julho de 1973. Dispõe sobre a criação dos


Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem e dá outras providências.
Brasília, 1973. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
L5905.htm>. Acesso em: 9 ago. 2016.

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO (COREN-SP).


Quais são e para que servem: conheça as entidades de enfermagem e o que
elas podem fazer por você. Enfermagem Revista, p. 33-40, 2016. Disponível
em: <http://www.coren-sp.gov.br/sites/default/files/08-quais_sao_e_
para_que_servem_0.pdf>. Acesso em: 8 ago. 2016.

É interessante que você acesse também o site do Cofen para saber mais
sobre essa entidade de classe:

<http://www.cofen.gov.br/>.
54
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

3 ÉTICA E PESQUISA EM SAÚDE

Para se realizar uma pesquisa científica envolvendo seres humanos, existem atualmente
órgãos governamentais e não governamentais que protegem e asseguram o reconhecimento e
a afirmação da dignidade, da liberdade e da autonomia quando se trata de pesquisa envolvendo
seres humanos.

A função prioritária da ética em pesquisa é proteger o participante, um


indivíduo que se submete voluntariamente a um risco, vivenciando, com
frequência, condições de vulnerabilidade ou por razões sociais – pobreza,
subnutrição, falta de poder – ou por ser portador de doenças que podem
ou não ser o motivo de seu recrutamento para o estudo. A probidade
científica exigida pela ética profissional se subordina à transparência e
à sustentabilidade da relação pesquisador-participante propiciada pela
bioética (KOTTOW, 2008, p. 8).

Para se conhecer um pouco da evolução histórica da temática, sabe-se que em 1852, Claude Bernard
tratou a moralidade das observações científicas e, no livro An Introduction to the Study of Experiment
Medicine, já afirmava que “o princípio da moralidade médica” consistia em nunca causar dano ao ser
humano, ainda que o resultado fosse altamente vantajoso para a ciência ou para a sociedade (BERNARD
apud FIGUEIREDO, 2011, p. 3).

A discussão sobre os cuidados necessários para a proteção da integridade do indivíduo participante


de pesquisas envolvendo seres humanos tomou âmbito internacional após o conhecimento das barbáries
cometidas nas experiências realizadas no período nazista, durante a Segunda Grande Guerra.

Na ocasião, foi estabelecido um tribunal internacional que tinha como finalidade julgar os crimes
cometidos nessas experiências. E daí foi assinado um acordo em Londres, em agosto de 1945, entre os
Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a União Soviética e a França, estabelecendo um código de conduta que
ficou conhecido como Código de Nuremberg, obtido com o julgamento de oficiais e médicos nazistas
que desvirtuaram a Ética durante as atrocidades que haviam realizado.

Nesses julgamentos, os chefes da Alemanha de Hitler foram acusados formalmente de crimes contra
o direito internacional, como a opressão e a matança de populações inocentes. Quase todos foram
acusados, além do assassínio, de escravização, pilhagem e extermínio de etnias religiosas, entre elas os
judeus, principais vítimas do holocausto. A história dos julgamentos de Nuremberg, o mais importante
processo criminal já realizado, criou o princípio da responsabilidade individual de acordo com as normas
do direito internacional e que encerrou a Segunda Guerra Mundial, dando início à reconstrução da
Europa, iniciada em 8 de março de 1945.

O Tribunal de Nuremberg significa um marco no direito internacional contemporâneo, que pela


primeira vez colocou em discussão os limites aos quais o homem poderia ir em suas experiências
científicas com vidas humanas (ROLAND, 2013).

55
Unidade I

Código de Nuremberg – Tribunal Internacional de Nuremberg – 1949

O consentimento voluntário do ser humano é absolutamente essencial. Isso


significa que as pessoas que serão submetidas ao experimento devem ser
legalmente capazes de dar consentimento; essas pessoas devem exercer o
livre direito de escolha sem qualquer intervenção de elementos de força,
fraude, mentira, coação, astúcia ou outra forma de restrição posterior;
devem ter conhecimento suficiente do assunto em estudo para tomarem
uma decisão. Esse último aspecto exige que sejam explicados às pessoas a
natureza, a duração e o propósito do experimento; os métodos segundo os
quais será conduzido; as inconveniências e os riscos esperados; os efeitos
sobre a saúde ou sobre a pessoa do participante, que eventualmente
possam ocorrer, devido à sua participação no experimento. O dever e a
responsabilidade de garantir a qualidade do consentimento repousam sobre
o pesquisador que inicia ou dirige um experimento ou se compromete nele.
São deveres e responsabilidades pessoais que não podem ser delegados a
outrem impunemente (ROLAND, 2013).

