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Cadernos de Estudos Leirienses - 72 * Maio 207 7

Leirienses na Expansão Portuguesa

Ricardo Charters d'Azevedo*

I- Introdução

Fomos desafiados para que referíssemos as gentes de Leiria e da re-


gião que tivessem participado na expansão portuguesa. É a este desafio que
pretendemos responder com o pequeno conjunto de notas que se seguem.
O período da expansão portuguesa que estas notas cobrem inicia-se
com a tomada de Ceuta e termina em 1580 com a batalha de Alcácer-Quibir.
O que se encontrará abaixo é o resultado da pesquisa que efetuámos
sobre quem, naquele período, foi ao norte de África e participou na carreira
da índia, pois não tivemos sucesso quando procuramos a indicação de
leirienses que foram a outros pontos que a expansão portuguesa tocou, como
por exemplo o Brasil. Devemos referir que muitos dos nomes que encontra-
mos apontavam para "pessoas de condição" e neste caso fácil foi determinar
a sua naturalidade. No entanto, os documentos mal referem os "homens de
menor estado", e quando o fazem não indicam a naturalidade. Igualmente os
padres e os membros das Ordens que acompanharam a expansão raramen-
te tem a indicação da naturalidade, pelo que só com o cruzamento com infor-
mação constante das crónicas das respetivas Ordens nos permitirá saber de
onde são naturais, mas não o fizemos porque a existência de inúmeros no-
mes semelhantes levou-nos a concluir que não seria credível a informação
assim obtida. Mesmo com estas limitações, publicamos estas notas porque
poderão motivar a que se venham melhorar, pois a escrita da história deve
conservar o gosto do inacabado.
As imagens que "decoram" este trabalho foram retiradas do chamado
"Livro das Armadas", da Academia das Ciências de Lisboa, que com o "Livro

* Investigador.

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das Armadas", de Lizuarte de Abreu, tem por caraterística a figuração cuida-


dosa das naus de cada armada que foram à índia até 1566, e até 1563,
respetivamente.

11 - Quantos participaram

Qualquer tentativa de quantificação dos fluxos migratórios desta época,


está condenada ao fracasso, pois faltam registos de saída " mas também os
de entrada. C. R. Boxer' entende que o fluxo migratório conduziu à saída do
reino nos séculos XV e XVI de um milhão e cento e vinte cinco mil indivíduos.
No entanto, Magalhães Godinho" refere somente uma saída de 280.000 en-
tre 1500 e 1580 com destino ao norte de África e ao Oriente.
A espantosa escassez de testemunhos documentais conhecidos à altu-
ra sobre os descobrimentos e a expansão portuguesa foi justificada pelo car-
deal Saraiva da seguinte forma: "
"... vale a pena reproduzir por política de sigilo ou de segredo dos
Roteiros, Relações e Memórias, que necessariamente se haviam de escre-
ver logo naquele tempo de nossas primeiras navegações e descobrimen-
tos, muito pouco nos resta hoje (...) É natural que o prudente e cauteloso
segredo, em que os nossos Príncipes, ao princípio, reservavam aquelas
Memórias e Relações; a perda de muitas delas nas mãos dos cronistas, ou
nos próprios gabinetes dos Príncipes por ocasião da sua morte; o descuido
de recolher estes e outros documentos ao Arquivo geral do reino; a dificul-
dade de multiplicar as cópias, por não haver ainda a arte tipográfica, ou por
não ter chegado a Portugal, logo nos primeiros anos da sua invenção; é
natural, digo, que estas ou outras semelhantes causas produzissem a falta,
que depois se experimentou, logo que se quis escreverem corpo de histó-
ria a série de nossas empresas ultramarinas» 4

As campanhas marroquinas, que se iniciaram em 1415 com a tomada


de Ceuta, continuaram até à década de vinte do século XVI, pois em 1524
iniciou-se uma política de abandono das praças africanas. Muitos dos que
partiram eram levados pelo espírito de cruzada para combater o infiel, tendo

1 SARAIVA, Cardeal- índice Cronológico das Navegações. Viagens, Descobrimentos e Conquistas


dos Portuguezes nos Paizes Ultramarinos desde o Principio do Século XV, in Obras Completas,

tomo V, Lisboa, Imprensa Nacional, p. 48.


2 BOXER, Charles R. - ° império colonial português. Lisboa: Edições 70, 1977
'GODINHO, Vitorino Magalhães - Estrutura da antiga sociedade portuguesa. Lisboa: Arcádia, 1980
4 SARAIVA Cardeal- op. cit. - p.48.

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uns tombado no campo da batalha, outros ficaram durante alguns anos na


guarnição de defesa das praças, outros regressaram ao reino com a espe-
rança de um título, de uma tença, ou da comutação da pena a que estavam
sujeitos quando partiram, e outros nem chegavam aos seus destinos pois se
afundava a nau em que iam, dado o mau tempo ou ataques de outros navios.
Quanto ao Oriente, após a primeira viagem de Vasco da Gama, fizeram-
-se mais quatro, nos anos imediatos, com o mesmo objetivo. Tendo sido fixa-
do o rumo e os objetivos, sucederam-se armadas para a conquista do espa-
ço, ou domínio do comércio, atingindo uma média de 10 por ano. A população
foi atraída pelo novo destino, referindo Joel Sertão" que em 1527 saíam em
média 2400 portugueses nas armadas com destino à índia.
Quantos foram aqueles que partiram com destino às ilhas, ao Brasil ou à
Costa da Guiné? Quantos acompanharam Gonçalves Zarco na expedição
para o povoamento da Madeira? Estas são as questões para as quais os
investigadores ainda não encontraram resposta definitiva.

111 - Quem participou na expansão

Depois das questões referentes à quantificação, interessa-nos saber


quais eram as categorias sócioprofissionais daqueles que se lançaram na
aventura do descobrimento e da ocupação dos novos espaços, i. e., na ex-
pansão. Militares, missionários e funcionários da coroa são o tipo de indivídu-
os que nos vem imediatamente à cabeça",
A nobreza portuguesa só se interessou verdadeiramente pelos desco-
.brimentos depois das campanhas marroquinas e da morte do infante D.
Henrique, em 1460. Cremos poder afirmar que o serviço prestado em Marro-
cos - militar ou administrativo - foi encarado, com o tempo, como uma "obri-
gação" para a nobreza, tendo em conta o "cursus honorum" da cavalaria, a
que obviamente não era alheia a fonte de receitas que daí podia retirar. Se
nos primeiros anos de ocupação portuguesa do Magrebe os nobres se mos-
travam ainda receosos em passar a África, concretamente a partir da conces-
são da capitania de Ceuta a D. Pedro, e a este do título de conde de Vila Real,
alterou-se a perceção que os nobres tinham das vantagens que poderiam
obter no norte de África.

5 SERRÃO, Joel- A emigração portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte, 1974, p. 43


6 CASTRO, Armando de - História económica de Portugal. Lisboa: Caminho, 1978 -1985, Vol. 3, p.
59 e segs.

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Verifica-se que o fluxo migratório passou a integrar, além dos homens


em armas, outros estratos socioprofissionais com especial incidência em co-
merciantes, e sacerdotes. A bordo das embarcações iam os soldados para a
peleja, os funcionários que defendem os interesses da coroa e os missionári-
os como arautos da fé. A estes juntam-se naturalmente outros grupos como
os degredados, ou aventureiros e ainda os homiziados, que eram criminosos
que serviam no exército, beneficiando assim do perdão posterior do rei?
A missão dos religiosos, que chegam a ter uma maioria de estrangeiros
sob a égide da coroa portuguesa, não se resumia apenas a assegurar a ativi-
dade de culto, a bordo e nos locais onde se fixavam ou à conversão dos
gentios, mas eram verdadeiros embaixadores de uma nova forma de viver.
Depois foi a fixação com a criação de casas de franciscanos, de dominicanos
mais tarde de jesuítas".
Igualmente os judeus fundiram a sua diáspora com a dos descobrimen-
tos". O ano de 1497 marca o início dessa diáspora da comunidade judaica
portuguesa que os fez chegar ao norte de África, às ilhas, à Costa da Guiné e
ao Brasil.

IV - De que região provinham

Não é possível saber qual a região do país que mais contribuiu para a
expansão. A tradição diz-nos que a região algarvia deu agricultores, mari-
nheiros e mercadores, pois as primeiras expedições partiram de Lagos e ne-
las se comprometeram muitos da casa do Infante D. Henrique que aí viviam,
oriundos de várias localidades do país. Deve estar correta esta ideia, nome-
adamente na primeira fase dos descobrimentos, mas já após a expedição a
Ceuta o Infante percorreu o país à procura de gentes para a armada. No caso
da expansão para o Oriente, Veríssimo Serrão diz-nos que foi de entre o
Sado e o Minho que vieram os que participaram na aventura e na sua conso-
lidação, nomeadamente a partir do século XVI, contrastando então com a
reduzida participação do Alentejo e do Algarve.

7 MONTEIRO, João Gouveia - A Guerra em Portugal nos finais da Idade Média. Lisboa, Editorial

Notícias, 1998, pp. 88 a 98.

8 ALBUQUERQUE, Luís de - Navegadores, viajantes e aventureiros portugueses. Século XV e XVI.

Lisboa: Caminho, 1987, 2 vols.

