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Utopias Reais para
uma sociologia
5
global
DGN
Erik Olin Wright
Desenvolvimento como
Justiça: Uma Utopia
Real da Índia Kalpana Kannabiran
A
promissores experimentos. O perigo é
ideia de utopias reais está crítica: primeiro, o diagnóstico das
ser um cínico, vendo as falhas como
enraizada no que pode ser causas sociais desses danos; segun-
sua única realidade e a potencialidade
denominado de reivindicação do, a elaboração de instituições e
como uma ilusão.
fundamental de todas as formas estruturas alternativas; e terceiro, o
de sociologia crítica: nós vivemos desenvolvimento de uma teoria da O estudo de casos empíricos inspi-
em um mundo em que formas de transformação que nos diz como radores, no entanto, é apenas parte
sofrimento humano e os déficits percorrer este caminho. O estudo da agenda de utopias reais. Focar
de florescimento humano são o de utopias reais é um caminho de exclusivamente nos casos empíricos
resultado da organização de nossas abordagem da segunda destas tarefas. tende a restringir o enfoque e es-
estruturas e instituições sociais. pecificar tipos de instituições geral-
A utopia em “utopia real” significa pen-
Pobreza em meio à abundância não mente localizadas no plano micro das
sar sobre alternativas para instituições
reflete alguma lei inalterável da organizações sociais. Nós também
dominantes no sentido de incorporar
natureza; ela é o resultado do caminho precisamos de uma compreensão
nossas mais profundas aspirações
existente de organizações sociais de de que “um outro mundo é possível”
para um mundo justo e humano. Isto
poder e desigualdade que afetam no plano macro do funcionamento
é fundamentalmente uma questão
massivamente as possibilidades de do sistema social como um todo. No
moral: figurando fora dos padrões
florescimento humano. Esta reivin- passado este tipo de discussão girava
morais pelos quais as instituições
dicação fundamental sugere três em torno do contraste epocal entre
devem ser julgadas e explorando como
tarefas centrais para uma sociologia capitalismo e socialismo. Explorar esta
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variedade de alternativa ao nível de orçamento participativo, uma original Imagine que em 2000, antes da
sistema requer mais análise teórica elaboração do orçamento ancorada Wikipedia existir, alguém se propôs
abstrata dos diferentes modelos de na participação direta de cidadãos a produzir, dentro de dez anos, uma
estruturas sociais e econômicas. ordinários. Ao invés de o orçamento ser enciclopédia com cerca de 3,5 milhões
Uma sociologia das utopias reais elaborado do topo para a base, Porto verbetes ingleses suficientemente
totalmente desenvolvida integra a Alegre foi dividida em regiões, cada qualificados e se tornaria o primeiro
investigação empírica concreta das uma das quais com uma assembléia lugar para onde milhões de pessoas se
instituições que prefiguram alterna- de orçamento participativo. Há tam- voltariam para conseguir informações
tivas emancipatórias com esta dis- bém um número de assembléias básicas dentro de uma grande
cussão teórica abstrata dos princípios orçamentárias sobre vários temas de variedade de tópicos. Então suponha
subjacentes aos sistemas alternativos. interesse para a municipalidade inteira que esta pessoa propôs o seguinte
– festivais culturais, por exemplo, ou desenho institucional para produção
Neste curto ensaio não há espaço transporte público. A incumbência de e distribuição da enciclopédia: (1) os
para elaborar uma agenda completa. cada destas assembléias é formular verbetes seriam escritos e editados
O que nós podemos fazer é trazer propostas orçamentárias concretas, por centenas de milhares de pessoas
contribuições à idéia básica de particularmente para projetos de infra- ao redor do mundo sem pagamento;
estudar utopias reais ao examinar estrutura de uma ou outra espécie. (2) qualquer um poderia ser um
dois exemplos de casos empíricos Cada habitante da cidade pode editor e modificar qualquer verbete
ilustrativos. Cada um dos casos in- participar destas assembléias e votar da enciclopédia; (3) o acesso à
corpora, ainda que em sentido parcial nas propostas. Depois de ratificar estes enciclopédia seria livre para qualquer
e incompleto, a visão radical do orçamentos regionais e temáticos, a um no mundo. Impossível! Imaginar
utópico, alternativas igualitárias para a assembléia escolhe delegados para centenas de milhares cooperando para
existência das instituições. O primeiro participar em um conselho orçamental produzir uma enciclopédia confiável
vem do Hemisfério Sul; o segundo do que abrange a cidade toda por alguns e de alta qualidade, sem gerar
Hemisfério Norte. poucos meses, até que um coerente e qualquer pagamento e distribuindo
consolidado orçamento municipal ser isto sem encargos, voando diante
>Orçamento Participativo Urba- adotado. da teoria econômica que insiste que
no este tipo de generalizada cooperação
O orçamento participativo tem precisa de incentivos monetários e
A ideia de uma ‘democracia direta’ funcionado em Porto Alegre efeti- hierarquia para ser efetiva. Wikipédia
na qual cidadãos pessoalmente vamente desde o começo da é um meio profundamente igualitário 4
participam através de decisões década de 1990. Em alguns anos e anti-capitalista meio de produzir
democráticas dentro de uma assem- o processo é vibrante, envolvendo e compartilhar conhecimento. Ela
bléia política parece, para a maioria ativamente milhares de habitantes é baseada no princípio comunista
das pessoas, uma ação desesperada e nas deliberações orçamentárias da “para cada um de acordo com sua
impraticável dentro de uma sociedade cidade; em outros anos, especialmente necessidade, de cada um de acordo
complexa. O desenvolvimento do que quando o gasto discricionário é limi- com sua habilidade”. Ela é organizada
vem a ser conhecido como “orçamento tado, a participação declina. Em todo conforme princípios centrais de
participativo” é um forte e verdadeiro o caso, o orçamento participativo controle hierárquico. E, em menos de
desafio para a utopia real sobre a tem contribuído para um revigorante uma década, ela destruiu o mercado
sabedoria convencional. Aqui vai um envolvimento público nos assuntos da de enciclopédias que existiu desde o
breve relato: o orçamento participativo cidade e redirecionando seus gastos século XVIII.
foi introduzido quase por acidente em para as necessidades dos pobres e
Porto Alegre, Brasil, em 1989. Porto desfavorecidos, em contrapartida A Wikipédia é o mais familiar exemplo
Alegre é uma cidade com cerca de 1,5 às elites. Integralmente, então, o de uma nova forma de produção
milhão de habitantes localizada no orçamento participativo abriu espaço não-capitalista e anti-mercadológico
sul do país. No final de 1988, depois para uma expansão e aprofundamento que emergiu na era digital: peer-to-
de longos anos de ditadura militar da democracia através dos limites do peer, colaborativa, produção não-
e um período de transição para a que foi pensando possível. comercial. Estas novas formas de
democracia, um partido de esquerda produção, por sua vez, estão inti-
venceu as eleições na cidade, mas Nos anos seguintes à invenção do mamente conectadas a um número
não controlou a assembléia da cidade orçamento participativo em Porto de outras dimensões utópico-reais
e então encarou a expectativa de Alegre, houveram mais de 1000 da economia da informação, como o
ter quatro anos no gabinete sem cidades pelo mundo que implantaram Creative Commons, licenças copyleft
ter a possibilidade de fazer muito alguma forma similar de participação. e softwares abertos. O que resta
para avançar seu programa político Esta é uma instância em que uma perceber, é claro, é se estas novas
progressista. utopia real inovadora no Hemisfério formas serão corrosivas às formas
Sul tem migrado para as regiões de direitos autorais do capitalismo
Diante desta situação, os ativistas no desenvolvidas do mundo. convencional, ou simplesmente au-
partido fizeram a pergunta clássica: o mentarão a diversidade de formas
que há para ser feito? Sua resposta foi >Wikipedia econômicas dentro de uma economia
uma notável inovação institucional: o capitalista dominante.