Figura 5

O Código de Nuremberg é constituído por dez tópicos, dos quais o primeiro é o que melhor contempla
seus preceitos.

Código de Nuremberg

1. O consentimento voluntário do ser humano é absolutamente essencial. Isso significa


que as pessoas que serão submetidas ao experimento devem ser legalmente capazes de
dar consentimento; essas pessoas devem exercer o livre direito de escolha sem qualquer
intervenção de elementos de força, fraude, mentira, coação, astúcia ou outra forma de
restrição posterior; devem ter conhecimento suficiente do assunto em estudo para tomar
uma decisão. Esse último aspecto exige que sejam explicados às pessoas a natureza,
a duração e o propósito do experimento; os métodos segundo os quais será conduzido;
as inconveniências e os riscos esperados; os efeitos sobre a saúde ou sobre a pessoa do

56
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

participante que eventualmente possam ocorrer devido à participação no experimento. O


dever e a responsabilidade de garantir a qualidade do consentimento repousam sobre o
pesquisador que inicia ou dirige um experimento ou se compromete nele. São deveres e
responsabilidades pessoais que não podem ser delegados a outrem impunemente;

2. O experimento deve ser tal que produza resultados vantajosos para a sociedade, que
não possam ser buscados por outros métodos de estudo, mas não podem ser feitos de
maneira casuística ou desnecessariamente;

3. O experimento deve ser baseado em resultados de experimentação em animais e no


conhecimento da evolução da doença ou outros problemas em estudo; dessa maneira, os
resultados já conhecidos justificam a condição do experimento;

4. O experimento deve ser conduzido de maneira a evitar todo sofrimento e danos


desnecessários, quer físicos, quer materiais;

5. Não deve ser conduzido qualquer experimento quando existirem razões para acreditar
que pode ocorrer morte ou invalidez permanente; exceto, talvez, quando o próprio médico
pesquisador se submeter ao experimento;

6. O grau de risco aceitável deve ser limitado pela importância do problema que o
pesquisador se propõe a resolver;

7. Devem ser tomados cuidados especiais para proteger o participante do experimento


de qualquer possibilidade de dano, invalidez ou morte, mesmo que remota;

8. O experimento deve ser conduzido apenas por pessoas cientificamente qualificadas;

9. O participante do experimento deve ter a liberdade de se retirar no decorrer do experimento;

10. O pesquisador deve estar preparado para suspender os procedimentos experimentais


em qualquer estágio, se ele tiver motivos razoáveis para acreditar que a continuação do
experimento provavelmente causará dano, invalidez ou morte para os participantes.

Fonte: Tribunal Internacional de Nuremberg (2002).

57
Unidade I

Saiba mais

O filme a seguir pode propiciar uma inter-relação sobre o julgamento


de oficiais e médicos nazistas após o holocausto, conhecido como o
Julgamento de Nuremberg:

JULGAMENTO em Nuremberg. Dir. Stanley Kramer. EUA: Roxlom Films


Inc., 1961. 186 minutos.

Posteriormente, foram elaborados outros documentos voltados tanto para a defesa dos direitos
humanos, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos (de 1948), como para os aspectos éticos
das pesquisas clínicas, como no caso da Declaração de Helsinque.

A Declaração de Helsinque foi adotada em 1964 por decisão de uma assembleia médica mundial, na
Finlâdia (Helsinque), que tinha como objetivo fornecer orientações aos médicos envolvidos em pesquisa
clínica, inclusive quanto à responsabilidade dos pesquisadores com relação à proteção dos sujeitos da
pesquisa. O avanço da ciência médica e a promoção da saúde pública, portanto, ficam claramente
subordinados ao bem-estar dos sujeitos da pesquisa individual, conforme estabelecido pela declaração,
que passou a ser adotada como referência ética no mundo.

