O texto da doutora Lucília Augusta Lino de Paula faz uma introdução a filosofia
perpassando por sua conceituação, o próprio processo de filosofar, um pouco de sua
história e suas implicações educacionais. Além de procuror desfazer ´´cliches`` e nos apresentar a filosofia. A filosofia desde sua concepção recebeu diversas classificações. Muitas pessoas a adjetivaram como algo ´´para inteligentes``, ´´tarefa difícil``. A arte de filosofar é um campo de entendimentos que nos faz refletir sobre o dia-a-dia, desde simples encontros casuais até questões de complexa reflexão como, o sentido e o destino da humanidade. Ela possibilita um modo de agir coerente e organizado, podendo ser a nossa guia nos direcionando nossa existência humana em suas mais variadas dimensões. Depreende-se que filosofar é uma necessidade ´´natural`` do homem, pois ninguém age no escuro, sem saber para onde ir e porque ir. Todos nós temos um modo de ver a vida, isto é nossa filosofia de vida, que se apoia em nossos valores. Esta, porém não pode ser considerada uma reflexão filosófica, porque não é uma reflexão crítica sobre o sentido e o significado das coisas. O filosofar deve- se desenvolver sobre está e ir além. Pois não há como fugir da filosofia, todos temos que escolher o sentido que daremos ao nosso existir, para que não tenhamos que apenas ´´engolir`` a filosofia do setor dominante da sociedade. Para filosofar não é preciso apenas interpretar o já vivido é preciso interpretar nossas aspirações e desejos para que não sejamos meros reprodutores de valores e sim construtores críticos. Nesse contexto o filósofo com seu olhar aguçado expressa em seu pensamento o momento histórico que está ocorrendo enquanto o processo está em andamento e compreendendo que irá acontecer. Como quando o Pensador Karl Marx se debruçou a estudar o capitalismo em seu desenvolvimento é postulou que no futuro haveria crises de superprodução (excesso de mercadorias e falta de recursos para adquiri-las), o que de fato ocorreu na crise de 1929. A filosofia pode ser um instrumento de ação e arma politica. E muitos já perceberam esse potencial tanto que está tem gerado atitudes complexas quanto ao seu tratamento ao longo da história humana. Por vezes é classificada como subversora ou desnecessária, como na Grécia socrática, ou é utilizada para criar uma ideologia que permita a dominação política por maus governantes como a Teoria da Superioridade da Raça Ariana, da Alemanha nazista. Com estes exemplos e seguindo a linha de raciocínio da autora depreende-se que a filosofia pode vir a servir e refletir os interesses do setor dominante ou ter o caráter transformador que pode abolir essa ideologia e a redirecionar a sociedade. Em suma o pensamento filosófico é uma via de reflexão, ação e interpretação. Porém a autora pontua ´´nenhum pensamento filosófico é limpo ou neutro, mais sim embebidos de história e de seus problemas e interesses e aspirações. Para iniciar o processo de filosofar é preciso se despir de preconceitos como ´´a filosofia é difícil``, ´´é um amaranhado de palavras rebuscadas`` etc. Primeiramente deve-se inventariar os valores vigentes que explicam e orientam nossa vida em sociedade, é preciso saber por quais valores nos orientamos, se eles estão nos direcionando para agir de modo consciente, e necessário pensar se não estamos nos guiando por valores internalizados de forma inconsciente. Em seguida é preciso criticar, ver se eles de fato compõem o sentido que queremos dar a nossa existência, contudo como não se pode vasculhar os valores de forma eterna e preciso passar ao terceiro ato de filosofar que é (re) construir os valores de forma crítica, utilizar aqueles que sejam suficientemente válidos para nos levar a direção da ação que queremos realizar. Filosofar é uma tarefa simples, porém não pode ser tomado como algo mecânico. Pois não é de forma robotizada que inventariamos valores que foram sedimentados em diversas épocas, desse modo é preciso se criticar de forma construtiva posicionando-se contra aquelas concepções que nos aprisionam e ao mesmo tempo aspirar por valores que nos libertem. A exemplo de Hebert Marcuse que fez oposição aos valores da sociedade industrial de sua época que prezava pela produtividade industrial e defendeu uma sociedade voltada para a vida plena. Com este exemplo podemos perceber que o nosso filosofar deve também ser auxiliado por pensadores que nos antecederam, valendo-se de sua rica contribuição filosófica. Muitos tentam definir a filosofia, delimitar sua essência. A questão da identidade da filosofia, por si só, já é uma quando reflexão filosófica. Hoje ela é considerada uma pesquisa empírica da realidade, mas já foi considerada por exemplo uma oposição a Teologia e também oposta ao conceito grego de mito. Apesar dessas pontuações por vezes simplórias a filosofia desde de sua origem mostrou que é uma ciência complexa porém aprazível, seu nome por exemplo vem do grego filos sophos que pode ser traduzido como, amigo do saber. Dessa forma o verdadeiro amante do saber rejeita qualquer status de ´´sabe tudo``, ao contrário reconhece a precariedade de sua busca e o dinamismo do próprio