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Letícia Bonora Teles

Tradução IV

Tradução: Automóveis, odeio vocês!

Chegou docilmente/ suavemente, mas firmemente. Flash-back: com meu primeiro quatro

rodas, há quase vinte anos, casei-me com a liberdade a motor. Sem parquímetros, sem ou

quase sem engarrafamento, sem telefone de bordo, sem radares, sem Bison futé 1 : a pura

felicidade mecânica. [...]

Nesses tempos antigos, tudo era certamente mais simples: estacionávamos ... e podíamos

deixar o veículo semanas ou meses. Quando a bateria descarregava, um giro de manivela e

ela respondia. Não era necessário limite de velocidade: esses carros de corrida mal

ultrapassavam os 80 km/h.. Mesmo o 403 comercial da Peugeot dificilmente se

aproximavam dos 100 km/h. Quando Godard em Week-end à francesa, Tati em As

Aventuras do Sr. Hulot no Tráfico Louco, Fellini em Roma de Fellini, filmavam seus

travellings sobre engarrafamentos intermináveis, isso parecia ficção científica. Uma piada

para o ano 2000. O carro era sempre a canção de Joe Dassin: “Tem sol! Bip! Bip!” 2 Onde?

Na Praça da Concórdia, quando Dassin xavecava as motoristas descapotadas. Época

acabada. Nos últimos anos, quem xavecou alguém que não estivesse atrás de vidros fumês e

lacrados? Pouco à pouco, a máquina de liberdade tornou-se maquinaria de tensões. Sem

contar a angústia do habitante do centro da cidade que calcula a hora exata que pode voltar

de seu escritório para encontrar um lugar a menos de 1 km de sua casa? Às 20 horas, é tarde

demais (...).

1
Organismo francês pertencente ao Ministério dos transportes que aplica medidas em favor da segurança no
tráfego, indicando os melhores horários e itinerários para circulação dos veículos.
2
Trecho da música “Bip, bip” do cantor americano, criado na França, Joe Bassin.

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