N
a India o denso discurso de desenvolvimento é formas de vida) devem caber em seu centro. Um olhar atento
tão internamente diverso, ironicamente, quanto sobre as lutas por sobrevivência e dignidade de comunidades
a deslumbrante biodiversidade das nossas e praticantes do ‘outro desenvolvimento’ (perdoem a falta de
florestas, colinas e terras florestais, embora nem perto de ser jeito desta formulação, mas é muito alterizada e distanciada
energizado o quanto poderia, se fosse conservado. Ao invés da norma), ressalta a inatingibilidade prática da justiça como
de seguir um caminho por este discurso, eu tentarei traçar seu problema central. Embora seja importante olhar para o
algumas conexões que emergem de meu trabalho com as desenvolvimento como liberdade, e mapear cuidadosamente
comunidades Adivasi e nossos engajamentos coletivos com as maneiras pelas quais cada desenvolvimento pode ser
a Constituição e a lei no curso deste trabalho. alcançado através da realização das capacidades (veja
o enorme corpus de escritos, especialmente por Martha
Para começar, há muitos caminhos de abordar o Nussbaum e Amartya Sen), é necessário também reexaminar
‘desenvolvimento’. As associações dominantes do termo as barreiras para a liberdade e a realização das capacidades
são: ‘substituição, ‘grandes danos’, ‘degradação ambiental, em suas especificidades históricas e sociais; é imperativo
‘revolução verde’, ‘crescimento econômico’, mineração, entender os meios que a nossa ordem social engendra
ocupação armada, apropriação do conhecimento indígena, o desenvolvimento do subdesenvolvimento e da falta de
do comércio, liberalização e globalização. Um pouco liberdade (para voltar a um velho debate).
abafado pelo rolo compressor do ‘desenvolvimento’ – tanto
sua prática e importância, a resistência para isto – é o Entre as comunidades Adivasi, existem mais de 500 tribos
‘outro desenvolvimento’ associado à sustentabilidade, reconhecidas nos termos do Artigo 342 da Constituição da
permacultura, proteção ambiental, o cultivo de sistemas Índia, que estão espalhadas pelo país, com exceção dos
ecológicos e sistemas de conhecimento tradicional. Incluídas estados de Punjab, Haryana, Déli, Pondicherry e Chandigarh.
aqui estão as pequenas, porém determinante, lutas pela As regiões Central e Nordeste da Índia possuem a maior
sobrevivência, voz e visibilidade em todo o subcontinente concentração das comunidades Adivasi; sendo a proporção
da Índia – a resistência para POSCO1, Vedanta, Narmada, de mais de 50% nos estados do Nordeste, Lakshadweep,
Polavaram; e a resistência em Chhattisgarh e Manipur, Dadra e Nagar Haveli. Destes, cerca de 75 são descritos
dentre outros. A lista é um livro por ela mesma. como Grupos Tribais Primitivos [PTGs] no discurso oficial,
Se nós utilizarmos as estruturas deste ‘outro desenvol- uma descrição que é ostensivamente baseada no habitat,
vimento’ como nosso ponto de partida, dificilmente se poderá na economia e tamanho populacional – mas que também é
contestar que o pluralismo e a diversidade (de todas as uma descrição estigmatizante.
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da Floresta) são designados para regular a governança e
A não-discriminação e a liberdade assumem uma res- autonomia política. Como tal, eles se tornaram o pára-raios
sonância muito distinta para os Adivasis. Tribos nômades e de intensas lutas e deliberações por redes Adivasi de todo o
semi-nômades, assim como tribos pastoras e engajadas na país. Num aspecto importante, os debates ao redor destes
caça, coleta de alimentos e agricultura itinerante, requerem atos representam um exercício no popular e até mesmo
a garantia da liberdade de movimento com o direito a constitucionalismo transformativo.
uma territorialidade móvel. Tribos que vivem em áreas
reconhecidas pelos Inicisos V e VI da Constituição indiana “... é produtivo utilizar o
requerem o direito de permanecer nessas áreas sem o medo constitucionalismo para pro-
de serem desapropriadas, assegurando-lhes a liberdade de
não se moverem. Pessoas pertencentes a tribos listadas mover a conexão próxima de
nestes termos que vivem em áreas irregulares não possuem
qualquer garantia de proteção de sua terra natal, mesmo que
desenvolvimento e justiça ”
estas possam ter existido por gerações. Para os Adivasi aproveitarem o direito à não-discriminação
protegido pela Constituição da Índia, o direito de liberdade
Em todos estes casos, o direito à liberdade é expresso deve traduzir-se em liberdade de colonização interna,
nos termos da definição da territorialidade – terras natais um direito que foi assinado em 1950, o ano em que a
que podem ser móveis ou fixas, mas que conferem uma Constituição entrou em vigor com força. Ele é, portanto, apto
identidade particular a seu povo, permitindo práticas a situar a PESA e as Forest Right Acts (FRA) no âmbito da
distintas de sustento. As relações da terra têm sido o cerne estrutura da moralidade constitucional. Para Ambedkar, o
do trabalho dos adivasi com a lei e a Constituição – ambos grande defensor dos direitos populares e constitucionais,
no caso das comunidades camponesas ou não – de modo funcionamento pacífico de uma Constituição Democrática
que grandes vitórias foram ganhas através de lutas dentro requisitou “uma forma de administração [...] apropriada e no
dos tribunais de Justiça. mesmo sentido da Constituição”.
Dado que uma maioria de comunidades Adivasi são Nós agora podemos reformular a questão: Como a
moradores das florestas, a questão da terra natal não é discriminação produz exclusão a partir de um desenvolvimento
limitada à terra, mas se estende à sua presença em toda a concebido nos termos da justiça? É este contexto de
floresta. Dessa forma, as preocupações destas comunidades múltiplas camadas da discriminação e uma multiplicidade
não se limitam à subsistência e residência por si mesmas, de intersecções de opressôes que precisam ser levadas
mas se espalham por questões de ecologia, meio-ambiente, em conta na construção de uma ideia de desenvolvimento. 6
conservação, regeneração e sistemas de conhecimento Dadas as específicas e crescentes manifestações da
que fazem parte da economia política da floresta. Devido à discriminação e sua tendência à auto-perpetuação, a ideia
sua estreita relação com a vida da floresta, eles são alvos de desenvolvimento não deve permanecer, como foi em
fáceis de autoridades e grupos em nome da proteção da vida sua maior parte no passado, um projeto anti-constitucional,
selvagem e conservação da floresta. mas entrar no campo do constitucionalismo e proliferar
suas ferramentas. Embora o campo da justiça possa ser
A localização deles na floresta dá margem para em torno aberto de muitas maneiras diferentes, é produtivo utilizar
da governança, autonomia e auto-determinação, assim o constitucionalismo para promover a estreita ligação
como do direito das florestas – lutas que representam uma do desenvolvimento e da justiça. Quais aspectos de
ameaça à concepção de soberania assegurada pelo Estado constitucionalismo são indispensáveis para esta ideia de
neoliberal desenvolvimentista. No entanto, é a própria desenvolvimento enquanto justiça? Se concordarmos que o
defesa da autonomia – expressa no slogan dos Adivasi pluralismo e a diversidade, sem prejuízo, são idealmente o
“maava naate maava raaj” [nossa terra, nossas regras] mas pulsar de uma sociedade vibrante e justa, e portanto, central
também nos Incisos V e VI da Constituição indiana – que para ideia de desenvolvimento, como a Constituição lida com
protege especificamente a terra natal dos adivasi e provêm este imperativo?
linguagem, ferramentas e estratégias para responder à
insensível, hegemônica e violenta soberania e tenta limitar o A abordagem de constitucional aborda o desenvolvimento
alcance da Constituição. como um esforço limitado em que a justiça e a liberdade são
espacialmente e socialmente protegidas e realizadas em
Os Adivasis também cada vez mais se sentem confrontados conjunto pelo Estado democrático – responsável pela proteção
pelo poderoso lobby na Suprema Corte, que está localizada a contra danos, pela distribuição dos bens e a realização
uma distância física e social instransponível a partir deles. Eles das capacidades, em resumo, um repositório -chave da
têm afirmado, contudo, seus direitos com uma tenacidade moralidade constitucional. Estas não são responsabilidades
que foi sua herança primária ao longo das gerações – que fácil ou voluntariamente suportadas por um governo,
embora a imaginação popular tenda a estigmatizá-los como mas elas são inegavelmente responsabilidades do Estado
“simples” e “sem astúcia”. que pode disciplinar os governos, especialmente quando
sujeitos às pressões dos movimentos pelas liberdades civis e
O Ato Panchayat pela Extensão das Áreas de Proteção direitos dos Adivasi.
