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Reflexões Diárias de Richard Rohr

Semana 47: Carl Jung

Domingo. 21 de novembro de 2021.

Autoridade Interior

Pe. Richard sempre menciona o psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875-1961)
como sendo um de seus principais professores, dentre os que influenciaram
fortemente sua compreensão da psique humana, da religião e da teologia.

Li pela primeira vez a obra de Jung quando estava na faculdade e, seguidamente,


ele oferecia conceitos que eu sabia serem verdadeiros. Àquela altura eu não tinha
uma educação que me permitisse justificá-los intelectualmente; eu apenas sabia
intuitivamente que ele estava certo. Jung unia teologia prática com muito boa
psicologia. Certamente ele não foi nenhum inimigo da religião, como imaginam
algumas pessoas. Quando ao final de sua vida lhe perguntaram se ele acreditava
em Deus, Jung respondeu: “Eu não poderia dizer que acredito. Eu sei! Eu tive a
experiência de ter sido agarrado por algo mais forte do que eu, algo que as pessoas
chamam Deus”. [1] Estou convencido de que ele seja um dos melhores amigos da
vida interior contemplativa. Ele sugeriu que o problema todo é o de que o
Cristianismo não mais conecta as pessoas com a alma, nem as transforma. Ele
insiste na verdadeira “experiência transcendental interior” [2] de modo a ancorar
os indivíduos em Deus, e isso é o que os místicos sempre enfatizam.
Uma das coisas que Jung ensinava era a de que a psique humana é o ponto de
mediação para Deus. Se Deus deseja nos falar, Deus costuma falar em palavras
que a princípio nos parecem ser pensamentos nossos. De que outra maneira Deus
poderia nos alcançar? Precisamos que nos ensinem a maneira de honrar e permitir
isso, a maneira de conferir autoridade a isso, e de reconhecer que algumas vezes
os nossos pensamentos são pensamentos de Deus. A contemplação nos ajuda a
treinar essa consciência. A mente dualista, ou não contemplativa, não pode
imaginar como duas coisas podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. A mente
contemplativa enxerga as coisas como um todo, e não em partes desintegradas.
Em um relato que Jung escreveu muitos anos antes de morrer ele descreveu a
percepção que desde cedo em sua vida teve no sentido de que “Ninguém podia me
roubar a convicção de que me havia sido ordenado fazer o que Deus queria, e não
o que eu queria. Aquilo me deu a força para seguir meu próprio caminho.” [3]
Todos nós precisamos encontrar uma autoridade interior em que possamos confiar
que seja maior do que a nossa. Dessa maneira sabemos não sermos apenas nós que
pensamos esses pensamentos. Quando somos capazes de confiar diretamente em
Deus isso traz equilíbrio para aquela quase exclusiva confiança na autoridade
exterior (a Escritura para os protestantes; a Tradição para os católicos). Muito do
que se apresenta como religião é exterior à pessoa, uma religião imposta de cima
para baixo, e opera de fora para dentro.
Reflexões Diárias de Richard Rohr
Semana 47: Carl Jung
Carl Jung queria ensinar as pessoas a honrar os símbolos religiosos, mas de dentro
para fora. Ele queria que as pessoas reconhecessem essas vozes numinosas já
existentes na própria e mais funda profundidade. Jung acreditava que a pessoa
não poderia conhecer Deus sem um profundo contato com o próprio eu profundo.
Não se trata apenas de psicologia junguiana. Leia o Castelo Interior de Teresa de
Ávila. A primeira mansão, aquela em que pela primeira vez encontramos Deus, é
a honestidade radical acerca de nós mesmos, que inclui todos os nossos defeitos.
Encontramos mestres semelhantes em Agostinho, Teresa de Lisieux, Juliana de
Norwich, Eckhart e Francisco de Assis.

[1] C. G. Jung, citado em “The Old Wise Man,” Time 65, no. 7 (Feb. 14, 1955), 64.

[2] C. G. Jung, The Undiscovered Self, trans. R. F. C. Hull (Little, Brown and Company: 1958),
24.

[3] C. G. Jung, Memories, Dreams, Reflections, ed. Aniela Jaffé, trans. Richard and Clara
Winston (Pantheon Books: 1963), 48.

Adaptado de Richard Rohr, unpublished “Rhine” talk (Center for Action and Contemplation:
2015).

Original em inglês:
Reflexões Diárias de Richard Rohr
Semana 47: Carl Jung

Sunday, November 21st, 2021

Inner Authority

Father Richard often credits the Swiss psychotherapist Carl Gustav Jung (1875–
1961) as one of his primary teachers, who greatly influenced his understanding of
the human psyche, religion, and theology.

I first read Jung’s work in college, and again and again he would offer concepts that
I knew were true. At the time, I didn’t have the education to intellectually justify it;
I just knew intuitively that he was largely right. Jung brought together practical
theology with very good psychology. He surely is no enemy of religion, as some
imagine. When asked at the end of his life if he “believed” in God, Jung replied, “I
could not say I believe. I know! I have had the experience of being gripped by
something that is stronger than myself, something that people call God.” [1] I’m
convinced he is one of the best friends of the contemplative inner life. He suggested
the whole problem is that Christianity does not connect with the soul or transform
people anymore. He insists on actual “inner, transcendent experience” [2] to
anchor individuals to God, and that’s what mystics always emphasize.

One of the things Jung taught was that the human psyche is the mediation point for
God. If God wants to speak to us, God usually speaks in words that first feel like our
own thoughts. How else could God come to us? We have to be taught how to honor
and allow that, how to give it authority, and to recognize that sometimes our
thoughts are God’s thoughts. Contemplation helps train such awareness in us. The
dualistic or non-contemplative mind cannot imagine how both could be true at the
same time. The contemplative mind sees things in wholes and not in divided parts.

In an account written several years before his death, Jung described his early sense
that “Nobody could rob me of the conviction that it was enjoined upon me to do
what God wanted and not what I wanted. That gave me the strength to go my own
way.” [3]
Reflexões Diárias de Richard Rohr
Semana 47: Carl Jung

We all must find an inner authority that we can trust that is bigger than our own.
This way, we know it’s not only us thinking these thoughts. When we are able to
trust God directly, it balances out the almost exclusive reliance on external
authority (Scripture for Protestants; Tradition for Catholics). Much of what passes
as religion is external to the self, top-down religion, operating from the outside in.
Carl Jung wanted to teach people to honor religious symbols, but from the inside
out. He wanted people to recognize those numinous voices already in our deepest
depths. Without deep contact with one's in-depth self, Jung believed one could not
know God. That’s not just Jungian psychology. Read Teresa of Ávila’s Interior
Castle. The first mansion, where we first meet God, is radical honesty about
ourselves, warts and all. Similar teachers include Augustine, Thérèse of Lisieux,
Lady Julian of Norwich, Meister Eckhart, and Francis of Assisi.

[1] C. G. Jung, quoted in “The Old Wise Man,” Time 65, no. 7 (Feb. 14, 1955), 64.

[2] C. G. Jung, The Undiscovered Self, trans. R. F. C. Hull (Little, Brown and Company: 1958),
24.

[3] C. G. Jung, Memories, Dreams, Reflections, ed. Aniela Jaffé, trans. Richard and Clara
Winston (Pantheon Books: 1963), 48.

Adapted from Richard Rohr, unpublished “Rhine” talk (Center for Action and Contemplation:
2015).

Monday, November 22nd, 2021

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