processo de definição de ´´verdades`` de cada época. A filosofia vai além do senso comum carregado de limitações e preconceitos, ela busca um conhecimento sistematizado e profundo sobre a realidade, justamente por ter essa característica ácida a filosofia tem sido ´´atacada`` durante o decorrer da história, haja vista que o setor dominante da sociedade quer impedir que o povo critique e dessa forma ameasse o seu governo, a exemplo dessa ataque podemos citar a condenação de Sócrates, na Grécia antiga, a morte por envenenamento acusado de corromper a juventude, quando na verdade ele convidava os jovens ao conhecimento. A teoria do amor ao saber está em constante movimento e questionamento, não podendo ser concebida como um saber pronto e acabado, pois não há pensamento filosófico uniforme, existem diversas tendências, métodos, escolas e tradições diferentes. A reflexão filosófica organiza-se em torno de três grandes conjuntos de perguntas ou questões: Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que fazemos? O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando falamos, o que queremos fazer quando agimos? Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos? Perguntaram certa vez, a um filósofo: “Para que Filosofia?”. E ele respondeu: “Para não darmos nossa aceitação imediata às coisas, sem maiores considerações”. (Texto adaptado : NUNES, César Aparecido. Aprendendo Filosofia. Campinas: Papirus, 19930) Um conceito chave para filosofia é a palavra reflexão, que é um re-pensar isto é um pensamento em segunda analise, por isso nem todo pensamento pode ser considerado reflexão, pois estes seguem sua própria lógica e estão imersos por ideologias e opiniões pré-formadas. Por isso a lógica formal acaba por enredar a atitude filosófica no entre meio a posturas idealistas e ingênuas. Dessa forma é necessário utilizar a lógica dialética que é capaz de nos proporcionar a compreensão adequada da realidade e da globalidade na unidade da reflexão filosófica. Apesar de ser de imensa relevância para nós a filosofia não encontra muitos adeptos nesse mundo contemporaneo que prima pela praticidade e, portanto, acha a filosofia uma ´´perca de tempo``. Entretanto ela é vital pois além dos motivos já citados anteriormente é preciso frisar que é a filosofia que reúne o pensamento fragmentado da ciência, é ela que desvela ideologias, por isso filosofar exige a coragem de tirar a sujeira ´´debaixo do tapete`` e aceitar o desfio da mudança. A filosofia faz também uma importante articulação com a educação. A educação em nossa sociedade tem um objetivo a atingir, ela se manifesta como instrumento de manutenção ou transformação social. As relações entre filosofia e educação perecem ser de ´´almas gêmeas`` que se completam, a arte de educar trabalha com o desenvolvimento das novas gerações de uma sociedade, a filosofia é a reflexão sobre o que e como devem ser ou se desenvolver estes jovens e essa sociedade. Nessa relação filosofia-educação existem dois caminhos: ou se reflete sobre o conteúdo a ser ensinado e se produz uma educação consciente ou se realiza apenas um mero repasse de conteúdos. A reflexão filosófica oferece pressupostos para que se conheça quem é o educador e o educando, quais seus papéis; e qual deve ser a finalidade da ação pedagógica. Quando não se reflete sobre a educação ela se processa dentro de uma cultura de forma cristalizada e perenizada. Isso significa que ficamos estáticos e achamos que não mais nada para ser descoberto em termos de interpretação de mundo, e se não nos pusermos a questionar e a filosofar essa interpretação será única para nós. A reflexão filosófica sobre a educação é o que dá tom a pedagogia garantindo-lhe a compreensão dos valores que direcionam sua pratica educacional e que deverão orientar essa prática no futuro. Portanto não há como haver proposta pedagógica sem pressupostos filosóficos, haja vista que estes fornecem a direção da prática, a exemplo a ´´pedagogia Montessori`` tem como base uma concepção filosófica. O estudo e a reflexão devem explicitar os pressupostos subjacentes e refletir sobre os existentes, para que se possa optar de forma consciente por uma prática pedagógica ou por outra, para nortear a prática educacional. Todas as sociedades tem sua forma de educar, seja de maneira informal ou por meio de instituições de ensino, porém muitas vezes não há uma reflexão especifica sobre o ato de educar, e nesse contexto que entra a filosofia da educação, cujo papel é contribuir para a superação do espontaneísmo permitindo que a ação seja mais coerente e eficaz, porém está deve levar em conta o contexto social, econômico e politico de onde vai atuar, essa analise permite que o filosofo indague a respeito de que homem se quer formar, e quais valores estão em ascensão em contraposição a outros valores já decadentes. Ao ter sempre presente o questionamento do que seja educação, a filosofia não permite que a pedagogia se torne dogmática, nem que a educação se transforme em adestramento ou qualquer outro tipo de pseudo-educação. Por isso a filosofia da educação é importante para denunciar as formas ideológicas que utilizam a educação