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Philosophia Est Scientia.

Questões Disputadas Sobre


O Relativismo

Lian Freitas
Da Ideia deste Texto
Este texto surge a partir de uma série de conversas e discussões que realizei com um
relativista no dia 1/06/2021. Muito deste texto origina-se a partir da cooperação entre eu e
Allan Magalhães. É importante ressaltar que muito do que foi aqui escrito, tem essência no
meu amigo tomista Allan. Dedico este texto à sociedade Philosophia est scientia. O texto
está escrito aos moldes da Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino.

Questão 1. Se tudo é relativo


A OBJEÇÃO - Tudo é relativo ora! Se um Homem vê que a cor de uma camisa é vermelha,
poderia eu ser daltônico e ver amarelo. Logo, a cor desta camisa é relativa. Isso
demonstra-se com tudo.

SOLUÇÃO A OBJEÇÃO - Existem verdades absolutas, relativas e objetivas. O caso da


camisa vermelha é um caso relativo, contanto, isso não implica que todas as coisas sejam
relativas. Se tudo é relativo, não pode-se afirmar que tudo é relativo. Ora, ao afirmar que
'tudo é relativo', afirma-se uma verdade absoluta, o que leva a uma incoerência do
argumento. Pode-se ainda, demonstrar que nem tudo é relativo através de dois outros
modos:

PRINCÍPIO DA ADJETIVIDADE: Um Homem infértil não pode conceber filhos sem usar de
meios artificiais. Ora, isto é um fato! Não pode-se relativizar que ele não pode conceber
filhos sem usar de meios artificiais, visto que só há uma possibilidade: ele não pode
conceber filhos. Logo, nem tudo é relativo.

PARADOXO DA EXISTÊNCIA: Se tudo que existe, existe, a existência de tudo não poderia
ser relativizada. Ora, só haveria meio de relativizar a existência de tudo se fosse
considerável que tudo fosse não-ser. Ora, vemos que nem tudo é não-ser, logo a existência
não pode ser relativizada. A existência é objetiva: ou algo existe, ou algo não existe. Não há
formas de relativizar.

Questão 2. Se a verdade absoluta é


momentânea
A OBJEÇÃO - A verdade absoluta embora exista, é apenas momentânea. Ora, pode-se
afirmar que tudo que existe é Ser, mas esta ainda é uma verdade momentânea. Ora, tudo
que existe hoje pode ter sido Não-Ser em outrora.

SOLUÇÃO A OBJEÇÃO - Como dito na Questão nº1, existem três tipos de verdades: as
verdades absolutas, as verdades relativas e as verdades objetivas. As verdades relativas,
são aquelas que dependem do ponto de vista, como o exemplo da cor da camisa dado na
primeira questão. Enquanto isto, as verdades objetivas são as verdades mutáveis, isto é,
que são momentâneas. As verdades de origem objetiva podem-se exemplificar como a
idade: hoje tenho 50 anos. Esta é uma verdade mutável, pois no próximo ano, este Homem
poderá ter 51 anos. Por fim, demonstram-se as verdades absolutas. As verdades absolutas
são aquelas verdades que são atemporais; sempre foram, sempre são e sempre serão.
Exemplifica-se a verdade absoluta pela existência de Deus: se ele existe, ele sempre
existiu, sempre existe e sempre existirá, enquanto se ele não existir, ele nunca existiu,
nunca existe e nunca existirá. A moral deriva-se de Deus e tem ordem metafísica, o que
demonstra sua atemporalidade.

Questão 3. Se a moral é uma verdade


absoluta, objetiva ou relativa
PRIMEIRA OBJEÇÃO - A moral é relativa, visto que é um caso de cosmovisão. O Homem
só crê que algo é errado porque foi educado em uma sociedade que lhe diz o que é certo e
é errado. Portanto, a moral é relativa.

SEGUNDA OBJEÇÃO - A moral é apenas um conjunto de regras criadas pela sociedade


para que se estabeleça a ordem. Portanto, a moral é relativa, porque pode variar de
sociedade para sociedade.

