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Teoria da contabilidade

Josimar Pires da Silva


Carlos Vicente Berner

www.unipar.br
UNIVERSIDADE PARANAENSE
MANTENEDORA
Associação Paranaense de Ensino e Cultura – APEC

REITOR
Carlos Eduardo Garcia

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Ana Cristina de Oliveira Cirino Codato

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DEGEAD – Diretoria executiva de gestão da Educação
a Distância

Diretora Executiva de Gestão da Educação a Distância


Ana Cristina de Oliveira Cirino Codato

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Coordenador dos Cursos Superiores de Tecnologia e Bacharelado do


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Processos Gerenciais e Administração)
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Coordenadora dos Cursos Superiores de Tecnologia e Bacharelado do


Eixo Tecnológico de Gestão e Negócios (Gestão Financeira,
Gestão Pública, Recursos Humanos e Ciências Contábeis)
Isabel Cristina Gozer

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da UNIPAR

S586t Silva, Josimar Pires da.


Teoria da contabilidade / Josimar Pires da Silva; Carlos
Vicente Berner. – Umuarama : UNIPAR, 2016.
153 f.

ISBN: 978-85-8498-098-7

1. Contabilidade. 2. Ensino a distância - EAD. I.


Universidade Paranaense - UNIPAR. II. Título.

(21 ed.) CDD: 657

Assessoria pedagógica
Daniele Silva Marques e Marcia Dias

Diagramação e Capa
Diego Ricardo Pinaffo, Fernando Truculo Evangelista e Renata Sguissardi
* Material de uso exclusivo da Universidade Paranaense – UNIPAR com todos os direitos da edição a ela reservados.
Sumário
teoria da contabilidade

Unidade I - O PENSAMENTO CONTÁBIL.....................................15

Origem..........................................................................................................................16

Evolução.......................................................................................................................16

Contabilidade do Mundo Antigo........................................................................17

Contabilidade do Mundo Medieval...................................................................19

Contabilidade do Mundo Moderno..................................................................21

Contabilidade do Mundo Científico..................................................................22

Aspectos científicos................................................................................................24

Teoria Normativa e Positiva................................................................................27

Campo de estudo e aplicação da contabilidade..........................................29

Teorias do patrimônio líquido............................................................................32

UNIDADE II: ESCOLAS E DOUTRINAS DA CONTABILIDADE......41

Escolas e doutrinas da contabilidade..............................................................42

Neocontismo..............................................................................................................47

Controlismo................................................................................................................48
Aziendalismo.............................................................................................................48

Escola Patrimonialista ou Patrimonialismo.................................................49

O Brasil e a contabilidade.....................................................................................50

Desenvolvimento recente da contabilidade no Brasil..............................50

Criação do comitê de pronunciamentos contábeis (cpc)......................52

UNIDADE III - PRINCÍPIOS CONTÁBEIS E NORMAS


INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE........................................ 59

Estrutura conceitual básica ................................................................................60

Elementos das Demonstrações Financeiras.................................................61

Balanço Patrimonial...............................................................................................62

Balanço Patrimonial detalhado..........................................................................66

Demonstração do Resultado do Exercício.....................................................68

Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (ou,


demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados)...............................69

Participações nos lucros – cálculos e registros...........................................71

Participações são atribuídas às despesas do exercício............................72

Reconhecimento das Despesas e Participações nos Lucros..................72

Cálculo Sucessivo.....................................................................................................73

Base de Cálculo das Participações....................................................................73


Base de Cálculo com apuração no IRPJ e da CSLL......................................74

Reserva de lucros.....................................................................................................75

Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC).....................................................77

Elaborações da dfc por método direto e indireto....................................85

Obrigatoriedade da preparação e apresentação da dva........................88

Aspectos positivos da demonstração do valor adicionado....................90

Características Qualitativas Fundamentais..................................................97

Características Qualitativas de Melhoria.......................................................99

Aplicação das características qualitativas de melhoria...........................101

Premissa subjacente: Continuidade.................................................................102

Elementos das Demonstrações Financeiras.................................................103

Contas de resultados..............................................................................................108

Princípios de Contabilidade................................................................................112

UNIDADE IV - CRITÉRIOS DE MENSURAÇÃO E AVALIAÇÃO:


ATIVO E PASSIVO, RECEITAS E DESPESAS....................................129

Mensuração e avaliação de ativos.....................................................................130

Medidas de entrada.................................................................................................135

Medidas de saída......................................................................................................138
Valores Realizáveis Líquidos...............................................................................138

Teste de Recuperabilidade de Ativos (Impairment test).........................139

Mensuração e avaliação de passivos................................................................143

Custo histórico..........................................................................................................143

Custo corrente .........................................................................................................143

Valor realizável (valor de realização ou de liquidação)...........................143

Valor presente...........................................................................................................144

Critérios de mensuração e avaliação das Receitas e Despesas............144

Receitas versus Ganhos..........................................................................................145

Despesas, Custos e Perdas....................................................................................146

Referências.................................................................................................................152
Apresentação

Diante dos novos desafios trazidos pelo mundo contemporâneo e o surgimento de um

novo paradigma educacional frente às Tecnologias de Informação e Comunicação dis-

poníveis que favorecem a construção do conhecimento, a revolução educacional está

entre os mais pungentes, levando as universidades a assumirem a sua missão como

instituição formadora, com competência e comprometimento, optando por uma gestão

mais aberta e flexível, democratizando o conhecimento científico e tecnológico, atra-

vés da Educação a Distância.

Sendo assim, a Universidade Paranaense - UNIPAR - atenta a este novo cenário e

buscando formar profissionais cada vez mais preparados, autônomos, criativos, res-

ponsáveis, críticos e comprometidos com a formação de uma sociedade mais demo-

crática, vem oferecer-lhe o Ensino a Distância, como uma opção dinâmica e acessível

estimulando o processo de autoaprendizagem.

Como parte deste processo e dos recursos didático-pedagógicos do programa da

Educação a Distância oferecida por esta universidade, este Guia Didático tem como

objetivo oferecer a você, acadêmico(a), meios para que, através do autoestudo, possa

construir o conhecimento e, ao mesmo tempo, refletir sobre a importância dele em sua

formação profissional.

Seja bem-vindo(a) ao Programa de Educação a Distância da UNIPAR.

Carlos Eduardo Garcia


Reitor
Seja bem-vindo caro(a) acadêmico(a),

Os cursos e/ou programas da UNIPAR, ofertados na modalidade de educação a dis-

tância, são compostos de atividades de autoestudo, atividades de tutoria e atividades

presenciais obrigatórias, os quais individualmente e no conjunto são planejados e or-

ganizados de forma a garantir a interatividade e o alcance dos objetivos pedagógicos

estabelecidos em seus respectivos projetos.

As atividades de autoestudo, de caráter individual, compreendem o cumprimento das

atividades propostas pelo professor e pelo tutor mediador, a partir de métodos e práti-

cas de ensino-aprendizagem que incorporem a mediação de recursos didáticos orga-

nizados em diferentes suportes de informação e comunicação.

As atividades de tutoria, também de caráter individual, compreendem atividades de

comunicação pessoal entre você e o tutor mediador, que está apto a: esclarecer as

dúvidas que, no decorrer deste estudo, venham a surgir; trocar informações sobre as-

suntos concernentes à disciplina; auxiliá-lo na execução das atividades propostas no

material didático, conforme calendário estabelecido, enfim, acompanhá-lo e orientá-lo

no que for necessário.

As atividades presenciais, de âmbito coletivo para toda a turma, destinam-se obriga-

toriamente à realização das avaliações oficiais e outras atividades, conforme dispuser

o plano de ensino da disciplina.

Neste contexto, este Guia Didático foi produzido a partir do esforço coletivo de uma

equipe de profissionais multidisciplinares totalmente integrados que se preocupa

com a construção do seu conhecimento, independente da distância geográfica que

você se encontra.
O Programa de Educação a Distância adotado pela UNIPAR prioriza a interatividade,

e respeita a sua autonomia, assegurando que o conhecimento ora disponibilizado seja

construído e apropriado de forma que, progressivamente, novos comportamentos, no-

vas atitudes e novos valores sejam desenvolvidos por você.

A interatividade será vivenciada principalmente no ambiente virtual de aprendizagem

– AVA, nele serão disponibilizados os materiais de autoestudo e as atividades de tuto-

ria que possibilitarão o desenvolvimento de competências necessárias para que você

se aproprie do conhecimento.

Recomendo que durante a realização de seu curso, você explore os textos sugeridos

e as indicações de leituras, resolva às atividades propostas e participe dos fóruns de

discussão, considerando que estas atividades são fundamentais para o sucesso da

sua aprendizagem.

Bons estudos! e-@braços.

Ana Cristina de Oliveira Cirino Codato

Diretora Executiva de Gestão da Educação a Distância


Introdução

Olá, caro(a) acadêmico(a) de graduação! É um prazer tê-lo(a) conosco.

Sou o Professor Josimar Pires da Silva, doutorando e mestre em Ciências Contábeis

pela Universidade de Brasília (UnB), Brasília – DF, especialização em gestão finan-

ceira, controladoria e auditoria pela Fundação Getúlio Vargas – FGV e graduação em

Ciências Contábeis.

Área de concentração Mensuração Contábil, linha de pesquisa Contabilidade e

Mercado Financeiro, participando em um grupo de pesquisa Normatização Contábil.

Minhas disciplinas de principal interesse são Teoria da Contabilidade, Contabilidade

Internacional e Contabilidade Comercial, entre outras.

Sou o Professor Carlos Vicente Berner, atuo como docente de graduação e pós-gra-

duação desde que me formei em Ciências Contábeis. Sou doutorando em Ciências

Contábeis pela Universidade de Brasília (UnB), Brasília – DF, mestre em Ciências

Contábeis com ênfase em Controladoria, pela FECAP – Fundação Escola de Comércio

Álvares Penteado de São Paulo-SP.

Atualmente trabalho com as disciplinas: Teoria da Contabilidade, Contabilidade Geral,

Contabilidade de Custos, Contabilidade Gerencial e Controladoria. Ministro aulas na

pós-graduação na área de gestão de custos Controladoria, Planejamento, dentre ou-

tras, que me possibilitaram agregar diversos conhecimentos a respeito do ensino de

gestão estratégica de custos.

Neste material, que é dividido em quatro unidades, trataremos de temas relevantes

para os estudos da Contabilidade Básica.


Na primeira unidade, abordaremos o conteúdo “O Pensamento Contábil”, que des-

creverá a origem e a evolução da contabilidade, quais os principais enfoques da te-

oria da contabilidade, destacando também os objetivos, finalidades e o objeto da

contabilidade.

A segunda unidade terá como objetivo destacar as Escolas e Doutrinas da contabili-

dade, entender a importância das escolas europeia e italiana, bem como a contempo-

raneidade da contabilidade no Brasil.

A terceira unidade objetivará apresentar os princípios contábeis e normas internacio-

nais de contabilidade, levando você, caro(a) aluno(a), à compreensão dos princípios

que normatizam a contabilidade.

Por fim, na quarta unidade trataremos da mensuração e avaliação dos ativos e passi-

vos; receitas e despesas. Ao final desta unidade, você será capaz de entender o pro-

cesso de mensuração e avaliação de cada um desses grupos.

Esperamos que você possa aproveitar este conteúdo e conte conosco para o que

precisar.

Um grande abraço!

Prof. Me. Josimar Pires da Silva

<josimarnx@yahoo.com.br>

Prof. Me. Carlos Vicente Berner

<carlosvberner@hotmail.com>
Unidade I - O PENSAMENTO CONTÁBIL

Objetivos a serem alcançados nesta unidade


Prezado(a) Acadêmico(a), ao terminar os estudos dessa unidade, você deverá ser

capaz de:

• Descrever a origem e evolução da Contabilidade.


• Apresentar resumidamente os principais enfoques da teoria da contabilidade.
• Destacar o objeto, objetivo e finalidade da contabilidade.
• Evidenciar os principais aspectos no que diz respeito às teorias do Patrimônio
Líquido.

Para que esses objetivos sejam alcançados, é de extrema importância que você de-

senvolva seus estudos com seriedade e dedicação, lendo as literaturas recomenda-

das e os capítulos dos livros didáticos que forem referenciados neste guia.

Bons estudos!
ORIGEM
A Contabilidade existe desde os primórdios da civilização e, durante um longo perío-

do, foi chamada como arte da escrituração mercantil pela utilização de técnicas espe-

cíficas que foram se aperfeiçoando e especializando.

Não obstante a origem milenar da contabilidade, identificada por historiadores como

praticada em tempos remotos da civilização, embora de forma rudimentar e não sis-

tematizada.

EVOLUÇÃO
O homem se enriquece, e isso demandava o estabelecimento de técnicas para con-

trolar e preservar seus bens. Aí se inicia a história da contabilidade, que segundo

historiadores e estudiosos, divide-se em quatro períodos:

Contabilidade do Mundo Antigo: período que se inicia com a civilização do homem

e vai até 1202 da Era Cristã, quando foi publicada a obra Líber Abaci, de autoria de

Leonardo Fibonacci.

Contabilidade do Mundo Medieval: período que vai de 1202 da Era Cristã até 1494,

quando foi publicado o Tratactus de Computis et Scripturis (Contabilidade por Partidas

Dobradas) de Frei Luca Pacioli, publicado em 1494, enfatizando que a Teoria Contábil

do débito e do crédito corresponde à Teoria dos números positivos e negativos, obra

que contribui para inserir a contabilidade entre os ramos do conhecimento humano.

Com a publicação da referida obra, inicia-se também, um largo período de domínio da

Escola Italiana, em particular.

Contabilidade do Mundo Moderno: período que vai de 1494 até 1840. Com a pu-

blicação da Obra La Contabilità Applicatta alle Amministrazioni Private e Pubbliche,

16 Teoria da contabilidade
de Franscesco Villa, premiada pelo governo da Áustria. Obra marcante na história da

Contabilidade.

Contabilidade do Mundo Científico: período que se inicia em 1840 e continua até

os dias de hoje.

Contabilidade do Mundo Antigo


A Contabilidade empírica, praticada pelo homem primitivo, já tinha como objeto o Pa-

trimônio, representado pelos rebanhos e outros bens em seus aspectos quantitativos.

Os primeiros registros se processaram de forma rudimentar, na memória do homem.

Como este é um ser pensante, inteligente, logo encontrou formas mais eficientes de

processar seus registros, utilizando gravações e outros métodos alternativos.

O inventário exercia um importante papel, pois a contagem era o método adotado

para o controle dos bens, que eram classificados segundo sua natureza: rebanhos,

metais, escravos, dentre outros. A palavra “Conta” designa o agrupamento de itens da

mesma espécie.

As primeiras escritas contábeis datam do término da Era da Pedra Polida, quando o

homem conseguiu fazer seus primeiros desenhos e gravações. Os primeiros contro-

les eram estabelecidos pelos templos, o que perdurou por vários séculos.

Os súmero-babilônios, assim como os assírios, faziam seus registros em peças de

argila retangulares ou ovais, ficando famosas as pequenas tábuas que mediam apro-

ximadamente 2,5 a 4,5 centímetros, tendo faces ligeiramente convexas.

Os registros combinavam o figurativo com o numérico. Gravava-se a cara do animal

cuja existência se queria controlar e o número correspondente às cabeças existentes.

Teoria da contabilidade 17
Embora rudimentar, o registro, em sua forma, assemelhava-se ao que hoje se proces-

sa. O nome da Conta “Matrizes”, por exemplo, substituiu a figura gravada, enquanto

o aspecto numérico se tornou mais qualificado, com o acréscimo do valor monetário

ao quantitativo.

Esta evolução permitiu que, paralelamente à “Aplicação”, se pudesse demonstrar

também a sua “Origem”. Na cidade de Ur onde viveu Abraão, personagem bíblico que

aparece no livro “Gênesis” encontra-se em escavações importantes documentos con-

tábeis: tabela de escrita cuneiforme, onde estão registradas contas referentes à mão

de obra e materiais, ou seja, Custos Diretos. Isto nos leva a crer que há 5.000 a.C., o

homem já considerava fundamental apurar os seus custos.

O sistema contábil é dinâmico e evoluiu com a duplicação de documentos, os regis-

tros tornaram diários e, posteriormente, foram sintetizados em tábuas, no final de

determinados períodos.

Sofreu nova sintetização, agrupando-se vários períodos, o que lembra o diário. Já se

estabelecia o confronto entre variações positivas e negativas, aplicando-se empirica-

mente o Princípio da Competência. Reconhecia a Receita a qual era confrontada com

a despesa. Os egípcios legaram um riquíssimo acervo aos historiadores da Contabili-

dade, e seus registros remontam a 6.000 a.C.

A escrita no Egito era fiscalizada pelo Fisco Real, o que tornava os escriturários zelo-

sos e sérios em sua profissão. Inscreviam-se bens móveis e imóveis, e já se estabe-

leciam de forma primitiva controles administrativos e financeiros.

As Partidas de Diário assemelhavam-se ao processo moderno: o registro se iniciava

com a data e o nome da conta, seguindo-se quantitativos unitários e totais, transporte,

se ocorresse, sempre em ordem cronológica de entradas e saídas.

18 Teoria da contabilidade
Tudo indica que foram os egípcios os primeiros povos a utilizar o valor monetário em

seus registros. Usavam como base, uma moeda de prata/ouro, era então a adoção de

maneira prática do Princípio do Denominador Comum Monetário.

Os gregos, baseando-se em modelos egípcios, 2.000 a.C., já escrituravam Contas

de Custos e Receitas, procedendo anualmente a uma confrontação entre elas para a

apuração do saldo. Os gregos aperfeiçoavam o modelo egípcio, estendendo a escri-

turação contábil às várias atividades, como administração pública e privada.

Contabilidade do Mundo Medieval


A obra de Iudícibus (2009) destaca que, mesmo que a contabilidade existisse desde

o início da civilização, seu desenvolvimento foi muito lento ao longo dos séculos.

Praticamente no século XIII é que os números hindu-arábicos (0, 1, 2, 3, ...) vieram


substituir o sistema greco-romano (I, II, III, IV, ...) e hebraico, que usavam letras para
contar e calcular (desconheciam o zero). A história dos números no Ocidente começa
com o livro Liber Abaci (Livro do Ábaco), escrito em 1202 por Leonardo Pisano, co-
nhecido como Fibonacci (cabeça dura). Esse livro, entre inúmeras contribuições, inclui
Contabilidade (cálculo de margem de lucro, moedas, câmbio etc.) e juros (IUDÍCIBUS;
MARION; FARIA, 2009, p.158).

Na época estudavam técnicas matemáticas, pesos e medidas e câmbio, tornando o

homem mais evoluído em conhecimentos comerciais e financeiros. Se os súmero-ba-

bilônios plantaram a semente da Contabilidade e os egípcios a regaram, foram os

italianos que fizeram o cultivo e a colheita.

Foi um período importante na história do mundo, especialmente na história da Conta-

bilidade, denominado a “Era Técnica”, devido às grandes invenções, como o moinho

de vento, aperfeiçoamento da bússola, que abriram novos horizontes aos navegado-

res, como Marco Polo, dentre outros. A indústria artesanal proliferou com o surgimento

de novas técnicas no sistema de mineração e metalurgia.

Teoria da contabilidade 19
O comércio exterior incrementou-se por intermédio dos venezianos, surgindo como

consequência das necessidades da época, o livro-caixa que recebia registros de rece-

bimentos e pagamentos em dinheiro. Já se utilizavam, de forma rudimentar, o débito

e o crédito, oriundos das relações entre direitos e obrigações, e referindo-se, inicial-

mente às pessoas.

O aperfeiçoamento e o crescimento da Contabilidade foram a consequência natural

das necessidades geradas pelo advento do capitalismo, nos séculos XII e XIII. O pro-

cesso de produção na sociedade capitalista gerou a acumulação de capital, alterando-

se as relações de trabalho.

O trabalho escravo cedeu lugar ao trabalho assalariado, tornando os registros mais

complexos, no século X, apareceram as primeiras corporações na Itália, transforman-

do e fortalecendo a sociedade burguesa.

No final do século XIII apareceu pela primeira vez a conta “Capital”, representando o

valor dos recursos injetados nas companhias pela família proprietária.

O método das partidas dobradas foi consolidado na Itália, seu aparecimento implicou

a adoção de outros livros que tornassem mais analítica a Contabilidade surgindo, des-

ta forma, o Livro de Contabilidade de Custos.

No início do século XIV, já se encontravam registros explícitos de custos comerciais e

industriais em suas diversas fases: custo de aquisição; custo de transporte e o bene-

ficiamento; mão de obra direta agregada; armazenamento; e, tingimento.

As fases acima mencionadas representavam uma apropriação analítica para época.

A escrita já se fazia nos moldes de hoje, considerando em separado os gastos com

matérias-primas, mão de obra direta a ser agregada e custos indiretos de fabricação.

Os custos eram contabilizados por fases separadamente, até que fossem transferidos

ao exercício industrial.

20 Teoria da contabilidade
Conforme destaca Iudícibus (2009) foi no século XV, praticamente após 5.500 anos,

que a Contabilidade atinge um nível de desenvolvimento significativo, sendo chamada

de fase lógica-racional ou até mesmo a fase pré-científica da Contabilidade.

Contabilidade do Mundo Moderno


Em 1493, os turcos tomam Constantinopla, o que fez com que grandes sábios bizan-

tinos emigrassem, principalmente para a Itália. Em 1492, é descoberta a América e,

em 1500, o Brasil, o que representava um enorme potencial de riquezas para alguns

países europeus.

Em 1517, ocorreu a reforma religiosa; os protestantes, perseguidos na Europa emi-

gram para as Américas onde se radicaram e iniciaram nova vida. A contabilidade tor-

nou-se uma necessidade para se estabelecer o controle das inúmeras riquezas que o

Novo Mundo representava.

A publicação da Obra de Frei Luca Pacioli, contemporâneo de Leonardo da Vinci, que

viveu na Toscana no século XV, marca o início da fase moderna da Contabilidade, Pa-

cioli foi matemático, teólogo, contabilista. Deixou muitas obras destacando-se a Summa

de Arithmética Geometria, Proportioni et Proporgionalitá, impressa em Veneza, na qual

está inserido o seu tratado sobre a Contabilidade e Escrituração (Partidas Dobradas).

Pacioli, apesar de ser considerado o pai da contabilidade, não foi o criador das Partidas

Dobradas. O método já era utilizado desde o século XIII. O tratado destacava, inicialmen-

te, o necessário ao bom comerciante. A seguir, conceituava inventário e como fazê-lo.

Discorria sobre livros mercantis: memorial, diário e razão, e sobre a autenticação de-

les; sobre registros de operações: aquisições, permutas, sociedades, dentre outros,

sobre as contas em geral: como abrir e como encerrar; contas de armazenamento; lu-

cros e perdas, sobre correções de erros; sobre arquivamento de contas e documentos.

Teoria da contabilidade 21
Sobre o Método das Partidas Dobradas, Frei Luca Pacioli expôs a terminologia adota-

da: que primeiro deve vir o devedor e depois o credor, prática que se usa até hoje. A

obra de Pacioli não só sistematizou a Contabilidade, como também abriu precedente

para que novas obras pudessem ser escritas sobre o assunto.

Contabilidade do Mundo Científico


O período científico apresenta, em seus primórdios, dois grandes autores consagra-

dos: Francesco Villa, escritor milanês, contador público, que com sua obra La Con-

tabilità Applicata alle administrazioni Private e Publiche, iniciam a nova fase; e Fábio

Besta, escritor veneziano.

Os estudos envolvendo a Contabilidade fizeram surgir três escolas do pensamento

contábil: a primeira chefiada por Francesco Villa que foi a Escola Lombarda; a se-

gunda que foi a Escola Toscana chefiada por Giusepe Cerboni, e a terceira a Escola

Veneziana por Fábio Besta.

Embora o século XVII tivesse sido o berço da era científica e Pascal já tivesse inven-

tado a calculadora, a ciência da Contabilidade ainda se confundia com a ciência da

administração, e o patrimônio se definia como um direito segundo postulados jurídi-

cos. Nessa época, na Itália, a Contabilidade já estava nas faculdades, o que no Brasil

só ocorreu muito mais tarde.

A contabilidade começou a ser lecionada com a aula de comércio da corte em 1809. A

obra de Francesco Villa foi escrita para participar de um concurso sobre Contabilida-

de, promovido pelo Governo da Áustria, e além do prêmio Villa também teve o cargo

de Professor Universitário.

Francesco Villa extrapolou os conceitos tradicionais de Contabilidade, segundo

os quais a escrituração e o guarda-livros poderiam ser feitas por qualquer pessoa

22 Teoria da contabilidade
inteligente. Para ele, a Contabilidade implicava conhecer a natureza, os detalhes, as

normas, as leis e as práticas que regem a matéria administrada, ou seja, o patrimônio

era o pensamento Patrimonialista.

Foi o início da fase científica da Contabilidade. Fabio Bésta, seguidor de Francesco

Villa, superou o mestre em seus ensinamentos, demonstrando o elemento fundamen-

tal da conta que é o valor, chegando muito perto de definir o Patrimônio como objeto

da Contabilidade.

Foi Vicenzo Mazi, seguidor de Fábio Besta, que pela primeira vez, em 1923, definiu

Patrimônio como objeto da Contabilidade. O enquadramento da contabilidade como

elemento fundamental da equação aziendalista teve, sobretudo, o mérito incontestá-

vel de chamar para o fato de que a contabilidade é muito mais do que mero registro:

é um instrumento básico de gestão.

saiba mais
A contabilidade evoluiu juntamente com o desenvolvimento das empresas. À medida

que as empresas evoluíam, havia a necessidade de um sistema contábil que desse

suporte as transações e eventos no sentido de que os usuários necessitavam de um

instrumento de controle e que lhes desse suporte à tomada de decisões.

FiQue POr dentrO


Para entender um pouco mais as temáticas da História da Contabilidade, você pode

acessar o “Portal de Contabilidade”:

<http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/historia.htm>.

TEORIA DA CONTABILIDADE 23
ASPECTOS CIENTÍFICOS
Após o estudo do objetivo da Contabilidade, o próximo passo é o estudo das aborda-

gens ou enfoques da Teoria Contábil.

Abordagem Ética
A contabilidade deveria apresentar-se como justa e não enviesada para todos os in-

teressados. A abordagem ética é muito enfatizada por alguns autores, porém por ser

muito subjetiva apresenta o perigo de por comodismo continuarmos aceitando no es-

tado em que se encontram os princípios de contabilidade sem pesquisar as mudanças

que poderiam ser adotadas.