Governamental de 1996 (PESA), as Castas Reconhecidas e
Outros Habitantes Tradicionais da Floresta (Reconhecimento
dos Direitos da Floresta) Ato de 2006 (Ato pelos Direitos
A
anos mostram a nova energia intelectual desta estrutura
s Associações nacionais são membros cole- bipartite.
tivos da ISA, e as Comissões de Pesquisa são
também uma parte vital de sua estrutura
interna, mas suas funções mudaram consideravelmente
ao longo do tempo. Quando a ISA foi fundada em 1949,
sob os auspícios da UNESCO, o modelo de representação
> Celebrando
nacional das Nações Unidas foi usado. Existiam poucas
Associações Nacionais de sociologia naquela época.
Robert K. Merton
Isso mudou rapidamente, os países foram encorajados Por Nadia Asheulova, Centro para a Sociologia da
a criar suas associações e, em 1959, 35 associações Ciência e Estudos da Ciência, filial de São Petersburgo,
Academia Russa de Ciências, membro da Diretoria
se juntaram à ISA. O Conselho Dirigente da ISA era
- RC231 ; e Jaime Jiménez, Universidade Nacional
constituído por representantes dos países membros, Autônoma do México, Comitê Executivo da ISA
que elegiam o Comitê Executivo (EC) entre si. Ainda havia
O
uma Comissão de Pesquisa (RC), que decidiu começar centésimo aniversário do nascimento de Robert
a trabalhar com questões de estratificação social e Merton foi celebrado em julho de 2010. Ele foi um
mobilidade. Ao final dos anos 1950, no entanto, por dos principais
meio de subcomissões, pesquisas foram se proliferando sociólogos do século XX.
para outros campos, como a família. Contudo, cada Não foi somente esta data
subcomissão permaneceu em um pequeno grupo de que nos fez olhar para Ro-
trabalho, que recrutava seus membros por convite, sem bert Merton, mas tam-bém
que houvesse mais de dois representantes do mesmo o fato de que seu no-me 7
país. esteve intimamente ligado
à emergência e ao reco-
Ao longo do tempo, as Subcomissões de Pesquisa nhecimento da Sociologia
passaram a serem vistas como mais ativamente da Ciência como um sub-
internacionalistas e, portanto, merecedoras de um campo da sociologia. Em
papel mais saliente. Em 1970, importantes mudanças 1966, Merton co-fundou
constitucionais tanto abriram as Subcomissões de (com Joseph Ben-David) o Robert Merton, 1910-2003.
Pesquisa quanto intrduziram a adesão individual, Comitê de Pesquisa da ISA
enquanto os membros do Comitê Executivo não eram 23 - Sociologia da Ciência (e Tecnologia) e então se tornou
mais escolhidos apenas a partir dos membros do seu primeiro Presidente até 1974. Ele também atuou como
Conselho Dirigente. O Conselho de Pesquisa foi criado Membro Associado do Comitê Executivo da ISA em 1970-71.
e elegeu quatro membros do Comitê Executivo para Merton nasceu na Filadélfia em 1910, de pais imigrantes da
se juntarem aos 11 representantes nacionais. Quanto Ucrânia. Seu nome está ligado a várias direções da pesquisa
mais as Comissões de Pesquisa se tornaram abertas, sociológica, mas, principalmente, se tornou um epônimo
muito maiores elas ficaram e alguns membros não eram para a Sociologia da Ciência. A frase “sociologia da ciência
mais tão ativos na pesquisa de seu campo, e portanto, mertoniana” tornou-se amplamente aceita pela comunidade
participar da Comissão de Pesquisa tornou-se menos científica. Merton foi o primeiro sociólogo a receber a
prático. Gradualmente, as Comissões de Pesquisa Medalha Nacional de Ciência, a mais alta honraria científica
tornaram-se mais salientes na direção e, em 1994, a nos EUA, em 1994. Concentrando-se na teoria de “alcance
estrutura atual foi introduzida, na qual as Comissões médio” –ao invés da grande teoria ou do empirismo abstrato-
de Pesquisa e as Associações Nacionais atendem a um Merton estabeleceu conceitos que foram incorporados
Conselho, votam e compõem metade dos membros do na vida cotidiana. Ele cunhou o conceito de profecia auto-
Comitê Executivo. realizável, desenvolvendo a idéia de papéis modelos e
criou, com seus colegas, a entrevista focada que mais tarde
A Comissão de Pesquisa elegia o Vice-Presidente de evoluiu para grupos focais -uma distorção da idéia original de
Pesquisa, contudo isso deixou alguns representantes Merton. Em 1942, Merton ganhou muita atenção quando
nacionais insatisfeitos com seu papel limitado. Em descreveu o ethos da ciência, e as conseqüências desses
2002, foi acordado a criação de um Vice-Presidente valores no comportamento dos cientistas em contextos
das Associações Nacionais, e Sujata Patel foi eleito institucionais. O trabalho de Merton teve conseqüências para
como o primeiro titular do cargo. Isso tornou novamente além da academia, incluindo seu estudo sobre comunidades
integradas com sucesso, que, por sua vez, ajudou a moldar o
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caso Brown vs. Board of Education, que, por sua vez, levou a econômico ou social revertem para aqueles que já os tem,
Suprema Corte a decidir pelo fim da segregação das escolas eles alavancam então estes recursos para ganhar mais
públicas dos EUA. Merton é provavelmente mais conhecido poder ou capital. Uma edição especial em homenagem ao
pelo seu trabalho The Sociology of Science: Theoretical centésimo aniversário foi publicado pela Academia Russa
and Empirical Investigations, e por ter cunhado o efeito de de Ciências, filial de São Petersburgo, e pelo Comitê de
Matthew que se referia ao fenômeno dos ricos ficando mais Pesquisa 23.
ricos e os pobres ficando mais pobres, ou seja, a acumulação
da vantagem. Bíblico em sua origem, o conceito descreve 1
Comitê de Pesquisa em Sociologia da Ciência e Tecnologia.
o fenômeno social na ciência em que poder e capital
> Confrontando
a injustiça da água
Por José Esteban Castro, Newcastle University, (Reino Unido) Comitê de Programa da ISA
N
a década de 1980 as Nações acesso a saneamento básico. Então as Os MDGs para água e saneamento
Unidas estabeleceram como Nações Unidas adotaram os Objetivos básico imaginavam reduzir pela
objetivo trazer 40 litros de Desenvolvimento do Milênio (MDGs) metade a proporção da população
de água limpa e potável diariamente no ano de 2000. Estes, em comparação mundial com falta de acesso a
a todo ser humano até 19901 na aos objetivos da “Década da Água”, esses serviços até 2015. Apesar de
“Década de água”. É desnecessário parecem mais frágeis e até mesmo especialistas afirmarem que estes
dizer que o objetivo não foi alcançado, retrógrados, talvez como resultado da objetivos são mais “realistas” do que
de forma que em 1990 cerca de 17% influência do conservadorismo de livre os da década de 1980, na prática
da população mundial não possuía mercado dominante na década de isso significa aceitar que milhões de
acesso nem mesmo a 1 litro de água 1990. seres humanos continuarão a sofrer
limpa, enquanto 40% necessitavam de e morrer de doenças preveníveis num
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futuro próximo. Na realidade, relatórios frequentemente solicitadas a se geral; a construção de infra-estrutura
oficiais da ONU que monitoram o comportar como negócios privados, hídrica de grandes obras, incluindo
progresso das MDGs mostram que em colocando a eficiência econômica barragens, desvio de rios, e hidrovias;
algumas das regiões mais pobres do (geralmente entendida como “lucro”) e a destruição dos ecossistemas aquá-
mundo a situação piorará, e embora antes da eficácia social (i.e. fornecendo ticos frágeis, como manguezais e
a maioria dos países possa alcançar um serviço universal a todos indepen- áreas úmidas para abrir espaço para a
o objetivo de ter água limpa, muitos dentemente da sua capacidade de expansão das atividades empresariais.