9 FERRO, Maria José - Losjudios em Portugal. Madrid: Mapfre, 1992.

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Leirienses
na ExpansãoPortuguesa

A leitura do autor das Décadas, ou a consulta das obras de Gomes Eanes


de Zurara, João de Barros, Gaspar Correia, Fernão Lopes de Castanheda e
Mendes Pinto, confirma-nos que as gentes do distrito de Leiria estiveram pre-
sentes e intervieram na nossa expansão além-mares. Pescadores e calafates
da Pederneira, ou Peniche, estiveram naturalmente a bordo das naus com
pilotos da Atouguia e homens de armas do Bombarral. Missionários de
Pedrógão cruzaram os mares no serviço da Fé com os cavaleiros fidalgos de
Pombal ou do Bombarral ou sábios diplomatas e administradores de Leiria,
Até os arquitetos envolvidos nas obras do Convento da Batalha e no Mosteiro
de Alcobaça, participaram na construção de fortalezas. Por exemplo, temos
Jacques Boytac, ou Diogo Boitaca, em Arzila no fim de 1508 e no ano seguin-
te esteve em Mamara (Mehdia, em Marrocos) onde deve ter dirigido a cons-
trução da fortaleza, ou ainda João de Castilho que em 1541 é enviado para
fazer a obra na praça-forte de Mazagão. Naturalmente alguns dos artífices
que trabalhavam na Batalha e em Alcobaça tê-Ios-ão acompanhado.

v - Quem foram os da região de Leiria

Por falta de documentação coeva não parece muito fácil conseguirmos


listar aqueles que da região de Leiria colaboraram na expansão portuguesa.
Na maioria dos casos só conseguimos obter a indicação de quem voltou e
mais tarde se viu dotado de uma aposentação. Ou ainda quem se viu investi-
do de outras funções em Lelria, como Vasco de Pina, cavaleiro em Marrocos,
vedar das obras do primeiro castelo de Mazagão (1514) e um dos portugue-
ses que atacaram a cidade de Marraquexe, nomeado alcaide-mor de Alcobaça,
assume o cargo de administrador e vedor das obras do Mosteiro de Alcobaça.
Ou ainda quem era nobilitado, ou o foi durante a expansão, e obteve outras
graças pelos serviços prestados, como por exemplo os MenezesNila Real,
que construíram o seu Paço em Leiria dado serem seus alcaides-mores.
Notemos que os fidalgos ou gente nobilitada viveram em Marrocos períodos
curtos, geralmente dois ou três anos, e eram acompanhados por membros
da sua casa ou servidores, segundo a sua condição. É, portanto, plausível
que os Vila Real, capitães de Ceuta, tenham sido acompanhados por gentes
de Leiria, pois eram aqui alcaides-mores.
Aos que participaram diretamente na expansão poderíamos juntar ainda
aqueles que, mantendo-se no Reino, lhe deram indispensável apoio logístico.
Mencionamos, por exemplo, Diogo Gil Preto, trisavô de D. Pedro Vieira da

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Silva10,bispo em Leiria (1671 - 1676), foi tesoureiro da Casa de Ceuta que


era o organismo que, no Reino, coordenava o abastecimento das cidades
portuguesas de Marrocos. Diogo Gil Preto "teve problemas involuntários em
contas prestadas" e retirando-se para Leiria, prometeu "edificar uma ermida
no monte mais alto do termo daquela Cidade" se, julgado o seu processo, "as
contas se aiustassern."". Como as contas se ajustaram, fundou a capela da
Senhora do Monte, no termo de Leiria. A legenda que sobrepuja a porta da-
quela ermida confirma que foi seu fundador justamente Diogo Gil, embora
não refira o apelido Preto.

VI. 1 - Norte de África

A consulta de diversos documentos e publicações permitiu-nos encon-


trar alguns que de Leiria participaram na tomada de Ceuta, ou aí foram servir,
como o besteiro de cavalo João Afonso, caldeireiro ao qual D. Afonso V pas-
sou carta de aposentado a 29 de outubro de 1441 quando atingiu sessenta e
sete anos de idade, como recompensa de haver servido em Ceuta durante
três anos. Da vila de Atouguia temos registo de um outro besteiro de cavalo
de nome Afonso Enes que valorosamente se bateu na conquista de Ceuta
segundo se lê na carta de aposentação concedida por D. Duarte em novem-
bro de 1442 e de onde trouxe o braço esquerdo aleijado de cutiladas que ali
recebeu. Na Chancelaria de D. Afonso V e em documentos das chancelarias
reais anteriores a 1531 relativos a Marrocos,,12encontramos referências a
outros leirienses como Diogo Afonso Fraião que esteve degredado em Ceuta,
ao besteiro Afonso Martins Conde, que participou na tomada de Ceuta e re-
cebe carta de aposentação em 1437, a Afonso Martins que serviu na tomada
de Ceuta e recebe carta de aposentação em 1443, a Afonso Eanes capelão
do conde de Vila Real, a Gil Eanes de Leiria, a Pedro Gonçalves, a João
Afonso, camareiro do conde de Vila Real, ao ainda João Afonso, besteiro de
cavalo de Leiria, ao João de Leiria, ao ainda Diego Esteves morador em

10 CHARTERS-O'AZEVEOO, Ricardo - "o. Pedro Vieira da Silva, Bispo de l.eiria'', in Cadernos de

Estudos Leirienses n" 3. Leiria, 2014, p. 253.


11 GAlO, Felgueiras - Nobiliário de famílias de Portugal. Braga: Agostinho de Azevedo Meirelies:

Domingos de Araújo Affonso, 1938-1941. Títulos dos Pretos, § 4. (de consulta em http://purl.pU12151).

12 AZEVEDO, Pedra (coord.) - Documentos das chancelarias reais anteriores a 1531 relativos a

Marrocos. Coimbra: Academia das Ciências de Lisboa e Imprensa da Universidade, 1915, Tomo I
(1415-1450).

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Leirienses na Expansão Portuguesa

Moimenta, termo de Leiria 13. Algumas das cartas de aposentação foram es-
critas em Leiria em 1438 por Martim Gil, escrivão do rei, herdeiro de Rodrigo
Afonso, recebedor do reguengo das Aranhas 14 ou ainda pelo tabelião de Leiria
João Eanes Cutelinho"' 16. Através de cartas de perdão real, nas quais se
comutam penas pesadas, encontramos referências a alguns leirienses como,
em 1435, Estevão Fernandes, morador em Abiul, que tinha sido preso por
testemunho falso, dizendo-se ainda que "vendera corpo de Cristo", foi açoita-
do nas costas, no ventre e nos pés com 350 chibatadas, ficando "podre e
manco", foi ainda depois de 13 meses de prisão degredado para Ceuta por
quatro anos, implorava o perdão régio 17.
Temos também notícia de alguns fidalgos, ou gente de nobreza que, de
Leiria, participou na expansão no norte de África como sejam: Fernão de
Sousa 18, escudeiro e Alcaide-mor de Leiria 19 e da Casa do Infante D, Pedro;
Diogo Afonso, fidalgo, da Casa de D. Afonso V, morador em Leiria, que rece-
be perdão régio em 15 de Novembro de 1456 pela morte de João Pires, con-
tra três anos de serviço em Ceuta": Gil Eanes", monteiro e guardador da
mata de Vai bom, morador em Capelães, termo de Leiria; Vasco Martins de
Sousa Chtchoro", fidalgo da casa de D. Afonso V, capitão-mor dos ginetes,

13 COELHO, P. M. Laranjo (coord.) - Documentos inéditos de Marrocos - Chancelaria de D. João li.

Lisboa: Imprensa Nacional, 1943.

14 Com este nome existe uma quinta na estrada de saida de Leiria para a Barosa

15 Em 1484 era tabelião em Leiria Lopo Esteves (COELHO, P. M. Laranjo (coord.) - Documentos

inéditos de Marrocos - Chancelaria de D. João li. Lisboa: Imprensa Nacional, 1943, p. 148).

16 Em 1491 era tabelião em Leiria Fernão Roiz Dantas (COELHO, P. M. Laranjo (coord.) - Documen-

tos inéditos de Marrocos - Chancelaria de D. João li. Lisboa: Imprensa Nacional, 1943, p. 361).
17 Chancelaria de D. Duarte, liv. 3, fI. 74v.

18 CRUZ, Abel dos Santos - "A Nobreza Portuguesa em Marrocos (1415-1464)". Porto, FLUP, 1995,

págS.97-122.

1. CHARTERS d'AZEVEDO, Ricardo - "Duarte Galvão, alcaide-mor de l.eiria'', in Cadernos de Estu-

dos Leirienses, 1. Leiria (maio 2014),105-120.

20 Chanc. D. Afonso V, Liv. 13. fI. 86, Lisboa; pub. por Pedro de AZEVEDO, Chancelarias Reais ... t. 11,

doe. 622, p. 618.


21 ZURARA- Crónica de D. Duarle de Menezes. capo 62., pp. 164-173. Chanc. D. Afonso V, Liv. 13,

il. 112v., Lisboa, 21 de junho de 1456.

RA.~- Oiinica de D. Duarle de Menezes, caps. 76 e 86, pp. 196-199 e 225-227; D. Jerónimo
- istória de la Ciudad de Ceuta .... capo 58, p. 234; Livro de Linhagens do

. T. T., Chanc. D. Afonso V, liv. 9, tis. 75 e 103v. Porto, 27-28 de julho de 1462
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serviço real da judiaria de Leiria, fronteiro-mor de Trás-os-Montes e alcaide-


mor de Bragança e Outeiro foi a Ceuta e a Tanqer"; Álvaro Dias", escudeiro
e criado, almoxarife de Viseu e escrivão das sisas e portagem de Leiria, das
Casas de D. Henrique e do Infante D. Fernando, foi a Água de Ramel em
janeiro de 1462; Diogo Afonso", escudeiro, morador em Leiria, que recebe
perdão régio em 15 de Novembro de 1456, pela morte de João Pires, contra
três anos de serviço em Ceuta; D. Fernando de Noronha", casado com Beatriz
de Menezes, fidalgo, camareiro-mor, 2.0 conde de Vila-Real, foi capitão em
Ceuta (1437-1445) e vem a morrer em Ceuta em 145527; João Rodrigues de
Vasconcelos e Ríbetro'", fidalgo, 3.0 senhor de Figueiró e Pedrógão, coudel
da casa de D. Afonso V, expedicionário a Tânger em 20 de Janeiro de 1464,
substituiu D. Pedro de Meneses, 3.0 conde de Vila Real, no cargo de capitão
de Ceuta de 1464 a 1475; D. Pedro de Meneses, 3.0 conde de Vila Real, 1.0
marquês de Vila Rea129, senhor de Alcoentre e Almeida, alcaide-mor do cas-
telo de Almeida e de l.elría", capitão de Ceuta (1460- 1464), e que partir
desta praça acompanhou D. Afonso V na empresa de Tânger e serra de
Benacofu onde ouviu do rei a frase "a fée fycou oje toda em VÓS,,3\ Pedro

23 PUMA, C. A. V, capo 152, pp. 802-804; ZURARA- Crónica de D. Duarte de Menezes. caps. 143 e

154, pp. 345-349 e 368-370; D. Jerónimo de MASCARENHAS - História de la Ciudad de Ceuta ...

capo 60, p. 240; D. Fernando de MENESES - História de Tangere ... liv. 1, p. 27.