Assim, olhando pelo lado operacional da contabilidade concluímos que os procedi-

mentos e relatórios não devem conter termos ou expressões que sejam de dupla inter-

pretação, ou mesmo que ocultem informações vitais. Mais séria é a inverdade contida

nos relatórios contábeis, em troca de diminuição dos encargos tributários.

A crise da ética e na ética pelo qual passa a grande parte da sociedade internacional

não deixou de fora a contabilidade no Brasil, onde as instituições públicas e privadas

passam por séria crise ética, a contabilidade é fortemente atingida.

Abordagem da Teoria do Conhecimento


Esta abordagem atinge os campos da Psicologia, da Sociologia e da Economia. Se-

gundo esta abordagem, as informações contábeis deveriam ser feitas “sob medida”

de forma que os usuários reagissem para tomar a decisão correta.

A abordagem do comportamento defende que é melhor um procedimento de expe-

diente que leve as decisões corretas do que um procedimento contábil conceitual-

mente correto que possa levar a uma decisão ou a um comportamento inadequado.

24 Teoria da contabilidade
Assim, por esta abordagem a contabilidade deverá analisar o comportamento do usu-

ário frente à informação gerada.

Abordagem Macroeconômica
Esta abordagem apresenta aspectos subjetivos de difícil avaliação à luz do estágio

atual do desenvolvimento da economia. Por restringir-se à obtenção de determina-

das metas macroeconômicas que são normalmente determinadas pelo planejamento

central de um país, esta abordagem somente seria viável em economia altamente

planificada.

Portanto, o principal enfoque desta abordagem dá conta de que, na busca de atingir

os objetivos, a contabilidade deve considerar as influências da informação gerada na

economia do país.

Tal consideração tem sua importância na medida em que consideramos as entidades

econômicas/administrativas interagindo uma com as outras. Deste complexo de rela-

ções surge a economia nacional.

Iudícibus (2004) exemplifica que durante períodos de recessão, os relatórios pode-

riam ser elaborados obedecendo a um conjunto de princípios que favorecessem uma

retomada do processo econômico, por meio da distribuição de dividendos ou de maio-

res gastos de capital.

O exemplo citado pelo autor pode não encontrar ressonância na realidade brasileira,

onde a massa de investidores em ações, não é significativa a ponto de influenciar no

aquecimento da economia por uma maior circulação de dinheiro.

Teoria da contabilidade 25
Abordagem Social
A Contabilidade é julgada por seus efeitos no campo sociológico, é uma abordagem

do tipo bem-estar social no sentido que os procedimentos contábeis e os relatórios

emanados da contabilidade deveriam atender a finalidade social mais ampla, inclusive

relatar adequadamente ao público informações sobre a amplitude e a utilização dos

poderes das grandes companhias.

Em alguns países, como a Inglaterra e a Grã-Bretanha, a abordagem tem uma aplicação

parcial quando é obrigatório para as sociedades anônimas a evidenciarem claramente

eventuais contribuições para entidades de caridade e para organizações políticas.

Concluindo, podemos dizer que a informação gerada nesta abordagem deve fornecer

dados sobre aspectos que interessam à sociedade como um todo, tais como: impacto

ambiental causado pela atividade (poluição), investimentos realizados para diminuir

ou eliminar os impactos ambientais, no campo da assistência social qual o montante

de benefícios trazidos pela empresa em forma de empregos, agregação de valores à

produção, aumento da riqueza regional.

Abordagem da Teoria da Comunicação


Dentro desta abordagem podemos dizer que a contabilidade pode ser conceituada

como método de identificar, mensurar e comunicar informações econômicas e finan-

ceiras a fim de permitir decisões e julgamentos adequados por parte dos usuários da

informação.

Aqui se procura entender as necessidades expressa de cada usuário e fornecer uma

resposta adequada com a única ressalva de que envolve, por parte do contador, um

entendimento sobre as restrições do usuário para utilizar uma grande gama de infor-

mações e sobre as restrições de mensuração da própria contabilidade.

26 Teoria da contabilidade
Realça assim a noção de relevância, talvez uma das poucas formas de delimitar a

quantidade e a qualidade da informação prestada, caso contrário não saberíamos

quais os limites a serem impostos à comunicação e à informação.

Abordagem Sistêmica
Esta abordagem tem como objetivo verificar os métodos de mensuração, e identifi-

cação das informações econômicas e financeiras da contabilidade, com o propósito

de permitir informações adequadas aos usuários. Reconhece o tipo de informação

necessária para cada tipo de usuário.

As informações são fundamentadas conforme os passos: minimizar os trabalhos do

usuário das informações; informação adequada para cada tipo de usuário; entender a

necessidade do usuário e dar respostas adequadas às necessidades; e, evidenciar a

qualidade das informações.

Esta abordagem procura entender, fornecer respostas às necessidades dos usuários

em conformidade com a relevância das informações desejados por cada tipo de pro-

fissional ou usuário da contabilidade.

Teoria Normativa e Positiva


O estabelecimento de um arcabouço teórico que pudesse dar suporte à contabilidade

foi desenvolvido principalmente a partir da década de 1920. Diversas obras foram pu-

blicadas pelos dois principais grupos de entidades da época, Associação Americana

de Contabilidade (AAA) e Instituto Americano de Contadores Públicos Certificados

(AICPA), tais como a Tese de Paton (1922) e a monografia de Paton e Littleton (1940).

O período que compreende a década de 1930 até final da década de 1960, ficou co-

nhecido como período normativo da contabilidade em que a teoria contábil foi nomeada

Teoria da contabilidade 27
de teoria normativa, visto que sua ênfase era a busca por um arcabouço teórico que

desse suporte às práticas contábeis, para que se pudessem produzir demonstrações

contábeis que pudessem refletir informações úteis aos usuários.

Esse período foi marcado pela forte regulamentação nos EUA e havia a preocupação

em buscar as melhores práticas contábeis. Havia a prescrição de práticas contábeis

vistas como ideais, no entanto não científica.

A característica principal da teoria normativa da contabilidade é o raciocínio dedutivo,

por meio do qual busca-se definir um modelo ideal que deveria ser seguido (SANTOS;

DIAS; DANTAS, 2014).

Segundo Santos, Dias e Dantas (2014), o período positivo iniciou a partir do final

da década de 1960, devido a diversas críticas sofridas pela contabilidade, princi-

palmente no que diz respeito ao significado da informação que era gerada. Maiores

críticas se davam ao fato de que a pesquisa contábil não era científica e a teoria do

período anterior não poderia ser testada empiricamente. Em síntese, não ofereciam

explicações à realidade.

Nesse contexto surge a teoria positiva em contabilidade tendo por ênfase a explicação

da prática contábil. Diversos artigos foram publicados e se centravam no estudo das

práticas existentes em que os autores procuravam respostas para a utilização de tais

práticas.

Diversas áreas de estudo surgiram no período positivista, tais como: análise funda-

mentalista; testes de eficiência de mercado; papel dos números contábeis em contra-

tos e processos políticos; avaliação de Empresas.

Essas pesquisas demonstravam forte associação entre números contábeis e preços

das ações evidenciavam a utilidade dos números contábeis, em especial o lucro, no

sentido de fazer previsões sobre o lucro, dividendos e fluxos de caixa futuros.

28 Teoria da contabilidade
FiQue POr dentrO
Para entender um pouco mais sobre a Teoria Normativa e Positiva, você pode consul-

tar o capítulo 1 do livro “Teoria Avançada da Contabilidade”, organizado pelo prof. Dr.

Jorge Katsumi Niyama, publicado na Editora Atlas em 2014.

camPO de estudO e aPlicaçÃO da cOntabilidade


Objetivo e Finalidade
O Instituto Americano de Contadores Públicos Certificados (AICPA) publicou na dé-

cada de 70 um documento intitulado Objetivo dos Relatórios Financeiros em que afir-

mava que a função fundamental da Contabilidade havia permanecido inalterada no

decorrer dos tempos.

Sua finalidade é munir os diversos usuários dos relatórios financeiros com informa-

ções que os assistirão a tomar decisões. Tem ocorrido mudanças substanciais nos

tipos de usuários e nas formas de informação que têm procurado.

O objetivo básico dos relatórios financeiros é fornecer informação útil para a tomada

de decisões econômicas dos usuários. Iudícibus (2015) ratifica essa visão proposta

pelo AICPA:

Analisemos mais detidamente as afirmações acima: enquanto se procura enfatizar as


mudanças ocorridas no tipo de usuário e nas formas de informação que tem procura-
do, a função da Contabilidade (objetivo) permanece praticamente inalterada através
dos tempos, ou seja, prover informação útil para a tomada de decisões econômicas. A
decisão sobre o que é útil ou não para a tomada de decisões econômicas é, todavia,
muito difícil de ser avaliada na prática. Isto, como afirmamos anteriormente, exigiria um
estudo profundo do modelo decisório de cada tipo de tomador de decisões que se utiliza
de dados contábeis (p.87).

Os principais tipos de usuários de informações contábeis, com os tipos de informa-

ções requisitadas por eles são destacados no Quadro 1 a seguir.

TEORIA DA CONTABILIDADE 29
Quadro 1 – Usuários e informação requerida

meta Que desejaria maXimiZar Ou tiPO de


usuÁriO da inFOrmaçÃO cOntÁbil
inFOrmaçÃO mais imPOrtante
Acionista minoritário fluxo regular de dividendos.
Acionista majoritário ou com grande fluxo de dividendos, valor de mercado da ação,
participação lucro por ação.
Acionista preferencial fluxo de dividendos mínimos ou fixos.
geração de fluxos de caixa futuros suficientes
Emprestadores em geral para receber de volta o capital mais os juros, com
segurança.

Entidades governamentais valor adicionado, produtividade, lucro tributável.

fluxo de caixa futuro capaz de assegurar bons


Empregados em geral, como assala-
reajustes ou manutenção de salários, com segu-
riados
rança; liquidez.
retorno sobre o ativo, retorno sobre o patrimônio
Média e alta administração líquido; situação de liquidez e endividamento
confortáveis.

Fonte: Iudícibus (2015)

Adicionalmente, pode-se destacar que a contabilidade tem por finalidade o registro

dos fatos que possibilitem a produção das informações que possibilitem ao adminis-

trador do patrimônio e outros usuários o planejamento e o controle das suas ações.

reFlita
Quais são os principais usuários da contabilidade?

Seria possível o sistema contábil fornecer informações a todos os usuários de

igual forma?

30 TEORIA DA CONTABILIDADE
Campo de Aplicação
O campo de aplicação da contabilidade abrange todas as entidades que possuem

patrimônio, físicas ou jurídicas, de fins lucrativos ou não. Com relação ao fim a que se

destinam, as entidades econômico-administrativas podem ser:

A. Entidades com fins econômicos: chamadas empresas, visam lucro.

B. Entidades com fins socioeconômicos: chamadas de instituições, visam re-

verter seus resultados em benefício de seus integrantes (associações, sindi-

catos etc.);

C. Entidades com fins sociais: não têm fins lucrativos, se destinam a um fim

em prol do interesse coletivo (Entes Federados, ONG’s etc.).

Funções
A função fundamental da Contabilidade tem permanecido inalterada desde os seus

primórdios. Sua finalidade é prover os usuários dos demonstrativos financeiros com

informações que os ajudarão a tomar decisões. Sem dúvida, tem havido mudanças

substanciais nos tipos de usuários e nas formas de informação que têm procurado.

Todavia, esta função dos demonstrativos financeiros é fundamental e profunda. O

objetivo básico dos demonstrativos financeiros é prover informação útil para a tomada

de decisões econômicas.

Pode-se segregar a contabilidade em duas:

A. Função Administrativa: controle do patrimônio, tanto sobre aspecto estático

quanto o dinâmico, mediante registro dos fatos contábeis em livros apropria-

dos, sendo os principais Livro Diário e Livro Razão.

B. Função Econômica: apuração do resultado, ou seja, apurar lucro ou prejuízo,

evidenciando aos usuários informações sobre o desempenho econômico e

financeiro, possibilitando a previsão de futuros lucros e fluxos de caixa.

Teoria da contabilidade 31
teOrias dO PatrimÔniO lÍQuidO
Niyama e Silva (2013) destacam seis teorias do Patrimônio Líquido. Essas teorias

são: a Teoria do Proprietário; a Teoria da Entidade; a Teoria do Fundo; a Teoria do

Comandante; a Teoria do Empreendimento e a Teoria Residual.

Abaixo, destacamos a visão dos autores no que diz respeito a cada dessas teorias e

sua aplicação no contexto contábil.

teoria do Proprietário
A Teoria do Proprietário foca a atenção na figura do proprietário, sendo este o referen-

cial dos conceitos e procedimentos contábeis (das regras) utilizados. Segundo essa

teoria, a entidade existe para satisfazer aos objetivos e necessidades do dono, razão

pela qual a principal finalidade da Contabilidade é a determinação da riqueza líquida

do proprietário.

Os passivos apurados pela Contabilidade representam, pois, obrigações do dono, de

modo que é comum afirmar-se que a equação contábil, sob a ótica da teoria do pro-

prietário, é dada por:

Dentro da visão de que a Contabilidade foca seu centro no proprietário, essa teoria

considera que as receitas e as despesas representam aumento da riqueza do dono,

para o caso da receita, ou redução da sua riqueza, para as despesas. A finalidade de

somar receitas e deduzir as despesas é, pois, determinar o lucro do dono.

32 TEORIA DA CONTABILIDADE
A Teoria do Proprietário refere-se a uma visão de Contabilidade desenvolvida no momento

em que a economia era composta por pequenos negócios, tornando-se inadequada com

o advento da grande corporação. É nesse contexto que surge a Teoria da Entidade.

teoria da entidade
O patrimônio líquido deixa, então, de ser considerado o centro da Contabilidade para

ser mais uma fonte de recursos para o ativo; e, em linhas gerais, essa teoria prega

que o centro de interesse da Contabilidade deve ser a entidade; a visão é, pois, a de

que a entidade deve ser representada pela igualdade entre o ativo e as obrigações:

A Teoria da Entidade considera que tanto os acionistas como os financiadores contri-

buem com recursos para a entidade, devendo a mesma ser separada dos interesses

dessas pessoas; e, nesse caso, o passivo representa uma obrigação da entidade.

Desta forma, para a Teoria da Entidade não interessa, a rigor, a distinção entre dívida

com terceiros e patrimônio líquido; razão pela qual as receitas são consideradas como

da entidade, sendo compensação para os serviços prestados pela empresa, enquanto

as despesas representam redução da receita.

É importante destacar que a teoria da entidade vai além do princípio da entidade, re-

ferente à separação dos negócios desta em relação aos negócios do proprietário, pois

se um proprietário mantém sua conta bancária separada da conta da empresa isso

não significa que o mesmo terá a visão da Teoria da Entidade. A Teoria da Entidade foi

proposta para refletir a realidade econômica e não os aspectos legais.

TEORIA DA CONTABILIDADE 33
Teoria do Fundo
Na Teoria do Fundo, a base da Contabilidade deixa de ser o proprietário ou a entidade,

para considerar um grupo de ativos e suas obrigações relacionadas. Por essa razão,

esta teoria é centrada no ativo, uma vez que está focada na gestão e no uso apropria-

do dos ativos.

Um fundo é, pois, considerado um grupo homogêneo dentro da organização, que

possui obrigações que lhe são específicas. Essas obrigações, por sua vez, podem ser

com terceiros (passivo) ou com o capital próprio.

Teoria do Comandante
A Teoria do Comandante defende que a Contabilidade, mesmo a financeira, deve es-

tar voltada para o gestor. Essa teoria, no entanto, apresenta alguns problemas subs-

tanciais que são difíceis de serem solucionados, pois os administradores exercem

uma influência substancial sobre a Contabilidade.

Teoria do Empreendimento
A Teoria do Empreendimento, proposta a partir da visão da organização como um

ente social que exerce influência sobre vários setores da sociedade, considera que a

Contabilidade deve estar voltada para outros usuários, como: empregados, governo,

entidades reguladoras e público em geral.

Essa teoria tem sido utilizada para justificar a publicação da demonstração do valor

adicionado e do balanço social por parte das empresas, tendo em vista a necessidade

de justificar as ações sociais da entidade.

34 Teoria da contabilidade
teoria residual
A Teoria Residual tem como foco a figura dos acionistas ordinários. Os acionistas

ordinários seriam os donos do negócio e a informação contábil deve focar a decisão

destes acionistas e a previsão dos seus dividendos futuros. A equação seria:

Essa teoria faz sentido nos países onde a figura das ações preferenciais aproxima-se

do financiamento de terceiros. Assim, em detrimento das características do mercado

financeiro do Brasil e sua legislação tornam essa teoria sem efeito no nosso país.

PrÉ-reQuisitOs Para a cOmPreensÃO da unidade


Para compreensão desta unidade, é muito importante que você:

• Compreenda de que forma se deu a evolução histórica da Contabilidade.

• Reflita sobre as principais contribuições para as organizações.

• Reflita sobre a importância da Contabilidade para cada tipo de usuário.

TEORIA DA CONTABILIDADE 35
atividades Para cOmPreensÃO dO cOnteÚdO
1) Assinale a alternativa correta:

a) Período da contabilidade classificado como mundo medieval é o período que

se inicia com a civilização do homem e vai até 1202 da Era Cristã. Alternativa

do enunciado.

b) Período da contabilidade classificado como mundo moderno enfatiza que a

Teoria Contábil do débito e do crédito corresponde à Teoria dos números posi-

tivos e negativos, obra que contribui para inserir a contabilidade entre os ramos

do conhecimento humano. Alternativa do enunciado.

c) O período que vai de 1494 até 1840 em que compreende o aparecimento da

Obra La Contabilità Applicatta alle Amministrazioni Private e Pubbliche, de

Franscesco Villa, premiada pelo governo da Áustria, é denominado de Conta-

bilidade do Mundo Moderno.

2) Analise as frases abaixo:

I. A abordagem sistêmica tem como objetivo verificar os métodos de mensuração,

e identificação das informações econômicas e financeiras da contabilidade.

II. A abordagem da teoria da comunicação reconhece o tipo de informação

necessária para cada tipo de usuário e afirma que as informações são fun-

damentadas conforme os passos: a) minimizar os trabalhos do usuário das

informações e b) informação adequada para cada tipo de usuário.


III. De acordo com a abordagem social, a Contabilidade é julgada por seus

efeitos no campo sociológico. É uma abordagem do tipo bem-estar social

no sentido que os procedimentos contábeis e os relatórios emanados da

contabilidade deveriam atender a finalidade social mais ampla.

IV. A abordagem ética atinge os campos da Psicologia, da Sociologia e da Econo-

mia. Segundo esta abordagem, as informações contábeis deveriam ser feitas

“sob medida” de forma que os usuários reagissem para tomar a decisão correta.

36 TEORIA DA CONTABILIDADE
Julgue as alternativas acima:

a) i, ii e iv estão corretas.

b) i e iii estão corretas.

c) ii e iv estão corretas.

d) Somente a alternativa ii está errada.

e) Todas as alternativas estão corretas.

3) De acordo com o objeto, objetivo e finalidade da contabilidade, avalie as alternati-

vas abaixo como verdadeiras ou falsas:

a) O objeto da contabilidade é o patrimônio das entidades.

b) Ela tem como objetivo controlar o patrimônio e como finalidade fornecer infor-

mações aos seus usuários.

c) São exemplos de usuários da contabilidade: acionistas, sócios, administrado-

res, credores, órgãos do governo.

d) As pessoas físicas não podem ser consideradas usuários da contabilidade.

4) Todas as alternativas abaixo estão corretas, exceto:

a) As entidades com fins econômicos visam lucros e são chamadas empresas.

b) As entidades com fins sociais visam reverter seus resultados em benefício de

seus integrantes.

c) As entidades com fins sociais não têm fins lucrativos, se destinam a um fim em

prol do interesse coletivo.


d) Com relação ao fim a que se destinam, as entidades econômico-administrati-

vas podem ser com fins econômicos, socioeconômicos e sociais.

5) Explique, resumidamente, as 6 (seis) teorias do Patrimônio Líquido.

Teoria da contabilidade 37
artiGOs, sites e LINKS
artigos
PELEIAS, I. R.; SILVA, G. P.; SEGRETI, J. B.; CHIROTTO, A. R. Evolução do ensino

da contabilidade no Brasil: uma análise histórica. Revista Contabilidade & Finanças

- USP, v. 18, n. n.spe, pp.19-32, 2007.

Disponível em: <http://www.spell.org.br/documentos/ver/24321/evolucao-do-ensino-

da-contabilidade-no-brasil--uma-analise-historica/i/pt-br>.

THEÓPHILO, C. R.; SACRAMENTO, C. O. J.; NEVES, I. F.; SOUZA, P. L. O ensino da

Teoria da Contabilidade no Brasil. Contabilidade Vista & Revista, v. 11, n. 3, pp.3-10,

2000.

Disponível em: <http://www.spell.org.br/documentos/ver/25137/o-ensino-da-teoria-

da-contabilidade-no-brasil/i/pt-br>.

PrOPOsta Para discussÃO ON-LINE


Caro(a) Acadêmico(a),

Após o estudo dessa unidade, você desenvolveu suas ideias a partir dos diversos assuntos

explicados. Compartilhe o que aprendeu e os elementos que mais lhe chamaram atenção.

Acesse nossa plataforma de ensino-aprendizagem e participe dos Fóruns de discus-

são. Listamos abaixo algumas questões para fomentar as suas discussões.

1. Como se deu a evolução histórica da Contabilidade?

2. Qual a importância da Contabilidade para os usuários?

3. Quais outros usuários da Contabilidade, além do texto, você identificou?

4. De que forma os usuários poderão utilizar a informação produzida pela contabilidade?

38 TEORIA DA CONTABILIDADE
livrOs recOmendadOs
Livro: História da Contabilidade: Foco nos Grandes Pensadores

Autores: José Luiz dos Santos e Paulo Schimdt

Editora: Atlas

Livro-texto que permite ao leitor conhecer os mais importantes

pensadores das principais escolas do pensamento contábil,

identificar suas principais contribuições, bem como conhecer as

mais marcantes peculiaridades relacionadas à vida deles.

Fonte: <http://www.editoraatlas.com.br/atlas/webapp/detalhes_produto.aspx?prd_

des_ean13=9788522450893>. Acesso em: 18 jul. 2013.

Livro: Introdução à Teoria da Contabilidade

Autores: Sérgio de Iudícibus; José Carlos Marion; Ana Cristina

de Faria

Editora: Atlas

Este livro foi elaborado especialmente para atender à disciplina

Teoria da Contabilidade nível de graduação, visto que os autores

recorreram a uma base bibliográfica que melhor se adequasse à essa demanda. Os

autores enfatizam as principais questões relevantes no que diz respeito ao desenvol-

vimento da Teoria Contábil, bem como seu alicerce.

TEORIA DA CONTABILIDADE 39
Livro: Teoria Avançada da Contabilidade

Autor: Jorge Katsumi Niyama (Organizador)

Editora: Atlas

Este livro traz uma discussão sobre diferentes teorias que dão

suporte a teoria da contabilidade, tais como teorias normativa e

positiva, da regulação, da mensuração, padrões contábeis ba-

seados em princípios ou regras, entre outros aspectos relevantes da teoria da conta-

bilidade.

American Institute of Certified Public Accountants. Statement nº 4. New York: AICPA/

APB, 1973.

40 Teoria da contabilidade
UNIDADE II: ESCOLAS E DOUTRINAS DA
CONTABILIDADE

Objetivos a serem alcançados nesta unidade:


Prezado(a) Acadêmico(a), ao terminar os estudos desta unidade, você deverá ser

capaz de:

• Conhecer as principais escolas que influenciaram no desenvolvimento da

contabilidade.

• Compreender a importância das escolas Europeia e Italiana.


• Entender os recentes acontecimentos da contabilidade no Brasil.
ESCOLAS E DOUTRINAS DA CONTABILIDADE
Escola Europeia

Segundo Iudícibus (2015) após o surgimento inicial do método contábil, na Itália, pro-

vavelmente no século XIII/XIV, de sua divulgação no século XV (obra de Frei Luca

Pacioli), da disseminação da “escola italiana” por toda a Europa, surge, a partir do

século XIX, um período que muitos denominam de científico.

É neste período que, quiçá pela primeira vez, a teoria avança com relação às ne-

cessidades e às reais complexidades das sociedades. Esta fase também teve seus

expoentes máximos na Itália, que dominou o cenário contábil provavelmente até os

primeiros vinte anos do século XX.

O domínio da escola italiana parece ter chegado ao seu final (pelo menos até o mo-

mento), inclusive no Brasil, onde a Lei das Sociedades por Ações é inspirada (na parte

contábil) na doutrina norte-americana.

Talvez nossa crítica à escola italiana tenha sido dura, mas diremos que, apesar de

tudo, o saldo deixado por ela e pelos demais europeus (entre os quais se destacam

os alemães e os ingleses, esses últimos apenas na parte de auditoria) é altamente

positivo.

Conforme Iudícibus (2015), os italianos e alemães fizeram da Contabilidade ou qui-

seram dar-lhe, talvez, uma roupagem excessivamente vistosa, mas assim mesmo,

conseguiram, na época, vender ao mundo esta imagem.

O enquadramento da Contabilidade como elemento fundamental da equação azien-

dalista teve o mérito incontestável de chamar a atenção para o fato de que a Conta-

bilidade é muito mais do que mero registro; é um instrumento básico de gestão e, na

verdade, um dos principais (IUDÍCIBUS, 2015).

42 Teoria da contabilidade
Iudícibus (2015) destaca que as desvantagens da escola europeia passada estão

consubstanciadas:

1. na relativa falta de pesquisa indutiva sobre a qual efetuar generalizações mais

eficazes;

2. em se preocupar demasiadamente com a demonstração de que a Contabili-

dade é ciência, quando o mais importante é conhecer bem as necessidades

informativas dos vários usuários da informação contábil e construir um modelo

ou sistema contábil de informação adequado;

3. na excessiva ênfase na teoria das contas, isto é, no uso exagerado das par-

tidas dobradas, inviabilizando, em alguns casos, a flexibilidade, necessária,

principalmente, na Contabilidade Gerencial;


4. na falta de aplicação de algumas das teorias expostas;

5. na queda de nível de algumas das principais faculdades superpovoadas de

alunos, com professores mal remunerados, dando expansão mais à imagina-

ção do que à pesquisa seria de campo e de grupo.