falharão no objetivo de possuir serviços pagar por ele). Além disso, muitos
de saneamento básico. Para piorar a operadores públicos têm que entrar > Confrontando a desigualdade
situação, o cumprimento das MDGs em “parcerias” público-privado, geral- de água e injustiça
para água e saneamento também pode mente uma privatização de facto com
implicar no agravamento das condições um nome diferente, a fim de obter De uma perspectiva sociológica que
ambientais, de forma que mais água acesso a fundos de investimento. enfatiza o potencial transformador
doce teria que ser utilizada para Estes e outros problemas, incluindo do conhecimento científico, esses
satisfazer a população não-atendida práticas prolongadas de corrupção, processos possuem um caráter binário:
e haveria um aumento significativo do ineficiência e irresponsabilidade, que eles são dignos e relevantes enquanto
fluxo de água residual. Se levarmos em caracterizam, em muitos casos, os objetos intelectuais de estudos, mas
consideração que no Hemisfério Sul serviços públicos, e não apenas nos o conhecimento resultante desses
apenas 5% da água residual recebe países pobres, continuam a ser a fonte esforços intelectuais também possui
algum tipo de tratamento antes de de multiplicação de confrontos sociais conseqüências bastante praticas,
ser lançada ao meio ambiente, entre e políticos. materiais e fundamentalmente polí-
outras razões por causa dos enormes ticas, sejam elas reconhecidas ou não.
custos envolvidos, torna-se claro O acesso à água e aos serviços de Esta é uma premissa fundamental dos
que o cumprimento das MDGs não saneamento são claramente aspectos atuais esforços inter e transdiciplinares
requer somente esforços econômicos, fundamentais da vida civilizada que de pesquisa em discussões sobre a
financeiros e logísticos substantivos, continuam a estar além do alcance da desigualdade da água e injustiça na
mas também implicações éticas grande proporção dos seres humanos. América Latina e no Caribe, conduzidos
políticas espinhosas e a longo prazo. Entretanto, os problemas acima pela rede de pesquisa WATERLAT
destacados são apenas a ponta do (www.waterlat.org). A abordagem da
> Lutas sociais e a mercan- iceberg das condições estruturais de rede de pesquisa é composta por três
tilização de bens públicos desigualdade e injustiça características hipóteses principais: 9
da relação dos humanos com a água
A situação internacional sobre este e, de forma geral, com o ambiente 1) O caráter capitalista de governo
assunto pode ser ilustrada pelo fato de natural. Sem abandonar o tópico e de gestão da água. O fato de que a
que a iniciativa da ONU de declarar o sobre a água, levaria ainda muito dinâmica central que crescentemente
acesso diário a poucos litros de água espaço para fornecer uma descrição estruturas as atividades relacionadas
limpa um “direito humano” tem sido superficial sobre a característica ao governo e à gestão da água
firmamente combatida por muitos multidimensional dessas condições. ao redor do mundo é em grande
países, particularmente no Norte rico. Há, ainda, alguns assuntos de par- parte dirigida pelo processo de acu-
Embora em 2010 a ONU finalmente ticular relevância que devem ser mulação de capital. Considerações
conseguiu obter uma maioria de votos mencionados neste breve artigo. Eles como a necessidade de enfrentar
em favor de tornar o acesso à água um incluem a expansão descontrolada de a insustentabilidade ambiental, a
direito humano, a maioria desses países mineração a céu aberto, que desde a desigualdade e a injustiça são su-
que se opôs à iniciativa se absteve de década de 1990 tem sido extendida a bordinadas à dinâmica dominante do
votar. Isto não está desconectado do regiões do planeta onde a mineração processo de acumulação.
fato de que desde a década de 1980 tinha sido bastante marginal, como
as políticas promovidas em todo o em grande parte da América Latina. 2) A sociogênese do desamparo2 em
mundo para “resolver” a crise da Atualmente, a mineração a céu aberto relação à água. Os seres humanos
água e saneamento foram centradas do México à Patagônia está destruindo estão expostos a uma ampla gama de
na privatização e mercantilização da geleiras e florestas, contaminando a perigos e riscos relacionados às formas
água e de serviços à base de água, o água e o solo com cianeto, mercúrio em que a água é governada e gerida.
que exigiu o abandono da noção de e outras substâncias nocivas e, Estes perigos e riscos derivam de uma
que o acesso aos serviços básicos deslocando – muitas vezes com série de causas – da falta de acesso
é um bem social ou público. Apesar força –, ou envenenando populações à água limpa e aos serviços essenciais
das claras políticas de privatização humanas. Nas raízes das contínuas à exposição a fenômenos naturais ou
da água terem sido derrotadas – embora muitas vezes silenciadas antropogênicos como inundações, se-
em muitos países, o processo de ou ocultas – lutas sociais ao redor do cas ou poluição. Apesar do crescente
mercantilização é implacável e proce- mundo estão: o intenso desmatamento e sofisticado conhecimento técnico-
de independentemente da identi- com conseqüências significativas científico e da capacidade de prever e
dade dos provedores de serviços para os sistemas hidrogeológicos, intervir, tais perigos e riscos continuam
públicos, privados ou da “sociedade comunidades humanas e padrões a estar entre as maiores ameaças à
civil”. As companhias públicas são globais climáticos de forma mais civilização humana. A WATERLAT coloca
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ênfase não somente no estudo da internacional de 3 dias sobre “A tensão com conferências, mesas-redondas,
vulnerabilidade e fragilidade humana, entre justiça social e ambiental: o caso workshops e reu-niões com o público.
mas mais fundamentalmente na so- da gestão da água”. A conferência Cada dia será centrado em um tema.
ciogênese do desamparo que afeta teve cerca de 300 participantes da O primeiro dia terá foco nas “Formas
um grande proporção da população Argentina, Bolívia, Brasil, Canadá, de desigualdade de água, injustiça
mundial no que diz respeito a essas Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, e desamparo”, enquanto o segundo
ameaças. Haiti, Itália, México, Nicarágua, Peru, será direcionado às questões de
Espanha, Suécia, Reino Unido, Uruguai “Desigualdade, injustiça e impotência
3) Confrontando o desamparo através e Venezuela. Um livro eletrônico com na interface da saúde entre a água
da democratização substantiva do uso, mais de 100 páginas (em sua maioria e o público”. Finalmente, o terceiro
gestão e controle da água, mas também em espanhol e português) apresentado dia se concentrará em “Confrontando
a democratização da produção e do no evento está disponível online a desigualdade de água, injustiça e
acesso ao conhecimento sobre a água. (http://www.waterlat.org/publications. desamparo: um desafio x-disciplinar”.
A WATERLAT adota uma abordagem html), ), e um DVD com a síntese das Informações atualizadas sobre o
transdisciplinar, que reúne acadêmicos atividades, incluindo gravações de encontro estarão disponíveis online
e uma ampla gama de atores sociais vídeo de palestras e entrevistas com e m : ( h t t p : / / w w w. w a t e r l a t . o r g /
envolvidos na luta para democratizar participantes também está disponível AcademicEvents.html).
estas atividades relacionadas à água. via pedido (e-mail: waterlat@ncl.ac.uk).
Estes atores incluem criadores e
implementadores de políticas, ges- O próximo encontro da rede será
1
40 litros é de acordo com algumas estimativas, a
quantidade mínima de água potável necessária para
tores da água, movimentos sociais, realizado na Cidade do México entre 24 satisfazer as necessidades básicas.
sindicatos, organizações de meio am- e 26 de outubro de 2011, organizado
biente e comunidades indígenas, entre pela Faculdade Latino-Americana de
2
Enquanto “vulnerabilidade” implica a propensão a ser
ferido ou sofrer ataques e “fragilidade” é a qualidade
outros. Ciências Sociais (FLACSO México), ou estado de uma coisa que pode ser facilmente
um dos parceiros da rede. O evento quebrada ou destruída, “desamparo” incorpora a
A WATERLAT realizou a sua reunião será dedicado à “Luta contra a dimensão social do problema: é a propriedade dos
seres humanos sem seus meios de defesa, isto é, a
anual de 2010 em São Paulo, desigualdade e injustiça da água na propriedade de estar desarmado.