24 ZURARA - Crónica de D. Duarte de Menezes, capo 119, pp. 282-291.

25 Chanc. D. Afonso V, Liv. 13. fI. 86, Lisboa; pub. por Pedro de AZEVEDO, Chancelarias Reais .. t. 11,

doe. 622, p. 618.

26 PINA, Crónica de D. Duarte, capo 35, p. 561; D. Jerónimo de MASCARENHAS, História de la

Ciudad de Ceuta ... capo 51, p. 204. Recebe em 1438 a verba de 60.693 reais de soldo e tença relativa

ao tempo que serviu em Ceuta: Chanc. D. Afonso V, liv. 13, fI. 163v, Sintra, 10 de setembro de 1454;

Leitura Nova. Beira, liv. 2, fI. 49; pub. in Monumenta Henricina, vol. XE, doe. 20, p. 30.
27 A. B. FREIRE, Brasões ... liv. m, p. 265

28 MASCARENHAS, D. Jerónimo de - História de la Ciudad de Ceuta ... capo 62. p. 246; Leitura Nova.

Beira.liv. 1, fI. 267, Ceuta, 7 de março de 1464; Anselmo Braamcamp FREIRE, Brasões ... liv. I, pp.

368-370; Humberto Baquero MORENO, A Batalha de Alfarrobeira ... pp. 933-935.

29 O titulo de marquês de Vila Real foi instituído por carta de D. João II de Portugal de 1 de março de
1489, em benefício de D. Pedro de Meneses. O titulo sucedeu ao de conde de Víla Real, que havia

sido criado por D. João I, a favor de D. Pedro de Meneses, avô do anterior.

30 CHARTERS d'AZEVEDO, Ricardo - "Duarte Galvão, alcaide-mor de Leiria", in Cadernos de Estu-

dos Leirienses, 1, Leiria (maio 2014),105-120.

31 PINA - Crónica de O Afonso V. caps. 147-148 e 156, pp. 795-798 e 810-813; ZURARA- Crónica

de D. Duarte de Menezes, caps. 144 e 154, pp. 350-352 e 362-368; LEÃO - Crónica O Afonso V, capo

32, p. 878; Manuel de FARIA E SOUSA-África Portuguesa, capo VI, p. 60; D. Fernando de MENESES

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Leirienses na Expansão Portuguesa

Barba Alardo, filho Rui Barba (Correia) Alardo e de Inês (ou Maria) de Vera,
casado com Inês de Mesquita, alcaide-menor de Leiria, capitão interino em
Ceuta de 1509 a 151232; Gil d'Abreu, escudeiro e morador em Leiria, sendo
aí alcaide-pequeno, deixou fugir dois presos confiados à sua guarda, tendo
sido perdoado na pena em que foi condenado se passasse um ano em Ceuta" ;
Diogo Soares Castelo-Branco, cavaleiro da Casa do infante D. Henrique, que
foi tesoureiro da moeda da cidade de Lisboa, esteve na tomada de Ceuta e
viveu em Leiria, onde casou com Catarina da Fonseca. Foi o 1.° senhor do
Prazo do Lagar d'EI-Rei34, hoje a "Prisão Escola" de Leiria. Diogo Gonçalves
de Castelo-Branco teve um filho que lhe sucedeu de nome António Vaz de
Castelo-Branco, que foi secretário do infante D. Francisco e vem a falecer em
1723 e que escreveu "Nobiliário das famílias deste Reino".
Do lado da Igreja, muitos missionários, padres e bispos participaram na
expansão. Um dos mais relevantes, pelo empenho com que participou nas
lutas foi D. João Galvão 35, irmão primogénito do cronista-mor, embaixador e
alcaide-mor de Leiria, Duarte Galvão (ver à frente). Bispo de Coimbra, era um
misto de sacerdote e de guerreiro, "a mão que sustinha o báculo de pastor
das almas brandia com firmeza a espada", tendo participado, em 1471, nas
batalhas magrebinas em Arzila e Tanqer". Como "o bispo se mostrou tão
pontífice como soldado" foi-lhe concedido por D. Afonso V, em 25.9.1472, em
paga destes serviços, o título de conde de Arganil para si e para os seus
sucessores bispos de Coimbra".
Na fatal jornada de Alcácer-Quibir encontramos dois leirienses citados
pelos cronistas, um tal Estêvão Curado e um Rui da Vide, ambos oriundos de
Figueiró-dos-Vinhos e que foram feitos prisioneiros, tendo Rui da Vide sido
companheiro de Miguel Leitão de Andrade e, depois de resgatado, viveu em

- História de Tangere ... liv. 1, p. 25; Costa LOBO - História da Sociedade em Portugal, pp. 480-483;

Anselmo Braamcamp FREIRE - Brasões ... liv. m, pp. 268-270; Humberto Baquero MORENO, "A

Conspiração contra D. João 11: o julgamento do Duque de Bragança", in Arquivos do Centro Cultural

Português, vol. 0, Paris, Fundação Calouste Gulbenkian. 1970, pp. 88-98.

32 CHARTERS-D'AZEVEDO, Ricardo - op. cit., p. 118.

33 COELHO, P. M. Laranjo (coord.) - Documentos inéditos de Marrocos- Chancelaria de D. João li.

Lisboa: Imprensa Nacional, 1943, p. 238.)


34 No século XIX esta propriedade foi vendida pela família Castelo-Branco a Manuel Joaquim Afonso

que a vendeu depois ao 1.° visconde de S. Sebastião, trisavô do autor deste trabalho.

35 CHARTERS-D'AZEVEDO, Ricardo - op. cit .. p. 107.

36 CHARTERS-D'AZEVEDO, Ricardo - op. cit .. p. 107.

37 CHARTERS d'AZEVEDO, Ricardo - op. cit .. pp. 105-120.

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Lisboa, vindo a falecer em 1620.


O escritor e fidalgo pedroguense
Miguel Leitão de Andrade, que
ficou cativo, tendo-se evadido
em 1580, voltou a Portugal. Com
fundamento no seu testemunho
se pôde asseverar que D. Se-
bastião morreu em combate, por-
quanto disse que sobre a planí-
cie ele o viu passar hirto, de bru-
ços, atravessado em uma sela,
com um gibão de holanda branca e calções de raxa arenosa. Mais tarde,
aderiu à causa de D. António Prior do Crato, participando na batalha de
Alcântara e na guarnição de São Julião da Barra.

VI.2 - Participação no resto do Mundo

O século XVI viu Portugal "avançar para o Mundo". Foi uma gloriosa
época de navegações e de conquistas que se desenrolaram em três mares e
se difundiram em todos os continentes. Leiria viu imprimir-se, em 1496, o
"livro de oiro dos pilotos e dos astrónomos'?" e ofereceu madeira das suas
florestas para com ela se construírem navios. Os pescadores da região, como
os da Pederneira, os de Paredes e os de Peniche animaram por diversos
meios a marinha mercante. Lembremo-nos que ainda em 1624 se construiu o
galeão Santo António, em Peniche, com a colaboração de carpinteiros de até
da zona de Óbidos. Era de origem leiriense Pedro Eanes, ou Anes, que em
1519 conduziu do Oriente a Lisboa a nau Nazaré, trazendo 400 dobras de
oiro e 110 escravos para os oficiais da casa da Mina. Carpinteiros de Salir, de
Alfeizerão, de Peniche, breadores e calafates como João Afonso, de quem

38 De facto, Zacuto tinha composto em Iingua hebraica, cerca do ano de 1477, uma obra com o titulo
de "Composição Magna", onde eram expostos numerosos assuntos de Astronomia e onde era dada

uma coleção de tábuas astronómicas, que compreendia as que são necessárias para determinar as

declinações do Sol em cada ano. Mais tarde, em 1492, Zacuto veio para Lisboa, onde ocupou o

cargo de cosmógrafo do Rei, e então publicou em Leiria, em 1496, sob o titulo de Almanach perpetuum

celestium motuum, a sua coleção de tábuas com explicações para as usar traduzidas em latim por

José Vizinho. Este Almanaque foi depois a origem de todas as tábuas de declinação do Sol que os

pilotos levavam nas naus.

112
Leirienses na Expansão Portuguesa

Lopes de Castanheda nos conta proezas em terras de Ormuz e mares de


Malaca, todos eles colaboraram na expansão portuguesa. Devemos ainda
referir Fernando PÓ, ou Fernão PÓ, navegador (século XV): foi senhor do
lugar de PÓ,atualmente integrado no concelho do Bombarral, e um dos nave-
gadores responsáveis por descobrimentos no litoral africano. No ano de 1472
descobriu uma ilha no Golfo da Guiné, que viria a ter o seu nome.
Miguel Leitão de Andrade, escritor, natural de Pedrógão Grande (1553-
Lisboa, 1630), partiu com D. Sebastião na expedição africana a Alcácer Ouibir.
Foi feito prisioneiro, tendo passado pelo cativeiro em Fez. Conseguiu esca-
par e chegar a Lisboa em 1580. Antes de fugir, terá escrito uma carta ao seu
irmão, que terá constituído a primeira notícia recebida em Portugal relativa ao
desastre. Foi poeta e prosador, tendo escrito "Miscelânea do Sítio de Nossa
Senhora de Pedrógão Grande: aparecimento de sua imagem, fundação do
seu Convento e da Sé de Lisboa, com muitas curiosidades e poesias diver-
sas", obra de diálogos, um dos quais referente à batalha de Alcácer Ouibir e
publicada em 1629, um ano antes de falecer.
No Extremo-Oriente exerceu vida apostólica o missionário pedroguense
Padre jesuíta Gabriel de Magalhães (1609 - 1677). Aportando à índia ficou
algum tempo em Goa a ensinar retórica e daqui transferiu-se para a China e
em Macau ensinou filosofia. Percorreu em serviço apostólico a província de
Chequião, e, aqui, perseguido pelos Bonzos, padeceu terríveis martírios me-
tido num cárcere, de mãos e pés algemados e três cadeias no pescoço tendo
falecido em Pequim em 6 de maio de 1677. É de sua autoria "Doze Excelên-
cias da China" - impresso em 1688, em Londres, por Thomas Newborough.
E igualmente traduzido para francês (publicado em 1688 e 1670 em Paris) e
em italiano em 1672. Um outro texto dele "Nouvelle relation de la Chine,
concernant la description des particularitez les plus considerables de ce grand
empire. Composée en I'année 1668 par R. P. Gabriel de Magaillans de la
Compagnie de Jésus, missionaire apostolique » é, com este título, publicado
em Paris, em 1688, por C. Barbin. 39
Podemos ainda mencionar Dinis Eanes da Grã,. possivelmente aparen-
tado com uma família Grã de Leiria e com ligações aos Trigueiros e aos
Picanço de Leiria, navegador, era escudeiro do infante D. Pedro. Em 1445
capitaneou uma das caravelas que alcançaram as ilhas de Arguim, trafican-

39 "História de Portugal- Dicionário de Personalidades" (coordenação de José Hermano Saraiva),


edição QuidNovi, 2004.