Em virtude de peculiaridades da legislação comercial, principalmente na Itália, o grau

de confiabilidade e a importância da auditoria não eram ainda tão enfatizados, com-

parativamente aos Estados Unidos.

Um corpo de auditores externos de alto gabarito é essencial para testar os demons-

trativos e para discutir, à luz da praticabilidade e da objetividade, as várias práticas

contábeis (IUDÍCIBUS, 2015).

Esse conjunto de fatores desfavoráveis foi se acentuando a partir de 1920, com a as-

censão econômica e cultural do colosso norte-americano. Hoje, mesmo na Itália, nas

faculdades do país, muitos textos apresentam influencia norte-americana e as principais

empresas contratam na base da experiência contábil de inspiração norte-americana.

Teoria da contabilidade 43
Nos últimos anos, como consequência das necessidades informativas de uma economia

global, existe um grande esforço de convergência contábil internacional, que está aproxi-

mando as várias “escolas”. Temos ainda, porém, muito a evoluir (IUDÍCIBUS, 2015).

Escola Norte-Americana
Enquanto declinavam as escolas europeias, floresciam as escolas norte-americanas

com suas teorias e práticas contábeis, favorecidas não apenas pelo apoio de uma

ampla estrutura econômica e política, mas também pela pesquisa e trabalho sério dos

órgãos associativos.

O surgimento do American Institute of Certified Public Accountants foi de extrema

importância no desenvolvimento da Contabilidade e dos princípios contábeis, várias

associações empreenderam muitos esforços e grandes somas em pesquisas nos Es-

tados Unidos.

Havia uma total integração entre acadêmicos e os já profissionais da Contabilidade, o

que não ocorreu com as escolas europeias, onde as universidades foram decrescen-

do em nível e em importância.

A criação de grandes empresas, como as multinacionais, requer grandes capitais de

muitos acionistas, foi a causa primeira do estabelecimento das teorias e práticas con-

tábeis que permitissem correta interpretação das informações, por qualquer acionista

ou outro interessado, em qualquer parte do mundo.

Surgiram grandes corporações, aliadas ao formidável desenvolvimento do mercado

de capitais e ao extraordinário ritmo de desenvolvimento que os Estados Unidos da

América experimentaram, constitui um campo fértil para o avanço das teorias e práti-

cas contábeis.

44 Teoria da contabilidade
Não é por acaso que, atualmente, o mundo possui inúmeras obras contábeis de ori-

gem norte-americana que têm reflexos diretos nos países, como o Brasil.

saiba mais
A Escola Norte-Americana foi de estrema importância para a evolução da Teoria Con-

tábil, não só no Brasil, mas em nível internacional. Diversos pensadores, tais como

Willian Paton, A. C. Littleton, entre outros, foram influentes a partir da década de 1920

e produziram diversos documentos que a partir de sua evolução foi possível desenvol-

ver uma Estrutura Conceitual para dar suporte à Contabilidade.

cOrrentes dO PensamentO cOntÁbil desenvOlvidOs


na escOla italiana
A Escola Italiana teve maior impacto e divulgação, com o advento do método das

Partidas Dobradas editado pelo Frei Luca Pacioli, considerado o pai da contabilidade.

A partir da publicação de Pacioli, a contabilidade teve seu desenvolvimento identifica-

do pela corrente do pensamento contábil por meio das escolas: Contismo; Personalis-

mo; Neocontismo; Controlismo, Aziendalismo e Patrimonialismo.

Escola Contista ou Contismo


A escola contista foi considerada a primeira escola do pensamento contábil. Tinha como

ideia central o mecanismo das contas, com ênfase no seu funcionamento, esquecendo

que a conta é apenas consequência das operações que ocorrem na entidade.

Não tinha a preocupação com direitos e obrigações. A teoria das cinco contas de Ed-

mundo Degrange definia que os negócios de um comércio deveriam ser controlados

TEORIA DA CONTABILIDADE 45
a partir de cinco objetos principais que se interagem continuamente: mercadorias;

dinheiro; efeitos a pagar; efeitos a receber; e, lucros e perdas. Fazer lançamentos em

uma dessas contas era o mesmo que debitar ou creditar o próprio comerciante. Essa

personificação gerou críticas ao seu modelo.

O mecanismo destas contas eram os registros de um recebimento ou pagamento, que

coincidiam em valores e também em transações comerciais. Foi somente no século

XVIII que surgiram outros métodos de registros, separando o diário do razão para ve-

rificar esta igualdade de contrapartida, preocupando-se com a forma e fidelidade em

que as informações eram expostas, dando ênfase no registro das operações.

Escola Personalista ou Personalismo


Surgiu em reação ao contismo no século XIX, (preocupava-se com a análise dos

bens, direitos e obrigações), consiste em dar personalidades às contas para poder

explicar as relações (jurídicas) de direito e obrigações, colocando as personalidades

(contas) em contato direto com o proprietário.

Nessa escola do pensamento contábil havia forte ênfase nas pessoas. As contas re-

presentavam pessoas (físicas ou jurídicas), isto é, o dever e o haver representariam

débitos e créditos para essas mesmas pessoas.

Assim como Pacioli foi o precursor do Contismo, Giuseppe Cerboni deu ênfase à

corrente Personalista, idealizando como adequado alguns preceitos elaborados: a ci-

ência contábil estuda as variações da riqueza em relação ao Patrimônio (Azienda); a

contabilidade é a detentora do instrumento de informações para a gestão das organi-

zações; e, objetiva o processo de tomada de decisão.

Destacam-se dois pontos, da escola personalista: em primeiro lugar sua grande con-

tribuição para a contabilidade foi o estudo da gestão econômica e da organização

46 Teoria da contabilidade
interna da entidade, a introdução dos fundamentos da matemática financeira e

a criação da metodologia de escrituração das contas (para coordenação e repre-

sentação dos fatos e posterior análise).

Segundo, a teoria personalista foi refutada por Fábio Besta, que explicou a falha do

método logismográfico (escrituração com contas), argumentando que o propósito

contábil é essencialmente econômico e não poderia estar relacionado apenas pela

natureza das contas que abrangiam relações jurídicas entre pessoas.

Neocontismo
Restituiu à Contabilidade o seu verdadeiro objeto representado pela riqueza patrimo-

nial. Trouxe grande avanço para o estudo da análise patrimonial e dos fenômenos

decorrentes da gestão empresarial.

Conceituou a contabilidade como ciência do controle econômico e distinguiu as fases

da administração como sendo:

A. fase da gestão econômica;

B. fase da direção e do controle.

Fabio Besta foi o maior representante desta escola, responsável em evidenciar a con-

tabilidade como principal órgão detentor de instrumentos que transmitem informações

sobre os bens e direitos (Ativo) e as Obrigações (Passivo) das entidades.

Trata, dentro desta escola, a fórmula usual na disciplina de contabilidade geral I, onde a

SL (Situação Líquida), é igual à somatória dos bens e direitos deduzidos das obrigações.

A Escola Neocontista se define como teoria do materialismo ou a constituição dos va-

lores das contas (positivas para o Ativo e negativas para as contas do Passivo), com

o objetivo de separação dos grupos do patrimônio e a situação líquida da entidade.

Teoria da contabilidade 47
Podemos destacar algumas contribuições dessa escola: a base doutrinária de Besta está

voltada para a administração econômica das entidades; a divisão da Contabilidade em ter-

mos de conhecimento, na forma de: Contabilidade Geral (todos os segmentos) e Contabili-

dade Aplicada (específica a diferentes tipos de atividades econômicas); o ano civil aparece

como período do exercício administrativo; e, a preocupação com a continuidade da gestão.

Controlismo
Contabilidade como sistema de controle econômico. As contas patrimoniais e de re-

sultados são grandezas econômicas para as entidades. Todavia, percebeu-se que o

controle é apenas um instrumento de apoio e não um fim ou objeto da contabilidade,

ou tão somente como objeto da contabilidade.

A Escola Controlista contribuiu para o controle das operações dentro das organiza-

ções; desenvolvimento das informações como base para a análise de gestão sobre os

bens, direitos e obrigações.

Aziendalismo
Azienda: o patrimônio sofrendo constantes ações de natureza econômica por parte do

elemento humano por ele responsável.

Essa escola teve o mérito de fazer distinção entre as três doutrinas que formam o

conteúdo da economia aziendal, colocando em um só plano a Administração, a Orga-

nização e a Contabilidade.

Os trabalhos de Fábio Besta e Giusepe Cerboni, fundamentados em aspectos

jurídicos e econômicos das entidades foram os grandes percursores da Escola

Aziendalista. Gino Zapa divulgou a ideia de unidade de gestão, introduzindo assim

o conceito de aziendalismo, que sobrepôs à Escola Controlista.

48 Teoria da contabilidade
Gomberg apresentou os conceitos de causa e efeito para as relações patrimoniais:

Débito = efeito e Crédito = causa. Assim como, respectivamente, Ativo = efeito e Pas-

sivo = Causa.

Escola Patrimonialista ou Patrimonialismo


O objeto da Contabilidade é o Patrimônio, é dinâmico, sofre mutações e nós temos

que saber as causas dessas mudanças. Preconiza que o Patrimônio é uma grande-

za real que se transforma com o desenvolvimento das atividades econômicas, cuja

contribuição deve ser conhecida para que se possam analisar adequadamente os

motivos das variações ocorridas no decorrer de determinado período.

Os fundamentos desta doutrina estão sustentados nas seguintes afirmações: o Objeto

da Contabilidade é o Patrimônio Aziendal; os fenômenos patrimoniais são fenômenos

contábeis, devem ser explicados pela contabilidade; a contabilidade é uma ciência;

uma ciência social inserida no contexto social; divide-se a contabilidade em três ra-

mos distintos, em sua parte teórica, a saber: Estática Patrimonial, Dinâmica Patrimo-

nial e Levantamento Patrimonial.

A parte aplicada refere-se às entidades; o patrimônio, objeto de indagação, deve ser

observado em seus aspectos qualitativo e quantitativo; o fenômeno patrimonial con-

ceitua-se como “todo acontecimento que se verifica no patrimônio”; a contabilidade

não se confunde com o levantamento patrimonial, que é apenas uma de suas partes;

a contabilidade relaciona-se intimamente com diversas outras ciências, como: direito,

economia, sociologia, matemática etc.; e, o fim ou aspecto de observação da con-

tabilidade é o da finalidade aziendal, ou seja, o cumprimento dos objetivos a que se

propôs o sujeito aziendal.

Teoria da contabilidade 49
O BRASIL E A CONTABILIDADE
A Contabilidade no Brasil começou com a matéria de comércio e após em 1856 foi

transformada no Instituto Comercial do Rio de Janeiro, sendo o Brasil um dos primei-

ros países a ter um estabelecimento de ensino superior de Contabilidade. A escola de

comércio Alvarez Penteado, criada em 1902, tornou-se a primeira escola especializa-

da no ensino da Contabilidade.

O Brasil sofreu forte influência da corrente italiana primeiramente, até a antiga lei das

Sociedades Anônimas sem perder os traços de uma escola verdadeiramente brasileira.

Por volta de 1920 a 1940, cada empresa comercial/industrial tinha o seu guarda-livros,

geralmente um homem bem-intencionado, mas de pouca formação técnica sem haver

frequentado escolas ou cursos da especialidade, seu aprendizado era pela prática ou

pelo empirismo.

O guarda-livros fazia de tudo, a Contabilidade, a escrituração, correspondência, con-

tratos, preenchia cheques, pagamentos e recebimentos.

Foi com a instalação do curso de Ciências Contábeis pela Faculdade da USP em 1946

que o Brasil ganhou seu primeiro núcleo efetivo, embora modesto de pesquisa con-

tábil, nos modelos norte-americanos, ou seja, com professores em regime de serviço

integral, dedicando-se ao ensino, à pesquisa, produzindo trabalhos específicos de

caráter científico, portanto, de grande importância para a contabilidade.

Desenvolvimento recente da contabilidade no Brasil


A história recente da contabilidade no Brasil teve início na década de 70, com o de-

senvolvimento ainda embrionário do mercado de capitais e com a reforma bancária.

50 Teoria da contabilidade
Os principais passos foram:

A. obrigatoriedade de as companhias abertas terem suas demonstrações con-

tábeis auditadas por auditores independentes;

B. publicação da circular no 179/72 pelo Banco Central do Brasil, padronizando

a estrutura e forma de apresentação das demonstrações contábeis das com-

panhias abertas; e

C. influência da escola norte-americana de contabilidade com o início do estudo so-

bre princípios contábeis e a promulgação da Lei nº 6.404/76 sob esta influência.

Até então, a contabilidade no Brasil foi marcada pela forte influência da legislação

tributária, que determinava procedimentos contábeis para classificação de contas e

apropriação de receitas e despesas, nem sempre adequados à luz da teoria contábil.

Em 1976, foi criada a Comissão de Valores Mobiliários inspirada no modelo americano

(SEC – Securities and Exchange Commission) para monitorar o mercado de capitais

e, paralelamente, foi divulgada a Lei nº 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas),

que trouxe inovações à época, principalmente na criação de registros auxiliares para

atender a exigências fiscais e na necessidade de se observarem princípios contábeis

geralmente aceitos para fins de escrituração mercantil.

O desenvolvimento da contabilidade no Brasil, também, está fortemente atrelado ao

desenvolvimento econômico do país. No período de 1970 a 1975, o Brasil experimen-

tou taxas elevadas de crescimento econômico do Produto Interno Bruto, despertando

o interesse de investidores e bancos estrangeiros, principalmente pela abundância de

recursos disponíveis à época.

Teoria da contabilidade 51
saiba mais
A Lei nº 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas), foi, ao nosso ver, a mais importante

criada na década de 1970, no que diz respeito à contabilidade. Elencava, entre ou-

tros elementos, as demonstrações financeiras obrigatórias no contexto brasileiro, bem

como os diversos aspectos das demonstrações contábeis que deveriam ser seguidos

pelos contadores e pelas empresas.

criaçÃO dO cOmitÊ de PrOnunciamentOs cOntÁbeis (cPc)


Como fruto da busca por convergência da Contabilidade em nível internacional, foi

criado, em 2005, por meio da Resolução CFC 1.055/05, o Comitê de Pronunciamen-

tos Contábeis – CPC, por meio da resolução CFC 1.055/05.

Sua idealização se deu a partir da união de esforços e de objetivos comuns de diver-

sas entidades:

1. Associação Brasileira das Companhias Abertas (ABRASCA);

2. Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Ca-

pitais (APIMEC NACIONAL);

3. Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA);

4. Conselho Federal de Contabilidade (CFC);


5. Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON); Fundação Institu-

to de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI).

O objetivo do CPC era de estudar, preparar e emitir normas contábeis, denominadas

de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos e técnicas de contabilidade para

permitir a emissão de demonstrações financeiras de propósito geral de alta qualidade,

tendo em vista a centralização e, buscando a convergência da Contabilidade Brasilei-

ra aos padrões internacionais de contabilidade.

52 TEORIA DA CONTABILIDADE
O segundo passo no processo de convergência foi a emissão das Leis 11.638/07 e

11.941/09 que alteraram a Lei 6.404/76 (Lei das Sociedades por Ações). A partir des-

se momento, o CPC passou a traduzir e adaptar as normas contábeis emitidas pelo

Internacional Accounting Standard Board (IASB).

A maioria desses Pronunciamentos Técnicos (Normas Contábeis) passaram a ser

obrigatórios nas demonstrações financeiras elaboradas sobre o exercício de 2010.

saiba mais
A adoção das normais internacionais de Contabilidade visam, entre outras coisas,

produzir demonstrações contábeis comparáveis em nível internacional, melhorar a

qualidade das demonstrações contábeis e dar maior suporte, por meio das normas,

aos preparadores de demonstrações financeiras no sentido de produzir nas demons-

trações contábeis, a realidade econômica das organizações.

PrÉ-reQuisitOs Para a cOmPreensÃO da unidade


Para compreensão desta unidade, é muito importante que você:

• Compreenda a importância da escola Italiana.

• Compreenda a importância da escolha Norte-Americana.


• Reflita sobre o desenvolvimento recente da Contabilidade no Brasil.

TEORIA DA CONTABILIDADE 53
atividades Para cOmPreensÃO dO cOnteÚdO
1) No que se refere à Escola Europeia, assinale a alternativa correta:

a) Teve início na década de 70, com o desenvolvimento ainda embrionário do

mercado de capitais e com a reforma bancária.

b) É neste período que, pela primeira vez, a teoria avança com relação às neces-

sidades e das reais complexidades das sociedades.

c) Teve maior impacto e divulgação, com o advento do método das Partidas Do-

bradas editado pelo Frei Luca Pacioli, considerado o pai da contabilidade.

d) O surgimento do American Institute of Certified Public Accountants foi de extre-

ma importância no desenvolvimento da Contabilidade e dos princípios contábeis.

2) As afirmativas abaixo relacionam-se com a escola Norte-Americana, exceto:

a) Enquanto declinava as escolas europeias, florescia as escolas norte-america-

nas com suas teorias e práticas contábeis, favorecida não apenas pelo apoio

de uma ampla estrutura econômica e política.

b) O surgimento do American Institute of Certified Public Accountants foi de extre-

ma importância no desenvolvimento da Contabilidade e dos princípios contábeis.

c) Teve o mérito incontestável de chamar a atenção para o fato de que a Contabi-

lidade é muito mais do que mero registro.

d) Surgiram grandes corporações, aliadas ao formidável desenvolvimento do mer-

cado de capitais e ao extraordinário ritmo de desenvolvimento que os Estados

Unidos da América experimentaram, constitui um campo fértil para o avanço

das teorias e práticas contábeis.

3) Analise as frases abaixo:

I. Contismo: não tinha a preocupação com direitos e obrigações. A seguir, a

teoria das 5 (cinco) contas: Mercadorias; Dinheiro; Efeitos a Pagar; Efeitos

a Receber; Lucros e Perdas.

54 TEORIA DA CONTABILIDADE
II. Personalismo: Giuseppe Cerboni deu ênfase à corrente Personalista, idealizan-

do como adequado conforme alguns preceitos elaborados, tais como a ciência

contábil estuda as variações da riqueza em relação ao Patrimônio (Azienda).

III. Controlismo: trouxe grande avanço para o estudo da análise patrimonial e

dos fenômenos decorrentes da gestão empresarial.

IV. Aziendalismo: seus adeptos afirmam que os fenômenos a serem estu-

dados eram as aziendas, restringindo, assim, o campo de atuação da con-

tabilidade ao levantamento de fatos patrimoniais.

Julgue as alternativas acima:

a) Apenas i e ii são verdadeiras.

b) Apenas iii é falsa.

c) As alternativas i e iii são verdadeiras e ii e iv são falsas.

d) Todas as alternativas são verdadeiras.

4) Destaque a única alternativa verdadeira no que tange ao desenvolvimento da

Contabilidade no Brasil:

a) A escola de comércio Alvarez Penteado, criada em 1910, tornou-se a primeira

escola especializada no ensino da Contabilidade.

b) Por volta de 1920 a 1940, cada empresa comercial/industrial tinha o seu guar-

da-livros, geralmente um homem bem-intencionado, mas de pouca formação

técnica sem haver frequentado escolas ou cursos da especialidade, seu apren-

dizado era pela prática ou pelo empirismo.


c) Foi com a instalação do curso de Ciências Contábeis pela Faculdade da USP

em 1946 que o Brasil ganhou seu primeiro núcleo efetivo, embora modesto de

pesquisa contábil, nos modelos italianos.

d) A história recente da contabilidade no Brasil teve início na década de 70, com a

reforma tributária e o desenvolvimento ainda embrionário do mercado de capitais.

5) Descreva como se deu a criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis e

quais as entidades que contribuíram para sua criação.

Teoria da contabilidade 55
artiGOs, sites e LINKS
Artigos

BEUSA, Natasha Young. A Evolução Histórica da Contabilidade como Ramo do Co-

nhecimento. Revista Eletrônica Gestão e Negócios, v. 1, n. 1, 2010. Disponível em:

<http://www.facsaoroque.br/novo/publicacoes/pdfs/natasha_adm.pdf>.

Site e link

<http://www.cpc.org.br/CPC>.

PrOPOsta Para discussÃO ON-LINE


Caro(a) Acadêmico(a),

Após o estudo dessa unidade, você desenvolveu suas ideias a partir dos diversos

assuntos explicados. Compartilhe o que aprendeu e os elementos que mais lhe cha-

maram atenção. Acesse nossa plataforma de ensino-aprendizagem e participe dos

Fóruns de discussão. Listamos abaixo algumas questões para fomentar as suas dis-

cussões.

1. Reflita sobre a importância da criação do Comitê de Pronunciamentos Contá-

beis para a Contabilidade brasileira.

56 TEORIA DA CONTABILIDADE
livrOs recOmendadOs
Livro: História da Contabilidade: Foco na Evolução das Escolas

do Pensamento Contábil

Autores: José Luiz dos Santos e Paulo Schimdt

Editora: Atlas

Livro-texto que tem como objetivo apresentar as principais ca-

racterísticas do período denominado de arqueologia da contabi-

lidade, identificar a origem da contabilidade e sua importância para o desenvolvimento

da humanidade e entender o cenário histórico desse período e a sua inter-relação

com a contabilidade.

Fonte: <http://www.editoraatlas.com.br/atlas/webapp/detalhes_produto.aspx?prd_

des_ean13=9788522450886>. Acesso em: 18 jul. 2013.

Livro: Teoria da Contabilidade

Autores: Jorge Katsumi Niyama e César Augusto Tibúrcio Silva

Editora: Atlas

Livro-texto que tem como objetivo apresentar as principais dis-

cussões acerca da Teoria da Contabilidade, desde os principais

usuários da informação contábil até os principais elementos das

demonstrações financeiras.

TEORIA DA CONTABILIDADE 57
Livro: Teoria da Contabilidade

Autor: Sérgio de Iudícibus

Editora: Atlas

Este livro abrange desde os objetivos e a metodologia da

Contabilidade até as suas mais recentes tendências e pers-

pectivas futuras.

Adicionalmente, fornece um instrumental de reflexão extremamente importante para

os profissionais das mais variadas especializações contábeis, na solução dos comple-

xos problemas que enfrentam.

Fonte: <http://www.grupogen.com.br/teoria-contabilidade-23035.html>. Acesso em:

04 fev. 2016.

Livro: Teoria da Contabilidade

Autores: Eldon S. Hendriksen e Michael F. Van Breda

Editora: Atlas

Neste livro é empregado um referencial genérico para avaliar áreas

de teoria e da prática da contabilidade em três níveis básicos, isto

é, o nível estrutural, o de interpretação semântica e o pragmático.

Fonte: <http://www.grupogen.com.br/teoria-contabilidade-23036.html>. Acesso em:

04 fev. 2016.

58 Teoria da contabilidade
UNIDADE III - PRINCÍPIOS CONTÁBEIS
E NORMAS INTERNACIONAIS DE
CONTABILIDADE

Objetivos a serem alcançados nesta unidade:


Prezado(a) Acadêmico(a), ao terminar os estudos desta unidade, você deverá ser

capaz de:

• Compreender a importância da Estrutura Conceitual para elaboração de rela-


tórios contábil-financeiro de propósito geral.
• Entender o que são os princípios de contabilidade.
• Compreender como se deu a evolução da contabilidade internacional.

Teoria da contabilidade 59
ESTRUTURA CONCEITUAL BÁSICA
O QUE É A ESTRUTURA CONCEITUAL?
A Estrutura Conceitual, também conhecida como CPC 00, é o documento que destaca

os conceitos que dão suporte a preparação e apresentação dos relatórios financeiros e

tem como objetivo auxiliar normatizadores no desenvolvimento e revisão de normas con-

tábeis, bem como outras partes, tais como preparadores e auditores a interpretar normas,

no sentido de promover a preparação e apresentação das demonstrações financeiras.

A Estrutura Conceitual vigente no Brasil, titulada Estrutura Conceitual para Elabora-

ção e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro – também conhecida por CPC 00

– foi emitida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) em 2008.

Esse documento é uma tradução da Conceptual Framework for Financial Reporting

(Estrutura Conceitual) emitida pelo Internacional Accounting Standard Board (IASB),

órgão responsável pela emissão de normas contábeis em nível internacional.

A primeira estrutura conceitual para elaboração dos relatórios financeiros de propósito

geral emitida em nível internacional, adveio em 1989, pelo International Accounting

Standard Committee (IASC).

O desenvolvimento desse documento se deve aos esforços do IASC/IASB na busca

por convergência das políticas e práticas contábeis, pelo desenvolvimento de prin-

cípios contábeis europeus e principalmente pelas contribuições advindas do Finan-

cial Accounting Stantard Board (FASB), por meio do Referencial Conceitual (SFAC 1,

SFAC 2, SFAC 5, SFAC 6 e SFAC 7) emitido a partir do final da década de 1970.

Desta forma, a Estrutura Conceitual da contabilidade, vigente no Brasil, é fruto do pro-

cesso de convergência ao padrão IFRS (Normas Internacionais de Contabilidade) e,

portanto, é a mesma estrutura conceitual utilizada pelos países que fizeram convergir

normas nacionais ao padrão IFRS.

60 Teoria da contabilidade
Quatro tópicos são destacados na atual Estrutura Conceitual, conforme destacado no

CPC 00 :

1. Objetivo da elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro de propósito ge-


ral; 2. Entidade que reporta a informação; 3. Características qualitativas da informação
contábil-financeira útil; e, 4. Estrutura conceitual (1989): Elementos das Demonstrações
Financeiras (p.187).

Estrutura Conceitual: objetivo da elaboração e divulgação de relatório


contábil-financeiro de propósito geral
Para melhor compreensão desse tópico, em primeiro lugar, é preciso entender o que é

relatório contábil-financeiro (também conhecido como relatório financeiro) e demons-

trações financeiras. Demonstrações Financeiras é o nome dado para os principais

relatórios emitidos pela empresa.

Elementos das Demonstrações Financeiras


Conforme Estrutura Conceitual da Contabilidade, as demonstrações financeiras retra-

tam os efeitos patrimoniais e financeiros das transações e outros eventos, por meio do

grupamento dos mesmos em classes amplas de acordo com as suas características

econômicas. Essas classes amplas são denominadas de elementos das demonstra-

ções contábeis (CPC 00).

Os elementos diretamente relacionados à mensuração da posição patrimonial e fi-

nanceira no balanço patrimonial são os ativos, os passivos e o patrimônio líquido. Os

elementos diretamente relacionados com a mensuração do desempenho na demons-

tração do resultado são as receitas e as despesas (CPC 00).