Brasil, que incluiu uma conferência América Latina e Caribe”, e contará
10
N
osso papel na Sociologia é abril de 2011 em Barcelona. Pela
Na mesa redonda sobre O futuro da
essencial... o fato de 300 primeira vez, estudantes (graduandos,
Sociologia tivemos um debate sobre a
de nós, jovens sociólogos, mestrandos e doutorandos) de Madri,
forma como a sociologia pode se tornar
estarmos aqui hoje é a chave para o Granada, Málaga e Valência também
um serviço público. “Nós precisamos
futuro desta disciplina”. Com estas se juntaram aos da Catal-unha. Cerca
parar de analisar o que já sabemos,
palavras o presidente da Associação de 90 trabalhos fo-ram entregues em
precisamos parar de publicar sobre
Júnior de Sociologia – um estudante temas como iden-tidades, racismo,
temas que são de pouco interesse
de mestrado e pesquisador júnior - desemprego, de-mocracia, sexualidade
público, em vez disso, atender as
abriu o 4º Congresso Catalão de Jovens e ecologia - demonstrando aos colegas
demandas da sociedade”. Também
Sociólogos, realizado em 29 e 30 de e professores nosso compromisso com
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DGN VOL. 1 / # 5 / JULHO 2011
tivemos sessões sobre a profissionalização da sociologia, científico e comprometida socialmente. Será desenvolvido um
compartilhando conhecimentos e experiências de pesquisas site para a Associação Júnior de Sociologia, bem como sua
aplicadas e acadêmicas. Encontramos espaço para discutir presença no Facebook e Twitter. Por último, mas não menos
nosso futuro na profissão e uma colaboração possível com importante, a festa do Congresso foi outro momento chave
outras organizações como a Sociedade Catalã de Sociólogos onde nós pudemos debater, criar projetos, fazer amigos e
Profissionais e Politologistas. também dançar!
11
O
tem sido reivindicado pelo povo”.
Washington Post apelidou da sociedade civil com ela mesma
o nosso movimento que – uma discussão que ocorre longe
começou em 15 de maio das instituições formais de poder e
como “A Revolução Espanhola” – um de decisão política. Entre as idéias
movimento que se espalhou muito mais difundidas é o principio de que Na Plaça Catalunya de Barcelona
além da Espanha e chegou até o Japão. “ninguém nos representa”. Assim, O (Praça da Catalunha), encontramos um
Cidadãos se apropriaram do espaço Movimento 15 de maio desenvolveu desses espaços, um dos mais fortes
público para debater, discutir, refletir uma forma política distinta baseada na “agoras” neste movimento. Dentro do
e, finalmente, em comum acordo sobre auto-organização coletiva da sociedade acampamento permanente na praça,
como eles gostariam de reorganizar civil através de assembléias. Os o ponto central é a Assembléia Geral
a habitação, a saúde, a educação e espaços públicos são, assim, abertos diária, apoiada por comissões que têm
outras esferas da sociedade. O povo para pessoas de diferentes culturas, por base as necessidades e exigências
elabora as suas propostas particulares idades, níveis educacionais e todos do movimento. Qualquer pessoa
através de uma forma “dialógica” de eles possuem voz igual para expressar que vem para a praça pode aderir a
democracia, com base na discussão suas opiniões. qualquer uma das comissões. Cada
>>
DGN VOL. 1 / # 5 / JULHO 2011
Praça Catalunya, Barcelona - Assembléia 12
Geral em Sessão.
D
izem que o historiador inglês E. H. Carr teria governo do apartheid a negociar com o Congresso Nacional
observado que o que você vê depende de qual lado Africano, sob a liderança de Nelson Mandela. A solidariedade
da montanha você está. Estou no extremo sul da mostrada, por exemplo, por trabalhadores portuários em
África, em Johanesburgo, a cidade de ouro. Johanesburgo São Francisco, quando se recusaram a descarregar navios
foi construída na primeira fase da globalização – a primeira sul-africanos, é um dos muitos exemplos de solidariedade
grande transformação – no final do século XIX. internacional.
Nesta breve palestra, farei três coisas: (1) apresentar A vitória do Congresso Nacional Africano em 1994 foi precária,
o contexto social para um entendimento do trabalho na medida em que ocorreu em um mundo em que o poder
global de uma perspectiva do Sul; (2) discutir meu próprio havia se deslocado decisivamente para o capital. A África
trabalho sobre o impacto da reestruturação global sobre do Sul estava sofrendo uma dupla transição. Por um lado,
os trabalhadores; (3) sugerir uma maneira diferente de foi uma transição para a democracia, em que o movimento
entender como um contramovimento poderia ser construído operário militante havia obtido direitos significativos; por outro
no Sul Global. lado, tinha entrado na economia global, onde a competição
internacional estava forçando empregadores a reduzir custos
> O contexto social e a produzir pelo preço chinês.
Esta segmentação da classe trabalhadora permanece Enquadramos o estudo nos termos da noção de Polanyi do
o desafio central à construção da solidariedade entre duplo movimento, sugerindo que este período de globalização
trabalhadores – não há uma condição proletária homogênea, neoliberal poderia ser mais bem descrito como a segunda
aqui ou em qualquer outro lugar do mundo. Assim como no grande transformação. Encontramos modestos experimentos
final do século XIX, em muitas partes do mundo hoje, um e iniciativas para proteger a sociedade contra o mercado
emprego ruim é melhor do que não ter nenhum emprego! desregulado, mas em geral suas respostas à reestruturação
global foram localizadas. A única tentativa de desafiar a
reestruturação global foi uma iniciativa dos trabalhadores
Mas (e essa história precisa ser contada) os trabalhadores
da Electrolux em Orange, na Austrália, de globalizar sua luta.
negros demoraram a ganhar seu direito de se organizar e
Por meio da internet, conseguiram estabelecer contato com
se unir a um sindicato. Sua luta para obter reconhecimento
trabalhadores da Electrolux em Greenville, uma pequena
para seus sindicatos foi longa e dolorosa, tendo em vista
cidade em Michigan, nos Estados Unidos, e da sede da
os empregadores intransigentes e um Estado do apartheid
Electrolux na Suécia. Mas esta tentativa de construir
hostil e brutal.
solidariedade entre trabalhadores na produção fracassou. A
liderança do sindicato sueco era próxima demais da gerência
Um fator importante em sua vitória foi a solidariedade para não ver as vantagens de transferir a empresa para a
internacional. A campanha para boicotar a África do Sul China. Mas “fracassos bem-sucedidos” podem fornecer a
e impor sanções financeiras foi crucial para persuadir o
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DGN VOL. 1 / # 5 / JULHO 2011
base para o próximo passo na luta. Lembramos o boicote de Uma ideia inovadora que está sendo implementada no
ônibus de Montgomery mas, como Aldon Morris demonstrou, Sul Global é a ideia de um piso social global – um direito a
ele foi precedido por vários outros “mal sucedidos” e pouco pensão, acesso à saúde, auxílio maternidade e uma renda
lembrados boicotes. mínima básica, seja por meio de uma garantia de emprego
ou um auxílio direto em dinheiro. Estas são inovações
> As implicações para a solidariedade contemporâneas em política social em países como Brasil,
transnacional? Índia e África do Sul.