113
Cadernos de Estudos Leirienses - 72 * Maio 2077

do e capturando escravos. Pelos seus feitos, os seus companheiros conside-


raram-no digno de ser armado cavaleiro".
Malaca foi o mais importante centro de afluência de naturais de Leiria,
ou da sua região, não só para soldados como para "investigadores". Por volta
de 1511, Tomé Pires, leiriense, boticário, partiu para a índia, acabando por se
instalar em Malaca (1512), de onde enviou para o reino a descrição sumária
de várias plantas medicinais". Em 1516 foi enviado como embaixador à Chi-
na, e de Cochim enviou em 1516 uma carta a D. Manuel I em que dava conta
das observações feitas sobre as drogas e plantas medicinais na lndla". Dei-
xou a obra "Suma Oriental" com informações sobre todos os países orientais,
com usos e costumes das populações, características geográficas, entre ou-
tras. De referir que quando Fernão Mendes Pinto, em 1543, seguia sob pri-
são de Nanquim para Pequim, encontrou em Sampitai uma filha de Tomé
Pires, chamada Inês de Leiria, que apenas sabia o Padre-nosso e algumas
palavras em portuquês",
Temos outra referência sobre um pombalense, Jorge Botelho (que no ano
de 1551 instituiu o morgadio da Capela de Nossa Senhora da Piedade, na igreja
matriz de Pombal), que no dizer de João de Barros "foi muito conhecido nos
sítios do Extremo Oriente", tido por homem de verdade e conhecedor de várias
línguas. Durante 20 anos esteve na índia tendo, na expedição a Calecute, salvo
da morte Afonso de Albuquerque ferido no ombro esquerdo. Outro pombalense,
Gaspar Fernandes, que na batalha de Achem (1529) foi apanhado pela tromba
de um elefante armado que o atirou ao ar e o espezinhou".
Já no segundo quartel do século XVI, Fabião da Mota, do Bombarral,
irmão do poeta Henrique da Mota, da corte manuelina, descendente de famí-
lia nobre, tomou o rumo da índia na lustrosa armada do 3.° vice-rei da índia,
D. Garcia Noronha, a qual se fez ao largo em 6 de abril de 1538.

40 ALBUQUERQUE, Luis - "História de Portugal- Dicionário da História de Portugal", dirigido por

Joel Serrão, vol. li, s/d., p. 369.

4' Parece ser uma mera conjetura como afirma Amando Cortesão. Ver: CORTESÃO, Armando - A

Suma Oriental de Tomé Pires e o livro de Francisco Rodrigues. Coimbra: 1978 e ALBUQUERQUE,

Luis de - Navegadores, viajantes e aventureiros portugueses - seculos XV e XVI. Lisboa: Circulo

dos Leitores. 1987, p. 30.


42 O Cardeal Saraiva trouxe a público este documento que encontrou na Torre do Tombo

43 CORTESÃO, Armando - "Esparsos" in Acta Universitatis Conimbrigensis. Coimbra: Universidade,

1975, Volll, capo 21. P. 199 - 219.


44 BARROS, Joãode-Asia, Lisboa, Regia Officina Tyografica, 1728, Decada 111, parte 1.a. Lisboa p. 544.

114
Leirienses na Expansão Portuguesa

Do "Livro das Armadas" da Academia das Ciências de Lisboa, 1979

115
Cademos de Estudos Leirienses - 72 * Maio 207 7

Esta armada foi constituída por onze naus com os seguintes capitães: D.
Cristóvão da Gama (Santo António), Luís Falcão (Graça), D. Garcia de Noronha
(Santo Espírito), João de Sepúlveda (o Junco), Bernardim da Silva (Galega,
perdida), D. João de Sá (S. Bartolomeu), Rui Lourenço de Távora (Santa
Clara), D. Francisco de Menezes (Santa Cruz), D. João de Castro (Grifo),
Francisco Pereira de Berredo (Cirne) e D. Garcia de Castro (Fieis de Deus,
perdida.)
Ao chegar a Goa, seis meses depois, Fabião da Mota viu-se investido no
cargo de juiz da Alfândega em que se manteve até ao governo de Francisco
Barreto. Desta maneira o fidalgo da Quinta da Mota (Bombarral) demorou-se
no Oriente desde 1538 até 1555 e acompanhou as proezas militares dessa
época agitada. O fidalgo da Casa Real e cavaleiro de Cristo Pedro Taveira
(Gorjão) Henriques, conterrâneo do anterior, serviu na índia como militar e foi
capitão de Mombaça e almirante do Estreito do Mar Roxo.
O Padre Inácio de Azevedo, da Companhia de Jesus, seguiu com um
conjunto de 40 noviços na nau Santiago com destino ao Brasil. Esta é ataca-
da pelos corsários calvinistas, comandados por Jacques Sória, ao largo das
Ilhas Canárias, sendo martirizados e mortos todos os religiosos que nela se-
guiam. O acontecimento teve lugar a 15 de julho de 1570, tendo a notícia do
massacre chegado a Portugal a 17 de julho. Os "Quarenta Mártires do Brasil"
vieram a ser beatificados em 11 de maio de 1854 pelo Papa Pio IX. O missio-
nário pedroguense, o bem-aventurado Diogo de Andrade, incluía-se no nú-
mero destes mártires.
A listagem apresentada abaixo esteia-se nas notas de Figueiroa Rêg045•46
baseado num manuscrito atribuído ao cónego D. Flamínio, de quem foi para a
índia, mas somente listamos aqueles cuja origem é claramente indicada como
proveniente da região de Leiria e parte da Estremadura, até Torres Vedras.
Afonso de Matos, escudeiro, de 22 anos, da Labrugeira, termo de
Torres Vedras, filho de Afonso Gomes e de Inês Vieira, foi em 1538.
Afonso de Vaza Serrão, cavaleiro fidalgo, com 1000 rs., de Torres
Vedras, filho de Francisco Vaza, foi em 1585.
Álvaro da Rocha, de Torres Vedras, filho de Gomes da Rocha e de
Inês Trigueiros, foi como escrivão na nau Espírito Santo, em 1538, co-

45 R~GO, Rogério de Figueirôa - Soldados da fndia: século XVI: notícias genealógicas e biográficas.

Rogério de Figueiroa Rêgo. - Torres Vedras: [s.n.], 1956.


46 R~GO, Rogério de Figueirôa - Gente de guerra que foi á fndia no século XVI. Rogério de Figueirôa
Rêgo. - Lisboa: [s.n.], 1929.

116
mandada pelo vice-rei D.
Garcia de Noronha.
André Gorjão, cavalei-
ro, do Turcifal (Torres Ve-
dras), filho de Álvaro Anes
Gorjão, foi em 1553. Ta-
nador de Agaçaim no ano
de 1555.
Antão Marecos, escu-
deiro, de 20 anos, filho de
Rui Dias de Freitas e de Ana
Mota, todos de Torres Vedras, foi em 1563.
Antão do Rêgo, cavaleiro, marido de Margarida Varela, da Ponte do
Rol, termo de Torres Vedras e genro de Álvaro da Ponte, cavaleiro, e de
Margarida Varela, foi em 1543.
António de Barros, escudeiro, de 24 anos, de Torres Vedras, filho
de Jerónimo de Sampaio e de Branca de Barros, foi em 1563 na nau
Algarvia. Esta nau quebrou o mastro e voltou a Portugal.
António Cardoso, do Turcifal, filho de Francisco Fernandes e de
Helena Cardoso, foi 1598.
António Correia, cavaleiro-fidalgo, de Torres Vedras, filho de Luís
Correia, foi em 1585 na nau Santo Alberto.
António Galvão, fidalgo, filho de Duarte Galvão, foi para capitão nas
Molucas em 1533. Foi aí missionário.
António Homem, escudeiro de 20 anos, das Caldas da Rainha, filho
de Diogo Homem e de Catarina Dias, foi em 1553 na nau S. Bento. Esta
nau, comandada por Fernão de Álvares Cabral da Cunha, à volta para
Portugal perdeu-se na Terra do Natal.
António Lopes, escudeiro, de 16 anos, do Carrascal, termo de
Ourém, filho de Paulo Pires e de Brites de Figueiredo, foi em 1553 na
nau Ascensão.
António Pestana, escudeiro, de 18 anos, da Lourinhã, filho de Diogo
Pestana, foi em 1546.
António do Rêgo, do termo de Óbidos, filho de Pero do Rêgo e de
Margarida Álvares, foi em 1532.
António Trigueiros, escudeiro, de Torres Vedras, filho de Pedro Tri-
gueiros e Brites Vaz, foi em 1567.