Na Declaração de Helsinki I, publicada originalmente em 1964, há cinco princípios básicos para


a pesquisa biomédica envolvendo seres humanos (ASSEMBLEIA GERAL DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA
MUNDIAL, 1997):

1. A pesquisa clínica deve adaptar-se aos princípios morais e científicos


que justificam a pesquisa médica e deve ser baseada em experiências de
laboratório e com animais ou em outros fatos cientificamente determinados;

2. A pesquisa clínica deve ser conduzida somente por pessoas cientificamente


qualificadas e sob a supervisão de alguém medicamente qualificado;

3. A pesquisa não pode ser legitimamente desenvolvida, a menos que a


importância do objetivo seja proporcional ao risco inerente à pessoa exposta;

4. Todo projeto de pesquisa clínica deve ser precedido de cuidadosa avaliação


dos riscos inerentes, em comparação aos benefícios previsíveis para a pessoa
exposta ou para outros;

5. Precaução especial deve ser tomada pelo médico ao realizar a pesquisa


clínica na qual a personalidade da pessoa exposta é passível de ser alterada
pelas drogas ou pelo procedimento experimental.

58
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

Observação

A Declaração de Helsinque já passou por oito revisões: em 1975, 1983,


1989, 1996, 2000, 2002, 2004 e a mais recente, em 2008, na 59ª Assembleia
Geral da Associação Médica Mundial, realizada em Seul, capital da Coreia
do Sul.

Outros importantes acontecimentos que favoreceram a evolução dos preceitos éticos na pesquisa
envolvendo seres humanos são:

• 1966: Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais;

• 1966: Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos;

• 1997: Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos;

• 2003: Declaração Internacional sobre os Dados Genéticos Humanos;

• 2004: Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos.

No Brasil, em 1996, o Ministério da Saúde, por meio do Conselho Nacional de Saúde, aprovou a
Resolução 196/96, que regulamenta a pesquisa em seres humanos no Brasil, referendada em vários
documentos nacionais e internacionais, inclusive a Declaração de Helsinque.

Em 2012, o Conselho Nacional de Saúde determina a Resolução nº 466, que aprova as diretrizes e
normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Essa resolução usa referenciais da
bioética, tais como autonomia, não maleficência, beneficência, justiça e equidade, entre outros, que
objetiva assegurar os direitos e deveres que dizem respeito aos participantes da pesquisa, à comunidade
científica e ao Estado.

O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (Cepe), como mencionado anteriormente, possui
um capítulo destinado apenas ao ensino, à pesquisa e à produção técnico-científica:

Capítulo III – Do ensino, da pesquisa e da produção técnico-científica

Responsabilidades e deveres:

Art. 89 – Atender às normas vigentes para a pesquisa envolvendo seres


humanos, segundo a especificidade da investigação.

Art. 90 – Interromper a pesquisa na presença de qualquer perigo à vida e à


integridade da pessoa.

59
Unidade I

Art. 91 – Respeitar os princípios da honestidade e fidedignidade, bem como


os direitos autorais no processo de pesquisa, especialmente na divulgação
dos seus resultados.

Art. 92 – Disponibilizar os resultados de pesquisa à comunidade científica e


sociedade em geral.

Art. 93 – Promover a defesa e o respeito aos princípios éticos e legais


da profissão no ensino, na pesquisa e em produções técnico-científicas
(COFEN, 2007).

Portanto, o enfermeiro deve realizar e participar de atividades de ensino e pesquisa, pois é fundamental
que transmita ao meio acadêmico suas experiências e, da mesma forma, possa se enriquecer com as
informações e descobertas de outros, desde que respeitadas as normas ético-legais.

Saiba mais

Leia mais sobre as entidades de classe nos seguintes textos:

DINIZ, D. Ética na pesquisa em ciências humanas: novos desafios. Ciência


& Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 417-426, 2008. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
81232008000200017&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 ago. 2016.