Teoria da contabilidade 61
Balanço Patrimonial
O Balanço Patrimonial apresenta a posição patrimonial e financeira de uma empresa

em dado momento, sendo utilizado como ponto de partida para o conhecimento da

situação econômica e financeira da empresa.

Nesta demonstração podemos visualizar a composição detalhada dos bens e direitos

da empresa: ATIVO, assim como as suas obrigações: PASSIVO e PATRIMÔNIO LÍ-

QUIDO.

A estrutura básica do Balanço Patrimonial conforme Lei nº 6.404/76 art. 178 §1° e 2°

alterados pela Lei 11.638 de 28 de dezembro de 2007 e 11941 de 27 de maio de 2009

determina a segregação do Ativo e do Passivo nos seguintes grupos e subgrupos:

ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Passivo Circulante
Ativo Não Circulante Passivo Não Circulante
Realizável a Longo Prazo Patrimônio Líquido
Investimentos Capital Social
Imobilizado Reservas de Capital
Intangível Ajustes da Avaliação Patrimonial

O ATIVO compreende as aplicações de recursos representadas por bens e direitos.

O PASSIVO compreende as origens de recursos representadas por obrigações. O

PATRIMÔNIO LÍQUIDO compreende os recursos próprios da entidade, ou seja, a

diferença maior do ativo sobre o passivo.

Na hipótese do passivo superar o ativo, a diferença denomina-se “PASSIVO A DES-

COBERTO”.

As contas que compõe estes grupos, ATIVO, PASSIVO e PATRIMÔNIO LÍQUIDO são

classificadas em grandes grupos de contas demonstradas anteriormente, os quais

são apresentados em ordem decrescente de grau de liquidez.

62 Teoria da contabilidade
a) Principais alterações ocorridas no Balanço Patrimonial, que passam a

vigorar com a edição da Lei nº 11941 de 27 de maio de 2009.

Ativo

A Estrutura Conceitual (CPC 00) destaca que um ativo é um recurso controlado pela

entidade como resultado de eventos passados e do qual se espera que fluam futuros

benefícios econômicos para a entidade.

Para a Estrutura Conceitual (CPC 00), o benefício econômico futuro incorporado a um

ativo é o seu potencial em contribuir, direta ou indiretamente, para o fluxo de caixa ou

equivalentes de caixa para a entidade.

Os benefícios econômicos futuros incorporados a um ativo podem fluir para a entida-

de de diversas maneiras. Por exemplo, o ativo pode ser:

a) usado isoladamente ou em conjunto com outros ativos na produção de bens ou

na prestação de serviços a serem vendidos pela entidade;

b) trocado por outros ativos;

c) usado para liquidar um passivo; ou,

d) distribuído aos proprietários da entidade.

Em linhas gerais um ativo é um recurso de propriedade da empresa. No entanto, essa

não é uma condição necessária para o reconhecimento de um ativo, isto é, se a em-

presa detém os riscos e benefícios sobre o recurso, mesmo não tendo a propriedade

legal, o item deve ser reconhecido como um ativo da empresa.

O Ativo Circulante e o Ativo não Circulante passam a ser classificados como grupos,

assim, o Ativo passou a ter dois grupos de contas:

O grupo Permanente deixou de existir e o subgrupo Diferido foi extinto.

Teoria da contabilidade 63
O Ativo Realizável a Longo Prazo, Investimentos, Imobilizado e Intangível, passam a

ser subgrupos do Ativo não Circulante.

Passivo

A Estrutura Conceitual (CPC 00) destaca que um passivo é uma obrigação presente

da entidade, derivada de eventos passados, cuja liquidação se espera que resulte na

saída de recursos da entidade capazes de gerar benefícios econômicos.

Uma característica essencial para a existência de passivo, como mostrado na Estrutu-

ra Conceitual (CPC 00), é que a entidade tenha uma obrigação presente.

Uma obrigação é um dever ou responsabilidade de agir ou de desempenhar uma

dada tarefa de certa maneira. As obrigações podem ser legalmente exigíveis em con-

sequência de contrato ou de exigências estatutárias.

Um passivo pode ser uma obrigação legal ou construtiva, isto é, apesar de que as

obrigações são legalmente exequíveis como consequência de um contrato vinculativo

ou exigência legal, eles também podem surgir de práticas comerciais normais, costu-

mes e desejo de manter boas relações comerciais.

No Passivo, teremos os seguintes grupos: Passivo Circulante, Passivo não Circulante

e Patrimônio Líquido. O grupo Passivo Exigível a Longo Prazo, deixou de existir, por-

tanto todas as obrigações das empresas cujo vencimento ocorra após o término do

exercício seguinte, deverão ser classificadas no Passivo não Circulante.

O grupo Resultado de Exercícios Futuros foi extinto as receitas diferidas e os custos/

despesas diferidos deverão ser reclassificados no grupo Passivo não Circulante.

a) Segregação entre Circulante e Não Circulante – conforme a Deliberação

da CVM nº 488 de 03 de outubro de 2005.

64 Teoria da contabilidade
Ativo: um Ativo deve ser classificado como Circulante quando: se espera que seja

realizado, ou é mantido para venda, negociação ou consumo até o final do exercício

seguinte; é um ativo em dinheiro ou equivalente, cuja utilização não está restrita; to-

dos os outros ativos devem ser classificados como Não Circulante.

Passivo: um Passivo deve ser classificado como Circulante somente quando atender

aos seguintes parâmetros: é esperada sua liquidação até o findo do exercício seguinte;

é mantido principalmente com a finalidade de ser transacionado; a entidade não tem

nenhum direito de postergar sua liquidação por período que exceda o findo do exercício

seguinte; as demais obrigações devem ser classificadas como Não Circulante.

Teoria da contabilidade 65
Balanço Patrimonial detalhado
(D eno m inaç ão da E m p r es a ) BA L ANÇO PAT RIMONIA L E n c e r r a d o e m / / E m R$

ATI V O X2 X1 PASSI V O X2 X1

Passivo Circulante
Empréstimos e Financiamentos
Fornecedores
Ativo Circulante Obrigações Fiscais
Disponível Outras Obrigações
Clientes Provisões
Outros Créditos Passivo Não Circulante
Investimentos Temporários Empréstimos e Financiamentos
Estoques Fornecedores
Despesas do Exercício Seguinte Obrigações Fiscais
Ativo Não Circulante Outras Obrigações
Realizável a Longo Prazo Provisões
Créditos e Valores Receitas/Custos/Desp. Diferidas
Investimentos Temporários a Longo Receitas Diferidas
Prazo ( - ) Custos Diferidos
Despesas Antecipadas ( - ) Despesas Diferidas
Investimentos PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Participações Perm. em Outras Capital Social
Sociedades Reservas de Capital
Outros Investimentos Permanentes Ajustes da Avaliação Patrimonial
Imobilizado Reserva de Lucros
Bens em Operação Reserva Legal
(-) Depreciação, Amort. e Exaustão Reserva Estatutária
Acumulada Reserva para Contingências
Imobilizado em Andamento Reserva de Incentivos Fiscais
Intangível Reserva de Lucros a Realizar
Direitos Adquiridos Reserva de Lucros para Expansão
Fundo de Comércio Adquirido Reserva Especial para Dividendo
Obrigatório não distribuído
( - ) Ações em Tesouraria
( - ) Prejuízos Acumulados

ATIVO PASSIVO

Ativo Circulante Passivo Circulante

Compreende as disponibilidades, os
direitos realizáveis no curso do exercício
Compreende as obrigações exigíveis que
social subsequente e as aplicações
serão liquidadas no próximo exercício social.
de recursos em despesas do exercício
seguinte.

66 Teoria da contabilidade
At iv o N ão C ir c u l a nt e

- At iv o R ea l izáv el a Lo ngo P r a zo Pa s s i v o N ão C i r c u l a n t e

Incluem-se os direitos realizáveis após o término do exercício


seguinte, assim como os derivados de vendas, adiantamentos ou
empréstimos a sociedades coligadas ou controladas (artigo 243), Relacionam-se nesse grupo as obrigações exigíveis que serão
diretores, acionistas ou participantes no lucro da companhia, que liquidadas após o término do exercício seguinte.
não constituírem negócios usuais na exploração do objeto da
companhia.

. I nv es t im ento s Pat r i m ô n i o L í q u i d o

São as aplicações de caráter permanente em outras sociedades São recursos oriundos dos proprietários ou acionistas aplica-
e os direitos de qualquer natureza, não classificáveis no ativo dos na empresa, com característica permanente. Os recursos
circulante, e que não se destinem à manutenção da atividade da significam o capital mais o seu rendimento, se houver prejuízo,
companhia ou da empresa. o total destes será reduzido.

. I m o b il iza d o - C a p i ta l S o c i a l

Direitos que tenham por objeto bens corpóreos destinados à


manutenção das atividades da companhia ou da empresa ou A conta do capital social discriminará o montante subscrito e,
exercidos com essa finalidade, inclusive os decorrentes de opera- por dedução, a parcela ainda não realizada.
ções que transfiram à companhia os benefícios, riscos e controle
desses bens.

. I nta ngív el - R e se r va s d e C a pi ta l

Serão classificadas como reservas de capital as contas


Direitos que tenham por objeto bens incorpóreos destinados à que registrarem: ágio na emissão de ações, o produto da
manutenção da companhia ou exercidos com essa finalidade, alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição e o
inclusive o fundo de comércio adquirido. resultado da correção monetária do capital realizado, enquanto
não capitalizado.

- A j u s t e s da Ava l i aç ão Pat r i m o n i a l

Serão registradas as contrapartidas de aumentos ou diminui-


ções de valor atribuído a elementos do ativo e do passivo,
em decorrência da sua avaliação a valor justo, enquanto não
computadas no resultado do exercício em obediência ao
regime de competência.

- R e se r va s d e Lu c r o s

São as contas de reservas constituídas pela apropriação de


lucros da companhia: Reserva Legal, Reserva Estatutária,
Reserva para Contingências, Reserva de Incentivos Fiscais,
Reserva de Lucros a Realizar, Reserva de Lucros para
Expansão e Reserva Especial para Dividendo Obrigatório não
distribuído.

- ( - ) Açõ e s e m T e s o u r a r i a

Ações da companhia adquiridas pela própria sociedade.

- ( - ) P r e j u í zo s Ac u m u l a d o s

Representa o saldo remanescente dos prejuízos líquidos.

Teoria da contabilidade 67
Demonstração do Resultado do Exercício
A Demonstração do Resultado do Exercício destinada a evidenciar a composição do

resultado formado em um determinado período de operações da Entidade.

A demonstração do resultado, observado o princípio de competência, evidenciará a

formação dos vários níveis de resultados mediante confronto entre as receitas, e os

correspondentes custos e despesas.

A estrutura da Demonstração do Resultado do Exercício – DRE definida pelo artigo

187 da Lei nº 6.404/76 é a seguinte:

I – Receita Bruta de Vendas e Serviços, as deduções das vendas, os abatimentos e

os impostos;

II – Receita Líquida das Vendas e Serviços, o custo das mercadorias e serviços ven-

didos e o lucro bruto;

III – Despesas com Vendas, as despesas financeiras, deduzidas das receitas, as des-

pesas gerais e administrativas, e outras despesas operacionais;

IV – Lucro ou Prejuízo Operacional, as Receitas e Despesas não Operacionais;

V – Resultado do Exercício antes do Imposto de Renda e a provisão para o imposto;

VI – As participações de debêntures, empregados, administradores e partes benefici-

árias, e as contribuições para instituições ou fundos de assistência ou previdência de

empregados;

V- Lucro ou Prejuízo Líquido do Exercício e o seu montante por ação do capital social.

Observando o que determina a Lei, a DRE será estruturada da seguinte forma:

68 Teoria da contabilidade
Receita Bruta de Vendas

(-) Deduções sobre Vendas

Abatimentos, Descontos Incondicionais, Devoluções e Vendas Canceladas, Impos-

tos e Contribuições sobre as vendas

=Vendas Líquidas

(-) Custo das mercadorias e serviços vendidos

=Lucro Bruto

(-) Despesas Operacionais

Despesas com vendas

Despesas Administrativas

Despesas Financeiras

+ Receitas Financeiras

Outras Despesas Operacionais

=Lucro Operacional

+(-) Resultado não Operacional

=Lucro Antes do imposto de renda e contribuição social

(-) Provisão para imposto de renda e contribuição Social

= Lucro antes das participações

(-) Participações

=Lucro ou Prejuízo Líquido do Exercício

Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (ou, demonstração


dos lucros ou prejuízos acumulados)
A DMPL – Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido fornece a movimen-

tação ocorrida durante o exercício nas diversas contas componentes do Patrimônio

Líquido: faz clara indicação do fluxo de uma conta para outra e indica a origem e o

valor de cada acréscimo ou diminuição no Patrimônio Líquido durante o exercício.

Teoria da contabilidade 69
Trata-se, portanto, de informação que complementa os demais dados constantes no

Balanço Patrimonial e na Demonstração do Resultado do Exercício, julga-se impor-

tante para as empresas que tenham seu Patrimônio Líquido formado por diversas

contas e mantenham com elas inúmeras transações.

Sua importância se torna mais acentuada em face dos critérios da Lei, pois a demons-

tração indicará claramente a formação e a utilização de todas as reservas, e não ape-

nas das originadas por lucros, tem a finalidade de compreensão, quanto ao cálculo

dos dividendos.

Logicamente, se a empresa elaborar tal demonstração, incluindo-a como integrante

de suas Demonstrações Financeiras do exercício, deverá deixar de elaborar a De-

monstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados, desde que as informações desta

estejam incluídas, no mesmo nível de informações.

Por fim, a Demonstração de Mutações do Patrimônio Líquido – DMPL tem a finalidade

de indicar as modificações ocorridas nos saldos de suas contas, em virtude dos even-

tos realizados durante o exercício.

CAUSAS QUE PODEM INFLUENCIAR A VARIAÇÃO DE CADA UMA DAS


CONTAS INTEGRANTES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Capital Social

Integralização de Capital Social

Transferências de Reservas

Transferências de Lucros

70 Teoria da contabilidade
Reserva de Capital

Transferências para outras Reservas

Transferência para Capital

Reserva de Lucros

Transferência do Lucro do Exercício

Lucros

Destinação aos sócios (dividendos)

Destinação para Reservas

PARTICIPAÇÕES NOS LUCROS – CÁLCULOS E REGISTROS


As participações nos lucros são remunerações atribuídas a beneficiários em função

da existência de resultados positivos. Tais participações poderão estar previstas em

atos constitutivos (contrato ou estatuto social) ou serem definidas em deliberações de

sócios ou acionistas em assembleias.

O parágrafo único do artigo 190 da Lei nº 6.404/76 determina a aplicação do disposto

no artigo 201, ao pagamento das participações, onde se conclui que o pagamento das

participações somente poderá ser feito diante da existência de lucro líquido do exercí-

cio e de reservas de lucros.

O artigo 187 da Lei nº 6.404/76, que trata da demonstração do resultado do exercício

no inciso VI, prevê a discriminação das participações de debêntures, de empregados,

de administradores e de partes beneficiárias, e as constituídas para instituições ou

fundos de assistência ou previdência de empregados.

Teoria da contabilidade 71
Portanto, as “Participações nos Lucros” não têm o caráter atribuído à distribuição de

lucros, haja vista a previsão de sua inclusão na demonstração do resultado, enquanto

que as distribuições são feitas a partir da conta lucros ou prejuízos acumulados, do

patrimônio líquido. Em relação à participação dos empregados nos lucros, devemos

salientar sua previsão na Lei nº 10101/2000.

Participações são atribuídas às despesas do exercício


Sendo parte integrante da demonstração do resultado, conclui-se que as participa-

ções nos lucros são despesas. São distribuídas como uma forma de remuneração:

A. debêntures, a participação nos lucros é um adicional de remuneração do ca-

pital investido nesses títulos;

B. participações a empregados são complemento das remunerações previstas

na legislação trabalhista, também podendo ser vista como um “gasto” com

empregados;

C. participações dos administradores também são como complemento de remu-

neração, seja salário, seja pró-labore;

D. para as partes beneficiárias, as participações são remunerações dos títulos;

Reconhecimento das Despesas e Participações nos Lucros


O reconhecimento das despesas com participações nos lucros ocorrerá por ocasião

do levantamento do balanço e da DRE, cujo resultado der origem à participação.

Portanto, o reconhecimento será na data do balanço, mesmo que o pagamento tenha

sido antecipado ou esteja previsto em data posterior. Vale lembrar que no caso de

participações de empregados, o § 2º do art. 3º da Lei nº 10101/2000 veda o paga-

mento de qualquer antecipação ou distribuição de valores a título de participação nos

72 Teoria da contabilidade
lucros ou resultados da empresa em periodicidade inferior a um semestre civil, ou

mais de duas vezes no mesmo ano civil.

Cálculo Sucessivo
De acordo com a Lei das S.A., as participações nos lucros serão calculadas sucessi-

vamente, na seguinte ordem:

A. de debêntures;

B. de empregados;

C. de administradores;
D. de partes beneficiárias;

E. para instituições ou fundos de assistência ou previdência de empregados.

O art. 190 da Lei das S.A. especifica expressamente a ordem apenas para os itens

“b”, “c” e “d”, todavia, com base na ordem estabelecida no inciso VI do art. 179 da Lei

das S.A., pode-se concluir que a remuneração das debêntures antecede a dos em-

pregados.

O que se aconselha, para que não haja dúvidas, é a fixação sobre a ordem de cálculo

no estatuto social. Novamente, precisamos lembrar que a participação dos empre-

gados será objeto de negociação entre a empresa e seus empregados, inclusive em

relação à fixação de valores.

Base de Cálculo das Participações


Para se obter a base de cálculo das participações nos lucros, parte-se do lucro líqui-

do do exercício deduzido dos prejuízos acumulados e da provisão para o Imposto de

Renda, conforme o disposto no art. 189 da Lei nº 6.404/76.

Teoria da contabilidade 73
A apuração da base de cálculo é extracontábil, uma vez que ela reúne elementos do

resultado e do patrimônio líquido, não sendo necessária qualquer transferência por

meio de lançamento contábil para esse fim.

Base de Cálculo com apuração no IRPJ e da CSLL


O lucro real e a base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL)

são calculados a partir do lucro contábil antes das provisões. Por sua vez, a base de

cálculo das participações sobre o lucro depende do cálculo da provisão para o Impos-

to de Renda e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, pois são calculados sobre

o lucro líquido após as deduções dos tributos sobre o lucro.

Exemplos

A. Cálculo das Participações

= Lucro Líquido antes do IRPJ e das Participações

(-) Provisão para o Imposto de Renda

(-) Provisão para a CSLL

(-) Prejuízo Acumulado

= Base de cálculo das participações

- Participação das debêntures:

= Lucro depois das participações

- Participação dos empregados:

= Lucro depois das participações

Participação dos administradores:

= Resultado do Período.

74 Teoria da contabilidade
RESERVA DE LUCROS
As reservas de lucros são as contas de reservas constituídas pela apropriação de

lucros da companhia, conforme previsto no § 4º do art. 182 da Lei 6404/1976, para

atender a várias finalidades, sendo sua constituição efetivada por disposição da lei ou

por proposta dos órgãos da administração.

Pela Lei das S/A, classificam-se como reservas de lucros:

A. Reserva Legal;

B. Reserva Estatutária;

C. Reserva para Contingências;


D. Reserva de Lucros a Realizar;

E. Reserva de Lucros para Expansão;

F. Reserva de Incentivos Fiscais.

Reserva Legal
A reserva legal deverá ser constituída mediante destinação de 5% (cinco por cento)

do lucro líquido do exercício, antes de qualquer outra destinação. Esta reserva será

constituída, obrigatoriamente, pela companhia, até que seu valor atinja 20% do capital

social realizado, quando então deixará de ser acrescida.

Reservas Estatutárias
As reservas estatutárias são constituídas por determinação do estatuto da compa-

nhia, como destinação de uma parcela dos lucros do exercício, e não podem restringir

o pagamento do dividendo obrigatório.

Teoria da contabilidade 75
Reservas para Contingências
De acordo com o artigo 195 da Lei nº 6.404/76, a assembleia geral poderá, por pro-

posta dos órgãos de administração, destinar parte do lucro líquido à formação de

reserva com a finalidade de compensar, em exercício futuro, a diminuição do lucro

decorrente de perda julgada provável, cujo valor possa ser estimado.

Reservas de Lucros a Realizar


No exercício em que o montante do dividendo obrigatório, calculado nos termos do

estatuto ou do art. 202 da Lei das S/A, ultrapassar a parcela realizada do lucro líquido

do exercício, a assembleia geral poderá, por proposta dos órgãos da administração,

destinar o excesso à constituição de reserva de lucros a realizar.

Reservas de Lucros para Expansão


Para atender a projetos de investimento e expansão, a companhia poderá reter parte

dos lucros do exercício. Essa retenção deverá estar justificada com o respectivo orça-

mento de capital aprovado pela assembleia geral.

Reservas de Incentivos Fiscais


A assembleia geral poderá, por proposta dos órgãos de administração, destinar para

a reserva de incentivos fiscais a parcela do lucro líquido decorrente de doações ou

subvenções governamentais para investimentos, que poderá ser excluída da base de

cálculo do dividendo obrigatório.

76 Teoria da contabilidade
Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)
Conceito de Fluxo de Caixa

Conjunto de ingressos e desenbolsos de numerários ao longo de um período determi-


nado. O fluxo de caixa consiste na representação dinâmica da situação financeira de
uma empresa, considerando todas as fontes de recursos e todas as aplicações em itens
do ativo. ZDANOWICZ (1986, P. 37)

A DFC é um dos instrumentos mais eficientes de planejamento e controle financeiro,

o qual poderá ser elaborado de diferentes maneiras, conforme as necessidades ou

conveniências da empresa, a fim de permitir que se visualizem os futuros ingressos

de recursos e os respectivos desembolsos.

Nestes termos, o fluxo de caixa é o instrumento utilizado pelo administrador financei-

ro, com a finalidade de detectar se o saldo inicial de caixa adicionado ao somatório de

ingressos, menos o somatório de desembolsos em determinado período, apresentará

excedentes de caixa ou escassez de recursos financeiros pelas empresas.

Caso houver excedentes financeiros, permitirá ao administrador financeiro es-

tudar a destinação mais eficiente dos mesmos diante de aplicações. Se houver

falta de recursos financeiros, possibilitará a captação de recursos com certa

antecedência.

É importante o planejamento do fluxo de caixa, porque irá indicar antecipadamente

as necessidades de numerário para o atendimento dos compromissos que a empresa

costuma assumir.

Diante dessa situação, o fluxo de caixa é de vital importância para a eficiência econô-

mica, financeiro e gerencial das empresas sejam elas pequenas, médias ou de grande

porte. Abaixo, segue figura onde evidencia as atividades operacionais de uma empresa:

Teoria da contabilidade 77
ENTRADAS E SAÍDAS DE CAIXA

ENTRADAS DE CAIXA SAÍDAS DE CAIXA

OPERAÇÕES venda de bens ou compra de bens e


serviços aos serviços para as
clientes operações

INVESTIMENTOS venda de ativo CAIXA compra de ativo


permanente permanente

pagamento de
emissão de
dividendos,
FINANCIAMENTO
obrigações e liquidação de
ações obrigações e
recompra de ações

STICKNEY E WEIL (2001, p.30)

78 Teoria da contabilidade
IMPORTÂNCIA DA DFC

Explicar as razões pelas quais o


saldo de caixa alterou entre dois
balanços consecutivos.
STICKNEY E WEIL (2001, p.173)

O fator mais importante não divulgado no balanço


ou na demonstração do resultado é a forma pela qual
as operações afetaram o fluxo de caixa.
STICKNEY E WEIL (2001, p.198)
11

Viabiliza, ainda, a avaliação da capacidade de financiamento do seu capital de giro

ou se depende de recursos externos, permitindo conhecer a capacidade de expansão

com recursos próprios, gerados a partir de suas próprias operações a aferir o potencial

efetivo das organizações para implementar decisões de investimento, financiamento,

distribuição de lucros e/ou pagamento de dividendos.

Seguem alguns critérios para que a empresa obtenha resultados positivos por

meio do fluxo de caixa:

A. Buscar a maximização do lucro, possuindo certos padrões de segurança, pre-

viamente fixados;

B. Assegurar ao caixa um nível desejado, a partir da constituição de reservas

necessárias à empresa;

C. Obter maior liquidez nas aplicações dos excedentes de caixa no mercado

financeiro;

D. Determinar o nível desejado de caixa, a partir das contas que compõe o dis-

ponível da empresa;

Teoria da contabilidade 79
E. Fixar limites mínimos, mediante as experiências adquiridas pela empresa,

permitindo realizar os ajustes quando for necessário;

F. Ainda que a empresa observe certos padrões de segurança, pode investir

parte de seus recursos disponíveis, mas nunca além do mínimo necessário

para as suas atividades operacionais.

FLUXO DE CAIXA HISTÓRICO X PROJETADO


Existem duas formas para tratamento das informações relativas ao Fluxo de Cai-

xa: a primeira forma refere-se ao Fluxo de Caixa Histórico (ou Passado) que apre-

senta o desempenho passado; e a segunda ao Fluxo de Caixa Projetado (ou Or-

çamento de Caixa) que procura antever as situações relacionadas ao caixa das

organizações.

O Fluxo de Caixa Histórico coloca-se como instrumento complementar às demais de-

monstrações contábeis, especialmente ao Balanço Patrimonial e à Demonstração de

Resultado do Exercício. Procura esclarecer e historiar as atividades operacionais de

investimento e de financiamento.

Estabelece o rastreamento da atividade passada com vistas a elucidar pontos críticos

no desempenho financeiro das organizações, fornecendo subsídio para a tomada de

decisões, correção de rumos e incrementos de resultados.

Sua análise permite avaliar a forma como o recurso de cada fonte vem sendo aplicado

e proporciona uma visão acerca do crescimento da organização. Também, aliado a

outros indicadores, serve como base para a construção do Fluxo de Caixa Projetado.

O Fluxo de Caixa Projetado ou Orçamento de Caixa antecipa situações futuras de cai-

xa, antevendo pontos críticos que poderão ser antecipadamente tratados ou situações

de excesso de caixa que podem ensejar decisões de redirecionamento de recursos.

80 Teoria da contabilidade
O principal insumo ao processo financeiro de curto prazo é a previsão de vendas. A

previsão das vendas de uma empresa em um dado período é preparada pelo depar-

tamento de marketing.

Com base na previsão de vendas, o gerente financeiro estima o fluxo de caixa mensal

que resultará das receitas de vendas projetadas e despesas relacionadas à produção,

estoque e vendas.