É útil, quando pensamos em solidariedade transnacional, Estas novas políticas são o embrião de um contramovimento
distinguir entre três tipos diferentes de solidariedade. – mas é um contramovimento de cima; o Estado está
intervindo na Índia por meio da NREGA para garantir a cada
Chamarei o primeiro tipo de humanitário. Estes são atos lar rural 100 dias de trabalho por ano. Dá a cada lar o direito
de solidariedade em defesa de vítimas de violações de ao trabalho, desde que tenham um cartão de emprego.
direitos humanos – como vítimas de racismo ou trabalho Alguns podem considerá-lo um mero reformismo ou uma
infantil ou uma luta por reconhecimento sindical por um estratégia de cooptação – mas isto é ignorar o principal.
grupo de trabalhadores. Estes são motivados em grande Estes podem ser os primeiros passos numa longa trajetória
parte por reivindicações morais e podem ser relativamente de expansão estável do sistema de proteção social.
poderosos, como o bem sucedido movimento anti-apartheid
demonstrou. Este tipo de solidariedade pode assumir a forma O ponto é que a globalização não é somente um
de um boicote de consumidores, ou campanhas, como a constrangimento; é também uma oportunidade para
campanha contra Rio Tinto por direitos trabalhistas básicos. a organização para além das fronteiras. A globalização
Estas campanhas são relativamente fáceis e baratas de acelerou o fluxo de um discurso baseado em direitos, e isto
organizar na era da internet. está levando a movimentos de base como vimos em meses
recentes no norte da África.
Chamarei o segundo tipo de solidariedade transnacional
de abordagem da produção. Aqui, atos de solidariedade são Contudo, as organizações mais inovadoras que emergiram
entre trabalhadores de fábrica a fábrica. Estes atos são os são redes transnacionais como StreetNet International.
mais difíceis de organizar, como vimos no caso australiano Baseada em Durban, StreetNet International reúne
– a internacionalização da produção criou uma lógica internacionalmente vendedores ambulantes para pressionar
competitiva entre países. Se trabalhadores da GM entram governos municipais pelo reconhecimento de seu direito de
em greve, outros fabricantes de carros venderão mais. Mas, vender em espaços públicos. 14
a despeito destes obstáculos, há crescente coordenação de
solidariedade transnacional na produção. Trabalhadores da A escolha não é entre se tornar global ou permanecer local,
Volkswagen se reúnem anualmente para coordenar suas mas sim navegar entre o local e o global. Esta combinação
demandas em fábricas da Volks na Alemanha, Brasil, Índia do local e do global levou à emergência do que Sidney Tarrow
e África do Sul. Marinheiros são o primeiro setor a iniciar chama de “cosmopolitanos enraizados”.
negociações coletivas globais. Inspetores da federação
internacional de trabalhadores do transporte realizam Ao conectar a produção globalmente por meio de cadeias
inspeções em embarcações quando elas atracam em portos. globais de valor, as empresas se tornaram vulneráveis a
Deste modo, pela primeira vez na história, conseguem novas fontes de poder. Um atraso na entrega de uma parte
definir um salário mínimo global no setor e garanti-lo para de motor fabricada na Coreia para uma linha de montagem
marinheiros de todo o mundo. na Australia pode forçar empregadores na Australia e Coreia
a negociar. Isto não é tão diferente do desafio que Henry
Ford encarou em Detroit na década de 1930. Novas fontes e
Estas novas formas de organização transnacional
formas de poder emergiram na era da globalização.
desafiam as formas convencionais de sindicalismo,
baseadas nacionalmente, que prevaleceram no século XX.
Se é prematuro chamar de globalização contra-hegemônica
De acordo com um modelo mais antigo de solidariedade
estas formas de ação, elas sacudiram nossa agenda de
internacional, tais vínculos tendiam a ser canalizados por
pesquisa, e nos desafiaram a repensar a relação entre o
meio de departamentos internacionais especializados e se
capital global e as Instituições Financeiras Internacionais,
davam mais provavelmente entre os líderes das federações
por um lado, e o trabalho global e os movimentos sociais, por
sindicais. A comunicação instantânea e direta por e-mail
outro. Esta agenda de pesquisa emergente irá requerer uma
e Skype mudou tudo isto. Estas novas formas de ação
análise de múltiplos níveis para contribuir com a construção
transnacional são descentralizadas e tendem a ser tanto de
de um contramovimento global.
baixo para cima quanto de cima para baixo.
chinesa
visa vincular os estudantes às lutas
trabalhistas – documentou abusos
generalizados sobre os direitos
de trabalhadores chineses por
Por Pun Ngai, Universidade Politécnica de Hong Kong
corporações transnacionais durante 15
a década passada. Atrasos nos
A
pagamentos, horas extras forçadas
aceleração da “reprodução da batalha.
e excessivas, e condições de saúde e
ampliada” do capitalismo em
> O nascimento de uma nova segurança terríveis são lugares comuns.
uma escala global contribuiu
classe operária na China Essa força de mercado capitalista
para uma rápida transformação das
global é de certo modo facilitada pelo
relações de classe na China e no Ao longo dos últimos 30 anos, o
Estado chinês pós-socialista, com suas
resto do mundo. Edward Webster (na Estado reformista e o capital global
medidas de restrição da liberdade de
presente edição da Diálogo Global) conjuntamente transformaram a
associação e do direito de greve.
fala sobre a possibilidade de uma nova China na “oficina do mundo”, criando
forma de solidariedade transnacional uma nova classe operária de algumas
que poderia promover a unidade centenas de milhões. Aliados ao > Ativismo trabalhista de
do movimento trabalhista mundial. movimento trabalhista internacional, e operários migrantes na China
Compartilho o mesmo sonho e gostaria desprovidos de otimismo, ainda assim A China da era reformista teste-
de contextualizar os esforços locais devemos manter um espírito inabalável munhou o desenvolvimento da dife-
na China em uma perspectiva global. para confrontar esse pesadelo global. renciação de classe, conflitos de
Todos nós sabemos que o avanço Se a China é hoje o sonho para o capital classe e da polarização de classe.
da tecnologia e da informação cria global à procura por novas formas Desprovidas de canais institucionais
fluxos de capital hiper-móveis, e a de acumulação em ritmo e escala para explicitar suas queixas, as
transnacionalidade do novo trabalho inimagináveis, defendo que ergueu-se classes subordinadas mobilizam agora
continua a esfacelar as relações simultaneamente um pesadelo global protestos de massa para demonstrar
de classe existentes. Contudo, a para as novas classes operárias. Esse seu descontentamento e resistir à
“despedida da classe operária” dos é apenas o início de sua luta. opressão. Estatísticas oficiais revelam
acadêmicos ocidentais ou o fim da que, entre 1993 e 2005, o número
“análise de classes” não tornaram Nos últimos anos, o termo “oficina do de protestos em massa aumentou por
as relações de classes obsoletas. mundo” foi usualmente empregado todo o país de 10 mil para 87 mil casos
Em vez disso, as questões de classe para descrever a capacidade da – um acréscimo médio aproximado
e dos conflitos de classe foram China para a produção global. de 20% ao ano. Do mesmo modo,
transferidas, com a fuga de capitais, Quando o capital global é realocado o número de participantes nesses
para as sociedades do Terceiro Mundo, para a China, ele não está apenas protestos aumentou de 730 mil para
posicionando a China na linha de frente procurando por trabalho barato e mais de três milhões, e deve ser notado
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DGN VOL. 1 / # 5 / JULHO 2011
que 75% desses protestos foram mostra que a formação e a maturidade de esferas, contudo, foi cedendo
iniciados por operários e camponeses. da classe trabalhadora enraízam-se lugar para o surgimento de um regime
Essas manifestações não aumentaram normalmente entre a segunda e a laboral dormitório, que oferece uma
apenas em número, mas também em terceira gerações de trabalhadores nova combinação de trabalho e
tamanho médio, alcance social e grau rurais que foram trabalhar em “lar”, refazendo arranjos capitalistas
de organização. cidades industriais. Esse é o processo anteriores de trabalho-e-residência,
de proletarização, que transforma mas que continua a segregar o
O aumento da polarização das
trabalhadores da agricultura em trabalhador da cidade.