117
Cadernos de Estudos Leirienses - 72 * Maio 207 7

Baltazar do Rêgo, escudeiro, de 20 anos, de Leiria, filho de Simão


do Rêgo e de Barbara de Carvalho, foi em 1538.
Bartolomeu de Aguiar, porteiro da câmara da Rainha, pai de Braz
de Aguiar e de Isabel de Aguiar Leitão, mulher de João Figueiroa, cava-
leiro da Casa Real e escrivão da Câmara da Vila de Torres Vedras, don-
de eram naturais; foi em 1555 como Alcaide do Mar de Ormuz e Guarda-
-Mor das Naus do mesmo porto. Teve o foro de cavaleiro-fidalgo, foi
casado com Brites Leitão e morreu em 1578.
Bernardo Chamorro, escu-
deiro, filho de Álvaro Chamorro,
ambos de Torres Vedras, foi em
1553.
Bernardo do Rêgo, moço da
câmara, filho de Antão do Rêgo,
cavaleiro-fidalgo e de Margarida
Varela, da Ponte do Rol, termo
de Torres Vedras, foi em 1560.
Braz de Aguiar, moço da
câmara da Rainha, filho de
Bartolomeu de Aguiar (ver acima) e de Brites Leitão e cunhado de João
Figueiroa, todos de Torres Vedras, foi em 1573 e voltou em 1581.
Charles Henriques, camareiro do Infante D. Fernando, da Vermoeira,
termo de Torres Vedras, filho de Duarte Vaz de Freitas, foi em 1555 por
capitão na nau S. Lourenço.
Charles Henriques, escudeiro, da Vermoeira, filho de Francisco
Henriques, fidalgo da Casa Real e neto do anterior; foi em 1585 por ca-
pitão da nau Santo Alberto e lá morreu.
Cosme de Lafetá, fidalgo do Carvalhal, termo de Óbidos, filho de
Agostinho de Lafetá e de D. Maria de Távora, foi em 1588 como capitão
para Diu. Voltou à índia em 1598, comandando a nau S. Simão e lá
morreu.
Cristóvão Caiado, cavaleiro-fidalgo com 2.400 rs. de moradia, filho
de Álvaro Caiado, de Torres Vedras, foi em 1525.
Cristóvão Ferreira Lobo, de 20 anos, filho de Cristóvão Álvares e de
Ana Ferreira, todos do Bombarral, foi em 1586 na nau S. Francisco.
Diogo Henriques, escudeiro, de 20 anos, natural do Carvalhal, ter-
mo de Óbidos, filho de Rui Vaz e de Catarina Henriques, foi em 1563 na

118
Leirienses na Expansão Portuguesa

nau Graça. Tendo por capitão Diogo Lopes de Mesquita, a 3 de fevereiro


de 1664 foi tomar as ilhas de Maldiva.
Diogo Maciel, escudeiro, de 18 anos, de Torres Vedras, filho de
Manuel Roiz Maciel e de Constança Trigueiros, foi em 1594.
Diogo de Meira, moço da câmara, do duque de Bragança, de 20
anos, filho de Diogo Álvares de Meira, almoxarife de Ourém, e de Isabel
Nunes, foi em 1540.
Diogo Miranda Henriques, escudeiro, com 1.620 rs. de moradia,
filho de António Miranda de Azevedo e de D. Filipa de Noronha, foi em
1554 na nau Galega. Tendo como capitão Francisco de Gouveia, a nau
invernou em Moçambique.
Diogo Pais Henriques,
escudeiro, com 1.600 rs. de
moradia, de Torres Vedras,
filho de Charles Henriques,
cavaleiro da Casa de el-Rei,
foi em 1554.
Diogo de Valadares,
escudeiro, de Pombal, filho
de Adão de Valadares e de
Catarina Nunes,foi em 1530.
Domingos Henriques,
de 24 anos, da Carvoeira,
termo de Torres Vedras, fi-
lho de Afonso ... e de Margarida Álvares, foi em1587.
Duarte d'Eça (Dom), escudeiro com 3.400 rs. de moradia, filho de
D. Vasco de Eça e de Guiomar da Silva, foi em 1538.
Duarte Vaz Henriques, escudeiro com 1.600 rs. de moradia, da
Vermoeira, termo de Torres Vedras, filho de Charles Henriques, camareiro
do InfanteD. Femando, foi em 1554e morreu a 19 de março do mesmo ano.
Fernão do Rêgo, escudeiro, de Caldas, filho de João do Rêgo e de
Violante Dias, foi 1535.
Francisco de Aragão, do Bombarral, marido de Isabel Henriques,
de Santa Maria de Óbidos, foi em 15...
Francisco de Avelar, escudeiro, de 18 anos, filho de Fernão de
Avelar, cavaleiro-fidalgo, e de Isabel da Vaza, todos de Atouguia, foi em
1553 na nau Galega.

119
Cadernos de Estudos Leirienses - 72 * Maio 2077

Francisco de Carvalhosa,
filho de Gomes Lourenço de
Carvalhosa e de D. Luísa de
Sampaio, da Ribeira de Maria
Afonso, solar dos Carvalhosas,
termo de Torres Vedras, foi em
1556.
Francisco Correia, escudei-
ro, 20 anos, filho de Francisco
Fernandes Correia e de Brígida
Pires, todos de Torres Vedras,
foi em 1563.
Francisco Henriques, fidalgo, com 2.000 rs. de moradia, da Ver-
moeira, termo de Torres Vedras, filho de Charles Henriques, camareiro
do Infante D. Fernando, foi por capitão da nau Chagas em 1574; morreu
em Alcácer.
Francisco Pereira, moço de
câmara, de Torres Vedras, filho
de Rodrigo Pereira e de Francis-
ca Trigueiros, foi em 1563 na nau
Graça.
Francisco do Rêgo, escu-
deiro, com 1.100 rs. de moradia,
filho de Antão do Rêgo, cavalei-
ro, e de Margarida Varela Carva-
Ihosa, todos do termo de Torres
Vedras, foi em 1554 na nau Con-
ceição, capitaneada por Miguel de Castanhoso.
Francisco Sampaio, escudeiro, de Torres Vedras, filho de Rui
Sampaio e de Leonor Roiz, foi em 1533.
Francisco de Seabra, escudeiro, filho de Fernando de Seabra e de
Catarina Roiz, do Maxial, termo de Torres Vedras, foi em 1561 na nau S.
Filipe.
Francisco Velho Dantas, escudeiro de 30 anos, filho de Sebastião
Velho e de Brázia Dantas, de Leiria, foi em 1554 na nau Conceição.
Fiador Francisco Velho, seu tio.
Gabriel do Rêgo, escudeiro, filho de Pero Fernandes do Rêgo e de

120
Leirienses na Expansão Portuguesa

Isabel Raiz, dos Cadafais,


termo das Caldas da Rai-
nha, foi em 1537 na nau S.
Paulo.
Gaspar da Silva, moço
da câmara, filho de Diogo
Lopes Barradas e de Bea-
triz Henriques, senhores da
quinta do Calveiro, termo de
Torres Vedras, foi 1574.
Gaspar de Valadares,
moço da câmara, da Lourinhã, filho de Álvaro de Valadares, foi em 1597.
Heitor de Meira, escudeiro, da Merceana, filho de Álvaro Vaz e de
Isabel de Meira, foi para Sofala em 1530 e de lá para a índia.
Heitor Varela, escudeiro do Infante D. Duarte, filho de Francisco
Varela, do termo de Torres Vedras, foi em 1550.
Jerónimo Ferreira, de 26 anos, casado com Maria Silva filho, de Cris-
tóvão Álvares e de Ana Ferreira, todos moradores no Bombarral, foi em
1587, na nau S. Francisco.
Jerónimo Sampaio, de
Torres Vedras, filho de An-
tónio Sampaio e Juliana
Freire, foi em 1571.
Jerónimo de Sousa, fi-
dalgo, filho de Rui Mendes
de Vasconcelos, 4.° senhor
de Figueiró, e de Isabel
Galvão, e tetraneto de D-
Pedro de Menezes, 1.° Con-
de de Vila Real, foi em 1511.
João Mendes Botelho, de Torres Vedras, foi feitor de Malaca, em
1525.
João Artur do Rêgo, escudeiro com 1.400 rs. de moradia, filho de
Artur do Rêgo e de Catarina Dias, do Bombarral, foi em 1538.
João Botado de Almeida, cavaleiro, filho de Acácio Botado de
Almeida, Juiz e Almoxarife dos Direitos Reais de Torres Vedras, e de
sua mulher Maria Trigueiros, foi em 1593 e regressou em 1616 "aleijado

121
Cadernos de Estudos Leirienses - 72 * Maio 207 7

de um braço esquerdo" tendo por


esse motivo renunciado ao car-
go de Juiz da Alfândega de Goa,
em que estava provido.
João Caiado, escudeiro, de
25 anos, filho de Álvaro Anes
Caiado e de Maria Dias, todos de
Torres Vedras, foi em 1538 na
nau Galega.
João Penalvo, escudeiro,
filho de Rui Penalvo e de Joana
Fernandes, de Torres Vedras, foi
em 1558 na nau Rainha, capitaneada por Fernão de Sousa.
João Soares do Bombarral, moço da câmara com 800 rs. de mora-
dia, filho de Bartolomeu Henriques e de Guiomar Santos, foi em 1587 na
nau S. Alberto.
João de Teive, cavaleiro-fidalgo, filho de António de Teive, que foi
contador mor da índia, e de sua mulher D. Melícia de Gois, moradores
em Vale de Galegos, termo de Torres Vedras, foi em 1565.
João Trigueiros, moço de câmara, filho de Rodrigo Pereira e de
Francisco Trigueiros, todos de Torres Vedras, foi em 1576.
João Trigueiros, escudeiro com 700 rs. de moradia, filho de Sebas-
tião Semedo, de Torres Vedras, foi em 1598 na nau Vitória.
João Henriques, do Carvalhal, termo de Óbidos, filho de Diogo Aires,
Juiz vereador de Óbidos, e de Isabel Henriques, foi em 1515.
Lançarote Gomes Godinho Cabreira, fidalgo, Alferes da Bandeira
Real na índia, filho de Estevão Gomes Godinho, que foi pajem de lança
de el-Rei D. Manuel, e de sua mulher Maria de Soutomaior. Foi casado
com Maria do Avelar, filha de Dionísio Esteves, cavaleiro da Casa Real,
e de sua mulher Leonor do Avelar, todos de Torres Vedras, de quem
houve geração. Era avô de Lançarote Seixas que segue. Foi para a ín-
dia em 1527.
Lançarote Seixas, cavaleiro-fidalgo, filho de Francisco de Seixas e
de Joana de Almeida, todos de Torres Vedras, foi em 1598.
Lopo de Aguiar, escudeiro, filho de António Pires e de Violante de
Aguiar, de Óbidos, foi em 1537 na nau Rainha, capitaneada por D. Pedro
da Silva.