Construídos a partir de critérios previamente definidos, aliados a informações dispo-

níveis nas organizações e com auxílio de modelos matemáticos e estatísticos, essas

previsões não estão isentas dos efeitos da subjetividade, sendo, portanto de extrema

importância a observação do princípio da prudência por ocasião de sua elaboração.

Mesmo entre os Fluxos de Caixa pode-se observar que, enquanto o Fluxo de caixa

Histórico limita-se a explicar o passado, o Fluxo de Caixa projetará para estabelecer

o futuro.

A importância de um e de outro é relativa, o Fluxo de Caixa Histórico dá subsídio para

o Fluxo de Caixa projetado com informações relativamente precisa na informação do

passado, e com a devida projeção para o futuro, relacionado aos recursos financeiros

com eficiência na tomada de decisão.

Fluxo de caixa de Curto Prazo


O período abrangido pelo planejamento do fluxo de caixa depende do tamanho e

ramo de atividade da empresa. Em geral, quando as atividades estão sujeitas a gran-

des oscilações, a tendência é para estimativas com prazos curtos (diário, semanal,

mensal), enquanto as empresas que apresentam volume de vendas estável preferem

projetar o fluxo de caixa para períodos longos (trimestral semestral ou anual).

Teoria da contabilidade 81
A finalidade do planejamento também influi no período abrangido pelo mesmo. Por

exemplo, para um programa de investimento intensivo por parte da empresa, torna-se

conveniente um planejamento mais detalhado, referente a um prazo menor, para se

dar uma ideia aproximada da projeção de saldos mensais durante o exercício social.

Como toda a empresa tem mais de uma espécie de necessidade financeira, precisa

ter estimativas com prazos variáveis, de acordo com as respectivas finalidades.

Fluxo de caixa de longo prazo

O planejamento do fluxo de caixa a longo prazo dispensa a apresentação de muitos

detalhes, pois tem em vista apenas relacionar alterações significativas nos futuros

saldos de caixa da empresa.

De acordo com os planos de ação aprovados pela cúpula diretiva, deverão resultar de

expansão ou modernização da capacidade de produção e/ou comercialização, lança-

mento de novas linhas de produtos e crescimento almejado da empresa dentro de um

ou três anos, ou em um futuro próximo.

Com um devido planejamento poderá diagnosticar as épocas em que as disponibi-

lidades poderão ser insuficientes, a fim de que o administrador financeiro possa se

programar com antecipação da seguinte forma:

1. Incluir no planejamento de caixa o montante dos empréstimos ou financia-

mentos com que a empresa deverá contar de curto, médio, ou de longo prazo;
2. Prever aumento de capital social, mediante aproveitamento de reservas ou

subscrição de novas ações;

3. Analisar os efeitos que cada uma dessas maneiras de obter maiores recursos

terá na estrutura do capital da empresa;

4. Determinar para a alta administração os projetos que poderão ser executados

de acordo com os planos, quais serão adiados ou alterados.

82 Teoria da contabilidade
CLASSIFICAÇÕES DAS MOVIMENTAÇÕES DE CAIXA POR ATIVIDADES

CLASSIFICAÇÃO DAS MOVIMENTAÇÕES


DE CAIXA POR ATIVIDADES

Base da classificação:
natureza da transação de origem - intenção subjacente

Atividades Operacionais

Atividades de Investimento

Atividades de Financiamento
FIPECAFI (2001, p.352-353)

Fluxos Operacionais
Os Fluxos Operacionais representam todos os gastos relacionados com a produção

e comercialização dos bens e serviços da empresa. Deve conter como entradas a co-

brança das vendas dos produtos/serviços gerados e comercializados; e como saídas

os elementos que estão ligados à geração, administração e comercialização de tais

produtos, como: pagamentos a fornecedores, gastos com serviços públicos etc.

Teoria da contabilidade 83
Fluxos de Investimentos
Os Fluxos de Investimentos envolvem a aquisição e venda de ativos que serão utiliza-

dos na produção de bens uso serviços, a concessão e o recebimento de empréstimos,

as movimentações relativas às aplicações financeiras e as participações em outras

empresas.

São consideradas entradas de Atividades de Investimentos: recebimento de emprés-

timos concedidos, recebimentos por resgate de aplicações financeiras, recebimento

por vendas de participações acionárias em outras empresas etc. E como saídas po-

demos citar: desembolso por concessão de empréstimos, pagamento para aquisição

de título financeiro, pagamentos para aquisição de participação acionária em outras

empresas.

Fluxos de Financiamento
Os Fluxos de Financiamento equalizam o somatório dos demais fluxos: no caso de

sobras dos recursos, existe saída para aplicação; no caso de falta de caixa, existe

resgate de investimento ou mesmo captação de recursos.

84 Teoria da contabilidade
ELABORAÇÕES DA DFC POR MÉTODO DIRETO E INDIRETO

MÉTODOS DE ELABORAÇÃO DA DFC

MÉTODO MÉTODO
DIRETO INDIRETO

Método Direto
O Método Direito consiste em classificar os recebimentos e pagamentos de uma em-

presa utilizando as partidas dobradas. A vantagem deste método é que permite gerar

as informações com base em critérios e técnicas, eliminando, assim, qualquer interfe-

rência da legislação fiscal.

É aquele em que as informações para composição de fluxo de caixa são obtidas dire-

tamente dos registros das operações da empresa.

A demonstração do Fluxo de Caixa pelo Método Direto facilita o entendimento do usu-

ário, pois nela pode-se visualizar integralmente a movimentação dos recursos finan-

ceiros decorrentes das atividades operacionais da empresa (CAMPOS FILHO, 1999).

A evidenciação dos valores que movimentam o caixa é de uma importância para uma

análise mais profunda do fluxo financeiro da empresa. Este método é mais informativo,

Teoria da contabilidade 85
pela clareza com que revela as informações do caixa.

Vantagens do método direto


Cria condições favoráveis para que a classificação dos recebimentos e pagamentos siga
critérios técnicos e não ficais
Permite que a cultura de administrar pelo caixa seja introduzida mais rapidamente nas
empresas
As informações de caixa podem estare disponíveis diariamente
Maior facilidade de compreensão

Desvantagens do método direto


Custo adicional para classificar os recebimentos e pagamentos
Falta de experiência dos profissionais na classificação dos recebimentos e pagamentos
pelo método das partidas dobradas

Fonte: CAMPOS FILHO (1999, p. 48)

Método Indireto
É o método em que as empresas ao decidirem não mostrar os recebimentos e paga-

mentos operacionais deverão relatar a mesma importância de fluxo de caixa líquido

das atividades operacionais indiretamente, ajustando o lucro líquido para reconciliá-lo

ao fluxo de caixa das atividades operacionais eliminando os efeitos:

A. De todos os deferimentos e pagamentos operacionais passados e de todas as

provisões de recebimentos e pagamentos operacionais futuros;


B. De todos os itens que são incluídos no lucro líquido que não afetam recebi-

mentos e pagamentos operacionais.

86 Teoria da contabilidade
Vantagens do Método indireto
Baixos custos - balanço patrimonial, DRE e outras informações
Maior facilidade para ser automatizado e informatizado
Concilia lucro contabil com fluxo de caixa operacional líquido
Demonstra as origens ou aplicações de caixa decorrentes das alterações de prazos de
recebimentos e pagamentos
Permite avaliar quanto do lucro está se tranformando em caixa em cada período

Fonte: FIPECAFT (2000, p. 356); CAMPOS FILHO (1999, p. 48)

Desvantagens do método indireto


Maior Tempo para conversão do regime de competência para o de caixa
Eliminação parcial da interferência da legislação fiscal

Fonte: CAMPOS FILHO (1999, p. 48)

Por meio de uma adequada gestão de caixa podemos reduzir substancialmente a ne-

cessidade de capital de giro, proporcionando maiores lucros em função, principalmen-

te, da redução das despesas financeiras, tendo como objetivo uma análise criteriosa

do fluxo de caixa.

De nada adianta efetuar projeções de fluxo de caixa se o mesmo não for utilizado

como ferramenta básica no processo decisório.

A projeção das necessidades futuras indicará escassez ou excesso de recursos em deter-

minado período e a avaliação desses resultados, permitirá que a empresas tome as provi-

dências em tempo hábil e reprograme seu fluxo de caixa em função das novas situações.

Teoria da contabilidade 87
Demonstração do Valor Adicionado
A Lei nº 11.638 de 28/12/2007, no seu art. 176, inciso V, estabeleceu que toda entida-

de de capital aberto deverá, ao fim de cada exercício social, elaborar a Demonstração

do Valor Adicionado - DVA.

Esta demonstração era normatizada pela NBC T 3.7, aprovada pela resolução do

Conselho Federal de Contabilidade nº 1.010 de 19 de novembro de 2004, a qual

impõe procedimentos para evidenciação de informações econômicas e financeiras,

relacionadas ao valor adicionado pela entidade e sua distribuição.

A Demonstração do Valor Adicionado reúne informações de natureza econômi-

ca, sendo um relatório que tem como objetivo demonstrar o valor da riqueza ge-

rada pela entidade, e como essa riqueza foi distribuída entre os diversos setores

que contribuíram, direta ou indiretamente, para que fosse gerada.

O valor adicionado, demonstrado neste relatório, é a diferença entre o valor bruto da

produção e os consumos intermediários em determinado período. Este valor adicio-

nado é utilizado para avaliação do Produto Nacional, sendo, em resumo, a soma dos

valores agregados em todas as etapas dos processos da produção do país.

Este produto denomina-se também Produto Interno Bruto – PIB. Desta forma, esta

demonstração contribui de maneira significativa para a mensuração de tudo o que foi

produzido pelos agentes econômicos de um país, pelo fato de evitar a dupla contagem

dos consumos intermediários, pois por meio da Demonstração do Valor Adicionado

obtém-se diretamente o produto interno bruto de maneira mais eficaz.

Portanto, a Demonstração do Valor Adicionado é de grande importância para infor-

mações sociais, ambientais e econômicas. A riqueza gerada pela entidade, analisada

com base no valor adicionado, é calculada de acordo com a atividade que ela agrega

aos bens e serviços consumidos no seu processo produtivo.

88 Teoria da contabilidade
OBRIGATORIEDADE DA PREPARAÇÃO E APRESENTAÇÃO DA DVA
A Lei nº 11.638/07, além de alterar algumas normas da Lei nº 6.404 de 1976, impôs

ainda requisitos a serem cumpridos pela contabilidade, trazendo grande novidade e

aumentando o nível de informações relevantes, principalmente no aspecto financeiro.

Isso ocorreu com a obrigatoriedade da elaboração e divulgação da Demonstração do

Valor Adicionado, como dito anteriormente.

O principal objetivo desta normatização é a harmonização e atualização das normas

contábeis brasileiras, no intuito de dar mais transparência e credibilidade aos diversos

usuários das informações contábeis.

A DVA é um relatório puramente econômico, que evidencia quanto de valor a empresa

agregou durante um determinado processo produtivo, ampliando assim os horizontes

de seus usuários.

Atende as necessidades de informações sobre o valor da riqueza da empresa, é ela-

borada a partir das informações contidas na DRE, destacando e distribuindo o valor

adicionado:

• A contribuição da empresa para a formação do lucro, e


• Para outros itens, tais como impostos, taxas e contribuições, pessoal e encar-
gos, juros e aluguéis, juros sobre capital próprio e dividendos.

As demais demonstrações visam mostrar aos investidores qual o lucro que a empresa

obteve e como este foi calculado. Já a Demonstração do Valor Agregado, além de

evidenciar o lucro investido, mostra a quem pertence o restante da riqueza criada pela

empresa.

A Resolução do Conselho Federal de Contabilidade nº 1.010/04, afirma que a De-

monstração do Valor Adicionado é a demonstração contábil destinada a evidenciar, de

Teoria da contabilidade 89
forma concisa, os dados e as informações do valor da riqueza gerada pela entidade

em determinado período e sua distribuição:

A. A receita bruta e as outras receitas;

B. Os insumos adquiridos de terceiros;

C. Os valores retidos pela entidade;

D. Os valores adicionados recebidos (dados) em transferência a outras entidades;

E. Valor total adicionado a distribuir; e

F. Distribuição do valor adicionado.

Além dessas informações, a entidade deve acrescentar ou detalhar outras linhas na

Demonstração do Valor Adicionado quando o montante e a natureza de um item ou

o somatório de itens similares forem relevantes para que esta apresentação detalha-

da ajude na apresentação mais adequada, sendo que esta demonstração deve ser

consistente com a demonstração do resultado do exercício e conciliada em registros

auxiliares mantidos pela entidade.

ASPECTOS POSITIVOS DA DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO


A Demonstração do Valor Adicionado é um importante componente do balanço social

e pode fornecer informações que servem como base para diversas análises, atingindo

todos os grupos participantes das operações, pois as demonstrações tradicionais da

contabilidade não geram todas as informações requeridas por todos os participantes

das operações da entidade.

Essa demonstração traz grandes vantagens para a contabilidade e para a entidade

que a utiliza, pelo fato de ser elaborada com uma linguagem comum, refletindo a efici-

ência e a lucratividade das operações, mostrando ainda a situação econômica em um

todo, além de mostrar qual a contribuição da entidade para a renda nacional.

90 Teoria da contabilidade
PROCEDIMENTOS PARA A ELABORAÇÃO DA DEMONSTRAÇÃO DO
VALOR ADICIONADO
Para exercer qualquer atividade empresarial, toda empresa necessita obter e consu-

mir fatores produzidos, dentro das suas várias cadeias de valores, ou seja, precisa se

interagir do mercado de bens e serviços. Mediante este mercado, a empresa produzi-

rá seus próprios bens e serviços, que posteriormente serão comercializados.

Essa relação entre a empresa e os fornecedores é demonstrada detalhadamente na De-

monstração do Valor Agregado, sendo demonstrado claramente o que a empresa utilizou

de fatores produtivos de terceiros e o que ela, a empresa, agregou nesse ciclo produtivo.

Em resumo, o valor agregado em um determinado período, por uma determinada Em-

presa A, por exemplo, pode assim ser apresentado:

Total das vendas, em Fatores produti-


Valor adicionado
um determinado perío- Menos vos adquiridos de igual
pela Empresa A
do, da Empresa A terceiros

A Demonstração do valor adicionado é separada em duas etapas, sendo que:

• a primeira demonstra a riqueza gerada pela empresa, ou seja, a geração do


valor adicionado, e

• a segunda mostra como é a feita a mensuração deste valor adicionado.

MODELO DE DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO


DESCRIÇÃO R$
1 – RECEITAS
1.1) Vendas de mercadorias, produtos e serviços.
1.2) Provisão p/ devedores duvidosos – Reversão / (Constituição)
1.3) Não operacionais
2 – (-) INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS (inclui ICMS e IPI)
2.1) Matérias-primas consumidas

Teoria da contabilidade 91
2.2) Custo das mercadorias e serviços vendidos
2.3) Materiais, energia, serviço de terceiros e outros
2.4) Perda / Recuperação de valores ativos
3 – (=) VALOR ADICIONADO BRUTO (1-2)
4 – (-) RETENÇÕES
4.1) Depreciação, amortização e exaustão
5 – (=) VALOR ADICIONADO LÍQUIDO PRODUZIDO PELA ENTIDADE
6 – (+) VALOR ADICIONADO RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA
6.1) Resultado de equivalência patrimonial
6.2) Receitas financeiras
7 – (=) VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (5+6)
8 – DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO*
8.1) Pessoal e encargos
8.2) Impostos, taxas e contribuições
8.3) Juros e aluguéis
8.4) Juros s/ capital próprio e dividendos
8.5) Lucros retidos / prejuízo do exercício

Para chegar ao valor adicionado bruto, identificado na primeira parte da demonstra-

ção, obtém-se a diferença entre a receita com vendas e os bens ou serviços consumi-

dos no processo de produção.

Ainda, deste valor adicionado bruto, devem ser deduzidas as despesas retidas, que

são aquelas não desembolsáveis, como: depreciação, amortização e exaustão obten-

do-se assim o valor adicionado líquido.

Antes de fazer a distribuição do valor, deve ser observado se há algum valor adicionado

a ser transferido de um período para o outro devendo somá-lo, caso seja credor ou de-

duzi-lo se for devedor, ao valor adicionado do período. Somente depois de observado tal

aspecto, é que o valor será distribuído aos setores que contribuíram para gerar tal riqueza.

Vale ressaltar que todos os itens demonstrados na estrutura da demonstração podem

sofrer mudanças de acordo com os dados e as características de cada empresa.

92 Teoria da contabilidade
ALGUNS ASPECTOS CONTÁBEIS PARA A PREPARAÇÃO DA
DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO
Assim como a Demonstração do Resultado do Exercício, a qual vem se comparando

desde o início, a Demonstração do Valor Adicionado também deve ter como base o

princípio do regime de competência.

No grupo das receitas, deve conter:

• Vendas de produtos, incluindo ICMS e IPI, incidentes sobre a receita,


• Provisão para devedores duvidosos, e
• As receitas não operacionais, que são aquelas decorrentes de bens que não
fazem parte das principais atividades da empresa.

No detalhamento dos insumos adquiridos, o que já está bem claro na própria estrutu-

ra, deve aparecer separadamente:

• O gasto com matérias-primas consumidas;


• Os custos dos produtos vendidos e dos serviços prestados (excluindo o gasto
com mão de obra);

• As despesas com serviços terceirizados, como energia e perdas ou recupera-


ções de valores ativos.

Caso a empresa obtenha um lucro líquido no final do exercício, este entra em adição

ao valor de ativo recuperado. Em relação aos custos e despesas consumidos é ne-

cessário que considere o ICMS e o IPI, se houver incluídos na compra, sejam estes

restituíveis ou não.

Nessa demonstração inclui-se, como forma de dedução do valor adicionado bruto, as

retenções praticadas pela entidade, estas retenções são apenas despesas reconhe-

cidas e não desembolsadas.

Teoria da contabilidade 93
O valor adicionado recebido de transferências é demonstrado por meio do resultado

de equivalência patrimonial, que pode ser positivo ou negativo, onde estão inclusos

os valores dos dividendos ligados a investimentos avaliados ao custo, e mediante as

receitas financeiras.

A distribuição do valor adicionado deve ser feita pelos setores/subgrupos, como:

• Pessoal e encargos, com a inclusão dos encargos sociais, tais como as fé-

rias, alimentação, 13º salário, FGTS; e

• Outros que estejam apropriados ao custo do produto, por meio dos impos-
tos, taxas e contribuições, como INSS, imposto de renda, contribuição social

e qualquer outro tipo de imposto, taxa ou contribuição. No caso do ICMS e

IPI, deve-se considerar os valores devidos ou já recolhidos, para que possa

apresentar a diferença entre os impostos da venda e aqueles incidentes nos

insumos já destacados.
• Outro subgrupo é o de aluguel e juros, que deve conter todas as despesas
financeiras da entidade. No item juros sobre capital próprio e dividendos, são

representados pelos valores pagos ou creditados aos acionistas e para fina-

lizar tem o subgrupo dos lucros retidos ou prejuízos do exercício onde estão

evidenciados os lucros do período destinados às reservas de lucros, os juros

sobre capital próprio visto como reservas de capital e ainda as prestações que

não possuam destino específico.

Objetivo, utilidade e limitações do relatório contábil-financeiro


de propósito geral
De acordo com o CPC 00, o objetivo do relatório contábil-financeiro de propósito ge-

ral é fornecer informações contábil-financeiras acerca da entidade que reporta essa

informação que sejam úteis a investidores existentes e em potencial, a credores por

94 Teoria da contabilidade
empréstimos e a outros credores, quando da tomada de decisão ligada ao forneci-

mento de recursos para a entidade.

Essas decisões envolvem comprar, vender ou manter participações em instrumentos

patrimoniais e em instrumentos de dívida, e a oferecer ou disponibilizar empréstimos

ou outras formas de crédito.

Para avaliar as perspectivas da entidade em termos de entrada de fluxos de cai-

xa futuros, investidores existentes e em potencial, credores por empréstimo e outros

credores necessitam de informação acerca de recursos da entidade, reivindicações

contra a entidade, e o quão eficiente e efetivamente a administração da entidade e

seu conselho de administração têm cumprido com suas responsabilidades no uso dos

recursos da entidade.

O referido pronunciamento técnico enfatiza que muitos investidores, credores por em-

préstimo e outros credores, existentes e em potencial, não podem requerer que as

entidades que reportam a informação prestem a eles diretamente as informações de

que necessitam, devendo desse modo confiar nos relatórios contábil-financeiros de

propósito geral, para grande parte da informação contábil-financeira que buscam.

Consequentemente, eles são os usuários primários para quem relatórios contábil-finan-

ceiros de propósito geral são direcionados. Entretanto, relatórios contábil-financeiros de

propósito geral não atendem e não podem atender a todas as informações de que investi-

dores, credores por empréstimo e outros credores, existentes e em potencial, necessitam.

Esses usuários precisam considerar informação pertinente de outras fontes, por exem-

plo, condições econômicas gerais e expectativas, eventos políticos e clima político, e

perspectivas e panorama para a indústria e para a entidade.

O CPC 00 ainda destaca que os relatórios contábil-financeiros de propósito geral não

são elaborados para se chegar ao valor da entidade que reporta a informação; a

Teoria da contabilidade 95
rigor, fornecem informação para auxiliar investidores, credores por empréstimo e ou-

tros credores, existentes e em potencial, a estimarem o valor da entidade que reporta

a informação.

Usuários primários individuais têm diferentes, e possivelmente conflitantes, desejos e

necessidades de informação. Este Comitê de Pronunciamentos Contábeis, ao levar

à frente o processo de produção de suas normas, irá procurar proporcionar um

conjunto de informações que atenda às necessidades do número máximo de

usuários primários.

Contudo, a concentração em necessidades comuns de informação não impede que

a entidade que reporta a informação preste informações adicionais que sejam mais

úteis a um subconjunto particular de usuários primários.

Características qualitativas da informação contábil-financeira útil


As demonstrações financeiras normalmente são elaboradas tendo como premissa a

entidade em funcionamento em um futuro previsível. As informações contábeis devem

apresentar características qualitativas, que são atributos que fazem com que a conta-

bilidade seja útil para o usuário (NIYAMA; SILVA, 2013).

Essas características são divididas em:

A. características qualitativas fundamentais: Relevância e Representação Fide-

digna; e

B. características qualitativas de melhoria.

Se a informação contábil-financeira é para ser útil, ela precisa ser relevante e represen-
tar com fidedignidade o que se propõe a representar. A utilidade da informação contábil-
financeira é melhorada se ela for comparável, verificável, tempestiva e compreensível
(CPC 00, 2013, p.85 ).

96 Teoria da contabilidade
Características Qualitativas Fundamentais
Relevância
Informação contábil-financeira relevante é aquela capaz de fazer diferença nas

decisões que possam ser tomadas pelos usuários. A informação pode ser capaz

de fazer diferença em uma decisão mesmo no caso de alguns usuários decidirem

não a levar em consideração, ou já tiver tomado ciência de sua existência por

outras fontes.

A informação contábil-financeira é capaz de fazer diferença nas decisões se tiver valor

preditivo, valor confirmatório ou ambos (CPC 00).

Materialidade
De acordo com a Estrutura Conceitual (CPO 00), a informação é material se a sua

omissão ou sua divulgação distorcida puder influenciar decisões que os usuários to-

mam com base na informação contábil-financeira acerca de entidade específica que

reporta a informação.

Em outras palavras, a materialidade é um aspecto de relevância específico da enti-

dade baseado na natureza ou na magnitude, ou em ambos, dos itens para os quais

a informação está relacionada no contexto do relatório contábil-financeiro de uma

entidade em particular.

Consequentemente, não se pode especificar um limite quantitativo uniforme para ma-

terialidade ou predeterminar o que seria julgado material para uma situação particular.

Representação fidedigna
Conforme CPC 00, os relatórios contábil-financeiros representam um fenômeno eco-

nômico em palavras e números. Para ser útil, a informação contábil-financeira não

Teoria da contabilidade 97
tem só que representar um fenômeno relevante, mas tem também que representar

com fidedignidade o fenômeno que se propõe a representar.

Para ser representação perfeitamente fidedigna, a realidade retratada precisa ter três

atributos. Ela tem que ser completa, neutra e livre de erro. É claro, a perfeição é

rara, se de fato alcançável. O objetivo é maximizar referidos atributos na extensão que

seja possível (CPC 00).

A Estrutura Conceitual ainda destaca que a representação fidedigna, por si só, não

resulta necessariamente em informação útil. A título de exemplo, a estimativa do mon-

tante por meio do qual o valor contábil do ativo seria ajustado para refletir a perda por

desvalorização no seu valor.

Essa estimativa pode ser uma representação fidedigna se a entidade que reporta a

informação tiver aplicado com propriedade o processo apropriado, tiver descrito com

propriedade a estimativa e tiver revelado quaisquer incertezas que afetam significati-

vamente a estimativa.

Entretanto, se o nível de incerteza de referida estimativa for suficientemente alto, a

estimativa não será particularmente útil. Em outras palavras, a relevância do ativo que

está sendo representado com fidedignidade será questionável. Se não existir outra

alternativa para retratar a realidade econômica que seja mais fidedigna, a estimativa

nesse caso deve ser considerada a melhor informação disponível.

Aplicação das características qualitativas fundamentais


Conforme destacado na Estrutura Conceitual, a informação precisa concomitantemen-

te ser relevante e representar com fidedignidade a realidade reportada para ser útil.

Nem a representação fidedigna de fenômeno irrelevante, tampouco a representação

não fidedigna de fenômeno relevante auxilia os usuários a tomarem boas decisões.

98 Teoria da contabilidade
Nesse contexto, de acordo com a Estrutura Conceitual, o processo mais eficiente e

mais efetivo para aplicação das características qualitativas fundamentais usualmente

seria o que segue:

Primeiro, identificar o fenômeno econômico que tenha o potencial de ser útil para os

usuários da informação contábil-financeira reportada pela entidade.

Segundo, identificar o tipo de informação sobre o fenômeno que seria mais relevante

se estivesse disponível e que poderia ser representado com fidedignidade.

Terceiro, determinar se a informação está disponível e pode ser representada com

fidedignidade. Dessa forma, o processo de satisfazer as características qualitativas

fundamentais chega ao seu fim. Caso contrário, o processo deve ser repetido a partir

do próximo tipo de informação mais relevante.