FIGUEIREDO, A. M. Diretrizes éticas internacionais em pesquisa: crítica


à Declaração de Helsinki. Derecho y Cambio Social, 2011. Disponível em:
<http://www.derechoycambiosocial.com/revista024/etica_en_la_
investigacion_medica.pdf>. Acesso em: 9 ago. 2016.KOTTOW M. História da
Ética em pesquisa com seres humanos. RECIIS –R. Eletr. de Com. Inf. Inov.
Saúde. Rio de Janeiro, 2008. v.2, Sup.1, p.7-18.

Conheça na íntegra a Resolução 466/2012 para a pesquisa em saúde:

BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução n° 466, de 12 de dezembro


de 2012. Brasília, 2012. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html>. Acesso em: 10 ago. 2016.

60
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

4 LEGISLAÇÃO, DEONTOLOGIA E AS INTERFACES COM A ENFERMAGEM E


O CLIENTE

4.1 Direitos do paciente

Todo paciente tem direito a ser reconhecido e respeitado como cidadão, o que implica participar das
decisões relacionadas ao seu cuidado e tratamento.

No Brasil, embora existam vários textos legais abordando o assunto, incluindo leis, resoluções e
declarações de princípios, ainda não existe uma lei federal para tratar especificamente desse tema.

Em 2006, o Ministério da Saúde aprovou a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde, considerando a
necessidade do paciente de receber um atendimento humanizado, acolhedor e resolutivo, e garantindo
o direito às informações sobre seu estado de saúde de maneira clara, objetiva, respeitosa, adaptada
às suas condições culturais e respeitando os limites éticos para atendimento aos usuários da saúde
(BRASIL, 2006).

Saiba mais

A Portaria nº 1.820, do Ministério da Saúde, aborda o tema dos direitos


e deveres dos usuários da saúde. Conheça seu texto na íntegra:

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.820, de 13 de agosto de


2009. Dispõe sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde. Brasília,
2009. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2009/
prt1820_13_08_2009.html>. Acesso em: 10 ago. 2016.

Procure ler também a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde, do


Ministério da Saúde:

BRASIL. Ministério da Saúde. Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde.


2. ed. Brasília: Ascom, 2006. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/carta_direitos_usuarios_saude_ilustrada.pdf>. Acesso em: 10
ago. 2016.

Existem, em alguns estados brasileiros, legislações próprias que têm sido usadas para auxiliar
o processo de qualidade da assistência ao paciente e da sua segurança. Por exemplo, no estado
de São Paulo, há uma portaria (a Lei Estadual nº 10.241), que assegura, entre outras coisas, que
o paciente tenha um atendimento digno, atencioso e respeitoso, sendo identificado e tratado
pelo nome ou sobrenome, e não por números, códigos ou de modo genérico, desrespeitoso ou
preconceituoso. A mesma lei garante, além disso, ao paciente, o direito de receber informações
claras, objetivas e compreensíveis sobre hipóteses diagnósticas, diagnósticos realizados, exames

61
Unidade I

solicitados, ações terapêuticas, riscos, benefícios e inconvenientes das medidas propostas e


duração prevista do tratamento.

Essa legislação garante a autonomia do paciente, pois assegura que ele possa consentir ou
recusar, de forma livre, voluntária e esclarecida, com adequada informação, procedimentos
diagnósticos ou terapêuticos.

Parece hilário que haja uma lei para assegurar essas condições, visto que não trata de inovações
éticas, contudo, de certa forma, ela auxilia a regular também o exercício profissional.

É sabido que:

A assistência prestada necessita ser humanizada, respeitosa, justa,


favorecendo a comunicação e a interação entre a equipe de enfermagem e
os pacientes, de modo que o respeito aos seus direitos como cidadãos seja
assegurado (CHAVES; COSTA; LUNARDI, 2005, p. 89).

O enfermeiro deve defender e fazer valer o direito do paciente de receber um atendimento atencioso
e respeitoso, garantir o sigilo profissional, fornecer as informações e orientações sobre seu tratamento e
prognóstico de forma clara, sanando suas dúvidas. A dignidade humana dever ser respeitada em todos
os sentidos, inclusive no que diz respeito às reclamações sobre aquilo de que ele venha a discordar sem
que a qualidade de seu tratamento seja alterada.

Cabe também ao enfermeiro ajudar o paciente a conhecer seus direitos, além de zelar por eles,
para que tenha a autonomia preservada e possa exigir essas condições durante seu atendimento, em
qualquer área de atenção à saúde: primária, secundária e terciária.