SOLUÇÃO - Encontra-se nestas objeções uma falta de consenso nas linguagens. Ora,
diz-se que a moral é relativa porque é um conjunto de regras criadas pela sociedade para
que mantenha-se a ordem, mas faz-se um erro ao afirmar isto. Esta definição é consenso
para o termo que chamamos de lei: ora, a lei é um conjunto de regras criadas pela
sociedade para que mantenha-se a ordem. A lei humana pode ser considerada
parcialmente relativa, pois poderá variar de civilização a civilização, porém a priori
percebe-se que a lei humana tem parcialidade de verdade absoluta, pois deriva da moral
que é uma verdade absoluta. Faz-se mister agora, definir o que é a moral. De acordo com o
Filósofo1, a Moral é a busca por um bem. Deus é o Bem Máximo, como demonstra o Doutor
Angélico2 em sua quarta via. É por fim necessário citar que o Filósofo nos ensina que: a Lei
serve para educar a Moral.

QUANTO À PRIMEIRA OBJEÇÃO - Agora que nos adequamos aos termos, diz-se que a
lei humana é parcialmente absoluta e parcialmente relativa. Porém, A Lei de Deus - que é a
Moral Divina, isto é, a busca pelo Bem Máximo, - é por completude absoluta, pois Deus é
um ser de ordem imutável. Conclui-se aí que: a lei humana é parcialmente relativa e
absoluta, a lei de Deus (a Moral) é absoluta porque tem origem e significado na busca de
Deus, que é um ser de ordem imutável. O Homem que é educado em uma sociedade que
lhe ensina o que é certo e errado pela Lei, que tem origem na Moral. Ora, mas a função da
lei é justamente educar a moral humana.

1
Ao dizer ‘o Filósofo’, refere-se a Aristóteles.
2
Ao dizer ‘o Doutor Angélico’, refere-se a Santo Tomás de Aquino.
QUANTO À SEGUNDA OBJEÇÃO - Como visto, a moral não pode ter sido criada pela
sociedade, pois esta é a busca por um Bem, e o Bem é de natureza metafísica. O Homem
não pode criar os seus próprios bens. A lei, porém, foi criada pelo Homem, mas com base
na Lei de Deus (a Moral) que é de ordem absoluta.

Conclusão
Em suma, na 1ª Questão, demonstro através de três vias: o princípio da autocontradição, o
princípio da adjetividade e o paradoxo da existência, que nem tudo é relativo. Na 2ª questão
são classificadas a verdade de três modos: a verdade relativa - aquela que varia de ponto
de vista -, a verdade objetiva - aquela que é uma verdade momentânea - e por fim, a
verdade absoluta que é imutável e atemporal. A seguir, demonstra-se que a existência de
seres atemporais são, por conseguinte, verdades absolutas. Em ultimato, evidencia-se na
3ª questão que a moral não é relativa por natureza, sendo muitas vezes acusada de
subjetividade pelo mau conhecimento dialético da palavra. Definindo-se moral e lei,
separando e classificando-as perante as verdades objetivas, absolutas e relativas chega-se
a conclusão definitiva que: a Lei humana é parcialmente relativa, mas parcialmente
absoluta, uma vez que esta deriva e tem influência direta da Moral (uma vez que vimos que
o papel da Moral segundo O Filósofo é o de educar a Moral humana), e que por fim, a Moral
é absoluta, uma vez que surge a partir da busca do Homem por um Bem, de forma que este
não pode ser relativo, ora. Recito por fim, a fiel importância de meu amigo Allan Magalhães
para a formação destas questões, e como explicado na Introdução (Da Ideia Deste Texto),
muito daqui, tem essência na ávida mente tomista de Allan. Portanto, sinto-me em
obrigação de agradecê-lo por todo prestígio de auxiliar nos debates que resultaram neste
texto, donde originaram-se as questões e respostas. Agradeço também a todos os
integrantes da Philosophia est scientia. que dispuseram-se a ler e criticar o texto. É com
prazer que me sinto lisonjeado pela leitura do texto e espero ter contribuído em nossa
jornada rumo à Suma Verdade de Deus.

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