122
Leirienses na Expansão Portuguesa

Lopo Trigueiros, escu-


deiro, filho de Pedro Triguei-
ros e de Brites Vaz, todos de
Torres Vedras, foi em 1569.
Luís de Avelar, escu-
deiro, de 20 anos, filho de
Martim Bernardes e de
Francisca de Avelar, todos
da Atouguia da Baleia, foi
em 1540.
Luís de Horta, escudeiro, de 22 anos, filho de Álvaro Fernandes e
de Maria de Horta, todos de Atouguia da Baleia, foi em 1538 na nau
Santo Espírito capitaneada pelo vice-rei D. Garcia de Noronha, como
homem de armas de D. Luís de Ataíde.
Luís Nunes Cabral, escudeiro, filho de Baltazar Nunes, de Torres
Vedras, foi em 1597.
Luís do Rêgo, moço da
câmara, da Ponte do Rol,
termo de Torres Vedras, fi-
lho de Francisco do Rêgo,
cavaleiro-fidalgo e vereador
daquela vila e de sua mu-
lher Antónia de Magalhães,
foi em 1597. Era irmão de
Pedro Varela.
Manuel Gomes de
Carvalhosa, escudeiro, de
19 anos, filho de outro e de Brites Anes, do termo de Torres Vedras, foi
em 1538 como homem de armas de D. João de Eça. Morreu em 18 de
maio de 1540.
Manuel de Sampaio, escudeiro, de 20 anos, filho de Bernardim de
Sampaio e de Mécia Machado, todos de Torres Vedras, foi em 1558 na
nau Castelo, capitaneada por Jácomo de Meio.
Manuel Soares, moço de câmara com 800 rs. de moradia, filho de
Bartolomeu Henriques e de Guiomar Soares, do Bombarral, foi em 1585
na nau S. Francisco.
Mateus de Aguiar, escudeiro, de 15 anos, filho de Gonçalo Fernan-

123
Cadernos de Estudos Leirienses - 72 * Maio 207 7

des e de Maria Lopes, todos de Leiria, foi em 1558 na nau Graça, capita-
neada por D. Constatino.
Mendo Henriques, filho de Frutos ou Frutuoso Henriques e primo
de João Soares (ver acima), todos do Bombarral, foi em 1561 e morreu
em 1588.
Nicolau de Almeida, escudeiro, filho de Acácio Botado de Almeida e
de Maria Trigueiros, todos de Torres Vedras, foi em 1593 e morreu em
1594 no cerco de Chaul. Era irmão de João Botado de Almeida (ver
acima).
Nicolau Trigueiros, moço da câmara, filho de Pedro Trigueiros e de
Brites Vaz, todos de Torres Vedras, foi em 1574 e lá morreu em 1582.
Era irmão de Lopo Trigueiros (ver acima).
Nuno Fróis, filho de Álvaro
Fróis e de Violante Vaz, todos de
Torres Vedras, foi em 1530.
Pedro Varela, moço da câ-
mara, filho de Heitor Varela (ver
acima), cavaleiro-fidalgo, de Tor-
res Vedras, e de Antónia de Ma-
galhães, foi em 1591.
Pero Lopes, moço da câma-
ra, filho de Pero Gonçalves Pi-
menta e de Catarina Pimentel,
todos de Torres Novas, foi em
1574 na nau Santa Bárbara.
Pero Vaz Henriques, moço
de câmara com 405 rs. de mora-
dia, filho de Duarte Vaz de Torres Vedras, foi em 1544 por feitor de Achem.
Rafael Botado de Almeida, escudeiro, filho de Acácio Botado de
Almeida e de Maria Trigueiros, todos de Torres Vedras, foi em 1593 e
morreu em 1600 em combate contra o "célebre e temível Maomed Cunale
Marcá". Era irmão de João Botado de Almeida (ver acima).
Rui Dias de Avelar, Juiz dos Órfãos da vila de Atouguia, foi em
1598, na armada do vice-rei D. Luís de Ataíde.
Lourenço de Carvalho, escudeiro, de 25 anos, filho de António de
Carvalho e de Isabel Fernandes, de Peniche, foi em 1561 na nau S.
Filipe.

124
Leirienses na Expansão Portuguesa

Salvador do Rêgo, escudeiro, de 26 anos, filho de Simão do Rêgo e


de Bárbara de Carvalho, de Leiria, foi em 1537.
Simão Franco, moço de câmara, filho de João Torres, moradores
em Torres Vedras, foi em 1597.
Simão do Rêgo Fialho, moço da câmara, do termo de Óbidos, foi
em 1561. Foi contador dos Contos de Goa.
Simão de Sousa, cavaleiro-fidalgo, com 1920 rs. de moradia, filho
de Duarte Galvão, alcaide-mor de Leiria antes de D. Pedro de Menezes,
marquês de Vila Real e 3.0 conde de Vila Real, foi em 1525.
Tristão Cota, filho de Francisco Cota e de Natália Ferreira, todos de
Aljubarrota, foi em 1573.
Vicente Pereira, filho de João Pires de Óbidos, foi em 1515, na ar-
mada de Lapa Soares
Vicente Trigueiros, cavaleiro-fidalgo, filho de António Trigueiros e
de Joana Gois, moradores em Torres Vedras, foi 1554.

Uma consulta aos dois volumes" da obra do Visconde da Lagoa, "Gran-


des e humildes na epopeia portuguesa do Oriente (séculos XV, XVI e XVII)" 48,
de 1942, levou-nos aos seguintes:
António Manuel (António Correia Manoel) de Aboim, quarto filho de
António Correia Manoel de Aboim e de Maria Vasconcelos Correia, neto
paterno de Francisco Correia Manoel e de sua mulher Maria Vasconce-
los e materno de Dr. Dionísio Fortes e de sua esposa Maria de Oliveira,
casou com Maria de Vasconcelos, sua prima. Sucedeu no morgado e
casa de seu pai e foi cavaleiro de Cristo, vivia em 1610, altura que tirou
vários instrumentos relativos ao seu morgadio e ainda em 1671 desem-
penhava funções de presidente da Junta das Décimas das Vilas de
Óbidos e das Caldas. Não se sabe a data em que foi para a índia onde
desempenhou cargos de feitor e de alcaide-mor de Chaul.
Manuel de Aboim, filho segundo de Manuel Correia de Aboim,
senhor do morgado de S. Lourenço e de sua mulher Isabel de Oliveira,
da família dos senhores do morgado de Antão de Oliveira. Figurou no
número de defensores de Diu onde foi atingido por um tiro de espin-

47 Pena é que não se encontrem os demais volumes, pois estes ficam-se pelo antropónimo
Albuquerque.
"LAGOA, 4.° Visconde de - Grandes e humildes na epopeia portuguesa do Oriente: (séculos XV,
XVI e XVII). Visconde de Lagoa. - Lisboa: [s.n.]. 1942-1943. - 2 vol.

125
Cadernos de Estudos Leirienses - 72 * Maio 207 7

garda numa perna. Faleceu na índia.


Amaro Estevão de Abreu, natural do termo de Torres Vedras, filho
de Estevão Vidal, escudeiro e cavaleiro-fidalgo com 900 rs. de moradia.
Passou à índia em 1645.
Baltasar de Abreu, natural de Ourém, filho de António de Abreu de
Faria que foi moço da câmara de número, escudeiro e cavaleiro fidalgo
com 1000 rs. de moradia. Deve ter partido em 1663.
Cosme de Abreu, natural de Ourém, filho de Luís de Abreu, moço
da câmara com moradia e condição de ir para a índia. Desconhece-se
quando partiu.
Diogo Lobo de Abreu, natural de Pombal, filho de Diogo Jorge de
Medeiros Lobo, moço da câmara do Infante D. Duarte, e de sua mulher
Catarina de Carvalho e Oliveira, neto paterno de Jorge Gonçalves Ribei-
ro e de sua esposa Catarina Luís do Rego de Carvalho e materno de
Manuel de Abreu do Quental e Macedo e de sua mulher Maria de Carva-
lho e Oliveira. Casou com Maria de Morais de quem teve descendência e
em segundas núpcias com Brites Boinha, viúva de João Rodrigues. Diogo
Lobo de Abreu, por ser autor de um crime de homicídio na vila de Pombal,
refugiou-se em Madrid, tendo embarcado em 1614 na embaixada de Garcia
da Silva Figueiroa para o Oriente.
Domingos da Fonseca de Abreu, natural de Pombal, filho de Domin-
gos da Fonseca, moço da câmara com moradia, desconhece-se a data de
partida.
Francisco Terras de Abreu, natural de Leiria, filho de Manuel de
Abreu. Em 1662 foi-lhe feita mercê dos foros de escudeiro e cavaleiro-
-fidalgo com 1.000 rs. de moradia sob condição de ir à índia onde seria
armado cavaleiro. Desconhece-se a data em que demandou o Oriente.
Gaspar de Abreu, natural do Cadaval, escudeiro, filho de António
de Abreu e de Genebra Fernandes. Partiu para a índia em 1591.
João Mendes de Abreu, natural de Leiria, filho bastardo de Bar-
tolomeu Mendes de Abreu, escudeiro e fidalgo-cavaleiro com 1.000 rs.
de moradia, sob condição de ir à índia onde seria armado cavaleiro.
Largou de Lisboa em 1650 no galeão S. Francisco que por deficiência
de construção não conseguiu passar a linha e, metendo muita água,
chegou a varar em terra firme tendo antes que travar alguns combates
com piratas e com ingleses junto a Lisboa. Morreu com muitos tripulan-
tes nessa altura.

126
Leirienses na Expansão Portuguesa

José Mendes de Abreu, natural de Leiria, filho bastardo de Bar-


tolomeu Mendes de Abreu, casou na índia com Úrsula de Castro. Rece-
beu em 1648 foros de escudeiro e fidalgo-cavaleiro com 1.000 rs. de
moradia, sob condição de ir à índia onde seria armado cavaleiro. Partiu
em 1648 na nau S. Roque.
Carlos de Abreu de Andrade, natural do termo da Redinha, filho de
Luís do Quintal de Abreu. Em 1652 escudeiro e fidalgo-cavaleiro com
1.000 rs. de moradia, sob condição de ir à índia onde seria armado cava-
leiro. Largou para o Oriente em 1652.
Bartolomeu de Aguiar, porteiro da câmara da rainha e mais tarde
cavaleiro fidalgo da Casa Real, natural de Torres Vedras, partiu para o
Oriente em 1555.
Braz de Aguiar, moço da câmara da rainha, natural de Torres Vedras,
filho de Bartolomeu de Aguiar (ver acima) e de Brites Leitão e irmão de
Ambrósio Leitão que também serviu na índia. Partiu para o Oriente em
1573.
Francisco Aguiar, irmão de Bartolomeu Aguiar (ver acima), repos-
teiro da Casa Real, anda em meados do século XVI no Oriente por piloto
da nau da capitania de Duarte da Gama, na qual, levando a bordo S.
Francisco Xavier, que o distinguia com a sua amizade, zarpou aos 22 de
novembro de 1551 do porto de Figuem no Japão, apanhando no cami-
nho espantosa tormenta que proporcionou ao santo um dos seus mais
conhecidos milagres e levou a nau desmantelada a Sanchuam, ilha chi-
nesa por onde a navegação portuguesa fazia frequente escala.
Lopo de Aguiar, escudeiro, parece que natural de Óbidos, filho de
António Pires e de Violante Aguiar, foi para a índia em 1537.
Damião Aguiar Barreto, nascido em 1583 na quinta do Mosteiro do
concelho de Torres Vedras, filho de Luís Vicente e de sua segunda mu-
lher Joana Pina, neto paterno do poeta Gil Vicente e de sua esposa
Branca Bezerra, materno de Miguel Pina e de sua mulher Mécia de Aguiar
Barreto, irmão de Francisco Aguiar Barreto (a seguir). Faleceu em 1640
na defesa de Malaca.
Francisco de Aguiar Barreto, nascido em 1580 na quinta do Mostei-
ro do concelho de Torres Vedras, filho de Luís Vicente e de sua segunda
mulher Joana Pina, neto paterno do poeta Gil Vicente e de sua esposa
Branca Bezerra, materno de Miguel Pina e de sua mulher Mécia de Aguiar
Barreto, irmão de Francisco Aguiar Barreto. Faleceu em 1600 na índia.