Características Qualitativas de Melhoria


Comparabilidade, verificabilidade, tempestividade e compreensibilidade são caracte-

rísticas qualitativas que melhoram a utilidade da informação que é relevante e que é

representada com fidedignidade (CPC 00).

Comparabilidade
Comparabilidade é a característica qualitativa que permite que os usuários identifiquem

e compreendam similaridades dos itens e diferenças entre eles, isto é, permite que

os usuários comparem as demonstrações financeiras e os diversos elementos nelas

evidenciados, ao longo do tempo e entre entidades diferentes.

As decisões de usuários implicam escolhas entre alternativas, por exemplo, vender ou

manter um investimento, ou investir em uma entidade ou noutra.

Teoria da contabilidade 99
Consequentemente, a informação acerca da entidade que reporta informação será mais

útil caso possa ser comparada com informação similar sobre outras entidades e com infor-

mação similar sobre a mesma entidade para outro período ou para outra data (CPC 00).

Verificabilidade
A verificabilidade significa que diferentes observadores, cônscios e independentes,

podem chegar a um consenso, embora não chegue necessariamente a um completo

acordo, quanto ao retrato de uma realidade econômica em particular ser uma repre-

sentação fidedigna (CPC 00).

Tempestividade
Conforme CPC 00, Tempestividade significa ter informação disponível para tomadores

de decisão a tempo de poder influenciá-los em suas decisões. Em geral, a informação

mais antiga é a que tem menos utilidade.

Contudo, certa informação pode ter o seu atributo tempestividade prolongado após o

encerramento do período contábil, em decorrência de alguns usuários, por exemplo,

necessitarem identificar e avaliar tendências (CPC 00).

Compreensibilidade
Classificar, caracterizar e apresentar a informação com clareza e concisão torna-a

compreensível. Relatórios contábil-financeiros são elaborados para usuários que têm

conhecimento razoável de negócios e de atividades econômicas e que revisem e ana-

lisem a informação diligentemente.

As informações evidenciadas nas demonstrações financeiras devem ser claras e con-

cisas para os usuários que possuem conhecimento razoável (CPC 00).

100 Teoria da contabilidade


A aplicação das características qualitativas de melhoria é um processo iterativo que

não segue uma ordem preestabelecida. Algumas vezes, uma característica qualitati-

va de melhoria pode ter que ser diminuída para maximização de outra característica

qualitativa (CPC 00).

O processo de elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro impõe custos,

sendo importante que ditos custos sejam justificados pelos benefícios gerados pela

divulgação da informação (CPC 00).

Aplicação das características qualitativas de melhoria


Características qualitativas de melhoria devem ser potencializadas na amplitude factí-

vel. Elas, todavia, restrita ou em conjunto, não podem tornar a informação útil, caso a

informação seja irrelevante ou não for representação fidedigna.

A Estrutura Conceitual destaca que a aplicação das características qualitativas de

melhoria “é um processo iterativo que não segue uma ordem preestabelecida”.

Algumas vezes, uma característica qualitativa de melhoria pode ter que ser diminuída
para maximização de outra característica qualitativa. Por exemplo, a redução temporá-
ria na comparabilidade como resultado da aplicação prospectiva de uma nova norma
contábil-financeira pode ser vantajosa para o aprimoramento da relevância ou da re-
presentação fidedigna no longo prazo. Divulgações apropriadas podem parcialmente
compensar a não comparabilidade.

Niyama e Silva (2013) acrescentam que as características qualitativas devem levar

em consideração o custo na elaboração e divulgação. Em síntese, os benefícios da

informação devem ser superiores aos custos de sua obtenção, e, portanto, isto é um

exercício de julgamento. A Figura 1 destaca essa visão.

Teoria da contabilidade 101


Figura 1 – Estrutura Conceitual para elaboração e apresentação das demonstrações financeiras

Fonte: Adaptado de Niyama e Silva (2013)

Premissa subjacente: Continuidade


A Estrutura Conceitual evidencia que as demonstrações contábeis usualmente são

produzidas tendo como premissa que a entidade está em atividade e irá manter-se em

operação por um futuro previsível.

Desse modo, parte-se do pressuposto de que a entidade não tem a intenção, nem

tampouco a necessidade, de entrar em processo de liquidação ou de reduzir material-

mente a escala de suas operações.

Niyama e Silva (2013) afirmam que caso a entidade esteja em liquidação, com previ-

são de redução substancial da escala de operação, a base das demonstrações contá-

beis muda, devendo ser divulgada.

102 Teoria da contabilidade


Elementos das Demonstrações Financeiras
Conforme abordado na Estrutura Conceitual da Contabilidade, as demonstrações fi-

nanceiras, por exemplo, Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado do Exer-

cício, retratam os efeitos patrimoniais e financeiros das transações e outros eventos,

por meio do grupamento dos mesmos em classes amplas de acordo com as suas

características econômicas. Essas classes amplas são denominadas de elementos

das demonstrações contábeis (CPC 00).

Os elementos diretamente relacionados à mensuração da posição patrimonial e

financeira no balanço patrimonial são os ativos, os passivos e o patrimônio líquido.

Os elementos diretamente relacionados com a mensuração do desempenho na

demonstração do resultado são as receitas e as despesas (CPC 00).

Ativo
Iudícibus, Marion e Faria (2009) destacam que o Ativo tem sido definido de várias

maneiras, sendo a mais tradicional a do tipo “[...] ativo é o conjunto de bens e direitos

à disposição da administração [...] (p.67)” ou variantes como “[...] ativos são os meios

conferidos à administração para gerir a entidade [...]” (p.87) e parecidas.

Estas definições tradicionais, conquanto possam passar uma ideia aparentemente

singela e clara do que seja o ativo, em um determinado momento, não caracterizam o

que o ativo representa, efetivamente, para a entidade.

A Estrutura Conceitual para elaboração e apresentação de relatórios contábil-finan-

ceiros (CPC 00) emitida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis, define um ativo

como um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e do

qual se espera que fluam futuros benefícios econômicos para a entidade.

Essa definição tem origem no Estudo de Pesquisa Contábil n.3 (ARS 3) proposto por

Teoria da contabilidade 103


Moonitz e Sprouse, publicado em 1962. Acrescenta Niyama e Silva (2013) que a de-

finição dos autores supracitados dizia que ativos representam benefícios econômicos

esperados, direitos que foram adquiridos pela entidade como resultado de transação

corrente ou passada.

Percebe-se que a definição de Moonitz e Sprouse foi influenciando diversos docu-

mentos que os sucederam, até mesmo a definição proposta pelo IASB na Estrutura

Conceitual. Iudícibus, Marion e Faria (2009) procuram fazer algumas analogias para

que possamos melhor compreender a definição de ativo:

Se fizer uma analogia com a pessoa física, o proprietário de um patrimônio individual (patri-
mônio em sentido amplo, contendo elementos do ativo, obrigações a pagar e, por diferença,
o estado de riqueza líquida), ninguém adquire ou fabrica um ativo para que fique à dispo-
sição, sem nada render para a pessoa. Mesmo quando se adquirem joias de uso pessoal
ou obras de arte, sempre existe a esperança de, num futuro, se a família precisar, esses
ativos poderem se transformar em dinheiro. O que se dirá́ , então, dos outros ativos? Você̂
tem um carro a fim de que possa ser transportado em segurança ao trabalho, que lhe gera
um fluxo positivo de caixa. Mesmo quando o carro é utilizado no final da semana, para o
lazer, por propiciar ao seu proprietário (o lazer) reparação das energias físicas e psíquicas,
acaba contribuindo, indiretamente, para que tenha condições de gerar, no futuro, a entrada
de fluxos positivos de caixa, como consequência de seu trabalho (p.187).

Para a Estrutura Conceitual (CPC 00), o benefício econômico futuro incorporado a um

ativo é o seu potencial em contribuir, direta ou indiretamente, para o fluxo de caixa ou

equivalentes de caixa para a entidade. Os benefícios econômicos futuros incorpora-

dos a um ativo podem fluir para a entidade de diversas maneiras.

Niyama e Silva (2013) destacam que o termo “futuro” pressupõe que seja provável,

isto é, algo ainda não certo. O benefício econômico futuro refere-se ao potencial de

contribuição para os fluxos de caixa da entidade.

Adicionalmente os benefícios econômicos futuros, acimas destacados, devem ser

controlados por uma entidade. Dessa forma, não apenas o recurso deve ser capaz de

104 Teoria da contabilidade


produzir benefícios econômicos futuros, mas também, a entidade em questão, deve

controlar o recurso para que ele seja reconhecido como um ativo.

Controlar um recurso significa obter todos os benefícios oriundos dele e ser responsá-

vel por todos os riscos que, porventura, dele surgirem. Os ativos podem ser utilizados

de diversas maneiras, por exemplo, o ativo pode ser:

A. usado isoladamente ou em conjunto com outros ativos na produção de bens

ou na prestação de serviços a serem vendidos pela entidade;

B. trocado por outros ativos;

C. usado para liquidar um passivo; ou,


D. distribuído aos proprietários da entidade.

Em linhas gerais um ativo é um recurso que pode ser de propriedade da empresa ou

não. Não é uma condição necessária para o reconhecimento de um ativo a propriedade

legal, isto é, se a empresa detém os riscos e benefícios sobre o recurso, mesmo não

tendo a propriedade legal, o item deve ser reconhecido como um ativo da empresa.

Passivo
Conforme Iudícibus, Marion e Faria (2009) uma característica essencial de um pas-

sivo, isto é, de uma exigibilidade é que a empresa tem uma obrigação no momento

da avaliação. Por obrigação, entende-se o dever ou a responsabilidade de agir ou de

cumprir de certa forma.

As obrigações podem ser legalmente executáveis como consequência de um contra-

to restritivo, obrigação construtiva ou algum requisito estatutário ou legal. A título de

exemplo, cita-se os valores a pagar correspondentes a bens e serviços recebidos.

É preciso deixar bem claro, todavia, que obrigações (passivos, exigibilidades) também
surgem como consequência de práticas comerciais usuais, hábitos comerciais e do

Teoria da contabilidade 105


desejo (e necessidade) de manter boas relações comerciais e de agir de forma justa
e equitativa. Se, por exemplo, uma empresa decide, como sendo uma política da fir-
ma, consertar defeitos de seus produtos, mesmo que esses apareçam após o período
de garantia, os montantes que se espera gastar com relação a bens já vendidos são
exigibilidades, a serem provisionadas no ato da venda, ou de acordo com experiência
estatística com tais defeitos, no final de cada mês ou período de avaliação contábil (IU-
DÍCIBUS; MARION; FARIA, 2009, p.85).

A Estrutura Conceitual (CPC 00) destaca que um passivo é uma obrigação presente

da entidade, derivada de eventos passados, cuja liquidação se espera que resulte na

saída de recursos da entidade capazes de gerar benefícios econômicos. Uma carac-

terística essencial para a existência de passivo, como mostrado na Estrutura Concei-

tual, é que a entidade tenha uma obrigação presente.

Acrescentam Niyama e Silva (2013) que um passivo é resultante de uma transação em

que a empresa obtém um recurso econômico, tais como uma dívida com fornecedor, a

qual é originária da compra de insumos para a entidade. Além disso, alguns passivos

podem surgir por imposição de entidades governamentais, como é o caso dos tributos.

Uma obrigação é um dever ou responsabilidade de agir ou de desempenhar uma

dada tarefa de certa maneira. As obrigações podem ser legalmente exigíveis em con-

sequência de contrato ou de exigências estatutárias.

Um passivo pode ser uma obrigação legal ou construtiva, isto é, apesar de que as

obrigações são legalmente exequíveis como consequência de um contrato vinculativo

ou exigência legal, eles também podem surgir de práticas comerciais normais, costu-

mes e desejo de manter boas relações comerciais.

Patrimônio Líquido
Niyama e Silva (2013) afirmam que patrimônio está associado à paternidade da entidade. A

expressão patrimônio líquido seria usada para expressar a participação dos proprietários.

106 Teoria da contabilidade


O IASB, bem como o CPC, definem da seguinte forma: Patrimônio líquido é a diferen-

ça entre ativos e passivos da entidade. Ele compreende os recursos aportados pelos

sócios, lucros não distribuídos e reservas de ajustes para manutenção do capital.

No entanto, o que se percebe na definição do IASB, bem como do CPC, não é de fato,

uma definição, mas sim uma equação em que o patrimônio líquido depende das defi-

nições de ativo e passivo. Iudícibus, Marion e Faria (2009) destacam que a definição

acima, proposta pelo IASB, é bastante simplista e pode ser melhor detalhada:

Numa grande empresa, por exemplo, os recursos conferidos pelos acionistas, os lucros
retidos, as reservas que representam apropriações de lucros retidos e as reservas que
representam ajustes de capital podem ser demonstradas separadamente; aliás, é cos-
tumeiro fazer-se isto. Tais classificações podem ser relevantes para as necessidades
decisórias dos usuários das demonstrações contábeis quando elas indicarem restrições
legais ou de outra natureza sobre a habilidade ou liberdade da empresa distribuir ou
aplicar de outra forma seu Patrimônio Líquido. Podem refletir, também, o fato de que
as partes com interesses de propriedade numa entidade ou empresa tenham direitos
diferenciados com relação ao recebimento de dividendos ou reembolso da parcela do
capital por eles investida (p.35).

Na visão de Iudícibus (2015), ativos e passivos podem ser definidos e mensurados de

forma independente, sendo o valor da diferença entre ambos o montante atribuído ao

patrimônio líquido.

Na caracterização de uma transação, existe a preocupação em verificar se altera o

ativo ou o passivo. Em caso positivo apenas um dos dois, seja ativo ou passivo, de

forma desigual, altera-se também o patrimônio líquido.

Os elementos que distinguem as exigibilidades e patrimônio líquido na visão de Iudí-

cibus (2013) são: os graus de prioridade atribuídos aos vários participantes no forne-

cimento de recursos à empresa; o grau de certeza na determinação dos montantes

a serem recebidos pelo participante; e as datas de vencimento dos pagamentos dos

direitos finais.

Teoria da contabilidade 107


CONTAS DE RESULTADOS
Conforme a Estrutura Conceitual – Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) 00, as

contas de resultados são representadas pelas receitas e despesas estruturadas na De-

monstração do Resultado do Exercício. Na sequência, destacaremos os seus conceitos.

Conceituação de Receita
Para estabelecer o conceito de receita, primeiramente é necessário estudar a nature-

za da receita, o que se pode incluir como receita, a medição da receita e a determina-

ção do momento de sua realização.

A receita constitui um sistema corrente de geração de bens e serviços por uma enti-

dade em um determinado período. É a expressão monetária associada de produtos

e serviços transferidos pela empresa para seus clientes. Em uma definição restrita

quanto ao que se deve incluir na receita, excluindo ganhos ou perdas derivantes de

vendas, da troca ou de outras conversões do ativo.

Iudícibus (2010) chama a atenção para não excluir acréscimos de patrimônios que se

refiram a outros tipos de serviços prestados pela empresa, como receita de juros e

propõe uma conceituação adequada nos seguintes termos:

Receita é a expressão monetária validada pelo mercado, do agregado de bens e

serviços da entidade, em sentido amplo, em determinado período de tempo e que

provoca um acréscimo concomitante no ativo e no patrimônio líquido, considerado

separadamente da diminuição do ativo (ou do acréscimo passivo) e do patrimônio

líquido provocado pelo esforço em produzir tal receita.

Desta definição verificamos a caracterização por natureza, bem como coloca o fato

de ser validade pelo mercado e dá margem a várias formas pelos quais podem ser

reconhecidas.

108 Teoria da contabilidade


Atribuímos o conceito para esta conta como o resultado obtido na venda do produto

ou mercadoria. As contas diferenciais ou de resultados são as receitas oriundas das

operações da entidade dentro do exercício social e que são usadas para a apuração

do resultado, como exemplo: Vendas à Vista e a prazo, Receitas Financeiras (FAVE-

RO et al., 2011).

Exemplos práticos:

A Empresa “X” vendeu 40 unidades do seu produto Beta que estava registrado no es-

toque. A data da venda foi em 26/01/2016 e o preço de venda foi de R$2.000,00 cada

unidade (venda à vista).

Lançamento Contábil:

D: Caixa

C: Receitas com Vendas à Vista 80.000,00

(Memória de cálculo (40 unidades x 2.000,00 = 80.000,00).

Contas de Resultado Conta Patrimonial


Receitas com Vendas Caixa
Débito Crédito Débito Crédito
80.000,00 80.000,00
80.000,00 saldo da
80.000,00 saldo da
conta Receitas com
conta Caixa.
Vendas.

Fonte: os autores

Teoria da contabilidade 109


Análise: CONTAS DE RESULTADOS (Receitas com Vendas): nota-se que na conta

Receitas com Vendas, o valor a crédito é de R$80.000,00. Entende-se desta forma

que as contas de resultados (RECEITAS) são contas de natureza CREDORA, por

isso, o valor está a CRÉDITO.

Conceituação de Despesas
A palavra despesa encerra a ideia de algo desfavorável, e é muito comum se ouvir

afirmativas em que a despesa é posta como uma diminuição negativa do patrimônio.

São gastos, consumo de bens e serviços no intuito de obter receitas. Embora, a des-

pesa seja à primeira vista como um fator desfavorável, tendente a reduzir o resultado

líquido final, é significativo destacar os aspectos favoráveis da despesa, que é receita.

Porém, não é significativo destacar os aspectos desfavoráveis sem aluir também os

favoráveis (as receitas), ambas determinam o resultado líquido nas operações, que

resulta no ganho líquido dos acionistas, pelas suas participações. Para que se escla-

reçam as dúvidas a respeito da definição de despesa, é necessário que saiba: “o que

se deve incluir no termo despesa”, como deve medir a despesa; quando se incorre em

despesa e quando se deve prestar aos fins da contabilidade.

Existe uma grande controvérsia nos enfoques dos teóricos da contabilidade, quanto

o que deve ser incluído ou não como “despesa”. Uns defendem uma classificação

hierárquica onde sejam consideradas como despesas apenas aquelas decorrentes do

processo operacional da empresa no exercício.

Outros adotam uma definição mais globalizante, incluindo tanto despesas como per-

das, na apuração do resultado do exercício. Como exemplo: os descontos, as devolu-

ções, os abatimentos e a provisão para devedores duvidosos, que se constituem em

reduções da receita e não despesas.

110 Teoria da contabilidade


Enquanto que despesa representa o uso de bens e serviços, dedução da receita não

assume esta característica. Atribuímos o conceito para esta conta como o sacrifício

para a obtenção de Receitas.

Conforme a Equipe de Professores da FEA/USP (2010, p.66), “entende-se por despe-

sa o consumo de bens ou serviços, que, direta ou indiretamente, ajuda a produzir uma

receita. Diminuindo o Ativo ou o aumento do Passivo, uma despesa é realizada com a

finalidade de se obter uma receita”.

As contas diferenciais ou de resultados são as despesas oriundas das operações da

entidade dentro do exercício social e que são usadas para a apuração do resultado,

como exemplo: despesas com vendas, administrativas e financeiras (FAVERO et al.,

2011).

Alguns exemplos de contas de despesas: Salários e Ordenados do Pessoal Adminis-

trativo, Despesas Financeiras, Despesas com Vendas, Água e Energia, dentro outras.

Exemplos práticos:

A Empresa “X”, em 26/01/2016, possui um saldo na conta caixa no valor de R$80.000,00.

Neste mesmo dia houve pagamento de despesas com aluguéis administrativos no va-

lor de R$2.000,00. O lançamento contábil deste fato será efetuado da seguinte forma:

Lançamento Contábil:

D: Despesas com Aluguéis (Administrativos)

C: Caixa 80.000,00

Teoria da contabilidade 111


Contas de Resultado Conta Patrimonial
Despesas com aluguéis Caixa
Débito Crédito Débito Crédito
80.000,00 (saldo ante-
2.000,00 2.000,00
rior)
2.000,00 (saldo deverá 78.000,00 (saldo da con-
ser apurado na DRE). ta Caixa em 26/01/2016).

Fonte: os autores

Análise: CONTAS DE RESULTADOS (despesas com aluguéis): nota-se que na con-

ta despesas com aluguéis, o valor a débito é de R$2.000,00. Entende-se desta forma

que as contas de resultados (DESPESAS) são contas de natureza DEVEDORA, por

isso, o valor está a DÉBITO.

Conceituação de Ganhos e Perdas


Ganhos e perdas são eventos favoráveis (ganhos) e desfavoráveis (perdas) que não

estão relacionados às atividades normais da empresa. Destacam-se como exemplos

de ganhos e perdas: a venda de sucatas e subprodutos, desde que sejam excluí-

das dos custos dos produtos e doações desde que feitas com o fim de reconhecer os

serviços recebidos das instituições.

Os ganhos e perdas são considerados como fatos não operacionais que são partes

integrantes da apuração do resultado de um período é a soma algébrica de Receitas,

Despesas, Perdas e Ganhos, mensurados em uma determinada data base, juntamen-

te com o levantamento do Balanço Patrimonial.

Princípios de Contabilidade
Além do arcabouço teórico citado no tópico anterior – Estrutura Conceitual Básica – o

Conselho Federal de Contabilidade produziu seu próprio quadro conceitual, titulado

inicialmente como Princípios Fundamentais de Contabilidade.

112 Teoria da contabilidade


A estrutura Conceitual do sistema CFC/CRCs teve sua origem em 1981, por meio da

promulgação da Resolução número 530, o primeiro documento do órgão de classe

profissional a redefinir e enumerar o que e quais eram os princípios contábeis.

No início da década de 90, por intermédio das Resoluções nºs 750 e 774, o Conselho

Federal de Contabilidade definiu os Princípios Fundamentais de Contabilidade e as

Normas Brasileiras de Contabilidade (NIYAMA, 2013).

Em 2010, devido a adoção da norma internacionais de contabilidade, o Conselho Fe-

deral de Contabilidade emitiu a resolução CFC nº 1.282/10 que atualizou e consolidou

dispositivos da Resolução CFC nº 750/93, que dispõe sobre os Princípios Fundamen-

tais de Contabilidade.

Entre outros aspectos, os “Princípios Fundamentais de Contabilidade (PFC)”, citados na

Resolução CFC nº 750/93, passam a denominar-se “Princípios de Contabilidade (PC)”.

Na seção seguinte, apresentaremos um resumo das resoluções CFC nº 750/93 e nº

1.282/10.

Resolução CFC Nº 750/93 e Nº 1.282/10


De acordo com o Art. 3º da resolução 750/93, são Princípios Fundamentais de Con-

tabilidade:

I. o da ENTIDADE;

II. o da CONTINUIDADE;

III. o da OPORTUNIDADE;

IV. o do REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL;

V. o da ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA;

VI. o da COMPETÊNCIA; e

VII. o da PRUDÊNCIA.

Teoria da contabilidade 113


Com a emissão da resolução 1.282/10, algumas modificações foram realizadas no

que diz respeito às definições e significados dos princípios e entre tais mudanças, a

exclusão do princípio da atualização monetária.

Princípio da Entidade
De acordo com o Art. 4º da resolução 750/93, o Princípio da ENTIDADE reconhece o

Patrimônio como objeto da Contabilidade e afirma a autonomia patrimonial, a necessi-

dade da diferenciação de um Patrimônio particular no universo dos patrimônios exis-

tentes, independentemente de pertencer a uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma

sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou sem fins lucrativos.

Por consequência, nesta acepção, o Patrimônio não se confunde com aqueles dos

seus sócios ou proprietários, no caso de sociedade ou instituição. Dessa forma, o PA-

TRIMÔNIO pertence à ENTIDADE, mas a recíproca não é verdadeira.

A soma ou agregação contábil de patrimônios autônomos não resulta em nova ENTI-

DADE, mas em uma unidade de natureza econômico-contábil.

Princípio da Continuidade
Conforme o Art. 5º da Resolução 750/93, a CONTINUIDADE ou não da ENTIDADE,

bem como sua vida definida ou provável, devem ser consideradas quando da classifi-

cação e avaliação das mutações patrimoniais, quantitativas e qualitativas.

A CONTINUIDADE influencia o valor econômico dos ativos e, em muitos casos, o

valor ou o vencimento dos passivos, especialmente quando a extinção da ENTIDADE

tem prazo determinado, previsto ou previsível.

A observância do Princípio da CONTINUIDADE é indispensável à correta aplicação do

Princípio da COMPETÊNCIA, por efeito de se relacionar diretamente à quantificação

114 Teoria da contabilidade


dos componentes patrimoniais e à formação do resultado, e de constituir dado impor-

tante para aferir a capacidade futura de geração de resultado.

A resolução 1.282/10 modificou o artigo 5º, dessa forma, o Princípio da Continuidade

pressupõe que a Entidade continuará em operação no futuro e, portanto, a mensuração

e a apresentação dos componentes do patrimônio levam em conta esta circunstância.

Princípio da Oportunidade
A resolução 750, em seu art. 6º, destaca que o Princípio da Oportunidade se refere,

simultaneamente, à tempestividade e à integridade do registro do patrimônio e das

suas mutações, determinando que este seja feito de imediato e com a extensão cor-

reta, independentemente das causas que as originaram.

Como resultado da observância do Princípio da Oportunidade (artigo 6º, resolução

750/93):

I – Desde que tecnicamente estimável, o registro das variações patrimoniais deve ser
feito mesmo na hipótese de somente existir razoável certeza de sua ocorrência;

II – O registro compreende os elementos quantitativos e qualitativos, contemplando os


aspectos físicos e monetários;

III – O registro deve ensejar o reconhecimento universal das variações ocorridas no


patrimônio da ENTIDADE, em um período de tempo determinado, base necessária para
gerar informações úteis ao processo decisório da gestão.

A nova redação dada pela resolução 1.282/10, afirma que o Princípio da Oportunidade

se refere ao processo de mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais

para produzir informações íntegras e tempestivas.

Teoria da contabilidade 115


A falta de integridade e tempestividade na produção e na divulgação da informação

contábil pode ocasionar a perda de sua relevância, por isso é necessário ponderar a

relação entre a oportunidade e a confiabilidade da informação.

Princípio do Registro Pelo Valor Original


A resolução 750/93 por meio do artigo 7º destaca que os componentes do patrimônio de-

vem ser reconhecidos pelos valores originais das transações, expressos a valor presente

na moeda do país, que serão mantidos na avaliação das variações patrimoniais posteriores,

inclusive quando configurarem agregações ou decomposições no interior da ENTIDADE.

Em síntese, a base de mensuração permitida era o custo histórico, visto que, com

poucas exceções os diversos elementos do ativo, passivo e patrimônio líquido deve-

riam ser registrados pelo valor original e não poderiam ser modificados.

