Segundo Jacques Lacan, o sintoma da criança se encontra no lugar de responder àquilo
que há de sintomático na estrutura familiar. Para Lacan essa afirmativa é verdadeira, sobre ela não paira nenhuma dúvida. Na estrutura familiar, o lugar da criança é sempre um lugar sintomático, na medida em que é ela quem vai denunciar a condição dos pais, enquanto o alvo da projeção dos ideais, das frustrações e dos problemas dos pais. Ora, todo sintoma pressupõe uma doença. Havendo sintoma tem que haver uma doença (termo que se pode colocar entre aspas, sem dúvida, mas que certamente se refere àquilo que é de desconcertante). Onde, então, o lugar da doença? No âmbito do qual estamos falando, trata-se de uma doença que está nos pais ou que são os pais. O lugar (causa) da doença são os pais. O sintoma (da criança) oculta a verdade do casal – uma certeza antecipada da verdade. Isto tanto é verdadeiro que a prática psicanalítica atesta que na medida em que os pais se submetem a tratamento, quando eles estão psiquicamente disponíveis à transferência psicanalítica, emerge a possibilidade de transformação na família, quando então os sintomas da criança desaparecem. Continua Lacan falando que a criança é um lugar de gozo, gozo da realização de desejos inconscientes, e às vezes inconfessáveis, dos pais. O gozo da criança é de sentir-se encaixada nos desejos dos pais, desejos estes que a determinam e subordinam. Há como que uma complacência mútua e uma conivência tácita da criança para com os genitores, seu modus vivendi. A saída sintomática encarnada na criança responde ao recalcado e aos ideais de ego dos pais.
Fonte: ZORNIG, Silvia Abu-Jamra. Da Criança-Sintoma (dos pais) ao Sintoma da