127
Cadernos de Estudos Leirienses - 72 * Maio 207 7

José de Aires Saldanha, natural de Torres Vedras, filho de Jerónimo


Aires Cão. Em 1657 escudeiro e fidalgo-cavaleiro com 800 rs. de moradia,
sob condição de ir à índia onde seria armado cavaleiro. Largou para o
Oriente em 1657.
Filipe de Alarcão (Dom), supõe-se que natural de Torres Vedras,
filho de D. Martinho Soares de Alarcão, alcaide-mor de Torres Vedras,
senhor do morgado de Vila de Rei e de sua mulher D. Cecília de Men-
donça, neto paterno de D. João Soares de Alarcão, alcaide-mor de Tor-
res Vedras e senhor do morgado de Vila de Rei, e de sua esposa D.
Isabel de Castro, filha de D. Rodrigo Lobo, barão do Alvito, e materno de
Filipe de Aguilar, mestre-sala de el-Rei D. Sebastião, comendador de
Torres Vedras na ordem de Cristo, e de sua mulher Ana do Lago, filha
única e herdeira de Fernão Lago, fidalgo galego que acompanhou a
Portugal a rainha D. Isabel, mulher de D. Manuel I. Embarcou para a
India em 1601, tendo perecido em Socotorá onde se perdeu o galeão
Santo António.
Fernando de Alarcão (Dom), cavaleiro fidalgo da Casa Real, filho
de D. Martinho Soares de Alarcão, alcaide-mor de Torres Vedras e de
sua mulher D. Violante Henriques ou Coutinho, neto paterno de D. João
de Alarcão, das Casas de Valverde e dos duques do Infantado, que foi
caçador-mor do reino de Portugal e alcaide-mor de Torres Vedras, cujo
castelo restaurou à sua custa, e de sua primeira mulher D. Margarida
Soares de Alvarenga, e materno de D. João de Mascarenhas, capitão de
ginetes, e de sua mulher D. Margarida Coutinho. Por alvará de 561 obte-
ve de D. Fernando a moradia de moço fidalgo da Casa Real, acrescen-
tada a fidalgo escudeiro, com 4.600 rs. e logo a fidalgo cavaleiro com
5.000 rs em 1562 e 1563, respetivamente. Levando 30.000 rs. mensais
partiu para a India em 1564. Faleceu em Damão sem ter chegado a
combater.

A consulta do manuscrito de 1837 de Frei Domingos Vieira (OESA), "Di-


cionário dos vários varões ilustres em letras e virtudes que floresceram nesta
Província de Portugal dos Ermitas Calçados de Santo Agostinho ..49 , onde na
maioria dos casos não é indicada a naturalidade, permitiu-nos encontrar um
dominicano da região de Leiria que passou à índia:

49 AZEVEDO, Carlos A. Moreira - Ordem de Santo Agostinho em Portugal (1256 - 1834). Lisboa:
Universidade Católica, 2011, pp 303 e segs.

128
Leirienses na Expansão Portuguesa

Jerónimo da Cruz (OESA), natural de Pombal e filho de Jerónimo


Valadares e Branca de Magalhães, pessoas nobres, professou na Gra-
ça a 1.5.1557, tendo passado para a índia "maior de 60 anos", tendo
estado na Pérsia e depois em Ormuz onde faleceu a 5 de maio de 1609.

No decurso do mesmo século XVII, em 1675, o alcobacense Fr. António


Brandão, da Ordem de Cister, dirigiu o arcebispado de Goa, e temporaria-
mente exerceu o cargo de governador. Seguiu com ele para a índia, em 1675,
o missionário agostinho Fr. Sebastião Varela, seu sobrinho, igualmente natu-
ral de Alcobaça. Sebastião Varela tinha professado no Convento de Nossa
Senhora da Graça de Goa. Em Portugal foi prior de Montemor-o-Velho. Es-
creveu a rogo do grão-duque da Toscana "Relação de tudo que tiveram os
portugueses e têm hoje na índia".
Foi infrutífera a consulta dos Livros de Matrículas dos Moradores da Casa
Rea150, porque os livros consultados não se enquadravam no espaço tempo-
ral que definimos para este trabalho, pois com o incêndio de 1681 ficaram
destruídos os livros de Matrícula dos Moradores da Casa de D. João IV e D.
Afonso VI e o incêndio que se seguiu ao terramoto de 1755 destruiu o restan-
te. Nestes livros poderíamos encontrar, como encontramos para o período
1641 - 1744, a indicação de quem recebeu foro ou ofício com a condição de
passar ao Oriente ou a outras possessões portuguesas.

VII - A família Menezes Nila Real

Pedro de Meneses, governador de Ceuta (1415 - 1437), filho do primeiro


conde de Viana do Alentejo, tomou parte na conquista de Ceuta, onde foi
armado cavaleiro. Perante a escusa de outros fidalgos, ofereceu-se para go-
vernador desta praça, que defendeu dos sucessivos ataques dos muçulma-
nos. Pouco tempo depois da tomada daquela importante praça, o rei D. João I
fê-lo conde de Vila Rea151, embora a carta do título apenas tivesse sido pas-
sada por D. Duarte, em 18 de abril de 1434. O seu governo em Ceuta, inter-
rompido pelo menos duas vezes para vir ao reino, não foi nada fácil, pois os
marroquinos nunca desistiram de a retomar. Em 1424, D. Pedro esteve em

50 AMARAL, Luís - Livros de Matrículas dos Moradores da Casa Real- foros e ofícios 1641-1744.
Lisboa: Guarda-Mar, Voll e 11.
51 O título existiu em duas famílias: na antiga houve condes, marqueses e duques e na moderna
apenas condes.

129
Cadernos de Estudos Leirienses - 72 * Maio 2077

Lisboa, onde ficou cerca de um ano, no cargo de alferes-mor do reino, tendo


deixado, primeiramente, Rui Gomes da Silva como capitão interino (1424) e,
depois, D. Duarte de Meneses, seu filho legitimado, no governo interino de
Ceuta (1430 -1434). Colocou-se então o problema da sucessão no governo
da praça. Sua filha legítima, D. Brites de Meneses, queria o cargo para o
marido, D. Fernando de Noronha, o que de facto veio a suceder após a morte
de D. Pedro. D. Fernando foi o segundo conde e governador de Ceuta desde
1437 até à morte em 1445.
Seu filho, D. Pedro de Meneses, que faleceu em 1499, foi o terceiro
conde e o primeiro marquês. Foi também governador de Ceuta (1460 - 1464)
e 34.0 alcaide-mor de Leiria, onde mandou construir um palácio que foi sendo
ampliado e que se conservou até finais do século XIX. Recebeu o título de
conde por carta do infante D. Pedro, regente na menoridade de D. Afonso V,
datada de 3 de junho de 1445, e elevado a marquês por carta de D. João 11de
1 de março de 1489. Os seus sucessores foram igualmente capitães de Ceuta.
Foi sétimo conde, quinto marquês e primeiro duque D. Manuel de Meneses,
igualmente capitão-general de Ceuta (1567 -1574). Na crise da independên-
cia que se seguiu à morte de D. Sebastião, foi partidário de Filipe I, que o fez
duque, por carta de 28 de fevereiro de 1585.
O 33.0 Alcaide-mor de Leiria foi Duarte Galvão, que talvez, atendendo aos
seus afazeres e missões para que estava sendo incumbido pelo Rei, vende em
148652 a alcaidaria-mor aO. Pedro de Menezes, 3.0 conde de Vila Real e futuro
1.0 marquês de Vila Real. Assim, 034.0 Alcaide-mor de Leiria foi o marquês de
Vila Real, D. Pedro de Menezes. Não podendo exercer as funções de alcaide-
-mor, terá nomeado como alcaide-menor Rui Barba Correia Alardo, filho primo-
génito de Fernão Rodrigues Barba Alardo e de Isabel Correia".
Segundo Pousão-Smlth", no Livro dos Bens, provindo do cartório da
Casa Vila Real, no seu capítulo 12, dedicado à alcaidaria-mor da cidade de
Leiria" (p. 48 e 49) escreve-se que D. Afonso V concedera a alcaidaria-mor
de Leiria e seu castelo com todas as suas pertenças a D. Pedro de Menezes
para ele e seu filho sucessor por carta de 16 de julho de 1467. Pode, pois,
com legitimidade propor-se que a alcaidaria-mor de Leiria pertenceu a título

52 CHARTERS-O'AZEVEOO, Ricardo - "Ouarte Galvão, alcaide-mor de Leiria", in Cadernos de Estu-

dos Leirienses nO 1. Leiria, Textiverso, 2014, p. 110-117.

53 CHARTERS d'AZEVEOO, Ricardo-op. cit., p.105-120.

54 POUSAO-SMITH, Sela - "Rodrigues Lobo, os Vila Real e a estratégia da dissimulato". Lisboa: Ed,

de Autor, 2008, Voll e 11.