A partir das modificações trazidas pela resolução 1.282/10, o Princípio do Registro pelo

Valor Original determina que os componentes do patrimônio devem ser inicialmente re-

gistrados pelos valores originais das transações, expressos em moeda nacional.

Princípio da Atualização Monetária


O artigo 8º da resolução 750/93, destaca que os efeitos da alteração do poder aquisi-

tivo da moeda nacional devem ser reconhecidos nos registros contábeis por meio do

ajustamento da expressão formal dos valores dos componentes patrimoniais.

Esse princípio foi revogado com a resolução 1.282/10. “A atualização monetária dei-

xou de ser um princípio específico e passou a integrar o de registro pelo valor original”

(NIYAMA; SILVA, 2013).

De fato, o princípio do registro pelo valor original, que tinha por ênfase a base de men-

suração o custo histórico, sofreu mudanças substanciais, incorporando outras bases

de mensuração, por exemplo, o valor justo.

116 Teoria da contabilidade


Apesar desse princípio permanecer em vigor até a emissão e publicação da resolução

1.282/10, já não era permitida sua aplicação, isto é, não era permitida a atualização dos

diversos elementos das demonstrações financeiras com base na atualização monetária.

Princípio da Competência
Conforme a resolução 750/93, as receitas e as despesas devem ser incluídas na apu-

ração do resultado do período em que ocorrerem, sempre simultaneamente quando

se correlacionarem, independentemente de recebimento ou pagamento:

O Princípio da COMPETÊNCIA determina quando as alterações no ativo ou no passivo


resultam em aumento ou diminuição no patrimônio líquido, estabelecendo diretrizes
para classificação das mutações patrimoniais, resultantes da observância do Princípio
da Oportunidade (RESOLUÇÃO 750/93).

A resolução 1.282/10 destaca que o Princípio da Competência determina que os efei-

tos das transações e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se refe-

rem, independentemente do recebimento ou pagamento.

O Princípio da Competência pressupõe a simultaneidade da confrontação de receitas

e de despesas correlatas.

Princípio da Prudência
A resolução 1.282/10 destaca que o Princípio da PRUDÊNCIA determina a adoção do

menor valor para os componentes do ATIVO e do maior para os do PASSIVO, sempre

que se apresentem alternativas igualmente válidas para a quantificação das mutações

patrimoniais que alterem o patrimônio líquido:

O Princípio da Prudência pressupõe o emprego de certo grau de precaução no exercí-


cio dos julgamentos necessários às estimativas em certas condições de incerteza, no

Teoria da contabilidade 117


sentido de que ativos e receitas não sejam superestimados e que passivos e despesas
não sejam subestimados, atribuindo maior confiabilidade ao processo de mensuração e
apresentação dos componentes patrimoniais (RESOLUÇÃO 1282/2010).

Contabilidade Internacional e normas do IASB – Evolução histórica


Após a Segunda Guerra Mundial, diversos países possuíam Estruturas Conceituais

e princípios contábeis diferentes. Mesmo entre os GAAP em países com ativos mer-

cados de capital próprio em que as empresas cotadas dependiam fortemente de fi-

nanciamento - os Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia

- havia diferenças importantes.

Havia um abismo ainda maior entre os GAAP dos países anglo-americanos e dos

países do continente europeu e no Japão, onde a tributação de renda levou a prática

contábil, em que se registravam lucros determinados pela lei do dividendo a ser de-

clarada, e os resultados financeiros poderiam ser manipulados por reservas secretas.

Os anos 1960 foram marcados por fusões e aquisições internacionais frequentes,

especialmente corporações americanas assumindo as empresas europeias, e as em-

presas, uma vez domésticas começaram a reimplantar suas operações de produção,

bem como a sua equipe de gestão internacional.

Em abril de 1963, a Business Week publicou uma reportagem especial sobre a nova

forma de organização empresarial chamado de Empresas Multinacionais.

Silva (2014), em sua dissertação de mestrado, destaca que Henry A. Benson, sócio

sênior da empresa britânica de Cooper Brothers & Co. (mais tarde Coopers & Lybrand

e agora faz parte da PricewaterhouseCoopers) e o presidente do Institute of Chartered

Accountants na Inglaterra e País de Gales 1966-1967 (ICAEW), lidera um movimento

para atacar o problema de diversas práticas contábeis.

118 Teoria da contabilidade


Benson, que nasceu e foi criado na África do Sul e, em seguida, imigrou para o Reino

Unido, era um homem determinado e engenhoso. Em 1966, ele convenceu o AICPA,

o Canadian Institute of Chartered Accountants (CICA), o Institute of Chartered Accou-

ntants da Escócia, e o Institute of Chartered Accountants na Irlanda a se juntar ao

ICAEW e formar um Grupo de Estudo Internacional de Contadores (AISG).

O AISG emitiu uma série de folhetos que – entre outras coisas – comparavam as abor-

dagens de contabilidade e auditoria nos EUA, Canadá e Reino Unido.

A iniciativa de Benson, em 1973 foi ainda mais solene. Após correspondências e reu-

niões com os líderes dos órgãos de contabilidade de todo o mundo, os esforços de

Benson contribuíram para a fundação do International Accounting Standards Commit-

tee (IASC).

Sua motivação era promover a harmonização internacional das normas contábeis,

para diminuir as diferenças de práticas contábeis entre os países. Em 1973, o Reino

Unido, juntamente com a Irlanda e a Dinamarca, entraram na Comunidade Econômica

Europeia (EEC) - hoje conhecida como a União Europeia.

Até então, a abordagem da Contabilidade orientada por regras fiscais, utilizada e por

influência pela Alemanha, estava dirigindo o desenvolvimento da Quarta Diretiva do

Conselho sobre a contabilidade, o que era para ser incorporado na legislação de to-

dos os Estados-membros, após ter sido aprovado pelo Conselho de Ministros.

Benson e outros no Reino Unido podem ter acreditado que o IASC poderia promover

padrões mais alinhados com a abordagem anglo-americana de contabilidade, e assim

servir como contrapeso à tendência do desenvolvimento de contabilidade na EEC.

O IASC foi a primeira tentativa de definir normas de contabilidade internacional. Em

1973, alguns países havia comitês ou conselhos cujas recomendações influenciaram

o curso da prática contábil.

Teoria da contabilidade 119


Em ordem de cronologia, esses países foram: os EUA, o Reino Unido, Canadá, Fran-

ça, Japão, Austrália e Nova Zelândia. Holanda e África do Sul lançaram recentemen-

te esses órgãos. Os nove países cujos conselhos nacionais de contabilidade foram

convidados por Benson a participar do IASC foram, por ordem alfabética: Austrália,

Canadá, França, Alemanha, Japão, México, Países Baixos, o Reino Unido e a Irlanda

(combinados), e os EUA.

A criação do IASC ocorreu por ocasião do 10º Congresso Mundial de Contadores em

Sydney, quando os órgãos de classe de contabilidade em nove países concordaram,

na sua criação.

Todos eles se comprometeram com uma meta muito alta, envidando seus melhores

esforços para a adoção das Normas Internacionais de Contabilidade (IAS) em substi-

tuição dos seus princípios contábeis geralmente aceitos nacionais.

O objetivo principal do IASC foi a emissão de normas básicas, chamadas de Interna-

tional Accounting Standard (IAS), que, esperava-se, levaria a uma harmonização das

normas de contabilidade em todo o mundo.

Em 2001 o IASC foi reestruturado, sendo que até o momento, haviam sido emitidas 41

IAS e uma Estrutura Conceitual para Elaboração e Apresentação das Demonstrações

Financeiras.

A partir da reestruturação, o novo órgão foi denominado International Accounting Stan-

dard Board (IASB) onde as novas normas emitidas seriam chamadas International Fi-

nancial Reporting Standards (IFRS) e as antigas (IAS), recepcionadas pelo novo órgão.

A partir daí, o IASB visava à convergência das normas contábeis e teve como objeti-

vos (NIYAMA, 2010):

120 Teoria da contabilidade


a) desenvolver, no interesse público, um único conjunto de normas contábeis globais
de alta qualidade, inteligíveis, exequíveis, que exijam informações de alta qualidade,
transparentes e comparáveis nas demonstrações contábeis e em outros relatórios fi-
nanceiros, para ajudar os participantes do mercado de capital e outros usuários, em
todo o mundo, a tomar decisões econômicas;

b) promover o uso e a aplicação rigorosa dessas normas; e,

c) promover a convergência entre as normas contábeis locais e as Normas Internacio-


nais de Contabilidade de alta qualidade (p.125).

Em fevereiro de 2001, a UE propôs, que seria exigido de todas as empresas domici-

liadas na EU e cotadas em bolsas de valores no seu seio, que elas preparassem suas

demonstrações financeiras de acordo com o IAS até 2005.

O Parlamento Europeu e o Conselho adotaram o regulamento elaborado pela Comis-

são Europeia em maio de 2002. Neste ano, eles aprovaram e adotaram o regulamen-

to, exigindo que todas as empresas da EU, cotadas no mercado regulamentado deve-

riam seguir IFRS em suas demonstrações financeiras consolidadas, a partir de 2005.

Os Estados-Membros eram livres para alargar este requisito para todas as empre-

sas, e não apenas as listadas, incluindo as demonstrações financeiras de empresas

individuais.

A partir daí, diversos países aderiram às normas internacionais de contabilidade, in-

clusive no Brasil, os passos iniciais se deram em virtude da criação do Comitê de

Pronunciamento Contábeis e da emissão das Leis 11.638/07 e 11.941/09, as quais

alteraram a Lei das Sociedades por Ações (Lei 6.404/76).

Foram emitidos 47 pronunciamentos técnicos (sendo um deles o resumo dos demais,

adaptado às pequenas e médias empresas), a Estrutura Conceitual e orientações e

interpretações aos pronunciamentos.

Teoria da contabilidade 121


saiba mais
A adoção das normais internacionais de Contabilidade visam, entre outras coisas,

produzir demonstrações contábeis comparáveis em nível internacional, melhorar a

qualidade das demonstrações contábeis e dar maior suporte, por meio das normas,

aos preparadores de demonstrações financeiras no sentido de produzir nas demons-

trações contábeis, a realidade econômica das organizações.

PrÉ-reQuisitOs Para a cOmPreensÃO da unidade


Para compreensão desta unidade é muito importante que você:

• Compreenda a estrutura conceitual.

• Compreenda quais são os princípios contábeis vigentes hoje no Brasil.

• Reflita sobre os principais elementos das demonstrações financeiras.

atividades Para cOmPreensÃO dO cOnteÚdO


1) No que se refere à Estrutura Conceitual, assinale a alternativa correta:

a) A primeira estrutura conceitual emitida em nível internacional, ocorreu em 1989,

ainda pelo antecessor do IASC.

b) A Estrutura Conceitual da contabilidade é o documento que estabelece concei-

tos que suportam a preparação e apresentação das demonstrações financei-

ras.
c) Objetivo da elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro de propó-

sito geral não fazem parte da estrutura conceitual vigente.

d) As características qualitativas da informação contábil-financeira útil não fazem

parte da estrutura conceitual vigente.

122 TEORIA DA CONTABILIDADE


2) As afirmativas abaixo relacionam-se com aos elementos das demonstrações fi-

nanceiras, exceto:

a) Ativo é um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos pas-

sados e do qual se espera que fluam futuros benefícios econômicos para a

entidade.

b) Se a empresa detém os riscos e benefícios sobre o recurso, mesmo não tendo

a propriedade legal, o item deve ser reconhecido como um ativo da empresa.

c) O benefício econômico futuro incorporado a um ativo é o seu potencial em con-

tribuir, direta ou indiretamente, para o fluxo de caixa ou equivalentes de caixa

para a entidade.
d) Um passivo é um recurso de propriedade da empresa.

3) Analise as frases abaixo:

I. Patrimônio líquido é o interesse residual nos ativos da entidade depois de

deduzidos todos os seus passivos.

II. Receitas são aumentos nos benefícios econômicos durante o período con-

tábil, sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou di-

minuição de passivos, que resultam em aumentos do patrimônio líquido,

e que não estejam relacionados com a contribuição dos detentores dos

instrumentos patrimoniais.

III. Receitas são decréscimos nos benefícios econômicos durante o período

contábil, sob a forma da saída de recursos ou da redução de ativos ou

assunção de passivos, que resultam em decréscimo do patrimônio líquido,

e que não estejam relacionados com distribuições aos detentores dos ins-

trumentos patrimoniais.
IV. Um passivo deve ser sempre uma obrigação legal.

Julgue as alternativas acima:

Teoria da contabilidade 123


a) Apenas i e ii são verdadeiras.

b) Apenas iii é falsa.

c) As alternativas i e iii são verdadeiras e ii e iv são falsas.

d) Todas as alternativas são verdadeiras.

4) De acordo com os princípios contábeis, as alternativas abaixo estão corretas, exceto:

a) Os princípios de contabilidade vigentes de acordo com a resolução 1.282/10,

são: o da entidade; o da continuidade; o da oportunidade; o do registro pelo

valor original; o da atualização monetária; o da competência; e o da prudência.

b) O Princípio da ENTIDADE reconhece o Patrimônio como objeto da Contabilida-

de e afirma a autonomia patrimonial.


c) O Princípio da competência determina que os componentes do patrimônio de-

vem ser inicialmente registrados pelos valores originais das transações, ex-

pressos em moeda nacional.

d) O Princípio da PRUDÊNCIA determina a adoção do menor valor para os com-

ponentes do ATIVO e do maior para os do PASSIVO, sempre que se apresen-

tem alternativas igualmente válidas para a quantificação das mutações patri-

moniais que alterem o patrimônio líquido.

5) Explique cada uma das características qualitativas fundamentais e de melhoria.

124 Teoria da contabilidade


artiGOs, sites e LINKS
Site e link

<http://www.cpc.org.br>.

PrOPOsta Para discussÃO ON-LINE


Caro(a) Acadêmico(a),

Após o estudo dessa unidade, você desenvolveu suas ideias a partir dos diversos

assuntos explicados. Compartilhe o que aprendeu e os elementos que mais lhe cha-

maram atenção. Acesse nossa plataforma de ensino-aprendizagem e participe dos

Fóruns de discussão. Listamos abaixo algumas questões para fomentar as suas dis-

cussões.

1) Reflita sobre a importância da criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis

para a Contabilidade Brasileira.

2) Essa questão é aberta para discussões e a sua resposta deve permear no sentido

de que o Comitê de Pronunciamento Contábeis (CPC) foi fundamental para iniciar o

processo de convergência das normas contábeis brasileiras às normas internacionais.

O CPC estuda e traduz as normas internacionais de contabilidade adaptando a reali-

dade brasileira.

Os pronunciamentos técnicos emitidos (normas) estão disponíveis no sitio eletrônico

do CPC: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos>.

TEORIA DA CONTABILIDADE 125


livrOs recOmendadOs
Livro: História da Contabilidade: Foco nos Grandes Pensadores

Autores: José Luiz dos Santos e Paulo Schimdt

Editora: Atlas

Livro-texto que permite ao leitor conhecer os mais importantes

pensadores das principais escolas do pensamento contábil,

identificar suas principais contribuições, bem como conhecer as

mais marcantes peculiaridades relacionadas à vida deles.

Fonte: <http://www.editoraatlas.com.br/atlas/webapp/detalhes_produto.aspx?prd_

des_ean13=9788522450893>. Acesso em: 18 jul. 2013.

Livro: História da Contabilidade: Foco na Evolução das Escolas

do Pensamento Contábil

Autores: José Luiz dos Santos e Paulo Schimdt

Editora: Atlas

Livro-texto que tem como objetivo apresentar uma perspectiva

histórica da contabilidade, identificando suas origens e impor-

tância no decorrer do tempo.

126 TEORIA DA CONTABILIDADE


Livro: Teoria da Contabilidade

Autores: Jorge Katsumi Niyama e César Augusto Tibúrcio Silva

Editora: Atlas

Livro-texto que tem como objetivo apresentar as principais dis-

cussões acerca da Teoria da Contabilidade, desde os principais

usuários da informação contábil até os principais elementos das

demonstrações financeiras.

Livro: Teoria da Contabilidade

Autor: Sérgio de Iudícibus

Editora: Atlas

Este livro abrange desde os objetivos e a metodologia da Con-

tabilidade, destacando suas tendências recentes e futuras pers-

pectivas.

Adicionalmente, fornece um instrumental de reflexão extremamente importante para

os profissionais das mais variadas especializações contábeis, na solução dos comple-

xos problemas que enfrentam.

Fonte: <http://www.grupogen.com.br/teoria-contabilidade-23035.html>. Acesso em:

04 fev. 2016.

Teoria da contabilidade 127


Livro: Teoria da Contabilidade

Autores: Eldon S. Hendriksen e Michael F. Van Breda

Editora: Atlas

Neste livro é empregado um referencial genérico para avaliar áreas

de teoria e da prática da contabilidade em três níveis básicos, isto

é, o nível estrutural, o de interpretação semântica e o pragmático.

Fonte: <http://www.grupogen.com.br/teoria-contabilidade-23036.html>. Acesso em:

04 fev. 2016.

128 Teoria da contabilidade


UNIDADE IV - CRITÉRIOS DE
MENSURAÇÃO E AVALIAÇÃO: ATIVO E
PASSIVO, RECEITAS E DESPESAS

Objetivos a serem alcançados nesta unidade


Prezado(a) Acadêmico(a), ao terminar os estudos dessa unidade, você deverá ser

capaz de:

• Compreender o processo mensuração e avaliação dos ativos.


• Compreender o processo mensuração e avaliação dos passivos.
• Compreender o processo mensuração e avaliação das despesas e receitas.

Teoria da contabilidade 129


MENSURAÇÃO E AVALIAÇÃO DE ATIVOS
INTRODUÇÃO
A Estrutura Conceitual para elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro,

também conhecida como CPC 00, define ativo como “um recurso controlado pela enti-

dade como resultados de eventos passados e do qual se espera que resultem futuros

benefícios econômicos para a entidade”.

Dessa forma, um ativo deve possuir 3 características principais:

A. Resultar de eventos ou transações passadas;

B. Deve ser controlado pela entidade. Para controlar um ativo a entidade não

precisa necessariamente ter a propriedade legal;


C. Deve existir a possibilidade de benefícios econômicos futuros fluírem para a

entidade.

Quanto aos resultados de eventos passados, destaca-se que o interesse em adquirir

um ativo, por exemplo, um imóvel ao qual sua aquisição já foi aprovada pela diretoria,

apesar de ser um recurso econômico, no entanto não é um ativo para a empresa.

Determinadas transações precisam ter ocorrido, por exemplo, a compra do imóvel,

para que ele seja considerado um ativo para a entidade. Dessa forma, um ativo deve

resultar de um evento passado, isto é, já ocorrido.

Em relação ao controle, ressalta-se que nem sempre uma empresa necessariamente

deve deter a propriedade legal do recurso, para que ele seja considerado um ativo.

Geralmente a propriedade legal dá o direito de controle, no entanto, não é necessário

que a empresa tenha a propriedade legal para controlar o ativo.

Uma empresa controla um ativo quando ela é responsável por todos os riscos sobre

o ativo e todos os benefícios econômicos que possam fluir desse ativo sejam da en-

tidade. Por exemplo, o Leasing Financeiro, em que não há transferência inicialmente

130 Teoria da contabilidade


da propriedade legal, porém o arrendatário é responsável pelos riscos e obtêm todos

os benefícios do ativo.

Quanto aos benefícios econômicos futuros, um ativo deve ser capaz de produzir flu-

xos de caixa para a entidade, seja isoladamente ou em conjunto com outros ativos.

Os bens e direitos que não são capazes de gerar benefício futuro não devem ser reco-

nhecidos no Balanço Patrimonial como ativos e aqueles que perdem essa capacidade

devem ser removidos de tal demonstrativo.

Os ativos, bem como os demais elementos das demonstrações financeiras, – passi-

vos, despesas e receitas – são incorporadas às demonstrações financeiras, a fim de

fornecer informações da posição patrimonial, econômica e financeira da entidade, tais

como obtenção do valor por intermédio das perspectivas de fluxos futuros de caixa

baseado nas informações sobre o conjunto de ativos e passivos da entidade.

Os ativos para se tornarem informações úteis precisam sem mensurados, reconheci-

dos e evidenciados por meio das demonstrações financeiras.

RECONHECIMENTO
Reconhecimento é o processo de incorporar os ativos, passivos, despesas e receitas

às demonstrações financeiras. Assim, o reconhecimento de um ativo é o processo de

incorporar um recurso econômico ao Balanço Patrimonial.

Para que um recurso seja incorporado no Balanço Patrimonial, ele deve se enquadrar

na definição de ativo proposta pela Estrutura Conceitual, já destacada previamente.

Conforme Niyama e Silva (2013) destacam:

A. O recurso econômico irá gerar benefício econômico?

B. O recurso econômico é controlado pela entidade?

Teoria da contabilidade 131


C. É derivado de eventos passados?

Niyama e Silva (2013) complementarmente destacam que além desses itens, deve-se

também ser considerados três aspectos adicionais, os quais sejam, a materialidade,

a probabilidade de ocorrência e a confiabilidade da avaliação, conforme ilustrado na

Figura 2.

Figura 2 – Reconhecimento do ativo

Fonte: Niyama e Silva (2013)

Na visão dos autores supracitados, quanto à materialidade, em se tratando de valor

pouco expressivo, é possível que seja considerado diretamente na demonstração do

resultado da entidade, como é o caso de determinados materiais de uso e consumo.

No que tange à probabilidade de ocorrência, está vinculada ao grau de incerteza

ligada quanto a ocorrência do futuro beneficio econômico. Se a incerteza quando a

ocorrência de benefícios futuros é muito alta, determinado recurso não deve ser reco-

nhecido como ativo.

Quanto à confiabilidade da avaliação, destaca-se que, não se deve reconhecer um

ativo quando não se pode fazer uma mensuração confiável de determinado recurso.

132 Teoria da contabilidade


Esses itens em conjuntos devem ser atendidos para que se possa reconhecer um

ativo no Balanço Patrimonial.

Assim, antes de reconhecer um recurso como ativo, este deve ser mensurado com

confiabilidade.

MENSURAÇÃO
Mensuração, conforme proposto pela Estrutura Conceitual (CPC 00) é:

O processo que consiste em determinar os montantes monetários por meio dos quais
os elementos das demonstrações contábeis devem ser reconhecidos e apresentados
no balanço patrimonial e na demonstração do resultado. Esse processo envolve a sele-
ção da base específica de mensuração (p.87).

A avaliação é definida como o processo de quantificação monetária aos recursos possuídos

por uma entidade, ou seja, são valores em moeda alocados nos ativos de uma empresa.

Segundo Hendriksen e Van Breda (1999), os objetivos da avaliação do ativo são ba-

sicamente dois:

A. Proporcionar uma avaliação relativa dos recursos à disposição da empresa e

na geração das entradas de caixas futuras.

B. Fornecer informação que permita a predição (saber o amanhã) das saídas de

caixa necessárias no futuro para adquirir recursos semelhantes para continu-

ar as operações do negócio.

O processo de avaliação consiste na aplicação de estimativas para sua obtenção, isto

é, o valor atribuível a determinado ativo, representa o valor com maior probabilidade

de ocorrência.

De acordo com as suas necessidades, os diversos usuários exigem formas de avalia-

ção específicas.

Teoria da contabilidade 133


Exemplo:

Os investidores estão mais interessados nas informações sobre a avaliação do Ativo,

e isto somente será importante na medida em que puder indicar o potencial de gera-

ção de caixa futuro.

Os credores estão mais interessados na recuperação de seus créditos, por meio de

canais normais. Aos administradores, o processo de avaliação deve prover subsídios

necessários para a tomada de decisão.

Critérios de mensuração e avaliação de Ativos


Os diversos usuários da contabilidade, a exemplos dos investidores, possuem neces-

sidades de informação que pode variar de usuário para usuário. Dessa forma, uma in-

formação a custo histórico pode ser mais útil a determinado usuário e uma informação

a valor corrente pode ser mais útil a outro usuário.

Como destacado por Hendricksen e Van Breda (1999), o custo histórico pode ser

substituto do custo corrente de um ativo. O custo corrente pode ser substituto do valor

presente dos fluxos de caixa futuros.

Um número variado de bases de mensuração é empregado em diferentes graus e em

variadas combinações nas demonstrações contábeis. Além das características para co-

nhecermos este item da Estática Patrimonial temos que levar em conta alguns critérios

de Avaliação, que são: Critérios a Valores de Entrada e Critérios a Valores de Saída.

Os recursos de uma empresa, bens e serviços, geralmente são trocados por dinheiro

e assim sendo, os preços de trocas são relevantes para divulgação externa.

Segundo Hendricksen e Van Breda (1999) os preços de trocas são extraídos dos mer-

cados e há dois mercados nos quais uma empresa opera e, portanto, dois tipos de

134 Teoria da contabilidade


preços ou valores de trocas – os valores de saída e valores de entradas. Há, portanto,

seis categorias básicas de valores de troca, Tabela 1.

Tabela 1 – Bases de Mensuração

  Valores de Entrada Valores de Saída


Passado Custos históricos Preços de venda passados
Corrente Custos de reposição Preço corrente de venda
Futuro Custos esperados Valor realizável esperado

Fonte: Adaptado de Hendricksen e Van Breda (1999)

MEDIDAS DE ENTRADA
Custo Histórico
Hendricksen e Van Breda (1999) definem Custo Histórico como o preço pago pela em-

presa para adquirir a propriedade e o uso de um ativo, incluindo todos os pagamentos

necessários para colocar o ativo no local e nas condições que permitam prestar servi-

ços na produção ou em outras atividades da empresa.

Frequentemente é mais utilizado na avaliação de terrenos, estoques e outros. Dessa

forma, quando se registra um ativo a custo histórico, tal elemento permanece com o

mesmo valor até ser consumido em sua totalidade ou até mesmo vendido.

O custo histórico pode ser atualizado por indicadores, ou seja, pode ser objeto de

correção, seja por coeficiente de variação do Índice Geral de Preços ou por outro in-

dicador específico.

O Custo de Reposição é também conhecido como custo corrente. Niyama e Silva

(2013) destacam que no custo corrente ou valor de mercado, os ativos são conta-

bilizados pelo montante pelo qual teriam que ser pagos caso fossem adquiridos no

Teoria da contabilidade 135


presente. Representa o esforço monetário que a empresa teria que fazer na data pre-

sente para adquirir o recurso econômico.