relações de classe na China manifesta-
operários industriais pela privação
se nos conflitos trabalhistas, atual-
de seus meios de produção e O modelo resultante é uma pro-
mente intensificados, e na proliferação
subsistência; de fato, esse tema letarização inacabada, que leva a
do ativismo trabalhista. Lutas cole-
perpassa a história do capitalismo um sentido mais profundo de tornar-
tivas, como manifestações por pen-
mundial. Como resultado, o destino dos se incompleto, isto é, de tornar-
sões, bloqueios de estradas por
trabalhadores depende do processo de se nongmingong (um trabalhador
furiosos trabalhadores que não foram
acumulação do capital e da extensão “quase” ou “semi” inserido no mundo
pagos, e ações legais coletivas contra
da mercantilização do trabalho. Esses industrial). O indivíduo, sofrendo
compensações ilegais deixaram de ser
trabalhadores não possuem nem de uma sensação de inadequação,
notícias exóticas. Seja em empresas
controlam as ferramentas que utilizam, é sujeito a um “vaguear” forçado.
privadas, estrangeiras ou estatais,
as matérias-primas que processam, ou Os portões do mundo urbano e
os protestos estão se tornando
os produtos que produzem. industrial permanecem fechados à
mais conflituosos, e algumas vezes
segunda geração de trabalhadores
os manifestantes chegam a atacar
Quando a China se transformou migrantes. O nongmingong não teve
prédios do governo, redundando em
na fábrica mundial e se tornou para onde ir nem onde ficar, como
confrontos violentos com a polícia. Há
uma sociedade industrializada con- é expresso no poema trabalhista:
evidência ampla de que trabalhadores
temporânea, ela reordenou um fenô- “Você diz que sua vida é destinada
migrantes tornam-se mais pró-ativos
meno comum na história mundial a um estado de pelambulância” e
na defesa de seus direitos, e eles
do capitalismo. O especial sobre a escolheu esse caminho de tornar-se
mobilizam ações de variados tipos,
China é seu peculiar processo de pro- ninguém porque você não é nem um
individuais e coletivas, diretas e
letarização: com fins de incorporar o nongmin (camponês) nem um gongren
legais. Isso significa que as ações
sistema socialista chinês à economia (operário). “Nunca se arrependa,
coletivas de trabalhadores migrantes
global, as autoridades chinesas criaram Mesmo que tenha que sofrer tremendas 16
não se restringem ao uso de meios
o sistema hukou de registro que, como dificuldades”. Esse é o lema da nova
institucionais e legais estabelecidos
o sistema da lei do passe do apartheid geração de trabalhadores dagong, que
para a defesa de seus interesses.
da África do Sul, chamou trabalhadores tentam superar sua experiência de
Eles também estão passando por
rurais para trabalhar na cidade, mas incompletude.
um processo de “radicalização”, por
sem permanecerem na cidade. Para
meio de suas greves, ações de rua
a nova classe trabalhadora chinesa, > Conclusão
e protestos. Apesar do cerceamento
a industrialização e a urbanização
do desenvolvimento de uma força Em resumo, o processo de pro-
ainda são dois processos altamente
de trabalho organizada, greves nas letarização na China da era das
desconexos, uma vez que muitos
fábricas, paralisações do trabalho, reformas criou uma nova classe tra-
operários-camponeses foram privados
negociações coletivas sobre salários, balhadora, progressivamente mais
da oportunidade de viver onde traba-
divulgação de reclamações coletivas, consciente e preparada para participar
lham ou trabalhar onde vivem. Os
ações elaboradas para angariar de várias formas de ação coletiva. A
governos urbanos locais não foram
exposição na mídia ou até ataques “inclusão” da segunda geração de
incentivados a assumir a iniciativa de
contra aparatos estatais são meios trabalhadores migrantes alimentou
conciliar as necessidades do consumo
comuns empregados por trabalhadores uma epidemia de greves espontâneas
coletivo dos trabalhadores, em termo
migrantes para expressar suas no sul da China.
de habitação, educação, atendimento
insatisfações e exigir mudanças. Foram observados o sentido do self,
médico e outras provisões sociais. Os
a ira e a ação coletiva da segunda
trabalhadores migrantes rurais foram
> O desafio para a luta trabalhista geração de trabalhadores campesinos,
barrados de jure, mas não de facto, de
e notou-se que tais trabalhadores estão
viver em centros urbanos pelo sistema
É óbvio que existem barreiras rigidamente posicionados no centro de
hukou e por barreiras de classe que ga-
estruturais que constrangem a luta uma rede de controles e dominações,
rantiam que trabalhadores migrantes
da nova classe trabalhadora chinesa. em que devem negociar e articular
com salários miseráveis seriam im-
Já argumentei que essa nova classe seus próprios interesses. Apesar das
possibilitados de se estabelecer em
passou por um processo sem fim de barreiras estruturais, a nova classe
comunidades urbanas. Em suma,
(semi-)proletarização, mas a nova trabalhadora evoca um conjunto de
o processo de proletarização de
geração está agora experimentando formas de insurgência cotidianas e
camponeses chineses foi moldado
um tremendo “invólucro espiritual” nas coletivas que ameaçam as forças do
por uma separação espacial entre
cidades industriais onde trabalham. capital e tornam o Estado ainda mais
a produção em áreas urbanas e a
determinado a subjugá-las.
reprodução no campo. Tal separação
A história mundial do trabalho nos
E
dward Webster coloca uma questão clássica, porém
atual: se, juntamente à globalização do capital,
uma globalização do trabalho como movimento
social é possível e, nesta conexão, qual é o significado da
constituição de outras identidades e solidariedades.
Lembranças,
Coleta de esterco.
Ray Jureidini
A
Centro para Migrações e Estudos de Refugiados,
cabo de ter notícias de um de meus ex-alunos Universidade Americana do Cairo
que está trabalhando em Juba, no Sudão do
Sul, que escreveu: “Eu tento explicar a técnica
‘bola de neve’ de coleta, o que é um pesadelo para os
africanos que não têm idéia do que seria uma bola de
neve.”
É
um prazer apresentar nossa equipe de editores Gustavo Takeshy Taniguti é bacharel em Ciências
regionais brasileiros aos leitores da Diálogo Sociais pela Universidade de São Carlos (UFSCar) e 19
Global ao redor do mundo. Além disso, estamos atualmente realiza doutorado em Sociologia (USP). Ele
muito felizes por trabalharmos numa publicação que vem desenvolvendo pesquisas sobre a imigração japonesa
vem contribuindo de forma decisiva ao intercâmbio de no Brasil e tem, também, experiência em sociologia do
experiências e informações na sociologia dos mais diferentes trabalho, sociologia econômica e imigração. Ele é membro
locais. Esperamos que este espaço de diálogo possa crescer do corpo editorial da Plural, revista de ciências sociais,
ainda mais. A seguir apresentaremos um breve resumo das e é pesquisador em antropologia do grupo “Núcleo de
atividades de nossos membros, também conhecidos como Antropologia Urbana” (NAU-USP).
“A Equipe Paulista”.
Juliana Tonche é bacharel em Ciências Sociais pela
Andreza Tonasso Galli é bacharel em Relações Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), onde
Internacionais pela Universidade de São Paulo (USP). também obteve seu título de mestre. Hoje, é estudante de
Atualmente é mestranda do Departamento de Sociologia doutorado em Sociologia na Universidade de São Paulo
(USP), onde pesquisa relações de raça e o movimento com foco em iniciativas restaurativas na justiça. Seus
negro. Ela também participa do projeto de extensão interesses são administração de conflitos e a sociologia
da universidade “Educar para o Mundo”, que lida com da punição. Ela é também membro dos seguintes grupos:
educação popular, imigração e direitos humanos. Núcleo da Antropologia do Direito (USP), Grupo de Estudos
da Violência e Administração de Conflitos (UFSCar).