Resumo

Na Ética existem elementos importantes que devem nos estruturar


como seres humanos, resultando positivamente ou não em nossas
escolhas. Dentre eles, estão a consciência, os valores, a vontade, a
liberdade, a autonomia, a responsabilidade e a verdade.

A enfermagem compreende um componente próprio de conhecimentos


científicos e técnicos, construído e reproduzido por um conjunto de
práticas sociais, éticas e políticas que se processa pelo ensino, pela
pesquisa e pela assistência.

Realiza-se na prestação de serviços à pessoa, família e coletividade,


no contexto e circunstâncias de vida do paciente. O aprimoramento do
comportamento ético do profissional passa pelo processo de construção
de uma consciência individual e coletiva e pelo compromisso social e
62
ÉTICA EM ENFERMAGEM E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

profissional configurado pela responsabilidade no plano das relações de


trabalho com reflexos no campo científico e político (COFEN, 2007).

Portanto, não basta apenas conhecer as práticas e ser bem-


sucedido ao executá-las. O enfermeiro precisa conhecer os aspectos
éticos, políticos, filosóficos e legais de sua profissão para poder
desempenhá‑la holisticamente.

Exercícios

Questão 1. (IFAL 2016) Os profissionais de enfermagem estão passíveis de cometer ou sofrer infrações
éticas que implicam ações, omissões ou conivências que desobedecem aos pressupostos e disposições
do Código de Ética Profissional de Enfermagem e são classificadas como leves, graves ou gravíssimas,
segundo a natureza do ato. A penalidade aplicada ao profissional que implica a cassação do direito ao
exercício da profissão é de competência de qual entidade de classe?

A) Sindicato dos Enfermeiros.

B) Conselho Federal de Enfermagem.

C) Conselho Regional de Enfermagem.

D) Associação Brasileira de Enfermagem.

E) Conselho Internacional de Enfermagem.

Resposta correta: alternativa B.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: o Sindicato dos Enfermeiros atua nos direitos salariais e trabalhistas dos profissionais
de enfermagem.

B) Alternativa correta.

Justificativa: consta no Art. 18 – Aos infratores do Código poderão ser aplicadas seguintes penas:
I – advertência verbal; II – Multa; III – Censura; IV – Suspensão do exercício profissional; V – Cassação
do direito ao exercício profissional. As penalidades I, II, III e IV são da alçada dos Conselhos Regionais e
a V da alçada do Conselho Federal, ouvido o Conselho Regional interessado.

63
Unidade I

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: é uma entidade autônoma de interesse público, na esfera da fiscalização do exercício


profissional. O objetivo primordial do conselho é zelar pela qualidade dos serviços da enfermagem, pelo
respeito ao Código de Ética e cumprimento da Lei do Exercício Profissional.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: a Aben é uma associação de caráter cultural, científico e político, com personalidade
jurídica própria, de direito privado e que congrega pessoas – Enfermeiras; Técnicas de Enfermagem;
Auxiliares de Enfermagem; estudantes de cursos de Graduação em Enfermagem e de Educação Profissional
de Nível Técnico em Enfermagem; Escolas, Cursos ou Faculdades de Enfermagem; Associações ou
Sociedades de Especialistas – que a ela se associam, individual e livremente, para fins não econômicos.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: o Conselho Internacional de Enfermagem atua globalmente influenciando as políticas


de saúde.

Questão 2. (FCC 2015) De acordo com o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, é
responsabilidade e dever do profissional de enfermagem:

A) Fundamentar suas relações no direito trabalhista, na prudência e na intolerância da diversidade


de opinião e posição ideológica.

B) Exercer a profissão com justiça, compromisso, equidade, resolutividade, dignidade, competência,


responsabilidade, honestidade e lealdade.

C) Comunicar à Agência Nacional de Vigilância Estadual fatos que infrinjam dispositivos legais e que
possam prejudicar o exercício profissional.

D) Obter desagravo público por ofensa que atinja a profissão, por meio do Comitê de Ética Institucional.

E) Utilizar-se de qualquer veículo de comunicação para anunciar a prestação de serviços gratuitos.

Resolução desta questão na plataforma.

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