Os estoques de mercadorias fungíveis destinadas à venda poderão ser avaliados pelo

valor de mercado, quando esse for o costume mercantil aceito pela técnica contábil.

O Valor Justo também é frequentemente citado pelos autores como base de mensura-

ção. No entanto, recentes discussões, tais como a proposta de alteração da Estrutura

Conceitual, classifica o Valor Justo (Fair Value) como uma modalidade do custo cor-

rente ou valor de mercado.

Valor Justo tem sido amplamente difundido nos últimos anos, visto que para diversos

pesquisares representa uma base de mensuração que torna a informação financeira

sobre os ativos e passivos mais relevantes e, portanto, mais útil aos diversos usuários

da informação.

Em vistas disso, o órgão normatizador internacional, o IASB, emitiu uma norma pró-

pria, específica sobre Valor Justo, IFRS 14, a qual o Comitê de Pronunciamentos Con-

tábeis traduziu, aprovou e emitiu a norma brasileira em 2012, CPC 46 – Mensuração

do Valor Justo, destacando seus aspectos técnicos, entre outros.

A Estrutura Conceitual, CPC 00, caracteriza o valor justo da seguinte forma:

Este Pronunciamento define valor justo como o preço que seria recebido pela venda de
um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação não
forçada entre participantes do mercado na data de mensuração.

A mensuração do valor justo destina-se a um ativo ou passivo em particular. O ativo ou o


passivo mensurado ao valor justo pode ser qualquer um dos seguintes: (a) um ativo ou
passivo individual (por exemplo, um instrumento financeiro ou um ativo não financeiro);
ou (b) um grupo de ativos, grupo de passivos ou grupo de ativos e passivos (por exem-
plo, uma unidade geradora de caixa ou um negócio) (p.63).

136 Teoria da contabilidade


Conforme Lei 6404/76, valor justo é:

Valor justo é o valor das matérias-primas e dos bens em almoxarifado, o preço pelo qual
possam ser repostos, mediante compra no mercado; dos bens ou direitos destinados
à venda, o preço líquido de realização mediante venda no mercado, deduzidos os im-
postos e demais despesas necessárias para a venda, e a margem de lucro; dos inves-
timentos, o valor líquido pelo qual possam ser alienados a terceiros; dos instrumentos
financeiros, o valor que pode se obter em um mercado ativo, decorrente de transação
não compulsória realizada entre partes independentes.

No Brasil, em linha com as normas internacionais as aplicações em instrumentos

financeiros (classificados em disponíveis para venda e mantido para negociação –

mensurado pelo valor justo por meio do resultado), em direitos e títulos de crédi-

tos, classificados no ativo circulante ou no realizável a longo prazo, conforme a Lei

6.404/76, deverão ser mensurados pelo valor justo, “quando se tratar de aplicações

destinadas à negociação ou disponíveis para venda”.

FiQue POr dentrO


O valor justo foi incorporado à contabilidade brasileira com a adoção das normas in-

ternacionais de contabilidade. O comitê de pronunciamentos contábeis destaca essa

forma de mensuração como sendo útil, em conjunto com as demais, para que se pro-

duza informações mais relevantes do ponto de vista do usuário.

Para entender um pouco mais a temática do valor justo ou Fair Value, você pode aces-

sar os pronunciamentos do CPC: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/

Pronunciamentos>.

TEORIA DA CONTABILIDADE 137


Custos Esperados
Também conhecido como custos futuros, Hendricksen e Van Breda (2009) afirmam que,

em caso dos preços baseados em contrato, forem baseados no futuro, ou seja, se o acordo

prevê pagamento futuro, o custo do ativo representa o valor presente do futuro desembolso.

Dessa forma, o valor do ativo não depende necessariamente do valor no tempo pre-

sente, porém, o seu valor no futuro.

A base de mensuração mais comumente adotada pelas entidades na elaboração de

suas demonstrações contábeis é o custo histórico. Ele é normalmente combinado

com outras bases de mensuração.

MEDIDAS DE SAÍDA
Os preços de saída representam o valor recebido ou a receber, referente a algum

instrumento de pagamento, do recurso, isto é, o ativo, deixa a empresa por meio de

troca, por dinheiro ou por outro ativo.

Valores Realizáveis Líquidos


O valor realizável líquido, conforme Hendricksen e Van Breda (2009) é definido como

o preço corrente de saída menos o valor corrente de todos os custos e despesas in-

crementais esperados relacionados à conclusão, à venda e à entrega do ativo.

Valor realizável líquido é o preço de venda estimado no curso normal dos negócios de-

duzido dos custos estimados para sua conclusão e dos gastos estimados necessários

para se concretizar a venda (CPC 16).

Conforme destacado no CPC 16 - Estoques, correspondente à norma internacional

IAS 2, os estoques objeto deste Pronunciamento devem ser mensurados pelo valor de

custo ou pelo valor realizável líquido, dos dois o menor.

138 Teoria da contabilidade


Valores de Liquidação
Valores de liquidação, também conhecido por valor realizável é definido por Niyama

e Silva (2013) como sendo o valor correspondente ao que seria obtido pela empresa

por meio de uma venda usual do ativo.

O valor de liquidação pode ser utilizado, por exemplo, quando alguns ativos, tais como

mercadorias tenham perdido sua utilidade normal ou seu preço de mercado.

Valor Descontado de Fluxos de Caixa Futuro


Quando o ativo é vendido ou o serviço é prestado, porém para pagamento futuro, o

valor no momento presente é menor do que o montante que se receberá no futuro.

Isto é, a empresa recebe, pela venda, um adicional de juros que se refere a remune-

ração do capital emprestado para o cliente.

Em síntese, em caso de vendas a prazo é preciso separa a parcela que se refere a

juros da parcela que se refere a venda do ativo. Dessa forma se registra o quanto efe-

tivamente vale o ativo (dinheiro) hoje, que será recebido no futuro.

Teste de Recuperabilidade de Ativos (Impairment test)


O teste de recuperabilidade se tornou obrigatório no Brasil desde 31 de dezembro de

2008, porém, ele foi introduzido na contabilidade brasileira desde 2007, e regulamen-

tado no mesmo ano, pelo Comitê de Pronunciamento Técnico (CPC) 01, previsto no

artigo 183 da Lei 11.638 de 28 de dezembro de 2007.

A companhia deverá efetuar, periodicamente, análise sobre a recuperação dos valores


registrados no imobilizado, no intangível e no diferido, a fim de que sejam:

Teoria da contabilidade 139


I – registradas as perdas de valor do capital aplicado quando houver decisão de inter-
romper os empreendimentos ou atividades a que se destinavam ou quando comprova-
do que não poderão produzir resultados suficientes para recuperação desse valor;

II – revisados e ajustados os critérios utilizados para determinação da vida útil econômi-


ca estimada e para cálculo da depreciação, exaustão e amortização.

O teste de recuperabilidade de ativos não é uma base de mensuração, no entanto,

representa uma forma de avaliação de ativos. A ideia básica que suporta o Impairment

test é que os ativos não devem figurar no Balanço Patrimonial por valor superior ao

valor recuperável. Dessa forma, o valor contábil de um ativo não dever ser menos do

que o valor recuperável.

Entende-se por valor contábil, aquele sob o qual um ativo está reconhecido no Balan-

ço Patrimonial. Ex.: o valor de máquina menos a depreciação até determinada data.

Exemplo prático

A Cia SOUZA & LIMA S/A, possui o imobilizado máquinas e equipamentos no Balanço

Patrimonial com os valores a seguir:

Máquinas e Equipamentos: 600.000,00

(-) Depreciação Acumulada: (90.000,00)

Valor Contábil: 510.000,00

Para determinar o valor recuperável do bem, podemos utilizar duas hipóteses: valor

líquido da venda e valor líquido de uso:

A. Valor líquido de venda:

Preço de venda estimado do bem: 500.000,00

(-) Custos possíveis de venda: (90.000,00)

Valor líquido da venda: 410.000,00

140 Teoria da contabilidade


B. Valor líquido de uso:

Receita com produção esperada com o bem: 550.000,00

(-) Custos estimados da receita esperada: 320.000,00

Valor líquido do uso: 230.000,00

Atribuímos o valor líquido de venda como valor recuperável, dos dois, o maior. Por

outo lado, também pode aplicar o teste de recuperabilidade confrontando o valor con-

tábil líquido pelo valor recuperável.

Valor contábil líquido: 510.000,00

Valor recuperável: 410.000,00

Diferença: 100.000,00

Quanto ao valor recuperável, deve ser obtido de duas maneiras: a) valor líquido de

venda do ativo e o valor dos fluxos de caixa futuros trazidos a valor presente.

Dessa forma, o valor recuperável é o maior valor entre o valor de venda do ativo ou

valor em uso, conforme Figura 3.

Figura 3 – Impairment test

Fonte: os autores

Teoria da contabilidade 141


Caso o valor contábil seja maior que o valor recuperável, deve-se reconhecer uma perda

por redução do valor recuperável, caso contrário, o valor do ativo não sofre modificações.

A norma brasileira, CPC 01, correlata a norma internacional IAS 36, destaca o que segue:

A entidade deve avaliar ao fim de cada período de reporte, se há alguma indicação de


que um ativo possa ter sofrido desvalorização. Se houver alguma indicação, a entida-
de deve estimar o valor recuperável do ativo. Independentemente de existir, ou não,
qualquer indicação de redução ao valor recuperável, a entidade deve: (a) testar, no
mínimo anualmente, a redução ao valor recuperável de um ativo intangível com vida
útil indefinida ou de um ativo intangível ainda não disponível para uso, comparando o
seu valor contábil com seu valor recuperável. Esse teste de redução ao valor recupe-
rável pode ser executado a qualquer momento no período de um ano, desde que seja
executado, todo ano, no mesmo período. Ativos intangíveis diferentes podem ter o valor
recuperável testado em períodos diferentes. Entretanto, se tais ativos intangíveis foram
inicialmente reconhecidos durante o ano corrente, devem ter a redução ao valor recu-
perável testada antes do fim do ano corrente; e (b) testar, anualmente, o ágio pago por
expectativa de rentabilidade futura (goodwill) em combinação de negócios.

O CPC destaca que os casos em que houver indicação de que um ativo possa ter

sofrido desvalorização, isso pode indicar que a vida útil remanescente, o método de

depreciação, amortização e exaustão ou o valor residual para o ativo necessitem ser

revisados e ajustados em consonância com os Pronunciamentos Técnicos aplicáveis

ao ativo, mesmo que nenhuma perda por desvalorização seja reconhecida para o ativo.

FiQue POr dentrO


Para entender um pouco mais a temática Teste de Impairment você pode aces-

sar o artigo Impactos do Impairment Test nas Variáveis Contábeis e nos Indica-

dores de Desempenho das 50 Maiores Companhias Listadas na Bm&Fbovespa

publicado na Revista de Contabilidade e Controladoria.

<http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/rcc/article/view/37402/26685>.

142 TEORIA DA CONTABILIDADE


MENSURAÇÃO E AVALIAÇÃO DE PASSIVOS
Niyama e Silva (2013) afirmam que os passivos deveriam ser mensurados pelo valor

presente do fluxo de caixa futuros que seriam necessários para liquidar a obrigação.

Contudo, o passivo geralmente reconhecido pelo valor de face da obrigação. Isso se

deve em primeiro lugar, a data de liquidação ser muito próxima à data do encerramen-

to do exercício social e as dificuldades de mensuração.

A Estrutura Conceitual propõe quatro bases de mensuração de passivos:

Custo histórico
Os passivos são registrados pelos montantes dos recursos recebidos em troca da

obrigação ou, em algumas circunstâncias (por exemplo, imposto de renda), pelos

montantes em caixa ou equivalentes de caixa se espera que serão necessários para

liquidar o passivo no curso normal das operações.

Custo corrente
Os passivos são reconhecidos pelos montantes em caixa ou equivalentes de caixa,

não descontados, que se espera seriam necessários para liquidar a obrigação na data

do balanço.

Valor realizável (valor de realização ou de liquidação)


Os passivos são mantidos pelos seus montantes de liquidação, isto é, pelos montan-

tes em caixa ou equivalentes de caixa, não descontados, que se espera serão pagos

para liquidar as correspondentes obrigações no curso normal das operações.

Teoria da contabilidade 143


valor presente
Os passivos são mantidos pelo valor presente, descontado, dos fluxos futuros de

saídas líquidas de caixa que se espera serão necessários para liquidar o passivo no

curso normal das operações.

reFlita
Qual a melhor forma de mensuração? Seria possível produzir demonstrações

financeiras úteis com apenas uma base de mensuração?

Critérios de mensuração e avaliação das Receitas e Despesas


Receita representa uma mensuração do valor de troca dos produtos (bens ou serviços)

de uma empresa. A receita representa a entrada de recursos para a entidade (dinheiro

ou direitos a receber), decorrente de transações (vendas ou prestações de serviços),

podendo ser, também, oriunda de operações financeiras ou outros ganhos eventuais.

A despesa representa o esforço consumido para gerar receitas. Isto é, a despesa repre-

senta a utilização ou o consumo de bens e serviços no processo de produzir receitas.

A despesa é consequência de receita, como a receita pode derivar de despesa. O

ponto usual para reconhecimento da receita e das despesas, o momento em que os

produtos ou serviços são transferidos ao cliente, coincidindo, na maioria das vezes,

com o momento da venda.

As receitas, em termos gerais, devem ser medidas pelo valor de troca do produto ou

serviço. Tal valor de troca diz respeito ao equivalente de caixa, ou o valor presente de

direitos monetários a serem recebidos eventualmente, em consequência da transação

que gera receita.

144 TEORIA DA CONTABILIDADE


Nos casos em geral, o montante supramencionado é o preço estipulado com o cliente

em uma transação à vista, isto é, o preço negociado em uma transação entre empresa

e o cliente.

Uma boa mensuração da receita exige que se determine o valor de troca do produto
ou serviço prestado pela empresa. Em outros termos, este valor de troca nada mais
é do que o valor atual dos fluxos de dinheiro que serão recebidos, derivantes de uma
transação que produza receita. É claro que uma boa aproximação deste valor é o preço
acordado entre comprador e vendedor; entretanto, deveríamos deduzir uma provisão
pelo período de espera, se existir. Frequentemente, isto não é feito para períodos curtos
de espera de recebíveis (IUDÍCIBUS, 2015, p.124).

Os autores de Teoria da Contabilidade, segundo Iudícibus (2015) focalizam bem o fato

de que, em um mundo de certeza, o valor a ser recebido em dinheiro, descontado pelo

período de espera, deveria ser o registro para a receita de uma transação.

Entretanto, no mundo real de incerteza, embora respeitando o mesmo princípio geral,

os descontos que esperamos que o cliente possa aproveitar e o montante de provisão

para devedores insolventes precisariam ser estimados.

Assim, Hendriksen e Van Breda (1999) consideram que tais itens são, na verdade,

mais caracterizados como deduções da receita do que como verdadeiras despesas,

no sentido que se dará a estas últimas nesta unidade, embora um ou outro tratamento

vá resultar, na prática, no mesmo lucro líquido para o período.

Receitas versus Ganhos


As receitas são aumentos de ativos de uma entidade ou redução de seus passivos

(ou uma combinação de ambos) durante um período de produção ou entrega de bens,

prestação de serviços, ou outras atividades que constituem nas operações centrais

da entidade.

Teoria da contabilidade 145


Da mesma forma, as transações e eventos a partir do qual as receitas surgem e as

próprias receitas são em muitas formas e são chamados por vários nomes - por exem-

plo: vendas, honorários, juros, dividendos, royalties e aluguel - dependendo dos tipos

de operações envolvidas e a forma como as receitas são reconhecidas.

Os ganhos são aumentos de patrimônio líquido provenientes de operações periféricas

ou acidentais de uma entidade e de todas as outras transações e outros eventos e

circunstâncias que afetam a entidade durante um período, exceto aquelas que resul-

tam em receitas ou investimentos proprietários. Exemplo: saldo positivo decorrente da

venda de um ativo de uma máquina usada nas atividades da empresa.

Despesas, Custos e Perdas


Despesas são redução de bens ou aumento de passivos (ou uma combinação de am-

bos) durante um período de produção ou entrega de bens, prestação de serviços, ou

realização de outras atividades que constituem nas centrais da entidade.

Exemplo: despesa com energia elétrica do departamento de vendas, materiais de

limpeza do departamento de venda, propaganda.

Perdas são diminuições do patrimônio líquido provenientes de operações periféricas

ou acidentais de uma entidade e de todas as outras transações e eventos e circuns-

tâncias que afetam a entidade durante um período, exceto aquelas que resultam em

despesas ou distribuições aos proprietários. Exemplo: mercadorias com datas de va-

lidade vencidas.

Custos são os gastos aplicados na produção dos bens ou na prestação de serviços.

Assim, todos os gastos incorridos até que um produto fique pronto para ser negociado

(vendido) são chamados de custos. Exemplo: materiais aplicados na produção.

146 Teoria da contabilidade


saiba mais
Quando a conclusão de um contrato de construção puder ser estimada com confia-

bilidade, as receitas e os custos associados ao contrato de construção devem ser

reconhecidos como receitas e despesas, respectivamente, tomando como referência

o estágio de execução da atividade contratual ao término do período de reporte.

O reconhecimento da receita e das despesas tendo como referência o estágio de

execução do contrato é usualmente denominado como método da percentagem com-

pletada. Por esse método, a receita contratual é confrontada com os custos contratu-

ais incorridos à medida que cada estágio de execução do trabalho é alcançado, fato

que resulta na divulgação de receitas, despesas e lucro que podem ser atribuídos à

proporção do trabalho realizado. Esse método proporciona informação útil sobre a

extensão da atividade e do desempenho contratuais, ao longo do período (CPC 17 –

Contrato de Construção).

PrÉ-reQuisitOs Para a cOmPreensÃO da unidade


Para compreensão desta unidade, é muito importante que você:

• Compreenda os critérios de mensuração e avaliação dos ativos.

• Compreenda os critérios de mensuração e avaliação dos passivos.


• Compreenda os critérios de mensuração e avaliação das despesas e receitas.

TEORIA DA CONTABILIDADE 147


atividades Para cOmPreensÃO dO cOnteÚdO
1) No que se refere à mensuração, assinale a alternativa correta:

a) Mensuração é uma avaliação relativa dos recursos à disposição da empresa e

na geração das entradas de caixas futuras.

b) Mensuração é o processo de quantificação monetária aos recursos possuídos

por uma entidade.

c) Mensuração é o processo que consiste em determinar os montantes monetá-

rios por meio dos quais os elementos das demonstrações contábeis devem ser

reconhecidos.
d) Mensuração é o processo de incorporar um determinado elemento nas de-

monstrações financeiras.

2) As afirmativas abaixo relacionam-se com a avaliação dos elementos do ativo, exceto:

a) As aplicações em instrumentos financeiros, em direitos e títulos de créditos,

classificados no ativo circulante ou no realizável a longo prazo, pelo seu valor

justo, quando se tratar de aplicações destinadas à negociação ou disponíveis

para venda.

b) As aplicações em instrumentos financeiros, em direitos e títulos de créditos,

classificados no ativo circulante ou no realizável a longo prazo, pelo valor de

custo de aquisição ou valor de emissão, atualizado conforme disposições le-

gais ou contratuais, ajustado ao valor provável de realização, quando este for

inferior, no caso das demais aplicações e os direitos e títulos de crédito.


c) Os direitos classificados no intangível, pelo custo de aquisição, deduzido do

saldo da respectiva conta de depreciação.

d) Os direitos classificados no imobilizado, pelo custo de aquisição, deduzido do

saldo da respectiva conta de depreciação, amortização ou exaustão.

148 TEORIA DA CONTABILIDADE


3) Analise as frases abaixo:

I. Valor justo dos instrumentos financeiros, o valor que pode se obter em um

mercado ativo, decorrente de transação não compulsória realizada entre

partes independentes.

II. A diminuição do valor dos elementos dos ativos imobilizado e intangível

será registrada periodicamente nas contas de: depreciação, amortização

e exaustão.

III. Amortização ocorre quando corresponder à perda do valor, decorrente da

sua exploração, de direitos cujo objeto sejam recursos minerais ou flores-

tais, ou bens aplicados nessa exploração.


IV. Os estoques de mercadorias fungíveis destinadas à venda poderão ser

avaliados pelo valor de mercado, quando esse for o costume mercantil

aceito pela técnica contábil.

Julgue as alternativas acima:

a) Apenas i e ii são verdadeiras.

b) Apenas iv é falsa.

c) As alternativas i e iii são verdadeiras e ii e iv são falsas.

d) As alternativas i, ii e iv são verdadeiras.

4) Destaque a única alternativa verdadeira no que tange às bases de mensuração:

a) Valor Realizável - os passivos são reconhecidos pelos montantes em caixa ou

equivalentes de caixa, não descontados, que se espera seriam necessários

para liquidar a obrigação na data do balanço.

b) Custo histórico. Os passivos são registrados pelos montantes dos recursos

recebidos em troca da obrigação ou, em algumas circunstâncias (por exemplo,

imposto de renda), pelos montantes em caixa ou equivalentes de caixa se espe-

ra que serão necessários para liquidar o passivo no curso normal das operações.

Teoria da contabilidade 149


c) Valor presente é o valor de realização ou de liquidação.

d) No valor corrente os passivos são mantidos pelo valor presente, descontado,

dos fluxos futuros de saídas líquidas de caixa que se espera serão necessários

para liquidar o passivo no curso normal das operações.

5) Descreva, de forma resumida, o processo de mensuração de receitas.

artiGOs, sites e LINKS


Sites e links

Estoques:

<http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronun-

ciamento?Id=47>.

Imobilizado:

<http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamen-

to?Id=58>.

Receitas:

<http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamen-

to?Id=61>.

150 TEORIA DA CONTABILIDADE


PrOPOsta Para discussÃO ON-LINE
Caro(a) Acadêmico(a),

Após o estudo dessa unidade, você desenvolveu suas ideias a partir dos diversos

assuntos explicados. Compartilhe o que aprendeu e os elementos que mais lhe cha-

maram a atenção.

Acesse nossa plataforma de ensino-aprendizagem e participe dos Fóruns de discus-

são. Listamos abaixo algumas questões para fomentar as suas discussões.

1. Reflita sobre qual seria a melhor base de mensuração de ativos e passivos.


2. Não existe uma base de mensuração única que resulte em melhores práticas

contábeis. Dependendo do elemento das demonstrações financeiras, existe

uma base de mensuração apropriada.

Dessa forma, a base de mensuração mista deverá ser utilizada para que se produza

demonstrações financeiras de melhor qualidade.

livrOs recOmendadOs
Livro: Teoria da Contabilidade

Autores: Jorge Katsumi Niyama e César Augusto Tibúrcio Silva

Editora: Atlas

Livro-texto que tem como objetivo apresentar as principais dis-

cussões acerca da Teoria da Contabilidade, desde os principais

usuários da informação contábil até os principais elementos das

demonstrações financeiras.

TEORIA DA CONTABILIDADE 151


reFerÊncias
BRASIL. Lei n. 6404 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações.
Lex: Coletânea de Legislação e Jurisprudência, São Paulo. Legislação Federal e mar-
ginália.

______. Lei n. 11638 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei n.


6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei n. 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e
estende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulga-
ção de demonstrações financeiras. Lex: Coletânea de Legislação e Jurisprudência,
São Paulo. Legislação Federal e marginália.

______. Lei n. 11941 de maio de 2009. Altera a legislação tributária federal relativa ao
parcelamento ordinário de débitos tributários; concede remissão nos casos em que
especifica; institui regime tributário de transição, alterando o Decreto n. 70.235, de 6
de março de 1972, as Leis n. 8.212, de 24 de julho de 1991, 8.213, de 24 de julho de
1991, 8.218, de 29 de agosto de 1991, 9.249, de 26 de dezembro de 1995, 9.430, de
27 de dezembro de 1996, 9.469, de 10 de julho de 1997, 9.532, de 10 de dezembro de
1997, 10.426, de 24 de abril de 2002, 10.480, de 2 de julho de 2002, 10.522, de 19 de
julho de 2002, 10.887, de 18 de junho de 2004, e 6.404, de 15 de dezembro de 1976, o
Decreto-Lei n. 1.598, de 26 de dezembro de 1977, e as Leis n. 8.981, de 20 de janeiro
de 1995, 10.925, de 23 de julho de 2004, 10.637, de 30 de dezembro de 2002, 10.833,
de 29 de dezembro de 2003, 11.116, de 18 de maio de 2005, 11.732, de 30 de junho
de 2008, 10.260, de 12 de julho de 2001, 9.873, de 23 de novembro de 1999, 11.171,
de 2 de setembro de 2005, 11.345, de 14 de setembro de 2006; prorroga a vigência da
Lei n. 8.989, de 24 de fevereiro de 1995; revoga dispositivos das Leis n. 8.383, de 30
de dezembro de 1991, e 8.620, de 5 de janeiro de 1993, do Decreto-Lei n. 73, de 21
de novembro de 1966, das Leis n. 10.190, de 14 de fevereiro de 2001, 9.718, de 27 de
novembro de 1998, e 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.964, de 10 de abril de 2000,
e, a partir da instalação do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, os Decretos
n. 83.304, de 28 de março de 1979, e 89.892, de 2 de julho de 1984, e o art. 112 da
Lei n. 11.196, de 21 de novembro de 2005; e dá outras providências. Lex: Coletânea
de Legislação e Jurisprudência, São Paulo. Legislação Federal e marginália.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Dispõe sobre os Princípios de Contabi-


lidade (PC). Resolução CFC n. 750/93. Lex: Coletânea de Legislação e Jurisprudên-
cia, São Paulo. Legislação Federal e marginália.

152 TEORIA DA CONTABILIDADE


______. Atualiza e consolida dispositivos da Resolução CFC n. 750/93, que dispõe
sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade. Resolução n. 1.282/10. Lex: Co-
letânea de Legislação e Jurisprudência, São Paulo. Legislação Federal e marginália.

EQUIPE DE PROFESSORES DA FEA/USP. Contabilidade Introdutória. São Paulo:


Ed. Atlas, 2010.

FIPECAFI. Manual de contabilidade das Sociedades por Ações. São Paulo: Ed.
Atlas, 2010.

HENDRIKSEN, Eldon S.; BREDA, Michel F. Van. Teoria da Contabilidade. São Pau-
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IUDÍCIBUS, Sérgio de. Teoria da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2004.

______. Teoria da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2015.

IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARION, José Carlos. Curso de Contabilidade para não
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São Paulo: Atlas, 2013.

Teoria da contabilidade 153

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