Dmitri Cerboncini Fernandes é bacharel em Ciências
Sociais (2004) e doutor em Sociologia (2010) pela Pedro Felipe de Andrade Mancini é bacharel em
Universidade de São Paulo (USP). Em 2008 concluiu Ciências Sociais pela USP, onde também está finalizando
estágio na École des Hautes Études en Sciences Sociales seu mestrado em Mídias Sociais, mais especificamente
de Paris, França. Atualmente está desenvolvendo pesquisa sobre a sociabilidade em realidades virtuais. No mais, ele é
de pós-doutoramento em História Social na USP sobre as membro do corpo editorial da Plural, a revista de sociologia
relações entre as representações simbólicas que envolvem dos estudantes de pós-graduação da USP.
o gênero musical samba e a política de afirmação cultural
negra nos anos 1970. Renata Preturlan é estudante de mestrado em Sociologia
na USP, pesquisando atualmente a imigração boliviana em
Fábio Silva Tsunoda é bacharel em Ciências Sociais São Paulo. Ela é bacharel em Relações Internacionais
pela Universidade Estadual Paulista (UNESP/ Marília) e na USP. É membro do Grupo de Estudos de Imigração
atualmente é mestrando em Sociologia (USP), onde realiza no Laboratório de Antropologia Urbana e do projeto de
pesquisas sobre militantes por direitos humanos no Brasil extensão “Educar para o Mundo”.
pós-ditadura militar.
O
primeiro do que pode vir a contribuir para a universalização da Outra questão, central para as
ser uma série de encontros sociologia. Tavasoli, basicamente em discussões da sociologia no Oriente
regionais a respeito da harmonia com a posição de Burawoy, Médio, é a relação entre o Islã e a
sociologia no (e sobre o) Oriente Médio chamou a atenção para perspectivas sociologia. Baseado em sua vasta
teve lugar em Teerã, em 28 e 29 de alternativas no pensamento social, experiência de ensino e pesquisa nesta
maio de 2011. Intitulado “Conferência enfatizando, por exemplo, que existem área, Riaz Hassan discutiu com o que
Regional sobre Pensamento Social idéias na sociologia, como a de um curso de sociologia do Islã deveria
e Sociologia no Oriente Médio sociedade civil, que têm suas origens se parecer. Isto inevitavelmente
Contemporâneo”, o encontro reuniu num Irã pré-islâmico ou islâmico, e não levanta a questão sobre se havia um
sociólogos árabes, iranianos e turcos apenas na Grécia. conflito entre as abordagens teológica 20
da região, e de mais outros lugares. e sociológica, sobretudo quando se
A conferência foi organizada pela Discussões da sociologia no Oriente tratava da explicação das origens do
Associação Iraniana de Sociologia Médio geralmente avaliam de forma Islã. O trabalho de Sara Shariati discutiu
em colaboração com a Associação crítica o estado da sociologia e esta relação problemática em detalhes
Internacional de Sociologia e apoiada enfatizam a necessidade de considerar e, ao fazê-lo, claramente se distanciou
pela Fundação de Istambul para a alternativas do Oriente Médio para as da idéia de uma sociologia islâmica.
Ciência e Cultura, pela Biblioteca tradições ocidentais. Esta conferência Ao mesmo tempo, a conferência
Nacional e Arquivos da República não foi uma exceção. Diversos incluiu também apresentações de
Islâmica do Irã, pelo Instituto para trabalhos, de Tina Uys, Sari Hanafi, vários clérigos que desenvolveram a
o Estudo da Religião e Pensamento Michael Kuhn e Ebrahim Towfigh idéia de uma sociologia islâmica, e
em Mashhad, pelo Centro para discutiram o estado problemático da apresentaram uma posição mais hostil
Estudos Científicos Internacionais e sociologia no Oriente Médio como em relação à sociologia ocidental.
Colaboração, e pela Faculdade de o Orientalismo ou a dependência
Ciências Sociais, das Publicações acadêmica. Os participantes foram Muitos dos participantes estavam
Jamee-Shenasan. Cerca de cinqüenta rápidos em apontar, entretanto, que entusiasmados com a idéia de con-
trabalhos foram apresentados durante o objetivo não era se envolver em tinuar a se encontrar anualmente ou
os dois dias, a metade deles em persa. críticas ao ocidente, mas fazer boa semestralmente. Estão em curso planos
sociologia. Isto significa estender para organizar a próxima conferência
As palestras de abertura foram feitas nossos horizontes para além do sobre o pensamento social no Oriente
por Michael Burawoy e pelo decano conhecimento gerado no ocidente e Médio em Istambul, possivelmente em
em sociologia iraniana Gholamabas incluir o Oriente Médio e outras regiões 2011. Em consonância com o espírito
Tavasoli. Burawoy direcionou suas como fontes de conceitos e teorias. crítico da conferência, contudo, foi
observações para o que a conferência De fato, freqüentemente se ouvem sugerido também que o termo “Oriente
sentiu ser um aspecto importante, isto chamados por sociologias indígenas Médio” fosse descartado, já que ele é
é, o estabelecimento de uma sociologia ou alternativas. Foi reconfortante que inadequado para se referir à região do
regional no Oriente Médio. Espera- esta conferência não somente discutiu ponto de vista de, como o estudante
se que tal sociologia compreenda essas reivindicações, mas também holandês de comércio e sociedade
processos não somente dentro das apresentou exemplos de fontes do coloniais J. C. Van Leur disse certa vez:
nações, mas também entre elas. Oriente Médio para o pensamento “o convés do navio, as muralhas da
Burawoy viu o Oriente Médio como um social. Sait Özervarli, Mohamad Tavakol fortaleza, a galeria superior da casa de
teste à possibilidade de uma sociologia e Seyyed Javad Miri discutiram as comércio”.
global, na medida em que a região pode obras de uma galáxia de pensadores
N
a Universidade de Nottin- 2008. um período de três anos sob o Ato de
gham (UoN), acontecimen- Informação da Liberdade. Também é
tos recentes sugerem que Os dois foram mantidos encarcerados interessante esclarecer que antes de
a liberdade acadêmica – a liberdade por seis dias e depois liberados publicar o artigo, Thornton percorreu
de se realizar pesquisas e apresentar sem acusação formal. As prisões exaustivamente todas as vias internas
seus resultados ao público sem temer se seguiram à descoberta efetuada possíveis para apresentar as queixas
uma ação disciplinar, demissão ou por um dos colegas de Yezza de um contra a UoN.
violações de nossas liberdades civis – documento intitulado “O Manual de
pode muito bem ter se tornado mera Treinamento da Al Qaeda” e de dois É exatamente por esta razão que o
retórica na chamada era de “guerra ao artigos acadêmicos no computador de relatório do Dr. Thornton e sua crítica
terror”. seu escritório. Sabir em princípio baixou à UoN e sua conduta não merecem
os documentos para sua dissertação ser interpretados como outro ataque
No dia 4 de maio deste ano, o Dr. de mestrado sobre o Islã radical e à liberdade acadêmica. Se a justiça for
Rod Thornton, um antigo soldado então os enviou a seu amigo Yezza feita neste caso, o Dr. Thornton deverá
Britânico e especialista em terrorismo para que ele tomasse conhecimento ser imediatamente reconduzido, e a
internacional e de contra-insurgência, de tais materiais. Basicamente, Sabir UoN deve submeter a uma sindicância
foi suspenso de seu trabalho como havia obtido o “Manual da Al Qaeda” pública independente os argumentos
professor da Faculdade de Política do site do Ministério da Justiça dos apresentados por ele contra a
e de Relações Internacionais (SPIR), Estados Unidos. universidade.
UoN. A suspensão foi resultado de o
Dr. Thornton ter publicado um artigo no Em seu artigo, o Dr. Thornton detalha Por favor, junte-se a Noam Chomsky
qual ele afirma que os mais elevados como, em vez de levar a cabo uma e outros na defesa dessa causa
escalões da UoN foram responsáveis avaliação da periculosidade dos assinando a petição S.W.A.N. em
diretos pela prisão errônea de dois documentos que foram encontrados http://www.thepetitionsite.com/1/
inocentes muçulmanos – Rizwaan – algo que a UoN é obrigada a efetuar support-whistleblower-at-
Sabir, um estudante de mestrado na de acordo com procedimentos legais nottingham/.
SPIR, e Hicham Yezza, um membro – a direção da universidade preferiu
da equipe na Faculdade de Línguas contatar diretamente a polícia.
Modernas e editor do jornal político Conseqüência desse ato, os dois
Ceasefire – como suspeitos de homens inocentes foram presos. E
terrorismo há três anos, em maio de não só isso: o Dr. Thornton também