130
Leirienses na Expansão Portuguesa

de mercê pessoal concedida a D. Pedro de Menezes, para ele e seu filho


herdeiro desde 1467 a 1475, e depois de novo, em data posterior a 1476,
nomeadamente 1486, como interpreta Sousa Viterbo.
A 3 de agosto de 1476, em resultado de várias permutas e avenças, D.
Afonso V, faz mercê ao conde de Vila Real de "vinte e cinco mil reais de tença
do janeiro que passou em diante nas sisas do corpo da villa de Leiria sem lhe
daly poderem ser mudadas nem tiradas atee vagar per renunciaçom ou per
qualquer guisa que seja alcaidarya mor"'. No entanto D. João 11, por carta de
22.10.1487, concede ao conde de Vila Real a alcaidaria-mor de Leiria.

VIII - A ligação da família Galvão a Leiria

Como vimos acima com os Menezes, condes e marqueses de Vila Real


com solar em Leiria, podemos considerar igualmente como oriundos da região
de Leiria os Galvão. Duarte Galvão casa-se em primeiras núpcias com Catarina
de Sousa, filha do alcaide-mor de Leiria Fernão de sousa", 32.° alcaide-mor de
Leiria por mercê de D. Afonso V, de 20 de setembro de 1445, e recebe a alcaidaria
de Leiria como dote de casamento, passando por algum tempo a ser o alcaide-
-mo r de Leiria, o 33.°. A alcaidaria de Leiria é comprada em 1486 pelo 1.° mar-
quês de Vila Real, então ainda conde, ao cronista Duarte Galvão.
O irmão primogénito de Duarte Galvão foi D. João Galvão, já referido no
início deste documento, que se armou, e acompanhado por alguns homens
de Coimbra onde ele era bispo titular combateu junto com o rei no Norte de
Africa. A sua irmã Isabel vem a casar-se com Rui Mendes de Vasconcelos,
futuro 4.° senhor de Figueiró, que foi capitão de Ceuta de 1475 a 1481. Em
1476, quando Ceuta se encontra cercada pelas forças marroquinas e
castelhanas, Isabel está grávida e ao lado do seu marido acarretava os reci-
pientes com azeite a ferver57.
Duarte Galvão casa Isabel, filha do seu primeiro casamento, com Jorge
Garcês, filho de um secretário de D. Afonso V, e secretário de D. Manuel!. A
filha deles, Antónia de Albuquerque, vem a casar-se, em 1512, com Duarte
Pacheco Pereira, cosmógrafo e autor de "Esmeraldo de situ orbís?". Mais do
que um roteiro de viagem, "Esmeraldo de situ orbis" é uma obra de erudição

55 CHARTERS-D'AZEVEDO, Ricardo - op. cit., pp. 110-117

56 CHARTERS-D'AZEVEDO, Ricardo, op. cit., p. 109.

57 CHARTERS-D'AZEVEDO, Ricardo - op. cit., p. 107.

58 Descarregável em: http://purl.ptJ21999.

131
Cadernos de Estudos Leirienses - 72 * Maio 2077

e uma síntese de todos os co-


nhecimentos de navegação acu-
mulados pelos portugueses nos
séculos XIV e XV. Duarte Pa-
checo Pereira não participou na
conquista de Arzila (1471), nem
na de Alcácer Ceguer (1458),
tanto mais que nesta última ain-
da não teria nascido. Sabe-se
que depois de 1480 navegou
pela costa da Guiné, o que lhe
valeu ser feito cavaleiro pelo rei,
e que em 1488 se encontrava na ilha do Príncipe, de onde regressou ao reino
com Bartolomeu Dias. Participou na delegação portuguesa que negociou o
Tratado de Tordesilhas, em 1494, e quatro anos mais tarde D. Manuel tê-Io-á
encarregado de uma secreta expedição relacionada com as demarcações do
referido tratado. Partiu para a índia com Afonso de Albuquerque em 1503 e,
pela sua lendária defesa de Cochim um ano mais tarde, mereceu por parte de
Camões o epíteto de Aquiles Lusitano. Regressado ao reino em 1505, foi
recebido por D. Manuel com grandes honras, enquanto os seus feitos eram
exaltados pelo povo. Terá sido nessa altura que passou a dedicar-se à reda-
ção do "Esmera Ido de Situ Orbis", que lhe valeu ser considerado um dos
expoentes da escola náutica portuguesa e um dos primeiros cientistas portu-
gueses. Voltou a destacar-se em 1509, quando na defesa da costa portugue-
sa venceu o pirata francês Mondragon, apreendendo-lhe parte da frota. Em
1511 comandou uma esquadra de socorro a Tânger, regressando então a
Lisboa, onde casou, em 1512, com Antónia de Albuquerque, neta de Duarte
Galvão, como referimos. Foi ainda capitão e governador de São Jorge da
Mina, entre 1519 e 1522, sendo então preso e enviado para Lisboa. Não se
sabe ao certo a razão deste castigo, embora alguns relatos apontem para o
facto de se ter envolvido em atividades ilícitas de tráfico de ouro. Posterior-
mente foi reabilitado por D. João 11159.
Podemos listar60 ainda alguns dos membros da família de Duarte Galvão
que foram para a índia, como um dos seus sobrinhos, Filipe de Castro, que é

59 CHARTERS-O'AZEVEOO, Ricardo - op. cit., p. 114.

60 AUBIN, Jean - "Ouarte Galvão". Paris, separata do arquivo do Centro Cultural Português. Paris:

Fundação Calouste Gulbenkian, 1975, p. 76 - 84.

132
Leirienses na Expansão Portuguesa

em 1504 capitão de um navio da esquadra de Lopo Soares de Albergaria, e


volta à India em 1507 com seu irmão Jorge de Castro, cujo filho Álvaro serve
sobre as ordens de Albuquerque.
Outros sobrinhos, como Ma-
nuel Teles de Vasconcelos e
Jerónimo de Sousa, encontram-
-se na índia, respetivamente em
1504 e 1511. Rui Galvão, filho de
Duarte Galvão, chega à índia em
1509, distingue-se nos combates
em que participa, e como os seus
outros três irmãos Jorge, Fran-
cisco e Manuel, aí morrem. An-
tónio vai como capitão para
Moluco e aí acaba como missio-
nário. Simão de Sousa, filho do
primeiro casamento de Duarte Galvão, vai para a índia em 1525. Guiomar de
Menezes, filha de Duarte Galvão, casa-se em 1512 com Simão Fogaça d'Eça,
que tinha estado na índia em 1505 com D. Francisco de Almeida, e era filho
de João Fogaça, um dos poetas do "Cancioneiro Geral" de Garcia de Resende,
e de Maria d'Eça. Um outro poeta do "Cancioneiro Geral", Jorge de Aguiar,
comandava a esquadra do mar da Arábia e da Pérsia, que se afunda com
corpos e bens em 1508, era um dos cunhados de Duarte Galvão, casado
com a irmã de sua segunda mulher, Violante de Menezes'".

*
Os graves acontecimentos políticos nos fins do século XVI e princípi-
os do século XVII determinaram uma longa pausa na expansão ultramarina.
Diminuíram as navegações. Enfraqueceu sensivelmente o comércio. Baixou
a atividade dos estaleiros navais. Cessaram as conquistas e explorações nos
três continentes onde a soberania de Portugal se fizera reconhecer.
Era desoladora no princípio do século XVII a falta de pilotos experimen-
tados. Nas escolas de pilotagem, dirigidas por Lavanha até 160862 e depois

61 CHARTERS-O'AZEVEOO, Ricardo - "Ouarte Galvão, alcaide-mor de Leiria", in Cadernos de Estu-

dos Leirienses nO 1. Leiria, Textiverso, 2014, pp. 110-117.

62 OOMINGUES, Francisco Contente - "João Baptista Lavanha e o ensino da náutica na península

Ibérica" in As Novidades do Mundo: conhecimento e representação na época Moderna. Lisboa: Ed

Colibri, 2003, p.115-143.

133
Cadernos de Estudos Leirienses - 72 * Maio 2077

por Manuel de Figueiredo63, matemático e mestre de cosmografia, escassea-


va cada vez mais a frequência. Era fraca a atividade nos estaleiros de Peniche
e Pederneira, mas foi a estes que D. João IV recorreu mais tarde para ter
embarcações e recrutar pilotos. Assim, em carta de 5 de agosto de 1647 para
o corregedor da comarca de Leiria, se ordenava o alistamento voluntário de
pilotos em Peniche e de quarenta e sete marinheiros para servirem na arma-
da real. Em carta de 6 de setembro do mesmo ano, enviada à Câmara da
Pederneira, se pedia gente do mar até vinte homens para a armada prestes a
partir para o Brasil. Em carta de 30 de setembro insistia-se junto do corregedor
da comarca de Leiria pelo envio dos pilotos de Peniche ao Conde de Odemira.
Em carta de 23 de novembro de 1650 para o ouvidor de Alcobaça, mandava-
-se lançar urgentemente avisos na comarca para alistar gente capaz de ser-
vir na índia. Em outras cartas de 1651 e de 1656 pediam-se caravelas pron-
tas a navegar ao sargento-mor de Peniche e à autoridade do porto de Salir.
Nesta crise de falta de embarcações e de homens qualificados no sécu-
lo XVII sobressaiu o piloto de Peniche, Domingos Franco, da carreira do
Maranhão, que deixou um excelente roteiro com o título "Nova derrota para a
navegação do Maranham" depois publicado no novo Regimento de Pilotos.
De tudo quanto escrevemos se infere que a região de Leiria não só
ilustrou a sua presença nas origens do nosso vasto império desde o Brasil
até às Molucas, mas, também, honrou as nossas letras com uma variada
literatura expansionista. Leiria teve presença ativa na expansão portuguesa
pela dos seus missionários e diplomatas, dos seus combatentes esforçados
e dos seus sábios e escritores. Gentes de Leiria pilotaram naus, construíram
fortalezas, guerrearam, negociaram alianças e amizades, apostolizaram os
infiéis e participaram nas observações científicas.

" Foi discípulo de Pedra Nunes, sendo também ele mestre em Matemática e Cosmografia. Em Julho

de 1608, foi escolhido para quarto cosmógrafo-mor do Reino, cargo que exerceu a nível interino, em

substituição do titular, João Baptista Lavanha, devido às longas e frequentes permanências deste

último em Espanha. Conhecido pelo seu vasto saber, foi autor de uma valiosa obra científica, que lhe

granjeou reputação internacional.

134

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